Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina acórdão n

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1 acórdão n Relator: Juiz Antonio do Rêgo Monteiro Rocha Recorrente: Silvio Donizente Pereira Recorrido: Ministério Público Eleitoral - ELEIÇÕES RECURSO - REPRESENTAÇÃO - DOAÇÃO DE CAMPANHA DE PESSOA FÍSICA ACIMA DO LIMITE LEGAL (LEI N /1997, ART. 23, 1 ) - CONDENAÇÃO IMPOSTA COM FUNDAMENTO NO RENDIMENTO DECLARADO PARA A RECEITA FEDERAL - INCLUSÃO DE RENDIMENTOS ISENTOS E NÃO TRIBUTÁVEIS EM DECLARAÇÃO RETIFICADORA - ALTERAÇÃO JURIDICAMENTE VIÁVEL - AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CAPAZES DE DESVELAR A INTENÇÃO FRAUDULENTA - IMPOSSIBILIDADE DE PRESUMIR A MÁ-FÉ - DOAÇÃO DE PESSOA FÍSICA - CÁLCULO - LIMITES - INCLUSÃO DE RECEITAS NÃO TRIBUTÁVEIS - ISENTAS - TRIBUTAÇÃO EXCLUSIVA NA FONTE - PROVIMENTO. 1. É lícita a retificação das informações fiscais prestadas à Receita Federal sobre os rendimentos auferidos pelo doador em ano anterior ao da eleição, mesmo após o ajuizamento de representação eleitoral por inobservância do limite de doação de campanha (Lei n /1997, art. 23, 1 ). 2. Incumbe ao Ministério Público o ônus de comprovar a inidoneidade dos dados da declaração retificadora, não sendo viável presumir fraude ou máfé do doador. 3. Para fins de cálculo do limite de doação de pessoa física (Lei n /1997, art. 23, 1 o ), devem ser consideradas todas as receitas financeiras arrecadadas pelo doador, incluindo as não tributáveis, isentas ou sujeitas à tributação exclusiva na fonte. A C O R D A M os Juízes Catarina, à unanimidade, em conhecei;/ improcedente a representação eleit voto do Relator, que fica fazendo grante Sala de Sessões do Y al Regional Eleitoral Regional Eleitoral de Santa ele dar provimento para julgar multa aplicada, nos termos do decisão. Florianópolis, 22 de eiro de Juiz ANT )NIO DO RE0O MONTEIRO ROCHA Relator

2 RELATÓRIO Cuido de recurso interposto por Sílvio Donizete Pereira contra decisão do Juiz da 35 a Zona Eleitoral - Chapecó que, julgando procedente representação ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral, condenou-o ao pagamento de multa no valor de R$ ,00, por realizar doação de campanha superior ao limite estabelecido pelo art. 23, 1 o, I, da Lei n /1997 (fls ). Em suas razões recursais, o recorrente alega, em síntese, que: a) "o valor de R$ ,00 (dezoito mil reais) doados em espécie (fls. 15) por pessoa física, foi devidamente realizado com observância dos 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos, auferidos no ano anterior à eleição, conforme declaração anual retificadora e recibo de protocolo junto à Receita ainda em junho de 2015", b) "é unânime a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que a declaração retificadora de imposto de renda, consiste em documento hábil a comprovar a observância do limite de doação": c) "o recorrente foi condenado pelo fato de não ter apresentado o RECIBO DE PROTOCOLO junto à Receita, desta forma, ante a existência do recibo, que estava em poder do Recorrente, deve ser recebido por este Egrégio Tribunal Eleitoral, a fim de ser reformada a decisão". Requereu o conhecimento e provimento do recurso, para julgar improcedente a representação e afastar a penalidade aplicada (fls ). Juntou documentos (fls ). O recurso foi respondido (fls ). Nesta instância, o Procurador Regional Eleitoral André Stefani Bertuol manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso, nestes termos: Esclarecida a referida situação fática, importa dizer que há permissão para que se faça declaração de imposto de renda retificadora^pnforme previsão expressa na legislação tributária de regência, o quç x e /áceito, err* linhas gerais, por alguns precedentes do e. TSE para ayé/seja aferido o limite relativo às doações para campanhas eleitorais. / / jjs' No entanto, no caso em questão, há peculiaridades aderem observadas que afastam a incidência de tais precedentes, uma^ç/^ue tornam a retificação da declaração de imposto de renda efetuada/f5elè pessoa física apelante insubsistente para o efeito de eximi-la do pa^amentb da respectiva multa que lhe foi corretamente aplicada pela sentenç^atquojj Com efeito, tem-se que a pessoa física r^orren^ fez a doação que excedeu o limite legal de regência nessa mesma condição de pessoa física, sujeita assim a limite de doaçãoyéspedfído diverso daquele que rege a doação realizada por pessoas jurídicas, não surtindo efeito, portanto, o acréscimo de rendimentos supostamente auferidos da pessoa jurídica P3 Eventos e Espetáculos Ltda EPP; Más, casc/a opção fosse pela doação de tal empresa na condição de pessoa/jurídica gue ostenta, tal empresa deveria ser a titular da respectiva déa<jão, sujeita ao limite legal específico 2

3 Fls. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina estabelecido para empresas que tais, e não na condição de pessoa física, como efetivamente ocorre no presente caso. Além disso, deve ser frisado que não há documentação idônea no sentido de que a referida pessoa física apelante tenha, efetivamente, auferido R$ ,00 a título de rendimento de sócio da referida empresa, sendo apenas juntada uma declaração de imposto de renda retificadora em concernente ao exercício fiscal de 2013 (fls ), acompanhada apenas de uma espécie de planilha genérica, produzida de forma unilateral, com supostos valores de serviços referentes àquela empresa relacionados aos períodos de abril a dezembro de 2013, e março a maio de 2014, sem que tal planilha esteja devidamente assinada (fl. 80), não havendo nenhum outro registro complementar, o que torna tais documentos insubsistentes e imprestáveis para o fim almejado de legitimar a doação abusiva efetuada pela apelante na condição de pessoa física. Em diligência, a Receita Federal encaminhou a declaração retificadora apresentada pelo recorrente (fls ). VOTO O SENHOR ANTONIO DO RÊGO MONTEIRO ROCHA (Relator): Sr. Presidente, o recurso é tempestivo e preenche os demais pressupostos de admissibilidade, pelo que deve ser conhecido. 1. Doação de campanha realizada por pessoa física. Retificação da declaração de rendimentos apresentada à Receita Federal. Impossibilidade de presumir eventual fraude ou má-fé do doador. Documentação válida e idônea. De acordo com a documentação dos autos, o recorrente, nas eleições de 2014, realizou doações em espécie de R$ ,00 -(dezoito -nfíte trezentos reais) para a campanha de Cesar Henrique Pereira, /capjfjefato ao cargo de / r Deputado Estadual. /' / / Segundo informações fiscais da Réceit^ Federal, f renda bruta auferida pelo recorrente no ano de 2013 foi de/r$ 2$. 548,00, o ^ue permitiria a realização de doações eleitorais até o valor çfe R$j Í.5É4,00, correspondente ao limite estabelecido na Lei n /1997, a sab^r: //1 j / / / / / i / Art. 23. Pessoas físicas poderão fázer jábyáç^e^ em dinhjéiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, ojsfeçíecijd^ o disposta nesta Lei. 1 o As doações e contribuições de qúe ijháta este jártigo ficam limitadas a 10% (dez por cento) dos rendifnefiw briiós auferidos pelo doador no ano anterior à eleição. / / / li i I / / I / / / / I / / Após o ajuizamento da rejdpêseniaçã^ o recórrente apresentou cópia do recibo da declaração retificadora, protocoliza^ na Receita Federal, na qual incluiu a receita de R$ ,00, provenientè de *rendirpento de sócio ou titular de

4 Fis. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional, exceto pro labore, aluguéis e serviços prestados" da P3 Eventos e Espetáculos Ltda. (fl. 38). A transferência de recursos financeiros para a campanha, bem como a retificação dos dados fiscais são incontroversas, restando documentalmente comprovadas. Sobre a matéria, este Tribunal consolidou o entendimento de que "o contribuinte tem o direito de retificar a declaração de impostos submetidos a lançamento por homologação enquanto não houver a formalização do crédito tributário" (TRESC, Ac. n , de ). Eleitoral: No mesmo sentido, a firme jurisprudência do Tribunal Superior "A retificação da declaração de rendimentos consubstancia faculdade prevista na legislação tributária, cabendo ao autor da representação comprovar eventual vício ou má-fé na prática do ato, haja vista que tais circunstâncias não podem ser presumidas para fins de aplicação das sanções previstas nos arts. 23 e 81 da Lei n 9.504/97" (AgR-Respe n , de , Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI). "Representação por doação acima dos limites legais. 1. A declaração de rendimentos retificadora deve ser levada em consideração na apuração do valor doado à campanha eleitoral e da sua adequação ao limite previsto no art. 81 da Lei n 9.504/97, haja vista constituir faculdade do contribuinte expressamente prevista na legislação tributária. 2. A eventual prática de fraude na apresentação da declaração retificadora não pode ser presumida, cabendo ao autoj (AgR-AI n , rei. Min. Dias Toffolj,- Agravo regimental não provido" (AgR-Re Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA). /} resentação o ônus da prova /dê 5.6.2Û13, grifo nosso). pjé a /590^7, de , Como visto, é lícita a retificarão ^^/informações concernentes aos rendimentos auferidos pelo doador em /anq, lerior ao da eleição e quando o quandojk alteração é realizada anteriormente prestadas à Receita Federal, rjfe; após o ajuizamento de representação. // /,// / '/ I Os precedentes jurisprudências ^teriormer^e citados transferem para o Ministério Público o ônus de comprova/a irjidoneidadé dos dados da declaração retificadora, não sendo viável presumir fraude pu má-fé do doador. / / No caso concreto, a dec apresentada pelo recorrente é documen retifiç'adora do imposto de renda ido e idpneo para fins de determinar o 4

5 limite da doação objeto da campanha eleitoral de 2014, notadamente pela inexistência de prova capaz de caracterizar a ilicitude dos dados fiscais. 2. Cálculo do limite legal para doação de campanha. Receita bruta auferido no ano anterior da eleição. Inclusão dos rendimentos isentos e não tributáveis. De acordo com o 1 o do art. 23 da Lei n /1997, o valor da doação deve corresponder, no máximo, a 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior à eleição. Como a norma legal não faz diferenciação acerca da natureza dos rendimentos, é possível concluir que devem ser consideradas, para fins do referido cálculo, todas as receitas financeiras arrecadadas pelo doador, incluindo as não tributáveis, isentas ou sujeitas à tributação exclusiva na fonte. Esse é o entendimento adotado por diversas Cortes conforme revelam as ementas abaixo transcritas: Regionais, "Ultrapassados os limites impostos pelo art. 23, 1 o, inciso I, da Lei n /97, que restringe a doação a dez por cento dos rendimentos brutos auferidos pela pessoa física no ano anterior à eleição, há incidência objetiva de sanção eleitoral. Irrelevante para a composição do conceito jurídico de rendimento bruto o valor declarado a título de bens e direitos que integrem o patrimônio do doador Relevante, outrossim, para efeito de cálculo, o somatório dos valores apontados nas rubricas que refletem os rendimentos isentos e não tributáveis e os sujeitos à tributação exclusiva na fonte. Consequente redução do quantum sancionatório aplicado. Provimento parcial" (TRE/RS, Recurso Eleitoral n 2230, d^ , Juiz ARTUR DOS SANTOS E ALMEIDA - grifei). / / / / "Integram a base de cálculo dos rendimentos brutos da^pes/oa física, para o cálculo do limite de doação previsto na legislação^eitorát, os rendimentos tributáveis, os rendimentos isentos e não tribujtáveié e osgêujeitos à tributação exclusiva, não devendo ser considerados çé bé^i e direitos constantes da declaração de imposto de renda. Irrelevfiícisr; para o cálculo, do/valor do patrimônio do doador. Precedentes do/ TRE-pG e de outros Regionais" (TRE/MG, RE n. 783, de / Jlíz GERALDO pí)mingos COELHO). / / / / / / É/ '' / devem,ser computados para fins ressoas físicas os rendimentos efificadora do recorrente. >] 654,48 pára (vínte a^ eleições mil e quinhentos de 2014, // / e / 5

6 cinquenta e quatro reais e quarenta e oito centavos), equivalente a 10% da soma de suas receitas tributáveis (R$ ) e não tributáveis (R$ ,00) no ano de Como o recorrente beneficiou candidatura com transferências de receitas em espécie que somaram R$ ,00 (dezoito mil e trezentos reais), não resta configurada infração à norma que disciplina a arrecadação financeira de campanha. /j 3. Pelo exposto, jmâ pelo provimento do recurso, para julgar improcedente a representação ^^f^rstap«^*ptenalidades aplicadas. Determino, ainda', ár retirada/do segredo de justiça da tramitação processual, devendo ser/ mantido o caráter sigiloso apenas com relação aos documentos fiscais jüntados/a0 processo /nos termos do parágrafo único do art. 2 da Resolução TSE ri 22L320/2t)1O. / / / / / / / / / / l i / / // // / // // / / / I' / ' // /' / / / ; // S 1/ / // i: : ií ií /

7 Fl. TRESC WJsBSIF Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina EXTRATO DE ATA RECURSO ELEITORAL N RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO - ZONA ELEITORAL - CHAPECÓ RELATOR: JUIZ ANTONIO DO RÊGO MONTEIRO ROCHA RECORRENTE(S): SILVIO DONIZETE PEREIRA ADVOGADO(S): ALAN JÚNIOR DALLACORTE RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ SÉRGIO ROBERTO BAASCH LUZ PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso e a ele dar provimento para julgar improcedente a representação eleitoral e afastar a multa aplicada, nos termos do voto do Relator. O Tribunal decidiu, ainda, manter o sigilo somente com relação aos documentos fiscais juntados ao processo, retirando o segredo de justiça aplicado aos atos processuais. Participaram do julgamento os Juízes Sérgio Roberto Baasch Luz, Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Davidson Jahn Mello, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, Alcides Vettorazzi, Hélio David Vieira Figueira dos Santos e Ana Cristina Ferro Blasi. PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE ACÓRDÃO N ASSINADO NA SESSÃO DE REMESSA Aos dias do mês de de 2016 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,, Coordenador de Sessões, lavrei o presente termo.