ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTE
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- Nathalia Lobo Mendonça
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1 1 ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTE Daniela Pavan Terada 1 Priscila Fugiwara 2 CRAMI ABCD-Centro Regional de Atenção aos maus tratos na infância do ABCD. RESUMO:Este trabalho de relato de experiência traz o enfrentamento da violência doméstica cometida contra crianças e adolescentes na região do ABCD, em São Paulo. Entende-se por violência doméstica as agressões de qualquer natureza, praticadas por parentes, pais ou responsáveis, contra crianças e adolescentes, gerando danos ao desenvolvimento físico, sexual e emocional das mesmas. A violência doméstica engloba: agressões físicas, psicológicas, negligência, abandono e abuso sexual. As causas dessas violências são várias, incluindo o modelo de educação herdado, problemas sócio-econômico-culturais, distúrbios psicológicos, entre outros.o enfrentamento à violência doméstica exige um trabalho interdisciplinar, estendido à família e não só à vítima. O CRAMI empreende: ações preventivas - com palestras à comunidade e capacitação de profissionais ligados à infância e juventude; ações psicoterapêuticas atendimento psicológico à vítima, agressores e familiares e ações de orientação e sensibilização com acompanhamento social e grupos de orientados a cada tipo de violência. Há, também, o emprego da rede de serviços públicos e atuação do Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude, viabilizando encaminhamentos necessários para a garantia de direitos, sejam eles na esfera da saúde, educação, geração de renda, proteção jurídica e etc. Deste modo, há a ampliação da discussão do tema na sociedade, aumentando a detecção e os encaminhamentos dos casos para tratamento/acompanhamento. Os efeitos da violência contra crianças e adolescentes podem ser conhecidos; uma mudança de educação e postura de cuidados começa a ser construída, em detrimento do abuso de poder pelos cuidadores e adultos em geral. As medidas empregadas promovem melhorias na qualidade de vida dessas famílias e potencializam a superação do modelo familiar violento. Há a redução ou até o fim de novas violências, aumentando a segurança física e psíquica das vítimas. As famílias conhecem novas formas de convivência e pode vivenciá-las, na direção de uma socialização mais tolerante e com melhor vínculo entre seus membros. 1 Psicóloga do CRAMI Unidade São Bernardo do Campo 2 Psicóloga Voluntária do CRAMI Unidade Santo André
2 2 Este relato de experiência traz o enfrentamento da violência doméstica cometida contra crianças e adolescentes na região do ABCD, em São Paulo. Entende-se por violência doméstica as agressões de qualquer natureza, praticadas por parentes, pais ou responsáveis, contra crianças e adolescentes, gerando danos ao desenvolvimento físico, sexual e emocional das mesmas. A violência doméstica engloba: agressões físicas, psicológicas, negligência, abandono e abuso sexual. As causas dessas violências são várias, incluindo o modelo de educação herdado, problemas sócio-econômico-culturais, distúrbios psicológicos, entre outros. Trata-se de um fenômeno presente em todas as classes sociais, indiferente à etnia, religião ou nível cultural. A violência física é o uso da força contra crianças e adolescentes que cause desde uma leve dor (simples beliscão ou tapa), ferimentos graves ou mesmo o óbito da vítima. A violência psicológica é quando acontece uma depreciação na forma verbal (gritos, xingos e ameaças de castigos) da auto-estima da criança e do adolescente, em que bloqueia a capacidade cognitiva e emocional da criança. A negligência é a omissão ou privação de, por parte dos pais ou responsáveis, cuidados básicos para que uma criança e adolescente possam se desenvolver de forma sadia e digna, como: não levar ao médico, não medicar a criança quando a mesma se encontra doente, vesti-la de forma inadequada à temperatura do ambiente, não possibilitar cuidados básicos de higiene e alimentação, não levar à escola, etc). O abandono é a ausência, parcial ou total, dos pais ou responsável, que expõe as crianças em situações de riscos psicossociais.
3 3 A violência sexual é qualquer ato ou jogo sexual, entre um adulto e uma criança (com diferença mínima de cinco anos), em que há a finalidade de estimular sexualmente o outro e a si próprio (no caso do adulto), envolvendo desde manipulações dos órgãos genitais até o estupro. A exploração sexual, através da pornografia infantojuvenil ou mesmo a prostituição, também é considerada um tipo desta violência. O objetivo deste trabalho é esclarecer, desmistificar e discutir a violência doméstica, a dinâmica das relações das famílias atendidas e apresentar o modelo de atendimento do CRAMI ABCD (ONG) - Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância- instituição que atua na região desde O enfrentamento à violência doméstica exige um trabalho interdisciplinar, estendido à família e não só à vítima. Tratar os casos conhecidos é importante, mas o problema envolve a falta de uma discussão ampla do assunto na sociedade, num contexto de violência generalizado e com acesso restrito à justiça. Isto exige, também, prevenção. O CRAMI desenvolveu trabalhos de: prevenção primária, com a realização de palestras e capacitações para profissionais, visto que a identificação e a notificação dos casos de violência doméstica são aspectos primordiais: uma parte pequena destas agressões é de conhecimento dos órgãos competentes e, deste modo, encaminhadas para atendimento; prevenção secundária, envolvendo a identificação precoce da população de risco, com estratégias de visitas domiciliares, para prover cuidados médico-sociais aos pais e filhos e encaminhamentos diversos (Departamento de Assistência Social, programas de creches, clínica-escola etc) e, por fim, prevenção terciária, dirigida aos indivíduos que são agressores ou vítimas, com o objetivo de reduzir as conseqüências da violência doméstica, por intervenções terapêuticas de diversas modalidades: grupos de orientações a pais, oficinas lúdicas, grupos terapêuticos, musicoterapia, atendimentos
4 4 individuais e terapia familiar. Há o emprego da rede de serviços públicos e atuação do Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude, viabilizando encaminhamentos necessários para a garantia de direitos, sejam eles na esfera da saúde, educação, geração de renda, proteção jurídica e etc. As famílias atendidas, em sua maioria, possuem agressividade acentuada, falta ou dificuldades de limites, permissividade, submissão de uma das figuras parentais ou responsáveis, envolvimento com drogas, falta de compreensão, comunicação confusa, problemas de relacionamentos intra e extrafamiliares, confusão nos papéis familiares, entre outras características. O psicólogo contribui com o conhecimento acerca das relações humanas, do desenvolvimento físico e emocional e dos comportamentos em geral. Os grupos de orientação, divididos em Grupo de Orientação a Pais e Grupo de Orientação a Famílias Incestuosas resgatam a história pregressa das famílias e o contexto em que ocorrem as violências. Orientam-se os pais sobre os efeitos das mesmas nos filhos e no ambiente familiar, com propostas de intervenção que a própria família pode empreender ou buscar na rede de serviços. Os grupo terapêuticos são divididos conforme a faixa etária e o tipo de violência. Há grupos para mães de vítimas de abuso sexual, grupos de adultos que praticam maus tratos físicos e psicológicos, grupos de agressores sexuais e de crianças e adolescentes, conforme a violência das quais foram vítimas. A adesão ao tratamento é um impasse constante. O processo de denúncia é muitas vezes difícil, especialmente quando a vítima não é apoiada em revelar os maus tratos sofridos; a família passa por uma crise que ganha contornos fora de sua privacidade. O sigilo familiar para suas práticas violentas entra em queda, muitos lutam para sustentá-lo. O CRAMI atende também, em sua maioria, famílias de baixa renda,
5 5 que tem poucas opções para conciliar trabalho, custo de transporte e tempo para o tratamento. Nem todos municípios pagam vale-transporte aos atendidos. Deste modo, estas intervenções ampliam a discussão do tema na sociedade, aumentando a detecção e os encaminhamentos dos casos para tratamento/acompanhamento. Os efeitos da violência contra crianças e adolescentes podem ser conhecidos, o que pode questionar a cultura nacional destas práticas como modo privilegiado de disciplinar e relacionar-se. A cada nova família atendida, é possível criar espaço para uma mudança de educação e posturas de cuidados, em detrimento do abuso de poder pelos cuidadores e adultos em geral. A psicoterapia oferece recursos para a reflexão e a mudança subjetiva, direcionada na preservação da vida e para novas formas de ser/estar no mundo, na superação da situação de violência e das crises existenciais. As medidas empregadas promovem melhorias na qualidade de vida dessas famílias e potencializam a superação do modelo familiar violento. Há a redução ou até o fim de novas violências, aumentando a segurança física e psíquica das vítimas. As famílias conhecem novas formas de convivência e pode vivenciá-las, na direção de uma socialização mais tolerante e com melhor vínculo entre seus membros.
6 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AZEVEDO, M.A.& V.G. Infância e violência doméstica:fronteiras do conhecimento.são Paulo,ed. Cortez,1993. FURNISS,T. Abuso sexual da criança uma abordagem multidisciplinar, Porto Alegre, Artes Médicas, NEUMANN, M.M. Esboços críticos sobre a violência sexual: dominação e sexualidade. In:MALLAK,Linda S.et al (org.).são Paulo, Fundação Orsa e Vida/Pacto São Paulo,2002. OLIVEIRA,M.C.;SILVA,P.F.;MACEDO,V.G. Apostila Violência:Sinal de alerta. São Paulo, CRAMI, SANTOS,H. O. Crianças Espancadas.São Paulo, Papirus Editora,1987
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