DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA NO AMBIENTE DE TRABALHO E A INCLUSÃO OU EXCLUSÃO SOCIAL
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- Miguel Figueiroa Camelo
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1 DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA NO AMBIENTE DE TRABALHO E A INCLUSÃO OU EXCLUSÃO SOCIAL GUSTAVO FAVINI MARIZ MAIA UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná ILTON GARCIA DA COSTA UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná 1. INTRODUÇÃO As relações de trabalho configuram um aspecto de grande relevância na vida em sociedade. Constitucionalmente integram o fundamento de nossa Carta Magna, previsto no artigo 1, inciso IV do referido diploma legal. Apesar disto, é comum ocorrer situações que envolvam algum tipo de constrangimento de caráter religioso, quer seja em entrevistas de emprego, quer seja dentro do ambiente de trabalho propriamente dito. A partir deste ponto, pretende este trabalho expor brevemente as sérias complicações que este tipo de discriminação é capaz de proporcionar. 2. DIREITOS SOCIOTRABALHISTAS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Considerando a sociedade de trabalho em que vivemos, a restrição ao labor, por qualquer discriminação que seja, vitima o sujeito que a sofre, afinal, sem emprego, drasticamente se reduzem as possibilidades de se ter uma vida digna e, por consequência, até mesmo o regime democrático de direito é posto em risco, conforme defende Dinaura Gomes Graduando em Direito pela UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná. Doutor e Mestre em Direito pela PUC-SP, Professor da UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná, Advogado Militante, Mestre em Administração de Empresas, Matemático, Membro da Comissão de Direito Constitucional, da de Ensino Jurídico e da Liberdade Religiosa da OAB-SP
2 (2007, p.198). No mesmo sentido, Ana Cristina Lavalle destaca: Considerando que o trabalho constitui forma de inserção do ser humano na sociedade, a discriminação nas relações laborais atinge o indivíduo em sua plenitude, ou seja, em suas relações sociais e familiares. Em nosso país, a população economicamente ativa é bastante superior ao número de vagas existentes no mercado formal de trabalho, o que acarreta a precarização das relações de trabalho, e a impossibilidade do acesso de tais trabalhadores aos benefícios mínimos previstos na legislação trabalhista vigente. [ ] (2009, p. 148) Uadi Lammêgo Bulos defende a importância da religião na vida do ser humano ao dizer em sua obra que, com exceção das Constituições de 1891 e 1937, todas as demais fazem, de alguma forma, referência a um ser supremo (2008, p.66). Outros doutrinadores também destacam a importância do trabalho e da religião. Ana Paula Branco (2007, p.47) esclarece que o Título II da Constituição é dedicado aos Direitos e Garantias Fundamentais. Nele se encontram direitos civis, políticos e de nacionalidade, bem como os sociotrabalhistas, o que dá margem a interpretação de que tais direitos são fundamentais à pessoa humana. Portanto, através do princípio da igualdade, que defende a aplicação dos mesmos direitos a todos que estão aptos a exercê-lo, busca-se expandir ao máximo as regras de tratamento aos trabalhadores e, somando as posições de ambos os doutrinadores chega-se a conclusão que não há que se falar em direitos isolados, e sim em direitos complementares, afinal, tanto o direito à religião quanto o direito ao emprego estão englobados na mesma seara, qual seja, a dos direitos fundamentais. Os direitos sociais também funcionam para garantir que certas situações, incorporadas em definitivo ao patrimônio humano, sejam preservadas. Nesse aspecto, incluem-se a qualidade de vida, a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a moradia, a segurança. A previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Por isso, funcionam como meio para se alcançar um fim, isto é, servem de substrato para o exercício de incontáveis direitos humanos fundamentais, e.g., aqueles arrolados nos arts. 5º e 7º dessa Constituição (BULOS, 2008, p. 420) Cercear direitos essenciais de um sujeito somente por conta de sua crença ou descrença religiosa cria um abismo que separa duas expressões basilares dos direitos básicos do homem. De um lado, a livre opção religiosa, e do outro, o acesso ao trabalho e as consequências já supracitadas que esta ferramenta traduz. Não há, desta maneira, possibilidade de se garantir condições plenas de existência sendo o trabalhador pressionado a escolher qual dos direitos deve ele optar.
3 Deste modo, não há como fragmentar a dignidade da pessoa humana, pois esta deve ser encarada como uma série de preceitos que devem ser cumpridos para que os direitos mais básicos a todos os cidadãos sejam atendidos. Mais uma vez, Ana Cristina Lavalle esclarece, ao dizer que a dignidade da pessoa humana deve ser o norte de todas as demais garantias fundamentais: Assim, a dignidade da pessoa humana vem retratada nas normas internacionais mencionadas como um princípio absoluto que, à luz da concepção kantiana, atribui ao ser humano o centro e o fim do Direito, garantindo-lhe condições mínimas para a vida em sociedade. Este princípio norteia, unifica e legitima todos os demais direitos e garantias fundamentais. (LAVALLE, 2009, p.150) Ainda sob o enfoque supracitado que engloba trabalho e religião no mesmo patamar de direitos, merece destaque neste ponto o art. 5 XLI da Constituição da República, que traz que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. Soma-se a isto o disposto no art. 60, 4, IV, que concede aos direitos fundamentais sociotrabalhistas os status de cláusula pétrea, tamanha sua importância no quadro pátrio. A regra insculpida no inciso IV do 4 do art. 60 da Carta Republicana reconhece aos direitos fundamentais sociotrabalhistas o status de Cláusulas Pétreas e, em função disso, é inegável a juridicidade e a efetividade que os permeiam, razão pela qual devem ser vistos dessa maneira e respeitados ante o lastro de proteção constitucional que lhes foi conferido, sendo inadmissível que ainda no século XXI sejam encarados como generosidade de um ou outro governante particular. (BRANCO, 2007, p 47) Porém, antes mesmo na Constituição Federal de 89, a Convenção n 111 da Organização Internacional do Trabalho, ratificado pelo Brasil mediante o Decreto de 19 de janeiro de 1968 foi clara ao trazer em seu bojo a vedação de qualquer tipo de discriminação dentro do ambiente de trabalho. O artigo 1 da referida convenção conceitua discriminação como toda a distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão ou qualquer circunstância que acarrete a destruição ou alteração da igualdade de oportunidade ou de tratamento em se tratando de emprego ou profissão. Também é de se ponderar que, em se tratando de relação de trabalho, não há razão para prática de discriminação religiosa no ambiente corporativo. Manoel Jorge e Silva Neto
4 (2008, p.160) neste sentido pontua que do mesmo modo que o Estado, a empresa deve de igual modo assumir postura imparcial quanto à religião, por esta não ter nenhuma ligação direta com este ou aquele credo. Prossegue o doutrinador dizendo que quem pode ou não ter religião são os trabalhadores e o proprietário. A empresa, enquanto entidade destinada à satisfação material e profissional de todos que a ela se vinculam, está proibida de abraçar uma dada seita religiosa, com exceção das organizações religiosas. 3. CONCLUSÃO Nítido, portanto, que com base nos argumentos citados supra, qualquer tipo de discriminação religiosa no ambiente de trabalho interfere negativamente na esfera pessoal do trabalhador, seja restringindo direitos da esfera fundamental, seja limitando a atuação no campo profissional. Ademais, o direito ao trabalho se insere no mesmo nível que é estabelecido o livre exercício religioso, pois ambos garantem a dignidade e o pleno acesso aos direitos da pessoa humana. Restringir a atuação de um desses direitos ou pior, se valer do exercício de um direito para ferir a atuação de outro é ainda mais letal, pois rapina o desempenho das garantias do ser humano, além de restringir ilegalmente o acesso ao mercado de trabalho, pois, conforme exposto, a empresa, do mesmo modo que o Estado, deve se abster de abraçar qualquer doutrina religiosa. Por fim, ainda que coubesse a empresa escolher uma opção religiosa a seguir, há normas de ordem constitucional e tratados internacionais cujo o país é signatário que impossibilita que a discriminação inclusive a religiosa seja praticada no bojo das relações trabalhistas. BIBLIOGRAFIA BRANCO, Ana Paula Tauceda, A colisão de princípios constitucionais no direito do trabalho, São Paulo: Ltr, BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 17 ed., São Paulo: Saraiva, 1996 BULOS, Uadi Lammego. Constituição Federal Anotada. São Paulo: Saraiva, CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. O Problema da Responsabilidade do Estado por Actos
5 Lícitos. Coimbra: Almedina, GOMES, Dinaura Godinho Pimentel. A Constitucionalização do Direito do Trabalho: um modo de interpretar e aplicar as normas trabalhistas para o alcance da efetiva inter-relação dos interesses econômicos com o respeito da dignidade da pessoa humana. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, a. 32, n. 58, p , 2007 GOMES, Fábio Rodrigues. A relação de Trabalho na Constituição: Fundamentos para uma interpretação razoável da nova competência da Justiça do Trabalho à luz da EC n 45/04, Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, JOÃO PAULO II. Carta encíclica Laborem Exercens. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1982 LAMA, Dalai. Uma Ética para o Novo Milênio. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2000 LAVALLE, Ana Cristina Revaglio. A discriminação nas relações de trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, a. 34, n. 62, p , 2009 MAIOR, Jorge Luiz Souto. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São Paulo: Ltr, 2000 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 6 ed., São Paulo: Atlas, MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 24 ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, NERY JUNIOR, Nelson. Constituição Federal Comentada. 2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009 NETO, Manoel Jorge e Silva, Proteção Constitucional à Liberdade Religiosa, Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, SROUR, Robert Henry. Poder Cultura e Ética nas Organizações. Rio de Janeiro: Campus, TEIXEIRA, J. H. Meirelles. Curso de Direito Constitucional. Texto revisto e atualizado por Maria Garcia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
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