ESTUDO SUMÁRIO DA URINA. Pesquisa de albumina, corpos cetónicos, pigmentos e sais biliares
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- Lívia Galindo Pacheco
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1 Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Ano Lectivo 2009/2010 Unidade Curricular de BIOQUÍMICA II Mestrado Integrado em MEDICINA 1º Ano ENSINO PRÁTICO E TEORICO-PRÁTICO 1ª AULA PRÁTICA ESTUDO SUMÁRIO DA URINA A formação da urina Densidade e ph Pesquisa de albumina, corpos cetónicos, pigmentos e sais biliares
2 * A urina A urina é uma solução aquosa formada no rim, pela qual são eliminados água, produtos dos metabolismos endógenos, electrólitos, medicamentos e seus metabolitos, contribuindo também para manter a homeostase do meio interno. * Formação da urina A urina é formada no rim em pequenas unidades funcionais, os nefrónios, que existem em número elevado: , nos dois rins. São dois os mecanismos principais de formação da urina: 1. Filtração de grande quantidade do plasma que passa no glomérulo (cerca de um quinto), através da membrana glomerular em direcção aos túbulos do nefrónio; 2. Diversos mecanismos de secreção/ reabsorção, que permitem ao organismo reter substâncias necessárias e eliminar outras indesejáveis. O fluxo de sangue que passa nos rins, é de cerca de ml/ min., ou seja 21% do débito cardíaco normal, que é de cerca de ml/ minuto. Através deste parâmetro, é possível avaliar a capacidade de depuração do rim. Junto aos tubos urinários, existe um sistema vascular que participa nos mecanismos de reabsorção e secreção, permitindo nomeadamente, uma troca permanente, com o espaço urinário. Muitas destas trocas são efectuadas contra gradientes, portanto com recurso a transportadores específicos e logo, a gastos energéticos. As substâncias que são reabsorvidas activamente por transportadores específicos, têm por isso uma dependência da capacidade dos mesmos. Por exemplo, a glicose, é reabsorvida completamente dos túbulos renais desde que esteja presente nos mesmos até 320 mg/min. Este valor constitui a chamada transferência máxima. Acima deste valor, a glicose começa a aparecer na urina (em condições normais não surge). Note-se que este valor é de carga tubular de glicose e não de glicémia. Se a cada minuto forem formados 125 ml de urina no glomérulo, e a glicémia for de 100 mg/ dl, há a passagem de 125 mg/min, de glicose para o túbulo; é a carga tubular. Portanto, para estes valores toda a glicose é reabsorvida e não aparece na urina. Os iões sódio, por exemplo, não têm um limite de transferência máxima. 1
3 Recolha da amostra Geralmente, recolhe-se a primeira urina da manhã, em jejum, por ser mais límpida e mais concentrada. A concentração de solutos varia ao longo do dia e depende da ingestão de lípidos. O movimento ao longo do dia faz variar a quantidade excretada de metabolitos proteicos, por exemplo, tanto para estudos de microscopia, tanto para a pesquisa de elementos anormais, tal como proteínas.além disso, as condições da diurese são constantes e, no caso de infecção, os gérmens já se terão multiplicado e aumentam as probabilidades de serem identificados. Em determinados casos, é importante ter em conta a alimentação e a medicação seguida pelo doente, uma vez que poderão influenciar a obtenção de alguns resultados por interferência com os processos de análise. Para a conservação da amostra, usa-se normalmente a refrigeração (4ºC). Podem usarse conservantes químicos, mas deve sempre ter-se em conta se podem interferir com o elemento a analisar. Por exemplo, o ácido bórico, usado na conservação da urina, causa a precipitação dos uratos, não sendo, portanto, adequado para a análise do ácido úrico. O bicarbonato de sódio, é geralmente usado para preservar as porfirinas e o urobilinogéneo da urina. A manipulação do ph, também permite o estado de conservação; nomeadamente, para um valor aproximadamente de 3, impede o crescimento bacteriano e permite a solubilização de algumas substâncias, como por exemplo, os metabolitos das catecolaminas. A amostra recolhida em frasco estéril e adequado, deve ser dividida em alíquotas para a pesquisa dos diferentes elementos, cuja presença se quer atestar na urina; assim, se houver necessidade de usar conservantes numa análise, estes não interferirão com a pesquisa de outros elementos. 2
4 Análise da urina São vários os parâmetros a serem analisados: 1. Análise física: 1.1. Aspecto: Normalmente, a urina é clara e transparente, de cor amarela clara (âmbar). Ao agitar, pode surgir espuma, que desaparece logo depois. Pode observar-se turvamento ligeiro quando em repouso, por deposição de pequenas quantidades de mucina das vias urinárias, (considerado normal). Aspectos anormais: - Quando a urina arrefece (de 37º C para temperaturas inferiores), podem-se formar-se pequenas areias amarelas (cristais de ácido úrico/ uratos), que desaparecem com o aquecimento. - Pode observar-se turvamento branco, devido à presença de fosfatos ou carbonatos. - Um turvamento avermelhado pode indicar hematúria, hemoglobinúria, ou a presença de medicamentos (p.e. rifampicina). - Um aspecto leitoso da urina indica a presença de gordura. - Se a urina apresentar um aspecto fortemente turvo, é indicação de piúria, fecalúria, fosfatúrias. - No caso da urina ser escura, pode tratar-se de metahemoglobinúria; se for escura só pela manhã, pode aser devido a hemoglobinúria paroxística nocturna. - A urina amarela intensa (ás vezes cor de vinho do Porto) pode atestar a presença de pigmentos biliares (icterícias), mas também pode ocorrer em caso de urinas demasiado concentradas (desidratação). - Se a urina for muito clara, pode tratar-se de diabetes insípida ou de insuficiência renal crónica avançada. 3
5 1.2. Odor: O odor da urina pode considerar-se sui generis; transforma-se em odor amoniacal ao fim de algum tempo, por transformação da ureia em amónia, por acção do Microccocus urea. Aspectos anormais: - O odor a maçãs é típico da presença de corpos cetónicos (p.e. diabetes). - O odor fétidpode ser devido à presença de albumina em grandes quantidades ou a fecalúria Densidade: A densidade normal da urina é de 1,003 a 1,030. A osmolaridade pode ter valores de 100 a mosmol / L (Na, Cl, K, ureia,...). Em situações anormais podem surgir moléculas grandes na urina, de entre as quais fármacos, glicose, contrastes iodados, etc ph: O ph normal da urina pode variar entre 4,7 e 8 (médio: 6,0) Volume: Os valores normais para o volume de urina oscilam entre 600 a ml / 24 horas (média 1200 ml) Sedimento: Analisam-se pelo menos 10 ml de urina recém-colhida, após centrifugação, para pesquisa de cilindros, células, GV, leucócitos ou parasitas. 4
6 2. Análise química: 2.1. Composição normal: - Água: > 99%. - Constituintes inorgânicos: Na, Cl, P, K, Ca, Mg, sulfatos, etc.. - Constituintes orgânicos: - Azoto: ureia (constitui cerca de metade dos sólidos da urina), creatinina, amoníaco, ácido úrico, N indeterminado (aminoácidos e outros), proteínas (normal até 100 a 200 mg / 24 horas) e creatina. - Açúcares: glicose. - Ácido ascórbico e outras vitaminas. - Metabolitos e outras moléculas: bases azotadas, ácido oxálico, pigmentos biliares, hormonas e seus metabólitos, etc Elementos anormais: - Proteínas: normal até ± 200 mg/ dia. Acima do normal, este parâmetro pode ser sinal de pielonefrite, sindrome nefrótico e/ ou glomerulonefrite. - Hematúria: pode estar associada a lesão renal ou nas vias urinárias ou a glomerulonefrite. - Açucares: quase sempre, glucose. Pode existir ainda, frutose, galactose ou lactose. - Corpos cetónicos: normal até 3 a 15 mg / dia. Podem surgir em situações como gravidez ou anestesia - Bilirrubina: coproporfirinas I e III. Normal até 60 a 280 mg/ dia. 5
7 Ano Lectivo 2009/2010 BIOQUÍMICA II 1º Ano PROTOCOLO DE BANCADA 1ª AULA PRÁTICA ESTUDO SUMÁRIO DA URINA CARACTERÍSTICAS GERAIS: Côr Aspecto Depósito ph Densidade A - PESQUISA DE ALBUMINA (GRUPO I) 1. Pipetar 5 ml de amostra de urina num tubo de ensaio. 2. Colocar 4-5 gotas de ácido sulfossalicílico 20%. 3. Misturar. 4. Observar. A turbidez da mistura atesta a presença de albumina (precipitação). B - PESQUISA DE CORPOS CETÓNICOS- Pesquisa de acetoacetato, β-oh-butirato e acetona (Reacção de Legal - Imbert) (GRUPO II) 1. Pipetar 2 ml de urina para um tubo de ensaio. 2. Juntar umas gotas de reagente de Legal-Imbert e agitar. 3. Pipetar umas gotas de amónia pelas paredes do tubo. 4. Deixar repousar. Se houver a formação de um anel arroxeado, a prova é positiva. NOTA: Reagente de Imbert (10 g nitroprussiato de Na ml água destilada ml ácido acético). A cor alaranjada que pode surgir é devido à presença de creatinina, que é normal na urina. Os componentes do reagente Legal-Imbert formam com os corpos cetónicos, principalmente a acetona e o acetoacetato, um complexo de cor arroxeada, em solução alcalina. 1
8 CARACTERÍSTICAS GERAIS: Côr Aspecto Depósito ph Densidade C - PESQUISA DE PIGMENTOS BILIARES- Reacção de Gmelin (GRUPO III) 1. Num tubo de ensaio colocar um pequeno fragmento de nitrito de sódio e 3 ml de ácido nítrico concentrado. 2. Deixar cair urina gota a gota pelas paredes do tubo. Se a urina contiver pigmentos biliares, forma-se uma zona de separação dos dois líquidos, um anel corado, de cor verde-violeta. Quando a reacção é completa, o que é raro, encontrarmos mais cores: vermelho acastanhado, violeta, azul e verde. NOTA: A bilirrubina é um pigmento biliar que pode ser encontrado na urina, em casos de lesão hepática, mesmo antes do seu aumento ser detectado no sangue. A bilirrubina reage com o reagente nítrico-nitroso formando um composto violeta-azulado (semelhante à reacção diazo) e pode ser oxidada, dando origem a compostos corados, como a biliverdina (verde), a bilicianina (azul) e a coletelina (amarela). No caso de urinas muito escuras é conveniente diluir com um pouco de água. Medicamentos como a cloropromazina causam falsos positivos. D - PESQUISA DE SAIS BILIARES- Prova de Hay - (GRUPO IV) 1. Num tubo de ensaio, colocar 10 ml de urina filtrada e uma ponta de espátula de flor de enxofre. Se a urina não tem sais biliares, a flor de enxofre fica à superfície; se existirem sais biliares, uma parte de flor de enxofre depositase imediatamente no fundo, formando-se como que uma chuva de enxofre. Se a flor de enxofre ficar à superfície, e só cair depois de 1 ou 2 minutos, deve considerar-se a prova negativa. NOTA: Esta prova baseia-se no facto dos sais biliares baixarem a tensão superficial da urina, mais exactamente a tensão da interface urina-enxofre, permitindo ao enxofre misturar-se com a urina. Este método não é específico: o etanol, o éter, o clorofórmio, os detergentes, principalmente os tensioactivos, podem causar falsos positivos. 2
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