RECOMENDAÇÃO Nº 001/2015/4OFCIVEL/PR/AM
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- Júlio Ribas Cabreira
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1 RECOMENDAÇÃO Nº 001/2015/4OFCIVEL/PR/AM O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República subscrito, no uso de suas atribuições legais, em especial o disposto no art. 6º, XX, da Lei Complementar nº 75/93, e CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, artigo 127); CONSIDERANDO que é função institucional do Ministério Público promover o inquérito civil público e a ação civil pública para a defesa de interesses difusos e coletivos, dentre os quais o patrimônio público, conforme expressamente previsto na Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº 75, de , art. 6º, inc. VII, alínea b ); CONSIDERANDO a instauração do Procedimento Preparatório nº
2 / na Procuradoria da República no Estado do Amazonas com objetivo de acompanhar a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana no Município de Manaus; CONSIDERANDO que a Constituição Federal estabelece como competência da União o estabelecimento de diretrizes para o transporte urbano, nos termos do art. 21, XX: Art. 21. Compete à União: (...) XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; CONSIDERANDO que a Lei n /2012 Lei de Mobilidade Urbana (LMU), de acordo com a competência constitucionalmente delineada para a União, estabeleceu diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, a serem observadas por todos os entes federativos; CONSIDERANDO que o art. 24, 1º, da LMA, estabeleceu que os municípios com mais de habitantes devem elaborar Plano de Mobilidade Urbana integrado ao Plano Diretor Municipal, contemplando: I - os serviços de transporte público coletivo; II - a circulação viária; III - as infraestruturas do sistema de mobilidade urbana; IV - a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade; V - a integração dos modos de transporte público e destes com os privados e os não motorizados; VI - a operação e o disciplinamento do transporte de carga na infraestrutura viária; VII - os polos geradores de viagens; VIII - as áreas de estacionamentos públicos e privados, gratuitos ou onerosos;
3 IX - as áreas e horários de acesso e circulação restrita ou controlada; X - os mecanismos e instrumentos de financiamento do transporte público coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana; e XI - a sistemática de avaliação, revisão e atualização periódica do Plano de Mobilidade Urbana em prazo não superior a 10 (dez) anos. CONSIDERANDO que o Plano de Mobilidade Urbana deve contemplar os princípios e diretrizes delineados no artigo 5º da LMU, com especial ênfase à gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, verbis: Art. 5 o A Política Nacional de Mobilidade Urbana está fundamentada nos seguintes princípios: I - acessibilidade universal; II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais; III - equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo; IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano; V - gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana; VI - segurança nos deslocamentos das pessoas; VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços; VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana. CONSIDERANDO a existência de incentivos tributários federais ao transporte público municipal, que refletem na composição tarifária do aludido serviço e fundamentam, em conjunto com os demais dispositivos anteriormente mencionados, a atuação do Ministério Público Federal em matérias relacionadas à mobilidade urbana;
4 CONSIDERANDO a desoneração de tributos federais promovida por intermédio de Lei n /2013, que assim dispôs: Art. 1 o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre a receita decorrente da prestação de serviços regulares de transporte coletivo municipal rodoviário, metroviário, ferroviário e aquaviário de passageiros. Parágrafo único. O disposto no caput alcança também as receitas decorrentes da prestação dos referidos serviços no território de região metropolitana regularmente constituída CONSIDERANDO que o art. 24, 4º, da LMA determina que haja o bloqueio do repasse de verbas orçamentárias federais pertinentes à mobilidade urbana aos municípios que não tenham elaborado seus respectivos Planos de Mobilidade Urbana até 14 de abril de 2015, verbis: Art. 24. O Plano de Mobilidade Urbana é o instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana e deverá contemplar os princípios, os objetivos e as diretrizes desta Lei, bem como: ( ) 4 o Os Municípios que não tenham elaborado o Plano de Mobilidade Urbana na data de promulgação desta Lei terão o prazo máximo de 3 (três) anos de sua vigência para elaborá-lo. Findo o prazo, ficam impedidos de receber recursos orçamentários federais destinados à mobilidade urbana até que atendam à exigência desta Lei. CONSIDERANDO que até a presente data não existe nenhum registro de encaminhamento à Câmara de Vereadores de Manaus, pelo executivo municipal, de projeto de lei versando sobre o Plano de Mobilidade Urbana do Município;
5 CONSIDERANDO que o atraso na elaboração do projeto pela Administração Municipal foi reconhecido pelo ofício SSOP/SEMINF n /14 juntado às fls do IC n / ; CONSIDERANDO que a Administração Municipal informou no supracitado ofício existirem estudos e elementos técnicos pertientes ao Plano de Mobilidade Urbana e que o mesmo seria concluído em fevereiro de 2015; CONSIDERANDO que a participação da sociedade civil é condição indispensável para a validade do Plano de Mobilidade Urbana, sendo imposição da LMU a aplicação de instrumentos como órgãos colegiados, ouvidorias, audiências e consultas públicas e procedimentos sistemáticos de comunicação: Art. 15. A participação da sociedade civil no planejamento, fiscalização e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana deverá ser assegurada pelos seguintes instrumentos: I - órgãos colegiados com a participação de representantes do Poder Executivo, da sociedade civil e dos operadores dos serviços; II - ouvidorias nas instituições responsáveis pela gestão do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana ou nos órgãos com atribuições análogas; III - audiências e consultas públicas; e IV - procedimentos sistemáticos de comunicação, de avaliação da satisfação dos cidadãos e dos usuários e de prestação de contas públicas. CONSIDERANDO que tais diretrizes pertinentes à participação da sociedade civil não representam mera declaração ou intenção de vontades do legislador, e sim uma delimitação do âmbito de proteção deste direito fundamental, estabelecendo balizadores na condução da política pública que não podem deixar de
6 ser seguidas pelo gestor público; O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República signatário, no exercício das atribuições que lhe são conferidas pelos arts. 127, caput, e art. 129, II, III e V, da Constituição da República; art. 5º, III, e, e inciso V, a ; art. 6º, VII, c, e incisos X e XX, todos da Lei Complementar nº 75/93; art. 4º, IV e art. 23, ambos da Resolução nº 87/2006, do CSMPF e demais dispositivos pertinentes à espécie, RECOMENDA R AO MUNICÍPIO DE MANAUS que: a) adote as medidas administrativas necessárias para o pronto encaminhamento do projeto pertinente ao Plano de Mobilidade Urbana ao legislativo municipal, a fim de que haja tempo hábil para o efetivo emprego dos instrumentos legais referentes à participação da sociedade civil; b) no prazo de dez dias disponibilize por intermédio de banner de fácil identificação e visualização no sítio eletrônico da prefeitura ( a íntegra do Plano de Mobilidade Urbana e dos estudos, apontamentos, análises e quaisquer outros documentos que tenham pertinência com o aludido Plano, organizados de maneira sistemática e acompanhados de sumário explicativo; serão tomadas e o prazo para seu efetivo cumprimento; c) no prazo de cinco dias encaminhe à Procuradoria da República no Amazonas toda a documentação mencionada no tópico b, independente do estágio de desenvolvimento/conclusão do Plano de Mobilidade Urbana. EFICÁCIA DA RECOMENDAÇÃO: A ciência da presente
7 recomendação constitui em mora o(s) destinatário(s). O não atendimento das providências apontadas ensejará a responsabilização do Município e dos agentes públicos diretamente envolvidos no fato, sujeitando-os às consequentes medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. Comunique-se. Cumpra-se. Manaus, 4 de fevereiro de JORGE LUIZ RIBEIRO DE MEDEIROS Procurador da República 4.ºOFCIVEL/PR/AM
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