KC-137 Uma alternativa para a FAB

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1 KC-137 Uma alternativa para a FAB José Alves Daniel Filho, Graduando em Ciências Econômicas UPIS DF. daniell.filho@gmail.com Em meados da década de 1980, a Força Aérea Brasileira visando atender o requerimento de possuir uma aeronave de porte superior ao do Lockheed Martin C-130 em carga, velocidade de deslocamento, transporte de tropa, bem como complementar as aeronaves para transporte de autoridades e missões de reabastecimento em vôo, efetuou a compra de quatro Boeings 707 da VARIG para compor sua frota. Aproveitando a oportunidade que a empresa estava trocando suas aeronaves pelos Boeings 747, a FAB incorporou as células e como outras forças ao redor do mundo o fizeram, transformou o 707 civil em aeronave militar de reabastecimento em vôo e transporte tático ao custo final de US$ 9 milhões a unidade. Com capacidade de transportar até 40 toneladas (duas vezes a capacidade de um C- 130 Hércules e quatro vezes a capacidade do novo C-105 Amazonas!) ou, em torno de, 170 passageiros na configuração de classe executiva e 190 na de transporte de tropas, o KC-137 é capaz de deslocar-se a uma velocidade média de 950 km por hora e possui um alcance aproximado de 11 mil quilômetros. Equipando atualmente o 2º/2º GT (Grupo de Transporte) com sede no aeroporto do Galeão-RJ, a aeronave tem como missão primária o REVO 1, transporte de tropa, logístico e, como missão secundária, o transporte presidencial onde uma aeronave fica como reserva para alguma eventualidade que venha ocorrer com o Airbus A-319 ACJ Santos Dumont. Nossos quadrijatos têm a missão de dar perna longa aos nossos caças em deslocamento sem necessidade de pouso para reabastecimento, com velocidade maior que aquela encontrada no C-130. Eles prestam apoio a esses mesmos caças quando estão operando em 1 REVO: Reabastecimento em vôo;

2 aeródromos desprovidos de condições básicas de apoio possuindo, para isso, o APU 2 e capacidade de carregar grande quantidade de peças e pessoal em uma única viagem. Um KC tem a capacidade de reabastecer em torno de 20 caças F-5 no seu raio de alcance. Um KC-137 em demonstração de REVO com aeronaves F-5, no desfile de 7 de setembro de 2005 em Brasília. Foto: FAB Fabricados a partir da década de 1960, os Boeing 707, ainda hoje são os principais vetores de várias Forças Aéreas em todo mundo em missões de reabastecimento em vôo, AEW & C 3, SIGINT 4, ELINT 5 e transporte em suas diversas versões. De todas as células em uso pelo planeta, as da Força Aérea Brasileira foram consideradas em melhor estado de conservação. Após visita de inspeção do próprio fabricante da aeronave, foi constatado que estão entre as menos voadas, ou seja, essas células têm muito tempo de uso. Já as aeronaves operadas pelos EUA estão programadas para voar até o ano de 2040, através de programas de modernização da célula e motores que aumentam sua vida útil sendo que no Brasil a nossa aeronave mais voada tem menos ciclos 6 que a menos voada nos EUA. Nossas aeronaves estão começando a sentir o peso da idade e sendo impedidas de operar em alguns aeroportos nos EUA e Europa, pelo alto nível de ruídos emitidos por seus motores, além de que algumas, ainda, não possuem o TCAS 7, que permite voar em altitudes superiores a 29 mil pés (FL 290), o que aumenta o consumo de combustível. Outrossim, a mídia tem criticado duramente essas aeronaves chegando a apelidá-las de Sucatão, devido à idade de suas células e os diversos incidentes ocorridos em sua operação. Um dos incidentes que mais repercutiu, aconteceu durante a viagem do Exmo. Sr. Vice-Presidente da República Marco Maciel em sua visita à China, onde um dos motores explodiu em pleno vôo, 2 Unidade Auxiliar de Potência que tem como finalidade auxiliar na partida dos motores da aeronave sem auxílio externo. 3 Airborne Early Warning & Control: Alerta Aéreo Antecipado & Controle; 4 Inteligência de sinais; 5 Inteligência Eletrônica; 6 Os ciclos são utilizados para medir o desgaste de uma aeronave pressurizado como a hora de vôo para outras aeronaves. Um ciclo equivale a uma pressurização e despressurização da célula; 7 Traffic colision avoidance system: Equipamento que permite voar a altitudes acima de pés com separação vertical entre as aeronaves de pés (cerca de 300 metros) nas aerovias com alerta anticolisão entre aeronaves;

3 obrigando a aeronave efetuar um pouso não programado. Outro incidente mais recente que se tem notícia ocorreu em meados de setembro de 2006, quando uma comitiva do MDIC 8 estava a bordo no momento da explosão de uma das turbinas. Como foi destacado anteriormente, as células (leia-se estrutura), encontram-se em bom estado de conservação com várias horas de vôo a serem voadas, não precisando de um investimento maior nesta área e a atualização da aeronave sendo necessária somente na troca de seus aviônicos e sua remotorização. Como opção para substituição das turbinas Pratt & Whitney JT3D hoje em utilização, há algumas disponíveis no mercado internacional. As mais utilizadas são as turbinas General Eletric/SNECMA CFM-56-2A2 turbofan com hushkits 9 e as que equipam o Boeing DC-9 e a principal diferença entre eles é que os CFM-56 são maiores, ficando assim mais próximos do solo, o que prejudica a operação em aeródromos com pouca infra-estrutura, facilitando o aumento da ingestão de FOD 10 que pode trazer danos aos motores em relação às turbinas do Boeing DC-9, como no Brasil, os KC operam em aeródromos com um pouco mais de preparação, este não parece ser um problema caso seja feita à opção por seu uso. O KC-137 com o um F-5 aproximando para revoar a seco, em demonstração no desfile de 7 de setembro de 2005 em Brasília. Foto: FAB Já os sistemas de navegação e aviônicos precisariam de uma atenção maior com a experiência adquirida na modernização dos C-130H, a FAB poderá obter uma redução significativa de custos pela comunalidade dos equipamentos, bem como a instalação dos sistemas de autodefesa comuns àquela aeronave. Outrossim, poderá adotar um HUD 11 para a operação da aeronave a exemplo do que ocorre no C-130J, diminuindo a carga de trabalho dos pilotos, além de um datalink para operar com enlace de dados com as aeronaves R-99 e os caças, de forma a manter silêncio rádio durante as operações de caráter estratégico, elevando a aviação de transporte para um novo patamar de tecnologia e operacionalidade. 8 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; 9 Esse equipamento é capaz de reduzir o nível de ruído emitido pelas turbinas visando atender as regras do stage 3 da FAA. 10 Foreign Object Damage Danos por objetos externos 11 Head Up Display: Display que transmite os dados para o piloto em uma tela na altura dos olhos.

4 Caso sejam efetuadas, essas alterações beneficiarão de sobremaneira as linhas de suprimento da FAB, uma vez que 14 aeronaves possuirão aviônicos idênticos contribuindo para a expansão do sistema de CLS 12 na Força Aérea, que foi iniciado com a implementação dos programas ALX, F-5BR e juntando a esses a partir de 2008 o A-1BR. Destacamos ainda, que a Força já adota esse sistema na manutenção do KC nos check D da aeronave. No sistema CLS, é feita a terceirização de diversas partes da linha de suprimentos da aeronave racionalizando e agilizando a manutenção das mesmas. Efetuadas essas alterações, haveria a redução do MTBF 13 de cada célula, aumentando a disponibilidade da aeronave bem como reduzindo a necessidade de manutenção e custo de operação. Com o início da substituição dos 707 em algumas Forças Aéreas (Itália, EUA e Austrália) pelos modernos Boeing 767 (KC-767), Boeing 777 (KC-777) e seus concorrentes Airbus 310 (MRTT) e o 330 (KC-30), a troca de nossos KCs não estão entre as prioridades da FAB no médio prazo (em torno de 20 anos), tendo em vista os contingenciamentos dos recursos para a continuidade do seu plano de reequipamento, pois uma concorrência visando à substituição dos quatro 707 iria requerer pelo menos US$ 200 milhões pela mesma quantidade de células novas. Com a atual conjuntura econômica e as urgentes necessidades de aumento nos investimentos no controle de tráfego aéreo 14, a FAB está estudando uma possível atualização dos aviônicos da aeronave para operar por mais alguns anos. Mesmo assim não podemos deixar de destacar a necessidade de troca dos motores por outros mais modernos, o que reduziria sensivelmente o custo de operação (hoje em torno de US$ a hora de vôo), além de trazer mais segurança na operação da aeronave. Outrossim, como outra opção e a mais coerente seria a aquisição dos Boeings 767 que compõem a massa falida da empresa Transbrasil. A empresa que está em processo de falência possui em torno de quatro aeronaves que estão se deteriorando no pátio do Aeroporto Internacional de Brasília. Resolvendo os trâmites judiciais necessários o governo poderia repassar os valores das aeronaves para amortização de dívidas previdenciárias e trabalhistas que aquela empresa ainda possui. O processo de modernização e alteração desta aeronave poderia ser efetuado totalmente no Brasil pela VEM/VARIG, uma vez que os aviônicos poderiam seguir o mesmo padrão dos C-130H modernizados e a revisão estrutural seria efetuado pela empresa, que possui 12 Contractor Logistic Support Suporte Logístico Contratado; 13 Mean Time Between Failure: Tempo médio de revisão para determinada peça da aeronave; 14 O problema hoje é basicamente pela subestimação do governo no setor aeroviário e não pela falta de equipamentos instalados, como tem sido divulgado pela imprensa em geral. Não houve um planejamento adequado ao aumento de dotação de pessoal nos últimos anos, tendo em vista, a crescente demanda pelo setor aéreo, que teve um crescimento de 14% ao ano e o governo trabalhava com um crescimento de 8% ano. Com isso levou a falta de pessoal qualificado para operação dos sistemas, que nos últimos 8 anos recebeu investimentos na ordem de US$ 1,8 bi na instalação de novos equipamentos e modernizações no setor. Mas o investimento na dotação de pessoal ficou bem aquém, necessitando neste momento uma reestruturação dos planos de carreira e dotação de pessoal para valorização da profissão e estimulo para dedicação a carreira de controlador de vôo acabando com o gargalo que foi criado na operação de um dos mais elogiados sistemas de controle de tráfego aéreo mundial.

5 todo o know how necessário para efetuar o projeto. Além de deter toda técnica necessária para revisão de aeronaves de grande porte, essa operação contribuiria para facilitar futuras modificações dessas aeronaves para operadores da América do Sul que começaram em breve trocar seus reabastecedores, podendo adotar o mesmo modelo. Essa troca poderia ser paga com a redução do custo da hora de vôo de US$ 6.000,00 para em torno de US$ 3.500,00, além da venda de nossos Boeings 707 para outra empresa ou Força, algo em torno de US$ 8 milhões a US$ 15 milhões por unidade, dependendo do estado de conservação da célula no mercado internacional. Os KC-137 têm uma grande importância dentro da FAB, com a incumbência de transportar grandes cargas, motores de todos os caças em operação na Força, bem como motores das aeronaves de transporte como o do C-130 e até helicópteros como o Esquilo sem os rotores, levando-os para qualquer ponto do território nacional ou internacional para cumprimento de sua missão. Com isso, vemos a necessidade de não podermos ficar sem uma aeronave com essas características. Com a modernização ou substituição de nossos KC, teríamos uma frota segura e condizente com a realidade de nosso país e da nossa situação econômica, mantendo uma importante capacidade estratégica da nossa Força nas operações de longo curso.