TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical ESTUDO SOBRE A PORTARIA MTE Nº 982/2010. Alain Alpin Mac Gregor Advogado
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1 TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical ESTUDO SOBRE A PORTARIA MTE Nº 982/2010 Alain Alpin Mac Gregor Advogado A Portaria nº 982, de 5 de maio de 2010, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 6 de maio de 2010, Seção 1, p. 98, altera a redação do artigo 5º da Portaria MTE nº 488/2005, estabelecendo que a partilha da Contribuição Sindical Urbana será efetuada de acordo com as filiações da entidade sindical constantes do Cadastro Nacional de Entidades Sindicais (CNES). Nos 2º e 3º do citado artigo 5º determina-se que os valores não repassados às entidades sindicais de grau superior ou às centrais sindicais em se tratando de categoria profissional, em virtude de divergência nos dados constantes da Guia de Recolhimento da Contribuição Sindical Urbana (GRCSU), serão integralmente repassados pela Caixa Econômica Federal (CEF) à Conta Especial Emprego e Salário (CEES). Além disso, torna facultativo o preenchimento, pelas entidades sindicais, do campo destinado ao código sindical na Guia de Recolhimento da Contribuição Sindical Urbana (art. 5º, 4º), vinculando tal preenchimento ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da entidade, que, segundo informa, será obrigatório e servirá de base para a distribuição da arrecadação sindical. seguinte: No que toca as alterações propostas pela norma ministerial em análise, apontamos o A portaria em comento determina que o repasse da Contribuição Sindical será feito baseado no CNPJ da entidade e não mais no código sindical (que passará a ser facultativo), ou seja, na organização sindical vigente em que processado o registro sindical no Ministério do Trabalho e Emprego (Súmula 677, STF), nos termos da Portaria MTE nº 186/2008, por meio de ofício deste órgão à CEF, essa instituição financeira estruturará o código sindical, atribuindo-o à entidade sindical, garantindo que apenas aquelas legitimadas possam receber os valores do rateio da contribuição sindical. A partilha da contribuição sindical é feita em conformidade com o art. 589, com a devida observância do art. 590 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que diz:
2 58 Art Inexistindo confederação, o percentual previsto no item I do artigo anterior caberá à federação representativa do grupo. (Alterado pela L ) 1º Na falta de Federação, o percentual a ela destinado caberá à Confederação correspondente à mesma categoria econômica ou profissional. 2º Na falta de entidades sindicais de grau superior, o percentual que àquelas caberia será destinado à Conta Especial Emprego e Salário. 3º Não havendo Sindicato, nem entidade sindical de grau superior, a contribuição sindical será creditada, integralmente, à Conta Especial Emprego e Salário. Portanto, apenas na hipótese de inexistência de entidades sindicais (Sindicatos, Federação e Confederação) é que os valores da contribuição sindical seriam creditados integralmente à conta especial de emprego e salário. Dessa forma, a Portaria MTE nº 982/2010, ao dispor, em seu 2º, que os valores não repassados a entidades sindicais de grau superior ou centrais sindicais em virtude de divergência nos dados indicados na Guia de Recolhimento da Contribuição Sindical Urbana serão repassados integralmente à Conta Especial de Emprego e Salário (CEES), fere frontalmente a determinação legal contida no art. 590 da CLT que prevê esse repasse integral apenas na hipótese de inexistência de entidades sindicais representantes de determinada categoria. A partilha da Contribuição Sindical entre sindicato, federação e confederação na forma preceituada no artigo 589 da CLT, decorre dos enquadramentos individual e coletivo (vinculação). Mesmo porque, o pagamento da contribuição sindical pelas empresas é devido por toda a categoria independentemente de filiação, estando vinculado à representação. Abaixo transcrevemos o art. 589 no tocante à partilha dos empregadores: Art Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho: I - para os empregadores: a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente; b) 15% (quinze por cento) para a federação; c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e; d) 20% (vinte por cento) para a Conta Especial Emprego e Salário. (grifo nosso) Desse modo, resta claro que o recolhimento da Contribuição Sindical passa necessariamente pelo enquadramento sindical, uma vez que condiciona às entidades Trabalhos Técnicos
3 59 respectivas e correspondentes, o que não guarda qualquer relação com filiação que é espontânea, enquanto que a vinculação (representação) é necessariamente obrigatória. O próprio STF assim decidiu: A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578, CLT, e exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato, resulta do art. 8º, IV, in fine, da Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) marcas características do modelo corporativista resistente, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144, Pertence, RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, 3º e 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE , Moreira Alves, RTJ 146/684, 694). (RE , Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em , Primeira Turma, DJ de ) (grifo nosso) Assim, identifica-se a categoria em que a empresa está enquadrada, para, depois, identificar a entidade que exerce a representação dessa categoria, entidade essa que será a beneficiária da Contribuição Sindical, prevista no artigo 8º, IV, parte final, da Constituição Federal (CF), e no artigo 578 e seguintes da CLT. Note-se que o pretendido pela Portaria MTE nº 982/2010, no 1º do art. 5º, é tão somente criar uma aberração jurídica, onde as entidades se agrupem por filiação e não por vinculação. Pela redação da Portaria poderíamos ter, por exemplo, entidades de grau inferior filiadas, inclusive, a entidades de grau superior de outros planos sindicais, que não aquele em que se encontraria inserido. Ou seja, a Portaria em questão estaria interferindo diretamente na organização sindical brasileira, o que é vedado pela Constituição Federal, conforme disposto no inciso I de seu art. 8º. Trazemos nesse momento decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), da 10ª Região, no sentido de que não é possível estabelecer o critério de filiação para a destinação da contribuição sindical, senão vejamos: EMENTA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA. REPASSE PARA AS ENTIDADES DE GRAU SUPERIOR. INEXIGIBILIDADE DE FILIAÇÃO DO SINDICATO DE BASE. A contribuição sindical dada a sua natureza tributária, será recolhida nos moldes fixados nos arts. 579 e 589 do texto consolidado, por todos Trabalhos Técnicos
4 60 aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica, profissional ou profissão liberal, em favor do sistema sindical independentemente de filiação. A compulsoriedade no recolhimento também deve ser observada no sistema de repasse às entidades de grau superior federação e confederação, não havendo necessidade de filiação do sindicato de base. Recurso conhecido e desprovido. (TRT- 10ª Região 3ª Turma- RO ) (grifo nosso) As federações e confederações aglutinam sindicatos de acordo com a identidade de atividades econômicas e das categorias profissionais respectivas. Daí não haver necessidade de filiação do sindicato de base à federação e, conseqüentemente à confederação existente, para o repasse da contribuição sindical, mesmo porque, tal obrigatoriedade não está prevista na legislação. Outro ponto que merece destaque é o de que a contribuição sindical é obrigatória e, por conseguinte, a sua repartição. Em assim sendo, pela Portaria nº 982/2010 só restaria apto a receber a partilha da contribuição sindical aquela entidade que obtivesse filiação de outras de grau inferior, ou seja, restaria a obrigação de filiação para se garantir o legítimo direito ao recebimento de contribuição sindical. Seria o mesmo que dizer que os sindicatos só poderiam efetuar a cobrança da contribuição sindical das empresas que lhe sejam filiadas situação que já foi afastada por reiteradas decisões do STF, como a que vemos a seguir: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS AO CUSTEIO DE SINDICATOS. EXIGIBILIDADE. 1. A contribuição assistencial visa a custear as atividades assistenciais dos sindicatos, principalmente no curso de negociações coletivas. A contribuição confederativa destina-se ao financiamento do sistema confederativo de representação sindical patronal ou obreira. Destas, somente a segunda encontra previsão na Constituição Federal (art. 8º, IV), que confere à assembléia geral a atribuição para criá-la. Este dispositivo constitucional garantiu a sobrevivência da contribuição sindical prevista na CLT. 2. Questão pacificada nesta Corte, no sentido de que somente a contribuição sindical prevista na CLT, por ter caráter parafiscal, é exigível de toda a categoria independente de filiação. 3. Entendimento consolidado no sentido de que a discussão acerca da necessidade de expressa manifestação do empregado em relação ao desconto em folha da contribuição assistencial não tem porte constitucional, e, por isso, é insuscetível de análise em sede de recurso extraordinário. 4. Agravo regimental improvido. (STF RE-AgR RS. Relatora: Min. ELLEN GRACIE - Segunda Turma. Julgado em 08/06/2004) (grifo nosso) A Constituição Federal, ao garantir o Princípio da não interferência do Poder Público na Organização Sindical, garantiu ao Ministério do Trabalho a função apenas de Registro das Trabalhos Técnicos
5 61 entidades sindicais, e, apesar disso, o Ministério do Trabalho, para sua conveniência, criou o Cadastro Nacional de Entidades Sindicais, onde cada entidade pode lançar as informações que entende necessárias para divulgação no sítio do MTE. Ocorre que esse arquivo feito pelo Ministério não é obrigatório, ou seja, as entidades sindicais podem, ou não, se cadastrar. E, apesar disso, a Portaria que ora analisamos utiliza-se como parâmetro, para a partilha da arrecadação da Contribuição Sindical, exatamente esse cadastro que não é obrigatório (e nem poderia ser). Além disso, a Portaria nº 982/2010, ao promover alterações significativas ao art. 590 da CLT, estaria violando o art. 87, inciso II, da Constituição Federal, que diz: Art. 87 Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos. Como visto, o Ministro do Trabalho e Emprego ultrapassou os limites constitucionais que lhe permitem apenas expedir instruções para execução das leis e não legislar, como se pretende por meio dessa Portaria. O Ministério do Trabalho não poderia, desse modo, modificar a forma de partilha e trazer critérios como o de filiação e situação de divergência que a Lei não traz. Em virtude disso, não poderiam as entidades sindicais de grau superior, serem prejudicadas por norma editada pelo MTE que não encontra qualquer respaldo na legislação. O STF em julgados análogos ao presente caso, afasta essa extrapolação dos limites constitucionais de atuação do Poder Executivo, senão vejamos: O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. O abuso de poder regulamentar, especialmente nos casos em que o Estado atua contra legem ou praeter legem, não só expõe o ato transgressor ao controle jurisdicional, mas viabiliza, até mesmo, tal a gravidade desse comportamento governamental, o exercício, pelo Congresso Nacional, da competência extraordinária que lhe confere o art. 49, inciso V, da Constituição da República e que lhe permite sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (...). Doutrina. Precedentes (RE AgR/SC, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.) Trabalhos Técnicos
6 62 (AC AgR-QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em , Plenário, DJ de ). O princípio constitucional da reserva de lei formal traduz limitação ao exercício das atividades administrativas e jurisdicionais do Estado. A reserva de lei analisada sob tal perspectiva constitui postulado revestido de função excludente, de caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela sujeitas, quaisquer intervenções normativas, a título primário, de órgãos estatais não legislativos. Essa cláusula constitucional, por sua vez, projeta-se em uma dimensão positiva, eis que a sua incidência reforça o princípio, que, fundado na autoridade da Constituição, impõe, à administração e à jurisdição, a necessária submissão aos comandos estatais emanados, exclusivamente, do legislador. Não cabe, ao Poder Executivo, em tema regido pelo postulado da reserva de lei, atuar na anômala (e inconstitucional) condição de legislador, para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser legitimamente definidos pelo Parlamento. É que, se tal fosse possível, o Poder Executivo passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes. (ADI MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em , Plenário, DJ de ) Temos ainda que o 2º da Portaria nº 982/2010, ao determinar que, em caso de divergência nos dados indicados na Guia de Recolhimento da Contribuição Sindical Urbana os valores serão repassados integralmente à Conta Especial de Emprego e Salário, ceifa das entidades sindicais a sua possibilidade de se manter e, por conseguinte, de exercer sua representação. A contribuição sindical é a principal receita dos sindicatos no Brasil e, conforme determina a Constituição Federal, no inciso IV de seu art. 8º, destina-se ao custeio do sistema confederativo, garantindo com isso a efetividade da representação que lhes cabe. Cumpre aqui destacarmos que a Constituição Federal consagrou, no inciso I de seu artigo 8º, o princípio da autonomia sindical, desvinculando as entidades sindicais de qualquer intervenção do poder público. De forma irretocável, Maurício Godinho Delgado, ao discorrer sobre o princípio da autonomia, sindical aponta que Tal princípio sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e sindicais dos trabalhadores, sem interferências empresariais ou do Estado. Trata ele, portanto, da livre estruturação interna do sindicato, sua livre atuação Trabalhos Técnicos
7 63 externa, sua sustentação econômico-financeira e sua desvinculação de controles administrativos estatais ou em face do empregador. (DELGADO, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003, p. 49). (grifo nosso) Por fim, destacamos que a Portaria MTE nº 982/2010, se não sofrer as devidas alterações poderá ensejar grandes prejuízos a todo o sistema sindical, uma vez que possibilitará o desvio das receitas sindicais, colocando em risco a sustentabilidade das entidades que não possuam grande número de filiados. Trabalhos Técnicos
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