EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS: AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS OBSTÁCULOS AO COMBATE DA HOMOFOBIA. Resumo:
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1 EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS: AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS OBSTÁCULOS AO COMBATE DA HOMOFOBIA. Resumo: Renata Queiroz Maranhão FACEDI\/UECE Em Itapipoca CE, todas as escolas públicas aderiram ao Programa Saúde nas Escolas PSE e estão desenvolvendo trabalhos sistematizados em educação sexual, parte integrante no programa governamental. A presente pesquisa tem por objetivo conhecer como está sendo feito este trabalho visando compreender quais temas estão sendo tratados e os modos como isso está sendo feito. De modo mais específico, procura identificar se nestas ações estão sendo desenvolvidas práticas de combate à homofobia. Para tanto, foi elaborado um questionário para ser aplicado a gestores e professores da rede pública de ensino com vistas a reconhecer quais temas e métodos estão sendo tratados na educação sexual e se há ações no sentido do combate à homofobia. Também intenta saber onde professores buscam (in)formações para realizar tais atividades. Embora a pesquisa pretenda cobrir todo o universo das escolas atuantes, até agora apenas uma escola foi pesquisada. Nela, 5 professores e 3 gestores foram entrevistados. As conclusões provisórias apontam para a existência de uma educação sexual voltada ao combate de DSTs/AIDS e da gravidez precoce, em conformidade com o que determinam documentos oficiais tais como indicados dentro dos PCN e dos documentos provenientes do PSE. Em relação ao combate de práticas homofóbicas, pode ser percebida a total ausência de sistematicidade sobre a matéria, ficando a cargo do professor a decisão sobre a existência do debate e os modos como proceder. Na escola pesquisada, foi possível identificar a ausência de tal ação. Interfere nesta lacuna a inexistência de espaços formativos para o professor, que não se sente capaz de abordar o tema. Palavras Chave: Formação docente, Educação sexual, Combate à homofobia. 1. Introduzindo e delimitando aspectos metodológicos da pesquisa. O Governo Federal do Brasil tem realizado ações para promoção da educação sexual nas escolas. Em 1998, cria os PCN de orientação sexual, no volume destinado aos temas transversais. Aqui é proposto voltar nossa atenção no sentido de favorecer a redução dos casos de doenças sexualmente transmissíveis DSTs (em especial a AIDS) e da gravidez precoce. Também propõe, no esteio dos estudos de gênero, a necessidade de que pensemos o modo como os indivíduos e grupos humanos se subjetivam a partir do que consideramos sobre que é ser homen(s) e mulher(es). A segunda ação do poder público pode ser percebida, em 2007, com a criação do PSE Programa Saúde nas Escolas. Tal programa, formado a partir da parceria entre 02001
2 2 os Ministérios da Educação e da Saúde, tem por objetivo avaliar o estado de saúde nutricional, auditiva, bucal e oftalmológica dos alunos da rede básica ao mesmo tempo em que intenta fornecer educação para uma alimentação e hábitos de vida saudável, para a promoção de uma cultura de paz e, nos mesmos moldes dos PCN, orienta ações no sentido de fomentar reflexões sobre gênero. O programa provê às escolas com recursos técnicos e financeiros para garantir a consecução de seus objetivos. Em Itapipoca CE, todas as escolas da rede estadual aderiram ao PSE e têm realizado práticas de educação sexual. É com vistas a compreender o que as escolas têm feito para implementar a educação sexual nas escolas que a presente pesquisa tem se desenvolvido. Mais especificamente, ela procura saber como se estas práticas e se nestas ações há atividades no sentido de combater atitudes homofóbicas. Para realizar tal analise foi elaborado um questionário e aplicado na presença do pesquisador a professores e gestores escolares com vistas a identificar aspectos relacionados a duas direções: 1. Se há práticas de orientação sexual nas escolas e, caso haja: Quais temas são trabalhados por ela? Que instrumentos e metodologias são utilizados. Onde o professor busca formação para desenvolver tal prática? Neste trabalho há proposta sistematizada de combate á homofobia?. 2. Possíveis práticas (mesmo assistemáticas) de combate à homofobia. Caso haja, procura se investigar : O que professor pensa sobre homossexualidade? Se ele percebe a existência de homofobia no cotidiano do espaço escolar? De que modo lidam com possíveis eventos homofóbicos? Onde o professor busca formação para desenvolver tal prática? Embora a pesquisa pretenda cobrir todo o universo de escolas do ensino médio que aderiram ao PSE, até este momento apenas uma escola foi investigada. 2. Breve discussão teórica A educação sexual nas escolas brasileiras não é recente. Surge nas décadas de 1920 e 1930 quando o que se compreendia como desvio sexual deixou de ser crime e passou a ser compreendido como doença. A escola foi eleita lugar privilegiado para a realização de trabalhos preventivos a tais comportamentos então considerados doentios. Em 1968 surge um projeto de lei que propõe a obrigatoriedade da educação sexual nas escolas. Porém, dois anos depois, em 1970, tal proposta fracassa devido a um 02002
3 3 pronunciamento contrário ao projeto, feito pela Comissão Nacional de Moral e Civismo. Em 1976 a posição oficial do estado brasileiro foi a de determinar que as questões sobre educação sexual seriam de domínio familiar e as escolas poderiam determinar se interviriam nesta direção e como o fariam A década de 80 foi marcada por intensa discussão sobre o papel das escolas na educação sexual dos jovens. (Altmann, 2001). Embora as polêmicas em torno da educação sexual ainda hoje sejam vivas, não é possível afirmar que o que assistimos contemporaneamente é variação do mesmo tom. Se antes a discussão se dava em torno da suposta estimulação do ato sexual precoce, hoje o tema não é mais o mesmo. Isso pode ficar claro quando, em 1993, após audiência a pessoas em 10 estados brasileiros, o instituto DataFolha conclui que 86% dos entrevistados creem que a educação sexual deveria integrar o currículo escolar (cf. Brasil, 1998). Tal dados serviu para fomentar a produção dos PCN em orientação sexual, parte integrante do volume destinado aos temas transversais. Sabemos que, em torno do ano de 2010 O governo federal brasileiro intentou realizar praticas de combate à homofobia nas escolas, com a produção de um material que veio a ser conhecido como kit gay. Porém, deputados ligados à Igreja Cristã repetiram (ainda que de modo diferente) a mesma fórmula que barrou a educação sexual na década de 1970: afirmou se que o kit gay ensinaria crianças e jovens a serem homossexuais. A comoção social a tais discursos gerou um efeito que não tardou. A suspensão da distribuição do material deixou uma lacuna difícil de ser trabalhada. Nos textos constantes nos PCN e nos PSE, embora se fale de gênero, em nenhum momento há qualquer menção ao universo LGBTT (lésbicas, gays, travestis e transexuais). Não há, nesses textos qualquer palavra, proposição de atividades, ou discussão que tenha referência direta a este grupo. Se Louro (1999) tiver razão ao anunciar que as escolas são espaços construtivos de sexualidades heteronormativas (que tomam a heterossexualidade como padrão normal e a ser seguido e conquistado) a supressão de tais assuntos não pode ser ignorada. Conforme a UNESCO (2013), a homofobia escolar contribui para o absenteísmo e insegurança do aluno levando à evasão escolar de gays e lésbicas. Ora, se os documentos citados são referências seguras ao trabalho do professor para práticas de orientação sexual, a ausência de temas em relação a sexualidades homoeróticas se constitui em obstáculo a realização do combate a homofobia. É possível crer que os modos como homens e mulheres pertencentes ao universo LGBTT 02003
4 4 vivenciam sua sexualidade e os preconceitos engendrados nas relações que estabelecem consigo mesmos e com outros não entrem na pauta da educação sexual escolar, ao menos de modo sistematizado. Neste sentido, é crível que tal ausência contribua para a perpetuação de atitudes de homofobia não apenas no ambiente escolar, mais também, por extensão, na sociedade como um todo. Tais hipóteses parecerem ser confirmadas nos dados coletados na escola pesquisada. De modo resumido, os dados serão apresentados a seguir. 3. Resultados parciais Os dados coletados na escola pesquisada apontam para a existência de uma educação sexual sistemática (embora um dos professores não reconheça a sua ocorrência). Os temas que estão sendo trabalhados referem se, em sua maioria, a informação sobre métodos contraceptivos, etiologia e sintomatologia das DSTs. Os métodos utilizados são: realizações de palestras sobre o tema, mostra de vídeos e discussões coletivas. Também é procurado favorecer o protagonismo juvenil (orientação clara do PSE), quando tais assuntos podem ser tratados pelos em especial pela utilização da rádio escolar. Também podem discentes e docentes se encarregar de apresentar trabalhos dobre os temas citados. Quando os professores foram indagados sobre serem capazes de realizar trabalhos em orientação sexual, estes afirmaram que sim. E disseram buscar informações em textos e revistas por conta própria, dado a ausência total de discussão sobre o tema no espaço formativo da universidade. Porém, quando a pergunta foi refeita e direcionada a consideração sobre se estavam aptos a trabalhar com questões referentes ao universo LGBTT, os professores disse que não estarem preparados para realizar este tipo de educação sexual e apenas um professor disse que, mesmo não preparado, já havia discutido o tema uma única vez, de modo informal, na sala de aula. Todos afirmaram carecer de apoio técnico e pedagógico para lidar com o assunto e a maior parte deles diz que isto deveria ser ordenado pelo poder público, com apoio de psicólogos e assistentes sociais. Um dos gestores mencionou a dificuldade de superar sua educação familiar (que primou pela homofobia) para discutir, de outro modo, questões referentes à homossexualidade
5 5 Ressalta se que, embora todos os entrevistados tenham afirmado não possuir preconceito contra homossexuais, seus discursos revelam ideias que associam as práticas homossexuais ao pecado e a algo que contraria o que desejam para suas vidas. Nenhum professor reconhece a existência de homofobia no espaço escolar, embora afirmem que, comumente, alunos brincam com outros, a partir de apelidos jocosos. Em sua totalidade, os entrevistados afirmaram que isto não pode ser considerado um problema, não devendo ser alvo de atenção. 4. (In)Conclusões provisórias. Ao que tudo indica, ao menos na escola pesquisada, a educação voltada ao combate à homofobia se faz de modo intuitivo e assistemático. Ficando à mercê da vontade do professor (e poucos sentem vontade de trabalhar com o tema), ela praticamente inexiste. Contribui para tal deficiência a ausência de formação sistemática sobre o assunto e a dificuldade que professores sentem de superar seus próprios preconceitos, que são sequer bem reconhecidos. O não reconhecimento de atitudes homofóbicas entre alunos, a naturalização das relações de sociabilidade baseadas no preconceito sexual nos dá indícios de que a escola pesquisada não consegue lidar claramente com a homofobia, contribuindo para a sua perpetuação no espaço escolar e social como um todo. Recomenda se a criação de espaços formativos multidisciplinar adequados a superação de tais dificuldades. 5. Referências ALTMANN, Helena. Orientação sexual nos Parâmetros Curriculares Nacionais. In Revista Estudos Feministas, vol. 9, nº 2, novembro de 2001, pp BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiroe quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MECSEF, BRASIL. Programa Saúde nas escolas. Disponível em: nas escolas&itemid=817, acessado em 30/04/2014. LOURO, Guacira. Pedagogias da sexualidade. In:. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999 UNESCO. Resposta do Setor de Educação ao bullying homofóbico. Brasília,
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