NOTA TÉCNICA Nº 01/2012/GT PROJETOS DE LEI E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL/COMITE DE MEIO AMBIENTE CMA 1

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1 NOTA TÉCNICA Nº 01/2012/GT PROJETOS DE LEI E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL/COMITE DE MEIO AMBIENTE CMA 1 Em, 16 de maio de Referência Projeto de Lei Complementar n. 117/2011 que altera dispositivos da Lei Complementar nº Fundamentos Legislação pertinente Considerações O projeto de lei em apreço, tem como objetivo acrescentar novo inciso (XXVI) ao art. 7º, e dois novos parágrafos ( 4º E 5º) ao art. 17, da Lei Complementar nº. 140, de 08 de dezembro de A LC em tela fixa normas, nos termos dos incisos II, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção de paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Assim, o projeto de lei complementar propõe que ao art. 7º, da LC nº 140/2011, cujo texto estabelece que são ações administrativas da União: (...), seja incluído o inciso 1 Elaborada por Marcia Butuhy, geóloga, funcionária da Celesc, representante no CMA e GTs da ABCE.

2 XXVI, que assim textua: lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas na área da Amazônia Legal e no Bioma Pantanal. Para melhor analisarmos o conteúdo do inciso proposto, convém separarmos seu texto em 02 partes: a primeira no que se refere à ação de lavrar auto de infração e instaurar processos administrativos e a segunda quanto às áreas de incidência desta nova ação, que são a Amazônia Legal e o bioma Pantanal. (grifamos) Ora, a simples leitura dos arts. 7º, 8º e 9º, daquela LC, que tratam das ações da administrativas da União, os Estados e dos Municípios, respectivamente, permite verificar que ação de lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental, NÃO está estabelecida para nenhuma das demais esferas administrativas. E certamente tal fato não decorre de lapso do legislador, uma vez que parece implícito o poder para tal ação no inciso XIII, dos arts. 7º, 8º e 9º da LC que determina ser ação administrativa de cada uma daquelas esferas exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente,..., mas, sobretudo, por estar expresso no art Desse modo, ao incluir a ação de lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental apenas para a União, emergeria uma assimetria no texto legal, abolutamente desnecessária, visto já estar expressa naquele instituto legal. (grifamos) Quanto à incidência da ação proposta apenas para as áreas da Amazônia Legal e do bioma Pantanal (grifamos) parece ser além de contraditório, também restritivo. Lembramos que, ao conferir competência à União para exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for cometida à União, inciso XIII, do art. 7º, NÃO se encontra registro de que tais ações restrinjam-se à Amazônia Legal e ao bioma Pantanal. Ao nominar tais

3 áreas, cria-se, novamente, no inciso proposto, outra assimetria, além de ignorar o paragrafo 4º, do artigo 225 da CF, que assim dispõe: Art Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato- Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (grifamos) 3 Como se vê, a proposta de inclusão do inciso XXVI, ao art. 7º, à LC 140/2011, não é sustentável, tendo em vista incongruências com o texto em vigor e sua aprovação traria consolidaria imperfeições. Na seqüência, o projeto de LC propõe a inclusão dos parágrafos 4º e 5º, abaixo transcritos, no art. 17, da Lei Complementar nº. 140/2011, cujo caput assim estabelece: Art. 17: Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.

4 (...) 4º. Em qualquer caso, a União poderá lavrar auto de infração e instaurar processo administrativo para apuração de infrações à legislação ambiental cometidas na área da Amazônia Legal e no bioma Pantanal. 5º. Na hipótese de que trata o 4º., ocorrendo a lavratura de auto de infração por dois ou mais órgãos ambientais, prevalecerá o primeiro auto, independentemente do órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização, e serão nulos os demais autos. No caso da proposta relativa ao art. 17, da LC nº. 140/2011, verifica-se que a mesma contradiz a justificativa expressa no item 5, da justificativa dirigida à Presidência da República. Naquele item está expresso que a proposta de projeto de lei complementar pretende (i) tornar clara a competência da União para fiscalizar a Amazônia Legal e o bioma Pantanal e (ii) evidenciar a validade de seu auto de infração e de seus processos administrativos em qualquer caso, dentro das áreas de proteção especial. 4 Pois bem. Aqui, mais uma vez, o legislador distingue a Amazônia Legal e o bioma Pantanal, de outras áreas definidas como de proteção especial, reincidindo na imperfeição já registrada na proposta referente ao inciso XXVI, do art. 7º e desviando-se do texto em vigor. E passa do campo da assimetria àquele da restrição da ação do órgão da União (cuja ação ele deseja evidenciar) ao propor como 5º, do art. 17, que na hipótese de ocorrência de lavratura de infração por dois ou mais órgãos ambientais, prevalecerá o primeiro auto, independentemente do órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização, e serão nulos os demais autos. A prevalecer esta proposta, o auto de infração do órgão da União só terá validade se for o primeiro a ser lavrado, o que invalida, a pretensão de evidenciar a validade de seu auto de infração e de seus

5 processos administrativos em qualquer caso, dentro das áreas de proteção especial (ii). E fica a pergunta: e se a infração ocorrer em área do bioma Mata Atlântica, ou do Cerrado, em empreendimento licenciado por órgão da União, como ficará? 4. Conclusão Parece possível demonstrar, que a competência para lavrar auto de infração e de instaurar processo administrativo para apuração de infrações à legislação ambiental acompanha a competência de exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente,..., competência esta bem definida na LC nº. 140/2011, no inciso XIII, dos arts. 7º, 8º e 9º. Quanto à prevalência do primeiro auto de infração sobre outros eventualmente aplicados à atividade ou empreendimento, independentemente do órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização, proposta como 5º, do art. 17, convém realçar sua incongruência com o caput do art. 17, e também, com seu 3º, em pleno vigor. 5 Entende-se, diante do exposto, ser recomendável o Arquivamento da proposta. Representantes no GT que discutiram o tema e revisaram a Nota Técnica: Ana Luiza de Q. T. Rela, bióloga, funcionária da Rede Energia, Demetrio Pereira, advogado, funcionário da Chesf, Everton Feiber, advogado, funcionário da Celesc, Luciana Borges (coordenadora GT), advogada, funcionária da Chesf, Marcia Butuhy, geóloga, funcionária da Celesc. Formatada por Fabiola Silva Mafra, advogada e colaboradora na ABCE.