ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS

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1 1.1-N 1891 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS ACÓRDÃO APELAÇÃO N /001 r Vara da Comarca de Cajazeiras RELATOR: Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos APELANTE: José Gonçalves Bezerra e Maria de Fátima Souza Gonçalves ADVOGADOS: João de Deus Quirino Filho APELADO: Banco do Brasil S/A ADVOGADOS: Mércia Carlos de Souza e outros APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE FIANÇA IMPROCEDÊNCIA CONTRATO DE FIANÇA PRESENÇA DE CLÁUSULA QUE IMPEDE O DIREITO DO FIADOR PEDIR A EXONERAÇÃO DO CONTRATO E QUE ESTIPULA A PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DO CONTRATO IMPOSSIBILIDADE ABUSIVIDADE MANIFESTA PROVIMENTO. É abusiva, por ser e.vtretnamente onerosa, a cláusula inserida em contrato de.fiança. 11(1 qual o fiador renuncia ao direito de pedir a exoneração do encargo, unta vez que tal disposição pode ensejar a sua vincula ção ad infinitum ao pacto firmado entre o _financiado e o financiador. Destarte, tem-se como correto o acórdão estadual que. afastando a cláusula que previa a prorrogação automática da fiança para alán do prazo original de vigência do contrato de crédito el71 contacorrente. exonerou o autor da garantia por valores tomados pela mutuária após findado o lapso original, sem que tivesse havido anuência expressa do garante nesse sentido. (REsp /RS. Rel. Ministro ALD1R PASSARINHO JUNIOR. QUARTA TURMA, julgado em 10/02/2009. Die 09/ ) identificados. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS os presentes autos acima ACORDA a Egrégia Terceira Càm a Cis 1 do Colenclo Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar proviment ao ape e. Esteve presente, pelo apelante, o Bel. João de Deus Quirino Filho. RELATÓRIO Trata-se de apelação cível interposta por José Gonçalves Bezerra e Maria de Fátima Souza Gonçalves contra a sentença (fls. 83/85) proferida pela MM. Juíza de Direito da 2' Vara da Comarca de Cajazeiras que. nos autos da ação ordinária de

2 exoneração de fiança movida em face do Banco do Brasil S/A. julgou improcedente o pedido de exoneração formulado pelos autores. Os apelantes, em seu apelo de fls. 96/112, alegam que: a) o contrato teria sido firmado por prazo determinado, razão pela qual entende -que o apelado agiu de máfé quando prorrogou o referido pacto sem a comunicação e anuência dos suplicantes: b) não seria válida a renúncia pelos autores ao direito de pleitear a exoneração da fiança: c) não tiveram ciência do inteiro teor do contrato. O apelado. embora intimado, não ofereceu contrarrazões. conforme reporta certidão de fl. 127v. 'A Procuradoria de Justiça não emitiu parecer meritório, por entender inexistir interesse público que justifique a intervenção ministerial. É o relatório. VOTO: Segundo a lição de Gustavo Tepedino, a [lança consiste no: 7.4 contrato pelo qual se estabelece um tipo de garantia pessoal. em que alguém (fiador) se obriga ao cumprimento de obrigação de terceiro (afiançado). se este faltar à sua prestação. Seu fimdamento está, na fidúcia. ou seja. na confiança depositada no fiador que, por meio da garantia fideju.ssória prestada. arcará com o adimplemento da obrigação se isto for necessárid:' (Código Civil Interpretado. editora Renovar p. 630) Compulsando os autos infere-se que os recorrentes/autores prestaram fiança em um contrato de abertura de crédito BB Giro Rápido -. o qual foi firmado em 08/10/2002, com duração de 01(um) ano (doc. de fls. 06/08). Sustentam os apelantes que o contrato foi estipulado por prazo determinado, razão péla qual entendem que foi abusiva a conduta do apelado ao ter prorrogado o contrato de fiança sem a comunicação e o consentimento dos fiadores. Inconformados, os promoventes ajuizaram a presente ação de exoneração de fiança, a qual foi julgada improcedente pela julgadora, sob o argumento de que seria válida a prorrogação automática do referido pacto. tendo em vista o fato dos fiadores terem renunciado expressamente o direito de postular a exoneração da fiança. Diante desse cenário, percebe-se que o cerne da questão litigiosa consiste em analisar se é válida a recusa acima mencionada e, consequentemente. se persiste a obrigação dos fiadores, com relação à garantia dada no contrato de Abertura de Crédito BB Giro Rápido (fls. 06/08), por prazo superior ao estipulado no contrato., tendo em vista a prorrogação automática deste sem a comunicação e anuência dos promoventes/fiadores. O fato de o contrato de fiai não traze ualquer tipo de benefício para a pessoa do fiador acaba por exigir que a i erpretação do contrato seja feita de modo restritivo, evitando o elastecimento das obrigaçi s do fiador sem a sua expressa concordância. Nesse sentido. destac a redação do art do Código Cívil de 1916 aplicável ao caso, ia verbis: "Art A fiança dar-se-a por escrito, e não admite interpretação extensiva.-

3 Desta feita, o legislador, ao estipular que a interpretação deve ser feita de forma restrita, quis colocar um limitador nos abusos que possam vir a ser praticados contra aqueles que venham a assumir. de forma gratuita, os riscos de garantir o cumprimento do negócio. No caso em tela, entendeu a juíza a qu'i; como válida a renúncia dos fiadores ao direito de postular a sua exoneração do contrato de fiiinça. Entretanto, em meu sentir, esse não é o melhor caminho a ser trilhado. É que a jurisprudência vem rejeitando a validade desse tipo de cláusula. Senão. veja-se: "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL CONTRATO DE FINANCIAMENTO BANCÁRIO RESPONSABILIDADE DOS FIADORES RENÚNCIA AO DIREITO DE EXONERAR-SE DA FIANÇA IMPOSSIBILIDADE. É pacifica a jurisprudência deste Tribunal no sentido de que o instituto da fiança não comporta interpretação extensiva, obedecendo, assim, disposição expressa do artigo do Código Civil anterior. Na fiança, o garante só pode ser responsabilizado pelos valores previstos no contrato a que se vinculou, sendo irrelevante, na hipótese, para se delimitar a duração da garantia, cláusula contratual em sentido diverso." Recurso especial ao qual se dá provimento. (REsp /SP, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA. julgado em 17/06/2004. DÁ 04/10/2004. p. 285) "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXONERAÇÃO DE FIANÇA. CONCESSÃO DE MORATÓRIA. RENÚNCIA EXPRESSA NO CONTRATO DO PREVISTO NO ART DO CC. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO.. O garante só pode ser responsabilizado pelos valores previstos no contrato a que se vinculou, sendo irrelevante, na hipótese, para se delimitar a duração da garantia. cláusula contratual em sentido diverso (REsp /SP, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/204)4. DJ 04110/2004 p. 285). Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp /MS, Rel. Ministro SIDNEI BENET'. TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2009. DJe 25106/2009) o qual dispunha: Nesse diapasão. infere-se que o disposto no art do CC de rr O.fiador poderá e.vonerar-se da fiança que tiver assinado sem. limitação de tempo. sempre que lhe convier. fiando. porém. obrigado por todos os eleitos da fiança. anteriores ao ato amigável. olia sentença que o emmerar. - Tal norma encerra noma de ordem pública, razão pela qual reputo abusiva a cláusula restritiva de direito presente no contrato de fiança celebrado entre o autor e a instituição financeira, já que a presença de tal disposição acaba por colocar o fiador em uma situação extremamente vulnerável, uma vez que poderia ficar ad iionituni vinculado ao contrato. No que toca à previsão de pr. ão automática do contrato de fiança, mesmo existindo cláusula prevendo essa orma de - ilvação, entendo que tal dispositivo revela-se abusivo, uma vez que, tal'.ém, acarreta encargo exagerado para os fiadores, os quais poderiam se ver comprometi os por novas obrigações para as quais não anuiram, não podendo, assim, avaliar a viabilidade e as condições do contrato que fora prorrogado. Nesse jaez, já se posicionou o STJ. Veja-se: et

4 -CIVIL E PROCESSUAL. FIANÇA DADA EM CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE. CLÁUSULA DE PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DA AVENÇA. GARANTIA. LIMITAÇÃO AO PRAZO ORIGINAL. CC ANTERIOR. ART EXEGESE. I. A norma do ao do Código Civil revogado é clara em exigir a formalidade na concessão da tiança e que não seja dada ao instituto interpretação extensiva. II. Destarte. tem-se como correto o acórdão estadual que. afastando a cláusula que previa a prorrogação automática da fiança para além do prazo original de vigência do contrato de crédito em conta-corrente. exotiel ou o autor da garantia por valores tomados pela mutuária após findado o lapso original, sem que tivesse havido anuência expressa do garante nesse sentido. III. Recurso especial não conhecido. - (REsp RS. Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR. QUARTA TURMA, julgado em 10/02/2009. Me 09/03/2009) Senão, confira-se: No mesmo sentindo, aponta a jurisprudência dos Tribunais Pátrios. "APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS - CONTRATO BANCÁRIO - ABERTURA DE CRÉDITO - PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DA FIANÇA - ABUSIVIDADE - NEGATIVAÇÃO ILÍCITA - DEVER DE INDENIZAR. - A disposição contratual que estende a fiança ao período da prorrogação do contrato. de forma automática, é abusiva, pois importa na imposição de desvantagem exagerada à fiadora (art. 51. CDC). - De tal ilícito decorre o dano moral reclamado, que independe de qualquer demonstração. notórios que são Os efeitos da restrição de crédito imposta a quem tem o nome negativado em banco de dados, destinado a prestar informações cadastrais no comércio em geral. - (Apelação Cível NI' /001. Rel. Des. Luiz Carlos Gomes da Mata. 13' Câmara Cível do TJMG, julgamento 13/05/2010, publicação 02/06/2010) Desta feita. mesmo existindo cláusula contratual prevendo a renovação automática de fiança, entendo necessária mi comunicação e o consentimento do autores para a validade da obrigação fidejussória para além do prazo originalmente estipulado. Destarte, considero que, mesmo existindo a previsão contratual em sentido contrário prevendo a possibilidade de renovação automática do contrato de fiança, entendo que tal previsão revela-se abusiva, já que extremamente onerosa para o fiador. Como o apelantes não foram comunicados a respeito da prorrogação do pacto, não tendo, consequentemente expressado a sua anuência, reputo como abusiva a referida cláusula. devendo ser considerada a exoneração dos autores a partir do vencimento do contrato original, o que ocorreu em 08/10/2003. Logo, os fiadores. portanto, se obrigam somente em relação ao pacto originái io do qual fizeram parte, não se estendendo o vínculo à nova relação jurídica firmada entre financiado e o financiador. Ante o exposto, dou provimento a rso de apelação para exonerar os autores da fiança prestada perante o ayelado, a p rtir do vencimento do contrato celebrado entre as partes. tendo em /ta a nuli ade das cláusulas que estipulavam a renúncia ao direito de exon ação e que a. riza a prorrogação automática do contrato. Condeno o promovi o ao pagamento de custas e honorários advocaticios, os quais fixo no importe de R$ 1.500,00 (um mil quinhentos reais), conforme inteligência do art. 20, 4 0. do CPC.

5 É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. Participaram do julgamento o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. o Exmo. Dr. Aluízio Bezerra Filho, Juiz convocado em substituição ao Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides e o Exmo. Des. Genésio. Gomes Pereira Filho. procurador de Justiça. Presente ao julgamento o Exmo. D. Doriel Veloso Gouveia, João Pessoa. 02 de ac, sto de 20 I 'tilo da Cunha Ramos esembargador

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