"DO REFEREE" AO ÁRBITRO DE FUTEBOL

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1 "DO REFEREE" AO ÁRBITRO DE FUTEBOL Viana Filho O juiz de futebol é um personagem ímpar no cenário esportivo. A sua presença é obrigatória (e imprescindível) em qualquer jogo. Até numa simples pelada a falta de um juiz atrapalha a brincadeira, pois ninguém confia nas decisões de várias pessoas nas marcações de faltas ou dúvidas nas jogadas de gols.mas, às vezes o juiz que serve para colocar ordem no jogo, contendo os ímpetos dos litigantes e aplicando as regras do esporte, pode se transformar num fator de desavença. Um bom juiz é aquele que passa despercebido durante o jogo é o que diz o jargão popular.assim, diferente do jogador, que faz tudo para se destacar no espetáculo, a sina do juiz de futebol é, quanto mais esquecido no jogo, melhor!. ELE SURGIU COM O FUTEBOL É opinião unânime dos pesquisadores que, nos primeiros jogos de futebol, a figura do árbitro já era importante.aqui mesmo em Aracaju, quando da primeira demonstração pública do futebol ocorrida em 1907 o juiz estava presente, comandando aquela exibição de um esporte ainda desconhecido do grande público.naquela tarde de 7 de setembro, dois grupos de craques formados cada um de oito elementos (todos militares do 26º Batalhão) fizeram todo o possível para agradar a platéia curiosa, chutando um balão de couro (as vezes as canelas dos adversa rios) e levantando muita poeira do improvisado campo da Praça Valadão.As quedas e trombadas se misturavam com chutes descalibrados em todas as direções. No meio daquela cena inédita estava o jovem arbitro Jaime Azevedo Villas Boas que residia em Salvador e já conhecia bastante as regras do futebol.ele arbitrou o jogo sozinho, sem o auxílio dos bandeirinhas. Assim mesmo deu conta do recado e tudo terminou em festa, apesar do resultado final do zero a zero. ERA DENOMINADO REFEREE Naqueles tempos do início da prática do futebol, os termos ingleses eram comuns no vocabulário do esporte bretão. Desta maneira o juiz era denominado referee e os bandeirinhas linesman. E devido às variedades de cores dos uniformes das equipes, o referee seguia rigidamente o costume vindo da Inglaterra: paletó curto, calção comprido, botinas e meióes, tudo de cor preta. Claro que, devido ao tórrido clima aqui dos trópicos, a imitação do paletó virou jaqueta e tempos depois,

2 camisas mesmo.ele usava apito (assim como hoje), mas não usava cronômetro, pois esta sofisticação demorou muito tempo para chegar até estas bandas. Assim, o tempo de jogo era marcado pelo cronometrista, que ficava sentado à beira do campo, indicando o início e o fim de cada tempo de jogo através de uma sineta.no futebol sergipano a figura do cronometrista perdurou até a metade da década de 1950.Às vezes esse dualismo de comando gerava confusão. Num jogo de campeonato (1929) o placar estava 2x2 quando o Sergipe marca o 3º gol ao apagar das luzes. Os jogadores comemoram, a torcida vibra, mas o gol não valeu pois o cronometrista chamou o árbitro e informou que havia tocado a sineta antes do gol e, portanto, marcando o final do jogo! Se ele não ouviu o sinal da sineta era apenas um problema de audição.. MUITA GENTE ARBITRANDO Quando, no ano passado a Federação Paulista tentou inovar a arbitragem do futebol colocando dois juizes e dois bandeirinhas, muita gente achou que isso era inédito no futebol brasileiro.não era. Pelo menos aqui em Aracaju, lá pelos ids de 1916, quando o futebol ainda engatinhava chegou-se a utilizar mais de três pessoas (juiz e dois bandeirinhas) para dirigir uma partida de futebol.quando do primeiro jogo entre Sergipe e Cotinguiba, em dezembro de 1916, no campo da Praça Pinheiro Machado, foram escaladas quatro pessoas para arbitra-lo: Frederico Silva e Armando Cravo eram os referee s de gols enquanto A Simões e messias Santana atuaram como linesman s. OS JUIZES ERAM CRAQUES Com raríssimas execuções, os juizes que trabalhavam nos jogos de futebol em Sergipe eram jogadores que atuavam nos clubes participantes. No primeiro campeonato oficial (1918) a Liga Desportiva escalou os seguintes referee s: Alfredo Roque (centro-avante do Sergipe), Luiz Farias (do Industrial), Carlito Neves (atacante do Cotinguiba), Maninho Cruz (centro-médio do Sergipe). Apenas Edgar Magalhães não era futebolista. Eles atuavam em jogos decisivos e não se tem notícias de nenhuma atitude desonesta de qualquer um deles..alias, esta prática foi utilizada durante muitos anos (até o início da década de 1950).Nos anos 30 e 40 dois presidentes de Federações (Alcebiads melo Villas Boas, da LSEA e Antônio Policiano de Vasconcelos da FSD) se arboravam de árbitros de futebol e, em algumas ocasiões importantes

3 entravam em campo como juizes.um dos casos mais curiosos acorreu no jogo interestadual quando o C.S. Sergipe goleou o Vitória da Bahia por 8x4 (março de 1942, no Adolpho Rollemberg ).O placar estava em 6x4 quando o juiz Odilon Antenor (da FSD) expulsou dois jogadores do Sergipe (Renato Vieira e Gineu) e dois do Vitória (Celine e Carmini). Os dirigentes rubros entraram em campo e exigiram as substituições dos jogadores expulsos. Depois de muita confusão e Bate-boca o juiz aceitou a proposta, mas extensiva aos jogadores visitantes. Os diretores do Sergipe, porém queriam, além disso, a expulsão de mais um jogador do Vitória.O juiz Odilon, sentindo-se sem autoridade, se dirigiu à tribuna do Adolpho e entregou o apito ao presidente da FSD, Antônio Polociano. Este, já acostumado, vestiu o uniforme de juiz e impôs sua dupla autoridade, levando o jogo até o seu final. AS VÁRIAS TENTATIVAS DE FORMAR QUADROS DE ÁRBITROS Desde 1924 que a crônica esportiva reclamava da falta de um quadro de árbitros na Liga Desportiva Sergipana. Como comentava o cronista do Correio de Aracaju :... pois o único juiz que atualmente tem a Liga é o Sportman Oscar Paes Colho (baiano, residente temporariamente em Aracaju). Muitas vezes têm os clubes lutando com serias dificuldades para pescarem nas arquibancadas, um moço que dirija a pugna e algumas vezes o escolhido vai para o campo e prejudica uma das equipes, unicamente por não ter perfeito conhecimento das regras do futebol... Somente dez anos depois é que a LSEA conseguiu, pela primeira vez, organizar um quadro de árbitros para o certame de os integrantes (a maioria ex-jogadores) eram: Pedro Lisboa, Antônio pereira, Louren;co Nunes, Mário Daltro Dantas, marcos Pimentel, Tenente Rivaldo Britto, Carlos Pina, Roger Torres, Antônio Menezes (Piturita) Tenente Milton Azevedo, Jefferson Silva, Autran Rodrigues e Zoroastro Rodrigues (Zozó).Todavia esse quadro de árbitros não foi renovado e tudo voltou como era antes, até que em 1940, o presidente da Liga, Alcebíades Villas Boas resolveu formar oficialmente novo quadro de árbitros da LSEA, formado por juizes indicados pelos clubes. Eram eles: Edson Franco (Palestra), Flávio Diniz (Vitória) Isaías Alves (Siqueira Campos), Edesio Diniz e Pedro Moreira (Paulistano) João Bezerra e Alfredo Correa (Sergipe) Lourenço Nunes (Cotinguiba) e Avaldo Figueiredo Porto (Vasco).Em 1943, na presidência de Antônio Policiano, a FSD reorganizava o seu quadro de árbitros sob o comando do tenente Antônio Carlos Nascimento seguindo o mesmo critério anterior.

4 A CRIAÇÃO DA ESCOLA DE ÁRBITROS Em 1948, ainda sob a presidência de Antônio Policiano, a FSD tentou acabar com alguns vícios de arbitragens, principalmente o de utilizar jogadores em atividades nos clubes. Para este objetivo convidou o jornalista esportivo e professor, José Amado nascimento afim de comandar o recém criado Departamento de Árbitros. Com o apoio irrestrito de Policiano e cheio de idéias e esperanças, José Amado, criava pela primeira vez em Sergipe uma Escola de Árbitros visando formar uma nova geração de juizes de futebol, quebrando o circulo vicioso reinante. A incompreensão de grupos de árbitros e a intenção de alguns em continuarem manobrando as arbitragens (eles recebiam cotas para isto) dificultaram sobremaneira a árdua missão de Amado nascimento que, em pouco menos de um ano, desistiu do cargo.mesmo, com pouco tempo de existência, a Escola de árbitros da FSD conseguia revelar o jovem João Carlos Smith, um dos melhores juizes do futebol sergipano durante décadas. FATOS CURIOSOS NO REINO DA ARBITRAGEM Alguns acontecimentos curiosos ficaram assinalados na história das arbitragens no futebol sergipano.no campoenato de 1933 aplicava-se a regra disciplinar nos jogos que punia o jogador com a suspensão (por cinco minutos) em caso de jogo violento. No jogo decisivo do certame daquele ano o juiz Antônio Policiano Vasconcelos aplicava este tipo de punição nos atletas Odon (Vasco) e Vange (Sergipe) no 1º tempo e Minervino (Sergipe) e Humberto (Vasco) no tempo final. Esta regra porém durou pouco tempo.em 1953, um leitor escreve uma carta ao Sergipe Jornal reclamando da falta de atenção da FSD em indicar juizes para jogos amistosos no interior. Citou então ocaso de um juiz escalado para o interestadual entre o Passagem e um time de Penedo, aonde o juiz teve de atuar com apenas um bandeirinha. O pobre coitado corria como um louco para assinalar os impedimentos dos atacantes dos dois times!ainda em 1953 ocorria o lamentável caso com o conceituado árbitro Barreto Mota, num jogo de campeonato em Própria (América x Pasagem) no dia 20 de setembro. Acuado pela torcida após o jogo, e na iminência de ser ferido, Barreto Mota (que era policial) sacou de uma arma e matou um torcedor.com escoriações generalizadas o juiz Barreto Mota foi internado no Hospital Militar.Abalado, ele passou alguns tempo afastado.em março de 1958, num jogo do certame daquele ano entre Confiança e Olímpico, no Estádio Sabino Ribeiro, o representante da FSD chamava os dois capitães para o sorteio do

5 arbitro daquele jogo, conforme o regulamento adotado.feito o bozó, o capitão Calango (do Olímpico) tirou o bilhetinho que indicava Adalberto Andrade como o juiz. Este, prontamente já se encaminhava com o apito na boca para o centro de campo, quando Calango, desconfiado, incontinente, pediu para ver o outro bilhete (que não foi tirado). E não foi pouca a sua surpresa quando abriu o dito estava já escrito o nome do arbitro: Adalberto Andrade!