MAIS DE 99% DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE LEITE EM PÓ SE CONCENTRAM NA VENEZUELA
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- Domingos de Lacerda Amaral
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1 MAIS DE 99% DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE LEITE EM PÓ SE CONCENTRAM NA VENEZUELA Natália Salaro Grigol, analista de mercado da equipe Leite Cepea Desde dezembro de 2013, a Venezuela vem demandando grandes quantidades de leite em pó brasileiro 1. Desde então, tem se tornado praticamente a única importadora do produto, que é o principal item da pauta de lácteos. No acumulado de julho de 2014 a agosto de 2015, este país recebeu 99,5% do volume de leite em pó exportado pelo Brasil (gráfico 1). Outros clientes, com participação bem menor e esporádica, são Bolívia, Congo, França, Angola, Chile, Guiné Equatorial e Paraguai. Ao mesmo tempo em que a concentração das vendas preocupa o setor, as negociações com a Venezuela contribuem com a receita de exportadores neste momento de preços domésticos do leite em queda em relação aos anos anteriores. A Venezuela tem realizado compras que resultam em um dos maiores valores recebidos pelos produtos lácteos. No caso do leite em pó integral 2, por exemplo, dados da Secex apontam que o preço médio do produto brasileiro adquirido pelos venezuelanos foi de US$ 5,83/kg em agosto, quase quatro vezes mais que a cotação média negociada na Oceania, de US$ 1,54/kg no mesmo período. De qualquer forma, é fundamental que sejam estruturadas estratégias de ampliação de acordos comerciais e abertura de mercados para diversificar os destinos dos lácteos exportados pelo Brasil. Em setembro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciou que a Rússia habilitou 26 plantas brasileiras de lácteos para exportação e que a China aprovou o certificado sanitário brasileiro, abrindo pela primeira vez seu mercado aos produtos nacionais. A expectativa é que essas medidas contribuam para elevar as exportações brasileiras, embora ambos os países (China e Rússia), que são os maiores consumidores mundiais de lácteos, estejam demandando menos no mercado internacional. Segundo relatórios da USDA e Rabobank, enquanto a Rússia conta com menor poder de compra, em decorrência da queda nos preços do petróleo, na China, os estoques de leite em pó estão elevados. DÓLAR A contínua valorização do dólar frente ao Real também tem contribuído para a maior competitividade do produto brasileiro. Em agosto, o preço do leite pago ao produtor foi de US$ 0,3087/litro, ante o US$ 0,33/l no mês anterior. Os valores só ficam acima dos da Nova Zelândia e do Uruguai (Gráfico 2). Apesar do efeito positivo da taxa de câmbio sobre a competitividade brasileira, este não é o cenário desejado para o setor. São necessárias ações de longo prazo para assegurar a inserção do Brasil no mercado internacional, que englobam investimentos em aumento de produtividade e da qualidade do leite, bem como na redução dos custos de produção. 1 Considera-se a categoria leite em pó, composta pelos NCM , , , , , da Secex. 2 Leite em pó integral, definido pela Secex pelo NCM como: leite integral, em pó, com um teor, em peso, de matérias gordas, superior a 1,5 %, sem adição de açúcar ou de outros edulcorantes.
2 Em volume, os embarques brasileiros totais de lácteos caíram 12% de julho para agosto, passando de 61,8 milhões de litros para 54,3 milhões de litros em equivalente leite. Desse total, 45,5 milhões de litros ou 84% corresponderam aos embarques de leite em pó, um recuo de 15% em igual comparativo dados Secex. A queda se deve principalmente à menor demanda venezuelana pelo produto. Há de se considerar que a situação econômico-política bastante instável daquele país interfira nas quantidades adquiridas. Conforme os últimos volumes comprados pela Venezuela, percebe-se que a demanda oscila de um mês para outro, não sendo comum que se repitam dois meses com altas. Vale lembrar que a Venezuela também demanda leite em pó de outros países, como o Uruguai ,00 Litros em equivalente leite , , , , ,00 0,00 dez/13 jan/14 fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 Exportações de leite em pó com destino à Venezuela Total das exportações de leite em pó Gráfico 1. Exportações de leite em pó com destino à Venezuela em comparação com o volume total embarcado. Considera-se a categoria leite em pó, composta pelos NCM (fator de correção: 11), (fator de correção: 11), (fator de correção: 8,2), (fator de correção: 9), (fator de correção: 8,2), (fator de correção: 9). Fonte: Secex / elaborado pelo Cepea.
3 0,60 0,55 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 jul: 0,3087 jul: 0,3394 jul: 0,3358 ago: 0,3087 0,25 ago: 0,2725 0,20 ago: 0,2174 0,15 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/15 mar/15 mai/15 US$/ Litro de leite jul/15 Argentina Europa Brasil EUA Uruguai Nova Zelândia 0,60 0,55 US$/ Litro de leite 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 0,25 0,20 jul: 0,3660 jul: 0,3394 jul: 0,3358 ago:0,3087 ago: 0,2725 ago: 0,2174 0,15 mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13 mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/15 mar/15 mai/15 jul/15 Argentina Europa Brasil EUA Uruguai Nova Zelândia Gráfico 2. Preços do leite pago ao produtor na Argentina, Europa, Brasil, Estados Unidos, Uruguai e Nova Zelândia (valores nominais). Fonte: MAGPya, INALE, LTO Netherlands, Cepea, USDA, Clal.it/ elaborado pelo Cepea. COM RECEITA ABAIXO DE CUSTOS, MARGEM DE PRODUTOR DE CASCAVEL CAI 20% NO ANO Por Isadora Trouva Vieira, estagiária da equipe Leite Cepea Desde outubro de 2014, a receita obtida por produtores típicos de leite de Cascavel (PR) vem se mantendo abaixo dos custos, o que pode inviabilizar a atividade no médio e longo prazo. No
4 acumulado de 2015 (de janeiro a agosto), o faturamento está 9% inferior ao do mesmo período do ano passado. Em igual comparativo, o COE (Custo Operacional Efetivo) subiu 2,37% e o COT (Custo Operacional Total), 2,97%. Como resultado, a margem bruta do pecuarista leiteiro da propriedade típica de Cascavel caiu 19% em termos nominais. A redução da margem se deve a menor receita obtida na venda do leite, devido a retração das cotações neste período (gráfico 1). Segundo dados do Cepea, o preço do leite pago ao produtor do Oeste Paranaense registrou quedas consecutivas de junho/14 a março/15, apresentando variação acumulada negativa de 24,5%, em termos reais (deflacionando-se pelo IPCA de julho/15). Ainda que os preços tenham reagido a partir de abril/15, em decorrência do período de entressafra, os patamares continuam abaixo dos verificados há um ano, uma vez que a demanda não acompanhou o aumento na produção. O preço médio pago ao produtor de janeiro a agosto/15 está 7,4% menor que o praticado no mesmo período do ano anterior. Embora os custos tenham variado menos que a receita, estes também apresentaram alta. O item que mais pesou no aumento dos custos de produção em Cascavel de janeiro a agosto de 2015 foi a mão de obra, com valorização de 8,2% frente ao mesmo período de Em seguida, destacam-se a elevações nos custos de silagem (6,3%) e energia e combustível (3,3%). Localizado na região do oeste paranaense, o município de Cascavel é um importante produtor de leite do estado, com uma produção modal média de litros/dia. Segundo números do IBGE, em 2013, a bacia leiteira do Oeste Paranaense representou 23,9% da produção estadual, que, desde 2003, cresceu expressivos 81,6%. Destaca-se, assim, a relevância da atividade leiteira para a região e a utilidade em se acompanhar os custos de produção. Os dados negativos de margem do pecuarista típico chamam atenção para a necessidade de melhorias na gestão da propriedade, permitindo diagnósticos prévios de possíveis falhas estruturais e planejamentos futuros. Tais medidas são importantes para maximizar a rentabilidade e eficiência com os menores custos possíveis, a fim de assegurar a lucratividade da atividade em médio e longo prazo. Indice base 100 (abril/14) Variação COE x COT x Receita -Cascavel (PR) 85 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 Receita Bruta COE COT
5 Gráfico 1. Comparativo da receita bruta e dos custos de Cascavel (PR) de abril/14 a agosto/15 (Dados na base 100=abr/14). Fonte: Cepea/CNA. EM CINCO ANOS, PRODUÇÃO DE LEITE CRESCE 33% EM CRUZ ALTA (RS) Ana Paula Negri, analista de mercado da equipe Leite Cepea Levantamentos do Cepea, em parceria com a CNA, mostram que a propriedade típica de leite de Cruz Alta (RS) teve ganho de 33% na produção desde Naquele ano, a produção média diária de leite era litros, volume que saltou para litros/dia em No mesmo intervalo, o número de vacas em lactação aumentou 18%. Do rebanho atual, que soma 93 vacas, 80 animais estão em lactação nesse período; em 2010, das 87 vacas, 68 estavam em lactação. Os resultados apontam, ainda, que a produtividade diária dos animais, que era 22 litros/vaca em 2010, evoluiu para, em média, 25 litros este ano, aumento de 14%. Esse avanço na produtividade decorreu da mudança no perfil da propriedade típica da região, que cresceu de 50 ha para 76 ha em cinco anos. A área de pastagem se expandiu de 4 ha para 5 ha. O fornecimento de concentrado para as vacas em lactação se elevou em 17% por vaca/dia. Além disso, houve uma mudança na composição dos alimentos que integram a dieta dos animais. Com tais melhorias, a receita obtida pelos pecuaristas típicos de Cruz Alta em 2015 foi suficiente para cobrir tanto o COE (Custo Operacional Efetivo) como o COT (Custo Operacional Total), gerando uma margem líquida positiva o que não ocorreu no cenário de A propriedade típica de Cruz Alta está localizada em uma região agrícola do noroeste do Rio Grande do Sul, com alto nível tecnológico, acima da média de outras bacias leiteiras do país. O seu custo de oportunidade da terra é elevado, tornando essenciais ganhos de produtividade para viabilizar a atividade. IBGE - De acordo com dados do IBGE, de 2003 a 2013 (último levantamento divulgado), a produção de leite no Brasil cresceu devido ao aumento da produtividade por animal (litros de leite por vaca ordenhada). Em média, o volume produzido aumentou 4,4% ao ano, enquanto o número de vacas ordenhadas subiu 1,8%; como resultado, a produtividade por animal registrou aumento de 2,6% ao ano. Considerando-se somente o município de Cruz Alta, os ganhos médios foram de 2,7% na produção e de 0,4% no número de vacas ordenhadas, gerando um crescimento de 2,2% na produtividade por animal.
6 Número de animais Pordução (mil litros) vacas ordenhadas produção Gráfico 1. Número de vacas ordenhadas e produção de leite (litros) em Cruz Alta RS. Fonte: Cepea/CNA/IBGE elaborado pelo Cepea-Esalq/USP. CUSTO COM ENERGIA ELÉTRICA ESTÁ 36% MAIOR EM UM ANO Wagner H. Yanaguizawa, analista de mercado da equipe Leite Cepea Item essencial na atividade diária do produtor de leite, a energia elétrica é necessária para a ordenha dos animais, principalmente nas propriedades com equipamentos de ordenha mecânica, para o preparo da alimentação do rebanho através das picadeiras, para o resfriamento do leite e tantas outras atividades envolvidas. Devido a sua importância operacional na propriedade, inclusive pela parte de iluminação dos ambientes esse insumo também merece atenção nos custos de produção. O gasto com o grupo energia elétrica e combustível representou 3,1% dos custos operacionais efetivos (COE) no mês de agosto/15, considerando-se a média ponderada dos estados de GO, MG, PR, RS, SC, SP e BA. São Paulo e Goiás foram os estados onde este grupo de custo teve maior peso, de 6,4%, e Paraná onde possui a menor ponderação, de 1,9%. No último ano, a média nacional do preço da energia elétrica (considerando-se os dados da ANEEL das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte) sofreu grandes alterações, registrando variação acumulada anual de 18,5% e fechando o ano com média de R$ 0,3743/kWh. A região Sul do país apontou a maior alta do ano, de 21,9%, e a região Centro-Oeste a menor alta de 16,0%. Porém, o maior custo por kwh dentre as cinco regiões, ficou com o Norte, a R$ 0,3997.
7 Já em 2015, os problemas com a estiagem que atingiram o Brasil como um todo reduziu consideravelmente a oferta de energia elétrica, uma vez que o País depende da gestão dos estoques de água nos seus reservatórios para atender a demanda interna. Com isso, foram acionadas as usinas termoelétricas e inevitavelmente ocorreram os reajustes nas tarifas. Esse aumento impactou diretamente nos custos de produção das mais diversas cadeias do agronegócio. A variação acumulada nacional do custo da energia elétrica (janeiro a junho) foi de 37,7%, muito superior ao registrado no ano anterior, com um preço médio de R$ 0,5100/kWh. Comparando o preço médio de 2014 com 2015, a energia elétrica está 36,25% mais valorizada este ano. A região Sul continua puxando o maior aumento entre as regiões, de 44,9% e o Norte o menor aumento, de 15,2%. Porém, a energia elétrica mais cara, por enquanto, está com o Sudeste, a R$ 0,5293/kWh. 0,55 0,50 0,45 Evolução da Tarifa Média de Fornecimento de Energia Elétrica para uso Rural com Tributos (R$/KWh) 0,5259 0,5107 0,5100 0,4822 0,4565 0,40 0,35 0, Centro Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul BRASIL Gráfico 1. Evolução da tarifa média de fornecimento de energia elétrica para uso rural com tributos. Fonte: ANEEL
8 Tabelas Piracicaba, setembro de 2015.
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