Obesidade como sintoma psicossomático e como a não simbolização da falta.
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- Manoel Branco Santiago
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1 Obesidade como sintoma psicossomático e como a não simbolização da falta. Soraia H. S. D Oliveira RESUMO: Este trabalho visa fazer uma pequena reflexão sobre a obesidade, discutindo-a como sintoma psicossomático e como a não simbolização da falta, objetivando um suporte teórico para a prática clínica.
2 O corpo é nosso primeiro universo. Assim foi quando éramos bebês carentes de alimento, afeto, carícias e cuidados fisiológicos. O corpo é o fiel depositário da nossa solidão. É nele que nos recolhemos nos momentos difíceis, nas horas de tristeza reflexiva ou de cansaço desamparado. Ana Beatriz B. Silva Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou por excesso, a ser tão incomodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso. A dor também pesa. Atiçada pelas lembranças pesa mais ainda. Se a dor for embora será que emagreço? Cintia Moscovich
3 Obesidade como sintoma psicossomático e como a não simbolização da falta. Soraia H. S. D Oliveira INTRODUÇÃO Os transtornos alimentares têm sido alvo de observação e de discussão na sociedade, não só como um problema puramente vinculado à saúde física, mas também com uma abordagem psicológica. O que faz um sujeito comer compulsivamente? Este trabalho visa fazer uma pequena reflexão sobre a obesidade, discutindo-a como sintoma psicossomático e como a não simbolização da falta, objetivando um suporte teórico para a prática clínica, que afinal é o nosso é maior interesse como psicanalistas. OBESIDADE Embora tenhamos visto que a obesidade tenha uma condição multideterminada, observa-se que na maioria dos casos não se tem uma justificativa orgânica para o desencadeamento da doença, isto corrobora a idéia de que a obesidade possa vir a ser uma forma de sintoma psíquico que se instala no corpo. (Loli, 2000) A obesidade, como um fenômeno psicossomático, apresenta-se pedindo um deciframento através do aumento de peso do excesso que insiste e persiste em se fazer presente. Segundo Freud,...o primeiro desejar parece ter consistido numa catexização alucinatória da lembrança da satisfação... e este registro é tão intenso que nunca mais se repetirá da mesma forma. É o registro de plenitude e conseqüentemente o registro da falta. Para a psicanálise, a pulsão é a responsável pela busca incessante da satisfação dessa falta (que sempre é parcial) e que na tentativa de alcançá-la dirige-se a determinado objeto. Este encontro com o objeto que traz um retorno satisfatório da pulsão marcará o aparelho psíquico, sem que haja um eu separado do objeto. É apenas ao registro do autoerotismo que se restringe essa inscrição, sobre a qual irão sobrepor-se as futuras percepções e satisfações. Apenas nesse momento se constituiria um circuito pulsional em que se articulariam a força e o objeto, pela mediação da regulação da experiência de satisfação. Além disso, por esse retorno da força pulsional e pela ligação inicial desta a um campo de objetalidade, se estabeleceria uma marca originária, um traço, simultaneamente corporal e psíquico. (Birman, 2005, p.62). Se existir dificuldades na função materna, haverá dificuldades na aquisição do mecanismo de introjeção, faltando a garantia para que se constitua um objeto interno, que na ausência materna, dará suporte para que a tolere. Se a função materna não pôde ser introjetada, o sujeito fica desamparado pelo excesso pulsional e dessa forma a introjeçao das pulsões ficará prejudicada. (Justus, 1999)
4 Sem esta introjeção o processo primário fica restrito à incorporação própria da fase oral, nesse caso houve um fracasso da introjeção. Considerando que é a introjeção que permitira ao sujeito diminuir e limitar a sua dependência com relação ao objeto, enquanto que a incorporação do objeto, ao contrário, reforça essa dependência, pode-se entender que uma relação de dependência estabelecida pela oralidade através da incorporação do objeto possivelmente esteja relacionada com o ato de comer na obesidade. (Fernandes, 2006) Considerando que na obesidade o objeto de apoio ou de apropriação é a comida podemos ressaltar a sua relação com a fase oral, destacando que nesta fase o prazer está ligado à ingestão de alimentos e à excitação da mucosa dos lábios e da cavidade bucal. A comida seria repetidamente utilizada como um recurso de contenção do sofrimento, sendo revestida imaginariamente como o objeto capaz de aplacar a angústia suscitada pelo vazio corporificado. O ponto nodal da relação de objeto é o falo que se constitui como significante a partir da mais arcaica reivindicação do sujeito, onde não há mediação simbólica, ou mesmo qualquer referência à alteralidade. Freud afirma que...o sintoma cria um substituto da satisfação frustrada, realizando uma regressão da libido a épocas de desenvolvimento anteriores... (Vol. XVI). É a impossibilidade de satisfação que faz com que o desejo opere deslizando de um objeto a outro, de um significante a outro, num encadeamento metonímico. Quando este movimento está estancado é devido a uma fixidez em que o desejo se cola a um determinado objeto. Relacionando pulsão, fase oral e sintoma, poderíamos então compreender a obesidade como um sintoma, sendo este um dos destinos da pulsão, ou seja, como um sintoma psíquico refletido no corpo. Ora, o próprio sintoma compulsivo denuncia a impossibilidade de realizar o preenchimento, remetendo sempre ao objeto (comida) a possibilidade de satisfação tratar-se-ia, pois, da denúncia da própria impossibilidade de fechamento do circuito pulsional. Podemos pensar que na obesidade não há a passagem da demanda ao desejo que se dá pela instauração do objeto perdido. O sujeito permanece atado à permanente demanda ao outro primordial, só podendo suportar essa posição por meio do sintoma alimentar.
5 CONCLUSÃO É importante lembrar que toda questão clínica prescinde de generalizações, pois só pode ser respondida na especificidade do caso, mas devemos pensar teoricamente para balizar a própria clínica. Percebemos durante o trabalho, que na obesidade as questões subjetivas se apresentam ao invés de se representarem, não é uma relação entre o sujeito e a comida mas sim uma relação entre o sujeito e objeto. Para Recalti, a angústia na obesidade não se refere, portanto, ao vazio ou à falta, mas ao constante preenchimento que obstaculiza a fluidez do desejo. Nesse sentido, afirma que o corpo obeso é um demasiado cheio que o sujeito vive como um vazio infinito. (Recalti, 2002). É preciso, portanto que a angústia possa brotar dando sinal de que há algo a se inscrever uma vez que o alimento não possa mais cumprir o papel de calar a angústia. É preciso reintroduzir o sujeito no ciclo da troca, para que a satisfação venha substituir algo que falta, fazendo emergir o acesso ao campo dos significantes deslocando-os do corpo como única referência.
6 BIBLIOGRAFIA SILVA, A. B. B. - Mentes Insaciáveis Ed. Ediouro, 2005, pág. 19 SEIXAS, C. M. Um corpo em questão: considerações psinanalíticas sobre a obesidade Trabalho de mestrado MOSCOVICH, C. Porque sou gorda, mamãe? Rio de Janeiro FREUD, S. Interpretação dos Sonhos Edição Comemorativa 100 anos - Capítulo E Ed. Imago FONSÊCA, C.A.F. Obesidade como sintoma: algumas considerações sob a ótica da psicanálise Trabalho parcial de conclusão para obtenção do grau de bacharel em psicologia
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