Impactos socioeconômicos do Código Florestal Brasileiro: uma discussão à luz de um modelo computável de equilíbrio geral
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1 Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Impactos socioeconômicos do Código Florestal Brasileiro: uma discussão à luz de um modelo computável de equilíbrio geral Tiago Barbosa Diniz Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Revista da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER), v. 53, p , 2015.
2 CONTEXTO O antigo Código Florestal (Lei 4.771/65) não era efetivamente cumprido: Bacha (2005) indica que, no ano de 1998, apenas 7,04% dos imóveis rurais do país registravam a presença de Reserva Legal. Sparovek et. al. (2011) sinaliza déficit de 43 milhões de hectares (Mha) para a APP e de 42 Mha para a RL no Brasil. Decreto 6.514/08, que instaura a Leis de Crimes Ambientais, determinou o prazo de 180 dias para que as propriedades rurais tivessem a sua Reserva Legal averbada. Pressão no Congresso Nacional para a reforma na legislação ambiental e para a suspensão das multas decorrentes do decreto. Emerge a Lei /12, buscando um Código preservacionista, mas ao mesmo tempo exequível.
3 CONTEXTO Código Florestal antigo (Lei de 1965) No cálculo das áreas a serem mantidas como Reserva Legal eram excluídas aquelas destinadas às APPs. A sobreposição é permitida somente em casos particulares, regidos pelo parágrafo 6º do art.16. O referencial para cômputo das APPs ripárias era o nível mais alto dos cursos d agua. Estabelece delimitações rígidas para as Áreas de Preservação Permanente e não permite flexibilização no caso de regularização. Novo Código Florestal (Lei de 2012) Admite-se que as Áreas de Preservação Permanente sejam abatidas no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que isso não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo. O referencial passa a ser a borda da calha do leito regular. Mantém parte das delimitações da legislação atual, mas, para efeito de regularização ambiental, as APPs nas margens dos cursos d agua e no entorno de nascentes, olhos d água, lagos e lagoas naturais são reduzidas de acordo com o tamanho da propriedade.
4 CONTEXTO Código Florestal antigo (Lei de 1965) Não há imóveis rurais dispensados de cumprir as exigências da Reserva Legal Para fins de recomposição, permite compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia. Fonte: Lei 4.771/1965. Lei /2012. Elaboração própria do autor. Novo Código Florestal (Lei de 2012) Para os imóveis rurais com até 4 módulos fiscais, a Reserva Legal será constituída com a vegetação natural existente até 22 de julho de 2008, mesmo que esta área corresponda a um percentual inferior àquele determinado em Lei. Para propriedades maiores, são excluídos os 4 módulos fiscais da base de cálculo da RL. Permite compensar a Reserva Legal inclusive em outros Estados, desde que a área seja equivalente em extensão à área da Reserva Legal a ser compensada e esteja localizada no mesmo bioma.
5 INTRODUÇÃO Problema Trade-off entre os quesitos econômicos e ambientais, uma vez que o cumprimento efetivo da legislação implica na reversão de áreas plantadas em vegetação nativa. Objetivos Analisar os impactos econômicos que a efetiva aplicação do Código Florestal traria ao Brasil e a suas regiões, tanto na versão atual da lei quanto na anterior. Trabalhos já realizados Miranda et. al. (2008), Sparovek et. al. (2010), Sparovek et. al. (2011), Padilha Júnior (2004), Rigonatto (2009) e IPEA(2011).
6 METODOLOGIA Modelo Computável de Equilíbrio Geral (TERM-BR), calibrado para o ano de Características Gerais: Modelo estático, inter-regional, bottom-up ; 21 atividades produtivas (15 atividades agropecuárias); 21 produtos (15 produtos agropecuários); 10 categorias de trabalho (classes de salário); 27 regiões dentro do Brasil; 10 tipos de famílias, agrupadas por classe de renda;
7 METODOLOGIA Estrutura de produção do TERM-BR. Forma Funcional Insumos ou Produtos
8 METODOLOGIA Setores agregados para este trabalho. Agropecuária Indústria Forma Serviços Funcional ArrozCasca AlgodHerb ExtMineral Comercio MilhoGrao FrutasCitric AgroInd Transporte TrigoOutCere CafeGrao Indústria Serviços CanaDeAcucar ExplFlorSilv SojaGrao BovOutrAnim OutPrServLav LeitVacOuAni Mandioca OutPecAcq FumoFolha
9 BASE DE DADOS Dados utilizados no trabalho e na calibragem do modelo: Matriz de Insumo-Produto 2005; Pesquisa Agrícola Municipal; PNAD 2005; POF 2003; Censo Agropecuário 2006; Elasticidades Tourinho (2010) e GTAP (2008). Informações geográficas do projeto AgLue; Déficit de APP e RL na agricultura e na pecuária Nível microrregional
10 INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS DO AGLUE Fonte: Sparovek et. al. (2010)
11 COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS O AgLue e o Censo Agropecuário
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13 Arquivos para simulação Termbr.tab CFatualTT2.cmf CFPlen1TT2.cmf CFPlen2TT2.cmf
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16 ESTRATÉGIA DE SIMULAÇÃO A ligação entre o Código Florestal e o modelo econômico se dá por meio de restrições ao uso do fator terra por parte do setor agropecuário. Informações geográficas AgLue Compatibilização com os dados do Censo Agropecuário Agregação aos setores do modelo e por UF Impactos Econômicos por UF Choque no TERM- BR Matriz de redução de área por cultura e por UF para adequação a legislação ambiental
17 ESTRATÉGIA DE SIMULAÇÃO A ligação entre o Código Florestal e o modelo econômico se dá por meio de restrições ao uso do fator terra por parte do setor agropecuário. Redução (%) do uso deste fator para adequação à legislação ambiental, por setor e por UF
18 RESOLUÇÃO DO MODELO EGC Fechamento de longo prazo. O modelo possui cerca de 1 milhão de equações nãolineares. O modelo é linearizado para sua solução. A solução é obtida através do software GEMPACK (Harrison and Pearson, 1996).
19 RESULTADOS: Cenários 1 e 2 Impactos econômicos ( %) do antigo e do novo Código Florestal sob variáveis selecionadas, Brasil. Variáveis CF antigo Novo CF Total APP RL Total APP RL Consumo das Famílias -1,04-0,70-0,33-0,54-0,37-0,17 Investimentos -0,56-0,33-0,23-0,28-0,16-0,12 Exportações (volume) 3,05 2,22 0,83 1,59 1,16 0,42 PIB real -0,37-0,22-0,15-0,19-0,11-0,08 Emprego 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Salário Real -1,01-0,65-0,35-0,52-0,34-0,18 Estoque de Capital -0,60-0,36-0,25-0,30-0,18-0,13 O instrumento da APP foi o maior responsável pelas variações no PIB em ambos os cenários.
20 MODELAGEM: Cenário 3 Aplica as restrições do Cenário 2, mas com o déficit de RL podendo ser compensado em outra UF, desde que no mesmo bioma. Considera o sistema de compensação do déficit em outra UF para apenas dois biomas: Cerrado e Mata Atlântica. Cerrado: o déficit do estado de São Paulo é compensado no Maranhão e no Piauí. Mata Atlântica: déficit de São Paulo e do Paraná são compensados em MG e na BA. Modelagem norteada pela disponibilidade de terra e variação no preço da terra decorrente da APP. Mudança nos impactos restrita aos estados de origem do déficit. Para os estados receptores não há efeitos econômicos, uma vez que áreas não produtivas é que são utilizadas.
21 RESULTADOS: Cenários 3 Impactos econômicos ( %) do novo Código Florestal sob variáveis selecionadas com o mecanismo de compensação de RL, Brasil. Variáveis Cenário 3 Total APP RL Consumo das Famílias -0,50-0,36-0,13 Investimentos -0,25-0,16-0,09 Exportações (volume) 1,50 1,16 0,35 PIB real -0,17-0,11-0,06 Emprego 0,00 0,00 0,00 Salário Real -0,47-0,34-0,13 Estoque de Capital -0,27-0,18-0,09 No PIB nacional as diferenças não são significativas. Variação apenas 0,02 p.p. abaixo da do cenário 2 (-0,19%)
22 RESULTADOS: Comparativo PIB PIB Comparativo dos impactos econômicos (%) entre os cenários, por regiões Regiões Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Brasil -0,37-0,19-0,17 Norte -0,88-0,16-0,22 Nordeste -0,76-0,03-0,33 São Paulo -0,14-0,09-0,02 Restante do Sudeste -0,38-0,22-0,23 Sul -0,51-0,33-0,27 Centro-oeste -0,16-0,06-0,13 As restrições mais brandas dos cenários 2 e 3 são refletidos em menores impactos setoriais. O mecanismo de compensação tem reflexos regionais importantes.
23 RESULTADOS: Produção setorial % da produção setorial no país. Setores Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Agricultura -1,22-0,78-0,73 Pecuária -1,37-0,68-0,57 Extrativa Mineral 0,74 0,39 0,37 AgroIndústria -1,10-0,57-0,45 Indústria 0,27 0,15 0,15 Comércio -0,14-0,07-0,05 Transporte -0,21-0,09-0,08 Serviços -0,67-0,34-0,31 Setorialmente, são observados os efeitos encadeadores dos segmentos agropecuários sobre a produção de outras atividades econômicas.
24 CONSIDERAÇÕES FINAIS A aplicação da legislação florestal não implica grandes perdas socioeconômicas ao país, em termos de PIB, produção e emprego. As restrições mais brandas da nova legislação foram refletidas em menores impactos econômicos. Setorialmente, a pecuária sofreu retrações na produção mais elevadas do que a agricultura. A cadeia do agronegócio também foi afetada e registrou quedas na produção. O mecanismo de compensação de RL tem reflexos regionais e setoriais importantes.
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