Avaliação do nível de conhecimento de olericultores sobre defensivos agrícolas.

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1 LABINAS AM; GONDIM HG; SEGANTINI MB Avaliação do nível de conhecimento de olericultores sobre Avaliação do nível de conhecimento de olericultores sobre defensivos agrícolas. defensivos agrícolas Horticultura Brasileira 28: S524-S528. Avaliação do nível de conhecimento de olericultores sobre defensivos agrícolas. Adriana M. Labinas 1,2 ; Helio G.Gondim 1 ; Matheus B. Segantini 2 ; Celso C.Ribeiro 2 ; Thais M.D.Santiago 3 1 Universidade de Taubaté, Departamento de Ciências Agrárias, Estr. Dr. José Luiz Cembranelli, 5000, Taubaté SP, Cep.: , alabinas@uol.com.br; helioggondim@hotmail.com; 2 Faculdade Integral Cantareira, Rua Marcos Arruda, 729, Belenzinho, São Paulo SP, Cep , matheus.agro@hotmail.com, celsolabento@gmail.com ; 3 Associação Nacional de Defesa Vegetal ANDEF, Rua Cap. Antonio Rosa, 376, Jardim Paulistano, São Paulo SP, Cep , thaismdsantiago@gmail.com. RESUMO O objetivo desse trabalho foi transmitir aos horticultores, trabalhadores rurais, sendo eles proprietários ou funcionários, informações sobre saúde, segurança, uso correto e seguro dos defensivos agrícolas. Para a realização dos treinamentos recrutaram-se 127 olericultores, no município de Guapiara e Ribeirão Branco, mediante entrevistas realizadas com os trabalhadores por meio de questionários. Em seguida, iniciaram-se os treinamentos, que foram divididos em duas partes, sendo a primeira segurança e saúde, e a segunda, uso correto e seguro de defensivos agrícolas. De acordo com os dados obtidos, 73% dos proprietários nunca haviam participado de tal treinamento. Apenas 34% dos aplicadores de defensivos afirmaram conhecer o significado das faixas coloridas nos rótulos dos produtos, indicativas da toxicidade. Desse modo ficou evidente a carência de informações por parte dos olericultores e trabalhadores rurais da região estudada. Palavras-chave: agrotóxico, atividade agrícola, treinamento. ABSTRACT Evaluation about horticultural grower knowledge about pesticide use. The aim of this research was to inform workers that use pesticides about the correct way to use them, about safety procedures and how to keep healthy despite working with agrochemicals. So, to reach this objective, 127 workers from Guapiara and Ribeirão Branco cities were trained after have asked a list of questions aiming to know their real truth of working with pesticides. The training program was divided into two steps: 1º step, to train them about safety and health and, 2º step, safety and correct use of pesticides. The data observations allow to conclude that 73% of the land owners have never taken part of such a training. From workers data, it was observed that only 34% of them declared to know the meaning of the label colors in pesticide containers. In this context, became clear that training programs are welcome to improve the knowledge about pesticides use among rural workers. Keywords: agrochemicals, agricultural production, training. Muitas vezes, para a obtenção de boa produtividade na atividade agrícola, é indispensável a utilização de agrotóxicos para o controle de pragas, doenças ou plantas daninhas, que provocam redução da produtividade e danos na qualidade dos produtos agrícolas. Neste caso, devem-se tomar os devidos cuidados, tanto para comprar, transportar, armazenar como para aplicar esses produtos, visto que, quando mal manipulados, podem causar graves danos ao ambiente e ao ser humano. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 524

2 Os danos causados aos trabalhadores rurais podem, entre outros, ser as intoxicações com diferentes graus de severidade, constituindo-se um problema de saúde pública. Estudos realizados em Nova Friburgo, RJ, que 50% dos trabalhadores rurais informaram ter treinamento e costumavam ler os rótulos, porém, 73% não seguiam as informações ali contidas (Araújo et al, 2007). Em Minas Gerais, nas regiões produtoras de hortaliças, os agricultores recebem pouco preparo técnico para desenvolver suas atividades agrícolas. Na maioria das vezes, é o pai que lhes ensina o que aprendeu com o próprio pai ou com amigos e vizinhos, com isso a incorporação de práticas agronômicas tem encontrado resistência (Silva et al, 2005). MATERIAL E MÉTODOS Os treinamentos foram realizados nos municípios de Guapiara e Ribeirão Branco, ambos localizados no interior do Estado de São Paulo. Para tal, foram recrutados e entrevistados, através da aplicação de um questionário inicial, 127 trabalhadores rurais, sendo que, 70% (89) eram proprietários, e 30% (38) funcionários, no entanto, todos realizavam aplicações de defensivos agrícolas. O questionário inicial foi aplicado aos trabalhadores rurais por dois graduandos do curso de Agronomia, que receberam treinamento prévio e um técnico da Casa da Agricultura de Guapiara e Ribeirão Branco, que acompanhavam os estagiários até as propriedades, em suas respectivas cidades. O questionário buscou levantar dados como: faixa etária, nível de escolaridade e grau de instrução e o conhecimento sobre o uso de defensivos agrícolas por parte trabalhadores rurais. O trabalho de campo foi realizado em duas semanas, no período de safra das principais culturas da região (vagem, milho, tomate, ameixa, pêssego e repolho), entre os meses de dezembro (2008) e janeiro (2009). Após o término das entrevistas, os questionários foram revisados e digitados em planilhas do Microsoft Office Excel, gerando-se um banco de dados. De posse dos dados, estabeleceram-se os tópicos em que os trabalhadores rurais mais necessitavam de treinamento. Assim, iniciaram-se os treinamentos, sendo eles realizados em propriedades rurais cedidas pelos produtores, ou espaços públicos cedidos pela prefeitura, como por exemplo, escola e Casa da Agricultura. Os treinamentos consistiam de aulas teóricas e práticas sobre saúde e segurança do aplicador rural, e uso correto e seguro de defensivos agrícolas, buscando-se atender a NR-31. Para as aulas utilizavam-se recursos audiovisuais e materiais, preferencialmente, do dia-a-dia do trabalhador rural, como por exemplo: EPI, embalagens de agrotóxicos (para simulação da tríplice lavagem), pigmento fosforescente para demonstrar os riscos e o padrão de deposição de agrotóxicos no corpo do aplicador. No total, participaram dos treinamentos 156 pessoas. RESULTADOS E DISCUSSÃo Analisando-se os dados obtidos, constatou-se que a idade média dos proprietários de Guapiara e Ribeirão Branco era de 39 anos, o número médio de filhos era de 1,8 e que, 100% eram alfabetizados, sendo que desses, 63% possuíam primeiro grau, 35% segundo Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 525

3 grau e 2% ensino superior. Outro dado analisado foi à área média plantada das principais culturas, tendo como resultado a predominância da vagem, seguida por milho e depois, pelo tomate (Tabela 1). O número médio de aplicadores por propriedade foi de 1,8 e em 100% das propriedades visitadas utilizavam-se de agrotóxicos predominantemente o glifosato (Figura 1). Quanto a receber informações sobre o descarte das embalagens vazias de agrotóxicos, 72% dos proprietários afirmaram receber informações e 28% afirmaram não receber informação alguma. Dos que recebiam, apenas 6% eram orientados por Eng. Agrônomo, os demais, 72% por vendedores das revendas, 3% por amigos e 19% por outros. Quando questionados a respeito da tríplice lavagem, 83% disseram saber o que ela significava, sendo que 90% desses costumavam praticá-la em suas propriedades Com relação ao EPI, 82% responderam que tinham o equipamento à disposição e 18% disseram não tê-lo na propriedade. Perguntados se já haviam participado de algum curso sobre saúde e segurança do trabalhador rural, e o uso correto e seguro de defensivos agrícolas apenas 27% responderam que sim, 73% nunca haviam participado de tais cursos, no entanto, 98% disseram ter interesse em receber tais informações. Os 2% restantes disseram que não se interessariam em receber este tipo de treinamento, porém, não revelaram o motivo. Ao analisar os dados obtidos por meio dos questionários respondidos pelos aplicadores, constatou-se que 45% eram casados e 55% solteiros. A idade média era de 28 anos e que 100% eram alfabetizados. Destes, 82% possuíam o primeiro grau, porém, nem todos completo, e 18% o segundo grau, também, nem todos completo. Esses dados concordam com aqueles relatados por Soares et al. (2002) que disseram que no Brasil, o nível de escolaridade do trabalhador rural é, em média, o Ensino Fundamental incompleto. Com relação ao conhecimento do significado das faixas coloridas nos rótulos dos produtos, 34% dos funcionários entrevistados afirmaram saber o significado, sendo que 100% destes responderam ser a de coloração vermelha a mais perigosa; o restante, 66%, disseram não saber o significado das cores nos rótulos dos produtos. Quando perguntados se liam o rótulo e a bula, 61% disseram que sim, e 39% que não. Dos que liam 26% buscavam informações sobre uso correto e seguro. Resultados semelhantes foram encontrados por Castelo-Branco (2003). Em relação à utilização do EPI, 100% dos funcionários disseram usar, no entanto, em momentos diferentes, isto é, 55% usavam somente durante a aplicação e 45% desde o preparo da calda até o final da aplicação (Tabela 2). Assim, os dados obtidos revelam um certo desconhecimento dos trabalhadores rurais em relação aos cuidados que devem ser tomados para se trabalhar com defensivos agrícolas, principalmente, no momento do preparo da calda, quando o produto encontra-se envasado e concentrado; neste caso, uma simples gota do produto pode representar danos à saúde do trabalhador rural. Perguntados sobre o que seria tríplice lavagem, 34% responderam saber o seu significado e 66% disse não saber o que era. Quando fizeram uma auto-avaliação de suas condições de trabalho, 53% respondeu que as condições de trabalho seriam média, 47% respondeu que seriam e 0% respondeu que seriam ótimas ou ruins (Tabela 3). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 526

4 Apesar de algumas dificuldades encontradas ao longo da realização desse trabalho, pode-se observar que há necessidade da realização de treinamentos para os trabalhadores rurais que manipulam defensivos agrícolas. Quanto maior o grau de conhecimento a respeito das variáveis que envolvem a atividade com agrotóxicos, maior a segurança, melhor a saúde e maior a qualidade de vida nos sistemas produtivos. REFERÊNCIAS ARAÚJO AJ; LIMA JS; MOREIRA JC; JACOB SC; SOARES MO; MONTEIRO MCM; AMARAL AM; KUBOTA A; MEYER A; COSENZA CAN; NEVES C; MARKOWITZ S Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos a saúde: estudo transversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo-RJ. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. 12(1): CASTELO-BRANCO, M Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal. Horticultura Brasileira, Brasília. 21(3): SILVA JM; NOVATO-SILVA E; FARIA HP; PINHEIRO TMM Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador rural. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. 10(4): SOARES MO; ALVES SR; MOURA CM; CURY R Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. 7(2): Tabela 1. Área média plantada com as principais culturas nos municípios de Guapiara e Ribeirão Branco. Average área harvestd with the main crops in Guapiara and Ribeirão Branco County. UNITAU, dezembro de Cultura Área planta (ha) Tomate 9,7 Vagem 12,0 Milho 10,5 Repolho 2,5 Pêssego 2,5 Ameixa 7 Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 527

5 Tabela 2. Utilização e momento de utilização do EPI por aplicadores de defensivos nos municípios de Guapiara e Ribeirão Branco. Usage and EPI time of usage by pesticide workers in Guapiara and Ribeirão Branco County. UNITAU, dezembro de Usa EPI Sim 100% Não 0% Em que mometo Desde o preparo da calda até o final da aplicação 45% Tabela 3. Auto-avaliação das condições de trabalho por aplicadores de defensivos nos municípios de Guapiara e Ribeirão Branco. Self-evaluation of pesticide workers condition in Guapiara and Ribeirão Branco region. UNITAU, dezembro de Condições de trabalho Ótima 0% Boa 47% Média 53% Ruim 0% DEFENSIVOS AGRÍCOLAS MAIS UTILIZADOS 33% 18% 5% 5% 5% 7% 16% 11% Cobre Fersol Reconil Gramoxone Glifosato Daconil Manzate Tamaron Roundup Figura 1. Principais produtos utilizados nos municípios de Guapiara e Ribeirão Branco. Main pesticide used in Guapiara and Ribeirão Branco County. UNITAU, dezembro de Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 528