Lições do desastre da Samarco: Vulnerabilidades, Complexidade e Incertezas
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- Artur Pereira Azambuja
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1 Lições do desastre da Samarco: Vulnerabilidades, Complexidade e Incertezas Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
2 CARACTERÍSTICAS DOS DESASTRES
3 Transformação do cenário de risco atual em novo cenário após um desastre Provável ocorrência de um evento físico Ocorre um evento físico Condições físicas, sociais e sanitárias Causas Desastre Efeitos CENÁRIO DE RISCO ATUAL CENÁRIO DE DESASTRE NOVO CENÁRIO DE RISCO Adaptação de Naváez e col., 2009 Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
4 FORÇAS MOTRIZES GLOBAIS Modelo de desenvolvimento econômico e urbano Mudanças climáticas Governança frágil e baixa capacidade endógena para Redução Risco de Desastres Fonte: Adaptação de EIRD, 2009 FORÇAS MOTRIZES SUBJACENTES Governança local frágil Precário planejamento urbano Degradação ambiental Comunidades vulneráveis Precárias políticas de Redução Risco de Desastres e proteção social RISCOS INTENSIVOS - Agudos Maior concentração de populações vulneráveis e bens econômicos expostos à ameaças extremas RISCOS EXTENSIVOS - Crônicos Dispersos geograficamente e exposição da população e bens econômicos à ameaças de baixa ou moderada intensividade RISCOS COTIDIANOS Comunidades e moradias expostas à insegurança alimentar, doenças, criminalidade, acidentes, poluição e ausência de saneamento e água adequada POBREZA Pobreza de recursos econômicos e políticos, exclusão e discriminação com precário acesso a educação e oportunidades de acesso a bens IMPACTOS DOS DESASTRES Mortes, doenças, danos ambientais e perdas econômicas Danos as habitações, infraestrutura local e produção e acesso aos bens e serviços RESULTADOS DA POBREZA Impactos de curto e longo prazos sobre os rendimentos, consumo, bemestar e equidade Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
5 PRESSUPOSTOS Os desastres como fraturas expostas dos sistemas tecnológicos, permitindo vislumbrar um universo opaco e inacessível em situações normais, em que as falhas e anormalidades, acidentes e desastres de menor impacto são tornados invisíveis e transformadas em normalidades (Brian Wynne) Desastre da Samarco não constitui excepcionalidade, mas sim parte dos custos humanos, sociais e ambientais que este tipo de atividade vem provocando no mundo.
6 O DESASTRE COMO UM EVENTO COMPLEXO Resultam da confluência de múltiplos processos (produção, tecnologias, organização social, economia, meio físico-biológico, etc) e em diferentes níveis, do local ao global. Resultam de múltiplas interações não-lineares, mas que apresentam interdendência, que para simplificar denominamos de sociotécnicas e socioambientais
7 O SISTEMA SOCIOTÉCNICO DO DESASTRE
8 ENVOLVE DESDE PROCESSOS GLOBAIS E LOCAIS... Mercado global de minérios (commodities), pressões para aumento da produção e redução de custos (acionistas, lucros, dívidas, etc), processos de licenciamento ambiental (flexibilização), precarização do controle público em favor do auto-controle privado, desorganização dos trabalhadores nos locais de trabalho, redução de pessoal e precarização das condições de trabalho...
9 ... ATÉ SUA MATERIALIZAÇÃO NOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE RISCOS NOS LOCAIS DE TRABALHO... manutenção deficiente das estruturas de drenagem, ausência de monitoramento contínuo e controle durante construção e operação, crescimento das barragens sem adequados procedimentos de segurança, sobrecargas a partir de rejeitos de mineração, falta de regulamentação sobre os critérios de projetos específicos
10 O DESASTRE DA SAMARCO Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
11 EVENTO INICIAL 5 novembro de 2015 a Barragem de Rejeitos de Fundão, da mineradora Samarco (Vale e BHP) rompeu liberando ± 34 milhões de m 3 de lama, contendo rejeitos de mineração intensa destruição que se estenderam por 650 km maior desastre mundial em barragens de mineração no século XX (incertezas, danos humanos e ambientais de longo prazo, difícil gestão...)
12 ANTECEDENTES SAMARCO primeira Licença de Operação (LO) mudanças na estrutura da barragem do Fundão início do plano de expansão da empresa e mais modificações no projeto não previstas na estrutura da barragem alerta sobre um princípio de ruptura que apareceu após a modificação da estrutura.
13 ANTECEDENTES SAMARCO junho Samarco recebeu as Licenças Prévia e de Instalação (LP e LI, respectivamente) para ampliação da barragem de Fundão, que passaria da cota de 920m de altitude para 940m e posterior unificação com a barragem de Germano, que também estava sendo alteada. A LP e a LI foram aprovadas pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais
14 HIPÓTESES DE CAUSAS - entupimento do sistema de drenagem de líquido da barragem que impede infiltrações e erosões de dentro para fora da estrutura - existência de uma falha princípio de ruptura, devido ao aparecimento de uma trinca - aumento no ritmo da deposição de rejeitos. Entre 2013 e 2014, o ritmo de despejos de rejeitos cresceu 83% - tremor de terra (2.6 de magnitude) que ocorreu a 5 km da barragem do Fundão
15 RELATÓRIO POLÍCIA FEDERAL - monitoramento falho e falta de funcionários - lacunas na manutenção da estrutura - aumento da pressão interna não controlado - improvisações (falta de inspeções e avaliações periódicas de segurança) (Folha de São Paulo, 12 maio 2016)
16 O SISTEMA SOCIOAMBIENTAL DO DESASTRE
17 PROBLEMAS EXTENSIVOS Ampliam a complexidade e incertezas, pois os sistemas socioambientais não sendo artefatos tecnológicos, não podem ser projetados, manipulados e reduzidos dentro dos limites do conhecimento analítico existente.
18 Envolvem: PROBLEMAS EXTENSIVOS grande número e diversidade de espécies de seres vivos (além da variabilidade genética dentro das espécies), diferenças entre as composições químicas de solos, águas e atmosferas em ambientes específicos. processos sociais, econômicos, psicológicos e culturais e sociais de um modo que pode contribuir para agravar ou atenuar seus impactos.
19 escalas locais, regionais e globais simultaneamente para além dos riscos e danos de curto prazo possuem potencial de longo prazo acabam por se sobrepor aos riscos e danos que já existiam, transformando-os exigem decisões sob condições de urgência sem informações suficientes e muitas incertezas
20 Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
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23 Administrações municipais e populações dos municípios de Mariana, Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado (77 km e mais de 10 mil afetados) + 31 municípios em MG e 3 no ES (570 km e mais de 1 milhão de pessoas) Indios Krenak, pequenos agricultores, pescadores idosos, mulheres, crianças Danos intensos ao solo e cobertura vegetal, potencializando intensificação de processos de erosão e assoreamento
24 BARRA LONGA MARIANA, MG
25 Rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce Fitoplâncton, perifíton, e macrófitas aquáticas submersas Comunidade planctônica, invertebrados aquáticos, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos que dependem direta e indiretamente das águas dos rios Fauna e flora bentônicos Óxido de Ferro e Sílica (nos rejeitos), Alumínio, Arsênio, Cádmio, Cobre, Cromo, Manganês, Níquel, Chumbo e Mercúrio (estes dois últimos com níveis superiores ao limite da legislação de 165 e 1465 vezes)
26 Danos diretos à saúde 19 óbitos, concentrados em Mariana, sendo dois terços de trabalhadores terceirizados. Os outros óbitos envolveram crianças entre 5 e 7 anos e idosos entre 60 e 73 anos. Lesionados e feridos em Mariana (n=231) e Barra Longa (n=305) Impactos na saúde mental e psicosociais Aumento expressivo dos casos de doenças respiratórias, doenças de pele e diarreias
27 Danos indiretos à saúde Comprometimento dos serviços de provisão de alimentos e água potável; de regulação do clima (destruição de mais de mil hectares de cobertura vegetal) e dos ciclos das águas (contribuindo para enchentes nos períodos chuvosos), contribuindo para alteração ciclos de vetores e hospedeiros de doenças (Dengue, Chikungunya e Zika) Potencial de aumento de doenças crônicas no futuro
28 RECONHECER A COMPLEXIDADE E INCERTEZAS
29 A construção de médias, padronizações e agregações tem sido o modo dominante de se reduzir incertezas e o modo de se gerar conhecimentos. A constituição de modos hegemônicos de formação de especialistas, construção de conhecimentos e gestão dos riscos que oculta e sufoca as contradições e conflitos tem sido o modo dominante de se produzir e reproduzir as estruturas de poder político, econômico e social vigentes (quem e o que se proteger em detrimento do que e de quem)
30 Não podemos separar "o que se deseja conhecer acerca de um determinado problema do que se deseja fazer acerca desse mesmo - o que é proposto e realizado no desenvolvimento das políticas e estratégias de redução de riscos. O modo de se perceber a realidade e de se organizar os fatos a ela pertinentes tem implicações, embora nem sempre visíveis, tanto nas avaliações de riscos, como nos aspectos das políticas públicas e de justiça social: quem se deve proteger de determinados riscos, a que custo e deixando de lado que alternativas
31 OS RISCOS DE DESASTRES EM BARRAGENS NÃO SE LIMITAM AO CASO DA SAMARCO
32 RISCOS DE BARRAGENS NO BRASIL 662 barragens e cavas exauridas com barramento distribuídas pelo país - 80% classificadas como sendo de baixo risco de desastres (mesma classificação da barragem de Fundão) e apenas 5% como de alto risco
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34 Estratégia de solução de Problemas Ambientais Alto Interesses em Jogo nos Processos Decisórios Consultoria Profissional Ciência Pós-Normal Ciência Aplicada Baixo Sistemas de Incertezas Alto
35 Identificação de vulnerabilidades e riscos Reconstrução Gestão de riscos de desastres Redução de riscos de desastres Respostas aos desastres Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
36 AÇÕES PARA REDUÇÃO DO RISCOS DE DESASTRES Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
37 SITE NA INTERNET (dezembro de 2012) Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
38 PÁGINA NO FACEBOOK (agosto de 2013) Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
39 Obrigado e bom dia para todos Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde - FIOCRUZ mail: carlosmf@ensp.fiocruz.br site: facebook: Centro de Estudos e Pesquisas de Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) / FIOCRUZ / MS
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