TRANSDISCIPLINARIDADE E ARQUITETURA. Antonio Pedro Alves de Carvalho

Transcrição

1 TRANSDISCIPLINARIDADE E ARQUITETURA Antonio Pedro Alves de Carvalho

2 Conhecimento Humano A transdisciplinaridade foi definida por Piaget, na década de 1970, como um sistema sem fronteiras entre disciplinas do conhecimento humano A divisão exacerbada das especialidades, no entanto, é recente na metodologia de estudo da ciência Entre os gregos a filosofia abarcava todo conhecimento científico e humano disponível As profissões e especialidades foram surgindo com o crescimento das necessidades da civilização Até o renascimento, as corporações estavam ligadas à confecção de artefatos ou prestação de serviços específicos, que eram simples e únicos

3 Multidisciplinaridade Com a revolução industrial surge a produção desvinculada do produto final, a multidisciplinaridade, em que não há cooperação entre as especialidades Características da multidisciplinaridade na era industrial: Linearidade Alienação Isolamento Corporativismo Divisão Inadequação do produto final Orientação dicotômica Descontextualização Simplificação Redução do fenômeno complexo Conflitos de interesses Exploração Autoritarismo

4 Alternativas à Multidisciplinaridade Pluridisciplinaridade Estudo de um objeto de uma disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo, sem coordenação formal Ultrapassa os limites de uma disciplina mas permanece restrita Interdisciplinaridade Transferência dos métodos de uma disciplina para outra Mantém a visão dividida Utiliza o filtro da coordenação na tarefa de cooperação

5 Interdisciplinaridade

6 Envolve o que está entre as disciplinas e além das disciplinas, com uma cooperação generalizada, em todos os níveis, com coordenação voltada a um objetivo comum Busca compreender o mundo como uma unidade A diversidade fazendo parte do todo, que é mais que a soma das partes Tenta eliminar as tensões das dualidades Valoriza: subjetividade, emoção, articulação, rede de conexões

7

8 Nicolescu ressalta os três pilares da transdiciplinaridade: Diferentes níveis de realidade O terceiro incluído A complexidade

9 Níveis de realidade: Os diferentes níveis de realidade são acessíveis pelas diferentes percepções O conhecimento é aberto e complementar Todo conhecimento é válido e colabora internamente A zona de não resistência: o sagrado

10 O terceiro incluído: Lógica tradicional: A=A A não A Lógica transdisciplinar: Existe um termo T que é ao mesmo tempo A e não A

11 O terceiro incluído: A mecânica quântica Principio da incerteza de Heisenberg (1927) Impõe restrições à precisão com que se podem efetuar medidas simultâneas de uma classe de pares de observáveis Teorema de Godel (1931) Garante a existência das chamadas proposições indecidíveis, ou seja, que não podem ser provadas verdadeiras ou falsas em um dado sistema axiomático

12 O terceiro incluído: Os opostos criam uma tensão que constrói uma unidade maior É característica da complexidade

13 A complexidade: O número de variáveis não pode ser resolvido pelo raciocínio comum O papel da intuição e da criação

14 Arquitetura e A arquitetura é uma especialidade naturalmente integradora Possui característica de arte e ciência Pode ser facilmente utilizada como tema transversal As metodologias de trabalho por projetos e simulação, muito utilizadas na integração disciplinar, estão bem adaptadas à arquitetura

15 Arquitetura e Algumas técnicas utilizadas na arquitetura para estudo do programa, e que utilizam a simulação, podem contribuir para maior integração das disciplinas envolvidas no projeto da edificação. Exemplos: Avaliação pós-ocupação Pré-dimensionamentos tridimensionais Montagem de cenários Avaliação cênica

16 Arquitetura e Avaliação pós-ocupação A avaliação pós-ocupação de edificações tem demonstrado ser uma técnica que integra diversas especialidades interessadas na crítica e melhoria do construído

17 Arquitetura e Pré-dimensionamentos tridimensionais A modelagem tridimensional paramétrica, possível na tecnologia BIM (Building Information Model ou Building Information Modeling), pode ser utilizada como simulação do objeto a ser construído, podendo chegar à realidade virtual

18 Pré-dimensionamentos tridimensionais

19 Arquitetura e Montagem de cenários A simulação pode ser realizada pela observação ou montagem de cenários do que se pretende projetar

20 Arquitetura e Avaliação cênica O estudo das atividades a serem executadas em um espaço pode ser efetuado utilizando-se os princípios do desempenho teatral ou cinematográfico Os próprios utilizadores de espaços semelhantes podem servir de atores que demonstram à equipe de projeto as peculiaridades de seu trabalho

21 Considerações Finais A transdisciplinaridade não é um objetivo que possa ser plenamente atingido, mas um processo continuado de abertura e integração, que experimenta a infinidade de conjuntos que podem ser acrescentados aos campos estudados Sua aplicação estará mais propriamente estabelecida com uma mudança comportamental que utilize seus princípios

22 Questões Como a prática da arquitetura pode incorporar os princípios da transdisciplinaridade? Como a fragmentação do saber afeta o comportamento das pessoas? Qual a responsabilidade da alienação cultural na atual crise ecológica? Como compreender a noção de produtividade na atual sociedade ocidental?

23 Referências AZEVEDO, Giselle Arteiro N. et al. Uma abordagem transdisciplinar e inclusiva da criança na avaliação e na concepção de ambientes construídos para a educação infantil. Disponível em: Acesso em: 15 set DANCKWARDT, Voltaire P. A imagem-tempo na representação da arquitetura. 5º EREG/NE Encontro Regional de Expressão Gráfica. Anais..., Salvador, JANTSCH, Ari; BIANCHETTI, Lucídio. Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. 3. ed. Petrópolis: Vozes, MAX-NEEF, Manfred. Fundamentos de la transdisciplinaridad. Universidad Austral de Chile: Valdivia, Chile, Disponível em: Acesso em: 15 set MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MORIN, Edgar. Desafios da transdisciplinaridade e da complexidade. In: AUDY, Jorge L.N.; MOROSINI, Marília (orgs). Inovação e interdisciplinaridade na Universidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007, p SANTOS, Akiko. O que é transdisciplinaridade. Rural Semanal, n. 31 e 32, UFRRJ, ago/set/2005. Disponível em: Acesso em: 15 set WEIL, Pierre; CREMA, Roberto; D AMBROSIO, Ubiratan. Rumo à nova transdisciplinaridade. 4. ed. São Paulo: SUMMUS, 1993.