BOLETIM ESPECIAL JUNHO / 2018

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1 BOLETIM ESPECIAL JUNHO / 2018

2 Editorial Crise, mercado de trabalho, enfermeira(o)s: o que fazer? Todas as pessoas concordam que no Brasil estamos vivendo uma crise que se aprofunda desde No entanto, a maioria de nós talvez não saiba que a nossa crise é parte de uma crise global produzida pelo modelo capitalista neoliberal. Portanto, a primeira lição é: não estamos sós. Em consequência do panorama político-econômico global, no campo de trabalho em enfermagem registra-se cada vez mais e mais a desvalorização do preço pago pela força de trabalho, o salário, dado que a maioria das trabalhadoras e trabalhadores neste campo é assalariada. Mas, o que talvez não se saiba é que a profissão da enfermeira(o), e no caso brasileiro inclua-se as técnicas, técnicos e auxiliares em enfermagem, é considerada imprescindível na prestação de ações e serviços de saúde para a população mundial neste e no próximo século. Com o envelhecimento da população, bem como a elevação da expectativa de vida, mesmo grupos da população mais vulneráveis socialmente em algum momento da vida demandarão por serviços de saúde e serviços de enfermagem, principalmente no âmbito do domicílio, como já é rotina em países com sistemas universais de saúde como no Canadá e Itália.Por sua vez, introdução de novas tec nologias em saúde exige trabalhadoras e trabalhadores com maior e melhor qualificação, e as mudanças demográficas torna cada vez mais necessária a formação de enfermeira(o)s generalistas. Evidências reconhecidas não significa que os paísesinvistam na formação de enfermeira(o)s na quantidade e qualidade necessária, nem desenvolvam mecanismos para estimular a busca da profissão pelos jovens. Em consequência, a Organização Mundial da Saúde projeta que em 2030 a população mundial demandará 80 milhões de profissionais de saúde, enquanto apenas 65 milhões estarão no mercado de trabalho. Isto indica que existirá um déficit de 15 milhões de trabalhadores, a maioria deles enfermeiras e enfermeiros (dado que nos outros países não temos categorias diferentes de trabalhadoras em enfermagem como no Brasil) e médicos. Para o Conselho Internacional de Enfermeiras, o déficit de enfermeiras e enfermeiros será de nove milhões em 2030 (daqui a apenas 11 anos, tempo suficiente para a formação de duas turmas de graduandas!). No entanto, não temos dados que indique qual será o déficit para o Brasil. Assim, nosso trabalho é mais que necessário. Este panorama pode ser ainda mais grave para nós, pois em nosso país a profissão da enfermeira(o) ocupa um lugar importante no mercado de trabalho em saúde, pelas razões a seguir: Estas trabalhadoras e trabalhadores estão presentesem praticamente todos os municípios, mesmo onde não há médicos (dado que os médicos se concentram nas grandes cidades, como as capitais dos estados e principalmente na Região Sudeste, a mais rica do país); Estas trabalhadoras e trabalhadores compõem a maior força de trabalho do Sistema Único de Saúde (SUS), ao lado de técnicas, técnicos e auxiliares em enfermagem (na Bahia é o maior contingente de trabalhadoras e trabalhadores do SUS estadual); Enfermeira(o)s executam um trabalho de natureza assistencial-gerencial, assegurando a coordenação do processo de trabalho em enfermagem e articulando o processo de trabalho em saúde, o que significa que é este trabalho que garante a prestação final da assistência aos que usam serviços de saúde. Outro dado para refletir sobre o nosso contexto é quanto ao mercado de trabalho na Bahia. O Boletim do Emprego Formal dos Enfermeiros(as)/Março de 2018, produzido pelo DIEESE, registra um saldo positivo de empregos formais em Salvador, na Região Metropolitana e em municípios do interior. Ainda que pontual, esta evidência indica que o problema no mercado de trabalho não é a falta de postos de trabalho, e sim formas de exploração do trabalho de enfermeiras e enfermeiros como a extensão da jornada com as famosas dobras de plantão e mesmo com a redução gradual dos salários pagos. Estes são os fatos. Para melhor agir devemos entender que para situações complexas não existem respostas rápidas e fáceis. Não são as mensagens quase sempre anônimas e superficiais que circulam nas redes sociais as fontes de informação confiáveis. É preciso tecer evidências e explica-las à luz de boas teorias. Para nos ajudar nesta tarefa devemos entender que: Existe uma crise econômica e política global, que no Brasil se acentua a partir do Golpe Parlamentar-midiático de 2016, o que cria instabilidade no mercado de trabalho; O mercado de trabalho é a expressão de relações de poder entre aqueles que compram a força de trabalho e aqueles que vendem sua força de trabalho (em particular os trabalhadores assalariados como enfermeiras, enfermeiros, técnicas, técnicos e auxiliares). No nosso campo de trabalho, a fragilidade da representação política dos nossos sindicatos e associações (somos cerca de 900 filiada(o)s no SEEB, num universo de enfermeira(o)s inscritos no COREN/Bahia em março de 2018), indica que estamos perdendo no jogo de poder no mercado; No campo da enfermagem existe uma acentuada divisão técnica do trabalho, com diferentes trabalhadoras e trabalhadores que competem entre si por um posto de trabalho. Por exemplo, para uma organização de saúde funcionar, basta que contrate apenas uma enfermeira. Em contrapartida precisa contratar para cada enfermeira, por exemplo, 10 técnica(o)s em enfermagem. Assim, técnica(o)s e auxiliares (somam inscritas no COREN/Bahia em março de 2018) competem no mercado de trabalho com as enfermeiras. Além disto, existem outros trabalhadores e trabalhadoras, formais e informais, que competem no mercado de trabalho com a enfermeir(o)a. Os mais conhecidos, são os agentes comunitários de saúde e agentes de controle de endemias. Mas novos trabalhadores como cuidadores e doulastambém competem no mesmo campo de trabalho. Estes trabalhadores em disputa por um posto de trabalho contribuem significativamente para rebaixar o preço da sua própria força de trabalho e da força de trabalho de todos que atuam no campo da enfermagem, em particular da enfermeira, que é em tese a que recebe o maior salário por ter formação de grau superior; Junte-se a isso o fato da maioria das trabalhadoras do campo da enfermagem ser do sexo feminino. Nós, mulheres, somos educadas na sociedade patriarcal para introjetar a opressão e para obedecer. Somos educadas para assumir a dupla ou tripla jornada de trabalho, o que dificulta, quando não nos impede de ter tempo para atividades de organização política. Os fatos descritos indicam que nossos problemas são de natureza estrutural, e são, assim, difíceis. Mas não impossíveis de enfrentamento. Portanto, o que fazer? Primeiro, é dever de cada enfermeira e enfermeiroduvidar daquilo que ouve no cotidiano. Devemos buscar melhores informações, argumentos mais profundos. Nunca aceitar o dito pelo dito. Segundo, é dever de cada enfermeira e enfermeiro participar de alguma forma de organização política. Todas e todos podem se filiar ao Sindicato. Algumas podem participar de reuniões e assembleias. Outras podem se informar junto às entidades e disseminar estas informações com seu grupo de trabalho. Temos que construir nossa identidade comum de trabalhadores. Temos que nos unir. Terceiro, é dever de cada enfermeira e enfermeiro incluir as técnicas, técnicos e auxiliares nas decisões cotidianas do trabalho. Precisamos começar a nos ver como trabalhadoras e trabalhadores aliados. Começar a nos comunicar pela emoção, pela construção de projetos comuns, seja no cotidiano do trabalho, seja nos sindicatos e nas lutas comuns. Se você chegou até aqui na leitura destas linhas pode estar se perguntando como participar, dado que não tem tempo para isso. De fato não tem. Mas, será que não podemos parar um minuto e pensar do que precisamos realmente? Será que não é necessário deixar de ser uma ou um daqueles-que-apenas-vivem-do-trabalho e abrir espaço para que a vida aconteça? Cristina Melo Docente da Escola de Enfermagem da UFBA

3 Atividades da 79ª Semana Brasileira de Enfermagem (Sben) 2018 Exposição O trabalho em enfermagem ajuda a manter a vida O SEEB, em conjunto com a Aben-Ba, Coren-Ba e Sintefem, organizou a exposição fotográﬁca O trabalho em enfermagem ajuda a manter a vida, que realizou-se no Shopping Piedade de 12 a 19 de maio. Trata-se de uma ação inédita das organizações para comemorar a 79ª Sben. O objetivo da exposição foi aproximar as categorias do campo de trabalho em enfermagem da população, esclarecendo sobre as atividades desempenhadas por enfermeiras (os), técnicas (os) e auxiliares de enfermagem. A exposição teve 20 totens com fotos de trabalhadoras que representaram as áreas de atuação. Seminários da 79ª Sben O SEEB participou de todos os seminários da 79ª Sben no interior ena capital do Estado, contribuindo para a discussão sobre o mercado de trabalho em enfermagem e sobre o subdimensionamento e suas consequencias para as trabalhadoras e usuários. Alagoinhas (08/05 Casa de Cultura Representante SEEB: Tatiane Araújo) Feira de Santana (10/05 Auditório da UEFS. Representante SEEB: Christiani Gusmão) 04 w w w. s e e b. o r g. br 05

4 Jequié (23/05 Auditório da UESB. Representante Seeb: Lúcia Duque) Salvador (11/05 Reitoria da UFBA. Representantes SEEB: Lúcia Duque e Tatiane Araújo) Guanambi (15/05 Auditório da UNEB. Representante SEEB: Lúcia Duque) Juazeiro (24/05 Auditório da UNIVASF. Representante Seeb: Kay Amparo) Irecê (16/05 Centro Educacional de Cultura e Lazer. Representante SEEB: Davi Apóstolo) Itabuna (22/05 Auditório da UESC. Representantes SEEB: Lúcia Duque, Gisleide Silva e Ariela França) 06 w w w. s e e b. o r g. br 07

5 Outras atividades da Sben Aula pública e passeata No dia 17/05, O SEEB, representado por Edialeda Almeida, participou em Salvador, na Praça da Piedade da aula pública e caminhada em defesa do SUS, mediante os constantes ataques que o Sistema Único de Saúde vem sofrendo do governo que se estabeleceu após o golpe jurídico-parlamentar-midiático de Além de possibilitar a assistência a milhões de brasileiros e brasileiras, o SUS é também o principal empregador de enfermeiras, e a sua destruição signiﬁcará também a destruição de milhares de postos de trabalho em enfermagem. O SEEB ainda participou de atividades promovidas por Faculdades e Hospitais como estratégia para ampliar o diálogo com enfermeiras e estudantes. Faculdade FACEM Santo Antônio de Jesus. Representante SEEB: Tatiane Araújo Hospital Geral Roberto Santos Salvador. Representante SEEB: Edialeda Almeida 08 w w w. s e e b. o r g. br 09

6 Hospital Inácio Pinto Feira de Santana. Representante Seeb: Christiani Gusmão Câmara Legislativa de Feira de Santana Comemoração do Dia internacional da enfermeira e o dia nacional do técnico em enfermagem. Representante Seeb: Christiani Gusmão Como se sindicalizar? A sindicalização é a forma que a classe contribui para o fortalecimento da categoria. A participação dos enfermeiros e enfermeiras fortalece o sindicato e possibilita a realização de diversas lutas. (atualmente está no valor de R$200,00). Mensalidade: desconto de 1% do salário base na folha de pagamento. Faça a sua parte. Acesse o site: seeb.org.br se sindicalize. JUNTOS SOMOS FORTES! 10