Risco de perdas por estresse climático na produção de leite, mês de fevereiro, em Minas Gerais
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1 Risco de perdas por estresse climático na produção de leite, mês de fevereiro, em Minas Gerais Evandro Chaves de Oliveira 1, Rafael Coll Delgado 2, Sabrina Rohdt da Rosa, Leonardo Oliveira Neves 4, Marcos Antônio Vanderlei da Silva 5, Paulo Henrique Lopes Gonçalves 6 1,2,4,6 Meteorologista, D.Sc., Pós-Graduando, Bolsista da CAPES, Depto. de Engenharia Agrícola/Meteorologia Agrícola, UFV/Viçosa MG, rcdelgado@hotmail.com, evandro.chaves@ufv.br, leomestrado@yahoo.com.br, paulo.lopes@ufv.br. 3 Graduanda em Medicina Veterinária UNIVIÇOSA, Viçosa-MG, srohdt@hotmail.com 5 Prof. Dr. Agronomia, UNEB,BA. maavsilva@uneb.br ABSTRACT: It was determined the maximum values of the Temperature and Humidity Index (THI) for the month of February, in the State of Minas Gerais. Afterwards, the potential Milk Production Decline (MPD) was estimated for two levels of normal production (10 and 20 kg day -1. cow -1 ), and the values of the Feed Intake Reduction (FIR) were also computed, to subsidize the improvement of productive potential based on the characterization of regional variations. With the results found that the animals are subject to various conditions of heat stress, potential with the maximum values of the temperature and humidity index outside their comfort zones in the State. It can be observed that decrease in milk production decline and feed intake reduction of dairy cows had a change of location to location, being larger on those premises situated in region of Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte, Noroeste e Triangulo Mineiro. It was concluded that the milk producers should attempt for the animal environmental conditions mainly in the summer period in confinement buildings. Palavras-Chave: ITU, DPL, RCA, vacas leiteiras. 1 INTRODUÇÃO No Brasil, a produção de leite gira em torno de milhões de litros por ano. De acordo com a Embrapa, milhões de vacas foram ordenhadas em 2009, ação que resultou numa produtividade na ordem de litros por animal neste período. Neste mesmo ano, Minas Gerais, que é a maior bacia leiteira do país, respondendo por 30% da produção nacional, produziu 7,5 bilhões de litros de leite. A pecuária de leite tem importância na agropecuária do estado, porém os índices produtivos estão bem abaixo do potencial. Dentre os fatores que afetam a expressão da produção animal, o conforto é um dos mais importantes. Os elementos climáticos que intervêm nas condições de conforto animal são: temperatura, umidade, radiação solar, ventos, nebulosidade e precipitação, pois interferem diretamente no balanço de energia do animal (ASSIS, 1995). Segundo PIRES e CAMPOS (2004), ambientes quentes e úmidos, frequentemente encontrados em regiões tropicais e subtropicais, podem tornar-se extremamente desconfortáveis para as vacas leiteiras, principalmente para aquelas em lactação e de alto potencial para produção de leite. O Índice de Temperatura e Umidade tem sido bastante utilizado em estudos de avaliação do conforto e/ou desconforto térmico animal (MADER et al., 2007), especialmente em análise de risco climático (PIRES et al., 2003), na identificação de áreas com potencial de criação de vacas leiteiras (TURCO et al., 2006). Apesar de existirem índices de conforto térmico mais complexos que o ITU, esse tem sido muito utilizado por envolver informações meteorológicas normalmente disponíveis em estações e em bancos de dados obtidos a partir de imagens de satélite (OLIVEIRA et al., 2006). O presente trabalho teve como objetivos determinar os valores de ITU para o mês de fevereiro no estado de Minas Gerais e, por meio destes, estimar as possibilidades de declínio na produção de leite (DPL) considerando dois níveis normais de produção (10 e 20 kg.dia -
2 1.vaca -1 ) e os valores de redução do consumo alimentar (RCA), visando subsidiar a melhoria do potencial produtivo com base na caracterização das variações regionais. 2 - MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo compreende o Estado de Minas Gerais, entre os paralelos 14º13 57 e 22º55 22 de latitudes Sul e os meridianos 39º51 23 e 51º02 45 de longitudes Oeste de Greenwich (Figura 1). Os dados de temperatura do ar coletados em abrigos termométricos padrões, utilizados para determinar os coeficientes das equações, foram obtidos de 32 estações meteorológicas listadas nas normais climatológicas do Estado de Minas Gerais, fornecidas pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). Figura 1 Localização geográfica dos 853 municípios interpolados em Minas Gerais. As temperaturas do ar foram então calculadas aplicando-se as equações de regressões múltiplas no Estado de Minas Gerais, em função dos fatores geográficos altitude, latitude e longitude, para os locais desprovidos de estações climatológicas (SEDIYAMA et al., 1998). Estas análises foram realizadas para todos os meses e também para o ano, sendo os coeficientes obtidos pelo método dos mínimos quadrados. A partir do cálculo das temperaturas, em função dos fatores geográficos, pode-se estimar o ITU máximo, DPL e RCA para o mês de fevereiro, de acordo com a metodologia proposta por Delgado et al. (2009). Os cálculos iniciais referentes às temperaturas do ar, ITU, DPL e RCA foram processados em planilhas eletrônicas. Posteriormente, a base de dados composta por estes índices foi importada para o programa ArcGis 9.2, onde se procedeu a realização da interpolação por IDW (DELGADO et al., 2009). O ITU foi determinado pela equação (BUFFINGTON et al., 1981): ITU = Tbs + 0,36xTpo + 41,2 (1) em que Tbs é a temperatura de bulbo seco ( o C) e Tpo a temperatura do ponto de orvalho ( o C). O declínio na produção de leite foi estimado a partir da equação proposta por BERRY et al. (1964) e adaptada por HAHN (1993): DPL = -1,075 1,736 x PN + 0,02474 x PN x ITU em que DPL é o declínio na produção de leite (kg.dia -1 ) e PN é o Nível Normal de Produção (kg.dia -1 ).
3 Foi estimado o valor da redução do consumo alimentar dos animais (RCA), em kg.dia - 1.vaca -1, utilizando-se da equação proposta por HAHN e OSBURN (1969): RCA= -28,23+ 0,391 x ITU Consideraram-se, para análise, vacas com níveis de produção média diária de 10 e 20 kg de leite. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da espacialização do ITU no estado de Minas Gerais para o mês de fevereiro são apresentados na Figura 2. Observa-se uma faixa que se estende da mesorregião do Vale do Rio Doce até o Vale do Jequitinhonha e uma grande parte do Norte, Noroeste e Triângulo Mineiro, com valores críticos de ITU (superiores a 78). Valores entre 72 e 74 (alerta) são encontrados em alguns municípios da mesorregião Sul/Sudeste. As outras regiões apresentam níveis de ITU, de 74 a 78. De acordo com Brown-Brandl et al. (2005), valores de ITU inferior a 74, as condições ambientais são adequadas para a criação de vacas leiteiras; ITU entre 74 e 78, as condições são aceitáveis, podendo resultar em decréscimos da taxa de ganho de peso pelos animais; ITU entre 78 e 84 está associada a condições ambientais com estresse moderado, em que os animais podem apresentar reduções significativas no ganho de peso (ex: situações de manejo, transporte ou aumento da densidade de animais nos lotes de confinamento). Revelando-se que este mês é crítico para a produção leiteira no estado. Devido a este fato, foram estimados os valores de declínio na produção de leite para o mês de fevereiro no estado. Figura 3. Valores de ITU Máximo para o mês de Fevereiro. Com os valores obtidos de ITU, foi possível estimar as possibilidades de declínio na produção de leite considerando 2 níveis potenciais de produção normal, como pode ser visualizado na Figura 3. Para vacas leiteiras com produção média diária igual a 10 kg, somente nas regiões climáticas da Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, os decréscimos de produção por estresse climático, no mês, atingem valores de 2,0 kg dia -1. Para vacas leiteiras com produção média diária de 20 kg, os decréscimos de produção devidos ao estresse climático, são iguais ou superiores a 2,0 kg dia -1, em média, na maior parte de Minas. Verifica-se que as localidades com maiores decréscimos para a produção de leite (iguais a 20 kg/dia, em média) encontram-se no Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte, Noroeste e Triangulo Mineiro. As localidades com menores decréscimos encontram-se na mesorregião Sul/Sudeste, Campos das Vertentes, Oeste de Minas, Sul da mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte e leste do Triangulo Mineiro. Os valores esperados no decréscimo da produção de leite, indicados na Figura 3, são guias
4 valiosos para decidir sobre quais modificações do ambiente poderão ser economicamente adotados pelos produtores. Figura 4. Valores de DPL para o mês de Fevereiro. Na Figura 4 pode ser observada a variação regional dos valores de redução de consumo alimentar (RCA) para o mês de fevereiro. Constata-se que as áreas situadas nas mesorregiões leiteiras com os níveis mais críticos de ITU, apresentam reduções no consumo alimentar de 4,5 kg.dia -1.vaca -1. Enquanto que, algumas áreas da mesorregião Sul/Sudeste foram constatadas valores de RCA nulos. Figura 5. Valores de RCA para o mês de Fevereiro. Os resultados obtidos indicam que no mês de fevereiro, há necessidade de cuidados especiais com a ambiência em grande parte das mesorregiões Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte, Noroeste e Triangulo Mineiro. A ênfase em sistemas silvipastoris nestas regiões deve ser uma prioridade como forma de melhorar o conforto térmico animal. 4 CONCLUSÕES Em função das condições de estresse térmico potencial durante o mês de fevereiro no estado de Minas Gerais, os animais se encontram fora das zonas de conforto, sobretudo em relação aos valores máximos do índice de temperatura e umidade. Assim as principais mesorregiões leiteiras do Estado apresentaram uma intensificação do estresse térmico,
5 estimando-se decréscimo na produção de leite e no consumo alimentar dos animais, especialmente em vacas com maiores níveis de produção no período de estudo. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, E.S. Bases para a adequação climática de construções e instalações rurais para a criação de animais. In: Congresso Brasileiro de Bioclimatologia, 1, Jaboticabal, SP, p , BROWN-BRANDL, T. M.; EIGENBERG, R. A.; NIENABER, J. A.; HAHN, G. L. Dynamic Response Indicators of Heat Stress in Shaded and Non-shaded Feedlot Cattle, Part 1: Analyses of Indicators. Biosystems Engineering, v.90, n.4, p , BUFFINGTON, D.E., COLLAZO-AROCHO, A., CANTON, G.H., PITT, D., THATCHER, W.W, COLLIER, R.J. Black Globe Humidity Index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Transactions of the ASAE. 24: , DELGADO, R. C.; SEDIYAMA, G. C.; ZOLNIER, S.; COSTA, M. H. Modelos físicomatemáticos para estimativa da umidade relativa do ar a partir de dados de temperatura. Revista Ceres, v.56, p , HAHN, G. L.; OSBURN, D.D. Feasibility of Summer environmental control for dairy cattle based on expected production losses. Transactions of the ASAE, v.12, n.4, p , HAHN, G.L. Bioclimatologia e instalações zootécnicas: aspectos teóricos e aplicados. Jaboticabal: FUNEP, 28 p, MADER, T. L.; DAVIS, M. S.; GAUGHAN, J. B. Effect of sprinkling on feedlot microclimate and cattle behavior. International Journal Biometeorology, v.51, p , OLIVEIRA, L. M. F.; YANAGI JUNIOR, T.; FERREIRA, E.; CARVALHO, L. G.; SILVA, M. P. Zoneamento bioclimático da região Sudeste do Brasil para o conforto térmico animal e humano. Revista Engenhar ia Agr ícola, Jaboticabal, v.26, n.3, p , PIRES, M. de F.A.; SILVA JÚNIOR, J.L.C. da; CAMPOS, A.T. de; COSTA, L.C.; NOVAES, L.P. Zoneamento da Região Sudeste do Brasil, utilizando o índice de temperatura e umidade. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, p. 21, PIRES, M.F.A; CAMPOS, A.T. Modificações ambientais para reduzir o estresse calórico em gado de leite. Comunicado Técnico, 42, EMBRAPA, Juiz de Fora, MG Dezembro, SEDIYAMA, G. C.; MELO JÚNIOR, J. C. F. Modelos para estimativas das temperaturas normais mensais médias, máximas, mínimas e anual no Estado de Minas Gerais. Revista Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.6, n.1, p.57-61, set./dez SILVA, G.R. Introdução à Bioclimatologia Animal. São Paulo - Ed.:Nobel TURCO, S. H. N.; SILVA, T. G. F. da; SANTOS, L. F. C. dos; RIBEIRO, P. H. B.; ARAÚJO, G. G. L.; JUNIOR, E. V. H.; AGUIAR, M. A. Zoneamento bioclimático para vacas leiteiras no estado da Bahia. Revista de Engenharia Agrícola, v.26, n.1, p.20-27, WEST, J.W. Physiological effects of heat stress on production and reproduction. In: TRI- STATE DAIRY NUTRITION CONFERENCE, 2002, Fort Wayne. Proceedings... Fort Wayne: Eastridge, M.D., p.1-9, 2002.
Palavras-chave: Ambiência, Bioclimatologia, Estresse por calor, Gado de Leite
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