DARTAGNAN PLÍNIO SOUZA SANTOS 1
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- Stéphanie Sales Aldeia
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1 A ANÁLISE DO DANO MORAL NA RECOMPOSIÇÃO DO SENSO DE AUTOVALIA DO CONSUMIDOR NAS AÇÕES DE COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DARTAGNAN PLÍNIO SOUZA SANTOS 1 RESUMO: O presente trabalho evidencia a necessidade de análise adequada acerca do instituto do dano moral como forma de recomposição do senso de autovalia do consumidor quando prejudicada a sua condição de pessoa correta perante a sociedade, nos processos derivados das relações de consumo, sob a competência dos Juizados Especiais Cíveis regulamentados pela Lei Federal n /95. Palavras-chave: prejuízo; aborrecimento; indenização; restauração. Introdução A Lei Federal n /95 instituiu a figura dos Juizados Especiais Cíveis, com o intuito de processar, julgar e executar ações de pequena e média complexidade relativas, principalmente, àquelas ações comparadas às relações de consumo tratadas na Lei nº 8.078/90, mais conhecida como Código de Defesa do Consumidor CDC. A partir de então as ações relacionadas ao consumo passaram a se avolumar em grandes proporções junto aos Juizados. De tal modo, discutindo as relações consumeristas, os processos passaram a defender, não somente, lesões causadas de cunho material, mais primordialmente ao dano causado à honra, intimidade e a moral. A Constituição de 1988, em seu art. 5º, inciso X, considera inviolável a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem de qualquer pessoa, sendo assegurado o direito 1 UESC
2 a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Trata-se de verdadeiro direito fundamental, guardando estreita relação com respeito às liberdades individuais. Nesse contexto, verifica-se que com o aumento de demandas judiciais, junto a um desconhecimento acerca da identificação do dano efetivamente causado, para verificação de sua ideal reparação, é que deu início à banalização do dano moral. Tudo passou a ser tratado como atentado à honra e a intimidade, fazendo surgir uma enxurrada de sentenças, as quais relativizam as consequências derivadas do dano moral, considerando-se, tão somente, como mero aborrecimento. É o que a Doutrina Jurídica, sobre o assunto, chama de Indústria do Dano Moral. Torna-se necessário o estudo do tema, para que se possa ser aprofundada as discussões, de tal modo, a permitir a identificação do fato, compreendendo seu nexo de causalidade e possível reparação, para, posteriormente, se dar o efetivo cumprimento do dispositivo constitucional acima citado, garantindo a defesa do consumidor, da livre economia e instituições do Estado Democrático de Direito, e consequentemente a paz social. 1 Noções sobre Dano, Nexo de Causalidade e Responsabilidade Civil O dano é qualquer lesão causada a um bem juridicamente protegido, o qual se dá pela prática de um ato de ação ou omissão, ilícito ou não, que alguém culposa ou dolosamente no exercício de alguma atividade, causa a outrem uma considerável redução de ordem moral ou material. É em razão da prática deste ato/fato jurídico que surge a necessidade de recompensação. Para identificação junto ao tema proposto, o dano decorrerá sempre do sofrimento psíquico, da angústia, do sofrimento da vítima (Consumidor) perante a sua condição de inferioridade frente à empresa prestadora de serviços/fornecedora de produtos, numa certa relação de consumo. É justamente do defeito na relação formada entre empresa e consumidor, que surge a necessidade de identificação do efeito-causa. É o que se pode chamar de: nexo de causalidade, ou seja, a identificação da conduta do agente na consequência do ato.
3 O Código Civil de 2002, em seu art. 927, adota a Teoria da Responsabilidade Civil Objetiva para compensação do prejuízo, responsabilizando o causador do ato ilícito a outrem, e com o dever de repará-lo moral e materialmente. 2 O Consumidor e sua Legislação Própria O Código de Defesa do Consumidor estatuído sob a lei nº 8.078/90 veio disciplinar a matéria sobre proteção desta figura. A lei (Art. 3º) enquadra sob a mesma condição tanto a pessoa física, quanto a jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Percebe-se que o legislador buscou proteger àquele que realmente utiliza do produto, seja pessoa natural ou não, chegando a seu art. 17, ir além, quando estabelece equiparação à condição de consumidor a todas as vítimas do evento. Este por sua vez, é nada mais que a relação de consumo. Portanto, o dano causado a qualquer pessoa, física ou jurídica, de ordem física-psíquica e/ou material, gera, sim, a reparação ao status quo ante ao fato. Neste diapasão, o CDC na defesa de direitos do consumidor, não exclui de suas regras a responsabilidade civil em reparar os danos patrimoniais e morais, individuais ou coletivos (Art. 6º, inciso VI). Portanto, das relações jurídicas de consumo defeituosas, é que surge a necessidade de reparação ao dano, seja ele moral ou material. É evidente que a reparação de danos materiais não resulta em significativas dúvidas, vez que possíveis de mensuração econômica imediata, porém a recomposição de danos de ordem moral quase sempre residirá em questionamentos.
4 3 Fixação ou Quantificação do Dano A principal forma de reparação aos danos causados pelo agente a um bem juridicamente protegido é mediante o pagamento em caráter pecuniário. Em razão de dano material, como anteriormente tratado, o ressarcimento se dá in natura ou mediante a justa compensação em dinheiro. Porém, enormes empecilhos decorrem da fixação para o dano moral. Em geral a reparação de ordem moral, também, se dá de forma pecuniária, mas qual o valor passível de restaurar a dignidade do consumidor? Em tempos passados, atribuíase valores inexpressivos a esta compensação, porém, de modo diverso, no atual estado democrático de direito e, consequentemente, na afirmação de direitos personalíssimos, não há no que se falar em valores inexpressivos, os quais seriam incapazes de recompor a ordem social e disciplinar as condutas consumeristas e outras relações passíveis de pagamento via indenização. Diversos métodos aleatórios e uniformes se apresentam para mensuração e reparação do dano. É importante garantir, sob a perspectiva do ofendido, um status material diferenciado de conforto, minimizando a dor que sofreu, ou seja, é permitir à vítima um momento de satisfação em razão do sofrimento. Já sob o ponto de vista do ofensor, este deve compreender o efetivo dano que causou, de tal forma a sofrer, mesmo que economicamente para reparar o mesmo. Jurisprudencialmente, o arbitramento pelo juiz é a forma mais utilizada, este por sua vez, deve extrair a resposta sobre a questão em litígio, verificando a capacidade econômica do réu, o dano praticado e a capacidade econômica do autor a ter seu senso de autovalia restaurado. A problemática se destaca, vez que a lei é silente sobre o assunto, como bem acentua SILVA (2005), ao considerar que a omissão legal reflete ora a generosidade descomedida do juiz, ora a sua avareza no arbitramento. Considerando, ainda, que a ausência de critérios rígidos de mensuração é a lenha que alimenta a caldeira da indústria do dano moral.
5 Neste ínterim, é evidente a necessidade de evitar o enriquecimento sem causa do ressarcido, que somente busca o amparo judicial para reaver sua condição enquanto pessoa detentora de direitos. O Poder Judiciário não pode fechar os olhos, somente a justiça é cega, não os juízes! Atribuir compensações mínimas é permitir a continuidade de práticas absurdas, as quais devem ser combatidas e disciplinadas. 5 Reflexões sobre o Mero Aborrecimento Como visto anteriormente o dano moral é aquele que diminui a condição psíquica e emocional de quem o sofre, por conta de ato ilícito de outrem. De maneira incoerente diversos consumidores acabam interpretando mal o tema, deturpando o sentido da definição, fazendo-se valer de aventuras jurídicas para buscar reparações infundadas. É da postura apresentada que se deu origem a figura do mero aborrecimento, que não se confunde com o dano moral propriamente dito. Aquele é o dissabor do cotidiano, a que qualquer pessoa está fadada a sofrer, não podendo ser utilizado como fundamento para ação de reparação de danos, pois insuficiente a demonstrar claramente o dano de ordem psíquica emocional. Em razão do exposto, o magistrado não pode deixar de verificar adequadamente a análise dos fatos e compreender a ação daqueles (Autor/Réu) que contribuíram para relação de consumo. O consumidor encontra-se amparado por ampla legislação, doutrina e jurisprudência na defesa de seus direitos, não podendo ter subtraído seus direitos em razão de entendimentos conflituosos na interpretação do caso concreto, pois restaria comprometida a garantia de direitos personalíssimos esculpidos junto a Carta Magna de 1988.
6 Considerações Finais Como demonstrado o consumidor é a parte hipossuficiente da relação de consumo, primeiro pela sua condição econômica frente ao fornecedor do produto ou serviço. Segundo, pois em razão de más interpretações, passou a ser taxado de aventureiro na busca de reparações que buscam a composição de danos de ordem moral. Tratá-lo, em maioria, é um verdadeiro retrocesso sobre este tema. Não podendo sofrer a coletividade por erro da minoria. De certa forma, o litígio em sede de Juizados Especiais Cíveis, até mesmo pela possibilidade do jus postulandi, que permite a condução do processo sem a presença de advogado, terá um aumento contínuo no número de processos. A sociedade, com cada vez mais acesso a informação, passa a buscar a garantia de seus direitos, porém cabe aos responsáveis pelo julgamento, e demais operadores do Direito, agirem de acordo com o quanto estabelecido em lei, identificando o caso, as partes, a contribuição de ambas na formação da lide, e por fim, atribuindo a sentença mais adequada de modo a restabelecer a boa relação social, mesmo que para tanto seja necessária a reparação econômica, de modo a punir o agente causador do dano, e compensatória de modo a ressarcir o senso de autovalia do consumidor. Portanto, é inviável pensar que o dano moral não possa ser recompensado, sob o viés do mero aborrecimento. Com o estudo detalhado do caso, há de serem identificados os danos sofridos e a evidente necessidade de compensação. Referências CAHALI, Yussef Said. Dano moral. Editora: Revista dos Tribunais, p. 832, São Paulo: DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. Editora: Revista dos Tribunais, p. 296, São Paulo: MARINS, Felipe Fernandes. Dano moral ou mero aborrecimento?. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, 1 nov Disponível em: < Acesso em: 17 maio REMÉDIO, José Antonio; FREITAS, José Fernando Seisarth de; JÚNIOR, José Júlio Lozano. Dano Moral: Doutrina, Jurisprudência e Legislação. Editora: Saraiva, p , São Paulo: 2000.
7 SILVA, Américo Luís Martins da. O Dano Moral e a sua reparação civil. Editora: Revista dos Tribunais, p. 444, São Paulo: 2005.
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