AVIDOURO. Co-financiado por: PUBLICAÇÃO TÉCNICA TRIMESTRAL SOBRE O SECTOR VITIVINÍCOLA

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1 AVIDOURO PUBLICAÇÃO TÉCNICA TRIMESTRAL SOBRE O SECTOR VITIVINÍCOLA Na AVIDOURO Associação dos Vitivinicultores Independentes do Douro e de Portugal, as nossas linhas condutoras assentam na esperança e firmeza, na reflexão e na ação, na proposta e na reclamação, na participação democrática e empenhada tendo sempre em vista contribuir para a resolução dos graves problemas da Lavoura e do Mundo Rural. Esta publicação, que está no numero dois, é mais um passo nesse sentido. Conheça-a. Conheça-nos! Co-financiado por: Nº4 MAIO 2017 TRIMESTRAL DIRETORA: MARIA A. SANTOS

2 Castas do Douro A grande diversidade de castas existentes no Douro, adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as condições óptimas para a cultura da vinha existentes na região. As castas, na sua maioria autóctones, estão enxertadas em diversos porta-enxertos, escolhidos segundo a sua afinidade para as castas e características do solo. O encepamento da região, aliás como o de todas as regiões demarcadas, está regulamentado através de decreto-lei, sendo aí referidas as castas autorizadas e recomendadas e a respectiva percentagem. Actualmente, nas novas plantações tem-se optado por um número mais reduzido de castas, eleitas pelas suas características particulares. Nas castas tintas destacam-se a Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinto Cão; as castas brancas predominantes são a Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho, Gouveio. No que diz respeito à produtividade, a região não se caracteriza por ter castas muito produtivas. Será de referir que o rendimento máximo permitido é de 55 hl/ha (cerca de 7.5OOkg/ha). A produtividade média é de cerca de 30 hl/ha (4.100kg/ha). Castas Brancas Castas Tintas Min. 60% Max. 40% Min 60% Max. 40% Esgana Cão Arinto Bastardo Cornifesto Folgasão Boal Mourisco Tinto Donzelinho Gouveio ou Verdelho Cercial Tinta Amarela Malvasia Malvasia Fina Côdega Tinta Barroca Periquita Rabigato Malvasia Corada Tinta Francisca Rufete Viosinho Moscatel Galego Tinta Roriz Tinta Barca Donzelinho Branco Tinto Cão Samarrinho Touriga Francesa Touriga Nacional Porta-Enxertos O porta-enxerto mais utilizado após a invasão da filoxera foi o Rupestris du Lot. Posteriormente, foram introduzidos híbridos de Berlandieri com Riparia (42O-A, SO4) e híbridos de Berlandieri com Rupestris, tais como o R 99, o R 11O, o 1103 P e ainda o Os primeiros são utilizados nos terrenos mais fundos e frescos e os segundos em encostas quentes, secas e fragosas.

3 Tesouras de enxertia Enxertia O enxerto é a união dos tecidos de duas plantas, geralmente de diferentes espécies, passando a formar uma planta com duas partes: o enxerto e o portaenxerto. A reprodução da enxertia é assexuada. O enxerto é a parte de cima, que vai produzir os frutos da variedade desejada, e o porta-enxerto é o sistema radicular, que tem como funções básicas o suporte da planta, o fornecimento de água e nutrientes e a adaptação da planta às condições do solo e do clima e a doenças. O seu desenvolvimento é rápido, o que facilita a reconstituição de um plantio perdido por pragas. A enxertia pode ser feita por vários métodos, sendo os mais comuns a encostia, a borbulhia e a garfagem, com as suas variações, conforme a planta, pois cada espécie se adapta a um tipo. Tem inúmeras vantagens, como, por exemplo, o consílio de características várias numa só planta. É uma forma de reprodução assexuada e usa-se geralmente para dar melhores condições à planta. Em 2015, visto que a técnica de fenda dupla inglesa se torna muito prática para grande parte das plantas, foram desenvolvidas na Nova Zelândia umas tesouras de enxertia que permitem fazer cortes perfeitos multifacetados. Atendendo à facilidade de uso e segurança de utilização têm-se tornado muito populares ultimamente.

4 Festas, feiras ou festivais que se realizam em Portugal Portugal tem uma forte tradição vitivinícola e a qualidade dos vinhos de cada região tem sido cada vez mais reconhecida, tanto a nível nacional como internacional. Para celebrar e exaltar este importante produto nacional, e todo o património cultural a ele associado, surgem um pouco por todo o país inúmeros eventos, desde festas, feiras, festivais, congressos, entre muitos outros. Deixamos aqui algumas festas, feiras ou festivais que se realizam em Portugal: Lagoa Wine Show Lagoa Vidigueira Branco Vidigueira Festa do Vinho Cartaxo Àvinho Azambuja Feira da Vinha e do Vinho Anadia Feira dos Produtos da Terra Ourém Expovez Arcos de Valdevez Festa do Alvarinho e do Fumeiro Melgaço Festival do Vinho do Douro Superior V. N. Foz Côa Há Provas em Oeiras Oeiras Feira Internacional da Cortiça Coruche Feira Nacional da Agricultura Santarém ViniReguengos Reguengos de Monsaraz Festival do Vinho Português Bombarral Expofacic Cantanhede FATACIL Lagoa Festa das Vindimas Palmela Feira do Vinho do Dão Nelas Festa das Adiafas Cadaval Alpiagra Alpiarça Rural Beja / Vinipax Beja Festival Nacional de Gastronomia / Salão Nacional de Vinhos Santarém Festa da Vinha e do Vinho Borba Festa do Espumante Melgaço Beira Interior, Vinhos e Sabores Pinhel

5 Entrevista Maria Theodora Silva Como explica que sendo uma mulher de nacionalidade Brasileira, se apaixonou pela viticultura em Portugal e investe na Região Demarcada do Douro? Realmente foi uma coisa muito marcante pra mim. Sem ter absolutamente nenhuma familiaridade no meu País com esta cultura, ao chegar aqui fiquei encantada. Poder-se-ia até justificar esta afinidade levantando a tese da memória celular. Meus antepassados eram portugueses e muitas vezes tenho uma nítida impressão que eles viveram no Douro. Aqui, encontro muita convergência de hábitos cultivados pela nossa família no Brasil. Estando a dar os primeiros passos, neste sector, o que está a pensar fazer? Substituir a vinha velha, por novas plantações? Fui incentivada a substituir a vinha velha por novas plantações e até cheguei a fazer um projeto mas recuei. Hoje tenho dúvidas. Estou analisando mais profundamente a possibilidade de recuperá-la, quer dizer, manter a diversidade de castas que ali existe e que torna o vinho português tão especial. Sei que está a equacionar produzir em modo de produção biológico, quais as razões? Depois de assumir a Quinta, a primeira coisa que fiz foi mudar a forma de eliminar as ervas que antes era feita através da aplicação de pesticida. Hoje a terra é limpa por processos completamente mecânicos. Independentemente da crescente consciencialização em todo o mundo sobre a importância da produção de alimento biológico para a preservação e/ou recuperação da saúde, eu sempre me preocupei muito com esta questão. Sempre procurei consumir alimentos orgânicos. E agora chegou a minha vez de contribuir para uma agricultura com menor índice de toxicidade possível. Falo menor índice, porque índice zero só será conseguido quando a comunidade toda ao redor estiver também engajada nesta prática. Conhece o mercado do vinho? Sendo uma pequena propriedade, está a pensar criar a sua própria marca? Tudo é muito recente. Comprei a Quinta em Por enquanto estou produzindo uma pequena quantidade de vinho em parceria com um amigo com grande experiência. Mas para o futuro pensamos, sim, num vôo um pouco mais alto.

6 Sendo uma pequena viticultora e tendo em vista a importância que a agricultura familiar tem na economia do nosso País e mesmo a nível Mundial, o que é necessário fazer para a sua sobrevivência? Sim, considero extremamente importante o incentivo à agricultura familiar. Deveria haver em Portugal um Plano de Ação efetivo para o seu desenvolvimento de forma que o agricultor seja dignamente remunerado pelo seu trabalho. E este plano passa também pela consciencialização do mercado. Governo e iniciativa privada trabalhando juntos. Temos experiências fabulosas em outros países como nos Estados Unidos, por exemplo. Naquele País cerca de 80% das 2 milhões pequenas propriedades agrícolas estão inseridas no CSA Program, Food Coops, Farmers Markets entre outros canais diretos de vendas com a população. Os produtores engajados nestes programas não usam mais agrotóxicos em suas lavouras porque sabem que esta prática destrói o solo e a água, atingindo assim a saúde das pessoas. E por isso a comunidade se sente totalmente comprometida com estes Programas. Eu mesma era cliente de uma destas cooperativas quando morei em Vermont, EUA, a "Hungermountain.Coop". Era uma maravilha, aquela sensação de estarmos nos alimentando bem. Um espaço muito agradável onde só se encontra produtos agrícolas frescos daquela região e livre de pesticidas e que tornou-se um ponto de encontro badalado com seu Restaurante e Café profuso em programacões artísticas. Quer dizer, ganha o público que encontra produtos frescos e saudáveis que não viajam kilômetros de distância e ganham os agricultores que ficam assegurados de haver escoamento à sua produção a preços que garantam a sua subsistência. Só falamos de vinha, mas sei que tem também outras culturas, quais? São rentáveis? Além da vinha temos as oliveiras mas a produção ainda é pequena porque estamos diminuindo a altura de árvores que nunca antes haviam sido podadas. Mesmo a poda sendo feita por etapas, diminui significativamente a produção. Mas acredito que dentro de 2 a 3 anos poderei pensar em criar uma marca para o azeite. Sobre sanidade vegetal, está informada das diversas doenças e pragas? Sim, tenho me informado sobre as doenças e tenho me protegido através dos meios disponíveis na região. Quais os problemas que tem sentido neste começo na agricultura em Portugal? Vou falar sobre a vinha que é onde tenho tido experiência, por enquanto, de todo o processo: desde a plantação até a venda. Além de conversar muito com vizinhos agricultores sobre as suas próprias dificuldades. Sob o ponto de vista econômico é muito desanimador para o pequeno produtor em Portugal. Os custos de manutenção são altos para quem precisa contratar mão de obra, sendo a receita de vendas pouco compensadora. O preço da uva fixado é muito baixo. E obviamente se os grandes fabricantes de vinho compram a matéria prima a baixo custo conseguem vender o seu vinho a preços inacreditáveis. Os pequenos fabricantes de vinho, que têm todo o ônus do processo de plantio, sofrem concorrência extremamente desleal. Alguns pequenos viticultores só conseguem se manter de pé porque recebem o beneficio. Na verdade, a minha leitura é que a viticultura em Portugal foi regulada para dar suporte aos grandes fabricantes de vinho. As pequenas lavouras estão diminuindo cada vez mais. E os reflexos estão visíveis na crescente desertificação de pessoas jovens nas cidades e aldeias do interior. Um quadro extremamente injusto, triste, e que precisa mudar urgentemente.

7 Legislação e Referências Bibliográficas Legislação Resolução do Conselho de Ministros n.º 110/2017 de 27 de Junho de 2017 Despacho n.º 7665/2016 de 9 de Junho Portaria n.º 25/2015 de 9 de Fevereiro Regulamento (CE) n.º 834/2007, de 28 de Junho, do Conselho Europeu. Jornal Oficial da União Europeia. Regulamento (CE) n.º 889/2008, de 5 de Semento, do Conselho Europeu. Jornal Oficial da União Europeia. Internet