Memorias Convención Internacional de Salud Pública. Cuba Salud La Habana 3-7 de diciembre de 2012 ISBN
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- Helena Brezinski Coradelli
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1 ATENÇÃO HUMANIZADA ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL UMA EXPERIÊNCIA NO INSTITUTO DA MULHER DONA LINDU NO AMAZONAS Gisele Cristine Barros Batáglia ¹ Maria Gracimar Oliveira Fecury da Gama ² Sandra Cavalcante Silva ³ INTRODUÇÃO: A violência sexual contra a mulher é referida de diversas formas desde a década de 50. Designada como violência intrafamiliar na metade do século XX, vinte anos depois passa a ser referida como violência contra a mulher. Nos anos 80, é denominada como violência doméstica e, na década de 90, os estudos passam a tratar essas relações de poder, em que a mulher em qualquer faixa etária é submetida e subjugada, como violência de gênero. Na Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, o Ministério da Saúde caracteriza a violência sexual como um fenômeno de conceituação complexa, polissêmica e controversa. Entretando, assume-se que ela é representada por ações humanas realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, numa dinâmica de relações, ocasionando danos físicos, emocionais, morais e espirituais a outren. No Brasil a violência sexual constitui um sério problema de Saúde Pública por ser uma das principais causas de morbidade e mortalidade feminina. A violência baseada em questões de gênero é também uma violação dos direitos humanos. Acomete mulheres de todas as idades, de diferentes níveis econômicos e sociais, em espaço público ou privado e em qualquer fase de sua vida.
2 Por meio da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, a Área Técnica de Saúde da Mulher tem como objetivo aumentar o número de serviços de atenção à violência em Estados e Municípios, apoiando-se na Organização de Redes Integradas, que devem se constituir em ações voltadas à população. Essa demanda pleiteada por Estados e Municipios reforça a necessidade de construção de estratégias de organização da gestão de redes e serviços, no sentido de ofertar ações eficientes de acordo com as necessidades apresentadas. O Governo do Amazonas realiza anualmente, a Semana Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, e o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, eventos estes realizados através de uma passeata de conscientização que reunem aproximadamente mais de 20 mil pessoas. A Prefeitura de Manaus e o Governo do Estado, mantêm estruturas organizadas para denúncias. O município oferece ainda o atendimento clínico especializado, através do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) que funcionam em 33 municípios. A rede de serviços do Governo Estadual é composta pela Delegacia Especializada em Proteção de Crianças e Adolescentes (DEPCA), Serviço de Apoio às Vítimas de Violência Sexual (Savas), Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além dos projetos Ame a Vida, Jovem Cidadão e Criança Cidadã, que atende crianças de rua. Em 2011, o Estado do Amazonas registrou denúncias por meio do disque local 181. O relato das novas ocorrências cresceu 59% na comparação com as denúncias feitas em Entre os agressores no ranking do Estado do Amazonas estão em primeiro lugar os padrastos, seguidos do pai, vizinho e tio, gerando conflito familiar e negligência. Nos serviços de saúde, a mulher violentada sexualmente necessita de acolhimento, fator fundamental para a humanização da assistência à saúde é essencial
3 para que se estabeleça um relacionamento de forma adequada entre o profissional e a cliente. O Instituto da Mulher Dona Lindu, desde julho de 2010, é um dos serviços de referência do Estado do Amazonas, Especializado a prestar Assistência nos casos de Violência Sexual, através de uma equipe do SAVVIS Serviço de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual. Essa Unidade dispõe de equipe multiprofissional treinada para assistir a mulher vítima de violência Sexual, com normas de atendimento que visa prevenir a gravidez no caso de estupro, as DST/HIV, e promover a recuperação física, psicológica e social da mulher. A equipe coordenadora do SAVVIS capacitou vários funcionários dos diversos setores da unidade, através de cursos in loco e palestras, com a finalidade de treinar os profissionais para este atendimento (enfermeiros, assistente social, psicólogos, bioquimicos, técnicos de enfermagem, recepcionistas,, entre outros). OBJETIVO GERAL: Relatar a Assistência prestada às Vítimas de Violência Sexual, pela equipe multidisciplinar do SAVVIS do Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, no Estado do Amazonas, bem como os resultados de atendimentos obtidos no período de julho de 2010 a julho de METODOLOGIA: Os enfermeiros, por estarem 24 horas dentro da instituição, são considerados os profissionais adequados para realizar o acolhimento, elemento importante para a qualidade e humanização da atenção. Por acolher entenda-se: posturas e atitudes dos profissionais de saúde, que garantam credibilidade e consideração à situação de violência. A humanização dos serviços demanda um ambiente acolhedor e de respeito à diversidade, livre de quaisquer julgamentos morais. Isso pressupõe receber e escutar as mulheres e os adolescentes, com respeito e solidariedade, buscando-se formas de compreender suas demandas e expectativas.
4 No Instituto da Mulher Dona Lindu são realizados treinamentos e palestras para que os profissionais da equipe multidisciplinar adquiram conhecimento sobre os aspectos assistenciais, psicológicos e legais que envolvem a violência sexual, de forma a sensibilizar, e capacitar seus membros para acolher, oferecer conforto e seguranca à mulher, a criança e adolescentes, ajudando-as a enfrentar os conflitos e os problemas inerentes à situação vivida. O atendimento à vítima de violência sexual é considerado prioritário. Não há impedimento legal ou ético para que o médico (a), ou outro profissional de saúde, preste assistência necessária, incluindo-se o exame ginecológico e a prescrição de medidas profiláticas, tratamento e reabilitação (Artigo 13, ᶊ 2 do Código Penal Brasileiro). Etapas do atendimento no Instituto da Mulher Dona Lindu: 1. Nos casos agudos (até 72 horas após a violência sexual) é importante: - acolhimento e intervenção de crise; - pílula de emergência; -prevenção das principais DST`s/HIV; - coleta de secrecao vaginal e/ou anal ou oral para exame de DNA; - Exames laboratoriais. 2. Nos casos crônicos (a partir do 6º dia após a ocorrência de violência sexual, ou que já vem acontecendo há muito tempo ), é importante: - acolhimento; - exame físico e laboratorial para diagnosticar e tratar possíveis doenças contraídas do agressor; - avaliação e intervenção pesicológica para minimizar possíveis sequelas. OBS: todos os casos devem ser encaminhados para acompanhamento ambulatorial pelo periodo de 6 meses, a partir da data da última violência sexual sofrida.
5 3. A notificação dos casos de violência para a Vigilância Epidemiológica e para o Conselho Tutelar, se crianca e adolescente, é obrigatória. 4.Interrupção legal da gestação decorrente de estupro (Aborto Legal): é um direito da mulher e adolescentes serem informadas da possibilidade de interrupção da gravidez. É permitido o abortamento quando a gravidez resulta de estupro ou, por analogia, de outra forma de violência sexual, conforme Decreto-Lei 2848, de 7 de dezembro de 1940, artigo 128, inciso II do Código Penal Brasileiro, RESULTADOS: Desde que o serviço nacional começou a funcionar, em 2003, foram registradas, no Amazonas, pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), denúncias, sendo por negligência, situações de violência física ou psicológica, 851 casos de abuso sexual, 534 de exploração sexual, 14 de pornografia e infantil e seis situações de tráfico de crianças. A maior parte das crianças abusadas ou agredidas possui de 0 a 11 anos e as meninas são as principais vítimas de abuso sexual e de violências física (78%) e psicológica (51%). Em Manaus, no ano de 2011, foram registrados 665 atendimentos a novos casos de violência sexual. De acordo com as Notificações de casos de violência sexual, registrados no Instituto da Mulher Dona Lindu, identificamos os seguintes dados, entre julho de 2010 a julho de 2012: TIPO DE VIOLÊNCIA TOTAL Estupro Aliciamento estupro seguido de ferimento por arma 1 0 1
6 branca estupro com consequencia de gravidez indesejada Violencia Presumida Atentado Violento ao Pudor Abuso sexual de vulneravel 1 1 Estatística da faixa etária e total de atendimentos no SAVVIS, do Instituto da Mulher Dona Lindu: FAIXA ETÁRIA a 20 anos a 20 anos a 35 anos 20 Total de Atendimentos/SAVVIS ANO 2010 A
7 O Instituto da Mulher Dona Lindu, realizou somente 2 casos de Aborto Legal, no período de setembro de 2010 a outubro de 2011, sendo uma mulher de 20 anos de idade (gesta de 8 semanas), e uma criança com 12 anos de idade (gesta de 19 semanas). O aborto Legal foi realizado mediante autorização judicial. CONCLUSÃO: A violência contra as mulheres é sofrida em todas as fases da vida. Muitas vezes ela se inicia ainda na infância e acontece em todas as classes sociais. A violência cometida contra mulheres no âmbito doméstico e a violência sexual são fenômenos sociais e culturais ainda cercados pelo silêncio e pela dor. Políticas públicas específicas que incluem a prevenção e a atenção integral são fatores que podem proporcionar o empoderamento, ou seja, o fortalecimento das práticas autopositivas e do coletivo feminino no enfrentamento da violência no Brasil. As etapas do atendimento englobam o atendimento imediato, o atendimento psicológico deve ser iniciado o mais breve possível, de preferência desde a primeira consulta, mantido durante todo o período de atendimento e pelo tempo que for necessário, exame físico completo, exame ginecológico, coleta de amostras, coleta de
8 material para identificação do provável autor da agressão e que seja preenchida a ficha de notificação e investigação de violência doméstica, sexual e/ou outras violências. e as ac~oes relacionadas `a interrupcao legal da gravidez decorrente de estupro, o que para a clientela, bem como, maior autonomia aos profissionais, favorecendo o trabalho colaborativo e interativo com a equipe multidisciplinar. A assistência prestada pela equipe multidisciplinar do SAVVIS, do Instituto da Mulher Dona Lindu, tem proporcionado às vítimas de violência sexual um atendimento integral e humanizado, contribuindo para que as mulheres atendidas continuem a viver com dignidade na busca dos restabelecimentos físico e psicológico afetados pela violência. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atenção humanizada ao abortamento: norma técnica/ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas, Área Técnica de Saúde da Mulher -2. ed. Brasília, DF, Brasil: Ministerio da Saúde.2011 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Prevenção e Tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes: norma técnica/ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. 3. ed. Brasília, DF, Brasil: Ministerio da Saúde.2011
9 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Anticoncepção de Emergência:perguntas e respostas para profissionais de saúde/ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.-2a ed. Brasília, DF, Brasil: Ministerio da Saúde.2011 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Aspectos jurídicos no atendimento às vítimas de violência sexual :perguntas e respostas para profissionais de saúde/ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.-2a ed. Brasília, DF, Brasil: Ministerio da Saúde.2011 PFEIFFER Luci, ROSÁRIO Nelson Augusto, CAT Mônica Nunes L. Violência contra crianças e adolescentes - proposta de classificação dos níveis de gravidade. Revista Paulista Pediátrica PAIXÃO Ana Cristina Wanderlei, DESLANDES Suely Ferreira. Análise das Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil. Saúde Soc. São Paulo, v.19. n HIGA Rosangela, MONDACA A.D.C.A., et al. Atendimento à Mulher vítima de violência sexual: Protocolo de Assistência de Enfermagem. Rev. Esc. Enferm.USP. São Paulo
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