RELATÓRIO SOBRE OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA

Transcrição

1 RELATÓRIO SOBRE OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA Salvador 2018

2 Fórum de Sindicatos da área da Saúde do Estado da Bahia Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (SEEB) Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais da Bahia (SINFITO) Sindicato dos Nutricionistas no Estado da Bahia (SINDNUT) Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado da Bahia (SASB) Sindicato dos Psicólogos (as) do Estado da Bahia (SINPSI) Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Bahia (SINDFARMA) Sindicato dos Técnicos de enfermagem, técnicos de enfermagem do trabalho e técnicos de patologia clínica da rede pública (SINTEFEM) Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em Radiologia do Estado da Bahia (SINDIMAGEM) Sindicato dos Trabalhadores em Saúde da Bahia Rede Privada (SINDISAÚDE RP) Sindicato dos Vigilantes do Estado da Bahia (SINDVIGILANTES)

3 1. APRESENTAÇÃO Este relatório tem como objetivo dar ciência ao Exmo. Sr. Governador do Estado da Bahia Rui Costa sobre a situação que os trabalhadores terceirizados da saúde vivenciam em relação a atrasos salariais e não pagamento de outros direitos trabalhistas por parte das empresas que terceirizam esta força de trabalho. Atualmente, na Bahia, temos um total de 3000 trabalhadores terceirizados que se distribuem entre Enfermeiras, Técnicas em enfermagem, Psicólogos, Nutricionistas, Assistentes Sociais, Técnicos em Radiologia e Imagem, Farmacêuticos, Fisioterapeutas e Vigilantes. Dado a ausência de concurso público para a área da saúde, a força de trabalho terceirizada é a que representa atualmente o maior quantitativo de trabalhadores da área da saúde. Ressalta-se que esta situação é extremamente danosa à continuidade dos serviços e a manutenção da qualidade da assistência no Sistema Único de Saúde Estadual, dado a alta rotatividade e a ausência de Educação Permanente em Saúde para estes trabalhadores. Diversos estudos no campo da Sociologia e da Saúde já demonstram evidências científicas de que a terceirização não melhora a qualidade dos serviços, não reduz custos, coloca os trabalhadores em situação de vulnerabilidade e provoca a descontinuidade da assistência (ANTUNES; DRUCK, 2014; FAITÃ; PINHEIRO, 2012). Neste cenário, sabe-se ainda que a terceirização serve ao desmonte dos serviços públicos, acentua o domínio privado sobre as decisões coletivas. Além disto, a terceirização da força de trabalho no serviço público apenas tem servido à expropriação da força de trabalho, dado que as empresas terceirizadas, para vencerem uma licitação, ofertam um serviço a baixo custo. No caso de empresas que terceirizam a força de trabalho, isto significa a redução do preço da força de trabalho abaixo do seu valor. Mesmo alguma melhoria salarial que seja conquistada durante a vigência do contrato de determinada empresa é perdido assim que este contrato se extingue (AMORIM,2009; CARVALHO; BRIDI, 2015). Além destes argumentos científicos, colocamos ao Excelentíssimo Governador outro, de cunho político: não é esperado de um partido de centro esquerda, cujas

4 origens estão vinculadas à classe trabalhadora, o apoio ao desmonte dos serviços públicos, a terceirização da força de trabalho e a implantação à toque de caixa da política neoliberal. Assim, esperamos que durante o nosso diálogo possamos encontrar a melhor solução para os trabalhadores terceirizados da saúde, e a realização de concurso está entre estas soluções, o que seria também a melhor solução para a população que depende dos serviços de saúde do Estado da Bahia. E, conforme afirma Marilena Chauí, um estado verdadeiramente democrático se releva pela garantia de direitos aos mais vulneráveis. 2. SITUAÇÃO DOS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS DA SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA Terceirizam a força de trabalho em saúde na Bahia as seguintes empresas: -Fundação Jose Silveira- contratos no HGE, HCRS, ERNESTO SIMOES, PRADO VALADARES, MENADRO DE FARIAS HGC (CAMAÇARI) E HRCA (FEIRA DE SANTANA). -IGH- HCRS E HGE -APMI-CASTRO ALVES E JUAZEIRO -IBDAH-DANTAS BIAO (ALAGOINHAS) E UPAS -PRO SAUDE- ALAIDE COSTA -HYGIA- MATERNIDADE JOSE MARIA DE MAGALHAES NETO -IFF- HOSPITAL DA MULHER -FESF SUS-INTERNAÇAO DOMICILIAR e PNH NOS SEGUINTES HOSPITAIS (HGE,HCRA,HRCA,HGC E MENANDRO). Ressalta-se que antes desta tentativa de resolução junto ao Governador do Estado, o Fórum de Sindicatos da área da Saúde tentou, sem sucesso, solucionar as situações abaixo listadas junto à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e das próprias empresas. Entendemos que o Governo do Estado é o responsável, em última instância, pelo acompanhamento dos contratatos e pelo cumprimento destes. Assim, cabe também ao Governo manter mecanismos de

5 fiscalização que impeçam as empresas de empreenderem as ações vilipendiosas contra a força de trabalho terceirizada. A. As empresas descumprem o pagamento dos salários até o quinto dia útil. Os atrasos salariais duram de 45 a 60 dias, o que compromete não somente a sobrevivência do trabalhador e de sua família, bem como o seu comparecimento ao trabalho, por falta de recursos financeiros para isto. B. Estas empresas não cumprem as convenções coletivas e outras leis trabalhistas e ainda assim continuam concorrendo e vencendo as licitações promovidas pelo Governo do Estado. C. O Governo do Estado não executa na fiscalização destas empresas a Lei nº12949 DE 12 de fevereiro de 2014, que dispõe sobre também conhecida como Lei Anti Calote. D. As empresas ignoram o cumprimento da Agenda Bahia do Trabalho Decente, compromisso internacional firmado pelo Governo do Estado. E. A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) não fiscaliza à contento a atuação destas empresas nos hospitais. Um exemplo disto é o que está ocorrendo na Maternidade José Maria de Magalhães Neto, que após a gestão do Instituto Hygia, vem perdendo qualidade no atendimento. F. Os mecanismos de verificação de frequência instituídos pela SESAB dificultam o processo, não garantem a transparência necessária, além de causar atrasos no pagamento às empresas terceirizadas. G. As empresas terceirizadas tem como prática de gestão do processo de trabalho a instituição de assédio moral aos trabalhadores, ameaçando-os com punições diversas, dentre a mais grave a demissão, caso os mesmos participem de movimentos reivindicatórios. Mediante esta situação caótica que se encontram trabalhadores da área da saúde da Bahia, solicitamos aos Exmo. Governador que, em conjunto com os Sindicatos, busque resoluções que garantam a dignidade dos trabalhadores e o melhor serviço de saúde aos usuários.

6 REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo; DRUCK, Graça. A epidemia da terceirização. In: ANTUNES, Ricardo (org). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III. 1 ed. São Paulo: Boitempo, pp FAITÃO, C. E. PINHEIRO, L. R. S Os Sentidos do Trabalho para servidores públicos de Saúde. Perspectiva, Erechim. v.36, n.136, p , dezembro/2012. Disponível em: < AMORIM, Helder Santos. Terceirização no serviço público: à luz da nova hermenêutica constitucional. São Paulo: LTr; 2009 CARVALHO, Lucas Vinicius de; BRIDI, Maria Aparecida. Trabalho e desigualdade: a terceirização e seus efeitos sobre os trabalhadores. Revista da ABET, v. 14, n. 1, Janeiro a Junho de Disponível em: <