Excelentíssimo(a) Juiz(a) do Trabalho da Vara do Trabalho de Porto Alegre, a quem couber por distribuição:
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- Wilson Angelim Lencastre
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1 Excelentíssimo(a) Juiz(a) do Trabalho da Vara do Trabalho de Porto Alegre, a quem couber por distribuição: O Ministério Público do Trabalho, pelo Procurador do Trabalho que assina a presente petição, lotado na Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região, sediada na Rua Ramiro Barcelos, 104, Bairro Floresta, em Porto Alegre, CEP , promove a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA contra Lynx Sul Vigilância e Segurança Ltda, inscrita no CNPJ sob número / , com endereço na Rua dos Maias, nº 114, Bairro Rubem Berta, CEP , nesta capital, pelos seguintes fatos e fundamentos. O Ministério Público do Trabalho recebeu denúncia contra a aqui ré no sentido de que a mesma estaria cometendo diversas irregularidades, dentre as quais não realizar a chamada reciclagem dos vigilantes. 1
2 A Lei 7102/83, em seu artigo 16, estipula os requisitos para o exercício da profissão de vigilante, um dos quais a aprovação em curso de formação específico. O artigo 17, a seu turno, estabelece que o exercício da profissão requer prévio registro no Departamento de Polícia Federal. O Departamento de Polícia Federal, no exercício da atribuição a ele reconhecida, editou a Portaria nº 387/ DG/DPF, de 28 de agosto de 2006, publicada NO D.O.U. nº 169, SEÇÃO 1, PG. 80, de 01 de setembro de A Portaria, que é o instrumento legal básico de regulamentação da atividade tem a seguinte previsão a respeito dos cursos para o exercício da profissão: Cursos de formação, extensão e reciclagem Art São cursos de formação, extensão e reciclagem: I curso de formação de vigilante (Anexo I); II curso de reciclagem da formação de vigilante (Anexo II); III curso de extensão em transporte de valores (Anexo III); IV curso de reciclagem em transporte de valores (Anexo IV); V curso de extensão em escolta armada (Anexo V); VI curso de reciclagem em escolta armada (Anexo VI); VII curso de extensão em segurança pessoal (Anexo VII); VIII - curso de reciclagem em segurança pessoal (Anexo VIII); (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) IX - curso de extensão em equipamentos não-letais I (Anexo IX); (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) X - curso de extensão em equipamentos não-letais II (Anexo X). (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) 1 Para a matrícula nos cursos de formação, reciclagem e extensão de vigilante, o candidato deverá preencher os requisitos previstos no art. 109, exceto o disposto no inciso IV, dispensado no caso dos cursos de formação. (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) 2 O curso de formação de vigilante será pré-requisito para os cursos de extensão e cada curso será pré-requisito para a reciclagem correspondente. (vigência a partir de , conforme Despacho nº 2
3 6047/06-DG/DPF) 3º A realização de extensão e reciclagem em transporte de valores, escolta armada ou segurança pessoal, implicará a reciclagem do curso de formação do vigilante. (vigência a partir de , conforme Despacho nº 6047/06-DG/DPF) 4º A freqüência e avaliação seguirão as regras estabelecidas em cada programa de curso constante nos anexos desta Portaria. (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) 5º O candidato aprovado fará jus ao certificado de conclusão do curso, que deverá ser registrado pela DELESP ou CV para ser considerado válido em todo o território nacional. (vigência a partir de , conforme Despacho nº 6047/06-DG/DPF) 6º O curso de formação habilitará o vigilante ao exercício da atividade de vigilância patrimonial e os cursos de extensão prepararão os candidatos para exercerem as atividades específicas de transporte de valores, escolta armada e segurança pessoal. (vigência a partir de , conforme Despacho nº 6047/06-DG/DPF) 7º Os cursos de formação, extensão e reciclagem são válidos por 02 (dois) anos, após o que os vigilantes deverão ser submetidos a curso de reciclagem, conforme a atividade exercida, às expensas do empregador. (vigência a partir de , conforme Despacho nº 6047/06-DG/DPF) 8º O curso de extensão em equipamentos não letais I é requisito para a utilização, pelo vigilante, dos equipamentos descritos no 10 do art. 70, bem como para a inscrição no curso de extensão em equipamentos não letais II. (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) 9º O curso de extensão em equipamentos não letais II é requisito para a utilização, pelo vigilante, dos equipamentos descritos no 11 do art. 70. (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) 10. A participação nos cursos de extensões em equipamentos não letais I e II não vale como início ou renovação da contagem de tempo de formação ou reciclagem do vigilante. (Texto alterado pela Portaria nº358/2009-dg/dpf) Diante das denúncias feitas, o MPT intimou a empresa para sobre elas se pronunciar. A empresa, ao se manifestar em petição de 05/11/2011 sobre 3
4 as denúncias formuladas, nada disse, no entanto, sobre a reciclagem dos vigilantes. Ela foi, então, intimada novamente para comprovar documentalmente a regularidade da reciclagem dos denunciantes. Novo silêncio resultou na instauração de inquérito civil (Portaria 656, de 19/04/2012), a despeito do arquivamento das denúncias em relação aos demais tópicos, como está explicado na própria Portaria. A empresa foi novamente intimada, na pessoa de seu procurador constituído nos autos do processo administrativo (Notificação 61216, de 09/07/2012), e, finalmente, de forma pessoal, em 11/10/2012 (Notificação 67781, de 27/09/2012). A empresa não apenas não se manifestou sobre a denúncia, como, evidentemente, não comprovou a regularidade no prazo de validade do curso de formação dos denunciantes, o que faz presumir verdadeira a alegação de que não está cumprindo com a obrigação legal de manter regular a validade dos cursos de formação e de reciclagem de seus empregados vigilantes. Ou seja: decorrido um ano da ciência da denúncia sobre a falta de reciclagem, a ré sequer se pronunciou sobre ela, apesar de insistentemente notificada pelo MPT. A conduta da empresa é grave pois coloca em risco não apenas a vida dos empregados que estão trabalhando sem se submeter à necessária reciclagem, ou seja, que estão em situação ilegal ao exercerem a profissão com a validade do curso de formação expirada, como também a da população em geral, que, sem o saber, depara-se diuturnamente com vigilantes trabalhando em situação ilegal. Cabe ressaltar que os cursos de formação e reciclagem possuem critérios técnicos bastante rigorosos, o que se percebe facilmente pela simples leitura dos anexos da já citada Portaria da Polícia Federal. Como a conduta da empresa atinge direitos tanto coletivos quanto difusos, compete ao Ministério Público do Trabalho promover a ação civil pública 4
5 para regularizar esta situação descrita. E não é só. Se, num ramo competitivo como o da ré, determinada empresa não observa fidedignamente a legislação trabalhista, terá custos menores quando comparados aos das empresas concorrentes que cumprem a lei trabalhista com rigor. Este comportamento acaba por induzir também essas últimas a descumprir a legislação, como forma de permanecer em atividade de forma competitiva. A consequência é previsível: a precarização alimenta a precarização, pois não é possível para os que cumprem a lei concorrer com os que não a cumprem, visto que cumpri-la tem um real e importante significado econômico ( custos, no jargão dos economistas). Não seria justo, por exemplo, conceder à ré o direito de não pagar o curso de reciclagem de seus vigilantes quando suas concorrentes devem fazê-lo, ou seja, todos devem suportar os mesmos custos. Além disso, o risco do negócio não pode ser transferido aos trabalhadores, que, eventualmente desligados sem que a empresa tenha cumprido com a obrigação legal de custear-lhes a reciclagem, terão que arcar com os custos do curso do próprio bolso, sob pena de ficarem excluídos do mercado de trabalho. A antecipação da tutela é necessária num tal contexto, e requerida porque, como se verá pela leitura dos pedidos formulados, nada se está a postular além do mero cumprimento da letra fria da lei. O eventual indeferimento da antecipação da tutela equivaleria à concessão de imunidade legal à ré, que poderia continuar a não cumprir a obrigação legal enquanto perdurasse a ação, cuja tramitação usualmente não é rápida. A propósito, lembre-se o alerta de Marinoni: A lentidão da justiça civil, ao contrário do que se pode supor, é do interesse de alguns. O procedimento ordinário, ao não admitir qualquer vestígio de executividade em seu seio, permite a manutenção do status quo ante do conflito de interesses por longo 5
6 período de tempo, o que não só muitas vezes interessa ao réu, como também pode colocar em risco o princípio da isonomia processual. As transformações sociais que podem ser trazidas pela decisão jurisdicional, por outro lado, não raro são obstadas pela demora do processo (Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1994, página 2). Existe prova inequívoca da situação ilegal descrita nesta ação, consistente na negativa da empresa em comprovar administrativamente o seu cumprimento, embora notificada reiteradamente a fazê-lo O intuito protelatório da empresa se revela pela inércia da mesma diante da fiscalização do Ministério Público do Trabalho, e, especialmente, pela absoluta inércia apresentada. E, além disso, existe o fundado receio de ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação, na medida em que a situação existente possibilita a continuidade de uma situação em que são colocadas em risco a integridade não apenas dos vigilantes, como da própria população, que fica sendo atendida por profissionais que não poderiam estar exercendo a profissão. Por fim, é importante ressaltar que o deferimento da antecipação de tutela não imporá à demandada nenhuma obrigação distinta e estranha ao mero cumprimento da lei. É fundamental ter em consideração que o Ministério Público do Trabalho não reclama a imposição de obrigações estranhas, requerendo, fundamentalmente, o cumprimento da letra fria da lei, como se verá pela leitura dos pedidos adiante formulados. Cumpre ressaltar que a concessão da antecipação da tutela sem a oitiva da parte contrária não viola quaisquer garantias constitucionais, em especial as do contraditório e da ampla defesa. Valemo-nos aqui da lição de Nelson Nery Junior: Há, contudo, limitação imanente à bilateralidade da audiência no processo civil, quando a natureza e finalidade do provimento jurisdicional almejado ensejarem a necessidade de concessão de medida liminar, inaudita altera pars, como é o caso da antecipação 6
7 da tutela de mérito (CPC 273), do provimento cautelar ou das liminares em ação possessória, mandado de segurança, ação popular, ação coletiva (art. 81, parágrafo único, CDC) e ação civil pública. Isto não quer significar, entretanto, violação do princípio constitucional, porquanto a parte terá oportunidade de ser ouvida, intervindo posteriormente no processo, inclusive com direito a recurso contra a medida liminar concedida sem sua participação. Aliás, a própria provisoriedade dessas medidas indica a possibilidade de sua modificação posterior, por interferência da manifestação da parte contrária, por exemplo. Essa limitação não fere o princípio da bilateralidade da audiência, dizíamos, porque ditada no interesse superior da justiça, dado que em certas ocasiões a ciência dos atos processuais à parte adversa e mesmo a demora na efetivação da medida solicitada poderiam resultar em ineficácia da atividade jurisdicional (Princípios do processo civil na constituição federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, página 135). Derradeiramente, cabe ressaltar que se a ré cumpre a lei (a despeito de se recusar a comprovar a regularidade quando notificada a fazêlo), a antecipação da tutela não lhe imporá quaisquer ônus. Diante de todo o exposto, o Ministério Público do Trabalho requer, inicialmente em antecipação dos efeitos da tutela (CPC, artigo 273), que a empresa ré seja imediatamente condenada nas seguintes obrigações, em todos os seus estabelecimentos no país: 1) submeter, às suas expensas, todos os seus empregados vigilantes à curso de reciclagem antes da expiração do prazo de validade do respectivo curso de formação, nos termos do artigo 110, 7º, da Portaria nº 387/ DG/DPF, de 28 de agosto de 2006; 2) manter regular a situação de todos os seus empregados vigilantes em relação à validade do respectivo curso de formação; 3) não despedir empregados vigilantes em relação aos quais não tenha sido observada a obrigação objeto dos pedidos precedentes, ou seja, vigilantes com curso de formação vencido; 4) comprovar documentalmente, nos autos, a regularidade do 7
8 curso de formação de todos os empregados vigilantes; tudo sob pena de incorrer nas seguintes multas ( astreintes ), reversíveis ao Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT (ou, sucessivamente, ao Fundo de Direitos Difusos FDD): quanto aos pedidos 1, 2 e 4, de R$ 2.000,00 (dois mil reais) por cada violação ao comando condenatório, por trabalhador e por item precedente em relação ao qual se anote o desrespeito à decisão judicial; quanto ao pedido 3, de R$ ,00 (dez mil reais), por vigilante despedido com o curso de formação vencido. Requer-se, ainda, que a ré seja condenada a entregar, mediante recibo, a todos os seus empregados, cópia da sentença proferida, a fim de que os trabalhadores possam noticiar situações de violação à decisão judicial, comprovando nos autos a aludida entrega no prazo de 30 dias após o trânsito em julgado, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) enquanto não comprovar a entrega a todos os seus empregados. Requer, ainda, que a ré seja citada para contestar a ação e, após regular instrução, que seja ela condenada em caráter definitivo nos pedidos antes formulados, confirmando-se assim a antecipação da tutela pretendida. Dá-se à causa o valor estimativo de R$ ,00 (trinta mil reais). Assinala-se que a destinação da multa ao FAT (e, sucessivamente, ao FDD) ajusta-se perfeitamente à previsão do artigo 13 da Lei 7.347/85, no caso de ação civil pública promovida na Justiça do Trabalho. Requer-se, por fim, que a Secretaria da Vara do Trabalho seja orientada a sempre observar a necessidade de intimação pessoal, mediante a remessa dos autos, dos membros do Ministério Público do Trabalho, em atenção ao artigo 18, II, h, da Lei Complementar 75/93 e ao artigo 236, 2º, do CPC; ao Provimento nº 4, de 30 de junho de 2000, da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho; e, finalmente, ao artigo 17, II, do Provimento nº 213/2001 da Corregedoria do TRT da 4ª Região. 8
9 Assinala-se que a presente é promovida nesta capital em respeito à nova reação da OJ 130, da SDI-2, do Tribunal Superior do Trabalho. Termos em que, respeitosamente, pede e espera deferimento. Porto Alegre, 10 de dezembro de Ivo Eugênio Marques Procurador do Trabalho Documentos anexos: Denúncias (folhas 02/07 dos autos do IC) Notificação 43652/2011 dirigida à empresa (folha 12 dos autos do IC) Manifestação da empresa sobre as denúncias, sem se referir à questão da reciclagem dos vigilante (folhas 13/19 dos autos do IC) Notificação 50820/2012, dirigida à empresa, na pessoa de seu procurador (folha 90 dos autos do IC) Portaria nº 656/2012, de instauração do Inquérito Civil (folhas 92/93 dos autos pertinentes) Notificação 61216/2012, dirigida à empresa na pessoa de seu procurador (folha 104 dos autos do IC) Notificação 67781/2012, entregue pessoalmente à empresa em 11/10/2012 9
autoridade consular brasileira competente, quando homologação de sentença estrangeira: (...) IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e
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