ESTUDO DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A PARTICIPAÇÃO DE CATADORES AUTONOMOS E ORGANIZADOS NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR
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- Mauro Conceição Nobre
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1 ESTUDO DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A PARTICIPAÇÃO DE CATADORES AUTONOMOS E ORGANIZADOS NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR Déborah Katherine T. Batista Acadêmica do curso de Geografia da Unioeste, campus de Mal. Cândido Rondon-PR, Integrante do Laboratório de Estudos Regionais (LABER/Unioeste), deborahkatherine@hotmail.com Fábio de Oliveira Neves Professordo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unioeste, campus de Mal. Cândido Rondon- PR, Integrante do Laboratório de Estudos Regionais (LABER/Unioeste), foneves@gmail.com Introdução A gestão dos resíduos sólidos urbanos é um desafio atual para os municípios brasileiros. O crescimento da quantidade de materiais aterrados e a falta de sítios propícios e tecnicamente adequados para o despejo dos rejeitos tornam-se fatos centrais da problemática urbana no Brasil. É necessário desconcentrar o fluxo de resíduos levados diretamente à eliminação, através do desenvolvimento de sistemas integrados baseados na valorização dos materiais recicláveis. Avalorização ou reciclagem material do lixo no Brasilé realizada tanto pelas iniciativas do poder público, através de programas de coleta seletiva,como por um sistema composto por catadores, sucateiros e atravessadores que atuam na busca de materiais recicláveis para beneficiamento e venda. Diante desse fato, é possível perguntar se a solução para o aperfeiçoamento da valorização dos resíduos no Brasil não estaria na ligação entre os programas públicos e o desenvolvimento de mecanismos que incorporassem o savoir-faire e o trabalho dos catadores, tanto daqueles que já estão organizados em associações ou cooperativas quanto dos autônomos que trabalham nas ruas? O foco da investigação volta-se a uma experiência de envolvimento entre atores sociais, catadores autônomos e a gestão pública municipal. Trata-se dos pontosfixos : modalidade de captação de materiais recicláveis realizadas em locais pré-
2 determinados em Toledo (PR). Nestes, são cadastradas famílias carentes e catadores que trocam os materiais recolhidos do lixo urbano por cestas básicas. A modalidade foi criada no contexto da reestruturação do programa Câmbio Verde, ocorrida em São, portanto, mais de 15 anos de cooperação entre catadores autônomos e catadores organizados, que através da Associação de Catadores de Recicláveis de Toledo administram os pontos fixos. Os pontos fixos constituem um exemplo de sinergia 1 entre as lógicas de atuação e uso do espaço entre catadores autônomos e organizados? O objetivo deste estudo é compreender os catadores de resíduos, sua função e sua colaboração, sob uma perspectiva singular: um equipamento (pontos fixos) e sua potencialidade para valorização de materiais recicláveis. Por outro lado, insere-se num assunto mais amplo: o desenvolvimento de alternativas ao simples aterramento dos resíduos, contribuindo para repensar as formas de evitar o rápido esgotamento da vida útil dos aterros sanitários. A pesquisa é um estudo de caso, fundamentalmente qualitativo que tem como objetivo central analisar os pontos fixos enquanto possível instrumento para o aproveitamento da ação de catadores autônomos indiretamente envolvidos na gestão pública dos resíduos sólidos. Primeiramente,é realizado um perfil dos catadores e famílias cadastradas nos pontos fixos e que fazem as trocas de materiais por cestas básicas e, posteriormente, analisa-se o potencial de captação de recicláveis da modalidade frente à coleta porta-a-porta e aos pontos de entrega voluntária. A pesquisa foi dividida em etapas: a primeira, exploratória, foi realizada a partir de pesquisa bibliográfica, levantamento de leis e regulamentos e entrevistas semi-diretivas, com representantes da administração pública, da associação de catadores e demais atores relevantes dentro do tema no município. A segunda etapa, pesquisa de campo,realizada através da obtenção de dados secundários referentes ao controle da prefeitura sobre a 1 O conceito de Sinergia, pode ser compreendido em vários sentidos: no sociológico, significa a ação dinâmica de coesão de diversos elementos pertencentes a um grupo ou coletividade, com um objetivo, uma finalidade comum (SYNERGIE, 2013).
3 quantidade de materiais recicláveis, e questionários nos pontos fixos com os catadores. Por fim, conclui-se este trabalho atentando para as possibilidades e limitações deste processo de sinergia. GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A PARTICIPAÇÃO DE CATADORES A gestão do ambiente urbano envolve o acesso aos serviços públicos dos quais depende a qualidade de vida dos moradores, como a coleta de lixo e o abastecimento de água.a gestão dos resíduos sólidos constitui um dos desafios na administração das cidades atualmente, devido ao envolvimento de interesses de variados atores como: empresas, ONGs, indivíduos, organizações de catadores, etc. e perpassa setores interdependentes, como a indústria, a economia, a saúde pública, etc. É de responsabilidade municipal a gestão dos resíduos sólidos especificamente urbanos, ou seja, o lixo doméstico ou similar e aqueles recolhidos na limpeza de ruas e áreas públicas. Nesse sentido, o município pode trabalhar com a interação do setor privado, população em geral, catadores e outros na cooperação entre os poderes públicos locais para proporcionar uma melhor gestão do lixo urbano. Grimberger (2007) ressalta a importância de se superar o conceito de limpeza urbana para que se construa um modelo de gestão sustentável de resíduos sólidos, dentro de uma perspectiva que avance para uma sociedade sensibilizada, informada e educada para as questões de não desperdício de materiais, para consumir com critérios, para descartar seletivamente e para não jogar resíduos nos rios, córregos, terrenos baldios, ou seja, de forma imprópria. A gestão do lixo faz parte da gestão do espaço urbano,nesse sentido, envolve todos os fatores que a compõe, como o econômico. Conforme Milton Santos (1975) existem dois circuitos da economia urbana, o superior e o inferior. O primeiro é devido à modernização tecnológica, em que os elementos mais representativos são os monopólios e oligopólios das empresas prestadoras de serviço.já o circuito inferior é
4 aquele que é formado por atividades de pequena dimensão, sobretudo de interesse das populações pobres. É possível adaptar a distinção que Santos (1975) faz sobre os dois circuitos da economia urbana, considerando que existem diferentes economias do lixo, que possuem características diversas. Na economia do lixo existiria um circuito superior e um inferior.pode-se dizerque o superior são as empresas prestadoras de serviço que atuam nas mais diversas etapas da gestão: na coleta porta-a-porta, convencional e/ou seletiva; na operação de centrais de triagem; na construção e operação de incineradores; no gerenciamento e operação de aterros sanitários; e na reciclagem de produtos das mais diversas naturezas. O circuito inferior da economia do lixo é desenvolvido por atores denominados de autônomos ou informais do processo de valorização e gestão de resíduos sólidos, como catadores de rua, sucateiros e atravessadores. Com foco sobre os catadores, Bosi (2008, p.102) explica que [...] a cata de recicláveis geralmente tem sido apreendida como modalidade de trabalho autônomo, uma invenção do próprio trabalhador, uma oportunidade em meio as reconhecidas mudanças do mundo do trabalho responsáveis pelo encolhimento no número de empregos formais. Nesse sentido, Cesconeto (2003, p.10) aponta que na busca por estratégias de sobrevivência, cresce o número de pessoas que procuram a coleta de recicláveis, tornam a cidade mais limpa e criam estratégias de trabalho no mercado informal. Ainda sobre a questão dos catadores no Brasil,é possível destacar duas características marcantes: A primeira está relacionada ao funcionamento do mercado de reciclagem, marcado pela forte contribuição da atividade de catação e triagem do circuito inferior para o bom desempenho do mercado brasileiro na recuperação de alguns materiais. A segunda refere-se ao aspecto organizacional: pela autoorganização em um movimento nacional de catadores e pela progressiva formação de associações e cooperativas, com algum apoio do setor público e de organizações não governamentais. (NEVES, 2013, p. 122). É válido ressaltar alguns condicionantes para qualificar o catador para esse tipo trabalho,
5 [...] a maioria dos catadores já teve uma profissão (ou mais de uma), a qual não pode mais ser exercida, fosse por determinação do mercado, fosse por incapacidade física em função do seu envelhecimento como força de trabalho (BOSI 2008 p.106). Os locais de atuação dos catadores são nas ruas, na coleta alternativa e não autorizada pelo poder público de materiais recicláveis, nos lixões, sobre o lixo despejado pelos caminhões das coletas convencionais; ou em galpões de triagem de lixo, participando de associações ou cooperativas. As dinâmicas territoriais dos catadores são essencialmente conflituosas, manifestando-se na disputa por materiais com o sistema legal, disputando materiais com possível valor com a coleta da prefeitura ou realizada por empresa prestadora de serviço, ou os catadores atuam na atividade ilegal de catação nos lixões (NEVES, 2013, p. 123). Apesar desses conflitos na dinâmica territorial, Bosi (2008) aponta que a expansão histórica da reciclagem no país só tornou-se possível como negócio através do trabalho de um numeroso contingente de catadores, por se constituir uma solução barata de recolhimento e seleção de materiais. Diante do quadro exposto, reitera-se a existência de dois grupos de catadores com experiências distintas na gestão do lixo urbano. Os catadores organizados em cooperativas e associações que firmam parcerias com o poder público e os catadores autônomos que trabalham nos interstícios do sistema formal de coleta de lixo. O primeiro é reconhecido na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (BRASIL, 2011). O segundo não é reconhecido, embora algumas experiências interessantes tenham sido desenvolvidas pelos municípios, como a modalidade de troca de materiais recicláveis por cestas básicas desenvolvidas em Toledo e analisada a seguir. PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO E SINERGIA ENTRE CATADORES EM TOLEDO: OS PONTOS FIXOS DE TROCA DE RECICLÁVEIS Como forma de inclusão dos catadores na gestão de resíduos sólidos no município de Toledo-PR, no ano de 1997, foi criado o ponto fixo de troca, que consiste
6 na troca de materiais recicláveis por cesta básica. Existem sete locais no Município de Toledo-PR para efetuar a troca, o controle, e o cadastramento das famílias, sendo cinco na sede (Vila Pioneiro, Jardim Concórdia, Jardim Coopagro, São Francisco, Jardim Europa/ América) e dois no interior (Distritos de Vila Nova e Novo Sarandi). Cada família cadastrada tem direito de receber no máximo duas cestas básicas por mês. No ano de criação dos pontos fixos, os catadores tinham duas possibilidades de articulação com o programa de coleta seletiva da prefeitura: ou trabalhavam no galpão de triagem como contratados da empresa privada que administrava o funcionamento desse local ou colaboravam com a entrega de recicláveis nos pontos fixos em troca das cestas básicas. As parcerias diretas entre poder público e catadores só se formalizam quando a Associação de Catadores de Recicláveis (ACR) foi criada, em 09/08/2010 2, dependendo de um convênio entre a prefeitura e um apoio externo/privado: a empresa Itaipu Binacional, através do programa Coleta Solidária. Este programa foi direcionado para municípios da Faixa de Fronteira na Bacia do Rio Paraná, atuando na capacitação dos catadores para auto-organização, oferecendo equipamentos e estabelecendo convênios com as prefeituras para disponibilização de galpões de triagem e inserção das famílias de catadores em programas sociais. No caso de Toledo, a hidrelétrica de Itaipu encarregou-se da capacitação dos catadores e concessão de materiais e equipamentos, enquanto a prefeitura ficou responsável pela garantia de infraestrutura de operação: o galpão de triagem, os custos de energia e de água 3. A partir da formação da ACR, houve um processo de transferência de responsabilidades, caracterizando uma gestão compartilhada entre prefeitura e os catadores organizados com relação à valorização dos resíduos recicláveis. O galpão de triagem passou a ser integralmente administrado pelos catadores, tornando-se responsáveis por todo o processo de beneficiamento primário dos materiais recicláveis e sua posterior venda, com as receitas revertidas em prol da ACR. Os catadores organizados também assumiram a realização da coleta seletiva nas modalidades porta-a- 2 Informação verbal. Entrevista concedida por catador [set. 2012]. Entrevistador: Fábio de Oliveira Neves. Toledo, arquivo.mp3 (17 min.). 3 Idem.
7 porta e a administração dos pontos fixos. Em 2011, foi incluída outra modalidade de recuperação de recicláveis: os pontos de entrega voluntária, que atuam como complemento às outras modalidades e o conteúdo recebido é transportado pela empresa responsável pela coleta convencional e, enfim, revertido para a ACR. A incorporação dos catadores às suas próprias associações e aos programas de coleta seletiva é bem reduzida, no caso de Toledo são apenas 32 catadores associados, num universo que se estima que passe de centenas de catadores de rua. Embora a inclusão dos catadores na associação seja limitada, a formação dessa organização ocasionou impactos relevantes na gestão dos resíduos sólidos no município. Segundo observação de um representante do Conselho Municipal de Meio Ambiente sobre os catadores autônomos : Se você considerar até a cooperativa se organizar, até uns dois anos atrás eu diria, eu via muito mais eles circulando, eu diria que eu via três vezes mais eles circulando, só um número bem aleatório. Mas, é uma estimativa visual. Hoje são poucos, você pode circular o dia todo e talvez não veja nenhum deles passando, então... Na verdade eles estão sendo orientados a não fazerem mais isso. A se organizarem na cooperativa, a se inserirem na cooperativa. Então houve uma redução drástica [...]. 4 É válido ressaltar a importância da Associação como parceiro da prefeitura na valorização do lixo reciclável e há de se considerar um avanço em termos de organização dos catadores e da gestão frente à problemática dos resíduos sólidos urbanos.atualmente, o programa de coleta seletiva municipal, o Lixo Útil, conta com três modalidades de captação de materiais recicláveis. Além do porta-a-porta e dos pontos fixos, existem os pontos de entrega voluntária (pevs), que é a de maior destaque em termos de quantidade de material. A partir de janeiro de 2014, houve o aumento do número de contêineres (pevs), que passou de 61 para um total de 111 pontos. 5 Entretanto como relato obtido em entrevista, essa não é a modalidade mais eficaz, muito pelo 4 Informação verbal. Entrevista concedida por representante do Conselho Municipal do Meio Ambiente [out. 2013]. Entrevistadora: Déborah K. T. Batista. Toledo, arquivo.mp3 (47 min.). 5 Informação verbal. Entrevista concedida por representante da Secretaria de Meio Ambiente de Toledo [out. 2013]. Entrevistadora: Déborah K. T. Batista. Toledo, arquivo.mp3 (49 min.).
8 contrário acaba dificultando o trabalho de triagem do material quando este chega até a ACR. [...] Eles [os habitantes] acabam colocando de tudo nesses contêineres então de fato não fazem a seleção prévia do que pode ser depositado nos contêineres, bicho morto, material de laboratório de farmácia então assim, tudo pode, são situações assim calamitosas que aparecem. 6 Apesar da falta de incentivos e aprimoramento da modalidade Ponto Fixo de Troca, essa é, segundo relato dos catadores associados, a modalidade que fornece o melhor material que é recebido pela ACR, já que este vem pré-selecionado pelos catadores autônomos. É válido ressaltar em anos anteriores essa era a modalidade de maior captação de materiais. Atualmente, nota-se que a falta de aprimoramento dos pontos fixos denota outro foco: o da inércia na interação com catadores de rua e concentração de esforços na modalidade de entrega voluntária. Quanto ao perfil dos catadores, que foi traçado a partir de questionários aplicados tanto com catadores cadastrados nos pontos fixos como também dos catadores associados, pode-se perceber que a maior parte dos catadores cadastradosémulher, com uma média de 65 anos de idade, e em sua maioria escolarizadas até o Ensino Fundamental anos iniciais. Trabalham com a catação de materiais recicláveis de maneira informal para complementar a renda familiar, e entregam no ponto fixo a quantidade suficiente para que se obtenha as duas cestas básicas que o programa disponibiliza a cada 300 kg de material entregue. Em relação ao perfil dos catadores associados, também se destaca a quantidade de mulheres já que são mais de 85% do quadro atual, a média da idade desses catadores é de 47 anos, e o grau de escolarização até o Ensino Fundamental anos finais. Tratase, portanto, de um grupo mais jovem e mais escolarizado que os catadores autônomos. Em relação ao trabalho exercido na Associação, todos contribuem com todos os setores, tanto na esteira, quando na pré-seleção, compactação, limpeza, não tendo 6 Informação verbal. Entrevista concedida por pesquisadora[out. 2013]. Entrevistadora: Déborah K. T. Batista. Toledo, arquivo.mp3 (42 min.).
9 subdivisões de trabalhos dentro na Associação. Configura-se, portanto, como um trabalho colaborativo, distinguindo-se das ações individuais e, no máximo, familiares dos catadores autônomos. A atuação espacial dos dois grupos (associados e não associados) também difere. Os catadores da ACR trabalham em locais fixos (exceto aqueles que trabalham no caminhão de recolhimento porta-a-porta), majoritariamente no galpão de triagem. Enquanto os catadores de rua trabalham de maneira mais dispersa, percorrendo os bairros da cidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sinergia entre circuitos locais e tradicionais de catadores autônomos e a gestão pública dos resíduos é apontada como uma possível solução para os países em desenvolvimento como o Brasil. Aliar formal e informal, tradicional e moderno seria um trunfo para a melhoria da Gestão de Resíduos Sólidos. Nesse sentido, levantou-se na pesquisa dúvidas sobre o fortalecimento da valorização pós-consumo de resíduos sólidos em seus programas oficiais através da interação entre os catadores e o Estado. A experiência dos programas Lixo Útil/Câmbio Verde demonstra dois tipos de interação entre catadores e o poder público municipal. Os pontos fixos, base material do programa Câmbio Verde, atualmente denominado de Ponto Fixo de Troca, são voltados aos catadores autônomos e famílias carentes, visando o aproveitamento do trabalho de coleta informal. O Lixo Útil é uma parceria negociada formal entre catadores organizados e a prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Meio Ambiente. Conforme os resultados, embora os dois tipos contribuam para a formação de um processo de sinergia na valorização material pós-consumo de resíduos sólidos no município, o primeiro, voltado aos catadores autônomos e famílias carentes, sofre um enfraquecimento. O investimento recente no setor concentrou-se na reforma e nos novos
10 equipamentos para o galpão de triagem, entre 2010 e 2012, isto é, propiciando melhores condições de trabalho e aumentando a capacidade de beneficiamento primário pela associação de catadores. O outro investimento consistente foi no reforço da coleta seletiva, pelo lançamento da modalidade de pontos de entrega voluntária na área central da cidade (no denominado programa Tooreciclando), que segundo os levantamentos e as entrevistas realizados, é o programa que vem recebendo maior incentivo e investimentos por parte do poder público. Avançou-se, portanto, na interação formal, com a associação de catadores tendo assumido a quase totalidade das responsabilidades de coleta seletiva, a totalidade da administração dos pontos fixos e do galpão de triagem. A ACR tornou-se o parceiro central do município na valorização pós-consumo, enquanto o retrocesso foi constatado na ausência de aprimoramento e investimento na modalidade de coleta ponto fixo voltada à interação com catadores autônomos. Trata-se, portanto, de um modelo de valorização em Toledo que reflete as diretrizes da política nacional do setor, cada vez mais direcionada a favor do catador organizado, mas que apresenta problemas. O primeiro é a limitada inclusão dos catadores autônomos. A baixa atratividade da associação enfraquece diretamente o poder de negociação e de trabalho dos catadores. O segundo é a impossibilidade de se apropriar dos circuitos curtos e tradicionais da reciclagem informal e, com isso, não abrir um possível salto de eficiência quantitativa e qualitativa. O trunfo da apropriação do trabalho desses circuitos ainda não consegue ser utilizado no caso. Por fim, é preciso questionar o porquê não se têm aprimorado ospontosfixos de troca,se esta é a modalidade que fornece o material de melhor qualidade, contribuindo e valorizando assim o trabalho dos catadores autônomos. A modalidade dos contêineres (Tooreciclando), por outro lado, vem sofrendo críticas quanto os seus benefícios finais, pois apesar do aumento do volume coletado, não é acompanhado de uma melhoria qualitativa do material. O mau uso dessa modalidade tem acarretado graves problemas a
11 Associação de Catadores, já que todo material depositado nos contêineres é levado para o galpão de triagem da associação,gerando um grande volume de rejeitos. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Versão preliminar para consulta pública. Brasília, DF, Disponível em: < pdf> Acesso em: 17/11/2012..Lei n , de 2 de agosto de Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 ago Disponível em: < Acesso em: 16/11/2013. BOSI, A de P. A Organização capitalista do trabalho informal O caso dos catadores de recicláveis. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.23, n.67, p , CESCONETO, E. A. Política ambiental: uma gestão local de organização (Toledo PR). In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL, I,2003, Cascavel. Anais. Cascavel: [s.n.], 2003, s.p. CD-ROM. DAGNINO, R. S.; DAGNINO, R. P. Políticas para inclusão social de catadores demateriais recicláveis. Revista Pegada Eletrônica, Presidente Prudente, Vol.especial: o trabalho no lixo, p , jul GRIMBERG, Elisabeth. Coleta Seletiva com inclusão social: Fórum Lixo e Cidadania na cidade de São Paulo. Experiências e desafios. São Paulo. Instituto Pólis, NEVES, F de O. Gestão pública de resíduos sólidos urbanos: problemática e práticas de gestão no Oeste Paranaense. 266 p. Tese (Doutorado em Geografia). Curitiba, Universidade Federal do Paraná, SANTOS, M. L espace partagé. Les deux circuits de l économie urbaine des pays sous-développés. Paris: Editions M. Th. Génin - LibrariesTechniques, TOLEDO. Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Toledo PR. 2. Ed. Toledo, 2011.
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