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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS 70, 90 E 2010 / ESTUDO DE CRENÇAS E ATITUDES Silvia Carolina Gomes de Souza Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

2 ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS DE 70, 90 E 2010 / ESTUDO DE CRENÇAS E ATITUDES UFRJ Silvia Carolina Gomes de Souza Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Eliete Figueira Batista da Silveira Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

3 ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS DE 70, 90 E 2010 / ESTUDO DE CRENÇAS E ATITUDES Silvia Carolina Gomes de Souza Orientador: Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: Presidente, Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira UFRJ Professora Doutora Alessandra de Paula Santos UERJ Professora Doutora Lívia Oushiro UNICAMP Professora Doutora Danielle Kely Gomes UFRJ Suplente Professor Doutor Gean Nunes Damulakis UFRJ Suplente Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

4 Souza, Silvia Carolina Gomes. Alteamento das vogais médias pretônicas no município do Rio de Janeiro: décadas 70, 90 e 2010 / Estudo de Crenças e Atitudes - Silvia Carolina Gomes de Souza 247f - Rio de Janeiro: UFRJ/FL, f Orientadora: Eliete Figueira Batista da Silveira Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Bibliografia: p. 225/ Sociolinguística. 2. Vogais. 3. Pretônicas. 4. Alteamento. 5. Tempo Real 6. Crenças e Atitudes. I. Batista da Silveira, Eliete Figueira, oriente. II. Título

5 AGRADECIMENTOS Eu quero agradecer: À minha família, que sempre me apoiou, me incentivou e investiu no meu sonho. À minha mãe Geraldina Souza, minha grande amiga, que dedicou toda a sua vida à educação dos seus filhos. Muito obrigada, mãe, por ter abdicado de muitas coisas para que eu e meu irmão pudéssemos ter uma boa educação. Obrigada, mãe, por ter segurado na minha mão e ter dito estou contigo minha filha, você é capaz. A meu pai João Souza, o patrocinador dos meus sonhos. Obrigada, pai, por ter acordado de madrugada, durante 30 anos, para poder me proporcionar uma boa educação. A meu irmão João Angelo Souza, o meu exemplo. A sua dedicação aos estudos me incentivou a querer estudar mais e mais. Nós dois, filhos da Universidade Federal do Rio de Janeiro! Você, de um lado da rua, do Centro Tecnológico da UFRJ (CT); eu, do outro, na Faculdade de Letras da UFRJ. Obrigada, meu irmão, por ter me encorajado a fazer o mestrado e por ter me ajudado na busca de informantes para conseguir realizar esta pesquisa. À minha avó Dilma Gomes, mulher de fibra. Obrigada, vó, por seu carinho, seu cuidado, sua felicidade ao saber que sua neta mais velha tinha passado para o mestrado. A meu noivo Franklin Guerreiro, meu futuro marido, pessoa muito especial em minha vida. Obrigada, Franklin, por ser meu companheiro, por ter me apoiado quando decidi fazer o mestrado, por ter segurado na minha mão nos momentos difíceis, por entender que, algumas vezes, não podia estar com você, pois estava escrevendo a dissertação. Além disso, por ter me ajudado com os programas computacionais para eu conseguir realizar esta pesquisa. À minha sogra, Valéria Guerreiro. Mais do que uma sogra, uma grande amiga. Obrigada por seu carinho. Às minhas amigas da Faculdade de Letras: Isabel Cristina Coelho, Fernanda Delgado, Bruna Guimarães, Mara Mariano. Obrigada, meninas, pelas conversas, pelo incentivo, por estarem comigo no momento de pesquisa e no momento de diversão. Nunca me esquecerei de nossas viagens aos congressos. À minha grande amiga Anna Carolina Avelheda. Obrigada, Anna, por seu carinho, pela sua companhia, por seu apoio nos momentos difíceis, por sempre ter me ajudado em tudo que eu precisei. Uma amiga maravilhosa, que vou levar eternamente no meu coração. Às minhas amigas Paula Goulart e Edithe. Obrigada, Paula, por seu carinho, por sua amizade, por ter compreendido minhas ausências durante a escrita desta dissertação. Obrigada, Edithe; se não fosse você, não iria passar no vestibular e não teria cursado Letras na UFRJ!

6 Obrigada por me ajudar a entender matemática, física e química; muito mais que uma professora, você se tornou uma grande amiga. À professora Márcia Machado, que me apresentou a Metodologia de Crenças e Atitudes. Obrigada, Márcia, por suas excelentes aulas, por ter me orientado e me ajudado na elaboração dos testes de atitudes. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que custeou meus estudos com a bolsa de mestrado, possibilitando a realização desta pesquisa. Em especial, agradeço à minha orientadora Eliete Silveira, pela confiança, pelo incentivo, pelo seu carinho, por sua amizade, por ter acreditado na minha capacidade. Acredito que Deus coloca pessoas especiais nas nossas vidas para nos ajudar no caminho difícil que temos que seguir, e Deus colocou você no meu caminho. A minha primeira aula na Faculdade de Letras foi com você e, desde o primeiro período, você me ajuda e me incentiva. Depois de alguns períodos, fui ser sua orientanda. Muitas vezes, você acreditava mais em mim do que eu mesma. Quando terminei o Bacharelado e a Licenciatura, você me perguntou - Vamos fazer o mestrado? Virei para você e falei: - Será que consigo? Você me disse: - Claro, estamos juntas! E você esteve em todas as etapas. Obrigada por tudo, minha eterna professora, orientadora, amiga e mãe acadêmica. Sem você, eu não teria conseguido.

7 Resumo Alteamento das vogais médias pretônicas no Município do Rio de Janeiro: décadas 70, 90 e 2010 / Estudo de Crenças e Atitudes Resumo de Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Esta dissertação analisa o processo de alteamento das vogais médias pretônicas, anterior /e/ e posterior /o/, em nomes, nas décadas de 70, 90 e O fenômeno denominado alteamento ou alçamento das vogais médias pretônicas é um exemplo de variação que consiste na escolha das variantes altas dos fonemas /e/ e /o/, respectivamente [i] e [u]. A pesquisa utiliza a metodologia da Sociolinguística e de Crenças e Atitudes. A partir da Sociolinguística, o alteamento das vogais médias pretônicas é analisado ao longo de 40 anos, em um estudo de tempo real de curta duração, observando-se as variáveis linguísticas e extralinguísticas favorecedoras do alteamento. Com estudo de Crenças de Atitudes, observam-se a produção, a percepção e a avaliação dos informantes em relação às vogais médias pretônicas. Assim como Labov (2006, 2008), entende-se que, algumas vezes, é difícil verificar como um fenômeno linguístico é avaliado. Assim, apesar de a Sociolinguística já adotar a avaliação em suas pesquisas, utilizam-se os fundamentos e a metodologia dos estudos de Crenças e Atitudes para a análise do status social do fenômeno em variação. Para a análise Sociolinguística, utilizouse corpus oral de falantes de nível superior completo das décadas de 1970 e 1990, constitutivos do Projeto Norma Oral Urbana Culta RJ (NURC), e da década de 2010, do Projeto Estudo Comparado dos Padrões de Concordância em Variedades Africana, Brasileira e Europeia, submetidos ao programa R-brul. Para a avaliação, foi criado um teste composto por quatro técnicas: leitura de um texto, questionário fechado, questionário fechado avaliativo e questionário aberto/entrevista, submetido a 10 homens e a 10 mulheres. A pesquisa apresenta aspectos inovadores que são a retomada do estudo de tempo real de curta duração e os testes avaliativos do estudo de Crenças e Atitudes, cujos resultados evidenciam que: (i) a estrutura silábica a que pertence a vogal pretônica é um fator fortemente condicionante para o alteamento; (ii) no transcorrer de 40 anos o alteamento apresentou comportamentos diferentes: a depender do contexto silábico, o fenômeno encontra-se em propagação, em outros em variação estável ou recuo; (iii) homens e mulheres apresentaram avaliações negativas acerca do falante usuário da variante alta, principalmente em relação à sua competência linguística e seu perfil socioeconômico. Palavras-chave: Alteamento. Mudança em tempo real. Avaliação. Sociolinguística.

8 Abstract Height of pre-median vowels in the county of Rio de Janeiro: Decades of 70, 90, 2010 / Study of Beliefs and Attitudes. Abstract of Master Dissertation presented to the Postgraduate Program in Letters (Vernacular Letters) of the Federal University of Rio de Janeiro, as a subject to obtain the title of Master in Vernacular Letters (Portuguese Language). This dissertation analyzes the process of raising the pretonic vowels, anterior /e/ and posterior /o/ pretonic vowel, in nouns, in the 70's, 90's and 2010's. The phenomenon is an example of variation that consists of the choice of the high variants of the phonemes /e/ and /o/, respectively [i] and [u]. The research uses the methodology of Sociolinguistics and Beliefs and Attitudes. Based on Sociolinguistics, the elevation of pretonic vowels is analyzed over 40 years, observing the linguistic and extralinguistic variables favoring the phenomenon. Based on Beliefs and Attitudes studies, we observed the production, perception and evaluation of the informants in relation to the pretonic vowels. Similary to Labov (2006, 2008), we understand that sometimes it is difficult to verify whether a linguistic phenomenon is stigmatized or not. However, we postulate that the methodological union of the Sociolinguistic studies and those of Beliefs and Attitudes contributes to the analysis of the social status of the phenomenon in variation. For the sociolinguistic analysis, we used oral corpora of speakers from the 1970s and 1990s, constituent of the Urban Norm Culture Project RJ (NURC), and from the 2010s, of the Comparative Study of the Standards of Agreement on African, Brazilian and European Varieties. The corpus was stratified into three age groups (25-35 years old, years old, 56 onwards) and in both genders (female and male) and were submitted to the R-brul program. For the analysis of Beliefs and Attitudes, a test composed of four techniques was created: reading a text, closed questionnaire, closed evaluative questionnaire, and open questionnaire / interview. The test was submitted to 20 informants: 10 women and 10 men. The research presents innovative aspects that are the resumption of the real-time study of short duration and the evaluative tests of the study of Beliefs and Attitudes, whose results show that: (i) The syllabic structure to which the pretonic vowel belongs is a strongly conditioning factor for the phenomenon; (ii) After 40 years, the raising showed different behaviors: depending on the syllabic context, the phenomenon is in propagation, in others in stable variation or retreat; (iii) men and women presented negative evaluations about the user of the high variant, mainly in relation to their linguistic competence and socioeconomic profile. Keywords: Raising. Real time change. Evaluation. Sociolinguistics.

9 SINOPSE Análise das vogais médias pretônicas na fala de informantes cultos do município do Rio de Janeiro nas décadas de 1970, 1990 e Estudo de tempo real de curta duração segundo os pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista de orientação laboviana. Utilização da metodologia do estudo de Crenças e Atitudes com o objetivo de observar a realização, a percepção e a avaliação dos informantes em relação ao alteamento das vogais pretônicas.

10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA CRENÇAS E ATITUDES METODOLOGIA METODOLOGIA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA Variáveis Linguísticas (Estruturais) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Natureza da vogal da sílaba seguinte Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Número de sílaba Natureza da vogal alvo Variáveis Extralinguísticas (Sociais) Faixa Etária Sexo/Gênero Década METODOLOGIA CRENÇAS E ATITUDES ANÁLISE TEMPO REAL DE CURTA DURAÇÃO PRETÔNICA ANTERIOR Vogal pretônica anterior contexto de sílaba livre Natureza da vogal da sílaba seguinte Número de sílabas Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Década Faixa Etária Sexo/Gênero Vogal Pretônica anterior travada por sibilante /S/ Número de sílabas Natureza da vogal alvo Década Sexo/Gênero Natureza da vogal da sílaba seguinte Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Vogal pretônica anterior travada por nasal /N/ Década Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal pretônica travada por rótico /R/ Conclusões parciais vogal anterior VOGAL PRETÔNICA POSTERIOR Vogal pretônica posterior em contexto de sílaba livre

11 Década Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Natureza da vogal da sílaba seguinte Número de sílaba Natureza da vogal alvo Vogal posterior travada por sibilante /S/ Faixa Etária Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Vogal posterior travada por nasal /N/ Faixa Etária Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Vogal posterior travada por rótico /R/ Natureza da vogal da sílaba seguinte Número de sílaba Conclusões parciais vogal posterior ANÁLISE DE CRENÇAS E ATITUDES LEITURA Mulheres Homens QUESTIONÁRIO FECHADO Áudios / Teste de percepção vogal posterior Áudios / Teste de percepção vogal anterior Áudios / Teste de percepção vogais anterior e posterior Áudios / Teste subjetivo de nacionalidade e regionalidade Áudios / Teste subjetivo de escolaridade e profissão Áudios / Teste subjetivo grau de formalidade Conclusões parciais questionário fechado QUESTIONÁRIO FECHADO AVALIATIVO Mulheres / Avaliação positiva Competência Integridade Pessoal Atratividade Social Mulheres / Avaliação negativa Competência Integridade Pessoal Atratividade Social Conclusão parcial Mulheres Homens / Avaliação positiva Competência Integridade Pessoal Atratividade Social Homens / Avaliação negativa Competência Integridade Pessoal Atratividade Social Conclusão parcial Homens Conclusões parciais questionário avaliativo QUESTIONÁRIO ABERTO / ENTREVISTA

12 5.4.1 Teste subjetivo de percepção Teste subjetivo de autoavaliação e insegurança linguística Tente subjetivo CONCLUSÕES PARCIAIS CRENÇAS E ATITUDES CONCLUSÕES BIBLIOGRAFIA ANEXOS Anexo 1: Termo de consentimento Anexo 2: Leitura do texto Anexo 3: Questionário fechado Anexo 4: Questionário fechado avaliativo Anexo 5: Questionário aberto / Entrevista

13 Índice de Gráficos Gráfico 1: Vogal anterior /e/ Gráfico 2: Vogal anterior sílaba livre Gráfico 3: Vogal anterior sílaba livre Cruzamente Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Gráfico 4: Vogal anterior sílaba livre Estudo de Tempo Real Gráfico 5: Vogal anterior sílaba livre Estudo de Tempo Aparente Gráfico 6: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década Gráfico 7: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Gráfico 8: Vogal anterior travada por Sibilante /S/ Gráfico 9: Vogal anterior travada por /S/ - Estudo de Tempo Real Gráfico 10: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Gráfico 11: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década Gráfico 12: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Natureza da Vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Gráfico 13: Vogal anterior travda por Nasal /N/ Gráfico 14: Vogal anterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Real Gráfico 15: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Gráfico 16: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década Gráfico 17: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Gráfico 18: Vogal anterior /e/ - Estrutura silábica Gráfico 19: Vogal posterior /o/ Gráfico 20: Vogal posterior sílaba livre Gráfico 21: Vogal posterior sílaba livre Estudo de Tempo Real Gráfico 22: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década Gráfico 23: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década

14 Gráfico 24: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Gráfico 25: Vogal posterior travada por Sibilante /S/ Gráfico 26: Vogal posterior travada por /S/ - Estudo de Tempo Aparente Gráfico 27: Vogal posterior travada por Nasal /N/ Gráfico 28: Vogal posterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Aparente Gráfico 29: Vogal posterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Gráfico 30: Vogal posterior travada por Rótico /R/ Gráfico 31: Vogal posterior Estrutura silábica Gráfico 32: Vogal anterior Leitura do Texto / Mulheres Gráfico 33: Vogal posterior Leitura do Texo / Mulheres Gráfico 34: Vogal anterior Leitura do Texto / Homens Gráfico 35: Vogal posterior Leitura do Texto / Homens Gráfico 36: Pergunta 1 questionário fechado / Teste de percepção vogal posterior. 171 Gráfico 37: Pergunta 2 questionário fechado / Teste de percepção vogal anterior Gráfico 38: Pergunta 3 questionário fechado / Década Gráfico 39: Pergunta 4 questionário fechado / Década Gráfico 40: Pergunta 5 questionário fechado / Teste de percepção vogais anterior e posterior Gráfico 41: Pergunta 6 questionário fechado / Teste de nacionalidade Gráfico 42: Pergunta 7 questionário fechado / Teste de nacionalidade Gráfico 43: Pergunta 8 questionário fechado / Teste de nacionalidade Gráfico 44: Pergunta 9 questionário fechado / Teste de regionalidade Gráfico 45: Pergunta 10 questionário fechado / Teste de regionalidade Gráfico 46: Pergunta 11 questionário fechado / Idade Gráfico 47: Pergunta 12 questionário fechado / Teste de escolaridade

15 Gráfico 48: Pergunta 13 questionário fechado / Teste de escolaridade Gráfico 49: Pergunta 14 questionário fechado / Teste de profissão Gráfico 50: Pergunta 15 questionário fechado / Teste de profissão Gráfico 51: Pergunta 16 questionário fechado / Sexo/Gênero Gráfico 52: Pergunta 17 questionário fechado / Teste grau de formalidade Gráfico 53: Pergunta 18 questionário fechado / Teste grau de formalidade Gráfico 54: Avaliação positiva Mulheres Gráfico 55: Avaliação negativa Mulheres Gráfico 56: Avaliação positiva Homens Gráfico 57: Avaliação negativa Homens Gráfico 58: Pergunta 1 questionário aberto / Teste de percepção Gráfico 59: Pergunta 2 questionário aberto / Teste autoavaliação e insegurança linguística Gráfico 60: Pergunta 3 questionário aberto

16 Índice de Tabelas Tabela 1: Quando vocálico Callou & Leite (2005) Tabela 2: Quadro vocálico pretônica Tabela 3: Padrões de mudança no indivíduo e na comunidade (LABOV, 2005) Tabela 4: Estratificação do corpus Tabela 5: Leitura do texto dados a ser analisados Tabela 6: Exemplo questionário fechado avaliativo Tabela 7: Exemplo categorização ordenada Tabela 8: Exemplo teste de reação subjetiva Tabela 9: Vogal anterior sílaba livre Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 10: Vogal anterior sílaba livre Número de sílabas Tabela 11: Vogal anterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 12: Vogal anterior sílaba livre Cotiguidade da prteônica à sílaba tônica Tabela 13: Tabela 14: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Vogal anterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Tabela 15: Vogal anterior sílaba livre Década Tabela 16: Vogal anterior sílaba livre Faixa Etária Tabela 17: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década Tabela 18: Vogal anterior sílaba livre Sexo/Gênero Tabela 19: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Tabela 20: Vogal anterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Tabela 21: Vogal anterior travada por /S/ - Faixa Etária Tabela 22: Vogal anterior travada por /S/ - Número de sílabas... 82

17 Tabela 23: Vogal anterior travada por /S/ - Natureza da vogal alvo Tabela 24: Vogal anterior travada por /S/ - Década Tabela 25: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Tabela 26: Vogal anterior travada por /S/ - Sexo/Gênero Tabela 27: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década Tabela 28: Vogal anterior travada por /S/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 29: Tabela 30: Tabela 31: Tabela 32: Vogal anterior travada por /S/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica... Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade... Vogal anterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo... Vogal anterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Tabela 33: Vogal anterior travada por /N/ - Número de sílabas Tabela 34: Vogal anterior travada por /N/ - Faixa Etária Tabela 35: Vogal anterior travada por /N/ - Sexo/Gênero Tabela 36: Vogal anterior travada por /N/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Tabela 37: Vogal anterior travada por /N/ - Década Tabela 38: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Tabela 39: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década Tabela 40: Vogal anterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 41: Vogal anterior travada por /N/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 42: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Tabela 43: Vogal anterior sílaba livre Tabela 44: Vogal anterior sílaba travada por /S/

18 Tabela 45: Vogal anterior sílaba travada por /N/ Tabela 46: Vogal posterior sílaba livre Faixa etária Tabela 47: Vogal posterior sílaba livre Sexo/Gênero Tabela 48: Vogal posterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 49: Vogal posterior sílaba livre Década Tabela 50: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década Tabela 51: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Tabela 52: Tabela 53: Vogal posterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo... Vogal posterior sílaba livre Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Tabela 54: Vogal posterior sílaba livre Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 55: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Tabela 56: Vogal posterior sílaba livre Número de sílabas Tabela 57: Vogal posterior sílaba livre Natureza da vogal alvo Tabela 58: Tabela 59: Vogal posterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo... Vogal posterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 60: Vogal posterior travada por /S/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 61: Vogal posterior travada por /S/ - Natureza da vogal alvo Tabela 62: Vogal posterior travada por /S/ - Sexo/Gênero Tabela 63: Vogal posterior travada por /S/ - Década Tabela 64: Vogal posterior travada por /S/ - Número de sílabas Tabela 65: Vogal posterior travada por /S/ - Faixa Etária

19 Tabela 66: Tabela 67: Vogal posterior travada por /S/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica... Vogal posterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 68: Vogal posterior travada por /N/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 69: Vogal posterior travada por /N/ - Número de sílabas Tabela 70: Vogal posterior travada por /N/ - Sexo/Gênero Tabela 71: Vogal posterior travada por /N/ - Década Tabela 72: Vogal posterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Tabela 73: Vogal posterior travada por /N/ - Natureza da vogal alvo Tabela 74: Vogal posterior travada por /N/ - Faixa Etária Tabela 75: Vogal posterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Tabela 76: Tabela 77: Tabela 78: Vogal posterior travada por /N/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica... Vogal posterior travada por /R/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo... Vogal posterior travada por /R/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Tabela 79: Vogal posterior travada por /R/ - Faixa Etária Tabela 80: Vogal posterior travada por /R/ - Sexo/Gênero Tabela 81: Vogal posterior travada por /R/ - Década Tabela 82: Vogal posterior travada por /R/ - Contiguidade da vogal pretônica a sílaba tônica Tabela 83: Vogal posterior travada por /R/ - Natureza da vogal alvo Tabela 84: Vogal posterior travada por /R/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 85: Vogal posterior travada por /R/ - Número de sílabas Tabela 86: Vogal posterior sílaba livre Tabela 87: Vogal posterior sílaba travada por /S/

20 Tabela 88: Vogal posterior sílaba travada por /N/ Tabela 89: Vogal posterior sílaba travada por /R/ Tabela 90: Tabela 91: Tabela 92: Tabela 93: Mulheres perguntas 12 e 13 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade... Homens perguntas 12 e 13 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade... Mulheres perguntas 14 e 15 questionário fechado / Teste subjetivo de profissão... Homens perguntas 14 e 15 questionário fechado / Teste subjetivo de profissão Tabela 94: Frases questionário fechado avaliativo

21 21 INTRODUÇÃO A presente dissertação tem por objeto de análise as vogais médias pretônicas /e/ e /o/, em nomes, considerando três décadas distintas (1970, 1990 e 2010), a partir de dados coletados de informantes da cidade do Rio de Janeiro. Consideram-se diferentes contextos silábicos: menino, felicidade, arquitetura, matemática, general, colégio, bonito, almofada, limonada, (sem travamento de sílaba), mentira, amendoeira, condição, responsável, empregada, juventude, besteira, intestino, palestino, costume, iugoslavos, estrada, hospital, perfume, portaria recordação, erva exercício, universidade, hortaliça (com travamento silábico). Intenta-se, portanto, realizar um estudo do alteamento em tempo real de curta duração, considerando-se um lapso temporal de vinte anos entre as décadas. Juntamente com a pesquisa Sociolinguística, será aprofundada a discussão acerca do problema da avaliação, proposto por Weinreich, Labov e Herzog (2006: 36), a partir dos estudos de Crenças e Atitudes, a fim de observar a realização, a percepção e avaliação que o usuário faz da língua em relação ao alteamento das vogais médias pretônicas. As vogais médias pretônicas apresentam realizações diferenciadas no território brasileiro, servindo ainda como base para estabelecer as variedades dialetais do Brasil. No Norte1, há o predomínio das pretônicas de timbre aberto [ɛ], [ɔ], subdivididos nos subfalares amazônico e nordestino, ao passo que, no Centro-Sul, as de timbre fechado [e] e [o], subdivididos nos falares baiano, fluminense, mineiro e sulista. O estado do Rio de Janeiro insere-se entre os dialetos do Sul, constituindo juntamente com parte de Minas Gerais e com o estado do Espírito Santo o subfalar fluminense, em que há o predomínio da realização das médias fechadas (cf. NASCENTES, 1953). O sistema vocálico do português brasileiro apresenta sete fonemas vocálicos /a/, /e/, /ɛ/, /i/, /o/, /ɔ/ e /u/ depreendidos em sílaba tônica. Organizado na forma triangular, o sistema vocálico se ordena a partir do modo de articulação das vogais. Segundo Câmara Jr. (2006) e Leite & Callou (2005), a organização das vogais no sistema vocálico se dá através do levantamento do corpo da língua e do arredondamento dos lábios. Segundo Câmara Jr (2006: 41), 1 As vogais pretônicas têm comportamento variável em todos os dialetos do português brasileiro. Em relação à divisão proposta por Nascente (1922), estudos recentes revelam a tendência a a vogais médias fechadas no Sul e Sudeste, ao passo que no Nordeste tende o predomínio das abertas. Considerando-se três variedades do português, a saber, Rio de Janeiro (CALLOU et alii, 1995), Salvador/BA (SILVA, 1991) e Bragança/PA (FREITAS, 2003), respectivamente Sudeste, Nordeste e Norte, os estudos indicam que, no RJ, as médias fechadas [e] e [o] correspondem a um total de 66% e 68,5%, respectivamente; Salvador apresenta 60,3% de concretização de [ɛ] e 57,8% de [ɔ]. Entretanto, na região Norte, as variantes médio alta [e o] e altas [i u] estão em alternância [e] / [ɛ] 45% e 41%, [o] / [ɔ] 39% e 36%, respectivamente. Isso indica que o comportamento da região Norte se diferencia tano do Sul / Sudeste quanto do Nordeste.

22 22 Entre umas e outras, sem avanço ou elevação apreciável da língua, tem-se a vogal /a/ como vértice mais baixo de um triângulo de base para cima. A articulação da parte anterior central (ligeiramente anterior) e posterior da língua dá a classificação articulatória das vogais - anteriores, central e posteriores. A elevação gradual da língua, na parte anterior ou na parte posterior, conforme o caso, dá a classificação articulatória de vogal baixa, vogais médias de 1º grau (abertas), vogais médias de 2º grau (fechadas) e vogais altas. Tabela 1: Quando vocálico Callou & Leite (2005) De acordo com Callou & Leite (2005: 79), observa-se que o arredondamento dos lábios não constitui um traço distintivo, uma vez que as vogais anteriores e central são nãoarredondadas e as posteriores são sempre arredondadas. Além disso, Callou & Leite (2005) defendem que a vogal /a/ encontra-se na posição central mais baixa do triângulo, pois, além de ser a única vogal articulada na posição central, esta não apresenta uma dualidade opositiva, ou seja, não há nenhuma realização de vogal baixa. Entretanto, esse sistema vocálico composto de sete sílabas ocorre somente em sílaba tônica. Nas sílabas átonas, há uma redução do sistema vocálico. Esta redução é motivada pelo o fenômeno nomeado de neutralização que, segundo Callou & Leite (2005: 79), é o processo pelo qual dois ou mais fonemas que se opõem em determinado contexto deixam de fazê-lo em outro. Segundo as autoras, quanto maior a atonicidade da vogal, maior a possibilidade de ocorrer neutralização. Em relação às sílabas não-finais, ou pretônicas, a neutralização ocorre entre as vogais médias, mais especificamente entre as vogais [e] e [ɛ], [o] e [ɔ]. Assim, o sistema vocálico se reduz a cinco. Abaixo, observa-se o quadro reduzido das vogais pretônicas: VOGAIS Anteriores Central Posteriores Altas /e/ /u/ Médias /i/ /o/ Baixas /a/ Não arredondadas Arredondadas Tabela 2: Quandro vocálico pretônicas

23 23 No entanto, o quadro de cinco vogais pretônicas (/a/, /e/, /i/, /o/ e /u/) não se mantém estável nas diversas variedades do português brasileiro. Já na década de 1970, Câmara Jr. (1970) demonstra a variação fonética em contexto pretônico, apresentando o conceito de debordamento, que consiste na invasão do espaço acústico de uma vogal por outra que com ela faria par opositivo, uma variação, ou melhor, flutuação dentro do sistema que atrofia e hipertrofia elementos deles. (BRONDAL, 1943: 20-1 apud CAMARA JR, 1970). Esse fenômeno fonético variável é nomeado de alteamento ou alçamento pretônico e consiste na realização alternante entre as vogais médias [e] e [o] e altas [i] e [u]. Como defende Câmara Jr (1970), no alteamento, ocorre neutralização fonética, mas não fonológica, pois não há redução do quadro de vogais pretônicas de cinco para três vogais, como se pode comprovar pela oposição distintivas nos exemplos: r[o]maria, r[u]maria, r[e]maria e r[i]maria; p[e]sada e p[i]sada; c[o]mprimento e c[u]mprimento, nos quais as médias [e] e [i], [o] e [u], em posição pretônica se opõem fonologicamente. Alguns autores discutem a possibilidade de falantes serem estigmatizados ao produzirem a variante alteada. Bisol (1981) - para a fala do Sul - e Callou & Leite (2005) - para a fala carioca - afirmam que a variação da pretônica não parece apresentar estigmatização social, pois ocorre na fala popular assim como na culta. Já Viegas (1987), em estudo da fala mineira, afirma que a variação [e] ~ [i] e [o] ~ [u] traz em si um certo estigma social e utiliza um programa de televisão para confirmar tal afirmação. Segundo a autora, a personagem principal da novela recrimina a empregada doméstica quando esta pronuncia o vocábulo intistino. No entanto, a avaliação de determinados fenômenos do nível fonológico não é de tão fácil categorização quanto ao seu status social. Labov (2008: ; 360) propõe uma classificação para as mudanças sonoras, de acordo com seu julgamento pela comunidade de fala. Dessa forma, um fenômeno variável é considerado um indicador de pertencimento a um grupo (está encaixada em uma matriz social), se está abaixo do nível da consciência social. Trata-se de uma mudança vinda de baixo, pois a variável não apresenta nenhum padrão de variação estilística na fala daqueles que a usam, afetando todos os itens numa dada classe de palavras (p. 210). Pode ainda um fenômeno variável ser um marcador, uma vez que a mudança sonora [...] alcançou os limites de sua expansão, tornando-se uma norma da que comunidade que a utiliza; exibe estratificação estilística tanto quanto estratificação social. Embora possam estar abaixo do nível da consciência, produzirão respostas regulares em testes de reação subjetiva (p. 360). Nesse caso, a variável exibe variação estilística e ainda consiste em uma mudança vida de baixo (p. 211). Se o fenômeno variável parte de uma classe social de

24 24 menor prestígio, é possível que o grupo social de maior prestígio venha a estigmatizar uma determinada variante estereótipo. Cabe destacar que não necessariamente uma mudança vinda de cima (ou uma forma prestigiosa) está de acordo com a norma padrão; sua classificação como prestigiosa se deve ao seu uso pela classe de maior poder social (p. 212). Em relação ao alteamento, entende-se que o fenômeno esteja entre um indicador - visto que não está no nível da consciência do falante e, ainda, ocorre tanto entre falantes de escolarização superior quanto nos de menor escolarização, e um marcador por apresentar avaliação negativa em alguns testes de reação subjetiva (p. 360). Cabe, no entanto, discutir sua avaliação social, visto que, como diz Labov (2008: 290), os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente tenham o mesmo significado e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas. Com o objetivo de observar a variação nas vogais pretônicas em um estudo de tempo real de curta duração, utiliza-se a teoria da Variação e da Mudança ou Sociolinguística Variacionista, que prevê a hipótese de que a língua se constitui de heterogeneidade ordenada, ou seja, defende que fatores de ordem estrutural e não estrutural condicionam a variação presente no sistema. Isso explica porque as línguas mudam e as pessoas continuam se compreendendo. Além disso, a Sociolinguística propõe que a mudança linguística seja analisada a partir de três tipos de estudos: tempo real de longa duração, tempo real de curta duração e tempo aparente. O primeiro analisa dados linguísticos de diferentes séculos. O estudo de tempo real de curta duração, como o nome já sugere, analisa dados de anos próximos, como é empreendido na presente pesquisa. O último tipo de estudo analisa o comportamento linguístico de diferentes gerações que convivem na mesma época, diversos informantes de diferentes faixas etárias. Entende-se que diferentes gerações podem apresentar comportamentos linguísticos diferentes, considerando que os falantes mais jovens detêm a variante inovadora, ao passo que os de idade avançada, a variante conservadora. Segundo Labov (1994), a melhor maneira para analisar a variação e a mudança linguísticas seria a combinação de estudo de tempo real com o de tempo aparente. Com objetivo de analisar as vogais médias pretônicas em nomes, a presente pesquisa se baseia no estudo de tempo real de curta duração juntamente com o estudo de tempo aparente. Os estudos baseados na teoria Sociolinguística costumam observar se o uso de uma variante é estigmatizado e se o indivíduo que a utiliza sofre ou não preconceito linguístico. Tradicionalmente, esse estudo é empreendido por meio do estudo de variáveis extralinguísticas, como sexo/gênero e grau de escolaridade. Entretanto, muitas vezes é difícil observar a avaliação do informante em relação a uma determinada variante linguística, somente por meio da análise

25 25 das variáveis sociais, visto que nem todos os fenômenos são conscientemente percebidos pelos usuários da língua. Pensando nessa condição, estudiosos como Weireich, Labov e Herzog (1968) destacam a importância de conciliar a teoria Sociolinguística com os pressupostos e a metodologia dos estudos de Crenças e Atitudes (LAMBERT e LAMBERT, 1975): O princípio essencial que emerge do trabalho de Lambert é o de que existe um conjunto uniforme de atitudes frente à linguagem que são compartilhadas por quase todos os membros da comunidade de fala, seja no uso de uma forma estigmatizada ou prestigiada da língua em questão (LABOV, 2008: 176). Weinreich, Labov e Herzog (2006) enumeram cinco problemas que a Sociolinguística deve analisar. Entre eles, encontra-se o problema da avaliação, que consiste no tratamento subjetivo do falante em relação a uma variante, se de prestígio ou estigmatizada. Nesse sentido, propõe-se nesta pesquisa a conjugação dessas teorias, com a finalidade de analisar a valoração social do fenômeno do alteamento vocálico, refinando, portanto, os resultados relativos às variáveis extralinguísticas controladas na metodologia dos estudos de variação e mudança. Para a análise do fenômeno do alteamento em nomes, esta pesquisa se propõe a discutir os seguintes problemas, considerando-se cada metodologia empregada. Nesse sentido, em relação à análise sociolinguística tradicional, questiona-se: 1. Qual é o comportamento/produtividade das vogais pretônicas, em estudo de tempo real e aparente? 2. Há atuação tanto de variáveis linguísticas quanto sociais? 3. A estrutura silábica em que a pretônica se encontra é um fator relevante para o alteamento? No que tange aos estudos de Crenças e Atitudes, pergunta-se: 4. Os usuários da língua realizam o alteamento quando leem um texto? 5. Os usuários da língua percebem o alteamento na fala de outra pessoa? 6. Qual é a avaliação subjetiva que se faz do falante que utiliza as variantes alteadas [i] e [u]? Com o objetivo de responder tais questionamentos, realizaram-se duas análises diferentes. A primeira está baseada na metodologia Sociolinguística pela constituição um corpus estratificado, cujos dados foram coletados em entrevistas concedidas por informantes no Município do Rio de Janeiro, em três décadas: 1970, 1990 e Esses dados foram analisados pelo controle de variáveis linguísticas e não linguísticas. A segunda análise baseouse no estudo de Crenças e Atitudes, por meio de testes de atitudes submetidos a vinte

26 26 informantes (10 mulheres e 10 homens) com objetivo de observar as avaliações subjetivas dos informantes em relação ao fenômeno do alteamento. A presente pesquisa tem por objetivos específicos analisar: 1. o comportamento das vogais médias pretônicas em tempo real de curta duração, considerando as três décadas mencionadas. Parte-se da hipótese de que o alteamento ocorre nas décadas de 1970, 1990 e 2010, apresentando maior incidência na década de 1970, visto tratar-se de fenômeno que está, de um modo geral, se reduzindo (cf. CALLOU, MORAES e LEITE, 2002). Observa-se, no entanto, que isso pode variar, a depender da estrutura silábica em análise; 2. o comportamento das vogais médias pretônicas em tempo aparente, considerando as três faixas etárias, a fim de verificar se sua maior produtividade ocorre entre os mais novos ou entre os mais velhos; 3. o alteamento das pretônicas nos nomes, visto que diversos estudos apontam a diferença entre nomes e verbos. Por exemplo, a análise Viegas afirma que não parece [...] haver diferenças significativas que possam ser atribuídas à classe de palavras e não a outro grupo de fatores. Já Avelheda & Batista (2011) verificaram que os verbos, especificamente os pertencentes à segunda e terceira conjugações, são mais passíveis ao alteamento do que os nomes. Em Avelheda (2013), analisaram-se as classes gramaticais dos verbos e dos nomes em diferentes estruturas silábicas, resultando que os verbos foi a categoria que mais favoreceu o alteamento das vogais médias, anterior e posterior. O objetivo de analisar somente os nomes é verificar a produtividade e os condicionamentos dessa classe gramatical em relação ao alteamento das vogais pretônicas. 4. se o que ocorre nos nomes é influência de um condicionamento lexical ou neogramático. De acordo com a abordagem neogramática, as mudanças linguísticas são foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingem toda a palavra do léxico que apresentem contexto fonético favorecedor ao fenômeno. Já a abordagem difusionista afirma que as mudanças são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais. Nessa abordagem, a mudança começa em um item lexical de traços [+ comum, + informal + frequente], mudança que pode se difundir para outros itens. Ainda, Oliveira (1991: 102) afirma que o contexto fonético é apenas mais um auxiliar da mudança por difusão lexical. 5. a atuação de variáveis linguísticas e sociais, bem como a relevância de cada uma delas; 6. se a estrutura silábica em que se insere a vogal pretônica interfere na realização do alteamento. Essa análise está baseada em estudos realizados anteriormente, cujos

27 27 resultados revelaram que o alteamento tem comportamento variável, a depender do tipo de estrutura silábica (Cf. AVELHEDA, 2013; SOUZA, 2011; SOUZA 2012; BATISTA DA SILVEIRA & SOUZA, 2014). 7. Nos testes de atitude, a avaliação subjetiva dos informantes, em relação ao usuário da língua realiza o alteamento. Parte-se da hipótese de que os falantes, em geral, realizam o alteamento, mas não o percebe em sua própria produção. Ainda, que é possível que o avaliador perceba o alteamento na fala de outra pessoa, e julguem, de alguma forma, quem utiliza a variante alteada, embora seja um fenômeno abaixo do nível da consciência do falante (LABOV, 2008). Esta dissertação é composta por seis capítulos - incluindo-se a presente introdução - cuja constituição passa a ser exposta a seguir: No segundo capítulo, apresentam-se as teorias que embasam a pesquisa, este capítulo se divide em duas seções: (i) a primeira reservada à teoria Sociolinguística e (ii) a segunda reservada à fundamentação do estudo de Crenças e atitudes. No terceiro capítulo, apresentam-se as metodologias que foram adotadas. O capítulo será dividido em duas seções: (i) uma destinada à metodologia do estudo de tempo real de curta duração, em que se consideram variáveis linguísticas e extralinguísticas e (ii) outra destinada ao estudo de Crenças e Atitudes, que analisa o fenômeno a partir dos resultados dos testes de atitudes. O quarto capítulo será destinado à análise do fenômeno do alteamento. Esse capítulo está dividido em duas seções: (i) na primeira, desenvolve-se a análise, a partir dos dados coletados nas entrevistas da década de 1970, 1990 e 2010, considerando-se cada estrutura silábica a que pertence a vogal pretônica anterior /e/; (ii) a segunda seção apresenta a análise, a partir dos dados coletados nas entrevistas da década de 1970, 1990 e 2010, observando-se as estruturas silábicas em que a vogal posterior /o/ se insere. Cabe destacar que a revisão de literatura será empreendida juntamente à análise. No quinto capítulo, apresentam-se as análises dos testes de crenças e atitudes aplicados a vinte informantes, cujos resultados serão comparados aos encontrados nas análises probabilísticas. O último capítulo é o de conclusão. Este tem como objetivo principal correlacionar as três análises com o propósito de observar: (i) os fatores linguísticos favorecedores do alteamento tanto das vogais anteriores quanto das vogais posteriores; (ii) se os resultados

28 28 extralinguísticos corroboram os resultados obtidos a partir dos testes de crenças e atitudes, e (iii) como os falantes avaliam / julgam o fenômeno do alteamento das vogais médias pretônicas. Espera-se que a presente dissertação possa contribuir para a caracterização sociolinguística do Português brasileiro, especificamente no que tange ao comportamento das médias pretônicas na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que visa a discutir o problema da avaliação.

29 29 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 2.1 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA O estudo está fundamentado nos princípios teóricos e metodológicos da Sociolinguística laboviana, cujas bases metodológicas se encontram em Weinreich, Labov & Herzog (1968/2006) e Labov (1972, 1994, 2001, 2008). A proposta teórica da Sociolinguística rompe com o axioma da homogeneidade da língua, condição anteriormente considerada indispensável para que se possa verificar a estrutura linguística, defendendo, em vez disso, a hipótese de que a língua se constitui de heterogeneidade ordenada. Para tanto, parte da hipótese de que a mudança linguística não é aleatória, mas condicionada por fatores estruturais e não estruturais e que a variação está prevista no sistema, motivo pelo qual as línguas mudam e, ainda assim, os falantes continuam se compreendendo. Segundo a Sociolinguística e seus estudiosos, diferentes sistemas linguísticos coexistem e estão disponíveis aos falantes de toda a comunidade, o que resulta considerar que diferentes formas de expressar o mesmo conteúdo podem alternar-se. Hipoteticamente, formas em variação podem desencadear: (i) o desaparecimento de uma das variantes, o que seria caso de mudança linguística; (ii) a predominância de uma variante sobre a outra, esta com comportamento semi-categórico, indicando ou mudança em progresso, ou (iii) a coexistência de duas ou mais variantes em variação estável. Em decorrência dessas possiblidades, a Sociolinguística propõe que toda mudança implica um estágio de variação. No entanto, nem todo fenômeno em variação conduz a uma mudança linguística. Interessa a Sociolinguística o estudo dos fenômenos variáveis, a fim de observar as possíveis mudanças no sistema linguísticos. Além disso, diferentemente das teorias anteriores, a Sociolinguística propõe, como dito, que fatores linguísticos e sociais (extralinguísticos) também são condicionantes na variação de um fenômeno. Segundo Labov (2008: 20-1), Nem todas as mudanças são altamente estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. Até mesmo a mudança em cadeia mais sistemática ocorre num tempo e num lugar específico, o que exige uma explicação (...) O ponto de vista do presente estudo é o de que não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre. Ou, dizendo de outro modo, as pressões sociais estão operando continuamente sobre a língua, não de algum ponto remoto no passado, mas como uma força social imanente agindo no presente vivo. Portanto, para a Sociolinguística, os condicionamentos extralinguísticos são de suma importância para o estudo da variação e mudança linguística. Como afirmam Weireich, Labov

30 30 & Herzog (2006: 126) fatores linguísticos e sociais estão intimamente inter-relacionados no desenvolvimento da mudança linguística. Com objetivo de observar a variação e a mudança linguística, as pesquisas Sociolinguísticas utilizam-se de três tipos de estudos: de tempo real de curta duração, de tempo real de longa duração e de tempo aparente. O estudo de tempo real de longa duração analisa dados de diferentes diacronias. Este estudo apresenta uma grande dificuldade que é a ausência de dados de fala dos usuários da língua, o que obriga o pesquisador a recorrer a textos escritos. Porém é difícil saber se, de fato, a amostra representa a língua da comunidade da época, uma vez que muitos textos sobrevivem até hoje através de cópias realizadas por editoras modernas, que às vezes fazem acréscimos que julgam necessário. Além disso, as estruturas que sobrevivem nos textos escritos são muitas vezes transcritas segundo a norma culta, não representando a realidade das formas linguísticas orais da época. Ainda, há que se considerar que qualquer fenômeno linguístico em variação se inicia na modalidade oral da língua e seu surgimento na modalidade escrita tende a ocorrer (se ocorrer) muito tardiamente. Sobre a pesquisa em dados históricos, em registros escritos, Labov (1994: 11) afirma que Documentos históricos sobrevivem por acaso, não por um desígnio intencional, e a seleção que está disponível é o produto de uma série imprevisível de acidentes históricos. As formas linguísticas em tais documentos são frequentemente distintas das vernaculares dos escritores, refletindo, ao contrário, esforços para capturar um dialeto normativo que nunca foi língua nativa de ninguém. Como resultado, muitos documentos são totalmente afetados com os efeitos de hipercorreção, mistura de dialetos e erros de escribas. O estudo de tempo real de curta duração é realizado a partir de dados coletados de uma mesma comunidade, mas em diferentes intervalos de tempo e se divide em dois tipos de estudo para analisar os fenômenos variáveis. São eles: o de tendências, que compara amostras de uma mesma comunidade, e o de painel, que utiliza amostras de um mesmo indivíduo (por recontato), em diferentes períodos do tempo. O estudo do tipo tendências é realizado através de coletas aleatórias de dados, de falantes de uma comunidade linguística específica, em momentos distintos. As pessoas que contribuem para a construção do corpus podem ser consideradas representantes da comunidade, uma vez que a amostra é sociolinguisticamente estratificada. O resultado da comparação de diversas comunidades equivale ao estudo da comunidade como o todo. Labov (1994: 97), entretanto, apresenta um problema em relação ao estudo tipo tendências. Segundo o autor, o estudo de tendência é satisfatório, mas é raro encontrar um estudioso que a 5, 10 ou 20 anos

31 31 estejam interessado nos mesmos problemas. Certamente, Labov (1994) fez esse comentário levando em consideração que o pesquisador construiria o corpus em um certo ano e esperaria 5, 10 ou até mesmo 20 anos para formar outro. Hoje, há bancos de dados disponíveis na internet, com o registro de diferentes décadas, e isso torna possível realizar um trabalho com estudo do tipo tendência sem esperar vários anos para concretizá-lo. No estudo do tipo painel, alguns informantes são entrevistados, e após alguns anos, a partir de recontato, os informantes são novamente entrevistados. Com base nessas entrevistas, é possível verificar a variação ou mudança linguística que ocorrem na fala do indivíduo nesse espaço de tempo. No entanto, tal estudo pode apresentar algumas dificuldades, como por exemplo, o falecimento da pessoa anteriormente entrevistada. Além disso, Labov (1994) afirma que tal estudo não costuma ser realizado, pois são muito caros e são raros os apoios financeiros em uma pesquisa que dure de 5 a 10 anos. Segundo Labov (1994: 153), os estudos de painel e de tendências mostram as possíveis mudanças linguísticas na comunidade e na fala individual. Para o autor, as mudanças produzem quatro tipos de padrões distintos: Tabela 3: Padrões de mudança no indivíduo e na comunidade (LABOV, 1994: 153) O primeiro padrão de mudança é a estabilidade, em que se acredita que se o comportamento do indivíduo é estável durante toda a vida, o mesmo ocorre com a comunidade, ou seja, se a língua não sofre variação, ela é estável, invariante e homogênea como defendem alguns estudiosos. O segundo padrão é a estratificação por idade, os indivíduos mudam seu comportamento linguístico durante toda a vida, mas a comunidade geral não muda ; logo, entende-se que é a faixa etária que pode estar influenciando, pois, as pessoas envelhecem e muitas vezes modificam o seu vocabulário com o avançar da idade. O terceiro padrão é a mudança geracional, em que as mudanças individuais levam a uma mudança na comunidade. Segundo Labov (1994: 153), a mudança geracional ocasionaria mudanças de ordem sonora e morfológica:

32 32 Os falantes individuais ingressam na comunidade com uma frequência característica para uma variedade particular, mantida durante toda a sua vida, mas os incrementos regulares nos valores dotados pelos indivíduos, frequentemente realizados de geração em geração, levam à mudança linguística na comunidade. O último padrão é o das mudanças comunitárias que ocorrem quando todos os membros de uma comunidade modificam suas frequências de uso juntos, ao adquirirem novas formas simultaneamente. Segundo Labov (1994), este seria o padrão de mudanças de ordem lexical e sintática. Os padrões de estratificação por idade e de mudança geracional estão relacionados a mudanças que ocorrem no indivíduo, ou seja, que podem ser observadas num estudo do tipo painel. Já os padrões estabilidade e mudanças comunitárias relacionam-se com as mudanças em comunidade, ou seja, num estudo de tendências. Entende-se que o estudo de tendências seja o mais adequado para observar as mudanças linguísticas de uma comunidade. Segundo Paiva e Duarte (2003: 17), ao regravar sujeitos que já foram entrevistados em momento anterior, o estudo de painel perde a aleatoriedade, não representando a comunidade de fala como um todo. Para Labov (1994), retomado em Paiva e Duarte (2003), os dois estudos são de grande importância, pois o de tendências observa a variação linguística na comunidade como um todo e o estudo de painel, mais especificamente, nos indivíduos. De acordo com os autores, um bom estudo sobre variação linguística seria conciliar ambos os modelos. O último estudo é o de tempo aparente. Este se baseia no pressuposto de que comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem ilustrar diferentes estágios na língua, uma vez que a estabilidade linguística do indivíduo se daria por volta dos quinze anos de idade. Assim, um falante de vinte e cinco anos codificaria uma norma de uso de dez anos passados e assim sucessivamente. Além disso, fenômenos inovadores estariam na fala de informantes mais jovens, ao passo que os conservadores estariam na de idade mais avançada. Labov (1994), retomado por Paiva e Duarte (2003), afirma que o estudo de tempo aparente apresenta alguns problemas e contradições. Os problemas são que há dificuldade: (i) em obter boas amostras de fala espontânea de pessoas com 70 e 80 anos, pois algumas pessoas apresentam dificuldades na sua fala por causa de perdas de dentes e enrouquecimento da voz, outras apresentam dificuldades nas habilidades mentais como perda de memória, interesse e atenção; (ii) em definir qual a faixa etária mais jovem deve ser utilizada para observar uma mudança linguística em curso, pois se sabe que a uma criança de dois anos falta grande parte de conhecimento linguístico. Labov (1994: 102) cita tal dificuldade em seu estudo sobre

33 33 mudança fônica em Nova York em que observou a fala em crianças de 8 a 12 anos de idade. Assim, cabe ao pesquisador definir que faixa etária mais jovem seria adequada em sua análise. Outras controvérsias dizem respeito: (iii) à validade da hipótese clássica de que a estabilidade linguística ocorre no final da puberdade e (iv) ao fato de que não há necessariamente uma relação sistemática entre faixa etária, uso linguístico e mudança em processo na língua. Por isso, Labov (1994: 123) afirma que o melhor método para analisar a mudança linguística é combinar o estudo de tempo aparente com o estudo em tempo real, visto que somente um estudo em tempo aparente não diferencia uma gradação etária de uma mudança geracional. Weinreich, Labov e Herzog (2006) enumeram cinco problemas que devem ser discutidos e observados pelo estudo Sociolinguístico. São eles: (i) implementação; (ii) transição; (iii) fatores condicionantes; (iv) encaixamento e (v) avaliação. O problema de implementação visa a discutir que fatores são importantes para a implementação da mudança. Além disso, de acordo com o tempo cronológico, questiona-se por que a mudança ocorre em uma determinada época em uma língua, mas não ocorre em outras línguas ou ocorrem em épocas diferentes. Nas palavras de Weireich, Labov & Herzog (2006: 37) porque as mudanças, num aspecto estrutural, ocorrem numa língua particular numa dada época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras épocas. No caso do fenômeno do alteamento, por que primeiramente o alteamento ocorre no português europeu do século XVIII e depois no português brasileiro?2 O segundo problema é o da transição que tem como objetivo observar quais são os estágios por que a língua passa até chegar à mudança linguística, ou seja, como afirma Avelheda (2013: 61) o que ocorre com a língua até que a mudança seja finalizada. Nas palavras de Weinreich, Labov & Herzog (2006: 36), é relevante indagar sobre os estágios intervenientes que podem ser observados, ou que devem ser postulados, entre quaisquer duas formas de uma língua definida para uma comunidade linguística em épocas diferentes. O terceiro problema diz respeito aos fatores condicionantes. Como já foi dito, a teoria Sociolinguística afirma que a língua sofre variações e mudanças e estas são condicionada por fatores linguísticos e extralinguísticos. Assim, o problema dos fatores condicionantes tem como propósito observar quais são os fatores condicionantes para a fenômeno em mudança e variação. Nas palavras de Weinreich, Labov & Herzog (2006: 36), nós queremos investigar o conjunto 2 Atribui-se essa mudança a alterações no padrão rítmico do Português Europeu, o que levou ao alteamento e à supressão da vogal átona (BATISTA DA SILVEIRA, 2014). Não se discutirão, neste trabalho, as diferenças entre Português Brasileiro e Europeu.

34 34 de mudanças possíveis e de condições possíveis para mudanças que podem ocorrer numa estrutura de determinado tipo. Em relação ao problema do encaixamento, a Sociolinguística visa a observar como as mudanças linguísticas encontram-se encaixadas no sistema linguístico e extralinguístico, em outras palavras, qual é a correlação entre o social e o linguístico (e vice-versa) e de que modo uma mudança pode levar a outra mudança na língua. No problema da avaliação, os autores defendem a importância de se observar avaliação subjetiva dos falantes da língua em relação aos fenômenos linguísticos em variação. A partir das avaliações dos informantes, é possível observar se um fenômeno linguístico é prestigiado ou estigmatizado pela comunidade. O motivo pelo qual uma mudança linguística não tenha sido implementada em uma certa comunidade pode ser explicada pelo fato de a variável ser estigmatizada pela comunidade. A avaliação dos informantes em relação aos fenômenos linguísticos em variação é muito importante para entender as motivações extralinguísticas das mudanças: A teoria da mudança linguística deve estabelecer empiricamente dos correlatos subjetivos dos diversos estratos e variáveis numa estrutura heterogênea. Estes correlatos subjetivos das avaliações não podem ser deduzidos a partir do lugar das variáveis dentro da estrutura linguística. Além disso, o nível de consciência social é uma propriedade importante da mudança linguística que tem de ser determinada diretamente. Correlatos subjetivos da mudança são por natureza mais categóricos do que os padrões cambiantes do comportamento: a investigação destes correlatos aprofunda nosso entendimento dos modos como a categorização discreta é imposta ao processo de mudança. 2.2 CRENÇAS E ATITUDES A partir do problema da avaliação, como defende Labov (2008: 174), entende-se que muitas vezes é difícil medir as reações subjetivas do indivíduo apenas pelas variáveis extralinguísticas, pois o fenômeno em variação às vezes encontra-se abaixo do nível da percepção do consciente. Assim, parte-se do pressuposto de que a união metodológica dos estudos da Sociolinguística com os de Crenças e Atitudes contribui para a análise do status social dos fenômenos em variação. Segundo Weireich, Labov & Herzog (2006: 120), O estudo de declarações explícitas sobre a língua suscita diversos insights acerca dos fatores sociais que pesam sobre a mudança linguística, e acerca das fontes de irregularidade que perturbam o curso da mudança sonora; mas relacionar estes dados à evolução do vernáculo básico é tarefa que exige um conhecimento detalhado da comunidade de fala e uma considerável sofisticação sociolinguística.

35 35 O estudo de crenças e atitudes surge a partir do estudo da Psicologia Social. Segundo Lambert e Lambert (1975), a psicologia social é o estudo de indivíduos em seus ambientes sociais e culturais. Na década de 1970, diversos autores, começaram a incorporar em seus trabalhos essas análises, com o objetivo de observar as avaliações, as reações das pessoas frente aos fenômenos linguísticos variáveis. No entanto, desde o texto inaugural (WEINREICH, LABOV E HERZOG, 1968/2006), a questão da avaliação se colocou como um problema para a teoria da mudança linguística. O principal objetivo do estudo de crenças e atitudes é observar, a partir de testes, as avaliações, as opiniões, as manifestações das pessoas em relação à variação linguística. Como já foi dito anteriormente, há ainda a crença de que a variação linguística que não está presente na norma culta, sendo o desvio visto pela sociedade como um erro linguístico. Essa concepção de que na língua existe um certo e errado costuma ser ensinada nas escolas, o que faz com que muitas pessoas acreditem que toda variação é um erro. Por isso, muitas vezes, o uso de determinadas variantes é avaliado negativamente, o que revela preconceito linguístico. No entanto, há fenômenos em variação, cuja detecção quanto ao seu valor social apresenta maior dificuldade, por atuarem abaixo do nível de consciência do falante. Nesse sentido, o estudo de crenças e atitudes permite observar as avaliações, positivas e negativas, que os informantes fazem em relação aos fenômenos em variação, com um maior grau de acuracidade, um maior refinamento. Alguns autores separam as definições de crenças de atitudes. Segundo Barcelos (2007), as crenças podem ser definidas como dinâmicas, uma vez que mudam ao longo do tempo. No entanto, elas não são construídas imediatamente, mas são construídas a partir do contato social, ou seja, é a partir da interação social que se constrói uma crença. As crenças são individuais e únicas, pois, como afirma Barcelos (2007), cada pessoa assimila uma experiência de modo pessoal e particular. Para Richards e Shimist (2002 apud Miranda, 2014: 27), as crenças no âmbito linguístico estão relacionadas às ideias que os falantes têm sobre os mais diferentes aspectos de uma língua e que podem influenciar suas atitudes em reação a ela. As atitudes podem ser definidas como: a manifestação/a reação das pessoas acerca de um determinado assunto, opinião, acontecimento, fenômeno linguístico etc. Para Lambert e Lambert (1975) uma atitude é a maneira organizada e coerente de pensar, sentir e agir a pessoas, grupos, problemas sociais, ou de modo mais geral, a qualquer acontecimento no ambiente. Há dois pontos de vistas distintos para o estudo das atitudes: o mentalista e o condutivista. Segundo Aguilera (2008), os mentalistas concebem a atitude, como um estado

36 36 interno do indivíduo, uma disposição mental, em relação às condições e aos fatos sociolinguísticos concretos. Já os condutivistas interpretam a atitude como uma simples resposta a um estímulo. Logo, para os mentalistas, a atitude é uma disposição mental, para os condutivistas, uma simples resposta. A concepção mentalista é a mais aceita entre os pesquisadores. De acordo com os mentalistas, a atitude linguística se manifesta a partir de três componentes: o cognoscitivo, o afetivo e o conativo. O primeiro refere-se às crenças, às opiniões e aos conhecimentos que os indivíduos têm em relação às variáveis linguísticas. Segundo Botassini (2008: 57), não se pode ter uma atitude em relação a um objeto se não houver alguma representação cognitiva a seu respeito, ou seja, é preciso conhecê-lo. No segundo componente, o afetivo, observam-se os sentimentos de aceitação ou negação a um determinado fenômeno. O último componente é o conativo, que se refere à conduta e à reação que o informante apresenta frente a um determinado objeto; no caso, frente à variação linguística, a reação da pessoa pode ser positiva ou negativa. Lambert e Lambert (1975) adotam a teoria mentalista quanto aos elementos que compõem a atitude. Nas palavras dos autores, os componentes essenciais de atitudes são pensamentos e crenças, sentimentos e emoções, bem como tendências para reagir. Além disso, os pesquisadores afirmam que uma atitude se forma quando tais componentes estão de tal modo inter-relacionados que as tendências de reação e os sentimentos específicos se tornam coerentemente associados ao objeto da atitude. Já López Morales (1993, apud Botassini 2013), separa os conceitos e os componentes. De acordo com o autor, a atitude é composta apenas pelo componente conativo, ou seja, o comportamental que pode ser positivo de aceitação ou negativo de rejeição, e as crenças apresentam os componentes cognitivo e afetivo. Neste estudo, serão utilizados os conceitos de percepção3 e avaliação, entendendo por percepção as inferências feitas pelos usuários de uma língua ao ouvir outro falante, inferências que podem ou não ser conscientes (OUSHIRO, 2015: 32). A partir do modo de se expressar do falante, os julgadores podem reagir a determinadas formas linguísticas, manifestando-se em relação à aceitabilidade ou não de certas variantes (MACHADO VIEIRA & ESTEVES, 2009: 242). Já o conceito de avaliação é empregado para fazer 3 Para Labov (2008: 247), ao mencionar testes, o intuito parece ser o de reconhecimento de diferentes variantes, o que pode ser difícil para um ouvinte: Testes de percepção do tipo ABX fornecem informações úteis: no caso de fusão total de uma distinção fonológica, os falantes não conseguem ouvir se X é mais próximo de A ou de B; mas onde regras variáveis estão operando, e a fusão não se completou, eles exibirão êxito parcial. Os testes aplicados nesta pesquisa tanto visam a verificar o reconhecimento do alteamento quanto fazer com que o julgador reaja subjetivamente às formas linguísticas.

37 37 referência ao discurso metalinguístico dos falantes sobre variantes (OUSHIRO, 2015), ou seja, o julgador avalia o usuário de um determinado fenômeno linguístico, por meio de perguntas que medem sua competência, sua integridade pessoal e sua atratividade social. Para análise das crenças e atitudes, os pesquisadores, com base na teoria mentalista, constróem testes de atitudes, levando em conta os três componentes da atitude. Nesta pesquisa, entende-se que a partir desses testes seja possível observar as avaliações, as reações, as crenças e a afetividade das pessoas em relação ao indivíduo que opta por uma das variantes de um fenômeno variável.

38 38 3 METODOLOGIA 3.1 METODOLOGIA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA Segundo a Teoria da Sociolinguística, a língua é heterogênea e ordenada por fatores linguísticos e extralinguísticos, por isso sofre variações. Para realizar uma análise sociolinguística, deve-se definir: a comunidade linguística em que a variável será estudada, a variável linguística a ser estudada e os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos. Para se realizar numa análise sociolinguística é preciso delimitar a variável linguística. De acordo com Weinreich, Labov & Herzog (2006: 107) um fenômeno pode ser considerado variável quando oferece meios alternativos de dizer a mesma coisa disponíveis a todos os membros da comunidade de fala. Na presente pesquisa, as variáveis investigadas são as vogais médias pretônicas anterior /e/ e posterior /o/ em nomes. Estudos anteriores (BATISTA DA SILVEIRA & SOUZA, 2009; AVELHEDA & BATISTA DA SILVEIRA, 2011; AVELHEDA, 2013) mostram que o alteamento das vogais médias pretônicas ocorre com uma maior frequência na classe gramatical dos verbos do que nos nomes. Batista da Silveira & Souza (2009), ao analisar o alteamento das vogais pretônicas anterior e posterior travadas por nasal nas décadas de 1970, 1990 e 2010, verificaram que é na classe gramatical dos verbos que mais ocorre o alteamento; especificamente para a vogal posterior foi o verbo de 1ª conjugação (0.670) e o verbo na forma nominal (0.756) que apresentaram maior probabilidade de alteamento; para a vogal anterior o verbo de 2ª conjugação apresentou probabilidade de para o alçamento. Avelheda (2013) observou que em todos os contextos silábicos (vogal anterior e posterior em sílaba livre, travada por nasal e travada por fricativa) a variável classe de palavras foi selecionada, sendo o verbo a categoria que mais favoreceu o alteamento. No presente trabalho, são classificados como nomes: os substantivos, os adjetivos e os verbos nominais. Tal resultado corrobora uma interpretação difusionista do fenômeno, uma vez que a Teoria da Difusão Lexical afirma que as mudanças são foneticamente abruptas - ocorrem não necessariamente em um contexto específico -, são lexicalmente graduais, pois cada palavra tem a sua história e, por isso são atingidas diferentemene pelas mudanças sonoras. (Cf. OLIVEIRA, 1991). Tal hipótese invalida ou, pelo menos, relativiza o papel da atuação neogramática, uma vez que a Teoria Neogramática propõe que as mudanças são foneticamente graduais - atingem um contexto fonológico por vez - e lexicalmente abruptas, atingindo todas as palavras do léxico. Com a variável delimitada é possível estabelecer as variáveis dependentes que são as possíveis realizações do fenômeno. Para o presente trabalho, foram consideradas duas variáveis dependentes: vogal média fechada [e, o] e vogal alta [i, u].

39 39 Segundo Labov (1996: 32), todos os estudos sistemáticos de variação são sociolinguísticos, e a perspectiva variacionista não pode ser aplicada sem considerar a comunidade de fala particulares. Com o objetivo de observar a atuação do processo de alteamento na fala de informantes do Município do Rio de Janeiro no decorrer das décadas de 1970, 1990 e 2010, a presente pesquisa utilizou corpora orais coletados em entrevistas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Os corpora orais utilizados pertencem a dois projetos linguísticos diferentes. Para a análise das décadas 1970 e 1990 utilizaram-se as entrevistas do projeto Norma Linguística Urbana Culta RJ, que se encontra disponibilizado no endereço eletrônico O corpus do NURC contém entrevistas com falantes da década de 1970 e 1990, de ambos os sexos, nascidos na cidade do Rio de Janeiro, com escolaridade de nível Superior, distribuídos em três faixas etárias diferentes (25 a 35 anos / 36 a 55 anos e 56 anos em diante). Para observar o fenômeno do alteamento na década de 2010, utilizou-se o corpus do Estudo comparado dos padrões de concordância em variedade africanas, brasileiras e europeias que se encontra disponibilizado no endereço eletrônico O corpus do projeto Concordância é composto de entrevistas com falantes da década de 2010, de ambos os sexos, de duas cidades do Estado do Rio de Janeiro (Copacabana - zona Sul do Rio de Janeiro, e Nova Iguaçu - Zona Metropolitana do Rio de Janeiro) e duas cidades de Portugal (Funchal e Oeiras), de três escolaridades diferentes (Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior) e três faixas etárias distintas (18 a 35 anos / 36 a 55 anos / 56 a 75 anos). Para a presente pesquisa utilizará apenas o corpus de entrevistas da cidade do Rio de Janeiro. O corpus da presente pesquisa constitui-se de dezoito entrevistas de falantes cultos na cidade do Rio de Janeiro, seis da década de 1970, seis da década de 1990 e seis da década de Em cada década, o corpus encontra-se divido em sexo/gênero e faixas etárias diferentes. A tabela a seguir ilustra a estratificação do corpus: Estratificação do Corpus Década de 1970 Década de 1990 Década de ª Faixa Etária Mulher 1ª Faixa Etária Mulher 1ª Faixa Etária Mulher (25 a 35 anos) Homem (25 a 35 anos) Homem (25 a 35 anos) Homem 2ª Faixa Etária Mulher 2ª Faixa Etária Mulher 2ª Faixa Etária Mulher (36 a 55 anos) Homem (36 a 55 anos) Homem (36 a 55 anos) Homem 3ª Faixa Etária Mulher 3ª Faixa Etária Mulher 3ª Faixa Etária Mulher (56 anos ~) Homem (56 anos ~) Homem (56 anos ~) Homem Tabela 4: Estratificação do corpus

40 40 Após estabelecer a variável dependente e a comunidade linguística a ser analisada, é preciso definir quais são os condicionamentos que favorecem a variação do fenômeno linguístico, o alteamento das vogais pretônicas. A partir de estudos anteriores, foram operacionadas 10 variáveis independentes, sendo 7 linguísticas (estruturais) e 3 extralinguísticas (sociais). São elas: Variáveis Linguísticas (Estruturais) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Essa variável tem como objetivo analisar se atua um condicionamento fonológico pela assimilação de traços presentes nos fonemas que antecedem a pretônica. Em vários estudos (VIEGAS; 1987, BISOL; 1981; SILVEIRA; 2008, TONDINELI; 2010, TENANI & SILVEIRA (2007), AVELHEDA; 2013, entre outros), o tipo de segmento antecedente, assim como a ausência do segmento antecedente são fatores importantes na regra do alteamento. Cabe destacar que se analisou apenas as consoantes antecedentes presentes no vocábulo em que se insere a vogal pretônica, ou seja, não se considerou a possibilidade de sândi externo (juntura de palavras). Para esta variável, foram criadas seis variantes: (i) ataque vazio (ex.: [e]stofado, [e]difício / [o]rquídea, [o]perário); (ii) consoante alveolar (ex.: n[e]gócio, t[e]rreno / d[o]mingo, sofá); (iii) consoante pós-alveolar (ex.: g[e]neral, ch[e]fia / j[o]rnal, ch[o]colate); (iv) consoante velar (ex.: r[e]lógio, r[e]creio / c[o]zinha, g[o]verno); (v) consoante labial (ex.: p[e]ssoas, m[e]ninas / p[o]rteiro, m[o]bília); (vi) consoante palatal (ex.: conh[e]cimento, reconh[e]cida / guilh[o]tina, melh[o]ria) Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo A variável analisa se há assimilação dos traços fonéticos dos fonemas que sucedem a vogal pretônica na sílaba seguinte. Segundo Abaurre-Gnerre (1981), o alteamento muitas vezes não pode ser explicado pelo processo de harmonização vocálica, uma vez que em alguns vocábulos não há uma vogal alta presente na sílaba seguinte, por exemplo, [i]mpregada, s[i]nhora, b[u]neca, g[u]verno. Com isso, a autora defende que há outro processo assimilatório denominado redução vocálica4. Este processo que assimila o traço [+ alto] presente na consoante adjacente. Portanto, o principal objetivo dessa variável é observar se atua o processo de redução vocálica no alteamento das vogais pretônicas. Cinco variantes foram estabelecidas: 4 Alguns pesquisadores denominam essas ocorrências como alteamento sem motivação aparente (Cf. KLUNCK, 2007).

41 41 (i) (ii) (iii) (iv) (v) consoante alveolar (ex.: [e]difício, b[e]leza / b[o]neca, m[o]derna); consoante pós-alveolar (ex.: [e]nchente, [E]gito / pr[o]jeto, c[o]njugado); consoante velar (ex.: [e]scadaria, n[e]gócio / b[o]cado, f[o]gão); consoante labial (ex.: m[e]mória, c[e]bola / cond[o]mínio, alm[o]fada); consoante palatal (ex.: s[e]nhora, m[e]lhor / f[o]lha, c[o]nhecimento) Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável tem como objetivo observar se a vogal da sílaba seguinte atua como fator condicionante para o alteamento das vogais pretônicas. Diversos estudos defendem que o alteamento é motivado fonologicamente pelo processo de harmonização vocálica, em que há assimilação do traço fonético [+ alto] presente na vogal da sílaba seguinte. Assim, a variável intenta investigar, também, se a harmonização vocálica é um processo determinante para o alteamento das vogais pretônicas. Entende-se que a presença da vogal alta na sílaba seguinte favoreça o alteamento das vogais pretônicas anteriores e posteriores. Para essa variável, foram criadas nove variantes: (i) vogal tônica alta homorgânica (ex.: m[e]ninas, p[e]rigo / pr[o]duto, c[o]stura); (ii) vogal tônica alta não homorgânica (ex.: [e]stufa, s[e]guro / c[o]rtina, c[o]mida); (iii) vogal tônica média fechada (ex.: [e]sposa, [e]mprego / g[o]verno, g[o]stoso); (iv) vogal tônica média aberta (ex.: s[e]nhora, d[e]jetos / b[o]neca, c[o]mércio); (v) vogal tônica baixa (ex.: [e]ntrada, [e]scravos / t[o]mate, j[o]rnal); (vi) vogal átona alta homorgânica (ex.: p[e]rigoso, m[e]diterrâneo / p[o]rtuguesa, p[o]luição); (vii) vogal átona alta não homorgânica (ex.: [e]xcursão, s[e]gurança / p[o]licial, m[o]nitora); (viii) vogal átona média fechada (ex.: [e]mpregada, [e]conômico / c[o]bertura, ad[o]lescentes); (ix) vogal átona baixa (ex.: [e]ngraçado, [e]scadaria / lab[o]ratório, c[o]ração) Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Esta variável visa a observar se a contiguidade é um fator relevante para a atuação do alteamento das vogais pretônicas. Segundo Bisol (1981), a presença de uma vogal alta imediatamente seguinte à vogal pretônica é fator altamente condicionante para o alteamento. Segundo a autora, o alteamento consiste em um processo que não faz saltos, sendo pouco provável o último exemplo a seguir: mexerica, mexirica, mixirica, mas nunca *mixerica). Já

42 42 Lemle (1974 apud Viegas 1987) defende que a condição necessária para a regra do alçamento é a presença de vogal alta contígua à pretônica, mas não necessariamente à vogal alta em sílaba tônica. Portanto, busca-se investigar se a contiguidade à sílaba tônica é ou não um fator importante para o alteamento das vogais pretônicas. Assim, controlam-se a posição e a distância, observando seis possibilidades de ocorrências: (i) 1ª posição sem ataque contígua à tônica (ex.: [e]norme, [e]mpregos / [O]pala, h[o]mem); (ii) 1ª posição sem ataque preenchido não contígua à tônica (ex.: [e]ducada, [e]mpregada / [o]casião, [o]rçamento); (iii) 1ª posição com ataque preenchido contígua à tônica (ex.: p[e]queno, pr[e]sunto / d[o]mingo, c[o]rtina); (iv) 1ª posição com ataque preenchido não contígua à tônica (ex.: s[e]gurança, d[e]sconforto / m[o]rticínio, c[o]municação); (v) posição medial contígua à tônica (ex.: inf[e]liz, sobr[e]mesa / esc[o]rrega, lim[o]nada); (vi) posição medial não contígua à tônica (ex.: ex[e]cutivo, temp[e]ratura / ferr[o]viária, telec[o]municações) Número de sílabas A variável busca investigar se o número de sílabas no vocábulo interfere na realização das vogais médias pretônicas. No português Europeu, o cancelamento pretônico tende a ocorrer em vocábulos de mais de três sílabas (professores ~ pfssores; formação ~frmação) (Cf. BATISTA DA SILVEIRA, 2014). Parte-se do pressuposto que o alteamento também possa ocorrer mais frequentemente nos vocábulos com mais de três sílabas, uma vez que o cancelamento pretônico parece ser a continuidade do processo do alteamento. Com o objetivo de observar o tamanho dos vocábulos, criaram-se três variantes5: (i) duas sílabas (ex.: s[e]nhor, v[e]rão / f[o]gão, b[o]tão); (ii) três sílabas (ex.: s[e]nhora, p[e]rigo / f[o]rmiga, c[o]zido); 5 Os resultados obtidos a partir dessa variável permitem estabelecer uma relação com as propriedades rítmicas do Português Europeu e do Português Brasileiro, permitindo verificar se o corpus apresenta maior frequência de palavras de duas, três, quatro ou mais sílabas. As línguas de ritmo silábico apresentam número superior de palavras de duas sílabas ou mais, ao passo que as línguas de ritmo acentual apresentam maior número de palavras de uma sílaba. Além disso, palavras trissilábicas e terminadas em vogal (a, e, o) não portam acento secundário e nelas a sílaba pretônica seria menos resistente ao alteamento. Já palavras polissilábicas podem portar o acento secundário e, por isso, a sílaba pretônica seria mais resistente ao alteamento (Cf. BATISTA DA SILVEIRA, 2014).

43 43 (iii) quatro sílabas ou mais (ex.: [e]mpregada, [e]scrivaninha / p[o]rtuguesa, c[o]zinheira) Natureza da vogal alvo A partir da variável Natureza da vogal alvo observa-se se são as pretônicas permanentemente átonas ou as eventualmente átonas que mais favorecem o alteamento das vogais médias pretônicas. Entende-se que as pretônicas permanentemente átonas são mais propícias ao alteamento, do que as eventualmente átonas. As primeiras nunca se manifestam em sílaba tônicas de derivação do mesmo morfema (emprego, empregador, empregada / mobília, mobiliária, mobiliário). Já as eventualmente átonas podem ocorrer em sílabas átonas ou tônicas do mesmo grupo de palavras (belo, beleza, belezoca / manobra, manobreiro, manobrável). Para esta variável foram criadas duas variantes: (i) eventual (ex.: entrada, terreno / horário, proprietário); (ii) permanente (ex.: cebola, memória / jornal, costura) Variáveis Extralinguísticas (Sociais) Faixa Etária Com a variável faixa etária, pretende-se verificar, a partir do estudo de tempo aparente, se o alteamento é um fenômeno inovador o que se comprovaria se este apresenta maior uso entre os mais jovens ou se é conservador caso se manifeste com mais frequências entre os falantes mais idosos. Segundo Paiva e Duarte (2003), os grupos etários mais jovens tendem a introduzir novas alternantes que poderão substituir as características linguísticas das faixas etárias mais avançadas. Foram criadas três variantes: (i) faixa etária 1 (25 35 anos); (ii) faixa etária 2 (36 55 anos); (iii) faixa etária 3 (56 anos em diante) Sexo/Gênero Intenta-se, por meio dessa variável, observar o comportamento do fenômeno, considerando-se o sexo/gênero do falante. Muitas pesquisas Sociolinguística tomam como verdade absoluta a afirmativa de Labov (1972), que prevê que as mulheres tendem a utilizar a variante inovadora, se esta não for estigmatizada, ao passo que os homens tendem ao uso da variante estigmatizada. Lucchesi (2012) afirma que o propósito do trabalho de Labov (1972), ao analisar a centralização dos ditongos na ilha de Martha s Vineyard, não foi saber se os

44 44 descendentes de portugueses centralizavam mais ou menos os ditongos do que os índios descendentes, ou se os homens centralizavam mais do que as mulheres, mas observar como um processo social da ilha se refletia na atitude dos membros da comunidade em relação ao fenômeno linguístico variável. Por isso, como defende Lucchesi (2012), não se pode generalizar algumas interpretações de resultados obtidos em pesquisas Sociolinguísticas, pois muitas vezes tais generalizações não vão ao encontro do verdadeiro objetivo da pesquisa. Além dessa afirmação de Labov, observam-se outras declarações acerca do comportamento linguístico das mulheres. Wolfram e Falsold (1974 apud LUCCHESI, 2012) dizem que as mulheres mostram mais consciência das formas de prestígio, tanto na fala concreta, quando em suas atitudes perante a fala. Trudgill (1978 apud LUCCHESI, 2012) afirma que as mulheres em conformidade com as outras variáveis [...] produzem, no geral, mais formas linguísticas que são mais próximas daquelas da língua padrão, ou tem mais prestígio, do que os homens. No entanto, novamente não é possível generalizar a avaliação social a partir de alguns resultados de pesquisas Sociolinguísticas, uma vez que diferentes fenômenos em diferentes comunidades linguísticas apresentam resultados também diferentes. Por exemplo, Lucchesi (2012) destaca os estudos Sociolinguísticos de Bortoni-Ricardo (2011 [1985]), Rodrigues (1985), que analisam a periferia das grandes cidades brasileiras, além de seu estudo (LUCCHESI, 2007), que analisa as comunidades rurais afro-brasileiras. Nestes três estudos, em geral, são os homens quem realizam a mudança em direção às formas de prestígio. No presente estudo, serão analisadas as vogais médias pretônicas, fenômeno este pouco marcado socialmente e linguisticamente, em comparação, por exemplo, com fenômenos mais marcados como a concordância nominal e verbal. O objetivo dessa variável é observar o comportamento de mulheres e homens, em relação ao uso do fenômeno do alteamento, em diferentes contextos silábicos. Além disso, juntamente com as outras variáveis sociais, a variável sexo/gênero busca investigar como a comunidade linguística se manifesta acerca do fenômeno do alteamento. Duas variantes foram criadas para essa variável: (i) Mulheres; (ii) Homens Década A partir da variável década, intenta-se observar o fenômeno do alteamento em um estudo de tempo real de curta duração. Segundo Paiva e Duarte (2003: 8), o estudo de tempo real se baseia na comparação de amostras aleatórias da mesma comunidade de fala, estratificadas com base nos mesmos parâmetros sociais, em dois momentos do tempo diferentes. Busca-se

45 45 verificar se houve maior ou menor atuação do alteamento no decorrer das décadas 1970, 1990 e Para Viegas (2001: 120, 125), (...) o número de itens alçáveis diminui com o passar do tempo (...). A lista do alçamento decresce com o tempo e com o aumento dos empréstimos. A lista do não alçamento cresce com o tempo. Portanto, com o propósito de observar o alçamento em três décadas distintas, foram criadas três variantes: (i) década de 1970; (ii) década de 1990; (iii) década de Após determinar a variável dependente, o corpus e as variáveis linguísticas e extralinguísticas, a análise ocorreu a partir das seguintes etapas: (i) à audição dos áudios em um tempo de 20 minutos por entrevista, desconsiderando os 5 primeiros minutos, uma vez que entende-se que nos primeiros minutos a pessoa pode não estar descontraída e por isso monitore a fala; (ii) a coleta de todos os dados nominais que possuíam as vogais médias pretônicas [e] e [o], sendo elas alteadas ou não; (iii) a codificação dos dados, a partir das variáveis dependentes e independentes; (iv) as rodadas no programa estatístico probabilístico R-brul e (v) por último, análise dos resultados. O procedimento metodológico para as rodadas e análises do alteamento das vogais médias pretônicas é o mesmo apresentado por Avelheda (2013). A pesquisadora observou no estudo da fala de Nova Iguaçu que: (i) alguns contextos silábicos favoreciam mais o alteamento do que outros e (ii) os condicionamentos linguísticos e extraliguísticos são diferentes, a depender do contexto silábico. Como em Avelheda (2013), cada contexto silábico será analisado separadamente (sílaba livre, sílaba travada por fricativa /S/, sílaba travada por nasal /N/ e sílaba travada por rótico /R/), a fim de verificar se: (i) a estrutura silábica é um fator relevante para aplicação da regra do alteamento; (ii) atuam os mesmos condicionamentos linguísticos e extralinguísticos para as estruturas silábicas diferentes. A partir dos resultados de Avelheda (2013), entende-se que as vogais travadas por fricativa /S/ são as que mais favorecem o alteamento das vogais médias anteriores, seguida da consoante nasal e da sílaba livre. Tal proposta metodológica parece ser mais precisa, uma vez

46 46 que estudos anteriores, como Viegas (1987), analisam conjuntamente todos os contextos silábicos em que a pretônica está inserida. Com base na Teoria Sociolinguística Variacionista de orientação Laboviana (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 2006 [1968]), utilizaram-se dois programas computacionais, Excel e R-brul, que permitiram avaliar as variáveis mais significativas para o fenômeno. Primeiramente, utilizou-se o programa Excel do pacote de programas da Microsoft Office. Neste, realizou-se a codificação dos dados e foram montadas as tabelas dinâmicas com resultados percentuais e absolutos, assim como se realizaram os cruzamentos de variáveis. No Excel, a codificação é realizada mais rapidamente e há pequeno percentual de erros, diferentemente de quando é feita no Word. Além disso, no Excel, há a possibilidade de montar tabelas dinâmicas. Estas apresentam resultados preliminares que permitem ao pesquisador observar, antes de colocar os dados no programa estatístico-probabilístico, as variáveis que apresentaram comportamento categórico (knockouts). Após uma análise descritiva no Excel, os dados foram submetidos ao pacote estatístico-probabilístico R-brul que apresentou, a partir de percentuais, logodds e pesos relativos, as variáveis mais significativas para o alteamento das vogais médias pretônicas. Segundo Oushiro (2016), o R-brul é um pacote de funções para o programa R, gratuito, que permite realizar análises da regra variável, a partir de modelos de regressão logística e de regressão linear (para variáveis categóricas e contínuas), com efeitos fixos e efeitos aleatórios, usados somente por sociolinguistas. O programa anteriormente utilizado era o programa Golvarb-X. A partir desse programa, foram realizados diversos estudos variacionista. Pode-se discutir por que utilizar o programa R-brul no lugar do programa Goldvarb-X. Segundo Oushiro (2016), este é o programa que linguistas e sociolinguistas têm utilizado atualmente para o estudo da variação. De acordo com Oushiro (2016), o programa R-brul apresenta novas funções que o programa Golvarb-X não apresenta. São elas a possibilidade de: (i) criar scripts ou rotinas automatizadas para a realização de certas tarefas; (ii) incluir efeitos aleatórios no modelo estatístico e (iii) de se incluírem variáveis contínuas na análise, por exemplo, idade, índice socioeconômico, frequência das palavras etc. Segundo Oushiro (2015), efeitos aleatórios se referem a variáveis específicas da amostra analisada, por exemplo, indivíduos aleatoriamente selecionados. Na presente pesquisa, optou-se por utilizar o programa R-brul, pois é um dos mais recentes programas estatístico-probabilísticos na análise sociolinguística.

47 METODOLOGIA DE CRENÇAS E ATITUDES Com o propósito de observar as crenças e atitudes dos falantes em relação ao alteamento das médias pretônicas, foram entrevistados 20 informantes, todos com ensino superior completo: 10 mulheres e 10 homens. Em uma etapa preliminar da pesquisa (SOUZA, 2015), a pesquisadora observou que a estratificação em faixa etária não apresentou resultados significativos, uma vez que as faixas etárias mais jovens (25 a 35 anos e 36 a 55 anos) tiveram resultados semelhantes, a seguir descritos: (i) no primeiro teste de percepção, oito informantes da primeira faixa etária (20 46 anos) e da segunda faixa etária (46 anos em diante) perceberam o alteamento; (ii) no teste em que se solicitou a leitura de pequeno texto, em um total de doze informantes, seis informantes da primeira faixa e seis da segunda faixa etária afirmaram que não produzem alteamento; dois informantes de cada uma das faixas etárias disseram alternar alteamento e não alteamento e, por último, quatro informantes de cada uma das faixas etárias não perceberam o fenômeno do alteamento. Com o objetivo de verificar o comportamento das pessoas em relação às vogais médias pretônicas, a pesquisadora não revelou ao informante o objeto de estudo da pesquisa, pois, quando os informantes têm consciência do fenômeno linguístico, tendem a não realizar a forma que se encontra em variação, no caso tendem a não realizar o alteamento. De acordo com a declaração de Labov (2008: 249): Alguns linguistas acreditam que, instruindo os informantes sobre os objetivos da análise, seja possível diminuir tal efeito e obter gradualmente respostas características do vernáculo puro. Mas é uma ilusão. Pelo contrário, a pessoa pode usar seu conhecimento do dialeto de prestígio para evitar exibir qualquer forma vernacular que seja idêntica ou semelhante à norma-padrão, produzindo formas estereotipadas que são simplesmente uma coleção dos de frases mais diferentes ou piores. Além disso, foi dito aos informantes que as perguntas consistiam em uma pesquisa de opinião. Até mesmo o material utilizado para o questionário fechado (anexo 2) tinha o título de Pesquisa de opinião. Essa informação é importante, pois, se disesse aos informantes que o trabalho se refere a um teste, eles poderão: (i) ficar preocupados em eleger uma resposta correta; (ii) ficar inseguros em responder as questões e (iii) controlar mais a sua fala. Como defende Esteves e Machado Vieira (2009: 244):

48 48 Um cuidado importante é o de não apresentar, em hipótese alguma, o material (questionário, formulário de preenchimento de lacunas ou qualquer outro) como teste. Normalmente, os informantes preocupam-se muito com a concepção de certo versus errado, com a formulação de respostas corretas, por mais que o documentador faça algum tipo de observação no sentido de que não está interessado no que é certo ou errado na língua, mas nas opiniões/avaliações do usuário sobre estruturas linguísticas. Então, tem-se o cuidado de pôr no cabeçalho do material Pesquisa de opinião. Por isso, em um primeiro momento, a pesquisadora orientou o informante quanto à natureza do teste, dizendo que: (i) o trabalho consiste em uma pesquisa de opinião; (ii) a finalidade do trabalho não é avaliar respostas certas ou erradas; (iii) o objetivo do trabalho é saber a sua opinião sobre os usos da língua, e (iv) o nome do informante não será revelado pela pesquisadora; Após as orientações, a pesquisadora solicitou a assinatura do Termo de Livre Consentimento (TLC Anexo 1), caso o informante concordasse em participar da pesquisa. Depois disso, aplicou-se o teste de atitude, em que a pesquisadora solicitou ao informante a leitura de um texto (Anexo 2), sendo essa leitura gravada. Em seguida, a pesquisadora pediu que o informante respondesse a dois questionários (questionário fechado Anexo 3, questionário fechado avaliativo Anexo 4), cuja execução foi feita no computador. Por último, a pesquisadora fez uma pequena entrevista (questionário aberto Anexo 5) com o informante, que foi gravada e depois analisada pela pesquisadora. Como dito anteriormente, a hipótese que norteou a pesquisa com os testes de atitude é que os informantes realizariam o alteamento das vogais médias pretônicas, no entanto apresentariam uma avaliação negativa em relação ao falante que realiza o alçamento pretônico. A partir disso, desenvolveram-se testes de atitudes com quatro técnicas diferentes: 1. Leitura de texto, com objetivo de verificar se o informante realiza o alteamento quando lê (Anexo 2); 2. Questionário fechado, com o objetivo de verificar a percepção e as crenças e atitudes dos falantes (Anexo 3); 3. Questionário fechado avaliativo, com o objetivo de o informante avaliar o falante quando este realiza o alteamento (Anexo 4); 4. Questionário aberto (entrevista gravada em áudio), com o objetivo de observar a percepção, o julgamento, além de analisar a própria produção do informante (Anexo 5).

49 49 Nas quatro técnicas, foram analisadas as vogais médias pretônicas /e/ e /o/ em diferentes contextos: sem travamento silábico, travada por nasal, travada por sibilante e travada por rótico. Além disso, nas quatro técnicas, há palavras que costumam ser alteadas, a partir do processo de harmonização vocálica e palavras que não apresentam a vogal seguinte alta. O objetivo de incluir palavras que apresentem ou não a vogal alta na sílaba seguinte foi observar se o informante realiza o alteamento (quando faz a leitura) ou o percebe (quando ouve os áudios). A leitura do texto teve como principal objetivo verificar se o informante realizou o alteamento das vogais médias pretônicas quando lê. O texto apresenta 55 palavras com pretônicas anteriores e 45 com pretônicas posteriores, conforme Tabela 5 abaixo: Pretônicas anteriores Pretônicas posteriores dezenove gengibre Monique Motorista dezenove mexerica Esforçada Motorista menina mexerica Doméstica Domingo esforçada beterraba Colégio Floriano empregada beterraba Monique Joana empregada estoquista professora costureira estadual semana Portuguesa Joana Estácio exemplos Monique costureira Escola senhor Monique Cortina vestibular esposa Formiga Joaquim Letras vestido Cozinha Porteiro professora lençóis cozinheira Boate Estela serviços Comida Domingos menina semana Gostosa Joana excelente empresa Tomate consciência excelente semana doméstica formados empregada segurança sacolão Monique empregada serviços sacolão espelhos engenharia Tomate encardidas engenharia morango Estela estudo cogumelos delícia melhor mostarda empregada menina hortaliças empregada pessoas Monique despesas esperança Domingos legumes esperança estoquista verduras melhor motorista espinafre motorista Tabela 5: Leitura do texto dados a ser analisados A hipótese dessa primeira parte é que o informante, ao ler o texto, produziria o alteamento em diversas palavras. A leitura foi a primeira etapa do teste, uma vez que os informantes não tinham nenhuma consciência do objeto de estudo. Além disso, a leitura foi gravada pela pesquisadora que analisou estatisticamente a quantidade de palavras alteadas.

50 50 No primeiro questionário fechado foi realizado o teste dos falsos pares, o teste aconteceu da seguinte forma: (i) foram apresentados dois áudios para o informante: um com as vogais pretônicas alteadas e outro com as pretônicas não alteadas. Foi uma única mulher que gravou os aúdios com as vogais pretônicas não alteadas e alteadas; (ii) após a audição dos áudios, o informante respondeu algumas questões sobre o fenômeno linguístico analisado. Além disso, no primeiro questionário fechado, houve perguntas distratoras que teve como principal objetivo fazer com que o informante não percebesse o fenômeno linguístico analisado. Exemplos desta etapa verificam-se a seguir: A seguir, há dois áudios. Após ouvir esses dois áudios, você responderá algumas perguntas. Áudio 1: Hoje foi um dia muito cansativo. Acordei cedo fui para meu /e/mprego. Trabalhei até as d/e/zessete horas. Antes de ir para casa, passei no mercado comprei t/o/mate, p/e/pino, m/o/rango, /e/spinafre, m/o/starda, g/e/ngibre entre outras coisas. Quando cheguei em casa, preparei a c/o/mida, brinquei com a minha filha de b/o/neca e depois a fiz dormir. Estou /e/xausta! Áudio 2: Hoje foi um dia muito cansativo. Acordei cedo fui para meu /i/mprego. Trabalhei até as d/i/zessete horas. Antes de ir para casa, passei no mercado comprei t/u/mate, p/i/pino, m/u/rango, /i/spinafre, m/u/starda, g/i/ngibre entre outras coisas. Quando cheguei em casa, preparei a c/u/mida, brinquei com minha filha de b/u/neca e depois a fiz dormir. Estou /i/xausta! (Após os áudios). Se você tivesse que atribuir um grau de escolaridade à pessoa que produziu o primeiro áudio, você diria que ela cursou: ( ) 1ª ao 5º ano (antigo primário ou Ensino Fundamental I) ( ) 6º ao 9º ano (Ensino Fundamental II) ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior No questionário fechado avaliativo, a estrutura do teste ocorreu da seguinte maneira: (i) primeiramente, o informante ouviu apenas um áudio com as pretônicas alteadas; (ii) depois o informante avaliou o falante do áudio, a partir de uma escala de gradação de 1 a 5, em que 1 representa uma avaliação negativa e 5 uma avaliação positiva, O questionário fechado avaliativo é composto por frases positivas, que atribuem prestígio ao falante e negativas, que atribuem características depreciativas ao falante. A avaliação positiva ou negativa pode ser medida a partir de palavras específicas que caracterizam a pessoa e sua fala, como feia, inteligente, sente vergonha de falar assim. A maioria das frases foi retirada da tese de Botassini (2013) que estudou as Crenças e Atitudes Linguísticas dos falantes em relação à produção dos róticos no norte do Paraná. Segue exemplo abaixo:

51 51 A partir do áudio que ouvirá, o que você pode imaginar sobre quem o falou? Marque, em cada linha no quadro abaixo, a opção de resposta mais próxima do que for possível supor. Entende-se que a gradação numérica marca a intensidade de sua suposição. Áudio: Hoje é batizado da nossa filha /I/stefani. Nosso c/u/mpadre é D/u/mingos nossa c/u/madre é /I/stela. /I/stefani está com um lindo v/i/stido branco. Após o batismo, vamos fazer uma festa muito b/u/nita com muita c/u/mida e b/i/bida. Nós pegamos /i/mprestimo para fazer a festa. Quanto mais alta a numeração, maior sua concordância com a suposição abaixo. Esta pessoa se orgulha de sua maneira de falar. Esta pessoa é inteligente. Esta pessoa sente vergonha de falar assim. Tabela 6: Exemplo questionário fechado avaliativo No questionário fechado, o informante não expôs livremente a sua opinião sobre a pergunta feita pela pesquisadora. Segundo Esteves & Vieira (2009: 241), nesse tipo de questionário, o informante responde perguntas (a) sim/não, (b) múltipla escolha ou (c) categorização ordenada, conforme exemplos a seguir6: (a) pergunta de sim/não: Nesse segundo áudio quem fala é uma mulher. Você acha que um homem pode falar igual a essa mulher? ( ) sim / ( ) não (b) múltipla escolha: Se você tivesse que apontar a nacionalidade dos falantes nas gravações, qual seria a nacionalidade do falante do primeiro áudio? ( ) Brasileira ( ) Portuguesa ( ) Africana / ( ) Outra (c) categorização ordenada: A partir do áudio que ouvirá, o que você pode imaginar sobre quem o falou? Marque, em cada linha no quadro abaixo, a opção de resposta mais próxima do que for possível supor. Entende-se que a gradação numérica marca a intensidade de sua suposição. Quanto mais alta a numeração, maior sua concordância com a suposição abaixo. Esta pessoa se orgulha de sua maneira de falar. Esta pessoa é inteligente. Esta pessoa sente vergonha de falar assim. Tabela 7: Exemplo categorização ordenada Já no questionário aberto o pesquisador permite que o informante se expressasse livremente sobre a pergunta realizada, como por exemplo: 6 Aqui, apresentam-se parcialmente os testes, que estarão em inteiro teor em anexo.

52 52 Para você, essas diferentes realizações interferem no entendimento da frase? Por exemplo, você entende se eu falar m/i/nino em vez de m/e/nino, /i/mpregada, em vez de /e/mpregada, g/u/rdura, em vez de g/o/rdura, d/u/mingo, em vez de d/o/mingo? Era necessário que o informante respondesse à pergunta do questionário aberto, e a resposta fosse registrada, pois, a partir de anotações manuais ou gravações em mídias digitais, o pesquisador pôde avaliar a crença/atitude do informante. Tal metodologia foi aplicada na pesquisa feita anteriormente (SOUZA, 2015). Com base nos resultados, observou-se que, primeiramente, o informante afirmava que entendia o significado da palavra, quando o alteamento se realizava; no entanto, em seguida defendia que o fenômeno se tratava de um erro da língua portuguesa. Logo, se essa pergunta não fosse realizada com questionário aberto, a pesquisadora poderia interpretar (com base apenas no questionário fechado) que o informante não revelaria uma avaliação negativa em relação ao alteamento das vogais pretônicas. Cabe destacar que, nas entrevistas com questionário fechado e questionário aberto, foram observados quatro aspectos do informante em relação ao fenômeno: (i) a percepção; (ii) a reação subjetiva; (iii) a autoavaliação e (iv) a insegurança linguística. Em relação à percepção, o pesquisador observou se o informante perceberia o fenômeno em variação e se se manifestaria quanto a ele. Cabe destacar que o teste de percepção visa o reconhecimento da variante alteada, isto é, o avaliador ouvirá dois áudios, o primeiro com as vogais médias fechadas e o segundo com as vogais alteadas, e terá que informar se observou alguma diferença entre eles. No presente estudo, partiu-se da hipótese de que o informante perceberia o alteamento das vogais pretônicas no áudio apresentado. O teste para averiguar a percepção foi aplicado no questionário fechado da seguinte maneira: A seguir, há dois áudios. Após ouvir esses dois áudios, você responderá algumas perguntas. Áudio 1: A acad/e/mia Corpore faz uma grande pr/o/moção nesta s/e/gunda feira. Quem se matricular até dia d/e/zoito de n/o/vembro ganha uma roupa de t/e/cido belíssimo. Áudio 2: A acad/i/mia Corpore faz uma grande pr/u/moção nesta s/i/gunda feira. Quem se matricular até dia d/i/zoito de n/u/vembro ganha uma roupa de t/i/cido belíssimo Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? ( ) Iguais ( ) Diferentes Se são diferentes, em quê? Cabe destacar que não foi apresentado aos informantes nenhum trecho de áudio com marcações fonéticas. As marcações fonéticas descritas são somente para o leitor observar como os informantes ouviram os áudios.

53 53 No teste para verificar a reação subjetiva, o informante emitiria juízo em relação à personalidade das pessoas, cujas vozes ouviu. Essa reação foi observada em questões de múltipla escolha e de categorização ordenada. A seguir, há dois exemplos de teste de reação subjetiva. O primeiro é de múltipla escolha e foi apresentado no primeiro questionário fechado; já a gradação (categorização ordenada) foi apresentada no segundo questionário fechado avaliativo. 1. Questionário fechado / Reação subjetiva: A seguir, há dois áudios. Após ouvir esses dois áudios, você responderá algumas perguntas. Áudio 1: Hoje foi um dia muito cansativo: acordei cedo, fui para o meu /e/mprego, trabalhei até d/e/zesste horas. Antes de ir para casa, passei no mercado e comprei t/o/mate, p/e/pino, m/o/rango, /e/spinafre, m/o/starda, g/e/ngibre, entre outras coisas. Quando cheguei em casa, preparei c/o/mida, brinquei com minha filha de b/o/neca e depois a fiz dormir. Estou /e/xausta! Áudio 2: Hoje foi um dia muito cansativo: acordei cedo, fui para meu /i/mprego, trabalhei até as d/i/zessete horas. Antes de ir para casa, passei no mercado e comprei t/u/mate, p/i/pino, m/u/rango, /i/spinafre, m/u/starda, g/i/ngibre, entre outras coisas. Quando cheguei em casa, preparei c/u/mida, brinquei com minha filha de b/u/neca e depois a fiz dormir. Estou /i/xausta! Observando o modo de falar nos dois áudios, se tivesse que indicar a profissão dos falantes do primeiro áudio, você diria que se trata de: ( ) Médica ( ) Empregada Doméstica ( ) Advogada ( ) Gari ( ) A profissão não interfere na maneira da pessoa falar ( ) Outra E no segundo áudio, que profissão indicaria? ( ) Médica ( ) Empregada doméstica ( ) Advogada ( ) Gari ( ) A profissão não interfere na maneira da pessoa falar. ( ) Outra 2. Questionário fechado avaliativo / categorização ordenada: A partir do áudio que ouvirá, o que você pode imaginar sobre quem falou? Marque, em cada linha no quadro abaixo, a opção de resposta mais próxima do que for possível supor. Entende-se que a gradação numérica marca a intensidade de sua suposição. Áudio: Hoje é o batizado da nossa filha /I/stefani. Nosso c/u/mpadre é D/u/mingos e nossa c/u/madre é /I/stela. /I/stefani está com um lindo v/i/stido branco. Após o batismo, vamos fazer uma festa muito b/u/nita com muita c/u/mida e b/i/bida. Nós pegamos /i/mpréstimo para fazer a festa. Quanto mais alta a numeração, maior sua concordância com a suposição abaixo. Esta pessoa é inteligente Esta pessoa tem nível superior Esta pessoa é confiável Tabela 8: Exemplo teste de reação subjetiva

54 54 Objetivou-se observar, em relação à escolaridade, qual o juízo/valor o informante atribuiria à pessoa que realiza o alteamento das vogais pretônicas, havendo quatro possibilidades. O informante: (i) associa o não alteamento à pessoa de maior escolarização e o alteamento à pessoa de menor escolarização; (ii) associa o não alteamento à pessoa de menor escolarização e o alçamento à pessoa de maior escolarização ou (iii) atribui a mesma escolarização tanto à pessoa que utilizou a variante alteada quanto à não alteada. No teste de gradação, o objetivo foi observar qual avaliação o informante faria da pessoa que produziu o trecho alteado, se o falante é: (i) inteligente, (ii) escolarizado; (iii) confiável. Por último, o teste para averiguar a autoavaliação e a insegurança linguística, o informante foi levado a indicar a forma correta entre dois áudios, em seguida, a apontar a que realmente acredita utilizar. Por exemplo: Vou colocar mais dois áudios para você ouvir. O trecho do áudio está transcrito na folha. Áudio 1: B[e]atriz escolheu um t[e]cido na loja para fazer um v[e]stido. A c[o]stureira D[o]mingas fez um v[e]stido muito b[o]nito para ela. Áudio 2: B[i]atriz escolheu um t[i]cido na loja para fazer um v[i]stido. A c[u]stureira D[u]mingas fez um v[i]stido muito b[u]nito para ela. Se você fosse falar essa frase, falaria como o primeiro áudio? O segundo áudio? Ou utilizaria algumas palavras do primeiro e outras do segundo áudio? (Pedir para o informante ler a frase). Nesse teste de autoavaliação e insegurança linguística, ao pedir que o informante lesse a frase, a pesquisadora observaria se há uma contradição entre o que o informante diz realizar e o que realmente realizou. Além disso, com essa pergunta, também foi possível observar a avaliação do informante em relação ao alçamento, pois (i) se o informante não realiza a frase alteada, entende-se que ele acha que a forma adequada de produzir a frase é a não alteada; (ii) se ele utiliza toda a frase alteada, entende-se que o informante acha que a forma adequada para produzir a frase é a alteada; (iii) se ele afirma que realiza o alteamento, é possível que o informante tenha consciência da variação linguística e, além disso, aceita a variação.

55 55 Com essas testagens diferentes, intenta-se observar minuciosamente as crenças e atitudes dos informantes em relação ao alteamento das vogais médias pretônicas. Com isso, entende-se que a união metodológica dos estudos da Sociolinguística com as de Crenças e Atitudes contribuiu para a análise do status social dos fenômenos em variação.

56 56 4 ANÁLISE TEMPO REAL DE CURTA DURAÇÃO Como já dito, o presente trabalho analisa separadamente os diferentes contextos silábicos em que se encontram as vogais médias pretônicas: sílaba livre, sílaba travada por fricativa /S/, sílaba travada por nasal /N/, sílaba travada por rótico /R/. Cumpre destacar que a maioria dos trabalhos (BISOL, (1981); VIEGAS (1987); CALLOU & LEITE, COUTINHO (1991); CALLOU, MORAES & LEITE (2002); CELIA (2004); SILVEIRA (2008); SILVEIRA & TENANI (2007); TONDINELLI (2010); ROCHA, (2013)) sobre pretônicas não faz a separação por tipos de estruturas silábicas. No entanto, Avelheda (2013) e Barbosa (1999 apud AVELHEDA 2013) entendem que o tipo de estrutura silábica pode interferir nos resultados. Avelheda (2013), em estudo sobre a fala de Nova Iguaçu, observou, na vogal anterior, que o contexto silábico de pretônica travada por fricativa /S/ é o que mais favorece o alteamento e o contexto de sílaba livre é o que menos favorece. Barbosa (1999: 128 apud AVELHEDA 2013) defende que o vocalismo apresenta um funcionamento muito irregular. Por esta razão, tem-se de considerá-lo individualmente, isto é, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre no caso de sílaba fechada, mesmo em relação à(s) unidade(s) que estará(m). Dessa forma, entende-se que os condicionamentos que favorecem o alteamento em uma determinada estrutura silábica podem não ser os mesmos que favorecem outra estrutura silábica. Ou seja, uma estrutura silábica pode ser mais propícia ao alteamento do que outra. Portanto, a partir dos estudos de Avelheda (2013) e Barbosa (1999 apud Avelheda 2013), a presente pesquisa analisará separadamente as vogais médias pretônicas e seus diferentes contextos. Primeiramente, serão analisadas a vogal pretônica anterior em suas diferentes estruturas silábicas, metodologia que será também aplicada à vogal posterior. Cabe destacar que, no presente estudo, se analisa somente a classe gramatical dos nomes diferentemente das pesquisas anteriores que analisa o alteamento em diferentes classes gramaticais. Apesar de os trabalhos anteriores não apresentarem o mesmo recorte metodológico (análise das vogais pretônicas em nomes em diferentes contextos silábicos), é importante relacionar os resultados de pesquisas anteriores com os da presente pesquisa para observar se atuam os mesmos condicionamentos para o alteamento das vogais médias pretônicas.

57 PRETÔNICA ANTERIOR Todo o corpus coletado apresentou 2785 ocorrências de vogal pretônica anterior. Desse total, 718 (25,78%) vogais foram realizadas pela variante alteada [i] e 2067 (74,22%) se concretizaram pela variante média fechada [e]. Vogal anterior /e/ / 25,78% 2067 / 74,22% Alteada Média fechada Gráfico 1: Vogal anterior A seguir, apresentam-se as análises da vogal média anterior na seguinte ordem: (i) sílaba livre; (ii) sílaba travada por fricativa /S/; (iii) sílaba travadas por nasal /N/ e (iv) sílaba travada por rótico /R/. Como dito na metodologia, utilizou-se os programas computacionais Excel e R-brul para observar as variáveis que eram favoráveis ao alteamento das vogais pretônicas. Antes da análise multivariada, observou-se no programa Excel que havia alguns comportamentos categóricos (knockouts), algumas variáveis que não apresentavam dados (células vazias) ou mesmo que havia uma distribuição desequilibrada dos dados. Por isso, foram amalgamadas algumas variantes, para que o programa R-Brul7 apresentasse resultados mais confiáveis. Esta metodologia foi aplicada para todos os contextos silábicos. Foram amalgamados fatores das seguintes variáveis: (1) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo: (i) as consoantes alveolares, pós-alveolares e labiais passaram a serem lidas como consoantes anteriores (ex.: pequeno, semana, desconto, Nescau, senzala, alimentação); (ii) as 7 O programa Rbrul apresenta uma limitação, visto que não oferece uma ferramenta que permita excluir apenas os dados de uma determinada variável. Isso implica que, ao se retirarem fatores de uma variável, os dados são excluídos de toda a análise. No GoldvarbX, a exclusão de fatores de uma variável era realizada pela colocação da barra (/) no arquivo de condições (recodificação), mas preservavam-se os dados nas demais variáveis. A exclusão dos dados de todas as variáveis era feita por meio da expressão NIL no arquivo de condições.

58 58 consoantes velares e palatais foram recodificadas como posteriores (ex.: reserva, relógio, restaurante, restinga, frequentador). (2) Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo: (i) as consoantes alveolares, pós-alveolares e labiais foram recodificadas como anteriores (ex.: academia, arquitetura, estudo, esporte, tempero, ventania); (ii) as consoantes velares e palatais passaram a serem lidas como posteriores (ex.: negócio, senhora, escola, pescadores, engraçado, encanamento). (3) Natureza da vogal da sílaba seguinte: acabou-se com a distinção entre átonas e tônicas - (i) as vogais alta homorgânica átona e tônica foram recodificadas como altas homorgânicas (ex.: cemitério, Egito, festival, espírita, identidade, ensino); (ii) as vogais alta não homorgânica átona e tônica passaram a serem lidas como altas não homorgânicas (ex.: segurança, presunto, estudo, estufa, pendurado, censura); (iii) as vogais média fechada átona e tônica foram recodificadas como médias fechadas (ex.: beleza, terreno, estofado, espetáculo, empregada, enchentes); (iv) as vogais aberta átona e tônica passaram a serem lidas como médias abertas (ex.: enorme, reserva, senhora) e (v) as vogais baixa átona e tônica foram recodificadas como baixas (ex.: semana, geladeira, escravo, estrangeiras, engraçada, senzala). Foram consideradas as vogais abertas somente na análise das vogais anteriores em sílaba livre. Para os contextos de vogal anterior travada por sibilante e nasal as vogais aberta e média fechada foram amalgamadas e recodificadas como média. (4) Contiguidade da vogal pretônica em relação à sílaba tônica: (i) as variáveis sílaba na 1ª posição do vocábulo sem ataque silábico preenchido contígua à tônica, sílaba na 1ª posição do vocábulo com ataque silábico preenchido contígua à tônica e sílaba na posição medial do vocábulo contígua à tônica foram recodificadas como sílaba contígua à tônica (ex.: Leblon, negócio, restinga, palestino, emprego, juventude) e (ii) as variáveis sílaba na 1ª posição do vocábulo sem ataque preenchido não contígua à tônica, sílaba na 1ª posição do vocábulo com ataque preenchido não contígua à tônica e sílaba na posição medial não contígua à tônica passaram a serem lidas como não contígua à tônica (ex.: edifício, território, estofado, pescadores, empregada, temperada). Logo, reduziu-se a variável a dois fatores: contiguidade e não contiguidade à sílaba tônica.

59 Vogal pretônica anterior contexto de sílaba livre O corpus constitui-se de 1861 ocorrências de vogal pretônica anterior em contexto de ausência de travamento consonântico. Desse total, 1622 dados (87,16%) foram realizados com a variante média [e] (ex.: g[e]neral, n[e]gócios, [e]difício) e apenas 239 dados (12,84%) apresentaram a variante alta [i] (ex.: p[i]queno, [i]norme, c[i]mitério). Vogal anterior /e/ - sílaba livre / 12, 84% 1622 / 87,16% Alteada Média Gráfico 2: Vogal anterior sílaba livre A baixa realização do alçamento (239 dados) corrobora os resultados de trabalhos anteriores. Em Viegas (1987: 199), observa-se que, de um total de 1327 dados, o alçamento ocorre 350 vezes (26% P.R). Avelheda (2013: 93), em seu estudo que analisa a estrutura silábica separadamente, confirma a hipótese de que a ausência de travamento silábico tende a não favorecer o fenômeno do alçamento das vogais médias pretônicas. Após as recodificações, foi realizada a análise multivariada. O programa R-brul selecionou oito variáveis e excluiu apenas uma. As variáveis selecionadas foram: (i) Natureza da vogal da sílaba seguinte; (ii) Número de sílabas; (iii) Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo; (iv) Posição da sílaba em relação à tônica; (v) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo; (vi) Década; (vii) Faixa etária e (viii) Sexo/Gênero. A variável excluída foi Natureza da vogal alvo. Antes de analisar os condicionamentos significativos para o alteamento, é importante destacar a variável linguística eliminada. Na variável Natureza da vogal alvo, postula-se a hipótese de que as pretônicas permanentemente átonas tendem ao alteamento, mas do que as eventualmente átonas. As primeiras são aquelas que nunca figuram em sílaba tônica (menino, meninice, meninada), já no segundo caso as pretônicas podem apresentar-se em sílaba pretônica nas formas de um mesmo

60 60 paradigma (ponta, pontinha, pontinhado). O resultado percentual mostrou que as átonas permanentes (208 13,5%) apresenta uma baixa contribuição para alteamento. Apenas 31 dados (9,8%) de pretônica eventualmente átona foram alçados. A contribuição da vogal átona permanente é observada em vários estudos. Bisol (1981: 69) afirma que a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica. A baixa diferença de percentuais entre a vogal permanente e eventual é o motivo pelo qual esta variável não foi selecionada. Portanto, é possível afirmar que a variável Natureza da vogal alvo não é significativa para o alteamento da vogal média pretônica em contexto de sílaba livre em nomes. Feitas as considerações necessárias, a seguir apresentam-se os resultados das variáveis selecionadas pelo programa R-brul Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável Natureza da vogal da sílaba seguinte visa a identificar se a vogal da sílaba seguinte favorece o alteamento das médias anteriores. O alteamento da vogal média pretônica costuma ser explicado pelo processo de harmonização vocálica, em que ocorre a assimilação do traço [+ alto] presente na vogal alta da sílaba seguinte. Logo, o principal objetivo dessa variável é observar se o fenômeno de harmonização vocálica atua sobre a pretônica anterior. Muitos pesquisadores, como Lemle (1974 apud Viegas 1987) e Bisol (1981: 11), defendem que a condição necessária para que ocorra alteamento é o fato de existir uma vogal alta na sílaba seguinte. Por exemplo, a palavra menino costuma ser pronunciada como minino e o principal motivo para a ocorrência do alteamento da vogal pretônica é a presença da vogal alta /i/ na sílaba seguinte. Assim como Lemle (1974 apud Viegas 1987) e Bisol (1981), Viegas (1987: 130) diz que que o levantamento de /e/ é um processo de harmonização vocálica evidente devido à grande influência da vogal da sílaba seguinte. A seguir, apresenta-se a Tabela 9 com os resultados da variável Natureza da vogal da sílaba seguinte. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Alta Homorgânica [i] 90/369 24,4% Alta não homorgânica [u] 11/111 9,9% Média Fechada [e o] 64/768 8,3% Média Aberta [ɛ ɔ] 48/168 28,6% Baixa [a] 26/445 5,8% Input da Rodada: Tabela 9: Vogal anterior sílaba livre Natureza da vogal da sílaba seguinte.

61 61 Os resultados da Tabela 9 mostram que a vogal alta homorgânica [i] presente na sílaba seguinte (90 24,4% ) e a vogal alta não homorgânica [u] na sílaba seguinte (11 9,9% ) são as que mais favorecem o alteamento das vogais média anterior em sílaba livre. As vogais médias abertas [ɛ ɔ] (48 28,6% ) apresentam comportamento neutro. As vogais médias fechadas (64 8,3% ) e baixa [a] (26 5,8% ) não favorecem o alçamento da pretônica anterior. Tal resultado é verificado nos estudos de Viegas (1987: 116), Brandão & Cruz (2005), Silveira (2008). Viegas (1987: 116) observa o baixo índice (11%) de alçamento quando a vogal contígua é média átona. Brandão & Cruz (2005: 5) afirmam que, nos falares do Pará, a presença da tônica alta na sílaba seguinte parece ter grande atuação para o alteamento da pretônica. Silveira (2008: 86) verifica que a vogal tônica /i/ na sílaba seguinte é o ambiente mais favorável para o alteamento (39% ). Portanto, as vogais altas seguintes colaboram para o alteamento da vogal média anterior sem travamento consonântico. Além disso, verifica-se a atuação do processo de harmonização vocálica, pois as vogais pretônicas assimilam o traço [+ alto] da sílaba seguinte. Os dados a seguir exemplificam os resultados: Vogal alta homorgânica: Domingo de manhã o, o inf[i]liz que bota o carro; as b[i]bidas estrangeiras; picadinho m[i]tido a besta; estar num [e]difício de apartamento alugado; agora está lá como r[e]líquia histórica; atum é uma d[e]lícia; Vogal alta não homorgânica: Lapa em relação à s[i]gurança eu acho que é uma coisa; chegava no Natal, sempre a parte do p[i]ru ficava com a Maria; muita gente, pr[i]sunto, frios; Também fui [e]ducada no sistema do primeiro; carne e l[e]gume; eu trabalho muito com a arquit[e]tura do século XIX;

62 62 Vogal média fechada: tem um morro e nesse morro tem uma p[i]quena cabana; mesa de cab[i]ceira, e olhe lá; se a pessoa me trata de s[i]nhor, ainda como o, feudo; o t[e]rreno da fazenda; O corr[e]dor é liso; com alho, com c[e]bola, eu apenasmente (sic) passo sal; Vogal média aberta: um financiamento [i]n[ɔ]rme de dez anos; santa, uma Nossa S[i]nh[ɔ]ra do Parto; ela fazia as coisas m[i]lh[ɔ]r do que eu sabia fazer; nesse pátio tem uma r[e]s[ɛ]rva de lenha, a parte; aquecimento [e]l[ɛ]trico; porque o r[e]l[ɔ]gio é o maior inimigo; Vogal baixa: cada faculdade fazia seu [i]xame; após uma corrida de Fórmula 1, como os d[i]sastres acontecem; é tão d[i]sagradável quanto o calor; uma g[e]ladeira, armário; as cadeiras pras empr[e]gadas, certo?; A parte da área tem dois s[e]cadores, o tanque; A harmonização vocálica parece ser forte condicionamento do processo de alteamento em diferentes variedades do português, revelando a atuação de efeitos neogramáticos sobre o fenômeno Número de sílabas No Português Europeu, o cancelamento pretônico tende a ocorrer em vocábulos de quatro ou mais sílabas (BATISTA DA SILVEIRA, 2014), regularizando o padrão da língua de predomínio de palavras de até três sílabas (televisão ~ tlivisão). Em paralelo, postulou-se a hipótese de que o alteamento também ocorreria mais fortemente em palavras de maior extensão, já que o cancelamento pretônico seria a continuidade do processo de alteamento.

63 63 Os resultados, no entanto, revelam outro comportamento: Número de sílabas Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Duas 33/106 31,1% Três 143/759 18,8% Quatro ou + 63/996 6,3% Input da Rodada: Tabela 10: Vogal anterior sílaba livre Número de sílabas São as palavras de duas (33 31,1% ) e três sílabas (143 18,8% ) as favorecedoras para o alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba livre. Nas palavras de maior extensão - mais de quatro sílabas (63 6,3% ) - o alteamento tende a não ocorrer. Embora se tenha hipotetizado que o fenômeno do cancelamento pretônico no Português Europeu seria uma continuidade do alteamento e, por isso, este se daria em palavras de maior extensão no português do Brasil, não foi o que os resultados mostraram. Talvez seja preciso investigar mais apropriadamente os condicionamentos que regulam o cancelamento naquela variedade do Português. As regras parecem ser, em algum aspecto, diversas das que acionam o alteamento no Brasil. A seguir há alguns exemplos: Duas sílabas: ela fazia as coisas m[i]lhor do que eu sabia fazer; se a pessoa me trata de s[i]nhor, ainda como o, feudo; chegava no Natal, sempre a parte do p[i]ru ficava com a Maria; de arear os m[e]tais, passar Brasso; o v[e]rão de Brasília; adiante, Barra, L[e]blon, depois Barra. Três sílabas: coletivamente em p[i]quenos grupo; os man[i]quins ficam na sala de aula; Tinha conversado com a m[i]nina que faz estágio, quer dizer; eram p[e]ssoas burrinhas; uma casa para um fim de s[e]mana, pra um, pra umas férias;

64 64 Café com leite, torrada e g[e]léia. Quatro sílabas: rua que vai sair no c[i]mitério ali; todo poderoso pr[i]sidente da república; As medidas de s[i]gurança?; ar r[e]frigerado...; O chão é em c[e]râmica ou em pedra, não sei bem; Pego o [e]levador e chego ao segundo andar Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo A variável Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo tem como principal objetivo verificar se o alteamento ocorre pela assimilação de traços presentes nos fones que sucedem a vogal média. Para Viegas (1987: 59), se o alçamento é um processo de assimilação, os segmentos adjacentes podem estar influenciando-o, principalmente o segmento seguinte, provocando uma antecipação na articulação. Estudos anteriores defendem que o grande fator condicionante para o alteamento é a presença da vogal alta na sílaba seguinte. No entanto, Abaurre-Gnerre (1981) mostra que há outros fatores que favorecem a realização do fenômeno. Segundo Abaurre-Gnerre (1981: 36), o alteamento de palavras como s[i]nhor e m[i]lhor não podem ser explicados pelo processo de harmonização vocálica, pois não há presença da vogal alta na sílaba seguinte. De acordo com a autora, para essa ocorrência verifica-se outro processo assimilatório denominado de redução vocálica, por tratar-se da assimilação do traço [+] alto presente na consoante adjacente. A seguir, apresentam-se os resultados totais, percentuais e probabilísticos. Cabe lembrar que a variável foi recodificada, uma vez que alguns fatores apresentavam comportamento categórico ou os dados estavam desequilibrados. Levando em conta o ponto de articulação da consoante seguinte, as consoantes alveolar, pós-alveolar e labial foram recodificadas como anteriores e as consoantes velar e palatal foram recodificadas como posteriores. Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Anterior 138/1509 9,1% Posterior 101/352 28,7% Input da Rodada: Tabela 11: Vogal anterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo

65 65 Somente o fato de essa variável ter sido selecionada pelo programa R-brul, é possível afirmar que atua o processo de redução vocálica, uma vez que se verifica que o traço fonético [+ alto] da consoante seguinte favorece o alteamento da média posterior sem travamento consonântico. As consoantes posteriores (velar/palatais oco. 9.1% ) favorecem o alçamento. Já as consoantes anteriores (alveolares, pós-alveolares, labiais 138 oco. 9,1% ) não favorecem o alteamento da vogal anterior em sílaba livre. Esse resultado é o mesmo de estudos anteriores. Bisol (1981: 80) verifica que são as consoantes posteriores, no caso a velar (0.85), que mais favoreceram o alteamento. Segundo Bisol (1981: 79), na regra de /e/, uma velar (ou uma palatal seguinte) condiciona a elevação da pretônica, não o fazendo a labial e a alveolar. A seguir, apresentam-se alguns exemplos dos dados: Anterior: aquele calor todo, m[i]nina pra que você está sentada aí?; Gosto de jogar fut[i]bol, gosto de jogar um voleibol, né; na av[i]nida Vieira Souto; nem o S[e]nai que é específico em: corte; pega o m[e]trô em Copacabana; de arear os m[e]tais, passar Brasso. Posterior: a idade vai chegando, pr[i]guiça aquela coisa; quer dizer o s[i]guro não cobriu tudo; os man[i]quins: a gente pode tirar; dificulta todos os seus n[e]gócios; A parte da área tem dois s[e]cadores, o tanque; copa e dependências de empr[e]gada Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A variável Contiguidade da pretônica à sílaba tônica observa se o alteamento ocorre com maior frequência quando a pretônica se encontra contígua ou não à tônica. Vale lembrar que esta variável foi recodificada, não mais especificando a qualidade da vogal, mas a

66 66 contiguidade ou não à pretônica. A seguir, apresentam-se os resultados encontrados para essa variável. Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Contígua à tônica 205/ ,1% Não contígua à tônica 34/664 5,1% Input da Rodada: Tabela 12: Vogal anterior sílaba livre Contiguidade da pretônica à sílaba tônica As vogais pretônicas contíguas à tônica (205 17,1% ) são as que mais favorecem o alteamento da vogal pretônica anterior em estrutura de sílaba livre. Já as vogais pretônicas que não se encontram contíguas à tônica (34 5,1% ) não favorecem o alçamento da anterior. Assim, a contiguidade é um fator bastante relevante para o fenômeno. Tal resultado também é observado no estudo de Avelheda (2013), em que as vogais contíguas apresentam peso relativo 0.75 de favorecimento. Abaixo, observam-se alguns exemplos de dados na variável: Contígua à tônica: o ovo m[i]xido que prum aperto; na av[i]nida Vieira Souto; Mauro era m[i]nino, Mauro tinha, três anos; dificulta todos os seus n[e]gócios; num r[e]gime de economia talvez; uma [e]quipe do jardim zoológico, lá. Não contígua à tônica: rua que vai sair no c[i]mitério ali; eles tão ali pra dar s[i]gurança pra população... pra quem tá ali; o M[i]diterrâneo é mais agitado; Nós mudamos de um [e]difício já bem antigo; dentro ainda do, do t[e]rritório familiar; e um ap[e]ritivo antes.

67 Aberta Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Fechada [e, o] Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Fechada [e, o] 67 Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica O objetivo do cruzamento das variáveis Natureza da vogal da sílaba seguinte e Contiguidade da pretônica à sílaba tônica é verificar se a presença de vogal alta é o principal condicionador do alteamento pretônico e, ainda, se o fator contiguidade atua nesse contexto silábico. A depender do dialeto considerado, esses fatores podem influenciar o alçamento. Segundo Lemle (1974 apud VIEGAS, 1987: 66), na fala carioca, uma condição necessária para a regra de alçamento é a presença de vogal alta na sílaba seguinte, mas não necessariamente a imediata. No entanto, alguns pesquisadores, como Bisol (1981) para a fala do Sul, Viegas (1987), na análise da fala mineira, e Avelheda (2013), na fala de Nova Iguaçu RJ, observam, em seus dados, que o alteamento da vogal pretônica anterior ocorre com maior frequência quando a vogal seguinte é alta e apresenta-se contígua à tônica. A tabela e o gráfico abaixo ilustram essa possível relação: Cruzamento: Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Alteadas Total % Aberta [ɛ, ɔ] contígua 48 / ,57 Alta [i] contígua 66 / ,83 Alta [u] contígua 6 / 48 12,50 Baixa [a] contígua 21 / 293 7,17 Fechada [e, o] contígua 64 / ,76 Total vogais contíguas 205 / ,13 Alta [i] não contígua 24 / ,67 Alta [u] não contígua 5 / 63 7,94 Baixa [a] não contígua 5 / 152 3,29 Fechada [e, o] contígua - / Total vogais não contíguas 34 / 664 5,12 Total Geral 239 / ,84 Tabela 13: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Vogal anterior sílaba livre - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade % 80.00% 60.00% 40.00% 20.00% 0.00% Alteadas Média Fechada contígua Não contígua Gráfico 3: Vogal anterior sílaba livre - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade

68 68 Num total de 239 dados de vogal pretônica alteada, 205 estão contíguas à sílaba tônica (17,13%). A depender da natureza da vogal presente na sílaba tônica, tem-se a seguinte distribuição da variante alteada: i. se aberta [ɛ, ɔ] (ex.: [i]norme / m[i]lhor), 48 ocorrências (28,57%); ii. se alta [i] homorgânica (ex.: inf[i]liz / p[i]rigo), 66 ocorrências (45,83%); iii. se alta [u] não homorgânica (ex.: pr[i]zunto / p[i]ru), apenas 6 ocorrências (12,50%); iv. se baixa [a] (ex.: [i]xame / d[i]sastre), 21 ocorrências (7,17%); v. se média fechada (ex.: p[i]queno / s[i]nhor), 64 ocorrências (11,76%). Observa-se que a média pretônica tende a concretizar-se pela variante alta [i], quando contígua à tônica alta [i] (45,83%) e à tônica aberta [ɛ, ɔ] (28,57%). Em termos percentuais, a vogal alta homorgânica é o contexto mais contribuidor para o alteamento da vogal média pretônica em contexto de sílaba livre. Se a vogal pretônica não está contígua à sílaba tônica, o alteamento ocorre em 34 ocorrências (5,12%). Nesse contexto, a pretônica /e/ também varia, a depender da natureza da vogal da sílaba tônica: i. se aberta [ɛ, ɔ], nenhuma ocorrência da variantes alteadas; ii. se alta [i] homorgânica (ex.: p[i]rigoso / c[i]mitério), 24 ocorrências (10,67%); iii. se alta [u] não homorgânica (ex.: s[i]gurança / d[i]sumano), 5 ocorrências (7,94%); iv. se baixa [a] (ex.: d[i]savisada / d[i]sagradável), 5 ocorrências (3,29%); v. se média fechada [e, o], nenhuma ocorrência de variante alta. A análise dos dados permite dizer que, ainda que a pretônica não esteja contígua à sílaba tônica, é a vogal alta [i] o principal desencadeador do alteamento (10,67%). Esse resultado indica que dois fatores atuam para o alteamento pretônico em estrutura de sílaba livre. Em primeiro lugar, a contiguidade à sílaba tônica ([i] > [e, o] > [ɛ, ɔ]); em segundo, a presença da vogal alta [i] quer contígua contexto preferencial quer não contígua à pretônica. Esse resultado corrobora os resultados de Silveira (2008: 90) que afirma que além de ser a presença da vogal alta o contexto ideal à manifestação do processo, quando comparados aos outros tipos de vogais na sílaba tônica, a adjacência desse tipo de vogal também exerce papel determinante na caracterização da regra.

69 69 Tal resultado confirma o de outros estudos. Em Viegas (1987: 119), a alta imediata à pretônica (0.93) favorece o alteamento da anterior. No estudo de Bisol (1981: 64), são as vogais altas sequenciadas (medicina) (0.88) e as altas imediatas (precisão) (0.79) que mais favorecem o alçamento Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo A variável independente ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo tem como objetivo verificar se o alteamento ocorre pela assimilação de traços presentes nos fones que precedem a vogal média anterior, num processo de assimilação progressiva. A variável também intenta verificar se sílabas desapoiadas (V) propiciam o alteamento, conforme outros estudos apontam. Assim como na variável ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo, algumas variáveis foram amalgamadas, uma vez que, feita a análise total e percentual, foram necessários alguns ajustes metodológicos. Por isso, as consoantes alveolares, pósalveolares e labiais foram recodificadas como anteriores, e as velares e palatais, como posteriores. Na tabela a seguir, encontram-se os resultados: Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio 27/210 12,9% Anterior 207/ ,1% Posterior 5/188 2,7% 0.19 Tabela 14: Vogal anterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo O contexto de sílaba livre (27 oco. 12,9% ) e as consoantes antecedentes com ponto de articulação anterior (207 oco. 14,1% ) favorecem o alteamento da vogal pretônica anterior em estrutura silábica sem travamento consonântico. Já as consoantes antecedentes com ponto de articulação posterior (5 2,7% ) não favorecem o alteamento de /e/ em estrutura silábica livre. O resultado da presente pesquisa corrobora os resultados de pesquisas anteriores. Avelheda (2013: 103) e Silveira (2008: 96) verificaram que as consoantes labiais (0.63) são as que mais contribuem para o alçamento. Portanto, a não presença de consoantes no início do vocábulo e as consoantes anteriores como ponto de articulação anterior (labiais pós-alveolares alveolar) favorecem o alçamento da vogal média anterior em contexto de sílaba livre, revelando também algum tipo de assimilação dos traços [+ alto] e [+ coronal] presentes em

70 70 algumas consoantes. A seguir, há alguns exemplos das variantes (contexto livre, ponto de articulação anterior e posterior): Contexto Livre: cada faculdade fazia seu [i]xame; os arquivos por eh por [i]mail... eles podem; um quintal [i]norme também eles fizeram; fez PUC fez Engenharia Elétrica [E]letrônica e: de produção; Centro [E]ducacional da Lagoa; eu não votei no [E]duardo Paes. Anterior: uma, s[i]nhora academia, aqui, né; os m[i]ninos eu tenho três irmãos; mesa de cab[i]ceira, e olhe lá; todo acarpetado, como é acarp[e]tada a sala; já morei em casa em Santa T[e]resa; Ele estava no V[e]súvio, estava visitando. Posterior: a velha e conh[i]cida morosidade; calor do mais aqu[i]cido; desigualmente aqu[i]cidos; o hospital já era um esqu[e]leto e agente fechou; ruim r[e]belde você sabe; uma casa em Paqu[e]tá, uma casa Década A variável Década tem o objetivo de verificar se houve maior ou menor produtividade do alteamento da vogal pretônica no transcorrer das décadas de 1970, 1990 e Década Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade /633 16,4% /592 13,5% /638 8,6% Input da Rodada: Tabela 15: Vogal anterior sílaba livre Década

71 71 A partir dos resultados da tabela acima, observa-se que na década de 1970 (104 oco. 16,4% ), há maior realização do fenômeno do alteamento. Na década de 1990 (80 oco. 13,5% ), verifica-se uma baixa produtividade do fenômeno, o peso relativo representa quase uma neutralidade. Na década de 2010 (55 8,6% ), há poucas realizações alteadas da vogal média anterior sem travamento consonântico. Em Leite, Callou & Moraes (2002: 13), verificam-se resultados semelhantes, uma vez que analisaram o mesmo corpus. No entanto, os pesquisadores analisaram juntamente a classe gramatical dos nomes e dos verbos e todas as estruturas silábicas. Ao analisar o alteamento das vogais médias anteriores nas décadas de 1970 e 1990, os autores observam, a partir do estudo de painel8, que a década de 1970 (0.52) e 1990 (0.53) apresentam baixo peso relativo de favorecimento ao alteamento; a partir do estudo de tendências, a década de 1990 (0.43) não favoreceu o alçamento das médias anteriores. Assim como no presente estudo, Leite, Callou & Moraes (2002) verificam, no estudo de tendências9, uma diminuição dos itens alçáveis com o passar das décadas. O estudo do tempo real tipo tendências se baseia na comparação de amostras aleatórias de uma mesma comunidade de fala. Esse estudo permite identificar se há propagação, estabilização ou recuo do fenômeno linguístico. A partir da variável década, é possível observar uma tendência ao desuso do alteamento da vogal média anterior sem travamento consonântico, visto que tanto os percentuais ( ,4%; ,5%; ,6%) quanto os pesos relativos ( ; ; ) indicam o recuo do processo de alteamento. Como foi realizada análise por tipo de estrutura silábica, ainda resta verificar a análise em tempo real de curta duração nos demais contextos silábicos. O gráfico abaixo ilustra os resultados Vogal anterior sílaba livre - Estudo de tempo real 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 16.40% 13.50% 8.60% 0.00% Década de 1970 Década de 1990 Década de 2010 Gráfico 4: Vogal anterior sílaba livre Estudo de tempo real 8 O estudo de painel analisa a fala de uma mesmo informante em diferentes períodos de tempo, a partir de recontato. 9 O estudo de tendências analisa fala de diferentes informantes em diferentes períodos de tempo.

72 72 A seguir apresentam-se alguns dados das três décadas analisadas: Década de 1970: santa, uma Nossa S[i]nhora do Parto; As b[i]bidas estrangeiras; picadinho m[i]tido a besta; agora está lá como r[e]líquia histórica; A forra do r[e]lógio, vou pra Caxambu; diversas estações, v[e]rão, inverno. Década de 1990: todo poderoso pr[i]sidente da república; tratava com aquela reverência o s[i]nhor pra cá; aqueles quartos p[i]quenos, quer dizer, dificilmente; a nível de [e]ducação das pessoas sabe; um alto [e]xecutivo como eu tô cruzando com um pivete; pizzaria, restaurante, né, espaços culturais, gal[e]rias e tal. Década de 2010: quatro m[i]ninas... andando de madrugada na Lapa; saía pra jogar fut[i]bol era... o pessoal que saía; quer dizer o s[i]guro não cobriu tudo; em caso de [e]mergência né; lá no M[e]lhado Advogados pra poder a gente entrar; vamos pra d[e]legacia chama a polícia não sei quê Faixa Etária Por meio da variável faixa etária, pretende-se verificar se o alteamento é um fenômeno inovador o que se comprova se este apresenta maior uso entre os mais jovens ou se um fenômeno conservador manifesta-se com mais frequência entre falantes mais idosos. De acordo com o estudo em tempo aparente, comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem representar diferentes estágios da língua. Para Labov (2008), a mudança linguística inicia-se em um grupo da comunidade de fala e é levada às gerações sucessivas. Segundo Paiva

73 73 & Duarte (2003), na esteira de Labov (2008), os grupos etários mais jovens introduzem novas alternantes que poderão substituir as características linguísticas das faixas etárias mais avançadas: Faixa Etária Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35 anos) 86/636 13,5% Faixa 2 (36 55 anos) 67/672 10% Faixa 3 (56 75 anos) 86/555 15,5% 0.58 Input da Rodada: Tabela 16: Vogal anterior sílaba livre Faixa etária Os resultados dessa variável mostram que falantes da terceira faixa etária, 56 a 75 anos (86 oco. 15,5% ), e da primeira faixa etária, 25 a 35 anos (86 oco. 13,5% ), tendem ao alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba livre. Já os resultados relativos à segunda faixa, 36 a 55 anos (67 oco. 10% ), mostram que, em contexto de sílaba livre, a tendência é a concretização pela variante média [e]. O gráfico a seguir ilustra o fenômeno do alteamos nas três gerações: Vogal anterior sílaba livre - Estudo de tempo aparente 20.00% 15.00% 10.00% 13.50% 10% 15.50% 5.00% 0.00% Faixa 1 (25-35 anos) Faixa 2 (36-55 anos) Faixa 3 (56-75 anos Gráfico 5: Vogal anterior sílaba livre Estudo de tempo aparente Tal resultado mostra que o alteamento da média anterior em sílaba livre está em processo de variação estável, uma vez que se observa que a primeira e última faixas etárias estão favorecendo o fenômeno. O resultado do presente estudo se coaduna aos resultados da pesquisa de Leite, Callou & Moraes (2002), ao analisarem o mesmo corpus da vogal anterior afirmam que, em tempo aparente, a curva é, nas duas décadas, de variação estável, com inversão na segunda faixa etária: os falantes dessa faixa, em 1970, são os que mais aplicam a regra e, em 1990, os que menos a utilizam. Resta confirmar tais resultados para os demais contextos silábicos analisados.

74 74 Diferentemente do resultado encontrado em Callou et alii (1991), cujos dados representam a variedade carioca, Viegas (1987: 148), afirma que o alçamento no dialeto mineiro é um fenômeno em progresso, pois os jovens (0.54) tendem a realizar o fenômeno. Abaixo apresentam alguns exemplos das vogais anteriores nas três faixas etárias estudadas: Primeira Faixa Etária (25 35 anos): uma, s[i]nhora academia, aqui, né; É p[i]rigoso por quê?; a própria Acad[i]mia de Ginástica Corpore, ela abriu; ele é: o coord[e]nador de gestão de design da Puc...; depois vem d[e]senho industrial...; um prédio novo na Puc... para design e arquit[e]tura... Segunda Faixa Etária (36 55 anos): E sobr[i]mesa, ou fruta; vêm esses m[i]ninos por aí, ficam rondando; da mar[i]sia; os am[e]ricanos porque a gente ainda tem família; mexe com a [e]nergia então tá todo mundo; não basta ser eng[e]nheiro a gente vai ter. Terceira Faixa Etária (56 75 anos): eu vi o M[i]diterrâneo ele estava mais agitado; se a pessoa me trata de s[i]nhor, ainda como o, feudo; Hoje tá, um pouco, d[i]sagradável até de sair; Se eu estiver num [e]levador que ele pare entre dois andares; uma v[e]getação de um verde mais, mais forte; o transporte dos d[e]jetos para os locais. Cruzamento Faixa Etária X Década O cruzamento das variáveis faixa etária X década tem como principal objetivo observar o comportamento das faixas etárias nas três décadas. O Gráfico 6 e a Tabela 17 abaixo apresentam os resultados obtidos:

75 75 Cruzamento Faixa Etária X Década Alteadas Aplic./ Total % Faixa 1 (25 35 anos) 39 / ,81 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 37 / , Faixa 3 (56 75 anos) 28 / ,59 Total 104 / ,43 Faixa 1 (25 35 anos) 14 / 198 7,07 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 25 / , Faixa 3 (56 75 anos) 41 / ,55 Total 80 / ,51 Faixa 1 (25 35 anos) 33 / ,07 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 5 / 235 2, Faixa 3 (56 75 anos) 17 / 182 9,34 Total 55 / 636 8,65 Total Geral 239 / ,84 Tabela 17: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década Vogal anterior sílaba livre - Cruzamento Faixa Etária X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa Faixa 3 Alteadas Média Fechada Gráfico 6: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Faixa Etária X Década A partir do cruzamento das variáveis faixa etária X década, verifica-se um total de 239 dados (12,84) realizados pela variante [i], ao passo que há 1622 ocorrências de concretização de média alta [e]. Na década de 1970, 104 palavras (16,43%) foram concretizadas pela variante alteada. Do cruzamento, tem-se os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos), (ex.: p[i]quena, s[i]nhora) - 39 ocorrências (17,81%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos), (ex.: av[i]nida, mar[i]sia) - 37 ocorrências (17,79%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos), (ex.: m[i]lhor, m[i]diterrâneo) - 28 ocorrências (13,59%).

76 76 Verifica-se baixíssimas diferenças percentuais entre as três faixas etárias, por isso apesar da primeira faixa etária ter apresentado maior ocorrência de alteamento não é possível afirmar qual faixa etária mais produziu o alteamento. A década de 1990 apresentou 80 dados (13,51%) realizados pela variante alteada [i], para quais se observam os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos), (ex.: acad[i]mia, fut[i]bol) - 14 ocorrências (7,07%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos), (ex.: m[i]nina, [i]xame) - 25 ocorrências (11,01%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos), (ex.: s[i]nhor, pr[i]guiça) - 41 ocorrências (24,55%). Assim, a partir dos percentuais, verifica-se que são as pessoas da terceira faixa etária (56-75 anos - 24,55%) que mais realizam o alteamento das vogais anterior em contexto de sílaba livre. Já a década de 2010 apresentou 55 dados (8,65%) alteados, para os quais se verificam os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos), (ex.: d[i]sign, [i]mail) - 33 ocorrências (15,07%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos), (ex.: p[i]quemos, cred[i]bilidade) - 5 ocorrências (2,13%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos), (ex.: s[i]guro, cab[i]ceira) - 17 ocorrências (9,34%). Os resultados mostram que, na década de 2010, são as pessoas mais jovens (primeira faixa etária 15,07%) que mais realizam o alteamento das vogais anterior em contexto de sílaba livre Sexo/Gênero A partir da variável Sexo/Gênero, pretende-se verificar a realização das vogais pretônicas anteriores em sílaba livre na fala das mulheres e dos homens. Na tabela abaixo, observam-se os resultados da variável sexo/gênero: Sexo/Gênero Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Mulheres 130/841 15,5% Homens 109/ ,7% Input da Rodada: Tabela 18: Vogal anterior sílaba livre Sexo/Gênero

77 77 As mulheres (130 15,5% ) tendem à realização do alteamento da vogal média anterior em contexto de sílaba livre. Os homens (109 10,7% ) revelam uma menor tendência o alçamento. Diferentemente desse resultado, Viegas (1987: 146) observou, em seu estudo das vogais pretônicas na fala de Belo Horizonte, que os homens (0.58) são que mais realizam o alçamento. Já Avelheda (2013) não verificou diferenças significativas entre homens (50,4%) e mulheres (49,6%) no alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba livre, não sendo selecionada a variável. A seguir, observam-se alguns exemplos de dados da variável sexo/gênero: Mulheres: as s[i]nhoras dos oficiais, ir assim pra lá; muita gente, pr[i]sunto, frios; As b[i]bidas estrangeiras; aprendeu H[e]braico; é um [e]lefante branco né...; aquele centro: de mat[e]mática que tem a. Homens: uma casa p[i]quena, simples; tem quadra de fut[i]bol, quadra, parques né; minhas filhas já são mais pr[i]guiçosas; a CLT de G[e]túlio em mil novecentos e quarenta e três; demitir o comandante do segundo [e]xército e liberou a censura; sequer um vale r[e]feição, a única coisa. No entanto, cabe questionar a eficiência da análise da variável Sexo/Gênero e sua correlação com o status social do alteamento pretônico, quando se trata de um fenômeno pouco perceptível aos usuários da língua. A presente pesquisa empreenderá um estudo de Crenças e Atitudes (LAMBERT, LAMBERT, 1975; AGUILERA, 2008; BOTASSINI, 2013, entre outros), a fim de melhor compreender a avaliação social do alteamento vocálico. Apenas pela análise da variável

78 78 Sexo/Gênero, em se tratando de sílaba livre, não parece ser o alteamento fenômeno estigmatizado. Cruzamento Sexo/Gênero X Década O cruzamento das variáveis Sexo/Gênero X Década tem como principal objetivo observar o comportamento das mulheres e dos homens nas três décadas pesquisadas. A Tabela 19 e o Gráfico 7 a seguir exibem os resultados encontrados: Cruzamento Sexo/Genero X Década Alteadas Aplic. / Total % Década de 1970 Mulheres 46 / ,42 Homens 58 / ,72 Total 104 / ,43 Década de 1990 Mulheres 44 / ,06 Homens 36 / ,32 Total 80 / ,51 Década de 2010 Mulheres 40 / ,20 Homens 15 / 333 4,50 Total 55 / 636 8,65 Total Geral 239 / ,84 Tabela 19: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Vogal anterior sílaba livre - Cruzamento Sexo/Gênero X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% mulher Homem mulher Homem mulher Homem Alteadas Média Fechada Gráfico 7: Vogal anterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Na década de 1970, 104 dados são alçados (16,43%), sendo as mulheres quem mais realizam o alteamento (ex.: m[i]xido, pr[i]sunto) da vogal média pretônica (46 oco. 17,42%). Os homens (ex.: s[i]gurança, m[i]didas) apresentam um menor percentual de alteamento (58 oco. - 15,72%).

79 79 O alçamento ocorre em 80 dados na década de 1990 e em 55 dados na década de Nas décadas de 1990 (ex.: m[i]nina, av[i]nida - 44 dados 16,06%) e de 2010 (ex.: c[i]mitério, man[i]quim - 40 dados 13,20%), são as mulheres quem mais realizam o alteamento da vogal pretônica. Os homens da década de 1990 (ex.: pr[i]sidente, fut[i]bol 36 dados 11,32%) e de 2010 (ex.: [i]mail, s[i]nhora 15 dados 4,50%) produzem com uma menor frequência o alçamento. Os resultados gerais indicam que o alteamento da vogal média pretônica anterior é mais frequente entre as mulheres em todas as décadas. Cabe aqui considerar a aplicabilidade do pressuposto laboviano (LABOV, 2008) da associação do gênero do informante aos usos de maior ou menor prestígio. Primeiramente, cabe destacar que não se trata de um fenômeno notadamente estigmatizado, atuando abaixo do nível de consciência do falante. Logo, torna-se difícil estabelecer a relação entre gênero e o alteamento pretônico. Em segundo lugar, os trabalhos de Labov associam gênero, faixa etária e escolaridade/classe social para a discussão do status social de uma variante. No presente estudo, não há o controle da escolaridade do informante, visto que se analisam apenas falantes cultos10. A fim de buscar uma análise pertinente à questão do encaixamento de um dado fenômeno linguístico na matriz social, empreendeu-se um estudo com base nos pressupostos teóricos e metodológicos de Crenças e Atitudes, cujos testes visam a observar a percepção, as avaliações e as atitudes dos informantes em relação ao fenômeno do alteamento vocálico. À luz dos resultados, serão feitas comparações com os resultados obtidos na variável Sexo/Gênero nas três décadas consideradas Vogal Pretônica anterior travada por Sibilante /S/ O corpus constitui-se de 466 ocorências de vogal média anterior travadas por consoante sibilante (escadaria, escravo, pescadores). Desse total, 349 palavras (74,89%) foram realizadas com a pretônica alteada [i] (ex.: [i]stofado, [i]scravo, [i]scrivaninha) e 117 palavras (25,11%) foram realizadas com as vogal pretônica fechada [e] (ex.: v[e]stibular, pal[e]stino, m[e]strado), ou seja, não foram atingidas pelo fenômeno. Diferentemente das vogais médias em sílaba livre, as vogais médias travadas pela consoante sibilante apresentam grande quantidade de palavras alçadas. 10 Cabe destacar que essa opção se deve ao fato de privilegiar um estudo em tempo real de curta duração. Para isso, contou-se com dados das décadas de 1970 e 1990 do Projeto NURC-RJ, cujo objeto é o estudo da norma culta, não havendo, portanto, inquéritos de informantes de nível médio e fundamental.

80 80 Vogal anterior travada por sibilante /S/ / 74,89% 117 / 25,11% Alteadas Média fechada Gráfico 8: Vogal anterior travada por sibilante O grande favorecimento da vogal média anterior travada por sibilante na realização do alteamento é observado em diversos estudos. Bisol (1981: 33), ao estudar a fala gáucha, afirma que a elevação de /e/ antes de /S/ é um fato consagrado na literatura fonológica. Viegas (1987: 119), ao analisar a fala mineira, verifica que é a estrutura silábica travada por fricativa (229/343 67% ) que mais favorece o alçamento da vogal média anterior. Marques (2006: 84), ao estudar a fala dos imigrantes nordestinos no Rio de Janeiro, verifica que a estrutura silábica CVC travada por /S/ favorece o alteamento. Viana (2008: 9), ao analisar a fala de Pará de Minas, observa que as palavras sem travamento consonântico quase não alçam (educação, energia), mas quando estão travadas por nasal ou fricativa o alçamento é quase categórico (isquina, iscola, incarou). Por último, Avelheda (2013: 136), no estudo da vogal anterior pretônica em contexto de sílaba travada por sibilante no município de Nova Iguaçu, verifica o grande favorecimento da estrutura silábica travada por /S/. No estudo de Avelheda (2013), de um total de 1328 ocorrências de média pretônica travada pela fricativa /S/, 1135 foram realizadas com a vogal alteada e apenas 193 com a vogal média fechada. Como dito anteriormente, antes de realizar a rodada multivariada no programa R-brul, verificaram-se alguns comportamentos categóricos (knockouts), isto é, algumas variáveis apresentaram células vazias. Por isso, para a análise probabilística no Programa R-brul, algumas variáveis foram amalgamadas com o objetivo de obter resultados mais confiáveis. Feitas as junções e as recodificações, os dados foram submetidos ao programa estatístico e probabilístico R-brul. O programa selecionou as variáveis na seguinte ordem: (1) Número de sílabas, (2) Natureza da vogal alvo, (3) Década, (4) Sexo/Gênero, (5) Natureza da vogal da sílaba seguinte, (6) Contiguidade da pretônica à sílaba tônica, (7) Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. A variável ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo foi retirada da rodada, uma vez que, mesmo após a recodificação, o

81 81 contexto de ataque vazio não apresentou nenhum dado em que a pretônica fosse realizada com a vogal média fechada, ou seja, o alteamento se mostrou categórico nesse contexto (321 oco.). A variável faixa etária não foi selecionada pelo programa R-brul. Antes de descrever as variáveis selecionadas, é interessante analisar as duas variáveis que não apresentaram resultados favoráveis para o estudo da variação das médias pretônicas anteriores em contexto de sílaba travada por /S/. Na variável Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo, houve um total de 349 ocorrências de alteamento (74,89%). Em 02 dados alçados (2,9%), as consoantes antecedentes possuíam ponto de articulação posterior (ristinga), em 26 ocorrências alteadas (33,3%), as consoantes antecedentes tinham ponto de articulação anterior (vistir, disconto) e 321 dados alçados (100%) não apresentavam consoantes antecedentes, ou seja, o ataque era vazio (iscadaria, iscola). Ponto de articulação da consonate antecedente à vogal alvo Fatores Alteamento Probabilidade / Total % Anterior 26 / 78 33,33 Posterior 2 / 67 2,99 Ataque vazio 321 / Tabela 20: Vogal anterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Por causa do comportamento categórico da variante ataque vazio, a pesquisadora desconsiderou a variável ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo, uma vez que o programa R-brul não apresenta um resultado de grande confiabilidade quando se verificam células vazias na variante. No entanto, tal resultado é bastante importante, uma vez que corrobora os resultados de outros estudos. Segundo Tondinele (2010: 100), ao analisar as vogais anteriores na fala de Montes Claros (Minas Gerais), verifica que a ausência de contexto fonológico precedente foi o fator que mais favoreceu o alçamento da variável /e/ em posição pretônica. VIANA (2008: 84), ao analisar as vogais anteriores a fala dos informantes de Pará de Minas, afirma que para que a vogal média /e/ alce, ela deve estar precedida por fronteira morfológica (84,8%), ou melhor, em início de palavra. Avelheda (2013) observa que, em contexto de sílaba travada por /S/, a ausência de contexto precedente favorece o alteamento da vogal pretônica (99,3% ). Todas essas análises revelam que a sílaba desapoiada, ou seja, sem ataque preenchido é contexto altamente favorecedor do alteamento de pretônica em sílaba travada por fricativa /S/. A variável Faixa Etária não foi selecionada pelo programa R-brul. Não obstante, do total de 349 ocorrências (74,89%) alteadas, na primeira faixa etária (25 35 anos), 97 dados

82 82 foram alteados (20,82%). Na segunda faixa etária (36 55 anos), o alçamento ocorreu em 156 dados (33,48%). Na terceira faixa etária (56 75 anos), 96 dados (20,60%) foram alteados. Faixa Etária Fatores Alteamento Probabilidade / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 97 / ,82 Faixa 2 (36 55 anos) 156 / ,48 Faixa 3 (56 75 anos) 96 / ,60% Tabela 21: Vogal anterior travada por /S/ - Faixa Etária A partir da análise dos percentuais, observa-se que é a segunda faixa etária (36 55 anos) que mais produz o alteamento das vogais médias anteriores em sílaba travada por sibilante. A seguir, apresentam-se as variáveis consideradas relevantes para o fenômeno do alteamento das vogais anteriores em sílaba travada por /S/ Número de sílabas Como já dito para as sílabas livres, uma característica do português Europeu é o cancelamento das vogais pretônicas (pessoas ~ pssoas). Este tende a se realizar em vocábulos de quatro ou mais sílabas (BATISTA DA SILVEIRA, 2014). Parte-se do pressuposto de que o cancelamento pretônico é uma continuidade do processo do alteamento. Logo, postula-se a hipótese de que o fenômeno do alçamento tende a ocorrer com maior frequência em palavras de maior extensão. Número de Sílabas Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Duas 6/45 13,3% Três 191/220 86,8% Quatro ou + 152/201 75,6% Input da Rodada: Tabela 22: Vogal anterior travada por /S/ - Número de sílabas Os resultados mostram que as palavras que apresentam quatro (152 75,6% ) e três (191 86,8% ) sílabas favorecem o alteamento da vogal média anterior em sílaba travada por sibilante. Já nas palavras que apresentam apenas duas sílabas (6 13,3% ), verifica-se que o fenômeno não é tão atuante. Assim, confirma-se a hipótese de que o alteamento se realiza com maior frequência em palavras com maior extensão, o que não se verificou para o contexto de sílaba livre. Os exemplos a seguir ilustram os resultados da variável:

83 83 Duas sílabas: o quarto de v[i]stir e de estudos da minha irmã; uma salinha de [i]star onde está colocado o piano; quarto de [i]star, um tipo de uma salinha; ou então N[e]scau, farinha láctea; ele é: o coordenador de g[e]stão de design da Puc...; em pó N[e]stlé, que eu acho o melhor e o mais parecido. Três sílabas: Rio [i]sporte Center; os [i]scravos ali se refugiaram; a figura da [i]scola que ficavam todas as garotas; Tinha um p[e]scador amigo nosso; ouvia aquele f[e]stival tremendo; eu li uma entrevista, uma, uma p[e]squisa e colocava o magistério. Quatro sílabas: a indireta no [i]stofado... no sofá; o hospital já era um [i]squeleto e agente fechou; trabalhar lá dentro no [i]scritório técnico...; dos p[e]scadores, né; É abrir um r[e]staurante natural na Tijuca; naquela época v[e]stibular não tinha férias Natureza da vogal alvo A variável Natureza da vogal alvo tem como objetivo verificar se o alteamento se realiza em palavras com pretônicas permanentemente átonas ou eventualmente átonas. Natureza da vogal alvo Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Eventual 2/24 8,3% Permanente 347/442 78,5% Input da Rodada: Tabela 23: Vogal anterior travada por /S/ - Natureza da vogal alvo

84 84 A partir da Tabela 23, verifica-se que as vogais átonas permanentes (347 78,5% ) favorecem o alteamento da vogal média anterior em contexto de sílaba travada por /S/. Além disso, observa-se que o alçamento ocorre somente em duas palavras (2 8,3% ) quando a vogal alvo é eventualmente átona. Tal resultado se confirma em diversos estudos. Segundo Bisol (1981: 69), a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica. Avelheda (2013) e Viegas (1987) defendem que o alteamento é um processo de enfraquecimento que faz passar [e] a [i] e [o] a [u], por isso as vogais átonas permanentes são mais alteadas. Além disso, as átonas eventuais por guardarem resquícios das formas de origem não alteiam com tanta frequência. A seguir, observam-se alguns exemplos da variável: Eventual: o quarto de v[i]stir e de estudos da minha irmã; é um inv[i]stimento grande; era um f[e]stival completo de, de sons; medo danado de tar fazendo b[e]steira, mas enfim. Permanente: armários embutidos e uma [i]stante grande; uns mais complicadinhos, [i]strogonofe, que é o picadinho; eles pediram auxílio ao [i]stado, o estado mandou uma equipe; os r[e]staurantes naturais; não ia aceitar os pal[e]stinos; um pequeno v[e]stibular que cai Década A variável década tem como objetivo observar o comportamento das vogais médias pretônicas em três décadas diferentes: 1970, 1990 e Além disso, a partir da variável, é possível analisar o fenômeno do alteamento das vogais pretônicas em um estudo de tempo real de curta duração.

85 85 Década Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade /132 80,3% /163 68,7% /171 76,6% Input da Rodada: Tabela 24: Vogal anterior travada por /S/ - Década Nos resultados acima, observa-se que os falantes da década de 1970 (106 80,3% ) são mais propensos ao alteamento. Nas décadas de 2010 (131 76,6% ) e de 1990 (112 68,7% ), o fenômeno do alteamento reduziu fortemente sua força de atuação, em contexto de vogal média anterior travada por consoante sibilante. Os resultados mostram que, assim como na vogal anterior em contexto de sílaba livre, os falantes da década de 1970 tendem a realizar o alteamento da vogal anterior travada por sibilante. Como se observou no contexto de sílaba livre, esses resultados confirmam resultados de pesquisas anteriores, em que se verificou que a competição entre as variantes alteada [i] e não alteada [e] mostrava a tendência ao não alteamento ao longo do tempo (Cf. VIEGAS, 2001; LEITE, CALLOU e MORAES, 2002). A partir da variável Década realiza-se o Estudo de Tempo Real de Curta Duração que permite observar se o alteamento da vogal anterior travada po /S/ encontra-se em propagação, estabilização ou recuo do fenômeno linguístico. É possível observar uma estabilidade com tendência ao desudo do alteamento da vogal média anterior travada por /S/, visto que tanto os percentuais ( ,3%; ,7%; ,6%) quanto os pesos relativos ( ; ; ) indicam a Década de 1970 foi a que mais realizou o alteamento, seguida a Década de 2010 e, por último a década de O gráfico abaixo ilustra os resultados. Vogal anterior travada por /S/ - Estudo de Tempo Real 82.00% 80.30% 76.60% 77.00% 72.00% 68.70% 67.00% 62.00% Década de 70 Década de 1990 Década 2010 Gráfico 9: Vogal anterior travada por /S/ - Estudo de Tempo Real

86 86 A seguir, há alguns exemplos do alteamento nas três décadas distintas: Década de 1970: Eu disse que era o d[i]sconto em folha, quer dizer; principalmente nos [I]stados Unidos; meu barco que ia pra r[i]stinga da Marambaia; uma temp[e]stade de grande precipitação; os desarranjos inter... int[e]stinais; Mas parece que p[e]squisas recentes estão dizendo. Década de 1990: minha [i]scola era perto né; Eles marcam muito, a sala, pela [i]státua perto; praticar um [i]sporte, não deixa de ser um divertimento; mais, v[e]stuário, alimentações mais, variadas; naquela época v[e]stibular não tinha férias; em setenta e três começou a haver C[e]sgranrio com... Década de 2010: mas como minha [i]sposa nasceu aqui; tem ali na [i]squina não sei qual; é um [i]scritório de São Paulo...; fui trabalhar como pr[e]stador de serviço lá...; tirou o m[e]strado no Canadá...; um trabalho de p[e]squisa ou de orientação... Com objetivo de observar o comportamento das três gerações em análise nas décadas de 1970, 1990 e 2010, realizou-se o cruzamento das variáveis Faixa Etária X Década. Cruzamento Faixa Etária X Década O objetivo desse cruzamento é observar o comportamento das três faixas etárias nas três décadas pesquisadas (1970, 1990 e 2010). A Tabela 25 e o Gráfico 10 abaixo ilustram os resultados obtidos no cruzamento:

87 87 Cruzamento Faixa Etária X Década Alteadas Aplic. / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 41 / 46 89,13 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 34 / 49 69, Faixa 3 (56 75 anos) 31 / 37 83,78 Total 106 / ,30 Faixa 1 (25 35 anos) 19 / 40 47,50 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 70 / 88 79, Faixa 3 (56 75 anos) 23 / 35 65,71 Total 112 / ,61 Faixa 1 (25 35 anos) 37 / 44 84,09 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 52 / 79 65, Faixa 3 (56 75 anos) 42 / 48 87,50 Total 131 / ,61 Total Geral 349 / ,89 Tabela 25: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Faixa Etária X Década Vogal anterior travada por sibilante - Cruzamento Faixa Etária X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Alteada Média Gráfico 10: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Faixa Etária X Década De um total de 466 ocorrências de vogais anteriores, 349 dados (74,89%) realizaram-se com a pretônica alteada em contexto de sílaba travada por sibilante /S/. Na década de 1970, o alteamento ocorreu em 106 dados. Do total de 106 dados alçados (80,30%), observam-se os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]stofado, [i]scravos), 41 ocorrências (89,13%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: r[i]stinga, [i]spetáculo), 34 ocorrências (69,39%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: [i]scritório, [i]stradas), 31 ocorrências (83,78%).

88 88 Logo, verifica-se que, na década de 1970, as pessoas mais jovens (41 oco. 89,13%) e mais idosas (31 oco. 83,78%) são as que mais realizam o alteamento da vogal média anterior em sílaba travada por /S/ Na década de 1990, o alteamento realizou-se em 112 ocorrências. Do total de 112 dados alçados (76,61%), apresentam-se os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]sposa, [i]scola), 19 ocorrências (47,50%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: [i]stágio, [i]spírito), 70 ocorrências (79,55%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: v[i]stidos, [i]sporte), 23 ocorrências (65,71%). Então, na década de 1990, verifica-se que é a segunda etária (70 oco. 79,55%) que mais realiza o alteamento da vogal média anterior travada por consoante fricativa /S/. Já na década de 2010, 131 vogais pretônicas anteriores foram concretizadas pela variante alta [i] (76,61%). Do total de 131 dados alçados, tem-se os seguintes resultados, a depender da faixa etária: i. primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]stilista, [i]special), 37 ocorrências (84,09%); ii. segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: [i]spelho, [i]scândalo), 52 ocorrências (65,82%); iii. terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: [i]squeleto, [i]specialista), 42 ocorrências (87,50%). Assim como na década de 1970, na década de 2010, o alteamento das vogais anteriores em contexto de sílaba travada por sibilante é mais frequente nas primeira (37 oco. 84,09%) e terceira (42 oco. 87,50%) faixas etárias Sexo/Gênero A variável tem como principal objetivo observar o comportamento das mulheres e homens em relação ao alteamento das vogais pretônicas. Sexo/Gênero Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Mulheres 156/179 87,2% Homens 193/287 67,2% Input da Rodada: Tabela 26: Vogal anterior travada por /S/ - Sexo/Gênero

89 89 Os resultados da Tabela 26 mostram que são as mulheres (156 87,2% ) que, em contexto de travamento por fricativa, levam adiante o alteamento da vogal média pretônica [e]. Já os homens parecem tender ao não alteamento (193 67,2% ). Esse resultado se coaduna com os encontrados em Bisol (1981: 83), quando analisa a fala dos fronteiriços no Sul do Brasil e verifica que as mulheres apresentam um leve favorecimento (0.54) ao alteamento da média anterior. No entanto, diversos estudos verificam que são os homens que mais realizam o alteamento da média anterior. Dias, Cassique & Cruz (2007: 13-14), ao analisar a fala rural do Município de Breves, no estado do Pará, observam que são os homens (44% ) que apresentam um leve favorecimento à realização do alçamento, enquanto as mulheres (42% ) tendem à manutenção de [e]. Viegas (1981: 146), ao analisar a fala mineira, e Yacovenco (1993: 63), ao analisar a fala carioca, verificam que são os homens que mais realizam o alteamento da vogal média anterior. No entanto, cabe destacar que neste estudo foram analisados todos os contextos silábicos. Tais resultados, como já proposto, serão analisados a partir de um estudo de Crenças e Atitudes para analisar a avaliação e o julgamento do fenômeno, quando um informante realiza a variante alteada. A seguir, há alguns exemplos da variável Sexo/Gênero: Mulheres: eu tou nessa [i]steira quer dizer...; bebidas [i]strangeiras são falsificadíssimas; desde o ovo [i]stalado, o ovo; de filé de P[e]scal congelados, que bem; medo danado de tar fazendo b[e]steira, mas enfim; eu nas minhas p[e]squisas... vi as crianças. Homens: e esse [i]xpresso de prata; um [i]scorrega e brinquedos de criança; eu optei pela [I]stácio de Sá...; Aqueles p[e]scadores da Pedra de Guaratiba; ouvia aquele f[e]stival tremendo; eu, tenha, essa r[e]sponsabilidade, eu mantenho uma forma.

90 90 Cruzamento Sexo/Gênero X Década O cruzamento das variáveis Sexo/Gênero X Década visa a verificar, a partir do estudo em tempo aparente, o comportamento de homens e mulheres quanto à produção do alteamento nas três décadas analisadas. Na Tabela 27 e o Gráfico 11 abaixo, verificam-se os resultados obtidos do cruzamento das duas variáveis Cruzamento Sexo/Genero X Década Alteadas Aplic. / Total % Década de Mulheres 40 / 47 85, Homens 66 / 85 77,65 Total 106 / ,30 Década de 1990 Mulheres 54 / 58 93,10 Homens 58 / ,24 Total 112 / ,71 Década de Mulheres 62 / 74 83, Homens 69 / 97 71,13 Total 131 / ,61 Total Geral 349 / ,89 Tabela 27: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década Vogal anterior travada por sibilante - Cruzamento Sexo/Gênero X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Alteada Média Gráfico 11: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década No resultado geral, observa-se que as mulheres são mais produtivas na realização do alteamento, nas três décadas consideradas: /47 ocorrências (85,11%); /58 ocorrências (93,10%); /74 ocorrências (83,78%). Na década de 1970, verificam-se 106 ocorrências (80,30%) de vogais alteadas. As mulhers (ex.: [i]stofado, [i]scravos) realizaram o alteamento em 40 dados (85,11%) e os homens

91 91 (ex.: [i]sporte, [i]scritório), em 66 dados (77,65%). Então, são as mulheres que mais realizaram o alteamento na década de A década de 1990 apresentou 112 ocorrências (68,71%) de vogal alteada em contexto de sílaba travada por sibilante. As mulheres (ex.: [i]státua, [i]scola) altearam 54 dados (93,10%), e os homens (ex.: [i]stado, [i]sposa), 58 dados (55,24%), mostrando leve diferença de comportamento entre os dois gêneros. Na década de 2010, 131 dados (76,61%) foram realizados com a vogal pretônica alteada [i]. Assim como na década de 1970 e 1990, em 2010, são as mulheres (ex.: [i]stação, [i]scandinavos) (62 oco. 83,78%) quem mais realizam o alteamento das vogais anteriores travadas por /S/. Os homens (ex.: [i]studo, [i]squina) apresentam um menor percentual de realização do fenômeno (69 oco. 71,13%). O cruzamento permitiu observar que nas três décadas são as mulheres quem mais realizam o alteamento, da vogal média anterior em contexto de sílaba travada por sibilante Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável Natureza da vogal da sílaba seguinte tem como objetivo observar se há a atuação do condicionamento neogramático da harmonização vocálica sobre o fenômeno do alteamento pretônico. A maioria dos estudos anteriores afirmam que a presença de uma vogal alta seguinte a pretônica favorece o alteamento, ou seja, o alçamento da pretônica é motivado pela assimilação do traço [+ alto] presente na vogal seguinte. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Alta [i] homorgânica 43/76 56,6% Alta [u] não homorgânica 27/28 96,4% Média [e, o, ɛ, ɔ] 144/169 85,2% Baixa [a] 135/193 69,9% Input da Rodada: Tabela 28: Vogal anterior travada por /S/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Diferentemente dos demais estudos que não fizeram a separação entre nomes, verbos e contextos silábicos, os resultados descartam a atuação da harmonia vocálica pelo fone [i], no entanto a vogal alta posterior [u] atua fortemente para o alteamento de pretônica travada por /S/. Os resultados mostram que a vogal alta não homorgânica [u] (27 96,4% ) e a vogal média (144 85,2% ) são as que mais favorecem o alteamento da pretônica

92 92 anterior em contexto de sílaba travada por sibilante. As vogais seguintes baixas (135 69,9% ) e alta homorgânica [i] (43 56,6% ) apresentam baixa contribuição para o alçamento da média anterior. Assim como no resultado acima, Tondineli (2010: 97) verifica o favorecimento das vogais altas não homorgânicas [u] seguintes (0.735) para o alteamento da vogal anterior. As vogais seguintes alta homorgânica [i] (0.664), médias abertas [ɛ, ɔ] (0.621) e médias fechadas [e] (0.594) também favoreceram o alteamento da média anterior. No estudo de Avelheda (2013: 137), a variável vogal da sílaba seguinte não foi selecionada quando a pesquisadora analisou a vogal anterior em sílaba travada por /S/. Ao analisar a variável separadamente, Avelheda (2013), na fala de Nova Iguaçu, verificou que percentualmente todas as vogais da sílaba seguinte contribuem para o alçamento (vogal aberta tônica 99,6% / vogal alta [i] tônica 82,4% / vogal alta [i] átona 77,6% / vogal alta [u] tônica 100% / vogal alta [u] átona 98,5% / vogal baixa tônica 69% / vogal baixa átona 87,2% - vogal fechada tônica 58,5% / vogal fechada átona 81,9%). Por isso, a autora concluiu que o mais forte condicionamento para o alteamento da vogal pretônica é o próprio elemento que entrava a vogal e não a sílaba seguinte, o que também parece se confirmar para o presente estudo. Muitos estudos como os de Viegas (1981), Viana (2008), Brandão & Cruz (2005), Silveira & Tenani (2007) e Silveira (2008) observam que a presença da vogal alta homorgânica seguinte contribui para o alteamento da vogal anterior. Já a presença da vogal média seguinte favorece a manutenção da pretônica como média fechada. Apesar de as pesquisadoras não analisarem separadamente as vogais pretônicas de acordo com a estrutura silábica, no contexto de vogal anterior travada por /S/, a presente pesquisa, mostra resultados bastante opostos: as vogais médias fechadas favorecem o alteamento e a vogal alta homorgânica não apresentam resultados positivos para o alçamento. Assim como Avelheda (2013,) entende-se que o forte condicionamento para o alteamento da pretônica anterior é o fato de a sílaba estar travada por /S/. Assim, em contexto de travamento por fricativa, a harmonia vocálica entre vogal homorgânica parece não favorecer o alteamento. Abaixo, há alguns exemplos que lustram os resultados da variável: Vogal alta homorgânica [i]: um [i]scritório, uma igreja; vira centro [i]spírita, as casas;

93 93 eu, por exemplo, meus v[i]stidos, quando eu precisava; ouvia aquele f[e]stival tremendo; Fundação de Amparo à P[e]squisa, e, de onde saí o ano passado; não queria os pal[e]stinos principalmente porque era um povo pobre. Vogal alta não homorgânica [u]: o quarto de vestir e de [i]studos da minha irmã; principalmente pros [i]studantes, porque tem muito fosfato; esse pessoal... tem [i]stufa tem tudo; mais, v[e]stuário, alimentações mais, variadas. Vogal Média [e]: a indireta no [i]stofado... no sofá; se tiver um [i]spelho; é um [i]spetáculo, como todos sabem; medo danado de tar fazendo b[e]steira, mas enfim; a lei de r[e]sponsabilidade fiscal...; eh, operários eram de um modo geral d[e]scendentes de imigrantes. Vogal Baixa [a]: um [i]stágio lá sem remuneração pra você aprender; portanto defronte do sofá tem um [i]strado com almofadas areia; a parte fechada, tem uma [i]scadaria de pedra, em cima; ou então N[e]scau, farinha láctea; tirou o m[e]strado no Canadá...; Tinha um p[e]scador amigo nosso Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A variável contiguidade da pretônica à sílaba tônica tem como objetivo observar se a pretônica /e/ seguida da fricativa /S/ tende a se realizar alteada, quando se encontra contígua ou não contígua à tônica. Conforme apresentado para os dados de pretônica /e/ em sílaba livre, a contiguidade é um forte condicionante do alteamento: a contiguidade é um traço obrigatório

94 94 da harmonização vocálica (BISOL, 1981: 65). Mas, em outras variedades do português, não é condição necessária (LEMLE, 1974, apud VIEGAS, 1987: 66). Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Contígua à tônica 231/280 76,1% Não contígua à tônica 136/186 73,1% Input da Rodada: Tabela 29: Vogal anterior travada por /S/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A partir dos resultados da Tabela 29, verifica-se que o fato de a pretônica estar contígua à tônica (231 76,1% ) favorece o alteamento da vogal média anterior em contexto de sílaba travada por consoante sibilante. Já a não contiguidade à tônica (136 73,1% ) não contribui para o alçamento. Diversos estudos confirmam os resultados acima. Viegas (1987: 119) observa que a vogal alta imediata (267/355 75% ) é a que mais favorece o alteamento da vogal anterior. No estudo de Avelheda (2013: 143), a contiguidade (92,4% ) é um fator de grande favorecimento para o alçamento da vogal pretônica anterior em contexto de sílaba travada por /S/. A seguir, apresentam-se alguns exemplos da vogal anterior contíguas e não contíguas à tônica: Contíguas à tônica: a [i]scola era junto com o museu; botar naquele [i]stádio sessenta mil trabalhadores; pelas [i]stradas, ah, diariamente; um banco de questões como tem a C[e]sgranrio; uma temp[e]stade de grande precipitação; de filé de P[e]scal congelados, que bem. Não contíguas à tônica: um [i]scritório, uma igreja; diversas [i]stações, verão, inverno; no curso de [i]statística os professores vão; o Sabor e Saúde, é um r[e]staurante inclusive que faz isso;

95 95 Os p[e]scadores deixaram de pescar; fui trabalhar como pr[e]stador de serviço lá... Portanto, como defende Bisol (1981), a contiguidade é um fator essencial para o alteamento da vogal média pretônica. Intenta-se observar, através do cruzamento das variáveis Natureza da vogal da sílaba seguinte e Contiguidade da pretônica à sílaba tônica, se o alteamento da vogal média anterior travada por consoante fricativa é motivado pelo processo de harmonização vocálica. Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica O cruzamento das variáveis Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica intenta observar se a presença da vogal seguinte e o fato de estar contígua à tônica favorecem o alteamento da vogal média anterior travada por sibilante. Os resultados gerais mostraram que a vogal alta não homorgânica [u] e a vogal média fechada [e] são as que mais favorecem o alteamento. Além disso, a contiguidade à tônica também se mostrou relevante para a aplicação do fenômeno. O resultado em relação à vogal da sílaba seguinte não é o esperado, uma vez que estudos anteriores mostram que é a vogal alta homorgânica que mais favorecem o alçamento. No entanto, há de se levar em conta que se trata de contexto de sílaba travada por /S/ e, por isso, entende-se que o grande motivador do alteamento seja a consoante sibilante e não a vogal alta homorgânica seguinte. Assim sendo, o cruzamento das variáveis tem como objetivo observar essa hipótese, além de verificar se a harmonização vocálica atua no contexto de pretônica travada por /S/. Como se sabe, a presença da vogal alta e a contiguidade à vogal tônica são fatores essenciais para a ocorrência do processo de alteamento. A Tabela 30 e o Gráfico 12 abaixo ilustram o cruzamento: Cruzamento: Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Alteadas Aplic./Total % Pretônica contígua à alta [i] 22 / 37 59,46 Pretônica contígua à alta [u] 11 / Pretônica contígua à baixa [a] 97 / ,85 Pretônica contígua à fechada [e, o] 83 / 97 85,57 Total vogais contíguas 213 / ,07 Pretônica não contígua à alta [i] 21 / 39 53,85 Pretônica não contígua à alta [u] 16 / 17 94,12 Pretônica não contígua à baixa [a] 38 / 58 65,52 Pretônica não contígua à fechada [e, o] 61 / 72 84,72 Total vogais não contíguas 136 / ,12 Total Geral 349 / ,89 Tabela 30: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade

96 96 Vogal anterior travada por sibilante - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alteada Média Contígua Não contígua Gráfico 12: Vogal anterior travada por /S/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Num total de 349 dados alteados, 213 (76,07%) vogais pretônicas encontram-se contíguas à vogal tônica, ao passo que 136 dados (73,12%) não estão em contiguidade à sílaba tônica. Do total de 213 ocorrências de pretônica alteada contígua à tônica, tem-se a seguinte distribuição, a depender da natureza da vogal presente na sílaba tônica: i. se alta homorgânica [i] (ex.: [i]squina, r[i]stinga), 22 dados (59,46%); ii. se alta não homorgânica [u] (ex.: [i]studo, [i]stufa), 11 dados (100%); iii. se baixa [a], (ex.: [i]stágio, [i]strada), 97 dados (71,85%); iv. se média [e, ɛ, o, ɔ] (ex.: [i]sporte, [i]spelho), 83 dados (85,57%); Os resultados totais/percentuais mostram que a contiguidade da pretônica /e/ travada por fricativa à sílaba tônica contribui para o alteamento, não importando a natureza da vogal da sílaba seguinte. De um total de 349 dados alteados, 136 (73,12%) apresentam a variante alta [i], em contexto de não contiguidade à vogal tônica: i. se alta homorgânica [i] (ex.: [i]scritório, [i]stilista), 21 dados (53,85%); ii. se alta não homorgânica [u] (ex.: [i]studantes, [i]xcursão) 16 dados (94,12%); iii. se baixa [a] (ex.: [i]statística, [i]scandinavos), 38 dados (65,52%) dados; iv. se média [e, ɛ, o, ɔ] (ex.: [i]stofado, [i]xternato), 61 dados (84,72%).

97 97 Os resultados mostram que há uma maior realização do alteamento, mesmo não estando contígua à sílaba tônica, o que indica que o principal condicionamento seja o contexto de travamento por /S/, ainda que o fator contiguidade seja relevante para o fenômeno nesse contexto Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo A análise dessa variável observa se o ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo interfere na realização das vogais médias pretônicas. Intenta-se observar se ocorre condicionamento fonológico, a partir da assimilação dos traços do fonema que sucede a pretônica. Este condicionamento é nomeado por Abaurre-Gnerre (1981: 36) de redução vocálica: Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Pretônica travada por /S/ - Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Posterior 226/326 87,9% Anterior 123/140 69,3% Input da Rodada: Tabela 31: Vogal anterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Como já foi dito anteriormente, a variável ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo teve suas variantes amalgamadas. Os resultados mostram que a presença das consoantes com ponto de articulação posterior (velar, palatal 226 oco. 87,9% ) favorecem o alteamento da vogal média pretônica em contexto de sílaba travada por /S/. Verifica-se pouca realização do alteamento quando a consoante seguinte possui ponto de articulação anterior (alveolar, pós-alveolar e labial 123 oco. 69,3% ). Estudos anteriores também mostram a relevância da variável Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. Ainda que não tenha separado por estrutura silábica, Bisol (1981: 93) explica que a vogal alta é produzida pelo levantamento do corpo da língua em direção ao palato duro, no caso do /i/, por isso as consoantes velar e palatal favorecem o alteamento da vogal anterior, uma vez que a primeira é realizada com o dorso da língua levantado e a segunda com todo o corpo da língua levantado. Já a alveolar, por ser produzida com a língua razoavelmente plana, não favorece o processo, pois não apresenta pontos de articulação semelhantes à vogal assimiladora. Silveira (2008: 101) observa, na fala culta do noroeste paulista, que a consoante velar apresenta um índice categórico da regra de alçamento nas ocorrências de pretônica /e/ (0.99). Em Viegas (1987: 119) o ponto de articulação anterior

98 98 e posterior não se mostrou relevante, pois os dois apresentaram peso relativo 0.5. Abaixo, apresentam-se alguns exemplos: Anterior: fora do horário do [i]xpediente deles; o meu [i]stágio de pesquisa de tec/ de tecido e tendência...; se tiver um [i]spelho; em pó N[e]stlé, que eu acho o melhor e o mais parecido; na época do v[e]stibular... eu tinha passado; eu sou o r[e]sponsável pela banca... Posterior: todo forrado [i]scocês com esse motorista lindo; uma [i]scola... na/ em assuntos; tem ali na [i]squina não sei qual; um trabalho de p[e]squisa ou de orientação...; Aqueles p[e]scadores da Pedra de Guaratiba; um banco de questões como tem a C[e]sgranrio Vogal pretônica anterior travada por Nasal /N/ O corpus é composto por 274 ocorrências de vogais pretônicas travadas por nasal. Desse total, 128 (46,72%) vogais pretônicas realizaram-se pela variante alteada (ex.: [i]mpregada, [i]mpada) e 146 (53,28%) foram realizadas pela variante média fechada [e] (ex.: [e]ntrada, juv[e]ntude). Comparando esses resultados com os da pretônica anterior de sílaba livre e os da pretônica anterior travada por consoante sibilante, verifica-se que o alteamento ocorre com maior frequência em contexto de pretônica travada por sibilante (ex.: [i]scravo, [i]scola), depois em pretônica travada por nasal (ex: [i]mpregada, [i]mpresa) e, por último, em pretônica em contexto de sílaba livre (ex.: p[i]queno, s[i]nhora).

99 99 Vogal anterior travada por /N/ / 46,72% 146 / 53,28% Alteada Média fechada Gráfico 13: Vogal anterior travada por Nasal /N/ Observa-se, portanto, que em termos percentuais, a vogal anterior em posição pretônica travada por nasal apresenta 46,72% de contribuição para o alteamento. Outros estudos revelam ser o travamento por nasal propiciador do fenômeno. Em seu estudo, Bisol (1981: 33), analisando o dialeto do Sul, atesta que a elevação de /e/ antes de /N/ e /S/ parece um caso consagrado. Viana (2008: 81), no estudo da fala do Pará de Minas, verifica, a partir de percentuais, que a vogal anterior travada por nasal tendem à realização alteada (63,2%) mais do que a de média fechada (31,4%). Tondinele (2010: 102) observa que, no contexto de sílaba pretônica anterior, o fator nasal é mais favorável ao alteamento do que o fator oral. Avelheda (2013: 116) analisou 1243 dados de vogal anterior travada por nasal, desse total 670 (53,7%) realizaram com a variante média fechada e 573 realizaram com a variante alteada. Brandão & Cruz (2005), ao analisarem a fala do Pará, afirmam que independentemente de vogal tônica, nos vocábulos em que a vogal pretônica apresenta nasalidade de natureza fonológica, há, como se verifica em outros falares, maior probabilidade de alteamentos. Ao analisar separadamente a nasalidade, Silveira (2008: 109) observou que a presença de um elemento nasal na mesma sílaba da vogal pretônica é o fator que mais favorece à elevação de /e/. Antes da rodada multivariada, ainda no programa Excel, onde os dados foram codificados e primariamente analisados a partir de tabelas dinâmicas, verificou-se que havia algumas variáveis do corpus das vogais médias anteriores travadas por nasal que apresentavam alguns knockouts (células vazias); por isso, algumas variáveis foram recodificadas, como dito anteriormente, com o objetivo de se obterem melhores resultados. Realizadas as recodificações, o corpus foi submetido ao programa estatístico probabilístico R-brul. O programa selecionou três variáveis como as mais significativas para o alteamento da vogal anterior travada por nasal. São elas: (i) Década (ii) Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo; (iii) Natureza da vogal da sílaba seguinte. As variáveis Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo, Número de sílabas e

100 100 Natureza da vogal alvo foram retiradas da rodada, uma vez que nelas havia uma variante que apresentava célula vazia, impossibilitando a análise binária. Já as variáveis Faixa Etária, Sexo/Gênero e Contiguidade não foram selecionadas pelo programa. Antes de descrever as variáveis selecionadas, é importante analisar as variáveis excluídas e não selecionadas como favoráveis para o alteamento. A variável Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo foi retirada da rodada variacionista, uma vez que a pesquisadora observou, a partir das tabelas dinâmicas criadas no programa Excel, que, mesmo após as recodificações, não houve alteamento em contexto antecedente preenchido por consoantes posteriores (velares e palatais). Apesar de a variável ter sido excluída, verifica-se, a partir das tabelas dinâmicas, resultados totais e percentuais importantes para análise do alteamento da vogal anterior travada por nasal. A variável tem como principal objetivo observar se o ponto da articulação de uma consoante antecedente favorece o alteamento da pretônica. A seguir, apresenta-se a tabela com os resultados totais/percentuais da variável: Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Alteamento Probabilidade / Total % Anterior 7/135 5,1 Posterior - - Ataque vazio 121/137 88,3 Tabela 32: Vogal anterior travada por /N/ Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo A partir da tabela acima, verifica-se que o ataque vazio (ex.: [i]ngenharia, [i]mpregada), ou seja, a não presença de consoantes antes da vogal pretônica (121 oco. 88,3%) contribui para o alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba travada por nasal. Já as consoantes com ponto de articulação anterior (6 oco. da palavra s[i]ntido, des[i]nvolvimento 5,1%) não contribui para o alteamento em posição pretônica. Tal resultado, em relação ao alteamento, é observado em diversos estudos. Portanto, apesar de a variável ter sido excluída por não apresentar dados para a variante ponto de articulação posterior, verifica-se, a partir de resultados totais e percentuais, que a sílaba pretônica com ataque vazio contribui para o alteamento em contexto de sílaba travada por nasal (ex.: [i]ngenheiro, [i]nchete). Outra variável retirada da rodada pela pesquisadora foi Número de sílabas. A variável observa o número de sílabas dos vocábulos sob análise, entende-se que palavras de maior extensão tendem ao alteamento. No entanto, tal variável não foi submetida à rodada variacionista, pois não houve nenhum dado de duas sílabas. Entretanto, é possível verificar

101 101 resultados importantes dessa variável. A seguir, apresenta-se a tabela com os resultados gerais e totais obtidos nas tabelas dinâmicas: Número de sílabas Fatores / Variantes Alteamento Total % Duas - - Três 56/ Quatro 72/171 42,11 Tabela 33: Vogal anterior travada por /N/ - Número de sílabas Diferentemente dos resultados relativos à vogal anterior em contexto de sílaba livre e semelhante aos resultados encontrados para a anterior travada por sibilante, o resultado percentuais e totais confirmam a hipótese de que o alteamento ocorre com maior frequência em vocábulos que apresentam maior extensão. A partir dos resultados totais e percentuais, verificase também que as palavras de maior número de sílabas (ex.: três sílabas = [i]mpada, [i]chente / quatro sílabas = [i]mpregada, [i]ngraçado) contribui para a realização da variante alteada. A última variável desconsiderada foi Natureza da vogal alvo. A variável tem como objetivo observar se o alteamento ocorre mais frequentemente quando as pretônicas são permanentemente átonas ou eventualmente átonas. Na análise preliminar dos resultados totais e percentuais, observou-se que não houve ocorrência da variante alteada [i], se a sílaba pretônica é eventualmente átona, confirmando-se a hipótese de que as vogais pretônicas derivadas de uma tônica resistem ao alteamento. Assim, a variável constituiu-se de grupo único, sendo necessária sua exclusão. As vogais permanentemente átonas (128 oco. 69,1%), isto é, as vogais pretônicas que sempre ocorrem em sílaba átonas (ex.: [i]mpregada, [i]ntrevista) são as que mais contribuem para o alteamento das vogais pretônicas em contexto de sílaba travada por nasal. Tal resultado coaduna-se ao estudo de Avelheda (2013: 118) que, ao analisar a tonicidade da pretônica, verificou que as pretônicas permanentes são as que mais favorecem a variante alteada em contexto de sílaba travada por nasal (peso relativo 0.91). A variável faixa etária foi considerada na rodada. No entanto, não foi selecionada pelo programa R-brul como uma variável condicionante do alteamento pretônico. O principal objetivo da variável é observar o comportamento das vogais pretônicas em diferentes gerações, numa análise em tempo aparente. Entende-se que o fenômeno é inovador quando este se manifesta frequentemente entre os mais jovens e conservador quando ocorre com uma maior frequência entre as pessoas de idade mais avançada. A tabela a seguir ilustra os resultados percentuais e totais obtidos em uma primeira análise a partir das tabelas dinâmicas:

102 102 Faixa Etária Fatores / Variantes Alteados Total % 1ª Faixa Etária (25 35 anos) 34/97 35,05 2ª Faixa Etária (36 55 anos) 57/108 52,78 3ª Faixa Etária (56 75 anos) 37/69 53,62 Tabela 34: Vogal anterior travada por /N/ - Faixa Etária Como se observa, a primeira faixa etária apresentou 34 ocorrências, em um total de 128 ocorrências, apenas 35,05% dos dados (ex.: [i]ncanamento, [i]mpresa). Já a segunda faixa etária contou com 57 em um total de 108 dados, correspondendo a 52,78% (ex.: [i]nlatado, [i]nsino), e, por último, a terceira faixa etária apresentou 37 dados alteado, de um total de 71 dados (ex.: [i]mbutida, [i]ngenharia). Outra variável social não selecionada pelo programa R-brul foi Sexo/Gênero. O objetivo da variável é observar se o fenômeno do alteamento é realizado mais frequentemente por falantes do gênero feminino ou masculino. Conforme já exposto, estudos que consideram essa variável relacionam o uso das variantes ao status/avaliação social do fenômeno em variação. A análise percentual apresentou os seguintes resultados: Sexo/Gênero Fatores Alteados Total % Mulheres 52/117 44,4 Homens 76/157 48,4 Tabela 35: Vogal anterior travada por /N/ - Sexo/Gênero A partir da tabela 35, verifica-se que são os homens (ex.: [i]ngenheiro, [i]ndereço) (76 oco. - 48,4%) e as mulheres (ex.: [i]ncosta, [i]nlatados) (52 oco. 44,4%) apresentam baixo percentual de contribuição para alçamento. A última variável não selecionada pelo programa probabilístico foi Contiguidade da pretônica à sílaba tônica. O alteamento tende a ocorre com uma maior frequência quando a vogal pretônica está contígua à sílaba tônica. Os resultados estão expostos na tabela abaixo: Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Alteados Total % Contígua à tônica 55/ Não contígua à tônica 73/133 54,89 Tabela 36: Vogal anterior travada por /N/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica

103 103 Os resultados totais e percentuais mostram que o alteamento da pretônica seguida de nasal ocorre com uma maior frequência quando a pretônica não está contígua à tônica (ex.: [i]ngarrafamento, [i]mbebida) (73 oco. 54,89%). Já quando a pretônica está contígua (ex.: [i]mprego, [i]nsino) apenas (55 oco.) 39% das vogais médias anteriores estão alçadas. Tais resultados mostram que, em contexto de travamento nasal, a contiguidade à sílaba tônica não desencadeia o alteamento, uma vez que a variante média tende a ser mantida nesse contexto (86 oco. 60,9% dos dados). Diferentemente, os resultados encontrados na análise da vogal anterior em sílaba livre e em sílaba travada por consoante sibilante mostram que o alteamento pretônico se mostra condicionado pela contiguidade à sílaba tônica. No entanto, tal resultado vai ao encontro da análise de Lemle (1974 apud VIEGAS: 66) que defende que a contiguidade não é uma condição essencial para o alteamento das vogais pretônicas. Uma hipótese para o não favorecimento da variante Contiguidade da pretônica à sílaba tônica é que o contexto favorecedor para o alteamento é o próprio travamento nasal, cujos traços [+ alto] e [+ anterior] tendem a propiciar a variante [i], principalmente se a pretônica está em início absoluto de palavra (ataque vazio). Após a descrição das variáveis excluídas e não selecionadas pelo programa probabilístico, apresentam-se as variáveis selecionadas como favorecedoras para o alteamento da vogal média anterior em contexto de sílaba travada por nasal Década A variável tem como objetivo verificar o comportamento do fenômeno do alteamento ao longo das décadas de 1970, 1990 e Além disso, a partir do estudo de tempo real de curta duração, é possível observar o fenômeno em intervalos de 20 anos. A seguir, apresentamse os resultados: Fatores Década Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Década de /97 35,1% Década de /84 51,2% Década de /93 54,8% Input da Rodada: Tabela 37: Vogal anterior travada por /N/ - Década A partir dos resultados da Tabela 37, verifica-se que a década de 2010 (51 oco. 54,8% ) é a que revela maior tendência ao alteamento da vogal anterior em sílaba travada por

104 104 consoante nasal. Nas décadas de 1990 (43 oco. 51,2% ) e 1970 (34 oco. 35,1% ), o fenômeno apresenta probabilidades inferiores a.50. Tal resultado difere dos resultados obtidos na análise das vogais anteriores de sílaba livre e de sílaba travada por sibilante, em que se observou um maior favorecimento do fenômeno na década de A partir do estudo de tempo real de curta duração, é possível afirmar que o alteamento das vogais anteriores em contexto de sílaba travada por nasal encontra-se em propagação. Como ilustra o gráfico abaixo: 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Vogal anterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Real 51.19% 54.84% 36.36% Década de 1970 Década de 1990 Década de 2010 Gráfico 14: Vogal anterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Real Os exemplos a seguir ilustram os resultados da variável: Década de 1970: uma maravilha, conservado por uma [i]mpregada antiquíssima; armários [i]mbutidos e uma estante grande; Agora [i]ngorda muito; a gente tem o problema de dar uma [e]ntrada grande; uma s[e]nzala de escravos, entende? carne muito t[e]mperada, né, com alho. Década de 1990: não tinha [i]ngarrafamento, e pelo que eu sei; o outro é [i]ngenheiro, e, tô com a terceira; época da [i]ntrevista, setenta e um, governo Médici; boa qualidade, de alim[e]ntação, porque alimentação natural; a praça é, tomada por m[e]ndigos e tudo;

105 105 na época do verão, que era uma delícia, uma t[e]mperatura deliciosa. Década de 2010: uma [i]mpresa que chama Local Cred; meio [i]njoado né (quando) o cara é cricri; em termos de [i]nsino eu acho que era mais fraco; os projetos tem que ser sust[e]ntáveis são quarenta; na apos[e]ntadoria do que no próprio trabalho; divórcio né separações de casal inv[e]ntário quando tem. Há possivelmente um maior número de vocábulos em que a pretônica anterior figura em início absoluto de palavra (ataque vazio), contexto altamente favorecedor da concretização pela variante [i]. Conforme visto na análise preliminar (cf. tabela 32 - contexto antecedente), são 121 dados, num total de 137 ocorrências. Cabe lembrar que a variável Contexto fonológico antecedente teve de ser excluída da análise multivariada, em função de células vazias (nenhuma ocorrência de consoante de traço [+posterior]) e poucos dados (7 ocorrências alteadas 5,1%) de consoante de traço [+anterior]. Com objetivo de observar as variáveis sociais nas três décadas separadamente foram realizados dois cruzamentos: Faixa etária X Década, Sexo/Gênero X Década. A seguir apresentam-se os resultados desses cruzamentos. Cruzamento Faixa Etária X Década O cruzamento tem por objetivo observar o comportamento das três faixas etárias nas três décadas estudadas. Na tabela e no gráfico a seguir apresentam-se os resultados: Cruzamento Faixa Etária X Década Alteadas Aplic, / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 16 / 38 42,11 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 8 / 33 24, Faixa 3 (56 75 anos) 10 / 26 38,46 Total 34 / 97 35,05 Faixa 1 (25 35 anos) 6 / 18 33,33 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 24 / 42 57, Faixa 3 (56 75 anos) 13 / 24 54,17 Total 43 / 84 51,19 Faixa 1 (25 35 anos) 12 / 41 29,27 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 25 / 33 75, Faixa 3 (56 75 anos) 14 / 19 73,68 Total 51 / 93 54,84 Total Geral 128 / ,71 Tabela 38: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década.

106 106 Vogal anterior travada por nasal - Cruzamento Faixa Etária X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa Faixa 3 Alteada Média fechada Gráfico 15: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década De um total geral de 272 dados de vogal pretônica anterior em contexto de sílaba travada por nasal, o alteamento ocorreu em 128 dados, e a manutenção das vogais médias fechadas, em 146 dados. Além disso, a curva ao longo do tempo mostra que, em se tratando de média pretônica anterior travada por nasal, o fenômeno do alteamento encontra-se em variação estável, quer analisando cada uma das faixas etárias quer observando todas as faixas etárias. Na década de 1970, de um total de 128 dados, o alçamento ocorreu em 34 dados (35,05%). A depender da faixa etária, verifica-se a seguinte distribuição da variante alteada: na primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]ngengeiro, [i]ncanemento), 16 ocorrências (42,11%); na segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: [i]mpregada, [i]mpada), 8 ocorrências (24,24%); na terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: [i]nchente, [i]ngraçado), 10 ocorrências (38,46%) Observa-se que a primeira faixa etária (25 35 anos) é a que mais realiza o alteamento das vogais pretônicas. A segunda (35 55 anos) e a terceira (56 75 anos) realizam com uma menor frequência o alçamento. Na década de 1990, o alteamento manifestou-se em 43 dados. A depender da faixa etária, tem-se a seguinte distribuição da variante alteada: na primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]ngarrafamento, [i]mpregada), 6 ocorrência (33,33%);

107 107 na segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: [i]ntrevista, [i]nsino), 24 ocorrência (57,14%); na terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: [i]mprego, [i]ngenheiro), 13 ocorrências (54,17%). Na década de 90, a segunda faixa etária (36 55 anos) é a que mais realiza o alteamento da vogal anterior travada por nasal. Os informantes da década de 2010 manifestaram o alteamento em 51 dados. As faixas etárias apresentaram os seguintes resultados: primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: [i]mpresa, [i]ndereço), 12 ocorrências (29,27%); segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: [i]ngenharia, [i]mprego), 25 ocorrências (75,76%); terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: [i]mbutidas, [i]mpregadas), 14 ocorrências (73,68%). Assim como na década de 1990, na década de 2010 é a segunda faixa etária (25 oco. 75,76%) a que mais realiza o alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba travada por nasal. Cruzamento Sexo/Gênero X Década O cruzamento tem como objetivo observar a realização da vogal pretônica nos dois sexos/gêneros nas três décadas estudadas. A seguir, apresenta-se tabela e gráfico com os resultados: Cruzamento Sexo/Genero X Década Alteadas Aplic./Total % Década de 1970 Mulheres 14 / 41 34,15 Homens 20 / 56 35,71 Total 43 / 97 35,05 Década de 1990 Mulheres 25 / 38 65,79 Homens 18 / 46 39,13 Total 43 / 84 51,19 Década de Mulheres 13 / 38 34, Homens 38 / 55 69,09 Total 51 / 93 54,84 Total Geral 128 / ,72 Tabela 39: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década

108 108 Vogal anterior travada por nasal - Cruzamento Sexo/Gênero X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Alteada Média fechada Gráfico 16: Vogal travada por /N/ - Cruzamento Sexo/Gênero X Década De um total de 274 dados de vogais médias pretônicas, 128 dados se concretizaram pela variante alteada e 146 dados pela média fechada. Apresenta-se abaixo a descrição dos resultados: Na década de 1970, os homens (20 oco. 35,71%) são os que mais realizaram o alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba travada por /N/. As mulheres altearam a pretônica em apenas 14 dados (34,15%). Na década de 1990, são as mulheres (25 oco. 65,79%) que realizam com uma maior frequência o alteamento. Já os homens (18 oco. 39,13%) alteiam menos. Na década de 2010, são os homens (38 oco. 69,09%) que alteiam mais frequentemente a vogal pretônica. As mulheres realizaram o alteamento em apenas 13 dados (34,21%). De uma maneira geral, os resultados mostram a predominância masculina no uso da variante alteada nas décadas de 1970 e 2010; de outro lado, as mulheres predominaram no uso alteado da pretônica apenas na década de Dada essa situação, o alteamento será observado nos testes de crenças e atitudes, a fim de que se consiga obter uma análise mais detalhada sobre a avaliação e o julgamento dos informantes em relação aos fenômenos linguísticos variáveis Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo A variável tem como objetivo observar se os traços da consoante da sílaba seguinte à vogal pretônica favorecem o alteamento. Essa ideia parte do estudo de Abaurre-Gnerre (apud Viegas 1981: 36) que observou que, em alguns casos, o alteamento não pode ser explicado pela presença da vogal alta na sílaba seguinte (ex. [i]ntrada). Nesses casos, entende-se que o traço [+] alto consoante adjacente pode favorecer o alteamento, processo nomeado de redução

109 109 vocálica. Como dito anteriormente, a variável foi recodificada, uma vez que apresentava muitas variantes com células vazias. A tabela a seguir apresenta a variante favorecedora para o alteamento. Fatores Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Aplicação/Total Porcentagem Probabilidade Anterior 99/243 40,7% Posterior 29/31 93,5% Input da Rodada: Tabela 40: Vogal anterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. A partir do resultado da Tabela 40, verifica-se que a presença das: (i) consoantes posteriores no ataque da sílaba seguinte (velar e palatal) (29 oco. 93,5% ) favorecem o alteamento da vogal pretônica [e] em contexto de sílaba travada por consoante nasal; (ii) consoantes de traço [+ anterior] (alveolar, pós-alveolar e labial) (99 40,7% ) não favorecem a realização alteada. Tal resultado é observado nos estudos que não analisam separadamente o contexto silábico. Segundo Viegas (1987:79), a palatal tende a propiciar a elevação de ambas as vogais, enquanto a velar é o contexto ideal para a elevação de /e/. Entretanto, o presente resultado não é o mesmo observado em Avelheda (2013) que analisa separadamente o contexto silábico. Avelheda (2013) observa que a consoante labial (163 89,6% ) é a que mais favorece o alteamento da pretônica em contexto de sílaba travada por nasal. Além disso, Avelheda (2013) defende a hipótese de que a variável consoante da sílaba seguinte não seja um forte condicionante para o alteamento, a autora acredita que o travamento silábico é condicionamento mais forte para a realização do fenômeno linguístico, ideia partilhada na presente pesquisa. A seguir, apresentam-se alguns exemplos da variável: Anterior: as cadeiras pras [i]mpregadas, certo? é uma [i]mpresa de telecomunicações; ensino à distância [i]nsino a curta distância; Uma sala, dois quartos, dep[e]ndências normais; E os t[e]mperos que quiser; feijão - amarelo, l[e]ntilhas.

110 110 Posterior: propaganda [i]nganosa que você vê...; o nosso único ponto de [i]ncontro aqui é no bar; Agora, pela, pela [i]ncosta da mon... da montanha; o magistério como b[e]nquisto, muito bem; tudo desp[e]ncado uma coisa horrorosa Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável tem por objetivo observar se a vogal presente na sílaba seguinte interfere no alteamento das vogais média pretônicas. Estudos anteriores, como Viegas (1981), Bisol (1987), Brandão e Cruz (2005), Dias, Cassique & Cruz (2007), Tondineli (2010) entre outros, observam que a presença de uma vogal alta na sílaba seguinte é um fator altamente condicionante para o fenômeno de alçamento. Tal variável busca verificar se os resultados das pesquisas anteriores se confirmam, especificamente quando a pretônica se encontra em contexto de sílaba travada por nasal. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Travada por Nasal / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Alta Homorgânica [i] 15/44 34,1% Alta não homorgânica [u] 5/11 45,5% Média Fechada [e o] 87/118 73,7% Baixa [a] 21/101 20,8% Input da Rodada: Tabela 41: Vogal anterior travada por /N/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte. A partir do resultado da Tabela 41, verifica-se que a presença da vogal média fechada [e o] (87 oco. 73,7% ) favorece o alteamento da vogal anterior em sílaba travada por /N/. A vogal alta não homorgânica apresenta probabilidade Já as outras variantes (i) vogal alta homorgânica [i] (15 oco. 34,1% ); e (iii) baixa [a] (21oco. 20,8% ) não favorecem o alteamento. Tal resultado não é o mesmo encontrado em estudos anteriores que analisam conjuntamente todos os contextos silábicos. Como dito anteriormente, muitos estudos observam que a presença da vogal alta homorgânica é um condicionamento altamente favorecedor para o alçamento. Já o presente resultado verifica que é a vogal média fechada e a alta não homorgânica são as que favorecem a realização do fenômeno quando seguido de consoante nasal.

111 111 Diferentemente desses estudos, Avelheda (2013: 117), como na presente pesquisa, analisou separadamente as vogais pretônicas, de acordo com seu contexto silábico. Em relação à variável natureza da vogal da sílaba seguinte no contexto de sílaba travada por nasal, a variável não foi submetida ao programa probabilístico Goldvarb-X, mas a pesquisadora analisou a variável a partir dos resultados totais e percentuais. Os resultados revelaram que a presença de: (i) vogal média aberta tônica (12 oco. 92,3%); (ii) vogal média fechada átona (170 oco. 92,9%); (iii) vogal alta não homorgânica [u] (15oc. 88,2%) foram as variantes mais favorecedoras para o alteamento. Assim, como no presente estudo, a vogal alta homorgânica [i] da sílaba seguinte não foi a variável mais favorecedora para o alçamento. Avelheda (2013: 18) afirma que o mais forte condicionamento é o próprio elemento nasal que entrava a vogal. Assim como nos resultados de Avelheda (2013) e nos resultados relativos à vogal anterior [e] em contexto de sílaba travada por sibilante, entende-se que o entravamento silábico nasal é o grande condicionador do alteamento. Portanto, o processo de harmonização vocálica não atua no alteamento das vogais pretônicas travadas por nasal. A seguir apresentam-se alguns exemplos: Alta hormorgânica [i]: foram reformas no s[i]ntido de conservação; Ele trabalha com a gente aqui de [i]nsino e ele está agora liderando; o [i]nsino tinha uma diferença muito grande; perdeu um pouco a id[e]ntidade que ela já teve; a comunidade dos m[e]ndigos da Lapa; feijão - amarelo, l[e]ntilhas. Alta não homorgânica [u]: essas mais [i]ngurduradas, né; armários [i]mbutidos e uma estante grande; meio [i]njuado né (quando) o cara é cricri; porque a juv[e]ntude sempre; demitir o comandante do segundo exército e liberou a c[e]nsura; armazém de interior, desse que tem tudo p[e]ndurado, tudo misturado. Média fechada [e, o]: dá aula na [i]ngenharia do Fundão;

112 112 é uma [i]mpresa de telecomunicações; patrão e [i]mpregado e o [i]mpregado, achatado durante tantos anos; nas noites de grande t[e]mporal era um bombardeio; copa e dep[e]ndências de empregada; milanesa ou t[e]mperado com limão e sal. Baixa [a]: um negócio assim [i]ngraçado, né?; todo dia tem [i]ngarrafamento na Tijuca; propaganda [i]nganosa que você vê...; É no prédio, é c[e]ntral; o portãozinho de [e]ntrada, em cimento; o temporal, a v[e]ntania, né?. Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Juntamente com a presença da vogal alta na sílaba seguinte, a contiguidade é outro fator de grande importância para o processo de alteamento pretônico. Com objetivo de observar se o comportamento das vogais seguintes e a contiguidade à tônica são fatores importantes para o alteamento, foi realizado o cruzamento das duas variáveis. A Tabela 42 e o Gráfico 17 a seguir apresentam os resultados: Cruzamento: Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Alteadas Aplic. / Total % Alta [i] contígua 15 / 35 42,86 Alta [u] contígua - / 2 - Baixa [a] contígua 1 / 46 2,17 Fechada [e, o] contígua 39 / 58 67,24 Total vogais contíguas 55 / ,01 Alta [i] não contígua - / 9 - Alta [u] não contígua 5 / 9 55,56 Baixa [a] não contígua 20 / 55 36,36 Fechada [e, o] contígua 48 / Total vogais não contíguas 73 / ,89 Total Geral 128 / ,72 Tabela 42: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade

113 113 Vogal anterior travada por nasal - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alteada Média fechada Contígua Não contígua Gráfico 17: Vogal anterior travada por /N/ - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade De um total de 274 dados de vogais pretônicas, 128 dados realizaram-se com a pretônica alteada e 146 dados com a média fechada. Num total de 128 dados de vogal pretônica alteada, 55 estão contíguas à sílaba tônica (39,01%). A depender da natureza da vogal presente na sílaba tônica, observa-se a seguinte distribuição da variante alteada: i. se alta [i] homorgânica (ex.: [i]nsino, s[i]ntido), 15 ocorrências (42,86%); ii. se alta [u] não homorgânica, nenhuma ocorrência; iii. se baixa [a] (ex.: [i]mpada), 1 ocorrência (2,17%); iv. se média fechada (ex.: [i]mprego, [i]ncontro) [e, o], 39 ocorrências (67,24%). A média pretônica [e] tende a realizar-se com a variante alta [i], quando contígua à vogal tônica média fechada [e, o] (67,24%), à vogal tônica alta [i] (42,86%) e à tônica baixa [a] (2,17%). Em termos percentuais, é a vogal média fechada o contexto que contribui para alteamento da vogal média pretônica em contexto de sílaba travada por nasal. Se a vogal pretônica não está contígua à sílaba tônica, o alteamento ocorre em 73 dados (54,89%). Nesse contexto, a pretônica anterior se concretiza, de acordo com a seguinte natureza da vogal da sílaba tônica: i. se alta [i] homorgânica, nenhuma ocorrência; ii. se alta [u] não homorgânica (ex.: [i]mbutida, [i]njoado), 5 ocorrências (55,56%); iii. se baixa [a] (ex.: [i]ngraçado, [i]nlatados), 20 ocorrências (36,36%); iv. se média fechada [e, o] (ex.: [i]ngenheiros, [i]mpregada), 48 ocorrência (80%).

114 114 A vogal média fechada [e] na sílaba seguinte também é o contexto que mais contribui para o alteamento da vogal média anterior [e], quando esta não se encontra contígua à sílaba tônica. Diferentemente do esperado, as vogais médias fechadas [e] e [o] contribui para o alteamento da média anterior em contexto de sílaba travada por nasal. Tal resultado confirma que a contiguidade não parece ser um fator condicionante para o alteamento. Portanto, como já dito anteriormente, entende-se que o grande condicionador para o alteamento, nesse contexto silábico, é a presença da consoante nasal Vogal pretônica anterior travada por Rótico /R/ O corpus para a análise da vogal pretônica /e/ travada por rótico é composto de apenas 184 dados. Apenas 2 dados foram realizados com a variante alteada [i]. Esses dois dados são do mesmo vocábulo: serviço. O baixo resultado de vogais alteadas em contexto de sílaba travada por rótico também foi encontrado no estudo de Avelheda (2013). A autora verificou que apenas três dados, dois do vocábulo serviço e um do vocábulo servido, foram alteados. Em princípio, é possível postular que é a vogal alta na sílaba seguinte que favorece o alteamento do vocábulo serviço, o que comprovaria a atuação do processo de harmonização vocálica. Entretanto, no corpus, observam-se dados como: persiana, serviço, energia, comerciantes, exercício, universidade, entre outros, em que não ocorreu o alteamento. Por isso, entende-se que o alteamento das vogais médias pretônicas em contexto de sílaba travada por rótico se deva a um condicionamento lexical, uma vez que o alteamento se dá em contexto específico. Além disso, como afirma Avelheda (2013), a produção do /R/ se dá na posição posterior do véu palatino. Já a realização da vogal alta ocorre na posição anterior do sistema vocálico. Logo, o alteamento não ocorre, pois não encontra ambiente fonético natural para atingir a regularidade (AVELHEDA 2013 apud OLIVEIRA, 1991) Conclusões parciais - vogal anterior No corpus investigado, o fenômeno de alteamento da média anterior apresentou baixo percentual de ocorrências. Do total de 2785 dados de vogal pretônica anterior, 718 vogais foram realizadas alteadas e 2067 foram realizadas pela variante média fechada [e]. A partir das análises realizadas foi possível observar que a estrutura silábica em que a pretônica se encontra é um fator relevante para o alteamento, pois foi possível observar que: (i) algumas estruturas silábicas favorecem mais o alteamento do que outras e (ii) as variáveis condicionadoras para o alteamento são diferentes, a depender da estrutura silábica. No gráfico

115 115 a seguir, verifica-se, a partir de percentuais, o diferente comportamento do alteamento de acordo com a estrutura silábica em que se encontra a pretônica: % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Vogal anterior /e/ - Estrutura silábica 98.91% 87.16% 74.89% 53.28% 46.72% 25.11% 12.84% 1.09% /N/ /R/ /S/ Livre Gráfico 18: Vogal anterior /e/ - Estrutura silábica Alteada Média Fechada Os resultados do gráfico acima indicam que a vogal anterior em contexto de sílaba travada por consoante sibilante (74,89%) mostra-se bastante favorecedora ao alteamento, sendo a pretônica travada por consonante nasal (46,72%) o segundo contexto que mais favorece o alteamento da vogal anterior. Por outro lado, o fenômeno do alteamento é pouco realizado na vogal anterior que se encontra em contexto de sílaba livre (12,84%) e travada por rótico (1,09%). Assim como Avelheda (2013: 190), considerando que o input determina o nível geral do uso da variante alteada, criou-se um continuum, a partir do input obtido nas rodadas variacionistas, com o objetivo de verificar quais estruturais silábicas são mais e menos propensas ao alteamento: Travada por /S/ Livre Travada por /N/ Os resultados dos inputs gerais obtidos na análise de cada contexto indicam que a vogal anterior em contexto nasal é a que mais favorece o alteamento. Já a anterior em sílaba livre não favorece o alteamento, apresentando input Em nível intermediário encontra-se a vogal anterior travada por sibilante com input de

116 116 O alto favorecimento da vogal anterior travada por nasal e o baixo favorecimento da travada por sibilante pode estar relacionado a um contexto específico que é o ponto de articulação da consoante antecedente. Na análise da vogal travada por /N/, foi possível observar que o ataque vazio (121 dados em um total 128 ocorrências) foi o contexto que mais favoreceu o alteamento (ex.: [i]ngenharia, [i]mpregada). Quanto às consoantes de ponto de articulação de traço [+ anterior] (alveolares, labiais e pós-alveolares), houve apenas 7 ocorrências com a variante alteada; além disso, os dados com consoante antecedente de traço [+ posterior] (velares e palatais). Logo, o corpus é composto por dados altamente favorecedores ao fenômeno: pretônica em início absoluto de palavra, sem ataque preenchido. Por isso, a vogal anterior travada por nasal apresentam input Já na vogal anterior travada por sibilante, o alteamento é categórico em contexto de ataque vazio (321 dados em 349 ocorrências). As consoantes antecedentes de traço [+ anterior] apresentam 2 ocorrências, e as de traço [+ posterior], 26 ocorrências de alteamento; portanto, há um conjunto de dados de contextos mais diversificados: com e sem ataque preenchido. Embora tenha se esperado resultado diferente, isso explica o porquê de o corpus da vogal anterior travada por /S/ não se mostrar favorecedor para o fenômeno (input 0.242). Além disso, a partir dos resultados percentuais e do input se confirma a hipótese de que o comportamento da vogal pretônica difere, a depender da estrutura silábica de que faz parte. Com o objetivo de observar que fatores comuns condicionaram o alteamento, foram criadas três tabelas abaixo com os fatores selecionados como favoráveis para cada contexto silábico: Variáveis selecionadas vogal anterior /e/ - Sílaba Livre (input = 0.091) Variáveis Variante Probabilidade Natureza da vogal da sílaba seguinte Alta homorgânica Alta não homorgânica Número de sílabas Duas Três Ponto de art. do seguinto seguinte Posterior Contiguidade Contígua à Tônica Ponto de art. da cons. antecedente Ausência de contexto Anterior Década Faixa etária Faixa 1 (25 35 anos) Faixa 3 (56 75 anos) 0.58 Sexo/Gênero Feminino Tabela 43: Vogal anterior sílaba livre

117 117 Variáveis selecionadas vogal anterior /e/ - Sílaba travada por /S/ (input = 0.242) Variáveis Variante Probabilidade Número de sílabas Três Quatro Natureza da vogal alvo Permanente Década Sexo/Gênero Feminino Natureza da vogal da sílaba seguinte Alta não homorgânica [u] Média [e, o, ɛ, ɔ] Contiguidade Contígua à tônica Ponto de art. do seguimento seguinte Posterior Tabela 44: Vogal anterior sílaba travada por /S/ Variáveis selecionadas vogal anterior /e/ - Sílaba travada por /N/ (input = 0.862) Variáveis Variante Probabilidade Ponto de art. do seguimento seguinte Posterior Natureza da vogal da sílaba seguinte Média [e, o, ɛ, ɔ] Alta não homorgânica [u] Década Dois mil e dez Tabela 45: Vogal anterior sílaba travada por /N/ As três variáveis selecionadas como condicionantes nos três contextos silábicos foram: Natureza da vogal da sílaba seguinte, Década e Ponto de articulação da sílaba seguinte à vogal alvo. Em relação à primeira variável, é possível afirmar que: (i) em sílaba livre, o processo harmonização vocálica se mostra atuante, uma vez que o alteamento da vogal anterior /e/ é motivado pela presença das vogais altas (homorgânica e não homorgânica); (ii) no contexto de sílaba travada por nasal e por sibilante, parece não ocorrer o processo de harmonização vocálica, pois não é a presença da vogal média seguinte que favorece o alteamento; entende-se que, nesses dois contextos, a própria consoante que entrava a sílaba é o que favorece o alteamento. A partir da variável Década, selecionadas nos três contextos, foi possível observar o fenômeno do alteamento em estudo de tempo real de curta duração. No primeiro contexto silábico, sílaba livre, o alteamento mostra-se como um fenômeno conservador, uma vez que as décadas de 1970 e 1990 foram as que mais propiciaram o alteamento da vogal anterior. Na sílaba travada por sibilante, o alteamento também pode ser considerado conservador, pois se verifica uma maior ocorrência do fenômeno na década de Já o alteamento na sílaba travada por nasal consiste em um fenômeno inovador com maior realização na década de Portanto, é possível afirmar que (i) em contexto de ausência de travamento silábico e em sílaba travada por sibilante, o alteamento da vogal anterior encontra-se em recuo e (ii) em contexto de sílaba travada por nasal, o alteamento da vogal anterior encontra-se em propagação.

118 118 A última variável selecionada como condicionadora para o alteamento da vogal anterior nos três contextos silábicos (sílaba livre, sílaba travada por /S/, sílaba travada por /N/) foi a variável Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. A variável visa observar se atua o processo de redução vocálica. Processo este que assimila o traço [+ alto] presente na consoante adjacente. A presença de consoantes posteriores no ataque da sílaba seguinte (sílaba livre = 0.676, sílaba travada por /S/ = e sílaba travada por /N/ = 0.939) favorecem o alteamento da vogal pretônica anterior nos três contextos silábicos. A variável Sexo/Gênero foi selecionada apenas nos contextos de vogal anterior em sílaba livre e em sílaba travada por sibilante. São as mulheres quem mais realizam o alteamento da vogal anterior em contexto de sílaba livre e de sílaba travada por /S/. Alguns estudos utilizam a variável gênero com objetivo de verificar se o fenômeno é ou não estigmatizado pela sociedade. No entanto, entende-se que tal resultado é muito superficial, pois é difícil medir a avaliação das pessoas somente pelo gênero e pela frequência ou probabilidade de sua produção. Tal hipótese de Labov (1972) está embasada no princípio de que os homens possuem uma maior mobilidade social do que as mulheres. Entretanto, nos dias atuais, tal princípio não é muito relevante, pois atualmente as mulheres possuem tanta mobilidade social quanto os homens. Além disso, muitas pessoas produzem o fenômeno linguístico, mas mesmo assim o avaliam negativamente. Portanto, assim como Labov (2008) crê-se que a melhor maneira de observar se um fenômeno linguístico variável é ou não é estigmatizado pela sociedade é conciliar o estudo Sociolinguístico com o estudo de Crenças e atitudes que verifica, a partir de testes, a percepção, a realização e a avaliação. A partir da análise empreendida, foi possível observar a atuação do modelo neogramático. Segundo Oliveira (1991), o modelo neogramático defende que as mudanças sonoras: (i) não têm exceção; as que porventura ocorrem são explicadas pelo princípio de analogia (ii) são condicionadas por fatores fonéticos; (iii) são foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais com contextos semelhantes. Já o modelo difusionista defende que (i) há exceções e as mudanças sonoras não podem ser explicadas por analogias; (ii) não são todas as formas que apresentam condicionamento fonético; (iii) as mudanças sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, pois as palavras não são afetadas ao mesmo tempo, e (iv) as formas atingidas são as mais comuns, usadas em contexto informal e com alta produtividade. Na vogal anterior em contexto de sílaba livre, parece haver a atuação do efeito neogramático, uma vez que foi possível observar, através da variável Natureza da vogal da sílaba seguinte, que o maior condicionamento para o alteamento da vogal anterior em sílaba

119 119 livre é o processo fonético da harmonização vocálica, que consiste na assimilação do traço fonético [+ alto] presente na vogal alta da sílaba seguinte. Nos contextos de silaba travada por /N/ e sílaba travada por /S/, parece haver também a atuação também do efeito neogramático. Nesses contextos, não é o processo fonético da harmonização vocálica que condiciona o alteamento da vogal anterior, mas sim o traço fonético das vogais nasais e sibilantes que atuam como contexto fortemente condicionador para o alteamento da vogal pretônica anterior. Ainda assim, pode-se pensar em uma atuação da Difusão Lexical, uma vez que, tanto na travada por nasal quanto por sibilante, há um contexto fonético específico onde parece se iniciar o alteamento: ataque silábico vazio em sílaba travada por consoante de traço [+alto]. Como propõe Oliveira (1991: 101): as primeiras vítimas de uma mudança sonora do tipo X Y/Z são as palavras que apresentam os seguintes traços: X ocorre num nome comum, Z oferece um contexto fonético natura para Y; X é parte de uma palavra que ocorre em contextos informais de fala. Nessa pesquisa, entende-se que o gatilho para o alteamento seja o contexto silábico que pode ser mais ou menos atingidos por princípios neogramáticos. 4.2 VOGAL PRETÔNICA POSTERIOR O corpus constituído de dados de vogal pretônica posterior compõe-se de 1545 dados. Desse total, 1230 dados (79,46%) foram realizados com a vogal pretônica fechada [o] e 315 dados (20,54%) com a vogal posterior alteada [u]. Uma primeira observação relaciona-se à atuação do fenômeno do alteamento na vogal pretônica anterior /e/ e na vogal posterior /o/. Nesta, verifica-se uma maior resistência ao fenômeno do alteamento. Assim como foi realizada a análise da vogal pretônica anterior /e/, a vogal posterior /o/ será analisada, levando em consideração a sua estrutura silábica, uma vez que se acredita que: (i) o fenômeno pode ser realizar-se com maior frequência em uma estrutura mais do que em outra e (ii) as variáveis condicionadoras são diferentes, a depender da estrutura silábica.

120 / 20,54% Vogal posterior /o/ 1230 / 79,46% Gráfico 19: Vogal posterior /o/ Alteada Média fechada Em todos os contextos silábicos, numa primeira análise dos percentuais, verificou-se que algumas variantes apresentaram células vazias. Com objetivo de obter-se um resultado probabilístico confiável, a partir do programa R-brul, a pesquisadora optou pela metodologia de amalgamar algumas variantes. Essa metodologia foi aplicada para todos os contextos silábicos. Assim, foram amalgamadas e recodificadas as seguintes variáveis: (1) Nas variáveis Ponto de articulação antecedente à vogal alvo e Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo: as consoantes alveolar, pós-alveolar e labial foram recodificadas como ponto de articulação anterior (ex.: domingo, Opala, mostarda, nostálgica, montanha, bombeiro, porteiro, formiga) e as consoantes velar e palatal como ponto de articulação posterior (cozinha, fogão, gostoso, mosquito, condomínio, concurso, gordura, Corcovado. (2) Na variável contiguidade, perdeu-se a distinção de posição (inicial ou medial) e preenchimento de ataque (ataque preenchido ou não preenchido), passou-se a considerar se a vogal pretônica era contígua ou não à tônica. As variantes Posição sem ataque contígua à tônica, 1ª posição com ataque preenchido contígua à tônica e Posição medial contígua à tônica foram amalgamadas e recodificadas como contíguas à sílaba tônica (ex.: problema, costura, conforto, nordeste) e as variantes 1ª posição sem ataque preenchido não contígua à tônica, 1ª posição com ataque preenchido não contígua à tônica e Posição medial não contígua à tônica foram recodificadas como não contígua à sílaba tônica (ex.: cobertura, hospital, condomínio, jornalista). (3) Na variável Natureza da vogal da sílaba seguinte, desconsiderou-se a distinção entre tônicas e átonas. As variantes alta homorgânica tônica e alta homorgânica átona foram recodificadas como altas homorgânicas (ex.: poluição, costura, consultório,

121 121 gordura); as variantes alta não homorgânica tônica e alta não homorgânica átona passaram a serem lidas como altas não homorgânicas (ex.: mobília, apostilas, continentes, cortina); as variantes média fechada tônica, média aberta tônica e média fechada átona foram amalgamadas e recodificadas como médias (ex.: corredor, gostoso, conforto, gorjeta); e as variantes baixa tônica e baixa átona foram recodificadas como baixas (ex.: sofá, fosfato, montanha, portaria) Vogal pretônica posterior contexto de sílaba livre O corpus de dados de vogal pretônica posterior sem travamento silábico constitui-se de 1128 dados, sendo 904 (19,86%) realizados com a vogal média posterior [o] (ex.: c[o]rredor, s[o]fá, m[o]ntanha) e 224 dados (80,14%) com a vogal posterior alteada [u] (ex.: b[u]nita, m[u]bília, f[u]gão) Vogal posterior /o/ sílaba livre / 80,14% / 19,86 % Gráfico 20: Vogal posterior /o/ - sílaba livre Comparado o resultado do alteamento em contexto de sílaba livre com o resultado geral de alteamento da pretônica posterior, verifica-se que o fenômeno ocorre com maior frequência, quando há ausência de travamento silábico, pois apenas 91 dados foram alteados nos demais contextos. Viegas (1987) e Silveira (2008) observam o favorecimento do alteamento da pretônica em contexto de sílaba livre (CV). Segundo Viegas (1987), a sílaba canônica CV e a travada por fricativa CVC favorecem o alçamento (0.7 e 0.83, respectivamente): cuberto e custela. Como dito anteriormente, por apresentarem células vazias, algumas variáveis foram amalgamadas. Realizadas as junções e as recodificações, foi realizada outra pequena análise, a partir das tabelas dinâmicas, que confirmou que não havia mais comportamentos categóricos (knockouts). Após essa análise, os dados foram submetidos ao pacote de programa probabilístico R-brul. O programa selecionou seis variáveis como condicionadoras do

122 122 alteamento, na seguinte ordem: (i) Década, (ii) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo, (iii) Contiguidade da pretônica à sílaba tônica; (iv) Natureza da vogal da sílaba seguinte; (v) Número de sílabas e (vi) Natureza da vogal alvo. Duas variáveis sociais e uma linguística não foram selecionadas pelo programa estatístico-probabilístico R-brul. São elas: Faixa Etária, Sexo/Gênero e Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. Antes de analisar as variáveis selecionadas, serão analisadas as variáveis excluídas pelo programa. A variável faixa etária foi excluída pelo programa probabilístico, pois não se apresentou como relevante ao alteamento da pretônica posterior em contexto de sílaba livre. No entanto, é interessante observar, a partir dos percentuais, o comportamento das três faixas etárias. A tabela a seguir ilustra os resultados: Faixa Etária Fatores Alteamento Aplicação / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 72 / ,74 Faixa 2 (36 55 anos) 85 / ,31 Faixa 3 (56 75 anos) 67 /317 21,14 Tabela 46: Vogal posterior sílaba livre Faixa Etária Os resultados percentuais mostram que os falantes da segunda faixa etária (86 oco. ex.: p[u]lítica, J[u]sé 22,31%) são os que que mais realizam o alteamento da vogal posterior. Os da primeira (72 oco. ex.: c[u]zinha, p[u]licial 16,74%) e terceira (67 oco. ex.: m[u]nitora, c[u]légio 21,14%) faixas etárias altearam menos a vogal pretônica posterior. A variável social Sexo/Gênero também não foi selecionada como condicionadora do alteamento. Apesar de não ter sido selecionada, é importante observar o comportamento de homens e mulheres em relação ao alteamento da vogal posterior: Sexo/Gênero Fatores Alteamento Aplicação / Total % Mulheres 116 / ,32 Homens 108 / ,49 Tabela 47: Vogal posterior sílaba livre Sexo/Gênero As mulheres (116 oco. ex.: g[u]verno, b[u]nita 21,32%) utilizaram mais a variante alteada [u] em contexto de sílaba livre do que os homens (108 oco. ex.: c[u]rrida, p[u]l[itica - 18,49%).

123 123 A última variável não considerada como condicionadora para o alteamento da vogal média pretônica foi Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. Entende-se que não é somente a presença da vogal alta na sílaba seguinte que favorece o alteamento. Parte-se do pressuposto de que o ponto de articulação da consoante seguinte também pode condicionar o fenômeno, processo este nomeado de redução vocálica. Como já foi dito anteriormente, a variável foi recodificada por apresentar células vazias. Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 202 / ,65 Posterior 22 / ,67 Tabela 48: Vogal posterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Os resultados totais e percentuais da tabela acima indicam que a consoante de traço [+anterior] (alveolar, pós-alveolar e labial) presente na consoante da sílaba seguinte (202 oco. ex.: m[u]bilia, d[o]mingo) - 20,6%) contribui para o alteamento da vogal pretônica posterior. Já a consoante de traço [+ posterior] (velar e palatal) não contribui para a realização do fenômeno (22 oc. ex.: b[u]cado, f[u]gão). A não seleção desta variável contraria o pressuposto de Viegas (1987). Segundo a pesquisadora, o alteamento da vogal anterior /e/ seria motivado pelo processo de harmonização vocálica, já o alteamento da vogal posterior [o] seria motivado pelo processo de redução vocálica. Entretanto, o fato dessa variável não ter sido selecionada pelo programa R-brul como variável condicionadora do alteamento faz com que se interprete que o processo de redução vocálica não é um fator preponderante para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba livre. Após comentar as variáveis não selecionadas pelo programa R-brul, analisam-se a seguir as variáveis selecionadas como favorecedoras para o alteamento da vogal média posterior em contexto de ausência de travamento silábico Década A variável busca investigar, no período de 40 anos, em que década (1970, 1990 e 2010) o alteamento da posterior ocorreu com maior frequência. Na tabela a seguir verifica-se os resultados totais, percentuais e probabilísticos:

124 124 Década Fatores Sílaba Livre / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Década de /360 31,1 % Década de /345 18,8 % Década de /423 11,1 % Input da Rodada: Tabela 49: Vogal posterior sílaba livre Década Os falantes da década de 1970 (112 oco. 31,1% ) apresentam a maior probabilidade de realizarem o alteamento da vogal média posterior. Já nas décadas de 1990 (65 oc. 18,8% ) e de 2010 (47 oco. 11,1% ), a probabilidade de uso da variante alteada se reduz sensivelmente em contexto de sílaba livre. A partir do estudo de tempo real de curta duração, confirma-se a hipótese de que o fenômeno de alteamento está diminuindo com o passar dos anos e as pessoas estão preferindo a realização da média fechada [o]. O gráfico abaixo ilustra o declínio do alteamento da posterior no decorrer das três décadas: 35.00% 30.00% 25.00% 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 0.00% Alteamento vogal posterior sílaba livre - Estudo de Tempo real 31.10% 18.80% 11.10% Década de 70 Década de 90 Década de 2010 Gráfico 21: Vogal posterior sílaba livre Estudo de Tempo Real A seguir, apresentam-se alguns exemplos das variantes da vogal posterior sob análise: Década de 1970: tem sempre um p[u]lítico para, eh, protegê-lo; As alm[u]fadas da, são vermelhas e laranja; Começo do g[u]verno Negrão de Lima; em h[o]rário integral eu trabalhava fora; eu inclusive fiz pr[o]jetos: pro fundão; todo forrado escocês com esse m[o]torista lindo.

125 125 Década de 1990: Você conhece o professor J[u]sé Ricardo da UERJ; ele fecha sábado e d[u]mingo, entendeu; eu fui m[u]leque de rua; O salário de uma pr[o]fessora primária do estado não chega a um salário mínimo; o pr[o]grama lá final de semana é muito clube; bons médicos de h[o]meopatia, de, é, plano de saúde. Década de 2010: ela passou a ser m[u]nitora do Gabriel Torres; o c[u]légio é judeu; ali perto da D[u]mingues Ferreira... então vai lá toma um chopp; fez PUC fez Engenharia Elétrica Eletrônica e: de pr[o]dução; tava morando no Leme com esse nam[o]rado dela; você é adv[o]gado sou. Com o objetivo de observar separadamente o comportamento das variáveis sociais nas três décadas estudadas foram realizados dois cruzamentos: Cruzamento Faixa Etária X Década No cruzamento das variáveis faixa etária x década, verifica-se qual a faixa etária que mais realiza o alteamento nas décadas de 1970, 1990 e A tabela e o gráfico a seguir apresentam os resultados: Cruzamento Faixa Etária X Década Alteadas Aplic. / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 48 / ,09 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 38 / , Faixa 3 (56 75 anos) 26 /109 23,85 Total 112 / ,11 Faixa 1 (25 35 anos) 6 / 89 6,74 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 34 / , Faixa 3 (56 75 anos) 25 / ,04 Total 65 / ,84 Faixa 1 (25 35 anos) 18 / 208 8,65 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 13 / , Faixa 3 (56 75 anos) 16 / ,38 Total 47 / ,11 Total Geral 224 / ,86 Tabela 50: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento faixa etária X Década

126 126 Vogal posterior em sílaba livre - Cruzamento Faixa Etária X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa Faixa 3 Alteada Média fechada Gráfico 22: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Faixa etária X Década Na década de 1970, o alteamento foi produzido em 112 dados (31,11%). A depender da faixa etária, foram registradas as seguintes ocorrências: Primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: c[u]zinha, f[u]gão), 48 ocorrências (36,09%); Segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: b[u]nito, c[u]rrida), 38 ocorrências, (32,20%); Terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: p[u]luição, g[u]verno), 26 ocorrências (23,85%). Verifica-se percentuais muitos próximos de ocorrências de alteamento: primeita faixa etária, 36,09%; segunda faixa etária, 32,20%; terceira faixa etária, 23,85%. Por isso, não é possível afirmar categoricamente que foram os jovens que mais produziram o alteamento da vogal posterior na década de 70. Na década de 1990, o alteamento ocorreu em 65 dados (18,84%). A distribuição pelas faixas etárias apresenta as seguintes realizações do alçamento: Primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: m[u]lecagem, c[u]zinha), 6 realizações (6,74%); Segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: c[u]munista, categ[u]ria), 34 realizações (22,37%); Terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: c[u]mércio, f[u]gueira), 25 realizações (24,04%). Falantes pertencentes à segunda e terceira faixas etária são os que mais realizam o alteamento na década de 1990.

127 127 Na década de 2010, o alteamento se concretizou em apenas 47 dados (11,11%). As faixas etárias apresentaram diferentes números de ocorrências, como se observa abaixo: Primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: p[u]l[itica, c[u]mida), 18 ocorrências (8,65%); Segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: J[u]sé, g[u]verno), 13 ocorrências (11,71%); Terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: c[u]légio, b[u]nito), 16 ocorrências (15,38%). Assim, como na década de 1990, na década de 2010, os falantes pertencentes à terceira faixa etária são os que mais realizam o alteamento da vogal posterior em sílaba livre. Cruzamento Sexo/Gênero X Década Com o objetivo de observar o comportamento de homens e mulheres nas três décadas estudadas, foi realizado o cruzamento das variáveis Sexo/Gênero X Década. A tabela e o gráfico abaixo apresentam o resultado desse cruzamento: Cruzamento Sexo/Genero X Década Alteadas Aplic. / Total % Década 1970 Mulheres 58 / ,12 Homens 54 / ,42 Total 112 / ,11 Década 1990 Mulheres 27 / ,88 Homens 38 / ,54 Total 65 / ,84 Década 2010 Mulheres 31 / ,49 Homens 16 / 209 7,66 Total 47 / ,11 Total Geral 224 / ,86 Tabela 51: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década Vogal posterior em sílaba livre - Cruzamento Sexo/Gênero X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Alteada Média fechada Gráfico 23: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Sexo/Gênero X Década

128 128 O corpus é composto de 1128 dados, sendo 224 dados realizados com a pretônica posterior alteada [u] e 904 dados com a pretônica fechada [o]. Nas décadas de 1970 (58 oco. ex.: c[u]mida, c[u]zido 34,12%) e de 2010 (31 oco. ex.: c[u]légio, g[u]verno 14,49%), foram as mulheres quem mais realizaram o alteamento da vogal média posterior em sílaba livre. Já os homens, nas décadas de 1970 (54 oco. ex.: m[u]bilário, c[u]zinha 28,42%) e na de 2010 (16 oco. ex.: p[u]lícia, c[u]légio 7,66%), produziram menos o alteamento. Na década de 1990, os homens (38 oc. ex.: c[u]municação, b[u]nito 20,54%) altearam mais a vogal pretônica posterior do que as mulheres (27 oc. ex.: c[u]zinheira, m[u]leque 16,88%) Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo A variável visa a observar se o fenômeno do alteamento é motivado pelo ponto de articulação da consoante antecede a pretônica. Viegas (1987) afirma que a presença de uma consoante na sílaba anterior a pretônica é uma condição importante para o alteamento da vogal posterior. Como foi dito anteriormente, a variável foi recodificada, uma vez que se verificaram que algumas variantes apresentavam células vazias. Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Sílaba Livre / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio 2/132 1,5% Anterior 117/697 16,8% Posterior 105/299 35,1% Input da Rodada: Tabela 52: Vogal posterior sílaba livre Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo O resultado da tabela 52 confirma a afirmação de Viegas (1987) consoantes de traço [+ posterior] (velar e palatal oco. 16,8% ) e de traço [+ anterior] (alveolar, pósalveolar e labial 105 oco. 35,1%) favorecem o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba livre. Já a ausência de travamento silábico em contexto antecedente não favorece o alteamento da pretônica posterior [o]. No estudo de Avelheda (2013: 154), verifica-se o favorecimento do ponto de articulação antecedente das consoantes pós-alveolares (0.78), velares (0.78) e labiais (0.74), mas não o favorecimento da consoante alveolar (0.32). Na presente pesquisa, em uma primeira análise, observou-se que o alteamento ocorreu em apenas 3 vocábulos que apresentavam consoante alveolar no ponto de articulação antecedente. Entende-se que com a junção das variáveis,

129 129 sobressaiu o favorecimento das consoantes pós-alveolares e labiais e, por isso, a variante foi selecionada. Assim como na presente pesquisa, Avelheda (2013) observou a baixa realização, apenas 2 ocorrências, de pretônica alteada quando havia ausência de consoante na sílaba anterior. A seguir, apresentam-se alguns exemplos das variantes: Ataque vazio: sempre em índices [u]ficiais, né; é a nossa [u]portunidade de ponto de encontro, né; tinham h[o]rário pra falar com a família; carnaval em [O]linda; as salas de [o]peração. Anterior: ketchup, molho de t[u]mate, massa de tomate; Pular f[u]gueira, era subir o pau de sebo; um líder p[u]lítico a ponto de criar um partido; sala de estar e tem um s[o]fá forrado de couro; não tem man[o]breiro, aí você tem que descer; tava morando no Leme com esse nam[o]rado dela. Posterior: entra na c[u]zinha e só cabe a gente; a c[u]mida está por hora da morte; passou ao go... ao g[u]verno do estado; todo forrado esc[o]cês com esse motorista lindo; compra de c[o]mércio então ela não ficou; Terça-feira um c[o]lega de química Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Alguns estudos, como os de Bisol (1981), Viegas (1987), Dias, Cassique & Cruz (2007), Tondineli (2010), Avelheda (2013), entre outros, postulam que o alteamento pode ser motivado pelo fato de a pretônica encontrar-se contígua à vogal tônica. Além disso, entende-se que a contiguidade, assim como a presença da vogal alta na sílaba seguinte à pretônica, é

130 130 condicionamento importante para o processo de harmonização vocálica. Segundo Bisol (1987: 112), o alteamento é processo que não faz saltos, por isso construções como nostalgia ~ nustalgia, locomotiva ~ lucomotiva soam estranhas e não costumam ser realizadas. Logo, a variável busca verificar se a contiguidade é um fator importante para o alteamento da vogal posterior em contexto de ausência de travamento silábico. Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Sílaba Livre / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Contígua à tônica 174/663 26,2% Não contígua à tônica 50/465 10,8% Input da Rodada: Tabela 53: Vogal posterior sílaba livre Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A partir do resultado da Tabela 53 observa-se que o fato da pretônica encontrar-se contígua a tônica (174 oc. 26,2% ) favorece o alteamento da vogal posterior em sílaba livre. A não contiguidade a tônica (50 oc. 10,8% - 0,374) faz com que a frequência do alteamento se reduza. Tal resultado é observado nos estudos de Dias, Cassique & Cruz (2007), Tondineli (2010) e Avelheda (2013. Em Dias, Cassique & Cruz (2007), a contiguidade à sílaba tônica favorece o alteamento da pretônica posterior com peso relativo Tal resultado se assemelha ao encontrado por Tondineli (2010) que verifica que a distância 1 é a que mais favorece o alteamento da pretônica posterior. Avelheda (2013) observa que a vogal tônica apresenta frequência de alteamento de 55,8% e probabilidade de 0.83 para aplicação do processo. Abaixo, há alguns exemplos das variantes consideradas: Contígua à tônica: a gema de ovo c[u]zido e vai pingando azeite; vários b[u]tecos ali; pia, f[u]gão e dois armários; à noite r[o]bótica um monte de coisa; Eh, [O]pala; o pr[o]jeto foi muito bom. Não contígua à tônica: ela passou a ser m[u]nitora do Gabriel Torres; ótima c[u]zinheira, tinha uma memória, formidável, eu ensinava;

131 131 com o G[u]vernador do Estado com o Vice-Governador; Paulo Cazé foi meu pr[o]fessor; por causa do m[o]torista; direto ao pr[o]prietário não, pagava à administradora Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável busca verificar se ocorre harmonização vocálica, a partir da assimilação da vogal alta da sílaba seguinte. Segundo Bisol (1981: 113), a vogal seguinte /i/ causa a elevação das vogal anterior /e/ e posterior /o/, como em f[u]rmiga, m[i]nino, já a vogal /u/ tende altear a vogal posterior /o/, como em c[u]ruja, c[u]stura. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Sílaba Livre / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Alta homorgânica [u] 8/78 10,3% 0.27 Alta não homorgânica [i] 133/303 43,9% Média [e, o, ɛ, ɔ] 63/501 12,6% 0.4 Baixa [a] 20/246 8,1% 0.32 Input da Rodada: Tabela 54: Vogal posterior sílaba livre Natureza da vogal da sílaba seguinte Os resultdos aqui obtidos indicam que a presença da vogal alta não homorgânica (133 oc. 43,9% ), é um fator importante para o alteamento da vogal média posterior em contexto de sílaba livre. Diferentemente do que Bisol (1987) defende, na presente pesquisa, a vogal alta homorgânica [u] (8 oco. 10,3% ) não favorece o alteamento da vogal posterior /o/. Assim como a vogal alta homorgânica [u], as vogais médias (63 oco. 12,6% - 0.4) e a vogal baixa (20 oco. 12,6% - 0.4) desfavorecem o a variante alta [u]. Este resultado é o mesmo verificado em Marques (2006: 120) e Rocha (2013: 124). Segundo Marques (2006: 120) para a aplicação de [u], a vogal alta não-homorgânica ([i]) é a que mais age sobre a oral posterior. Em Rocha (2013: 124), na análise da fala de Nova Iguaçu, observa-se que a vogal homorgânica [u] apresenta baixo índice de favorecimento (.57), a vogal alta não homorgânica [i] é a que traz maiores índices percentuais (66,8%) e probabilísticos (.91) de atuação do processo. Portanto, apesar de a vogal alta homorgânica na sílaba seguinte não ser a principal condicionante do alçamento da vogal pretônica posterior, é possível afirmar que ocorre harmonização vocálica, uma vez que a vogal alta [i] atua para o alteamento da vogal posterior.

132 132 Abaixo há alguns exemplos, de pretônica posterior alteada e não alteada, das cinco variantes analisadas: alta homorgânica, alta não homorgânica, média e baixa. Alta homorgânica [u]: o partido c[u]munista brasileiro; ainda a p[u]luição atmosférica e a sua (inint.); não tinham meios de c[u]municação, etc; fez PUC fez Engenharia Elétrica Eletrônica e: de pr[o]dução; não tem nenhum d[o]cumento escrito... a gente manda; levá-lo para C[o]rumba, que lá havia mais recurso. Alta não homorgânica [i]: a gema de ovo c[u]zido e vai pingando azeite; entrava pela fresta debaixo da porta da c[u]zinha, atravessava quase que a casa; todo sábado e d[u]mingo eu saio; Nosso clima é tr[o]pical; a minha pr[o]fissão exigia que eu me apresentasse; Eu vi que o homem deu um s[o]rriso, assim um sorriso meio irônico. Média [e, o, ɛ, ɔ]: Agora a c[u]bertura da casa; nessa cabana de b[u]neca tem; O g[u]verno criou um acordo salarial; gosto muito de bolo de ch[o]colate; me embrenho aí no meio da fl[o]resta, vou fazer excursão; ele era o pr[o]fessor orientador do projeto. Baixa [a]: portanto defronte do sofá tem um estrado com alm[u]fadas areia; Vocês já viram f[u]gão de lenha?; alface, t[u]mate, agrião; depois foi tirar o:... dout[o]rado... nos Estados Unidos; levar pro lab[o]ratório porque eles ficaram com uma dívida;

133 133 em grupos de s[o]fá, poltronas... Como já foi dito anteriormente, a condição ideal para que ocorra o processo de harmonização vocálica é a vogal pretônica estar seguida imediatamente de uma vogal alta. Com o propósito de observar se o alteamento da posterior /o/ é motivado pelo processo de harmonização vocálica, realizou o cruzamento das variáveis Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica. Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade da pretônica à sílaba tônica O cruzamento busca verificar se a vogal da sílaba seguinte e a contiguidade à sílaba tônica são fatores condicionantes para o alteamento da vogal média posterior em contexto de ausência de travamento silábico: Cruzamento: Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Alteadas Aplicação / Total % Alta homorgânica [u] contígua - / 17 - Alta não homorgânica [i] contígua 109 / ,27 Média [e, o, ɛ, ɔ] contígua 45 / ,52 Baixa [a] contígua 20 / ,58 Total vogal contígua 174 / ,24 Alta homorgânica [u] não contígua 8 / 61 13,11 Alta não homorgânica [i] não contígua 24 / ,65 Média [e, o, ɛ, ɔ] não contígua 18 / 211 8,53 Baixa [a] não contígua - / 57 - Total vogal não contígua 50 / ,75 Total Geral 224 / ,86 Tabela 55: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade Vogal posterior sílaba livre - Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alta [i] Alta [u] Baixa [a] Média Alteada Média fechada Contígua Não contígua Gráfico 24: Vogal posterior sílaba livre Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte X Contiguidade

134 134 Do total de 224 dados alteados, 174 ocorreram quando a pretônica se encontrava contígua à sílaba tônica. Abaixo, verificam-se as diferentes ocorrências de vogal quando estas se encontram contíguas à sílaba tônica: Se alta homorgânica [u], nenhuma ocorrência; Se alta não homorgânica [i] (ex.: c[u]zinha, b[u]nito), 109 ocorrências (65,27%); Se média [e, o, ɛ, ɔ] (ex.: g[u]verno, b[u]neca), 45 ocorrências (15,52%); Se baixa [a] (ex.: t[u]mate, alm[u]fada), 20 ocorrências (10,58%); A partir dos resultados, verifica-se que a presença de uma vogal alta não homorgânica [i] e o fato de a pretônica encontrar-se contígua à sílaba tônica (109 oco. 65,27%) são condições ideais para o alteamento da vogal média posterior (cf. BISOL,1987). Não houve nenhuma ocorrência de alteamento, quando a vogal seguinte era alta homorgânica [u] e a pretônica estava contígua à tônica. As vogais médias (45 oco. 15,52%) e baixas (20 oco. 10,58%) não contribuem para o alteamento. Observa-se a ocorrência de 50 dados alteados quando a pretônica não estava contígua à sílaba tônica. A depender da realização da sílaba seguinte, verificam-se as seguintes ocorrências alteadas: Se alta homorgânica [u] (ex.: c[u]municação, c[u]munista), 8 ocorrências (13,11%); Se alta não homorgânica [i] (ex.: m[u]biliário, c[u]zinheira), 24 ocorrências (17,65%) Se média [e, o, ɛ, ɔ] (ex.: g[u]vernador, c[u]bertura), 18 ocorrências (8,53%); Se baixa [a], nenhuma ocorrência. A presença de uma vogal alta não homorgânica [i] (24 oco. 17,65%) contribui para o alteamento, quando a vogal pretônica não se encontra contígua à sílaba tônica. Não foi registrada nenhuma ocorrência do alteamento quando a vogal era baixa [a]. As vogais médias [e, o, ɛ, ɔ] e alta homorgânica [u] apresentaram baixo percentual de alteamento. Conclui-se que a presença da vogal alta não homorgânica [i] e a contiguidade à tônica são fatores essenciais para o alteamento da vogal pretônica posterior, atuando, portanto, o processo de harmonização vocálica.

135 Número de sílabas Batista da Silveira (2014), ao analisar as vogais pretônicas no português europeu, observou que, na fala dos portugueses, o cancelamento da pretônica ocorria frequentemente quando o vocábulo possuía mais de três sílabas. Por isso, a variável número de sílaba foi criada com o objetivo de verificar se o número de sílaba no vocábulo é um condicionamento importante para o alteamento das pretônicas, pois se entende que o alteamento é uma etapa anterior ao cancelamento: Número de sílabas Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Duas 14/53 26,4% Três 82/632 27,5% Quatro ou + 122/443 13,9% Input da Rodada: Tabela 56: Vogal posterior sílaba livre Número de sílabas A hipótese de que o alteamento tenderia ocorrer em vocábulos de mais de três sílabas não se confirma. Como se observa nos resultados da tabela, o alteamento se dá mais frequentemente quando a palavra apresenta duas sílabas (14 oco. 26,4% ). Os vocábulos que apresentam três (82 oco. 27,5% ), quatro ou mais sílabas (122 oco. 13,9% ) apresentam baixa probabilidade de ocorrência do alteamento da vogal posterior em sílaba livre. A seguir, apresentam-se alguns exemplos da vogal posterior alteada e não alteada: Duas sílabas: casa de São J[u]sé que tem convênio; sentava na frente do f[u]gão com aquele calor; eu aperto o b[u]tão, desce; era o h[o]mem rico da terra, não me lembro agora o nome dele; crus, f[o]lhas, alface; Mais j[o]vem, em que faixa? Três sílabas: sala, c[u]zinha e banheiro; Comi a c[u]mida mais deliciosa do mundo; eu fui m[u]leque de rua;

136 136 le é pers[o]nal trainer; não tem pr[o]jetor e a gente liga todos esses computadores; um caix[o]tão de areia. Quatro ou + sílabas: nos g[u]vernantes atual; eu acho que ele... como p[u]lítico ele não não é bem; ótima c[u]zinheira, tinha uma memória, formidável, eu ensinava; apresentar a m[o]nografia(s) isso tudo; uns mais complicadinhos, estr[o]gonofe, que é o picadinho; própria das [o]limpíadas tanto como do/ do/ da Copa do Mundo Natureza da vogal alvo A variável busca verificar se a tonicidade/atonicidade da pretônica influencia na realização alteada. Bisol (1981: 69) defende que a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica. Célia (2004) afirma que a vogal pretônica átona permanente favorece tanto o alteamento de /e/ quanto da posterior /o/. Natureza da vogal alvo Fatores Sílaba Livre / Média Anterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Eventual 18/179 10,1% Permanente 206/949 21,7% Input da Rodada: Tabela 57: Vogal posterior sílaba livre Natureza da vogal alvo Os resultados confirmam as afirmativas de Bisol (1981) e Celia (2004). As pretônicas permanentes são as mais favorecedoras do processo, com 206 ocorrências, 21,7% e probabilidade de Nas átonas eventuais, isto é, nas átonas que derivam de uma tônica, o alteamento da pretônica posterior ocorre com uma menor frequência, apresentando apenas 18 ocorrências, 10,1% e probabilidade de A seguir, apresentam-se alguns exemplos da variável: Eventual: após uma c[u]rrida de Fórmula 1, como os desastres acontecem; Pular f[u]gueira, era subir o pau de sebo;

137 colchão f[u]gão... guarda é varal: guarda-roupa tem tudo; não tem man[o]breiro, aí você tem que descer; fora do h[o]rário de expediente não ganha hora extra...; meu nam[o]rado, é super caseiro. Permanente: é c[u]mida natural; vários b[u]tecos ali; com o G[u]vernador do Estado com o Vice-Governador; muitos pr[o]fessores de escolas públicas que dão aula em particulares; era o/o colégio Santa D[o]rotéia; Suécia N[o]ruega Dinamarca... e... Iugoslávia Vogal posterior travada por Sibilante /S/ Na análise da vogal pretônica anterior travada por sibilante, verificou-se o grande número de palavras alteadas, sendo o travamento silábico o condicionamento mais importante para o alçamento. Há um pequeno número de ocorrências de vogal posterior em posição pretônica da sílaba, em nomes. O corpus coletado a partir da audição de 20 minutos de entrevistas feitas na cidade do Rio de Janeiro, nas décadas de 1970, 1990 e 2010, apresentou um total de 42 ocorrências, sendo 14 realizadas pela variante alta e 28 realizadas pela variante média fechada. Em função do baixíssimo número de dados, a pesquisadora cogitou a hipótese de aumentar o corpus. No entanto, observou-se que, em contexto de sílaba livre, o corpus apresentou ocorrências de dados de vogal pretônica posterior, logo uma boa quantidade de dados para se realizar uma análise variacionista. Portanto, a pesquisadora conclui que o contexto de vogal posterior travada por sibilante apresenta poucos dados, e o aumento de todo o corpus poderia suscitar o aumento de dados no contexto de sílaba livre e não o aumento de dados no contexto de sílaba travada por sibilante, contexto naturalmente de poucas ocorrências em nomes. No estudo de Avelheda (2013), o corpus do contexto de vogal posterior travada por sibilante também apresentou poucos dados. A autora verificou 190 ocorrências em contexto de travamento por fricativa, 154 se realizaram pela variante média fechada [o] e 34, pela alta [u].

138 138 No entanto, cabe salientar que Avelheda (2013) analisou a classe gramatical dos nomes e dos verbos. Os resultados de Avelheda (2013), Viegas (1987) e Silveira (2008) são divergentes em relação ao favorecimento silábico da sibilante. Avelheda (2013) observa o baixo favorecimento do contexto silábico travada por sibilante para o alteamento da pretônica posterior, apenas 34 dados foram produzidos com a pretônica alta. Já Viegas (1987) afirma que a sílaba canônica CV e a travada por fricativa CVC favorecem o alçamento (0.7 e 0.83, respectivamente): cuberto e custela. Assim como Viegas (1987), Silveira (2008) confirma o favorecimento da estrutura silábica CV/S/ para o alteamento da vogal posterior, como se observa na citação abaixo: (...) a estrutura (CVC), cujo declive silábico pode ser ocupado por vibrante /R/, lateral ou fricativa /S/, observamos o favorecimento à elevação da pretônica /o/ (PR.61) (...). Ressaltamos, contudo, que o valor de aplicação da regra atribuído a esse tipo silábico deve ser relacionado apenas à fricativa /S/, como em c[u]stura, c[u]stume, e à vibrante /R/, como em c[u]rtina, g[u]rdura, p[u]rtuguês (...) Comparando o número de dados alçados de vogal anterior /e/ travada por consoante sibilante (Total = 466 dados / Vogais alteadas = 349 dados / Vogais médias fechadas = 117), é possível afirmar que o alteamento se realiza mais frequentemente na vogal anterior /e/ do que na vogal posterior /o/. Entretanto, verifica-se, também, que na pretônica posterior a realização alteada encontra-se em variação, mas com uma preferência pela média fechada, uma vez que, de um total de 42 dados, 14 dados (33,3%) foram realizados alteados e 28 não alteados (66,67%). Vogal posterior travada por /S/ / 33,33% 28 / 66,67% Alteada Média Fechada Gráfico 25: Vogal posterior /o/ - travada por /S/ Assim como na análise da posterior de sílaba livre, foram realizadas algumas recodificações, descritas anteriormente, pois, por apresentar poucos dados, muitas variáveis apresentaram células vazias. Entende-se que esta metodologia dê resultados mais confiáveis. Realizadas as recodificações, novamente o corpus foi submetido à análise dos percentuais, com

139 139 o propósito de observar se variáveis ainda apresentavam células vazias. Observou-se que, mesmo após as recodificações, as variáveis apresentavam muitos comportamentos categóricos (knouckouts) por causa do baixo número de dados. A pesquisadora optou pela metodologia de retirar essas variáveis, uma vez que elas poderiam comprometer o resultado. Como feito anteriormente, a seguir serão analisadas as variáveis excluídas da rodada probabilística. A primeira variável excluída foi Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo. Estudos anteriores como Bisol (1981) e Viegas (1987) afirmam que o alteamento da vogal posterior costuma se realizar quando a pretônica se encontra antecedida por uma consoante. Além disso, as autoras relatam que a ausência de consoante anterior não costuma favorecer o alçamento da posterior. Cabe lembrar que a variável foi recodificada, o ponto de articulação das consoantes pós-alveolar, alveolar e labial foi recodificado como vogal de traço [+ anterior] e o ponto de articulação das consoantes velar e palatal como [+ posterior]. Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 2 / 6 33,33 Posterior 12 / 19 63,16 Ataque vazio - / 17 - Tabela 58: Vogal posterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Tal resultado confirma as afirmativas de Bisol (1981) e Viegas (1987): o ataque vazio não contribui para o alteamento da posterior. Verifica-se que nenhum dado de ataque vazio teve a pretônica alçada. O ponto de articulação posterior, com a predominância de dados com a consoante velar, (12 oc. ex.: c[u]stura, Iug[u]slávia 63,16%) foi o que mais contribuiu para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por sibilante. Apenas dois dados de ponto de articulação anterior (2 oc. ex.: m[u]squito, m[u]starda 33,3%) tiveram a pretônica posterior alçada. A segunda variável excluída foi Ponto de articulação da consoante seguinte à vogal alvo. A variável foi retirada da rodada, pois apresentou um único dado favorável ao alteamento (musquito) e nenhum dado de média fechada com ponto de articulação [+ posterior]. A partir das tabelas dinâmicas, obtiveram-se os seguintes resultados para a variável: Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 13 / 41 31,71 Posterior 1 / Tabela 59: Vogal posterior travada por /S/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo

140 140 Nesta variável, busca-se verificar se ocorre processo de redução vocálica no alteamento de vogal posterior em contexto de travamento por sibilante. No entanto, houve apenas 1 ocorrência alteada (ex.: m[u]squito) com consoante de traço [+ posterior], ou seja, comportamento categórico. Já a consoante de traço [+ anterior] apresentou 13 ocorrências alteadas (13 oc. ex.: c[u]stume, c[u]stura 31,71%). A próxima variável eliminada da rodada probabilística foi Natureza da vogal da sílaba seguinte. A variável busca verificar se atua o processo de harmonização vocálica. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Alteamento Aplicação / Total % Alta homorgânica [u] 5 / Alta não homorgânica [i] 2 / Média [e, o, ɛ, ɔ] - / 8 - Baixa [a] 7 / 9 77,78 Tabela 60: Vogal posterior travada por /S/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte A partir dos resultados totais e percentuais, verificam-se: (i) 5 ocorrências de vogal alta homorgânica [u] na sílaba seguinte (100% de aplicação) (ex.: c[u]stura, ac[u]stumados); (ii) 7 dados foram alteados quando a vogal seguinte era baixa [a] (ex.: iug[u]slávia, m[u]starda) (77,78% de aplicação); (iii) apenas 2 dados foram alteados quando na sílaba seguinte havia uma vogal alta não homorgânica (ex.: m[u]squito - 10% de aplicação) e (iv) nenhum dado foi alçado quando a vogal seguinte era uma média. Logo, são as vogais alta homorgânica [u] (6 oco. 100%) e baixa [a] (7 oco. 77,78%) que mais contribuem para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por sibilante. A última variável excluída por apresentar células vazias foi Natureza da vogal alvo. A variável busca observar se a vogal pretônica permanentemente átona, aquela que sempre ocorre em sílaba átona, é que mais favorece com o alteamento do que a pretônica eventualmente átona. Natureza da vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Eventual - / 7 - Permanente 14 / Tabela 61: Vogal posterior travada por /S/ - Natureza da vogal alvo Nos resultados totais e percentuais, verifica-se que não houve nenhuma ocorrência de alteamento com a pretônica eventual. As vogais pretônicas permanentes (14 oc. ex.:

141 141 iug[u]slavos, c[u]stume 40%) foram as que mais contribuíram para o alteamento da vogal posterior /o/. Depois de se retirar as variáveis que apresentaram células vazias, o corpus foi submetido ao programa probabilístico R-brul. As variáveis selecionadas pelo programa foram: Faixa Etária e Contiguidade, descartando três variáveis: Sexo/Gênero, Década e Número de sílaba. Entende-se que, assim como as variáveis que apresentaram comportamento categórico, as variáveis excluídas pelo programa R-brul também oferecem resultados importantes. Por isso, primeiramente serão a analisadas as variáveis eliminadas pelo programa (resultados totais e percentuais), e depois as variáveis consideradas favorecedoras do fenômeno. A primeira variável eliminada pelo programa R-brul foi Sexo/Gênero: Sexo/Gênero Fatores / Variante Alteamento Aplicação / Total % Mulheres 8 / 26 30,77 Homens 6 / 16 37,50 Tabela 62: Vogal posterior travada por /S/ - Sexo/Gênero Os resultados percentuais indicam que os homens apresentam 37,50% de realização da vogal posterior alteada (ex.: iug[u]slávia, iug[u]slavos). Já as mulheres apresentam 30,77% de realização da vogal posterior alteada em contexto de sílaba travada por /S/ (ex.: c[u]stura, c[u]stume 30,77%). A baixa diferença de ocorrências totais e percentuais é a principal razão para tal variável não ter sido selecionada pelo programa. A segunda variável não selecionada pelo programa probabilístico como condicionadora do fenômeno do alteamento foi a Década. A variável tem como objetivo observar a realização do alteamento nas Décadas de 1970, 1990 e Década Fatores Alteamento Aplicação / Total % Década de / 9 33,33 Década de / 5 20 Década de / 28 35,71 Tabela 63: Vogal posterior travada por /S/ - Década Os resultados das tabelas dinâmicas mostram que a década de 2010 (10 oco. ex.: c[u]stura, iug[u]slávia 35,71%) é o período em que mais se realiza o alteamento da vogal posterior seguida de sibilante. A década de 1970 (3 oco. ex.: ac[u]stumado, m[u]starda 33,3%)

142 142 apresenta pouquíssimos dados de alteamento, e a década de noventa apenas um dado alteado (ex.: m[u]squito 20%). A última variável não selecionada como favorecedora do alteamento da vogal posterior travada por sibilante foi Número de sílaba. A variável busca investigar se o número de sílabas do vocábulo interfere no alteamento da vogal pretônica: Número de sílabas Fatores Alteamento Aplic. / Total % Três 7 / Quatro 7 / 32 21,88 Tabela 64: Vogal posterior travada por /S/ - Número de sílabas A variante duas sílabas não foi considerada, uma vez que não houve ocorrência, nesse contexto de pretônica posterior travada por /S/. As variantes três sílabas (7 oco. ex.: m[u]squito, c[u]stura) e quatro sílabas (7 oco. ex.: iug[u]salvos, ac[u]stumados) apresentaram o mesmo total de ocorrências. Em temos percentuais, é a variante três sílabas (70%) que mais contribui para o alteamento do que a de quatro sílabas (21,88%). Depois de descrever e analisar todas as variáveis eliminadas por apresentarem células vazias e por não terem sido consideradas relevantes para o alteamento, serão descritas as duas variáveis selecionadas como condicionadores para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por sibilante. São elas: Faixa etária e Contiguidade Faixa Etária Estudos anteriores apontam a importância da variável social Faixa Etária para as análises sociolinguísticas. De acordo com esses estudos, através da análise da faixa etária dos informantes, é possível realizar o estudo de tempo aparente. Abaixo, apresentam-se os resultados obtidos na rodada do programa probabilístico R-brul: Faixa Etária Fatores Sílaba travada por /S/ - Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35 anos) 4/8 50% Faixa 2 (35 55 anos) 2/19 10,5% Faixa 3 (56 75 anos) 8/15 53,3% Input da Rodada: Tabela 65: Vogal posterior travada por /S/ - Faixa Etária

143 143 Ainda que se deva relativizar as análises a seguir, em função do baixo número de dados, os resultados indicam que falantes pertencentes à terceira (56 a 75 anos 8 oco. 53,3% ) e à primeira faixas etárias (25 a 35 anos 4 oco. 50% ) apresentam percentuais e pesos relativos favoráveis ao alteamento da vogal posterior. Já os usuários da segunda faixa etária (35 a 55 anos 2 oco. 10,5% ) não apresentam nem percentual nem peso relativo favoráveis para a aplicação do fenômeno. Embora haja poucos dados, os resultados indiciam que o alteamento da vogal posterior em contexto sílaba travada por /S/ encontra-se em variação estável, pois se observa que a primeira e última faixas etárias são as que mais realizam o alteamento pretônico. No gráfico abaixo, observa-se, a partir dos dados percentuais, uma curva de variação estável com tendência à propagação na primeira e terceira faixas etária. 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Vogal posterior travada por sibilante - Estudo de Tempo Aparente 50% 10.50% 53.30% Faixa 1 (25-35 anos) Faixa 2 (35-55 anos) Faixa 3 (56-75 anos) Gráfico 26: Vogal posterior travada por /S/ - Estudo de Tempo Aparente A seguir, apresentam-se alguns exemplos da variável: Primeira faixa etária 1 (25 35 anos): tem muita máquina de c[u]stura:... manequim: e/ e aula; corte c[u]stura e desenho... sabe...; tem, o h[o]spital do Andaraí; muito mais g[o]stoso; eu vou nesses/ nesses h[o]spitais que são particulares. Segunda Faixa etária (35 55 anos): bem ainda um c[u]stume brasileiro; pimenta em pó, m[u]starda, ketchup; passar muito uma coisa n[o]stálgica pro aluno; f[o]sfato e é muito bom pra memória;

144 144 (num canto) h[o]spital de Ipanema. Terceira Faixa etária (56 75 anos): era a Iug[u]slávia do General Tche; mais pra preto do que a que nós estamos ac[u]stumados aqui; por causa dos m[u]squitos e tudo isso; ela pegou as ap[o]stilas estudou; é o h[o]spital na época; ainda a poluição atm[o]sférica e a sua (inint.) Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A segunda variável selecionada como condicionadora do alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por /S/ foi Contiguidade da pretônica à sílaba tônica. Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Sílaba travada por /S/ / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Contígua à tônica 13/24 54,2% Não contígua à tônica 1/18 5,6% Input da Rodada: Tabela 66: Vogal posterior travada por /S/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Os resultados revelam que a contiguidade é um fator importante para o alteamento da vogal pretônica posterior seguida de /S/. A contiguidade à sílaba tônica (13 oco. 54,2% ) mostrou-se uma variante favorável para o alçamento vocálico. O fato de a pretônica não se encontrar contígua à tônica (1 oco. 5,6% ) não favorece o alteamento da média posterior. Tal resultado é observado nos estudos de Celia (2004) e Silveira (2008). Segundo Silveira (2008: 90), É notável a predominância do fator adjacência da vogal alta à pretônica para a aplicação da regra, ou seja, a distância de uma sílaba entre a vogal pretônica /e, o/, candidata à elevação, e a vogal alta tônica é a condição ideal para que a regra de elevação seja aplicada. A seguir segue exemplo: Contígua à tônica: pimenta em pó, m[u]starda, ketchup;

145 145 corte c[u]stura e desenho... sabe...; era a Iug[u]slávia do General Tche; fica muito g[o]stoso; pimenta em pó, m[o]starda, ketchup; ela pegou as ap[o]stilas estudou. Não contígua à tônica: mais pra preto do que a que nós estamos ac[u]stumados aqui; tem, o h[o]spital do Andaraí; como grande h[o]spitais e nos limites; o h[o]spital de Ipanema Vogal posterior travada por Nasal /N/ Levantaram-se 236 ocorrências de vogal média pretônica /o/ em contexto de travamento nasal, 50 dados (21,19%) de vogal alta [u] e 186 dados (78,81%) de vogal média fechada [o]. Vogal posterior travada por nasal / 21,19% 186 / 78,81% Alteada Média Fechada Gráfico 27: Vogal posterior travada por /N/ Assim como nos demais contextos, verificou-se, em uma primeira análise da distribuição dos dados pelas variáveis, que havia células vazias. Com o objetivo de obter resultados probabilístico confiáveis através do programa R-brul, optou-se pela metodologia de amalgamar e recodificar algumas variáveis. Realizou-se outra análise preliminar, em que se verificou que, mesmo após as arecodificações, havia variáveis de comportamento categórico: Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo, Natureza da vogal da sílaba seguinte e Número de

146 146 sílabas. No entanto, mesmo com células vazias, as variáveis apresentem resultados importantes, que passam a ser descritos. A primeira variável eliminada por apresentar células vazias foi Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. Esta tem como principal objetivo verificar se o alteamento é motivado pelos traços fonéticos presentes nas consoantes seguintes. Cabe lembrar que a variável foi recodificada e o ponto de articulação de traço [+ anterior] corresponde às consoantes alveolar, pós-alveolar e labial, e o ponto de articulação de traço [+ posterior] das consoantes velar e palatal. Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 50 / ,42 Posterior - / 13 - Tabela 67: Vogal posterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Apenas consoantes de traço [+ anterior] na sílaba seguinte (50 oco. ex.: c[u]nsultoria, c[u]nfusão) 22,42%) (alveolar, pós-alveolar e labial) contribui para o alteamento da vogal posterior travada por /N/. Quanto à variável Natureza da vogal da sílaba seguinte, um dos condicionamentos mais importantes para o alteamento de média pretônica é a presença da vogal alta na sílaba seguinte e intenta-se investigar se tal condicionamento ocorre na vogal posterior travada por nasal. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Alteamento Aplicação / Total % Alta homorgânica [u] 21 / 32 65,63 Alta não homorgânica [i] 27 / 52 51,92 Média [e, o, ɛ, ɔ] 2 / 78 2,56 Baixa [a] - / 74 - Tabela 68: Vogal posterior travada por /N/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Verifica-se que as duas vogais altas, alta homorgânica [u] (21 oco. ex.: p[u]ntudo, c[u]ndução 65,63%) e alta não homorgânica [i], apesar de apresentar apenas 51,92%, (27 oco. ex.: c[u]mprida, ar-c[u]ndicionado 51,92%) contribuem para o alteamento. Apenas 2 dados foram realizados alteados quando a vogal seguinte era média [e o] (ex.: am[u]ntoadas, c[u]nveniente 2,56%). Nenhum dado foi realizado alçado, quando a vogal seguinte era baixa [a].

147 147 A última variável eliminada foi Número de sílabas. Nenhum dado que apresentasse duas sílabas foi realizado alteado. Busca-se investicar se assim como no português europeu, o alteamento ocorre mais frequentemente em palavras de maior extensão silábica: Número de sílabas Fatores Alteamento Aplicação / Total % Duas - / 6 - Três 25 / ,59 Quatro ou + 25 / ,59 Tabela 69: Vogal posterior travada por /N/ - Número de sílabas Os resultados confirmam tal pressuposto, uma vez que o alteamento ocorre mais frequentemente nos vocábulos de três (25 oco. ex.: c[u]nsulta, c[u]nfusão 10,59%) e quatro ou + (25 oco. ex.: c[u]nsumidor, c[u]nsultório 10,59%) sílabas. Eliminadas essas variáveis e submetidos os dados ao R-Brul, o programa excluiu quatro variáveis: Sexo/Gênero, Década, Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo e Natureza da vogal alvo e apenas duas variáveis foram selecionadas pelo programa R-brul. São elas: faixa etária e contiguidade da pretônica à sílaba tônica. A primeira variável excluída pelo programa R-brul foi Sexo/Gênero. A variável busca verificar se é as mulheres ou os homens que mais realizam o alteamento da vogal pretônica. Sexo/Gênero Fatores Alteamento Aplicação / Total % Mulheres 16 / 98 16,33 Homens 34 / ,64 Tabela 70: Vogal posterior travada por /N/ - Sexo/Gênero Os resultados indicam que os homens (34 oco. ex.: c[u]ndição, c[u]nsumo 24,64%) produzem mais o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por nasal do que as mulheres (16 oco. ex.: c[u]nsultoria, c[u]primento 16,33%). Tal resultado é observado no estudo de Avelheda (2013). A pesquisadora, ao analisar a vogal posterior em contexto de sílaba travada por nasal, verificou também que são os homens, com peso relativo 0.71, quem mais realizaram o alteamento da pretônica posterior em contexto de sílaba travada por nasal. A próxima variável eliminada pelo programa foi Década. Esta tem como objetivo observar, durante três períodos temporais, a realização da vogal pretônica + /N/.

148 148 Década Fatores Alteamento Aplicação / Total % Década de / 79 16,46 Década de / 62 27,42 Década de / 95 21,05 Tabela 71: Vogal posterior travada por /N/ - Década A partir dos resultados percentuais, observa-se que os falantes da década de 1990 (17 oco. ex.: c[u]mputador, c[u]mplicações 27,42%), seguida dos da década de 2010 (20 oco. ex.: c[u]ndições, c[u]nsumidaor 21,05%) são os que mais realizam o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por /N/. O alçamento apresentou menor percentual de realização na década de 1970 (17 oco. ex.: c[u]nfusão, ar-c[u]ndicionado 16,46%) A variável Ponto de articulação da consonante antecedente à vogal alvo propõe que é natural que uma consoante com ponto de articulação alto motive o alteamento da vogal pretônica e, ainda, que o processo de alçamento não ocorre somente a partir da assimilação da altura da vogal (BISOL, 1981; ABAURRE-GNERRE,1981). Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 4 / 46 8,70 Posterior 46 / ,21 Tabela 72: Vogal posterior travada por /N/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Vogal pretônica /o/ + /N/ antecedida por consoante de traço [+ posterior] velar e palatal (46 oco. ex.: c[u]nsulta, c[u]nsumidor 24,21%) tende ao alteamento. Se a consoante é [+anterior], houve apenas 4 ocorrências alteadas (ex.: p[u]ntudo, am[u]ntodas 8,70%). Diversos estudos confirmam que a consoante velar, por ser produzida com o corpo da língua levantado, ou seja, por ser uma consoante com articulação alta, tenderia a contribuir para o alteamento da vogal posterior /o/. A última variável excluída pelo programa probabilístico foi Natureza da vogal alvo. Segundo Avelheda (2013), as pretônicas permanentes, por não guardarem resquícios de tonicidade, são mais suscetíveis ao processo de alteamento. Natureza da vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Eventual 3 / 19 15,79 Permanente 47 / ,66 Tabela 73: Vogal posterior travada por /N/ - Natureza da vogal alvo

149 149 Como observado na análise para o contexto de sílaba livre e travada por nasal, o fato de a vogal pretônica ser permanentemente átona (47 oco. ex.: c[u]ndição, c[u]nsulta 21,66%) contribui para o alteamento da posterior travada por nasal. Já a pretônica derivada de uma tônica (eventual) não contribui. Registram-se apenas 3 ocorrências de alteamento (ex.: l[u]ngínqua, p[u]ntudo - 15,79%). Após essa análise preliminar, serão analisadas as variáveis favorecedoras para o alteamento da pretônica posterior em contexto de sílaba travada por nasal. O programa probabilístico selecionou apenas duas variáveis como condicionantes para o alçamento, são elas: Faixa Etária e Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Faixa Etária A partir da variável faixa etária, é possível observar se um fenômeno linguístico é conservador ou inovador. Se o fenômeno se encontra presente nas falas dos indivíduos mais jovens, considera-se que se trata de uma variante inovadora, mas se se realiza nas falas das pessoas mais idosas, pode-se concluir que o fenômeno é conservador. Viegas (1987), no estudo do dialeto mineiro, concluiu que o fenômeno é inovador e encontra-se em mudança em progresso, pois foram os falantes mais jovens que utilizam com maior frequência o alteamento. Diferentemente, Bisol (1981), no estudo do dialeto gaúcho, e Callou et ali (1981), no estudo do dialeto carioca observam que o alçamento da vogal posterior é um fenômeno conservador em vias de regressão, uma vez que o fenômeno é frequentemente produzido pelos falantes mais idosos. Faixa Etária Fatores Sílaba Travada por Nasal / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35 anos) 23/79 29,1% Faixa 2 (36 55 anos) 14/81 17,3% Faixa 3 (56 75 anos) 13/76 17,1% Input da Rodada: Tabela 74: Vogal posterior travada por /N/ - Faixa Etária Assim como em Viegas (1981), são os indivíduos mais jovens (23 oco. 29,1% ), da primeira faixa etária (25 a 35 anos), quem mais produz o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por nasal. A segunda (36 a 55 anos; 14 oco. 17,3% ) e terceira faixas etárias (56 a 75 anos - 13 oco. 17,1% ) apresentam uma menor probabilidade de alçarem a vogal pretônica posterior /o/ + /N/.

150 150 O favorecimento dos mais jovens ao alteamento da vogal posterior é observado também nos estudos de Marques (2006) e de Batista da Silveira & Souza (2014). Segundo Marques (2006: 125), para a aplicação de [u], não são os mais velhos que mais produzem o alteamento de /o/ e sim os informantes de 26 a 49 anos de idade. Batista da Silveira & Souza (2014), ao analisar a vogal posterior travada por nasal na fala carioca, observaram que falantes da primeira e segunda faixas etárias foram as que mais produziram a variante alta [u], tendo consecutivamente os seguintes pesos relativos e Os resultados percentuais indicam que o alteamento da vogal posterior em contexto sílaba travada por /N/ encontra-se em propagação, pois se observa que é a primeira faixa etária são as que mais realizam o alteamento pretônico. No gráfico abaixo, observa-se, a partir dos dados percentuais, uma curva de propagação na primeira faixa etária. Vogal posterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Aparente 35.00% 30.00% 25.00% 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 0.00% 29.10% 17.30% 17.10% Faixa 1 (25-35 anos) Faixa 2 (36-55 anos) Faixa 3 (56-75 anos) Gráfico 28: Vogal posterior travada por /N/ - Estudo de Tempo Aparente Os dados a seguir exemplificam a variável: Primeira faixa etária (25 35 anos): ligar o ar c[u]ndicionado sorte que não tava quente; o código de defesa do c[u]nsumidor que veio aí em noventa ajudar; então paga uma c[u]nsulta né você vai no médico; copa e cozinha c[o]njugado; então na Uerj de São G[o]nçalo... ele falava; está mal organizado, que o c[o]ndomínio está mal feito. Segunda Faixa Etária (36 55 anos): não tem projetor e a gente liga todos esses c[u]mputadores;

151 151 ficam todas am[u]ntoadas umas em cima das outras; três andares, com telhado p[u]ntudo; numa varanda assim s[o]mbreada, e com parede lateral; nas noites de grande temporal era um b[o]mbardeio terrível daquelas amêndoas; quem pode pagar ou tem o c[o]nvênio pra quem não pode pagar. Terceira faixa etária (56 75 anos): o ar-c[u]ndicionado melhora consideravelmente; A c[u]ndução começou a ficar difícil; calça c[u]mprida na rua; a m[o]ntanha vai até a praia; o pessoal de P[o]mpéia ele não morreu; uma c[o]ncessionária chamada City. Com o propósito de observar o comportamento das três faixas etárias nas três décadas estudadas procedeu-se o cruzamento das variáveis Faixa Etária X Década. Cruzamento Faixa Etária X Década O cruzamento tem como objetivo observar se as três faixas etárias apresentam comportamentos iguais ou diferentes, a depender da década. Ao analisar a faixa etária, verificou-se que o fenômeno ocorre mais frequentemente entre os jovens. Mas, se questiona: (ii) nas três décadas, são os jovens que mais realizam ao o alteamento? Cruzamento Faixa Etária X Década Alteadas Aplic. / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 1 / 16 6,25 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 4 / 21 19, Faixa 3 (56 75 anos) 8 / 42 19,05 Total 13 / 79 16,46 Faixa 1 (25 35 anos) 6 / Década de Faixa 2 (36 55 anos) 6 / 18 33, Faixa 3 (56 75 anos) 5 / 24 20,83 Total 17 / 62 21,05 Faixa 1 (25 35 anos) 16 / 43 37,21 Década de Faixa 2 (36 55 anos) 4 / 42 9, Faixa 3 (56 75 anos) - / 10 - Total 20 / 95 21,05 Total Geral 50 / ,19 Tabela 75: Vogal posterior /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década

152 152 Vogal posterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa Etária X Década % 90.00% 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 1 Faixa Faixa 3 Alteada Média Fechada Gráfico 29: Vogal posterior travada por /N/ - Cruzamento Faixa etária X Década Na década de 1970, apenas 13 dados foram realizados alteados. A depender das faixas etárias, tem-se a seguinte distribuição de pretônica posterior alteada: Na primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: c[u]ntinuação), 1 ocorrência (6,25%); Na segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: c[u]nfusão, am[u]ntoadas), 4 ocorrências (19,05%); Na terceira faixa etária (56 75 anos) (ex.: c[u]mprimento, ar-c[u]ndicionado), 8 ocorrências (19,05%); Logo, na década de 1970, o alçamento da posterior /o/ + /N/ se realiza mais frequentemente entre a segunda (19,05%) e terceira (19,05%) faixas etárias. Na década de 1990, a vogal posterior foi alteada em 17 dados. As faixas etárias apresentaram as seguintes ocorrências: Primeira faixa etária (25 35 anos) (ex.: c[u]ndição, c[u]mplicações), 6 ocorrências (30%); Segunda faixa etária (36 55 anos) (ex.: p[u]ntudo, c[u]nsultório), 6 ocorrências (33,3%); Terceira faixa etária (ex.: c[u]mprida, c[u]ndução), 5 ocorrências (20,83%);

153 153 Verifica-se diferença de apenas um dado entre a primeira faixa etária e a terceira faixa etária, por isso não é possível afirmar categoricamente que são os mais jovens que mais realizam o alteamento. O alteamento da vogal posterior travada por nasal ocorre mais frequentemente na década de 2010, 20 dados são realizados alteados. A depender da faixa etária, verificam-se as seguintes ocorrências: Primeira faixa etária (25 35 anos), (ex.: c[u]nsumidor, c[u]nsultoria), 16 ocorrências (37,21%); Segunda faixa etária (35 55 anos) (ex.: c[u]mputadores, c[u]ndições), 4 ocorrências (9,52%); Terceira faixa etária, nenhuma ocorrência de alteamento; Na década de 2010, são os jovens (primeira faixa etária 37,21%) que mais realizam o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por nasal Contiguidade da pretônica à sílaba tônica A variável busca investigar se a distância entre a pretônica analisada e a tônica influencia na realização da pretônica pela variante [u]. Os resultados expostos abaixo indicam que a não contiguidade à sílaba tônica (34 oco. 31,4% ) favorece o alteamento da vogal pretônica em contexto de sílaba travada por nasal. Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Fatores Sílaba Travada por Nasal / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Contígua à tônica 12/115 10,4% Não contígua à tônica 38/121 31,4% Input da Rodada: Tabela 76: Vogal posterior travada por /N/ - Contiguidade da pretônica à sílaba tônica Os resultados probabilísticos indicam que o fato de a pretônica posterior estar contígua à sílaba tônica (0.312) não favorece o alteamento. É a pretônica não contígua à sílaba pretônica que apresenta maior probabilidade (0.688) para o alteamento da vogal média posterior, o que indicia que outro fator possivelmente o próprio travamento nasal que atua para a efetivação do fenômeno. Os dados abaixo exemplificam a variável:

154 154 Contígua à tônica: então paga uma c[u]nsulta né você vai no médico; três andares, com telhado p[u]ntudo; calça c[u]mprida na rua; o b[o]mbeiro tem; São C[o]nrado ficou uma zona de passagem; fazendo c[o]ncursos pra contratar. Não contígua à tônica: não tem projetor e a gente liga todos esses c[u]mputadores; as salas não tinham ar c[u]ndicionado tá o calor que tá hoje você morre; A c[u]ndução começou a ficar difícil; está mal organizado, que o c[o]ndomínio está mal feito; e criou... a UNEP... com representantes de todos os c[o]ntinentes...; também tenho c[o]ntador, eu tenho administradores Vogal posterior travada por Rótico /R/ O estudo da pretônica anterior /e/ travada por rótico não se apresentou como contexto favorecedor para o alteamento, nem mesmo como contexto variável. Foram registrados apenas 2 dados de alçamento em um mesmo vocábulo (s[i]rviço). Em relação à vogal posterior /o/ travada por rótico, observa-se que há variação linguística entre o alteamento e a realização com a média fechada, mas com uma maior preferência pelas médias fechadas. O corpus constitui-se de apenas 139 ocorrências de vogal posterior travada por rótico. Desse total, 27 (19,42%) foram realizadas pela variante alteada [u] (ex.: c[u]rtina, P[u]rtugal) e 112 (80,58%) pela média fechada [o] (ex.; p[o]rtaria, [o]rquídea). Vogal Posterior travada por rótico /R/ / 19,42% 112 / 80,58% Alteada Média fechada Gráfico 30: Vogal posterior travada por rótico /R/

155 155 A análise preliminar dos percentuais e totais relativos à vogal posterior + /R/ identificou duas variáveis que apresentaram comportamento categórico: Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo e Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo, cujos objetivos é verificar a influência dos traços [+ anterior/+ posterior] ou mesmo a ausência das consoantes que antecedem e sucedem a pretônica /o/. Segundo Tondineli (2010), a ausência de contexto fonológico precedente é o fator que menos favorece o alçamento de /o/, com em [o]bjetivo (...). Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 17 / 95 17,89 Posterior 10 / Ataque vazio - / 24 - Tabela 77: Vogal posterior travada por /R/ - Ponto de articulação da consoante antecedente à vogal alvo Os resultados percentuais indicam que as consoantes com ponto de articulação [+ posterior] (10 oco. ex.: g[u]rjeta, curtina 50%) são as que mais contribuem para o alteamento da vogal posterior travada por rótico. Já as consoantes com ponto de articulação [+anterior] apresentam um baixo percentual (17 oco. ex.: p[u]rção, f[u]rmiga 17,89%), de realização do fenômeno. A segunda variável excluída por apresentar células vazias foi Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo. Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Anterior 27 / ,13 Posterior - / 17 - Tabela 78: Vogal posterior travada por /R/ Ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte à vogal alvo O ponto de articulação [+ anterior] em contexto subsequente à pretônica /o/ + /R/ contribui para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por rótico (alveolar, pós-alveolar e labial - 27 oco. ex.: c[u]rtina, p[u]rtugal 22,13%). Não se registrou nenhum dado alçado quando o ponto de articulação da consoante da sílaba seguinte era posterior. Submetidos os dados ao programa probabilístico R-brul, verifica-se a exclusão das variáveis: faixa etária, Sexo/Gênero, década, natureza da vogal alvo e contiguidade da pretônica à sílaba tônica. Apenas duas variáveis foram selecionadas: natureza da vogal da

156 156 sílaba seguinte e número de sílabas. Antes de analisar as variáveis selecionadas, serão analisadas as variáveis excluídas, a partir dos resultados totais e percentuais obtidos na análise das tabelas dinâmicas. A primeira faixa etária excluída pelo programa R-brul foi Faixa Etária. Faixa etária Fatores Alteamento Aplicação / Total % Faixa 1 (25 35 anos) 12 / 57 21,05 Faixa 2 (35 55 anos) 9 / 47 19,15 Faixa 3 (56 75 anos) 6 / 35 17,14 Tabela 79: Vogal posterior travada por /R/ - Faixa Etária Os resultados totais e percentuais indicam que a primeira faixa etária (25 35 anos) (12 oco. ex.: c[u]rtina, p[u]tuguesa 21,05%) é a que mais produz o alteamento da vogal posterior em contexto de travamento por rótico. A segunda (35 55 anos) (9 oco. ex.: p[u]rção, g[u]rdura 19,15%) e a terceira (6 oco. ex.: op[u]rtunidade, c[u]rtina 17,14%) faixas etárias realizam com uma menor frequência o alteamento da vogal posterior. Diferente do presente resultado, Celia (2004) ao analisar a vogal pretônica na fala culta de Nova Venécia, verifica que a terceira faixa etária (.595) é que mais contribui para o alteamento da posterior, no entanto é importante salientar que a pesquisadora analisou juntamente todos os contextos silábicos. A segunda variável desconsiderada foi Sexo/Gênero. Essa variável verifica qual o Sexo/Gênero que mais tende a realizar o alteamento. Sexo/Gênero Fatores Alteamento Aplicação / Total % Mulheres 13 / 63 20,63 Homens 14 / 76 18,42 Tabela 80: Vogal posterior travada por /R/ Sexo/Gênero Os resultados da tabela acima indicam as mulheres (13 oco. ex.: c[u]rtina, eng[u]rduradas 20,63%) apresentam maior percentual de produção do alteamento. Os homens, de acordo com o resultado percentual, (14 oco. ex.: p[u]rtuguesa, p[u]rção) produzem menos o alçamento. Tal resultado não é observado no estudo de Rocha (2013) que analisa o comportamento das vogais pretônicas na fala de Nova Iguaçu. A autora observou que foram os homens, com 22,4% e pesos relativos.54, que mais favorecem o alteamento da vogal posterior. No entanto, é importante salientar que Rocha (2013) analisou juntamente todos os contextos silábicos.

157 157 Outra variável social eliminada foi Década. Castro (1991), Paul Teyssier (1997), Marquilhas (2000) e Avelheda & Souza (2009) afirmam que variação das médias pretônicas surgiu no latim. A partir dessa afirmação, intenta-se observar (i) se o fenômeno se realiza nas décadas de 1970, 1990 e 2010; (ii) se há uma década específica que as pessoas mais realizam o alteamento; (iii) se o fenômeno se encontra em variação estável, recuo ou propagação. Década Fatores / Variante Alteamento Aplicação / Total % Década de / 64 26,56 Década de / 32 15,63 Década de / 43 11,63 Tabela 81: Vogal posterior travada por /R/ - Década Verifica-se nos resultados que a década de 1970 apresenta um maior percentual de alteamento (26,56% - 17 oco. ex.: f[u]rmiga, g[u]rdura). Na década de 1990, o percentual é de 15% (5 oco. ex.: op[u]rtunidade, f[u]rmiga) e na de 2010, percentual de 11,63% (5 oc. ex.: p[u]rção, g[u]rjeta) de alteamento. A próxima variável eliminada foi Contiguidade da pretônica à sílaba tônica. Esta variável tem como finalidade verificar se a contiguidade à tônica é um fator importante para o alteamento das pretônicas. Segundo Silveira (2008: 90) É notável a predominância do fator adjacência da vogal alta à pretônica para a aplicação da regra (...). Contiguidade da vogal pretônica à sílaba tônica Fatores Alteamento Aplicação / Total % Contígua à tônica 15 / Não contígua à tônica 12 / 64 18,75 Tabela 82: Vogal posterior travada por /R/ - Contiguidade da vogal pretônica à sílaba tônica Observa-se pouca diferença de ocorrências (contígua à tônica = 15oco. / não contígua à tônica = 12 oco.) e percentuais (contígua à tônica = 20% / não contígua à tônica = 18%) entre as variantes, por isso não é possível afirmar categoricamente que uma variante contribui mais para o alteamento que a outra. A última variável excluída pelo programa probabilístico foi Natureza da vogal alvo.

158 158 Natureza da vogal alvo Fatores Alteamento Aplicação / Total % Eventual 2 / 35 5,71 Permanente 25 / ,04 Tabela 83: Vogal posterior travada por /R/ - Natureza da vogal alvo Assim como nas demais análises, a vogal pretônica permanente (25 oc. ex.: c[u]rtina, g[u]jeta 24,04%) apresenta maior percentual de contribuição para o alteamento da vogal média posterior travada por rótico do que a vogal pretônica eventualmente átona (2 oc. ex.: m[u]rticínio, am[u]rtização 5,71%). Após a análise das variáveis excluídas pelo programa probabilístico, tem-se a seguir as análises das variáveis selecionadas como favorecedoras para o alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por rótico Natureza da vogal da sílaba seguinte A variável visa a investigar se altura da vogal da sílaba seguinte influência no processo de alteamento. Alguns estudos como Bisol (1981), Celia (2004), Silveira (2008), Tondineli (2010), Rocha (2013) entre outros defendem que ambas as vogais altas, anterior alta não homorgânica [i] e a posterior alta homorgânica [u], favorecem o alteamento da vogal posterior, o que confirma a atuação do processo de harmonização vocálica. Bisol (1981: ) utiliza o diagrama das vogais cardinais de Jones (1957: 38) para explicar o favorecimento das duas vogais altas. Segundo Bisol (1981) a vogal /i/ é produzida na posição mais alta da cavidade bucal, já /u/ se encontra na mesma posição diagonal que /e/, mas em uma posição acima de /o/, por isso as duas vogais altas favorecem o alteamento da vogal posterior /o/ e somente /i/ favorece o da anterior /e/. Natureza da vogal da sílaba seguinte Fatores Sílaba travada por /R/ / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Alta homorgânica [u] 11/19 57,9% Alta não homorgânica [i] 11/28 39,3% 0.74 Média [e, o, ɛ, ɔ] 1/15 6,7% Baixa [a] 4/77 5,2% Input da Rodada: 0.26 Tabela 84: Vogal posterior travada por /R/ - Natureza da vogal da sílaba seguinte Os resultados totais, percentuais e probabilísticos confirmam a afirmativa de Bisol (1981), a vogal alta homorgânica [u] (11 oco. 57,9% ) e alta não homorgânica [i] (11

159 159 oco. 39,3% ) seguintes favorecem o alteamento da vogal pretônica posterior em contexto de sílaba travada por rótico. As vogais médias [e, o, ɛ, ɔ] (1 oco. 6,7% ) e baixa [a] (4 oco. 5,2% ) não favorecem o alteamento da vogal posterior. Os resultados indicam que há atuação do fenômeno de harmonização vocálica, uma vez que as vogais altas da sílaba seguinte são as principais condicionadoras do alteamento de vogal posterior. Foi possível observar no corpus que o alteamento da posterior travada por /R/ tende a ocorrer, mais frequentemente, em palavras comuns do vocabulário popular, como por exemplo, c[u]rtina, f[u]rmiga, g[u]rdura, p[u]rtugal etc. Tal observação também foi verificada em Avelheda (2013) que diz: O fator que mais parece favorecer o alteamento da pretônica posterior travada por /R/ é a presença da vogal alta tônica em sílaba contígua, mas este contexto, como afirma Oiveira (1991), deve encontrar-se em um nome comum, em palavra que faz parte de contextos menos formais de fala. A seguir, apresentam-se alguns exemplos da variável: Alta homorgânica [u]: uma pedra p[u]rtuguesa, uma lajota; porque vem muita g[u]rdura, um contrapeso; eu também tive op[u]rtunidade de crescer; a facilidade do [o]rkut MSN e tudo aí...; conseguiu debelar a t[o]rtura, tendo coragem de demitir; vai te dar op[o]rtunidade de trabalhar. Alta não homorgânica [i]: morro da F[u]rmiga; ela cai como uma c[u]rtina, então aqui está chovendo; uma am[u]rtização menor do que teríamos dado; O quarto, o d[o]rmitório de mamãe atualmente; ou duas [o]rquídeas, agora consigo antúlio (sic) bem; ótima cozinheira, tinha uma memória, f[o]rmidável, eu ensinava. Média [e, o, ɛ, ɔ]: toma g[u]rjeta toma...; dois p[o]rteiros, dois faxineiros;

160 160 Tinha [o]rquestra, não precisava daquele; água pelo t[o]rnozelo e ver a quantidade. Baixa [a]: botaram uma p[u]rção de gente na rua; você tem uma p[u]rção delas; a equipe vai vai fazer uma p[u]rção de coisas; ela fazia vários outros estudos de inf[o]rmática de cursos; uma rec[o]rdação que eu tenho de criança; Campos do J[o]rdão também não Número de sílaba Com base na hipótese de que o alteamento tende a ocorrer em palavras de maior extensão, avalia-se a variável número de sílabas. Número de sílaba Fatores Sílaba Livre / Média Posterior Aplicação / Total Porcentagem Probabilidade Duas 4/17 23,5% Três 11/83 30,8% Quatro ou + 12/39 13,3% Input da Rodada: 0.26 Tabela 85: Vogal posterior travada por /R/ - Número de sílaba Observando os resultados, é possível afirmar que tal hipótese não se confirma em relação ao alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba travada por rótico. Os vocábulos com duas sílabas apresentam frequência de 23,5% e probabilidade de favorecimento. Os vocábulos de três sílabas apresentam comportamento neutro com de probabilidade. Enquanto os vocábulos quatro ou + sílabas (0.261) desfavorecem o alteamento da vogal posterior. Os exemplos a seguir ilustram a variável: Duas sílabas: botaram uma p[u]rção de gente na rua; a equipe vai vai fazer uma p[u]rção de coisas; uma p[u]rção de gente;

161 161 o anúncio no j[o]rnal aceitava; aí também [o]rkut vamos catar; eu procurei o p[o]rtão de casa não encontrei. Três sílabas: vinda de P[u]rtugal, que acompanhou a família; inclusive pela doença e pela f[u]rmiga também; uma c[u]rtina branca; salário de p[o]rteiro, salário de faxineiro; tomar s[o]rvete na padaria; por exemplo, no n[o]rdeste, no meio do dia andando. Quatro sílabas: nesse dia tinha um verdadeiro f[u]rmigueiro de pessoas na praia; essas mais eng[u]rduradas, né; lajota p[u]rtuguesa; quase todos tocaram, piano, violino, violão, ac[o]rdeón; uma igreja desconf[o]rtável; todo o [o]rçamento da Secretaria Conclusões Parciais vogal posterior Houve poucos dados de alteamento vogal posterior no corpus analisado. De um total de 1545 dados, 1230 foram realizados com a média fechada [o] e apenas 315 dados tiveram sua pretônica alteada [u]. Tal resultado indica que há uma maior ocorrência da realização da média posterior [o] do que da realização alteada [u]. Assim como na vogal anterior, foi possível observar que: (i) algumas estruturas silábicas favorecem mais o alteamento do que outras e (ii) as variáveis condicionadoras para o alteamento são diferentes, a depender da estrutura silábica. No gráfico a seguir, observam-se os diferentes comportamentos da vogal pretônica posterior, de acordo com a estrutura silábica em que se encontra:

162 % 80.00% 70.00% 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% Vogal posterior - Estrutura silábica 78.81% 80.58% 80.14% 66.67% 33.33% 21.19% 19.42% 19.86% /N/ /R/ /S/ Livre Gráfico 31: Vogal posterior - Estrutura silábica Alteada Média fechada Por causa do baixíssimo número de dados (42 ocorrências), o corpus formado por vogal posterior travada por sibilante apresentou o maior percentual de alteamento (33,33%), seguida do corpus constituído por posterior travada por nasal (21,19%). A sílaba livre teve o terceiro percentual mais favorecedor (19,86%). Assim como na análise da vogal anterior, a vogal pretônica /o/ travada por rótico apresentou o mais baixo índice de favorecimento do alteamento. A partir do input obtido nas rodadas probabilísticas, estabeleceu-se um continuum, com o objetivo de verificar quais estruturais silábicas são mais e menos favorecidas pelo o alteamento. Travada por /N/ Travada por /R/ 0.26 Livre Travada por /S/ Os resultados do input revelam que a vogal posterior travada por rótico (0.26) e a travada por sibilante (0.212) são as que mais favorecem o alteamento. Já a vogal posterior travada por nasal apresenta apenas probabilidade de alteamento. A vogal posterior em sílaba livre foi o que mostrou menor tendência ao fenômeno (0.046). A seguir, apresentam-se três tabelas das variáveis selecionadas para cada contexto silábico:

163 163 Alteamento /o/ - Sílaba Livre (input = 0.046) Variáveis Variante Probabilidade Década Década de Ponto de articulação da consonante da sílaba Posterior antecedente Anterior Contiguidade Contígua à tônica Natureza da vogal da sílaba seguinte Alta não homorgânica Número de sílabas Duas Natureza da vogal alvo Permanente Tabela 86: Vogal posterior sílaba livre Alteamento /o/ - Sílaba travada por /S/ (input = 0.212) Variáveis Variante Probabilidade Faixa Etária Faixa 3 (55 75 anos) Faixa 1 (25 35 anos) Contiguidade Contígua à tônica Tabela 87: Vogal posterior sílaba travada por /S/ Alteamento /o/ - Sílaba travada por /N/ (input = 0.178) Variáveis Variante Probabilidade Faixa Etária Faixa 1 (25 35 anos) Contiguidade Não contígua à tônica Tabela 88: Vogal posterior sílaba travada por /N/ Alteamento /o/ - Sílaba travada por /R/ (input = 0.26) Variáveis Variante Probabilidade Natureza da vogal da sílaba Alta homorgânica [u] seguinte Alta não homorgânica [i] 0.74 Número de sílaba Duas Tabela 89: Vogal posterior sílaba travada por /R/ A variável Contiguidade foi selecionada como variável condicionadora para o alteamento no contexto de posterior em sílaba livre, posterior com sílaba travada por sibilante e posterior com sílaba travada por nasal. Nos dois primeiros contextos (posterior em sílaba livre, posterior com sílaba travada por /S/) a contiguidade da pretônica à sílaba tônica favorece o alteamento da vogal pretônica posterior. Já no contexto de sílaba travada por nasal, a não contiguidade da pretônica à sílaba tônica favorece o fenômeno, contrariando a hipótese de que a contiguidade é fator fundamental para o alteamento. A faixa etária foi selecionada como variável condicionadora do alteamento tanto no contexto de posterior travada por sibilante quanto no contexto de sílaba travada por nasal. Como já foi dito nas análises, a partir do estudo de tempo aparente, a variável faixa etária permite observar se alteamento é um fenômeno inovador ou conservador. Além disso, é possível verificar se o alçamento encontra-se em variação estável, recuo ou propagação. Os resultados

164 164 revelam que, em contexto de sílaba travada por sibilante, o fenômeno se encontra em variação estável. Em contexto de sílaba travada por nasal, é possível afirmar que o fenômeno é inovador. As variáveis Natureza da vogal da sílaba seguinte e Número de sílaba foram selecionadas como variáveis condicionadoras do alteamento tanto no contexto de vogal posterior em sílaba livre quanto no contexto de sílaba travada por rótico. Na variável Natureza da vogal da sílaba seguinte, a variante vogal alta não homorgânica [i] foi a que mais favoreceu o alteamento da posterior nos dois contextos mencionados, o que comprova a ocorrência do processo de harmonização vocálica. No contexto de vogal posterior com sílaba travada por rótico, a presença da vogal alta homorgânica [u] na sílaba seguinte também favoreceu o alteamento da posterior. Apesar de ter sido observado que as vogais altas na sílaba seguinte favorecem o alteamento em alguns contextos silábicos, o que comprovaria a atuação do processo de harmonização vocálica, entende-se que o efeito mais atuante para o alteamento da vogal posterior em nomes é o condicionamento lexical, uma vez que foi possível observar, a partir do pequeno corpus, que o alteamento ocorria em palavras específicas como c[u]mida, c[u]stureira, c[u]rtina, c[u]mputador, não atingindo todos os itens lexicais com contextos semelhantes. O modelo difusionista defende que as formas atingidas pelo fenômeno linguístico em variação são as mais comuns, usadas em contexto informal e com alta produtividade. Além disso, os estudos sobre o modelo da Difusão Lexical observam a frequência dos itens lexicais para explicar as mudanças sonoras. Segundo pesquisadores, os itens mais frequentes são os que mais sofrem variação. De acordo com Philips (1984 apud OLIVEIRA, 1991:97), Se uma mudança é motivada por fatores fisiológicos, agindo nas formas fonéticas de superfície, os itens lexicais mais frequentes serão atingidos primeiro, por outro lado, se ela é motivada por fatores não-fisiológico, que atuam nas formas subjacentes, as palavras menos frequentes serão atingidas em primeiro lugar. A variável Número de sílaba foi selecionada como condicionadora do alteamento da vogal posterior em contexto de sílaba livre e em contexto de sílaba travada por /R/. Os resultados não confirmaram a hipótese de que o alteamento tenderia ocorrer em palavras com maior número de sílabas, pois foram as palavras com duas sílabas que propiciaram o alteamento em ambos os contextos. Apesar de a variável Década ter sido selecionada apenas no contexto de sílaba livre, é possível proceder a um estudo de tempo real de curta duração, a partir dos percentuais obtidos nos outros contextos silábicos: (i) na vogal posterior em sílaba livre, o alteamento ocorreu com

165 165 maior frequência na década de 1970, indicando assim que o fenômeno se encontra em recuo ( ,10%, / ,80%, / ,10%, 0.393; (ii) na vogal posterior em sílaba travada por sibilante, o fenômeno teve maior realização nas décadas de 1970 e Os percentuais indicaram que o fenômeno se encontra em variação estável com tendência à propagação ( ,33% / % / ,7%); (iii) no corpus de vogal posterior travada por nasal, o alteamento teve maior frequência nas décadas de 1970 e 2010, os percentuais indicaram que o fenômeno se encontra em variação estável com tendência ao recuo ( ,46% / ,42% / ,05%); (iv) na vogal posterior em sílaba travada por rótico, os percentuais indicaram que a década de 1970 é a que mais realiza o alteamento das vogais posteriores ( ,56% / ,63% / ,63%). Este resultado revela que o fenômeno se encontra em recuo nesse contexto silábico.

166 166 5 ANÁLISE CRENÇAS E ATITUDES Após a análise Sociolinguística de amostra de fala das décadas 1970, 1990 e 2010, será feita a análise de Crenças e Atitudes, com o principal objetivo de observar a realização, a percepção e avaliação dos informantes em relação ao alteamento das vogais médias pretônicas. A partir dos resultados probabilísticos, especialmente das variáveis sociais, intenta-se observar o comportamento da comunidade linguística acerca do fenômeno do alteamento. Entretanto, muitas vezes é difícil observar a avaliação de uma comunidade somente pelas variáveis sociais; por isso, entende-se que conciliar os resultados Sociolinguísticos com os de Crenças e Atitudes seja o método mais adequado para termos resultados mais confiáveis em relação à avaliação subjetiva dos informantes. Segundo Labov (2008: 174), Reações a variáveis fonológicas são respostas desarticuladas, abaixo do nível da percepção consciente, e ocorrem somente como parte de uma reação geral a diversas variáveis. Não existe um vocabulário com termos socialmente significativos com os quais nossos informantes possam avaliar a fala para nós. Testes de reações e dialetos sociais como um todo foram desenvolvidos por Lambert e colaboradores para a discussão dos princípios envolvidos. Para nossos objetivos linguísticos, precisamos elicitar um tipo de comportamento avaliativo sensível o suficientemente para registrar o efeito de um traço linguístico particular e um modo de apresentar um estímulo que concentre esse traço. Como foi descrito na metodologia, os testes de Crenças e Atitudes é composto por quatro técnicas: leitura de um texto, questionário fechado, questionário fechado avaliativo e questionário aberto e será analisado nessa ordem. O teste foi aplicado a 10 informantes do gênero feminino e 10 do gênero masculino. Em todas as análises, serão descritos os resultados obtidos para os dois gêneros. 5.1 LEITURA Depois das orientações dadas aos informantes, a pesquisadora pediu ao informante que lesse um texto (anexo 2) com 55 dados de vogal pretônica anterior e 46 dados de posterior. Esses dados apresentam contextos considerados favorecedores e não favorecedores para o alteamento, pois contemplam diferentes contextos silábicos (sílaba livre, travamento por nasal, sibilante e rótico) e diferentes vogais na sílaba seguinte (alta, média, baixa). Apesar de não ser uma fala espontânea, entende-se que a partir da leitura é possível observar as realizações dos informantes em relação às vogais médias pretônicas. Trata-se de um texto com palavras comuns, pois, se retirado de uma revista ou um livro, poderia implicar maior grau de formalidade e não conteria diferentes contextos de vogais pretônicas. Segundo Labov (2008: 247),

167 167 Na maioria dos estudos urbanos empreendidos até agora, a leitura de textos foi usada para estudar variações fonológicas. Em geral, as variáveis linguísticas exibem uma mudança notável da elicitação mais formal para a leitura menos formal. Textos tradicionais como Grip the Rat são relativamente artificiais, elaborados para incluir o máximo possível de palavras sensíveis à variação dialetal. Um texto de leitura fluente, concentrado no vernáculo ou em temas adolescentes, proporcionará uma fala menos formal do que os textos formais ou as listas de palavras isoladas. Podemos, então, encaixar pares mínimos em tal texto, de modo que o falante não perceba o contraste. A leitura do texto tem como objetivo verificar se o informante realiza o alteamento das vogais pretônicas /e, o/ quando o lê. A leitura foi a primeira técnica aplicada para que o informante não tivesse consciência do fenômeno analisado. A aplicação dessa técnica no final do teste poderia comprometer o resultado, pois, apesar de os questionários apresentarem questões distratoras, o informante poderia perceber o objeto de análise e controlar a produção das vogais médias pretônicas. Realizados os testes, obtiveram-se os seguintes resultados: Todos os informantes, mulheres e homens, realizaram o alteamento das vogais pretônicas anterior e posterior quando leram o texto. Os gráficos abaixo ilustram tal afirmativa: Mulheres a. Vogal anterior Vogal anterior / Mulheres Alteada Média fechada Gráfico 32: Vogal anterior Leitura do Texto / Mulheres

168 168 b. Vogal Posterior: Vogal posterior / Mulheres Alteadas Média fechada Gráfico 33: Vogal posterior Leitura do texto / Mulheres Homens a. Vogal anterior Vogal anterior / Homens Alteada Média Fechada Gráfico 34: Vogal anterior Leitura do texto / Homens b. Vogal Posterior Vogal Posterior / Homens Alteada Média fechada Gráfico 35: Vogal posterior Leitura do texto / Homens

169 169 Assim, confirma-se a hipótese de que o alteamento é produzido pelos informantes quando este lê um texto. A partir da leitura, é possível afirmar que o alteamento das vogais médias pretônicas é um fenômeno em variação nos dias atuais e está presente na fala dos informantes, conforme atestam os estudos Sociolinguísticos. Além de comprovar tal hipótese, o resultado da leitura é importante, pois é possível comparar este com as respostas que serão dadas pelos informantes nos questionários. Por exemplo, os informantes podem apresentar uma avaliação negativa, dizendo que a construção alteada é realizada por pessoas que não possuem ensino superior. Ele acredita que não faz tal construção, pois possui alta escolaridade. No entanto, será verificado se o informante realiza o alteamento. Normalmente, o falante não sabe o que produz e julga o próximo que realiza o fenômeno como menos escolarizado, o que indica um possível preconceito linguístico. Portanto, cabe agora observar, a partir dos questionários fechado, aberto e avaliativo a percepção e a avaliação dos informantes em relação ao alteamento das vogais pretônicas. 5.2 QUESTIONÁRIO FECHADO No questionário fechado (anexo 3), a pesquisadora fez 36 perguntas aos informantes entrevistados: 18 são distratoras e 18 referem-se ao alteamento. Antes das perguntas, há dois áudios de uma única pessoa falando um mesmo trecho. Para todas as duplas de áudios, no primeiro áudio, as vogais pretônicas foram produzidas pelas variantes médias fechadas [e, o] e, no segundo áudio, pelas altas [i, u]. As perguntas referentes ao alteamento têm como principais objetivos observar se: (i) o informante percebe o alteamento nos áudios; (ii) atribui a ocorrência do alteamento a um grupo de pessoas específico (escolaridade, classe social, gênero, faixa etária); (iii) apresenta estigma quando as vogais pretônicas se realizam alteadas. O teste subjetivo realizado com dois áudios diferentes de um mesmo falante é nomeado por Lambert (1967 apud Labov 2008: 248) como técnica dos falsos pares, os informantes imprimem uma avaliação positiva ou negativa acerca da diferença linguística que observou em dois áudios de um mesmo indivíduo. A análise das respostas acontecerá da seguinte maneira: (i) os áudios que os informantes ouviram serão descritos, os dois terão marcações fonéticas com o propósito de informar como se produziu as realizações pretônicas (na aplicação do teste, os informantes não tiveram acesso a essas marcações); (ii) as perguntas referentes à cada áudio serão apresentadas juntamente com seus objetivos e hipóteses; (iii) a pesquisadora analisará as respostas, a partir de gráficos, de acordo com o gênero (masculino e feminino) dos informantes.

170 170 As três primeiras duplas de áudios (5.2.1 / / 5.2.3) e as três primeiras perguntas têm como principal objetivo observar a percepção dos informantes. Neste teste verifica-se se o informante observa que: (i) no primeiro áudio as vogais são realizadas fechadas [e, o] e (i) no segundo áudio as vogais são realizadas alteadas [i, u]. Foram construídos três testes de percepção com o propósito de observar se a percepção se dá mais frequentemente: (i) nas vogais anteriores; (ii) nas vogais posteriores; (iii) em vocábulos específicos que não costumam ser alteados, como em ticido e acadimia. Segundo Esteves & Vieira (2009), nos testes de percepção, o pesquisador faz com que os informantes reajam a determinadas formas linguísticas. Leite (2004: 103), ao analisar as crenças e atitudes dos informantes acerca do /r/ em posição de coda silábica na fala de Campinas, perguntou aos informantes se eles tinham tido a oportunidade de perceber diferente tipos de fala entre pessoas de outro estado. Assim, diversos informantes afirmaram que sim e, além disso, destacaram que o /r/ caipira era uma característica da fala paulista. Na presente pesquisa, os informantes foram expostos a três áudios e tiveram que informar se perceberam/observaram ou não alguma diferença entre eles; a diferença, no caso, é na realização alteada das vogais pretônicas. Além do teste da percepção, foi aplicado, no questionário fechado, o teste de reação subjetiva, no qual os informantes emitem juízos em relação às personalidades das pessoas cujas vozes ouviu Áudios / Teste de percepção vogal posterior Áudio 1: J/o/ana é uma excelente dona de casa. Ela c/o/zinha e c/o/stura muito bem. No f/o/gão a lenha, faz uma c/o/mida muito saudável sem nenhuma g/o/rdura. Além disso, é uma ótima c/o/stureira. Faz lindos vestidos. Áudio 2: J/u/ana é uma excelente dona de casa. Ela c/u/zinha e c/u/stura muito bem. No f/u/gão a lenha, faz uma c/u/mida muito saudável sem nenhuma g/u/rdura. Além disso, é uma ótima c/u/stureira. Faz lindos vestidos. Pergunta 1: Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Se são diferentes, em quê? O objetivo dessa pergunta é verificar se o informante percebe ou não o alteamento das vogais pretônicas posteriores no segundo áudio. Além disso, é possível observar, no segundo trecho, que as palavras alteadas são vocábulos comuns que costumam se realizar alçados no dia-a-dia do informante; por isso, entende-se que seja mais difícil perceber o fenômeno. No gráfico a seguir, observa-se a percepção dos homens e das mulheres em relação ao alteamento das vogais posteriores.

171 Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Iguais Diferentes / Percebeu Diferentes / Não percebeu Feminino Masculino Gráfico 36: Pergunta 1 questionário fechado / Teste de percepção vogal posterior No gênero feminino: (i) 3 informantes afirmaram que os áudios eram iguais; (ii) 5 informantes disseram que os áudios eram diferentes e perceberam que a diferença ocorria nas vogais pretônicas, por exemplo, no primeiro áudio a pessoa fala costureira, fogão. No segundo, custureira, fugão ; (iii) 2 informantes afirmaram que os áudios eram diferentes; no entanto, a partir das respostas à pergunta Se são diferentes, em quê? foi possível observar que elas não perceberam o alteamento, por exemplo, O primeiro tinha mais chiado carioca. Somando-se as respostas iguais às respostas diferentes/não percebeu, pode-se afirmar que 5 mulheres não perceberam o alteamento das vogais posteriores. No gênero masculino: (i) 3 informantes disseram que os áudios eram iguais; (ii) apenas 1 informante percebeu o alteamento das vogais posteriores, como se verifica no exemplo, no segundo áudio falou Juana, cuzinha, custureira ; (iv) 6 informantes afirmaram que os áudios eram diferentes, mas não perceberam que a diferença era na realização das vogais pretônicas. Por exemplo: a primeira pessoa tem uma voz mais aguda. Somando as respostas iguais às respostas diferentes/não percebeu, verifica-se que 9 homens não perceberam o alteamento das vogais posteriores. Portanto, as mulheres (5 percepções) perceberam mais o alteamento das vogais médias pretônicas posteriores do que os homens (1 percepção) Áudios / Teste de percepção vogal anterior Áudio 1: /E/stevão é um m/e/nino muito /e/sforçado. De dia, trabalha em uma /e/mpresa como office boy. À noite, frequenta /e/scola pública. Seu sonho é cursar /e/ngenharia civil. Áudio 2: /I/stevão é um m/i/nino muito /i/sforçado. De dia, trabalha em uma /i/mpresa como office boy. À noite, frequenta /i/scola pública. Seu sonho é cursar /i/ngenharia civil.

172 172 Pergunta 2: Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Se são diferentes, em quê? O objetivo dessa pergunta é verificar se o informante percebe ou não o alteamento da vogal pretônica anterior no segundo áudio. Assim como no áudio anterior, é possível observar no segundo trecho que as palavras alteadas são vocábulos comuns que costumam se realizar alçados no dia-a-dia do informante; por isso, entende-se que seja mais difícil perceber o fenômeno. No gráfico abaixo, observa-se a percepção de homens e mulheres em relação ao alteamento das vogais anteriores. Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Iguais Diferentes / Percebeu Diferentes / Não percebeu Feminino Masculino Gráfico 37: Pergunta 2 questionário fechado / Teste de percepção vogal anterior No gráfico 37 observa-se que: (i) 4 mulheres responderam que os dois áudios são iguais; (ii) 4 mulheres disseram que os áudios são diferentes e perceberam que a diferença ocorria nas vogais; por exemplo, No primeiro áudio a pessoa falou Estevão. No segundo Istevão ; (iii) 2 mulheres afirmaram que os áudios são diferentes, mas não perceberam que a diferença era nas vogais médias anteriores. Por exemplo, Leu devagar no início da frase. Se juntarmos os dados de respostas iguais às respostas diferentes/não percebeu, verifica-se que 6 mulheres não perceberam o alteamento das vogais anteriores. Ao analisar as respostas dos homens verifica-se que: (i) 5 homens disseram que os áudios são iguais; (ii) apenas 2 homens perceberam o alteamento das vogais anteriores, como se verifica no exemplo: No primeiro áudio, a pessoa falou empresa, esforçada, Estevão, engenharia. No segundo áudio, impresa, isforçada, Istevão, ingenharia. A primeira fala é muito forçada ; (iii) 3 homens afirmaram que os áudios eram diferentes, mas não apontaram que a diferença ocorria na realização das vogais, como se observa no exemplo: No segundo, a pessoa falou mais forte. A soma das respostas iguais às respostas diferentes/não percebeu indica que 8 homens não perceberam o alteamento.

173 173 Portanto, assim como nas vogais posteriores, as mulheres (4 percepções) percebem mais o alteamento das vogais anteriores do que os homens (2 percepções). Pergunta 3: Você acha que as pessoas que viveram na década de 70 falavam? Como no primeiro áudio / Como no segundo áudio / Misturavam o modo de falar dos dois áudios. Nos resultados obtidos na análise sociolinguística, foi possível observar que, na maior parte dos contextos silábicos, as vogais médias pretônicas encontravam-se em variação, mas foi possível observar, também, que na década de 1970 houve uma maior ocorrência do alteamento. A presente pergunta busca investigar se os informantes relacionam o alteamento das vogais pretônicas à década Se esta relação ocorrer, seria possível afirmar que talvez os informantes tenham consciência de que o alteamento é um fenômeno antigo, presente na fala das pessoas mais idosas. No gráfico abaixo, apresentam-se os resultados das respostas de mulheres e homens. Você acha que as pessoas que viveram na década de 70 falavam? Como no primeiro áudio Como no segundo áudio Misturavam o modo de falar dos dois áudios. Não percebeu o fenômeno Feminino Masculino Gráfico 38: Pergunta 3 questionário fechado / Década Como já foi descrito na pergunta 2, foram poucos informantes que perceberam o alteamento das vogais anteriores no áudio 2. Dos informantes que perceberam, foi possível observar que: (i) 1 mulher e 1 homem disseram que na década de 1970 as pessoas falavam como o primeiro áudio (não alteado); (ii) 3 mulheres afirmaram que as pessoas falavam como o segundo (alteado); (iii) 1 homem disse que as pessoas misturavam o modo de falar dos dois áudios. Apesar do baixíssimo número de dados, os resultados indicam que: (i) as mulheres parecem reconhecer que o alteamento é um fenômeno mais antigo, que provavelmente ocorre

174 174 na fala de pessoas mais velhas, mas também apresentam uma avaliação negativa quando afirmam que na década de 1970 todas as pessoas falavam com as vogais alteadas, como se não houvesse variação; (ii) apenas um homem, a partir da resposta misturava o modo de falar dos dois áudios, parece relacionar o alteamento a uma época passada, mas observa que a variante alta se encontra em variação com a realização da média fechada. Pergunta 4: E hoje, na década de 2010, como as pessoas falam? Como no primeiro áudio / Como no segundo áudio / Misturavam o modo de falar dos dois áudios. A pergunta tem como objetivo observar se os informantes acreditam que as vogais médias pretônicas, hoje, na década de 2010 são produzidas: pela variante média fechada, alta ou há variação entre as duas formas. Os resultados da análise Sociolinguística, na presente pesquisa, indicaram que o fenômeno se encontra em variação estável em alguns contextos. A depender do contexto silábico, verifica-se uma menor realização do fenômeno na década de O gráfico abaixo apresenta os resultados obtidos: E hoje, na década de 2010, como as pessoas falam? Como no primeiro áudio Como no segundo áudio Místuravam o modo de falar dos dois áudios. Não percebeu o fenômeno Feminino Masculino Gráfico 39: Pergunta 4 Questionário fechado / Década Como já foi descrito nas análises anteriores, foram poucos os informantes que perceberam a diferença entre os áudios 1 e 2. Das mulheres que perceberam a diferença: (i) 2 informantes disseram que as pessoas da década de 2010 falam como o segundo áudio (alteado), (ii) apenas 1 informante afirmou que as pessoas misturam o modo de falar dos dois áudios, ou seja, percebe a variação. Dos homens que perceberam a diferença, os dois disseram que hoje, na década de 2010, as pessoas falam como o segundo áudio (alteado). Nenhum informante, nem do gênero feminino nem do masculino, disse que na década de 2010 se fala como o primeiro áudio (não alteada).

175 175 Os resultados indicam que: (i) os informantes têm a percepção de que a fala das pessoas não ocorre como no primeiro áudio (não alteado); (ii) talvez por acharem que na década de 2010 as pessoas não falam de acordo com a norma culta, a maioria dos informantes disse que atualmente se fala como o segundo áudio (alteado); (iii) somente uma mulher se mostrou consciente de que a língua sofre variações e, por isso, respondeu que as pessoas misturariam o modo de falar dos dois áudios Áudios / Teste de percepção - vogais anterior e posterior Áudio 1: A acad/e/mia Corpore faz uma grande pr/o/m/o/ção nesta s/e/gunda-feira. Quem se matricular até dia d/e/zoito de n/o/vembro ganha uma roupa de t/e/cido belíssimo. Áudio 2: A acad/i/mia Corpore faz uma grande pr/u/m/u/ção nesta s/i/gunda-feira. Quem se matricular até dia d/i/zoito de n/u/vembro ganha uma roupa de t/i/cido belíssimo. Pergunta 5: Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Se são diferentes, em quê? Os dois áudios acima e a pergunta 5 têm como principal objetivo observar se os informantes percebem o alteamento das vogais pretônicas anterior e posterior em palavras específicas que não costumam ser realizadas alteadas, como por exemplo: acad[i]mia, t[i]cido, pr[u]m[u]ção, n[u]vembro. De acordo com Viegas (1987: 137), o alteamento é um fenômeno que costuma ocorrer em palavras que apresentam alta frequência no vocabulário do indivíduo. A autora verificou que as palavras minino e bunito são frequentemente alteadas em seu corpus, já meninge e bonina, por não serem palavras produzidas com frequência, não costumam ser realizadas alteadas. Levando em consideração a hipótese de Viegas (1987), entende-se que os informantes irão perceber mais o alteamento nessas palavras do que nas palavras dos áudios anteriores, pois estas não são frequentes e não costumam ser realizadas alteadas em seu vocabulário. Talvez uma costureira não percebesse o alçamento na palavra t[i]cido, já que utiliza frequentemente este vocábulo alteado. O gráfico a seguir apresenta as respostas dos informantes:

176 176 Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Iguais Diferentes / Percebeu Diferentes / Não percebeu Femino Masculino Gráfico 40: Pergunta 5 Questionário fechado / Teste de percepção vogais anterior e posterior Todos os informantes de ambos os gêneros perceberam e identificaram que os áudios 1 e 2 eram diferentes e que essa diferença ocorre na realização das vogais. Como se verifica nos exemplos das respostas a seguir: Mulheres: No primeiro áudio a pessoa pronuncia corretamente. No segundo áudio a pessoa pronuncia como não se escreve "acadimia" e "ticido". No segundo áudio a pessoa falou "ticido", "acadimia", "prumução". O primeiro é uma linguagem mais culta. Homens: A pessoa coloca o /i/ no lugar do /e/, em "sigunda", "ticido". No segundo áudio a pessoa falou "acadimia", "dizoito", "sigunda", "prumução". Logo, a hipótese de que os informantes perceberiam mais o alteamento em palavras menos frequentes e comuns do que nas palavras mais frequentes e comuns é verdadeira. Foram poucos os informantes que perceberam a diferença entre as vogais anteriores, na primeira dupla de áudios, e as vogais posteriores, na segunda dupla de áudio. No entanto, todos os informantes perceberam a diferença entre os dois últimos áudios que apresentavam palavras que não costumam ser realizadas alteadas.

177 Áudios / Teste subjetivo de nacionalidade e regionalidade Áudio 1: Hoje é o batizado da nossa filha /E/stefani. Nosso c/o/mpadre é D/o/mingos e nossa c/o/madre é /E/stela. /E/stefani está com um lindo v/e/stido branco. Após o batismo, vamos fazer uma festa muita b/o/nita com muita c/o/mida e b/e/bida. Nós pegamos um /e/mpréstimo para fazer a festa. Áudio 2: Hoje é o batizado da nossa filha /I/stefani. Nosso c/u/mpadre é D/u/mingos e nossa c/u/madre é /I/stela. /I/stefani está com um lindo v/i/stido branco. Após o batismo, vamos fazer uma festa muito b/u/nita com muita c/u/mida e b/i/bida. Nós pegamos um /i/mpréstimo para fazer a festa. Pergunta 6: Se você tivesse que apontar a nacionalidade dos falantes nas gravações, qual seria a nacionalidade do falante do primeiro áudio? Brasileira / Portuguesa / Africana / Outra. Em um trabalho anterior, desenvolvido no final do curso de uma matéria de mestrado (SOUZA, 2015), a pesquisadora verificou, a partir de um teste de crenças e atitudes, que algumas vezes o informante relacionava o áudio das vogais pretônicas não alteadas à língua portuguesa do Brasil, e o áudio das pretônicas alteadas, à língua portuguesa europeia. Tal resposta é bastante interessante, pois os informantes perceberam que o alteamento é um traço característico da língua portuguesa de Portugal e, por isso relacionaram o áudio alteado com a fala do português. A pergunta 6 tem como objetivo verificar se os informantes relacionam o não alteamento à fala brasileira. O gráfico abaixo descreve as respostas dos informantes: Qual seria a nacionalidade do falante do primeiro áudio? Brasileira Portuguesa Africana Outra Feminino Masculino Gráfico 41: Pergunta 6 questionário fechado / Teste de nacionalidade

178 178 As respostas à pergunta mostram que: (i) 9 mulheres e 8 homens relacionaram o primeiro áudio (não alteado) à fala brasileira; (ii) 1 mulher e 1 homem disseram que a fala do primeiro áudio (não alteado) era de uma portuguesa; (iii) 1 homem afirmou que o primeiro áudio (não alteado) era a fala de uma pessoa africana. Cabe destacar que as duas pessoas que atribuíram nacionalidade portuguesa ao primeiro áudio (não alteado) declararam que os portugueses falam melhor do que os brasileiros. Tal declaração indica uma possível avaliação negativa do alteamento, uma vez que tais informantes consideram que a fala correta é a não alteada, reforçando o senso comum de que portugueses falam melhor a língua portuguesa que os brasileiros. Pergunta 7: Qual seria a nacionalidade do falante do segundo áudio? Brasileira / Portuguesa / Africana / Outra. Na pergunta 7, busca-se investigar se o informante relaciona a fala alteada aos brasileiros, portugueses ou africanos. O alteamento é um fenômeno antigo. Muitos autores acreditam que se originou no latim, mas especificamente no século XVI. Castro (1991) afirma que a elevação das pretônicas se tenha generalizado no português durante a primeira metade do século XVIII. Já Paul Teyssier (1997) acredita que o alteamento tenha se iniciado no século anterior. Marquilhas (2000), por sua vez, afirma que há possibilidade de a elevação ocorrer desde o século XVI. Assim, desde o início da língua portuguesa, se observa o fenômeno do alteamento. O alteamento chegou ao Brasil no período colonial. Com a independência do Brasil, diminui-se o contato linguístico da metrópole com a colônia. O português brasileiro preservou a variação linguística entre as médias /e/, /o/ e as altas /i/, /u/, até os dias atuais. Já em Portugal, a variação evoluiu para uma mudança linguística e as vogais pretônicas costumam ser categoricamente produzidas alteadas. O português brasileiro apresenta um aspecto conservador em relação ao processo do alteamento, uma vez que o Brasil não acompanhou as mudanças ocorridas em Portugal. Já alguns países Africanos, como Moçambique, Angola, Cabo Verde permaneceram como colônia de Portugal durante muitos anos, tornaram-se independentes no início da década de Apesar de o contato linguístico entre a metrópole portuguesa e as colônias africanas possam levar à hipótese de que as mudanças linguísticas ocorridas em Portugal se realizam também nos países Africanos, nestes, o comportamento das vogais pretônicas se assemelha ao uso no Português Brasileiro. Como foi descrito na pergunta 6, em um trabalho anterior, alguns informantes sabendo que o alteamento é um traço característico da fala portuguesa relacionaram o áudio alteado à

179 179 fala de portugueses. A presente pergunta visa a verificar se estes informantes também fazem esta relação. O gráfico abaixo apresenta as respostas: Qual seria a nacionalidade do falantes do segundo áudio? Brasileira Portuguesa Africana Outra Feminino Masculino Gráfico 42: Pergunta 7 questionário fechado / Teste de nacionalidade Em relação as mulheres, verifica-se que (i) 8 mulheres disseram que a nacionalidade da pessoa que produziu o segundo áudio (alteado) é brasileira; (ii) 2 mulheres responderam que a nacionalidade da pessoa que fala no segundo áudio (alteado) é portuguesa. Quanto aos homens: (i) 6 homens afirmam que a pessoa que produziu o segundo áudio (alteado) é brasileira; (ii) 3 homens declararam que a nacionalidade da pessoa que produz o segundo áudio é portuguesa e (iii) 1 homem disse que a pessoa que fala no segundo áudio é africana. Portanto, a maior parte dos informantes de ambos os gêneros acredita que é a pessoa que fala no segundo áudio (alteado) é de nacionalidade brasileira. Neste áudio, 5 informantes (3 mulheres e 2 homens) disseram que, no segundo áudio, quem fala é uma portuguesa. Assim como no primeiro áudio, apenas 1 homem afirmou que a pessoa, no segundo áudio (alteado), possuía nacionalidade africana. Entende-se as pessoas que relacionam a fala do áudio alteado (segundo) à nacionalidade europeia e africana possuem consciência que os portugueses e os africanos realizam com maior frequência as vogais /e/ e /o/ como [i] e [u]. Cabe destacar que ao responder essas questões os informantes relacionavam a realização das vogais pretônicas com a fala portuguesa. Pergunta 8: Você acha que os Portugueses falam melhor que os brasileiros? Sim / Não Bagno (2009) defende que a língua portuguesa de Portugal costuma ser mais valorizada do que a língua portuguesa do Brasil. A pergunta 8 tem como objetivo verificar se os

180 180 informantes tendem a valorizar mais a língua portuguesa europeia do que a língua portuguesa brasileira. Além disso, a pergunta visa a observar se os informantes que relacionaram o alteamento à variedade europeia disseram que os portugueses falam melhor que os brasileiros. O gráfico abaixo aponta as respostas dos informantes: Você acha que os Portugueses falam melhor que os brasileiros? Sim Não Feminino Masculino Gráfico 43: Pergunta 8 questionário fechado / Teste de nacionalidade As respostas indicam que a maioria dos informantes, tanto mulheres (6 informantes) quanto homens (7 informantes), não acham que os portugueses falam melhor do que os brasileiros, contrariando, portanto, a hipótese de Bagno (2009). No entanto, 4 mulheres e 3 homens acreditam que os portugueses falam melhor do que os brasileiros. Desses 7 informantes, 5 responderam que a fala do segundo áudio (alteado) correspondia à fala de uma brasileira e 2 disseram que a fala do segundo áudio correspondia à fala Portuguesa. Entende-se que esses 5 informantes disseram que os Portugueses falam melhor que os Brasileiros simplesmente por crerem que o português europeu é mais correto que o português brasileiro. Pergunta 9: Se é brasileira, em que região o falante do primeiro áudio mora? Norte / Sul / Sudeste / Nordeste / Centro-Oeste. Pergunta 10: Se é brasileiro, em que região o falante do segundo áudio mora? Norte / Sul / Sudeste / Nordeste / Centro-Oeste. A fala da região sudeste, especificamente da cidade do Rio de Janeiro, costuma ser eleita como a fala padrão, considerada a mais correta. Segundo Leite & Callou (2002: 9-10)

181 181 Por uma ou outra razão, a escolha de um falar local padrão sempre girou em torno de três centros urbanos, a saber, a cidade do Rio de Janeiro, a de São Paulo, a de Salvador. A preferência recaiu na cidade do Rio de Janeiro e se deu, prioritariamente, a razões extralinguísticas: o fato de o Rio de Janeiro estar geograficamente no centro de uma polaridade norte/sul, ser centro político há mais tempo, capital da Colônia desde 1763, e ser uma área cuja linguagem culta tende a apresentar menor número de marcas locais e regionais, com uma tendência universalista, dentro do país. No entanto, a fala nordestina é umas das que mais sofre preconceito linguístico. Segundo Leite & Callou (2002), as marcas fonéticas da cidade de Salvador, a realização das vogais abertas e a perda do r final costumam ser estigmatizadas pelos falantes de outras localidades do país. Assim como Bagno, (2007) entende-se que a mídia contribui para a disseminação do preconceito linguístico em relação à fala nordestina. Segundo Bagno (2007: 44), É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano linguístico, atores não-nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste. A partir dessas informações, a pesquisadora formulou as perguntas 9 e 10, com objetivo de observar se o informante atribui os áudios a uma região específica do país, o que comprovaria que o informante percebe que a língua apresenta variação linguística. Se o informante relaciona o primeiro áudio (não alteado) a uma região considerada mais prestigiada linguisticamente, como a região Sudeste, não há evidência de avaliação negativa; no entanto, se associa o segundo áudio a uma região menos prestigiada linguisticamente, como o Nordeste, é possível que haja algum tipo de avaliação negativa, visto que essa variedade tem sido alvo de estigma social. Como se pode verificar nessa pesquisa, a fala do Sudeste, especificamente a fala carioca, apresenta variação linguística na produção das vogais pretônicas: algumas vezes as vogais se concretizam pelas variantes médias fechadas /e/ e /o/, e outras pelas altas /i/ e /u/. Por isso, o mais natural é que o informante relacione a fala dos dois áudios a uma única região do país. Entretanto, em um trabalho anterior, a pesquisadora observou que algumas vezes os informantes relacionavam o áudio que apresentava as vogais alteadas com a fala nordestina. Primeiramente, serão expostos, a partir dos gráficos abaixo, a resposta da pergunta 9 e depois a respostas à pergunta 10:

182 182 Se é brasileira, em que região o falante do primeiro áudio mora? Norte Sul Sudeste Nordeste Centro-oeste Feminino Masculino Gráfico 44: Pergunta 9 questionário fechado / Teste de regionalidade Dos informantes que mencionaram que no primeiro áudio (não alteado) a fala é de uma pessoa brasileira: (i) 8 mulheres e 5 homens disseram que a pessoa mora no Sudeste; (ii) 1 mulher e 2 homens afirmaram que a pessoa vive na região Sul; (iii) apenas 1 homem afirmou que a pessoa mora no Nordeste. Entende-se que a região Sul por apresentar boas condições econômicas também é prestigiada linguisticamente. A maior parte dos informantes disse que a pessoa que realiza as vogais médias fechadas mora na região Sudeste. Se é brasileira, em que região o falante do segundo áudio mora? Norte Sul Sudeste Nordeste Centro-oeste Feminino Masculino Gráfico 45: Pergunta 10 questionário fechado / Teste subjetivo de regionalidade Dos informantes que elegeram a nacionalidade brasileira para a pessoa do segundo áudio (alteado): (i) 6 mulheres e 3 homens disseram que a pessoa mora no Sudeste; (ii) 3 mulheres e 3 homens afirmaram que a pessoa vive no Nordeste e (1) 1 homem declarou que a pessoa mora no Centro-Oeste. Os resultados não evidenciam avaliação negativa do alteamento.

183 183 No entanto, comparando os dois gráficos (49 e 50), observa-se que: (1) A maior parte das mulheres disse que, tanto a pessoa que fala no primeiro áudio quando a que fala no segundo, vivem na região Sudeste. Parte-se do pressuposto de que essas informantes percebem que a língua sofre variação linguística, por isso em uma mesma comunidade linguística pode haver pessoas que usam a variante média, e outras, a variante alta; (2) Na primeira pergunta, apenas um homem disse que a pessoa que fala no primeiro áudio, com as vogais realizadas com a média fechada, mora no Nordeste. No entanto, 3 informantes, dos dois gêneros, afirmaram que a pessoa que fala no segundo áudio, com as vogais pretônicas alteadas, vive no Nordeste. O fato de alguns informantes considerarem que os nordestinos produzem mais a realização alteada do que a realização com a média fechada pode talvez indiciar estigma regional. Entende-se que: (i) primeiramente, esses informantes partem da ideia de que os nordestinos não falam corretamente a língua portuguesa e, por isso, afirmam que são as pessoas que moram no Nordeste que produzem a variante considerada não prestigiosa, no caso, a alteada; esses informantes não têm consciência da variação linguística, ou seja, não sabem que, em uma mesma comunidade ou até mesmo uma mesma pessoa, é possível usar a vogal média pretônica fechada, como em c[o]mida, e alteada, como em c[u]stura. (3) A região Sul, por apresentar historicamente boas condições econômicas, costuma ser prestigiada linguisticamente, foi possível observar que: (i) três informantes, 1 mulher e 2 homens disseram que o informante no primeiro áudio vive na região Sul e (ii) nenhum informante disse que a pessoa que fala no segundo áudio (alteado) vive na região Sul. (4) Nenhum informante, nem para o primeiro áudio nem para o segundo áudio, falou que o falante vive no Norte. Apenas 1 homem disse que a pessoa que fala no segundo áudio (com as vogais alteadas) vive no centro-oeste.

184 184 Pergunta 11: Comparando os dois áudios, qual deles você acha que representa a fala de uma pessoa mais velha? Primeiro / Segundo O objetivo dessa pergunta é observar se o informante relaciona o alteamento com a fala de pessoas mais jovens ou mais velhas. Estudos recentes, como Callou et alii (1991:74), mostram que o alteamento atua mais frequentemente na fala de pessoas mais velhas, o que caracteriza o fenômeno como conservador. Na análise Sociolinguística, da presente pesquisa, observamos que em alguns contextos silábicos foram as pessoas mais idosas que mais realizaram o fenômeno, em outros contextos foram as pessoas mais jovens que mais produziram o alteamento. No gráfico abaixo estão descritas as respostas dos informantes: Comparando os dois áudios, qual deles você acha que represanta a fala de uma pessoa mais velha? Primeiro Segundo Feminino Masculino Gráfico 46: Pergunta 11 questionário fechado / Idade As respostas indicam que (i) 8 mulheres e 7 homens disseram que o segundo áudio (alteado) representa a fala de mais velha e (ii) 2 mulheres e 3 homens afirmaram que as pessoas mais velhas falam como o primeiro áudio (não alteado). A pesquisadora observou, durante a entrevista, que os informantes que relacionaram o primeiro áudio à fala das pessoas mais idosas entendem que os idosos falam mais correto do que os jovens. Por isso, defendiam que o segundo áudio (alteado) seria de uma pessoa mais jovem, e o primeiro áudio (não alteado) de uma pessoa mais velha. A maioria dos informantes (15) respondeu que a fala do segundo áudio representa a fala de uma pessoa mais velha, não se confirmando a hipótese de que os mais velhos produziriam a variante alteada, ao passo que os mais novos, a não alteada.

185 Áudios / Teste subjetivo escolaridade e profissão Áudio 1: Hoje foi um dia muito cansativo. Acordei cedo fui para o meu /e/mprego. Trabalhei até as d/e/zessete horas. Antes de ir para casa, passei no mercado e comprei t/o/mate, p/e/pino, m/o/rango, /e/spinafre, m/o/starda, g/e/ngibre entre outras coisas. Quando cheguei a casa, preparei a c/o/mida, brinquei com a minha filha de b/o/neca e depois a fiz dormir. Estou /e/xausta! Áudio 2: Hoje foi um dia muito cansativo. Acordei cedo fui para o meu /i/mprego. Trabalhei até as d/i/zessete horas. Antes de ir para casa passei no mercado e comprei t/u/mate, p/i/pino, m/u/rango, /i/spinafre, m/u/starda, g/i/ngibre entre outras coisas. Quando cheguei a casa, preparei a c/u/mida, brinquei com a minha filha de b/u/neca e depois a fiz dormir. Estou /i/xausta. Pergunta 12: Se você tivesse que atribuir um grau de escolaridade à pessoa que produziu o primeiro áudio, você diria que ela cursou: 1º ao 5º ano (antigo primário ou ensino fundamental I) / 6º ao 9º ano (ensino fundamental II) / ensino médio / ensino superior. Pergunta 13: Se você tivesse que atribuir um grau de escolaridade à pessoa que produziu o segundo áudio, você diria que ela cursou: 1º ao 5º ano (antigo primário ou ensino fundamental I) / 6º ao 9º ano (ensino fundamental II) / ensino médio / ensino superior. As perguntas têm como objetivo verificar se o informante atribui: (i) a mesma escolaridade para o informante do primeiro áudio (não alteado) e do segundo áudio (alteado); (ii) um grau de escolaridade maior para a pessoa do primeiro áudio (não alteado) e um menor escolaridade a pessoa do segundo áudio. Na presente pesquisa, é necessário destacar que todos os julgadores são falantes cultos e realizam o alteamento. Abaixo, encontram-se dois gráficos, o primeiro referente às respostas dos informantes à pergunta 12, e o segundo são as respostas dos informantes à pergunta 13: 3 Se você tivesse que atribuir um grau de escolaridade à pessoa que produziu o primeiro áudio, você diria que ela cursou: º ao 5º ano (antigo primário ou Ensino Fundamental I) 6º ao 9º ano (Ensino Fundamental II) Ensino médio Ensino superior Feminino Masculino Gráfico 47: Pergunta 12 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade

186 186 As respostas relativas aos dois gêneros à pergunta 12 foram: (i) 7 mulheres e 7 homens disseram que a pessoa que produziu o primeiro áudio cursou o ensino superior; (ii) 2 mulheres e 2 homens afirmaram que a pessoa que produziu o primeiro áudio estudou até o ensino médio; (iii) 1 mulher disse que a pessoa que fala no primeiro áudio tem escolaridade de 1º ao 5º ano e (iv) 1 homem declarou que a pessoa do primeiro áudio estudou até o ensino fundamental II. A seguir apresenta-se o gráfico referente a pergunta 13: Se você tivesse que atribuir um grau de escolaridade à pessoa que produziu o segundo áudio, você diria que ela cursou: º ao 5º ano (antigo primário ou Ensino Fundamental I) 6º ao 9º ano (Ensino Fundamental II) Ensino médio Ensino superior Feminino Masculino Gráfico 48: Pergunta 13 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade A partir do gráfico acima, observa-se que os informantes atribuem à pessoa que produziu o segundo áudio (alteado) diferentes graus de escolaridades: (i) 5 mulheres afirmam que a pessoa cursou somente o ensino fundamental I (1º ao 5º ano); (ii) 2 mulheres e 2 homens afirmam que a pessoa do segundo áudio estudou até o ensino fundamental II (6º ao 9º ano), (iii) 2 mulheres e quatro homens declararam que o modo da pessoa se expressar indica que ela cursou até o ensino médio e (iv) 1 mulher e 4 homens disseram que a pessoa cursou o ensino superior. Os resultados gerais indicam que a maior parte dos informantes afirma que a pessoa que produz o áudio não alteado possui alto nível de escolaridade (nível superior) e a pessoa que produz o áudio alteado possui nível de escolaridade mais baixo (ensino fundamental I, ensino fundamental II e ensino médio). Com o propósito de realizar uma análise minuciosa dessas duas perguntas, serão apresentadas abaixo duas tabelas: a primeira com as respostas das mulheres e a segunda com

187 187 as respostas dos homens. Nessas tabelas, estão as respostas dadas pelo mesmo informante para a pergunta 12 e 13: Mulheres Pergunta 12 Pergunta 13 Inf. 1 1º ao 5º ano ( Ensino Fundamental I) Inf. 1 1º ao 5º ano (Ensino Fundamental I) Inf. 2 Ensino superior Inf. 2 1º ao 5º ano ( Ensino Fundamental I) Inf. 3 Ensino superior Inf. 3 Ensino médio Inf. 4 Ensino superior Inf. 4 1º ao 5º ano (Ensino Fundamental I) Inf. 5 Ensino médio Inf. 6 6º ao 9º ano (Ensino Fundamental II) Inf. 6 Ensino superior Inf. 6 6º ao 9º ano (Ensino Fundamental II) Inf. 7 Ensino superior Inf. 7 1º ao 5º ano (antigo primário ou Ensino Fundamental I) Inf. 8 Ensino médio Inf. 8 1º ao 5º ano ( Ensino Fundamental I) Inf. 9 Ensino superior Inf. 9 Ensino superior Inf.10 Ensino superior Inf. 10 Ensino médio Tabela 90: Mulheres perguntas 12 e 13 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade Homens Pergunta 12 Pergunta 13 Inf. 1 6º ao 9º ano (Ens. Fundamental II) Inf. 1 Ensino médio Inf. 2 Ensino superior Inf. 2 6º ao 9º ano (Ens. Fundamental II) Inf. 3 Ensino superior Inf. 3 Ensino superior Inf. 4 Ensino superior Inf. 4 Ensino médio Inf. 5 Ensino médio Inf. 5 Ensino superior Inf. 6 Ensino médio Inf. 6 Ensino médio Inf. 7 Ensino superior Inf. 7 Ensino superior Inf. 8 Ensino superior Inf. 8 Ensino médio Inf. 9 Ensino superior Inf. 9 6º ao 9º ano (Ens. Fundamental II) Inf.10 Ensino superior Inf. 10 Ensino superior Tabela 91: Homens perguntas 12 e 13 questionário fechado / Teste subjetivo de escolaridade Analisando os resultados dos dois gêneros, nessa questão, é possível afirmar que: (i) as mulheres apresentam uma avaliação mais negativa do que os homens, pois se observa que um maior número de mulheres atribuiu uma maior escolaridade à pessoa que produziu o áudio não alteado e uma menor escolaridade à pessoa que produziu o áudio alteado; (ii) verifica-se que há uma maior quantidade de homens que declara que a pessoa do primeiro áudio (não alteado) e a pessoa do segundo (alteado) possuem a mesma escolaridade. Embora não se possa fazer afirmações categóricas, a análise dessa resposta indicia que as mulheres se mostram mais sensíveis à norma do que os homens (apenas uma atribui nível superior), no que tange à avaliação da competência (escolaridade) do falante avaliado quanto ao uso da variante alteada.

188 188 Pergunta 14: Observando o modo de falar nos dois áudios, se tivesse que indicar a profissão do falante do primeiro áudio, você diria que se trata de uma: Médica / Empregada doméstica / Advogada / Gari / A profissão não interfere na maneira de a pessoa falar. Pergunta 15: E no segundo áudio, que profissão indicaria? Médica / Empregada doméstica / Advogada / Gari / A profissão não interfere na maneira de a pessoa falar. A partir dessas perguntas é possível verificar que papel social os informantes atribuem à pessoa que fala nos dois áudios. Segundo Lambert & Lambert (1975: 93), A percepção de papéis e de efeitos de papéis é um caso complexo e sutil de percepção social, e representa uma integração de todos os processos (...). Nossa suposição a respeito de uma pessoa num papel abrange seus sentimentos e suas expressões emocionais; suas motivações e seus traços; suas intenções; sua contribuição a uma situação social, sua hierarquia social. Além disso, o objetivo dessas perguntas é observar se os informantes: (i) atribuem uma profissão de prestígio à pessoa do primeiro áudio (não alteado), ou uma profissão de baixo prestígio à pessoa do segundo áudio (alteado); (ii) atribuem a mesma profissão para a pessoa do primeiro áudio (não alteado) e do segundo áudio (alteado), o que indicaria que o informante tem consciência da variação linguística ou (iii) afirmam que a profissão não interfere na maneira de falar, o que revela que os informantes tem consciência que a língua é variável, ou (iv) por estarem preocupados com o politicamente correto, não elegem uma profissão. A seguir, apresentam-se dois gráficos: no primeiro, apresentam-se as respostas, dos dois gêneros dadas à questão número 14, e no segundo, as respostas dadas à questão 15: Se tivesse que indicar a profissão do falantes do primeiro áudio, você diria que se trata de: Médica Empregada doméstica Advogada Gari A profissão não interfere na maneira da pessoa falar. Outra Feminino Masculino Gráfico 49: Pergunta 14 questionário fechado / Teste de profissão

189 189 O Gráfico 49 releva que as mulheres apresentaram respostas diferentes quando indicaram a profissão da pessoa que fala no primeiro áudio, com as vogais não alteadas: (i) 7 mulheres afirmaram que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar; (ii) 2 mulheres elegeram a profissão de advogada; (iii) 1 mulher elegeu a profissão de médica. Três mulheres atribuíram uma profissão de prestígio, de alto grau de escolaridade, para a pessoa que fala no primeiro áudio (variante média fechada). A respostas dessas mulheres revelam uma avaliação negativa do alteamento, pois acreditam que as pessoas que falam com a vogal média fechada possuem uma profissão que exige maior grau de escolaridade. Cabe observar, no entanto, que tanto os inquéritos utilizados para a análise Sociolinguística quanto os informantes submetidos aos testes são falantes cultos, com formações diversas (advogado, professora, estudante de design, entre outras) e todos eles apresentaram variação na realização da média pretônica. Em relação aos homens e ao primeiro áudio (não alteado): (i) 1 homem disse que a pessoa possuía profissão de médica; (ii) 1 homem afirmou que a profissão era de empregada doméstica; (iii) 5 homens declararam que se trata de uma advogada; (iv) 2 homens disseram que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar; (v) 1 homem disse que é uma dona de casa. Essas respostas revelam que: (1) 6 homens elegeram uma profissão de maior prestígio social, de maior escolaridade, à pessoa que produz o áudio com as vogais médias fechadas. Estes resultados indiciam que a maior parte dos homens apresentam uma avaliação negativa do falante, uma vez que supõe que falantes quem possuem uma profissão que exige nível superior não realizam o alteamento. (2) Apenas 2 homens disseram que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar, esses dois homens não entendem ser relevante a forma como se fala. (3) 2 homens elegeram profissões menos prestigiosas: empregada doméstica e dona de casa, para a pessoa do primeiro áudio (não alteado). Pode-se ter duas interpretações acerca dessas escolhas: (i) os informantes não notaram o fenômeno do alteamento ou (ii) eles acreditam que uma pessoa que possui um emprego considerado menos prestigioso pode falar com as vogais pretônicas não alteadas. A seguir, apresenta-se o gráfico com as respostas dos informantes à pergunta 15:

190 190 E no segundo áudio, que profissão indicaria? Médica Empregada doméstica Advogada Gari A profissão não interfere na maneira da pessoa falar. Outra Feminino Masculino Gráfico 50: Pergunta 15 questionário fechado / Teste de profissão Ao indicar a profissão ao falante do segundo áudio (pretônicas alteadas): (i) 9 mulheres disseram que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar e (ii) 1 mulher falou que a profissão seria a de empregada doméstica. Em relação aos homens: (i) 3 homens disseram que a pessoa do segundo áudio era uma médica; (ii) 2 homens afirmam que se trata de uma empregada doméstica; (iii) 2 homens declararam que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar; (iv) 3 homens disseram que a pessoa tinha outra profissão, são elas: professora, médica e camelô. Com o propósito de realizar uma análise mais minuciosa, comparando as respostas das questões 14 e 15, serão apresentadas a seguir duas tabelas: uma das respostas das mulheres e outra das respostas dos homens, com o objetivo de observar que resposta foi dada por cada informante nas duas perguntas: Mulheres Pergunta 12 Pergunta 13 Inf. 1 A profissão não interfere. Inf. 1 A profissão não interfere. Inf. 2 A profissão não interfere. Inf. 2 Empregada doméstica. Inf. 3 Advogada. Inf. 3 A profissão não interfere. Inf. 4 A profissão não interfere. Inf. 4 A profissão não interfere. Inf. 5 A profissão não interfere. Inf. 5 A profissão não interfere. Inf. 6 A profissão não interfere. Inf. 6 A profissão não interfere. Inf. 7 Médica. Inf. 7 A profissão não interfere. Inf. 8 A profissão não interfere. Inf. 8 A profissão não interfere. Inf. 9 Advogada. Inf. 9 A profissão não interfere. Inf.10 A profissão não interfere. Inf. 10 A profissão não interfere. Tabela 92: Mulheres perguntas 14 e 15 questionário fechado / Teste subjetivo de profissão

191 191 Homens Pergunta 12 Pergunta 13 Inf. 1 Empregada doméstica Inf. 1 Outra = Professora Inf. 2 Advogada Inf. 2 Empregada doméstica Inf. 3 Advogada Inf. 3 Outra Inf. 4 Advogada Inf. 4 Médica Inf. 5 Outra = Dona de Casa Inf. 5 Outra = Camelo Inf. 6 Advogada Inf. 6 A profissão não interfere. Inf. 7 Médica Inf. 7 Médica Inf. 8 Advogada Inf. 8 Médica Inf. 9 A profissão não interfere. Inf. 9 Empregada doméstica Inf.10 A profissão não interfere. Inf. 10 A profissão não interfere. Tabela 93: Homens perguntas 14 e 15 questionário fechado / Teste subjetivo de profissão Comparando as respostas às perguntas 12, 13 e 14 e 15, apesar de as mulheres terem sido as que mais disseram que a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar, foram elas que apresentaram uma avaliação negativa do falante quanto à escolaridade. De um total de 10 mulheres, 8 elegeram uma maior escolaridade para a pessoa do primeiro áudio (não alteado) e uma menor escolaridade para a pessoa do segundo áudio (alteado). Por isso, entende-se que nas respostas 14 e 15 essas mulheres estavam preocupadas em não cometer preconceito linguístico, por isso marcaram a respostas a profissão não interfere na maneira de a pessoa falar. Diferentemente, os homens parecem ter se mostrado mais sensíveis à variação linguística, já que 4 informantes elegeram uma mesma escolaridade e 5 informantes escolheram uma mesma profissão para a pessoa dos dois áudios. Pergunta 16: Nesse segundo áudio, quem fala é uma mulher. Você acha que um homem pode falar igual a essa mulher? O objetivo dessa pergunta é verificar se o informante relaciona o alteamento a um gênero específico ou têm conhecimento de que o fenômeno pode ocorrer em ambos os gêneros. Você acha que um homem pode falar igual a essa mulher? Sim Não Feminino Masculino Gráfico 51: Pergunta 16 questionário fechado

192 192 As respostas computadas no gráfico inferem que todos os informantes afirmaram que um homem pode falar como o segundo áudio, ou seja, com as vogais pretônicas alteadas. Este resultado revela que os informantes não associam a variação das formas alternantes a homens ou a mulheres Áudios / Teste subjetivo grau de formalidade Áudio 1: J/o/aquim é um grande /e/mpresário. A /e/mpresa que trabalhou s/e/mestre passado teve grandes lucros, por isso fizemos o c/o/nvite para trabalhara em nossa /e/mpresa de c/o/nsultoria. Áudio 2: J/u/aquim é um grande /i/mpresário. A /i/mpresa que trabalhou s/i/mestre passado teve grandes lucros, por isso fizemos o c/u/nvite para trabalhara em nossa /i/mpresa de c/u/nsultoria. Imagine que a pessoa que fala nos áudios está em duas situações diferentes: numa reunião de trabalho e numa reunião familiar. Pergunta 17: Numa reunião de trabalho, você acha que a fala seria igual ao: Primeiro áudio / Segundo áudio / Misturaria o modo de falar do primeiro e do segundo áudios. Pergunta 18: Numa reunião familiar, você acha que a fala seria igual ao: Primeiro áudio / Segundo áudio / Misturaria o modo de falar do primeiro e do segundo áudios. O objetivo dessas questões é observar se os informantes acham que a realização do alteamento está relacionada ao grau de formalidade da situação ou se os informantes têm conhecimento de que as vogais pretônicas variam tanto em situações formais quanto informais. Como afirma Câmara Jr. (1971 apud Viegas 1987:72): (...) Há, porém, certa flutuação. Um mesmo vocábulo pode ter a forma com /i/ (ou /u/) ou a forma /e/ (ou /o/), de acordo com registro informal ou formal, respectivamente, que adota um mesmo falante. Para Abaurre-Gnerre (1981 apud Viegas 72) sobre a fala capixaba: Parece haver grande variação individual com relação ao levantamento de vogais pretônicas: alguns falantes do dialeto levantam, aparentemente todos os e s e o s pretônicos, mesmo no estilo formal, enquanto que outros raramente o fazem. No estilo causal, no entanto, particularmente em pronúncias bem rápidas, as vogais pretônicas dos exemplos (...) geralmente se perdem, (...) A seguir serão apresentados dois gráficos, o primeiro referente a pergunta 17 e o segundo a pergunta 18.

193 193 Numa reunião de trabalho, você acha que a fala seria igual ao: Primeiro áudio Segundo áudio Misturaria os modos de falar do primeiro e do segundo áudios. Feminino Masculino Gráfico 52: Pergunta 17 questionário fechado / Teste grau de formalidade Ao analisar as respostas, observa-se que: (i) 9 mulheres e 6 homens acreditam que, em uma reunião de trabalho, a pessoa fala como o primeiro áudio (não alteado); (ii) 1 homem e 1 mulher disseram que em uma reunião de trabalho se fala como o segundo áudio (alteado); (iii) 3 homens afirmaram que, na reunião de trabalho, uma pessoa poderia misturar a maneira de falar do primeiro e do segundo áudios, ou seja, realizar variação; (iv) nenhuma mulher disse que na reunião de trabalho a pessoa poderia misturar o modo de falar. Numa reunião familiar, você acha que a fala seria igual ao: Primeiro áudio Segundo áudio Misturaria os modos de falar do primeiro e do segundo áudios. Feminino Masculino Gráfico 53: Pergunta 18 - questionário fechado / Teste grau de formalidade As respostas do gráfico acima revelam que, numa reunião familiar: (i) 2 homens afirmaram que a fala seria não alteada; (ii) 4 mulheres e 9 homens afirmaram que a fala seria alteada; (iii) 6 mulheres e 3 homens disseram uma pessoa poderia misturar as maneiras de falar.

194 194 Comparando os dois resultados, observa-se que: (1) A maioria das mulheres e dos homens relaciona a reunião de trabalho a uma situação mais formal, pois entendem que nessa situação não se devem cometer desvios linguísticos. Por isso, disseram que a fala deveria ser não alteada. (2) Observa-se que três homens, por entenderem que a variação na fala pode ocorrer tanto em situações formais e informais, afirmaram que, mesmo em uma situação formal, a pessoa pode misturar os modos de falar. (3) A maioria dos homens respondeu que, na reunião familiar, se usa a fala alteada. Possivelmente eles entendem que, em uma situação informal, a pessoa não controla tanto a fala, trata-se de um ambiente menos monitorado; (4) 2 homens disseram que, na reunião de trabalho e na reunião familiar, as pessoas poderiam misturar as duas maneiras de falar. A partir dessas respostas, entende-se que esses dois informantes têm a percepção da variação na fala, no caso, variar entre o uso da vogal média fechada [e, o] ou alta [i, u]. (5) Um homem afirmou, tanto para a reunião de trabalho quanto para a reunião familiar, que a fala seria como o primeiro áudio (não alteado). Entende-se que este informante tem conhecimento que o grau de formalidade não interfere na fala, pois afirma que uma pessoa realiza as vogais médias pretônicas fechadas em qualquer situação comunicativa. (6) 6 mulheres e 1 homem disseram que, numa reunião de trabalho, a fala seria como o primeiro áudio (não alteado), e na reunião familiar a pessoa poderia misturar os modos de falar dos dois áudios. Essas respostas indicam que os informantes têm consciência que: (i) numa reunião de trabalho, deve-se utilizar uma linguagem mais formal; (ii) numa reunião familiar, não é preciso utilizar uma linguagem mais informal, por isso pode haver variação. (7) 4 mulheres e 4 homens afirmaram que: (i) numa reunião de trabalho, a fala teria de ser não alteada e (ii) na reunião familiar como o segundo áudio. Tais respostas

195 195 indicam que estes informantes entendem que a formalidade interfere na maneira de falar. De um modo geral, os homens e mulheres afirmam que, em uma reunião de trabalho, por ser uma situação que exige mais formalidade, a fala teria que ser igual ao primeiro áudio (não alteado). Já na reunião familiar, uma situação mais informal, entendem que a fala pode ser como o segundo áudio (alteado) ou a pessoa pode variar no modo de falar (não alteado e alteado). Logo, os resultados dessas perguntas indicam que os informantes defendem que a situação comunicativa, formal ou informal, interfere na fala das pessoas Conclusões parciais questionário fechado Portanto, a partir do questionário fechado, observa-se que a fala alteada - e consequentemente, o alteamento pretônico - é avaliada negativamente, quando se julga a escolaridade, a profissão, o grau de formalidade da situação comunicativa. Observa-se que tais julgamentos estão ligados à competência do falante. Ao analisar os questionários, foi possível verificar que: (i) alguns informantes, de ambos os gêneros, não perceberam o fenômeno do alteamento das vogais anterior e posterior; (ii) todos os informantes perceberam o alteamento em palavras específicas que não costumam ser alteadas no dia-a-dia das pessoas, o que confirma que o alteamento é fenômeno que está abaixo do nível do consciência do falante, mas pode ser mais observado/observável, se ocorre em palavras alteadas comuns em outros dialetos ou estratos sociais (acad[i]mia, alfând[i]ga, int[i]stino); (iii) alguns avaliadores (6 mulheres e 6 homens) atribuíram uma maior escolaridade à fala não alteada e uma menor escolaridade (9 mulheres e 7 homens) à fala não alteada; (iv) alguns informantes (3 mulheres e 6 homens) relacionaram a fala não alteada a uma profissão de prestígio e a alteada a uma profissão menos prestigiosa (1 mulher e 2 homens); (v) algumas mulheres não relacionaram a fala alteada à profissão de prestígio, mas comparando as respostas, é possível interpretar que estavam preocupados em serem politicamente corretos; (vi) tanto os homens quanto as mulheres (9 mulheres e 6 homens) afirmaram que o alteamento não pode ser realizado em uma reunião de trabalho, pois possivelmente relacionam o alçamento das vogais a um desvio da norma culta da língua portuguesa; (vii) alguns julgadores (4 mulheres e 5 homens) afirmaram que o alteamento não pode ocorrer em uma reunião familiar. Tais resultados indicam que há variação na avaliação dos informantes, ou seja, não é possível afirmar categoricamente que todos os informantes apresentaram uma avaliação negativa / um estigma em relação à fala alteada das vogais pretônicas. No entanto, foi possível

196 196 perceber, em perguntas relativas à regionalidade, escolarização, profissão e situação comunicativa, que há uma associação da variante alteada ao que é menos prestigioso. Essa análise se coaduna com a caracterização do fenômeno como indicador/marcador. O alteamento pode ser caracterizado indicador, pois o fenômeno encontra-se abaixo do nível da consciência social dos usuários na língua, ou seja, no geral, os falantes não têm consciência de que as vogais pretônicas se encontram em variação na língua e muito menos acreditam que realizam o fenômeno, por isso o fenômeno não costuma ser estigmatizado pelos informantes. Entretanto, o alteamento também pode ser caracterizado como marcador, pois como informa Labov (2008: 360), apesar de o fenômeno estar abaixo do nível da consciência, os usuários da língua produzirão respostas regulares em teste de reação subjetiva, como foi possível verificar no questionário fechado. 5.3 QUESTIONÁRIO FECHADO AVALIATIVO O questionário fechado avaliativo (anexo 4) visa a observar qualitativamente e quantitativamente a opinião/avaliação dos informantes em relação ao alteamento das vogais pretônicas. Como dito na metodologia, após ouvir o áudio da fala alteada, o informante tinha de responder um questionário composto por 27 afirmativas, sendo 17 frases de avaliação positivas, e 10 frases de avaliação negativa em relação ao falante. O informante avaliava as frases a partir de uma gradação de 1 a 5, em que 1 significa não concordância com a frase; 3 indica relativa neutralidade, e 5, concordância com a frase. A partir desse teste, é possível observar se os informantes apresentam uma avaliação negativa ou positiva acerca do falante que realiza o alteamento. Algumas frases foram retiradas do estudo de Botassini (2013). A seguir estão descritos: o áudio e a tabela com as frases que foram avaliadas pelos informantes. Áudio: Hoje é o batizado da nossa filha /I/stefani. Nosso c/u/mpadre é Domingos e nossa c/u/madre é /I/stela. /I/stefani está com um lindo v/i/stido branco. Após o batismo, vamos fazer uma festa muito b/u/nita com muita c/u/mida e b/i/bida. Nós pegamos /i/mpréstimo para fazer a festa.

197 197 Positivas Esta pessoa se orgulha de sua maneira de falar. Esta pessoa é inteligente. Esta pessoa fala corretamente. Esta pessoa tem nível superior. Esta pessoa possui boa condição financeira. Esta pessoa seria uma boa namorada. Esta pessoa é respeitosa. Esta pessoa é criativa Esta pessoa é confiável Esta pessoa se expressa bem. Você se casaria com essa pessoa. Esta pessoa é cuidadosa. Esta pessoa é simpática. Esta pessoa é jovem. Esta pessoa ajuda os outros quando precisam. Esta pessoa é de confiança. Esta pessoa é divertida. Negativas Esta pessoa sente vergonha de falar assim. Esta pessoa é feia. Esta pessoa é grosseira Esta pessoa é antipática Esta pessoa sofre preconceito pelo modo como se expressa. Esta pessoa é atrasada. Esta pessoa é autoritária. Esta pessoa engana os outros. Esta pessoa é insegura. Esta pessoa é tímida Tabela 94: Frases questionário fechado avaliativo De acordo com Botassini (2013: 170), as perguntas avaliativas dividem-se em três aspectos relativos ao usuário da língua: competência, integridade pessoal e atratividade social. Dessa forma, pretende-se verificar o julgamento que se faz acerca do uso da variante alteada. Para tanto, serão tomados os seguintes procedimentos: i. Apresentação dos resultados gerais para as assertivas de valoração (positiva e negativa), considerando-se mulheres e homens; ii. Apresentação dos resultados relativos a cada aspecto envolvido nas assertivas (competência, integridade pessoal e atratividade social). iii. Análise dos resultados Mulheres / Avaliação positiva Foram elaboradas 17 questões de avaliação positiva para o informante responder. Estas foram submetidas a 10 mulheres, chegando-se a um total de 170 respostas. Num total geral, 24 respostas demostraram não concordância com a avaliação positiva do falante; 45 respostas denotaram neutralidade e 101 respostas revelaram concordância com a avaliação positiva do falante.

198 198 Avaliação positiva / Mulheres Não concordância c/ a frase Neutralidade Concordância Gráfico 54: Avaliação positiva - Mulheres Tais resultados demostram inicialmente que o falante que faz uso da variante alteada não parece ser avaliado negativamente pelas mulheres. Como dito anteriormente, Botassini (2013: 170) estabelece perguntas avaliativas, cujo objetivo é analisar o falante segundo três aspectos: competência, integridade pessoal e atratividade social. A seguir, apresentam-se os resultados: Competência As frases de avaliação positiva relacionada ao aspecto Competência caracterizam o falante como inteligente, estudado, competente, criativo, cuidadoso, possui boa condição financeira etc. Chegou-se aos seguintes resultados para três das cinco frases utilizadas: (i) (ii) (iii) Esta pessoa é inteligente - 3 mulheres mostraram-se neutras e 7 mulheres concordaram com essa avaliação; Esta pessoa se expressa bem - 1 mulher não concordou com a frase, 3 mulheres declaram-se neutras e 6 mulheres concordaram com a avaliação. Esta pessoa é cuidadosa - 1 mulher não concordou com a avaliação, 1 mulher denotou neutralidade e 8 mulheres concordaram com a frase. De acordo com os resultados relativos às três frases acima, a maioria das mulheres avaliou positivamente o aspecto Competência do falante, o que revela, inicialmente, que o fenômeno do alteamento não parece espelhar avaliação negativa do falante. No entanto, nas cinco frases avaliativas positivas seguintes, os resultados são:

199 199 (i) Esta pessoa se orgulha de sua maneira de falar - 7 mulheres não concordaram com a avaliação e 2 mulheres declararam-se neutras, apenas 1 mulher concordou com a avaliação positiva; (ii) Esta pessoa fala corretamente - 3 mulheres não concordaram com a frase, 4 mulheres declararam-se neutras e 3 mulheres concordaram com a afirmativa; (iii) Esta pessoa tem nível superior - 2 mulheres não concordaram com a frase, 4 mulheres mostraram-se neutras, 4 mulheres concordaram com a proposta. (iv) Esta pessoa possui boa condição financeira - 3 mulheres não concordaram com a avaliação, 2 mulheres mostraram-se neutras e 5 mulheres concordaram com a frase; (v) Esta pessoa é criativa - 2 mulheres responderam que não concordam com a avaliação, 4 mulheres mostraram-se neutras e 4 mulheres responderam que concordam com a frase. Primeiramente, entende-se nesta pesquisa que as respostas neutras (a que se atribui pontuação 3) possam indicar, muitas vezes, avaliação negativa do informante, em relação ao atributo exposto na asserção. No momento de responder à pergunta, a pesquisadora percebeu que os informantes: (i) ou ficaram receosos de avaliar negativamente o falante, (ii) ou se sentiram impossibilitados de avaliar aquele atributo apenas pela forma como o falante se expressa. Por isso, considera-se que as respostas neutras possam tendência à avaliação negativa. A partir dessa observação, entende-se que, nessas 5 afirmativas, a maioria das mulheres tendeu a uma avaliação negativa do falante quanto à sua Competência, pelo uso da variante alteada das pretônicas Integridade pessoal As frases de avaliação positiva relativas ao aspecto Integridade pessoal caracterizam o falante como confiável, respeitoso, ajuda os outros quando precisam etc. Verificaram-se os seguintes resultados: (i) (ii) (iii) Esta pessoa é respeitosa - 2 mulheres não concordaram com a avaliação, 1 mulher mostrou-se neutra e 7 informantes concordaram com a frase; Esta pessoa ajuda os outros quando precisam - 2 mulheres denotaram neutralidade, 8 mulheres concordaram com a afirmativa; Esta pessoa é de confiança - 1 mulher não concordou com a frase, 3 mulheres mostraram-se neutras, 6 mulheres concordaram com a avaliação positiva.

200 200 De acordo com essas três respostas, as mulheres avaliaram positivamente o aspecto Integridade pessoal do falante, denotando que, de um modo geral, o uso fenômeno do alteamento não o marca socialmente nesse aspecto. Apenas em relação à frase Esta pessoa é confiável, 2 mulheres não concordaram com a avaliação, 4 mulheres declararam-se neutras e 4 mulheres concordaram com a frase, revelando uma indecisão ao avaliar o falante, segundo sua maneira de falar Atratividade Social As frases avaliações positivas relacionadas ao aspecto Atratividade Social solicitam ao julgador que avaliem o falante como jovem, simpático, um bom namorado etc. Observaram-se as seguintes respostas para as frases: (i) Esta pessoa seria um bom namorado - 1 mulher não concordou com a frase, 2 mulheres declaram-se neutras, 7 mulheres concordaram com a afirmativa; (ii) Esta pessoa é simpática - 1 mulher não concordou com a avaliação e 9 mulheres concordaram com a frase; (iii) Esta pessoa é jovem - 3 informantes mostraram-se neutras e 6 informantes concordaram com a proposta. As respostas indicam que maioria das mulheres avaliou positivamente a Atratividade Social do falante que realiza o fenômeno do alteamento. Entretanto, em relação às duas frases positivas a seguir, verificam-se outras respostas: (i) Você se casaria com esta pessoa - 2 mulheres disseram que não se casaria com uma pessoa que falasse como no áudio, 3 mulheres revelaram-se neutras e 5 mulheres disseram que casariam; (ii) Esta pessoa é divertida - 2 mulheres não concordaram com a avaliação, 3 informantes mostraram-se neutras e 5 mulheres concordaram com a afirmativa. Em uma análise geral, em relação a essas duas afirmativas, 50% das mulheres não evidenciam ter atratividade social pelo falante, ao julgarem a sua maneira de se expressar.

201 Mulheres / Avaliação negativa Considerando-se que se elaboraram 10 questões de avaliação negativa e estas foram submetidas a 10 mulheres, chegou-se a um total de 100 respostas. Num total geral, 67 respostas demostraram não avaliaram negativamente o falante, com base em sua maneira de se expressar; 5 respostas denotaram neutralidade e 28 respostas revelaram uma avaliação negativa do falante. Avaliação negativa / Mulheres Não concordância Neutralidade Concordância Gráfico 55: Avaliação negativa Mulheres Como elaborado acima, as respostas às frases de avaliação negativa serão analisadas, a fim de observar os três aspectos avaliativos (competência, integridade pessoal e atratividade social) relativos ao falante que produziu o áudio alteado Competência As avaliações negativas do aspecto Competência caracterizam o falante como atrasado, inseguro, envergonhado pela maneira de falar, passível de preconceito linguístico etc. Nas frases avaliativas negativas que observa a Competência do falante, chegou-se aos seguintes resultados: (i) (ii) (iii) Esta pessoa tem vergonha de falar assim - 6 mulheres não concordaram com a avaliação negativa, 1 mulher mostrou-se neutra e 3 mulheres concordaram com a frase; Esta pessoa é atrasada - 6 mulheres não concordaram com a proposta, 2 mulheres revelaram-se neutras e 2 mulheres concordaram com a avaliação negativa; Esta pessoa é insegura - 7 mulheres disseram que não concordam a frase, 1 mulher mostrou-se neutra e 2 mulheres afirmaram que concordam o a avaliação negativa.

202 202 Segundo essas respostas, as mulheres não julgam negativamente a competência do falante, segundo seu modo de expressar-se. Cabe destacar que apenas em relação à frase Esta pessoa sofre preconceito linguístico, 6 mulheres indicaram que o falante pode sofrer preconceito, embora 4 mulheres discordem disso. Ou seja, o falante pode ser julgado pelo uso da variante alteada, o que confirma a análise feita para o item (julgamento da competência a partir de frases avaliativas positivas), segundo a qual as mulheres julgaram negativamente a competência do falante, pelo uso da variante alteada Integridade Pessoal As frases de avaliação negativa que pretendem verificar o aspecto Integridade Pessoal caracterizam o falante como grosseiro, autoritário, tímido, enganador etc. Para essas análises, verificaram-se as seguintes respostas: (i) Esta pessoa é grosseira - 7 mulheres não concordaram com a avaliação negativa, 1 mulher declarou-se neutra, 2 mulheres concordaram com a frase; (ii) Esta pessoa é autoritária - 9 mulheres não concordaram com a proposta e apenas 1 mulher concordou com a avaliação negativa; (iii) Esta pessoa engana os outros - 8 mulheres não concordaram com a frase e 2 mulheres concordaram com essa avaliação negativa; (iv) Esta pessoa é tímida: 9 mulheres disseram que não concordam a frase e apenas 1 mulher afirmou que concorda com a proposta. Em uma análise geral, as mulheres não avaliam a integridade pessoal do falante pelo uso da variante alteada, o que indica que os julgadores não estabelecem uma relação entre o fenômeno e a avaliação subjetiva do usuário da língua Atratividade Social As frases de avaliação negativa que visam a observar o julgamento da atratividade social do falante, parte de características como feio e antipático. Para a primeira frase, Esta pessoa é feia, que observa a Atratividade social do falante: 5 mulheres não concordaram com a avaliação negativa e 5 mulheres concordaram com a frase. Analisando percentualmente, verifica-se que, nesta frase, 50% das mulheres não demonstram ter atratividade pelo falante que utiliza a variante alteada. Já em relação à segunda frase Esta pessoa é antipática: 6 informantes discordaram da afirmativa e 4 informantes concordaram com

203 203 a avaliação negativa. Ou seja, as respostas mostram um relativo equilíbrio nesse julgamento, pois, embora não haja claramente uma avaliação (positiva ou negativa) quanto a sua atratividade social, há que se observar o acolhimento aos aspectos negativos do falante Conclusão parcial - Mulheres No questionário fechado avaliativo, as mulheres tendem a avaliar positivamente o falante que realiza o alteamento das vogais pretônicas. No entanto, cabe salientar que a depender dos aspectos observam-se avaliações diferentes Homens / Avaliação positiva Assim como feito para as mulheres, serão analisadas as respostas concedidas por homens. As respostas que apresentam avaliação positiva e negativa têm o objetivo de analisar o usuário da variante, segundo três aspectos (competência, integridade pessoal e atratividade social) que caracterizam o falante. Elaboraram-se 17 frases afirmativas de avaliações positivas, relativas à pessoa que falou no áudio, para os informantes responderem. Estas foram submetidas a 10 homens, chegando-se a um total de 170 respostas. Num total geral, 42 demostraram não concordância com a avaliação positiva; 55 denotaram neutralidade, e 73 revelaram concordância com a avaliação positiva. De uma maneira geral, os resultados indicam que o falante que produz o alteamento não parece ser avaliado negativamente. Avaliação positiva / Homem Não concordância Neutralidade Concordância Gráfico 56: Avaliação positiva - Homens A seguir, serão analisadas separadamente cada frase avaliativa positiva, de acordo com os aspectos competência, integridade pessoal e atratividade social que caracterizam o falante do áudio.

204 Competência As frases de avaliação positiva relacionadas ao aspecto Competência caracterizam o falante como: inteligente, estudado, competente, criativo, cuidadoso etc. Observaram-se as seguintes respostas: (i) Esta pessoa se orgulha de sua maneira de falar - 2 homens não concordaram com a avaliação, 2 homens mostraram-se neutros e 6 homens concordaram com a frase; (ii) Esta pessoa fala corretamente - 3 homens não concordaram com a avaliação, 1 homem mostrou-se neutro e 6 homens concordaram com a afirmativa. Com base nas respostas às duas frases acima, maioria dos homens avaliou positivamente o falante, não revelando posicionamento negativo quanto à competência do falante que realiza o alteamento. No entanto, a análise das respostas dadas às seis frases avaliativas positivas revela um julgamento negativo da competência desse falante: (i) Esta pessoa tem nível superior - 4 homens não concordaram com a avaliação, 4 homens mostraram-se neutros e 2 homens concordaram com a frase; (ii) Esta pessoa é criativa - 3 homens não concordaram com a afirmativa, 5 homens mostraram-se neutros e 2 homens não concordaram com a proposta; (iii) Esta pessoa se expressa bem - 5 homens não concordaram com a avaliação, 1 homem mostrou-se neutro e 4 homens concordaram com a frase; (iv) Esta pessoa é inteligente - 2 homens não concordaram com a afirmativa, 3 homens manifestaram neutralidade e 5 homens concordaram com a frase; (v) Esta pessoa possui boa condição financeira - 3 homens não concordaram com a avaliação, 4 homens demonstram-se neutros e 3 homens concordaram com a proposta; (vi) Esta pessoa é cuidadosa - 1 homem não concordou com a frase, 5 homens mostramse neutros e 4 homens concordaram com a afirmativa; Em uma análise geral, em 2 questões a maioria dos homens avaliou positivamente o aspecto Competência do falante, em 6 frases a maioria dos homens avaliou negativamente o aspecto Competência do falante que realiza o alteamento. Comparando as respostas dos dois

205 205 gêneros, os homens avaliam negativamente uma questão a mais relativas à Competência do falante (mulheres = 5 frases / homens = 6 frases) Integridade Pessoal As frases de avaliação positiva ligadas ao aspecto Integridade pessoal caracterizam o falante como confiável, respeitoso, solidário etc. Em relação à frase Esta pessoa é respeitosa, apenas 1 homem não concordou com a avaliação e 9 homens concordaram com a afirmativa, indicando que o alteamento não contribuiu para um julgamento quanto à integridade pessoal do informante. No entanto, para as frases avaliativas positivas a seguir, verificam-se outras respostas: (i) (ii) (iii) Esta pessoa é confiável - 6 homens demonstraram neutralidade e 4 homens concordaram com a avaliação; Esta pessoa ajuda os outros quando precisam - 1 homem não concordou com a frase, 4 mostraram-se neutros e 5 não concordaram com a afirmativa; Esta pessoa é de confiança - 1 homem não concordou com a proposta, 5 homens denotaram neutralidade e 4 homens concordaram com a avaliação. Como se observa nas respostas a essas 3 questões, aalguns homens avaliaram negativamente o aspecto Integridade pessoal do falante que produz o alteamento das vogais pretônicas. Comparando as respostas dadas por julgadores dos dois sexos, os homens julgaram negativamente as questões relativas à Integridade pessoal do falante mais do que as mulheres (mulheres = 1 frase / homens = 3 frases) Atratividade Social As frases de avaliação positiva submetidas aos julgadores têm o objetivo de observar a Atratividade Social do falante usuário da variante alteada. Apenas para a frase Esta pessoa é simpática, 1 homem não concordou com a avaliação, 3 homens manifestaram neutralidade e 6 homens concordaram com a frase. Esse resultado indica não haver avaliação negativa do falante, no que tange à atratividade social. Entretanto, nas frases abaixo, verificam-se as seguintes respostas: (i) Esta pessoa seria uma boa namorada - 4 homens não concordaram com a afirmativa, 3 homens manifestaram-se neutros e 3 homens concordaram com a frase;

206 206 (ii) (iii) (iv) Esta pessoa é divertida - 4 homens não concordaram com a avaliação, 4 homens mostraram-se neutros e 2 homens concordaram com a proposta. Você se casaria com esta pessoa, 4 homens disseram que não se casariam; 2 homens declararam-se neutros e 4 homens disseram que casariam com a pessoa do áudio; Esta pessoa é jovem - 3 homens não concordaram com a frase, 3 homens mostraramse neutros e 4 homens concordaram com a avaliação. Com base na análise das respostas às 4 afirmativas acima, conclui-se que alguns homens avaliaram negativamente o aspecto Atratividade social do falante que utiliza o alteamento das vogais pretônicas. Comparando as respostas dos dois gêneros, mais do que as mulheres, os homens julgaram negativamente o falante no que tange à Atratividade social do falante (mulheres = 2 frases / homens = 4 frases) Homens / Avaliação negativa Foram elaboradas 10 questões de avaliação negativa, submetidas a 10 homens. Num total 100 respostas, 49 respostas demostraram não concordância com a avaliação negativa; 25 respostas denotaram neutralidade e 26 respostas revelaram concordância com a avaliação negativa do falante. De uma maneira geral, esses resultados revelam que o falante que produz a variante alteada não parece ser avaliado negativamente pelos homens. Avaliação negativa / Homens Não concordância Neutralidade Concordância Gráfico 57: Avaliação negativa - Homens A seguir serão analisadas as frases avaliativas negativas, a partir dos três aspetos avaliativo (competência, integridade pessoal e atratividade pessoa). O objetivo é observar se o resultado geral se confirma, isto é, os homens tendem a não avaliar negativamente o falante que produz o fenômeno do alteamento.

207 Competência As frases avaliativas negativas para observar o aspecto Competência caracterizam o falante como: atrasado, inseguro, envergonhado pela maneira de falar, etc. Na frase Esta pessoa sente vergonha de falar assim, 5 homens não concordaram com a avaliação, 1 homem mostrou-se neutro e 4 homens concordaram com a frase, evidenciando um julgamento equilibrado quanto à competência do falante usuário da variante alteada. No entanto, nas três frases avaliativas negativas abaixo, houve tendência a um julgamento negativo: (i) (ii) (iii) Esta pessoa sofre preconceito pelo modo como se expressa - 3 homens não concordaram com a frase, 1 homem mostrou-se neutro e 6 informantes concordaram com a avaliação. Esta pessoa é atrasada - 3 homens não concordaram com a afirmativa, 4 homens denotaram neutralidade, e 3 homens concordaram com a frase Esta pessoa é insegura - 5 homens não concordaram com a avaliação, 3 homens demonstraram-se neutros e 2 homens concordaram com a proposta. Observa-se que os homens tendem a um julgamento negativo do falante que produz o alteamento. Comparando as respostas de homens e de mulheres, os primeiros mostram-se mais críticos quanto à competência do falante, segundo sua maneira de falar (mulheres = 1 frase / homens = 3 frases) Integridade Pessoal As frases que expressam avaliações negativas a respeito do falante visam a observar como o julgador analisa a Integridade Pessoal (caráter, personalidade etc.) do usuário da variante alteada. Nas frases abaixo, observa-se que: (i) Esta pessoa é grosseira - 7 homens não concordaram com a avaliação, 2 homens mostraram-se neutros e 1 homem concordou com a avaliação; (ii) Esta pessoa engana os outros - 6 homens não concordaram com a avaliação, 3 indicaram neutralidade e 1 homem concordou com a avaliação; (iii) Esta pessoa é tímida - 4 homens não concordaram com a avaliação, 2 homens declararam-se neutros e 3 homens concordaram com a avaliação.

208 208 Nessas três frases, a maioria dos homens não avaliou negativamente o falante, possivelmente por que o alteamento não indica traços de sua Integridade pessoal. Na frase Esta pessoa é autoritária, 5 homens não concordaram com a afirmação, 3 homens declararam-se neutros e 2 homens concordaram com a afirmação, indicando possivelmente que o julgador avalia negativamente o modo como o falante se expressa. Tal resultado indica que, nesta frase, os homens tendem a avaliar positivamente o aspecto Integridade pessoal do falante. Em uma análise geral, em 3 frases, a maioria dos homens não avaliou negativamente o aspecto Integridade pessoal do falante. Em 1 afirmativa, 50% dos homens avaliou positivamente o aspecto Integridade pessoal do informante que realiza o alteamento. Tanto as mulheres quanto os homens tendem a avaliar positivamente o aspecto Integridade Pessoal do falante Atratividade Social As frases de avaliação negativa relacionadas ao aspecto Social incitam ao julgador a atribuir características como feio e antipático ao falante usuário da variante alteada. Na frase avaliativa negativa Esta pessoa é antipática, que observa o Atratividade social do falante, 6 homens não concordam com a frase, 2 declararam-se neutros e 2 concordaram com a avaliação, indicando que o falante não foi julgado negativamente quanto à atratividade social pela maneira de falar. Já na frase negativa Esta pessoa é feia, 3 homens não concordaram com a avaliação, 5 homens declararam-se neutros e 1 homem concordou com a frase. Considerando-se que as respostas neutras podem indicar, e, alguma medida, concordância com a informação da frase, pode-se considerar que há uma tendência à avaliação negativa quanto à aparência do falante, pela maneira com que se expressa Conclusão parcial - Homens No questionário fechado avaliativo, os homens tendem a avaliar negativamente o falante que realiza o alteamento das vogais pretônicas. No entanto, foi possível observar que a depender do aspecto observa-se uma avaliação diferente.

209 Conclusões parciais questionário avaliativo O questionário fechado avaliativo tem como principal objetivo observar a avaliação dos informantes em relação ao falante que produz o alteamento. Em uma análise geral, verificou-se que tanto as mulheres quanto os homens parecem não avaliar negativamente o falante pela maneira como ele se expressa. No entanto, foi possível observar, a partir da análise por sexo dos aspectos Competência, Integridade pessoal e Atratividade social que alguns informantes apresentam avaliações negativas ao falantes que produz o alteamento. Os homens, mais do que as mulheres, avaliaram mais negativamente o falante utiliza a variante alteada. No entanto, verifica-se que algumas mulheres também avaliam negativamente o falante. Por isso, não é possível afirmar categoricamente que os homens estigmatizam mais o fenômeno do que as mulheres, o que ocorre é que em alguns aspectos (Competência, Integridade pessoal, Atratividade social), especificamente em algumas frases avaliativas, ora as mulheres ora os homens apresentam alguma avaliação negativa sobre o fenômeno. A partir desse resultado entende-se que tais generalizações são bastante questionáveis (Cf. LUCCHESI, 2012: 798). A análise realizada a partir dos três aspectos foi muito importante e interessante, pois foi possível observar que para cada aspecto tem-se uma avaliação diferente. Por exemplo, observou-se que: (i) no aspecto Integridade pessoal de característica positiva (ex.: Esta pessoa é confiável), em geral, as mulheres avaliaram positivamente este aspecto e os homens negativamente, ou seja, tal resultado indica que as mulheres no aspecto Integridade pessoal tendem a avaliar positivamente o falante que produz o alteamento ao passo que os homens tendem a avaliar negativamente; (ii) no aspecto Competência de característica positiva (Esta pessoa tem nível superior), em geral, tanto os homens quando as mulheres avaliaram negativamente os aspecto, ou seja, as mulheres e os homens tendem avaliar negativamente no aspecto Competência o falante que produz o alçamento das médias pretônicas. Assim como no teste do questionário fechado, é possível afirmar, no questionário fechado avaliativo, que o fenômeno do alteamento se caracteriza como indicador / marcador, pois o alteamento é um fenômeno linguístico abaixo do nível da consciência, os usuários da língua tendem a não estigmatizar categoricamente o falante que realiza o alçamento. No entanto verificou-se a partir dos três aspectos (Competência, Integridade pessoal e Atratividade social) que tanto as mulheres quanto os homens apresentam algumas avaliações negativas acerca do falante que produz o alteamento das vogais pretônicas.

210 QUESTIONÁRIO ABERTO / ENTREVISTA O questionário aberto tem como objetivo deixar que o informante se expresse livremente sobre a pergunta realizada pelo informante. A entrevista foi a última técnica utilizada para observar a percepção e avaliação dos informantes acerca do alteamento das vogais médias pretônicas. Na entrevista, foram feitas três perguntas ao informante. Esta foi gravada e analisada posteriormente pela pesquisadora. Antes das perguntas, a pesquisadora colocou dois áudios para o informante ouvir: o primeiro com as vogais pretônicas não alteadas e o segundo com as vogais pretônicas alteadas. Abaixo, encontram-se o trecho dos dois áudios que o informante ouviu. Estes estão transcritos com marcações fonéticas, a que os informantes não tiveram acesso. A seguir, serão analisadas as duas perguntas. Áudio 1: B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer um v/e/stido. A c/o/stureira D/o/mingas fez um v/e/stido muito b/o/nito para ela. Áudio 2: B/i/atriz escolheu um t/i/cido na loja para fazer um v/i/stido. A c/u/stureira D/u/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela Teste subjetivo de percepção: Pergunta 1: Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou diferentes? Se diferentes, qual a diferença que você observou. Nessa pergunta, analisa-se a percepção. O objetivo é observar se o informante percebe o alteamento das vogais pretônicas. O gráfico a seguir apresenta as respostas: Para você, os áudios 1 e 2 são iguais ou são diferentes? Iguais Diferentes Feminino Masculino Gráfico 58: Pergunta 1 questionário aberto / Teste de percepção

211 211 Todos os informantes, de ambos os gêneros, perceberam que a diferença entre os áudios se dava na realização das vogais médias pretônicas. Além disso, foi possível verificar em algumas declarações que alguns informantes (homens e mulheres) apresentam avaliações negativas em relação ao alteamento. Por exemplo: (i) uma mulher, ao informar qual a diferença que observou, disse que o primeiro áudio apresenta uma linguagem bem culta, ou seja, ela considera que a realização das vogais médias fechadas é culta, ao passo que as médias alteadas é não culta ou popular; (ii) um homem considera que a fala correta seria a realização a das vogais médias fechadas, como em t/e/cido, ou seja, ele considera que o alteamento das vogais pretônicas, em t/i/cido é um erro; (iii) outro homem atribui à pessoa que fala no primeiro áudio (não alteado) uma maior escolaridade e à pessoa que fala do segundo áudio uma menor escolaridade. A seguir, apresentam-se alguns exemplos da fala dos informantes: Mulheres: Na pronúncia. O primeiro fala exatamente como se escreve. No outro fala c/u/stureira, d/u/mingos, v/i/stido; A primeira linguagem está bem culta. Na segunda novamente puxa no /u/, substitui o /o/ pelo /u/; Na pronúncia. Na palavra tecido. Em um ela falou t/e/cido na outra falou t/i/cido, c/o/stureira, c/u/stureira; Só a pronúncia das vogais, por exemplo na palavra tecido, uma falou t/e/cido outra t/i/cido. Uma fala v/e/stido e outra v/i/stido, c/o/stureira e c/u/stureira, D/o/mingas e D/u/mingas, b/o/nito e b/u/nito; Na colocação, por exemplo B/e/atriz, B/i/atriz, t/i/cido, D/u/mingas. Homens: O segundo áudio nas palavras v/e/stidos, c/o/stureira. Deixa eu dar uma olhada. Ela fala t/i/cido, o correto seria t/e/cido. O primeiro demostra ter um grau de escolaridade maior do que o segundo. Na palavra t/i/cido, por exemplo. A primeira fala de uma forma muito correta, eu acho até que não é uma forma natural. A segunda utiliza alguns termos com c/u/stureira, um v/i/stido, muito b/u/nito. Na forma de pronunciar. Um parece ser português do Brasil e o outro de Portugal ou de algum outro país que pareça com Portugal. Fala B[i]atriz, c[u]stureira.

212 212 Uma expressou bem as vogais, a outra trocou as vogais. Por exemplo, enquanto uma falou B[e]a a segunda falou B[i]a Teste subjetivo de autoavaliação e insegurança linguística: Pergunta 2: Se você fosse falar essa frase, falaria como o primeiro áudio? Como o segundo áudio? Ou utilizaria algumas palavras do primeiro e do segundo áudio? Após o informante responder a pergunta, a pesquisadora pedia-o que lesse o trecho do áudio. Nesta segunda pergunta, serão observados os testes de autoavaliação e de insegurança linguística. No primeiro, o informante deve indicar, a partir de duas formas, a sua maneira de falar. No segundo, o informante é levado a indicar a forma correta entre duas ou mais e, em seguir, apontar a que realmente usa. Segundo Labov (2008: 228), As atitudes dos falantes para com as variáveis linguísticas bem estabelecidas também se mostram nos testes de autoavaliação. Quando indagadas sobre quais dentre várias formas são características de sua própria fala, as respostas das pessoas refletem a forma que elas acreditam gozar de prestígio ou ser a correta, mais do que a forma que elas realmente empregam. Com essa pergunta foi possível observar que: (i) se o informante não realiza a frase alteada, entende-se que ele acha que a forma adequada para produzir a frase é a não alteada; (ii) se ele utiliza toda a frase alteada, entende-se que o informante acha que a forma adequada para produzir a frase é a alteada e (iii) se ele afirma que produz, na leitura do trecho, as palavras alteadas e não alteadas, observa-se que o informante reconhece e aceita a variação linguística. O gráfico abaixo apresenta os resultados: Se você fosse falar essa frase, falaria como o primeiro áudio? Como o segundo áudio? ou utilizaria palavras do primeiro e outras do segundo? Primeiro Segundo Misturaria Feminino Masculino Gráfico 59: Pergunta 2 questionário aberto / Teste de autoavaliação e insegurança linguística

213 213 Ao analisar as respostas das mulheres, observa-se que: (i) 4 mulheres disseram que falam como o primeiro áudio, ou seja, com as vogais pretônicas não alteadas; (ii) 6 mulheres afirmam que misturariam o alteamento e o não alteamento, ou seja, realizam variação entre as médias fechadas [e, o] e as alta [i, u]; (iii) nenhuma mulher disse que falaria como o segundo áudio, com todas as vogais pretônicas alteadas. Foi possível observar, na leitura do texto, que todas as mulheres, em algum vocábulo, realizam o alteamento das vogais médias pretônicas. As 4 mulheres que disseram que falam como o primeiro áudio não possuem consciência de que realizam o alteamento, talvez por acreditarem que a produção correta das vogais pretônicas é a fechada [e, o]. Em relação às respostas dos homens: (i) 8 homens disseram que falam como o primeiro áudio com as vogais não alteadas; (ii) apenas dois homens disseram que misturariam a maneira de falar do primeiro e do segundo áudio, ou seja, realizariam variação entre as vogais pretônicas fechadas e alteadas; (iii) nenhum homem disse que falaria como o segundo áudio, alteado. Assim como as mulheres, todos os homens realizaram, na leitura do texto, o alteamento das vogais pretônicas em alguma palavra. Apesar de terem realizado o alçamento na leitura do texto, a maioria dos homens disse que fala como o primeiro áudio, não alteado. Tal resultado vai ao encontro a afirmativa do Labov (2008: 248): indagadas sobre quais dentre várias formas são características de sua própria fala, as respostas das pessoas refletem a forma que elas acreditam gozar ou ser a correta, mais do que elas realmente empregam, ou seja, na presente pesquisa, os homens acreditam que realizam as vogais médias pretônicas fechadas [e, o], pois consideram a correta, no entanto, o que realmente produzem é o alteamento. A fim de verificar se o informante produziria ou controlaria o fenômeno do alteamento no mesmo trecho dos áudios, a pesquisadora pediu que os informantes lessem o trecho. Foi possível observar que todos os informantes, dos dois gêneros, realizaram o alteamento em alguma palavra. Ou seja, as 4 mulheres e os 8 homens se contradizem ao afirmar que falam com as vogais médias fechadas [e, o], pois na verdade realizam o alteamento. Abaixo encontram-se descritas as respostas e a leitura de alguns informantes: Mulheres: Misturaria, não na parte do /o/ vira /u/, mas no v/i/stido, eu falo vistido. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/u/stureira D/o/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; Eu acho que eu iria misturar. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/o/stureira D/u/mingas fez um v/e/stido muito b/u/nito para ela ;

214 214 Como a primeiro áudio. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/u/stureira D/u/mingas fez um v/e/stido muito b/u/nito para ela ; falaria como o primeiro. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/o/stureira D/o/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; Misturaria. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/e/stido. A c/o/stureira D/o/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; Homens: Misturaria. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/o/stureira D/u/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; Primeiro áudio. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/e/stido. A c/u/stureira D/o/mingas fez um v/e/stido muito b/u/nito para ela ; Primeiro áudio. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/u/stureira D/o/mingas fez um v/e/stido muito b/u/nito para ela ; Eu ia falar como o primeiro. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/u/stureira D/o/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; T/i/cido eu não falaria, agora b/u/nito eu falaria. Então eu misturaria. B/e/atriz escolheu um t/e/cido na loja para fazer v/i/stido. A c/o/stureira D/o/mingas fez um v/i/stido muito b/u/nito para ela ; Dois exemplos interessantes são: (i) o segundo das mulheres e (ii) o último dos homens. No segundo exemplo, observa-se que a mulher diz primeiramente que não realiza o alteamento nas vogais posteriores somente nas vogais anteriores; no entanto, ao ler a frase, ela realiza o alteamento das palavras costureira e bonito. No último exemplo, o informante tem consciência de que não faz o alteamento na palavra tecido, mas produz o alteamento da palavra bonito. Certamente, como foi discutido anteriormente, pelo fato de a palavra tecido não ser comum ao seu vocabulário do dia-a-dia, diferente do vocábulo bunito Teste subjetivo: Pergunta 3: Para você, essas diferentes realizações interferem no entendimento da frase? Por exemplo, você entende se eu falar m[i]nino ao invés de m[e]nino, [i]mpregada, em vez de [e]mpregada, g[u]rdura, em vez de g[o]rdura, d[u]mingo em vez do d[o]migo? Esta pergunta tem como principal objetivo observar se o informante acredita que o alteamento das vogais pretônicas pode ou não interferir no entendimento do vocábulo.

215 215 Em um trabalho anterior (SOUZA, 2015), realizado pela pesquisadora, foi possível observar que os informantes disseram que a realização alteada não interferia no entendimento. No entanto, os informantes complementaram, afirmando que a realização alteada era um erro, o que indica uma avaliação negativa por parte do informante. Logo, esta pergunta na entrevista permitiu que o informante expressasse livremente as suas ideias, ou seja, se esta pergunta estivesse em um questionário fechado não seria possível observar tais respostas. A seguir, apresenta-se o gráfico com as respostas dos informantes. Para você, essas diferentes realizações interferem no entendimento da frase? Não interfere / entendo Feminino Masculino Interfere / não entendo Gráfico 60: Pergunta 3 Questionário aberto Os resultados do gráfico indicam que: (i) todas as mulheres e 9 homens afirmaram que o alteamento das vogais médias pretônicas não interfere no entendimento do vocábulo; (ii) 1 único homem disse que a realização do alteamento pode interferir no entendimento do vocábulo. Logo, os informantes têm consciência de que utilizar a vogal média fechada [e] e [o] ou a vogal alta [i] e [u] não compromete a compreensão do significado do vocábulo. Diferente do estudo anterior, nenhum informante se manifestou negativamente após a pergunta dizendo, por exemplo, que é possível entender um vocábulo alteado, mas tal fenômeno é um erro. Logo, não foi possível observar, como no estudo anterior, avaliação negativa do informante na presente pergunta. Portanto, a entrevista foi de suma importância, pois foi possível observar que: (i) os informantes percebem o alteamento das vogais pretônicas; (ii) de uma maneira geral, os informantes acreditam que falam como a variante prestigiada (não alteada), mas, na leitura e na fala espontânea, é possível verificar que realizam o alteamento; (iii) a maioria dos informantes tem consciência de que o alteamento não compromete o entendimento do vocábulo.

216 CONCLUSÕES PARCIAIS CRENÇAS E ATITUDES Com o teste de Crenças e Atitude, foi possível verificar que alguns informantes apresentam uma avaliação negativa ao falante que realiza o alteamento das vogais pretônicas. A partir da técnica da leitura, observou-se que todos os informantes, de ambos gêneros, realizaram o alteamento das vogais pretônicas. No primeiro questionário fechado, a partir do teste de reação subjetiva, foi possível observar que: (i) o alteamento é menos percebido em palavras comuns do dia-a-dia do informante e mais percebido nas palavras menos frequente do vocabulário do informante; (ii) a maioria dos informantes relacionou o alteamento à fala brasileira da região sudeste; no entanto, observou-se que alguns informantes relacionaram (a) a fala não alteada à fala portuguesa por acreditarem que, em Portugal, se fala mais correto do que no Brasil ou (b) a fala alteada à fala portuguesa, pois tem consciência de que o alteamento é quase categórico na fala de Portugal; (iii) alguns informantes afirmaram que a pessoa do áudio que fala com as pretônicas alteadas tem uma baixa escolarização; (iv) alguns informantes atribuíram uma profissão de maior prestígio à pessoa que fala com as vogais não alteadas, e uma profissão menos prestigiosa à pessoa que produz as vogais alteadas; (v) a maioria dos informantes atribuiu o alteamento à fala de uma pessoa mais velha; (vi) todos os informantes disseram que tanto os homens quanto as mulheres podem altear as vogais pretônicas; (vii) a maioria dos informantes respondeu que, em uma situação mais formal, como em uma reunião de trabalho, os informantes realizam as vogais pretônicas com a média fechada [e, o] e, em uma situação informal, como em uma reunião familiar, produzem as vogais pretônicas com a vogal alta [i, u] ou realizam variação entre as médias fechadas e as altas. No questionário avaliativo, foi possível observar, a partir dos aspectos Competência, Integridade pessoal e Atratividade pessoal que alguns informantes apresentam avaliações negativas em relação ao falante que produz o alteamento das vogais pretônicas. Por exemplo, na avaliação Esta pessoa sofre preconceito pela maneira como fala, a maioria dos informantes, de ambos os gêneros, disse concordar com a avaliação, ou seja, acredita que a pessoa que fala com as vogais médias pretônicas alteadas sofre preconceito linguístico. A partir da entrevista, foi possível verificar que os informantes (i) percebem o alteamento; (ii) acreditam utilizar as vogais pretônicas fechadas [e, o], no entanto realizam o alteamento; (iii) têm consciência de que a realização alteada não interfere no entendimento da frase. A partir dos testes atitudes foi possível observar que ora foram as mulheres que apresentaram avaliações negativas acerca do falante que utilizou em sua fala a variante alteada,

217 217 como se verificou na pergunta que observa o teste subjetivo de escolaridade, ora foram os homens que denotaram avaliações negativas ao falante que produziu o alçamento, como se verificou no questionário fechado avaliativo e na entrevista. Tais observações são importantes, pois os testes de crenças e atitudes mostraram que, como defende Lucchesi (2012: 798), não se pode generalizar algumas conclusões observadas em pesquisas sociolinguísticas, cujos fenômenos, de fato, estabeleciam claramente relações entre fatores sociais e linguísticos. Para Lucchesi (2012: 798), o valor heurístico de tais generalizações é bastante questionável. Por exemplo, no caso da análise do gênero, Labov (1972: 243) afirma que as mulheres usam menos as formas estigmatizadas do que os homens, e são mais sensíveis que estes ao padrão de prestígio. Isso é verdade para muitos fenômenos linguísticos, mas não para todos. Os pesquisadores devem analisar a comunidade linguística de que o fenômeno faz parte, para chegar à conclusão de como esse fenômeno se encaixa naquela matriz social. A presente pesquisa observou que, apesar de poucas pessoas entrevistadas, tanto homens quanto as mulheres cultos da cidade do Rio de Janeiro tendem a realizar alguma avaliação negativa em relação ao falante que produz em sua fala o alteamento das vogais pretônicas, quer analisando a competência, a integridade pessoal ou a atratividade social. Por meio dos testes, foi possível associar o fenômeno do alteamento entre às características de indicador e marcador. Como indicador, pois o fenômeno consiste em uma mudança vinda de baixo e encontra-se abaixo do nível de consciência do falante, como verificado no primeiro e segundo testes de percepção e no teste de auto-avaliação e insegurança linguística. Como marcador, uma vez que, embora o fenômeno esteja abaixo do nível da consciência do informante, os usuários da língua apresentam respostas relevantes nos testes de reação subjetiva (Cf. LABOV, 2008: 360), como foi verificado no questionário fechado, especificamente nos testes de regionalidade, escolaridade, profissão, situação comunicativa, e no questionário fechado avaliativo. Além disso, o fato de somente algumas pessoas analisarem negativamente o fenômeno faz com que ele não possa ser considerado totalmente estigmatizado, ou seja, não possa ser caracterizado como estereótipo.

218 218 CONCLUSÃO A presente dissertação teve como principais objetivos observar: (i) o fenômeno do alteamento em uma análise de tempo real de curta duração durante as décadas de 1970, 1990 e 2010 e (ii) a partir dos estudos Sociolinguísticos e de Crenças e Atitudes verificar a percepção, a avaliação e o julgamento dos informantes em relação ao alteamento das vogais médias pretônicas. A partir de uma análise Sociolinguística minuciosa, foi possível observar que a estrutura silábica a que pertence a vogal pretônica é um fator fortemente condicionante para o alteamento das vogais médias pretônicas anterior e posterior. Além disso, em todos os contextos silábicos em que figuram a vogal anterior e a vogal posterior, observou-se a atuação tanto das variáveis linguísticas quanto extralinguísticas. Os resultados percentuais indicaram que a vogal anterior travada por sibilante é o contexto que mais favorece o alteamento (74,89%). O segundo contexto mais contribui para o alteamento é vogal anterior travada por consoante nasal (46,72%). A vogal de sílaba livre (12,84%) apresenta baixo percentual de favorecimento. No entanto, as análises probabilísticas dos resultados mostraram que a vogal anterior travada por nasal (0.862) é contexto mais favorecedor para o alteamento, em segundo lugar, a vogal anterior travada por nasal (0.242) e, por último, a vogal anterior de sílaba livre (0.212). Cabe destacar que o corpus de pretônica anterior travada por nasal é composto por dados altamente favorecedores do fenômeno: pretônica em início absoluto da palavra. Em relação ao alteamento da vogal pretônica anterior, foi possível observar que: (i) em contexto de sílaba livre, atua o processo de harmonização vocálica, uma vez que o alteamento da vogal anterior é motivado pela presença das vogais altas (homorgânica e não homorgânica) na sílaba seguinte; (ii) nos contextos de vogal anterior travada por nasal e de vogal anterior travada por sibilante, não há atuação do processo de harmonização vocálica. A não existência da vogal alta no contexto seguinte leva a considerar que o alteamento é condicionado pela própria consoante que entrava a sílaba pretônica. Nos três contextos silábicos (sílaba livre, sílaba travada por /N/ e sílaba travada por /S/) atua o processo de redução vocálica. Nestes três contextos silábicos, o traço fonético [+ alto] da consoante da sílaba seguinte favorece o alteamento da vogal média anterior. Logo, verificase que o alteamento da vogal anterior é condicionado por processos fonéticos, o que pressupõe que parece haver a atuação de um efeito neogramático. Segundo os neogramáticos, as mudanças sonoras são condicionadas por fatores fonéticos.

219 219 Em relação à vogal posterior, os resultados percentuais indicam que a estrutura silábica que mais favorece o alteamento da vogal posterior é a travada por sibilante (33,33%). A vogal posterior travada por nasal (21,19%) é o segundo contexto mais favorecedor do alteamento. As vogais posteriores em sílaba livre (18,86%) e em sílaba travada por rótico (19,42%) são as que menos favorecem o fenômeno. No entanto, os resultados probabilísticos indicam que o alteamento é realizado com maior frequência quando a vogal posterior está travada por rótico (0.26) e travada por sibilante (0.212). A vogal posterior travada por /N/ (0.178) e em contexto de sílaba livre (0.046) tende a não favorecer o alteamento. Nos contextos de sílaba travada por rótico e de sílaba livre, o alteamento das vogais posteriores é condicionado pelo processo de harmonização vocálica, portanto, há um claro condicionamento neogramático. Entretanto, nos contextos de sílaba travada por /S/ e de sílaba travada por /N/, as variáveis Faixa Etária e Contiguidade condicionam o alteamento da vogal posterior. Apesar de verificar que alguns processos fonéticos contribuem para o alteamento da vogal posterior, entende-se que há atuação do modelo difusionista, uma vez que foi possível observar que o alteamento se realiza em palavras específicas do corpus, não atingindo (ainda) todos os itens lexicais. Como defende Oliveira (1991), a existência de um contexto fonético favorecedor é apenas mais um condicionante para que o fenômeno se difunda item a item. O estudo de tempo real de curta duração teve como objetivo observar a atuação do fenômeno do alteamento das vogais médias pretônicas durante as décadas de 1970, 1990 e O estudo de tempo real permite identificar se há propagação, estabilidade ou recuo do fenômeno linguístico. A partir da análise do fenômeno, no transcorrer de 40 anos, observou-se que o alteamento apresenta comportamentos diferentes, a depender do contexto silábico, isto é, verificou-se que, em alguns contextos silábicos, o alteamento encontra-se em recuo; em outros, o fenômeno encontra-se em propagação ou em variação estável. Na análise de tempo real de curta duração, verificou-se que: (i) No contexto de sílaba livre, o alteamento encontra-se em recuo. Os falantes da década de 1970 (16,40% / 0.609) foram os que mais realizaram o alteamento da vogal anterior, seguidos dos falantes da década de 1990 (13,50% / 0.519) e dos falantes da década de 2010 (8,90% / 0.373). (ii) No contexto de sílaba de travada por sibilantes, o alteamento da vogal anterior encontra-se em variação estável com tendência à propagação. Os falantes da década de 1970 (80,3% / 0.759) foram os que mais realizaram o alteamento da vogal

220 220 anterior, seguidos dos falantes da década de 2010 (76,6% / 0.467) e dos falantes da década de 1990 (68,7% / 0.265). (iii) No contexto de sílaba travada por nasal, verificou-se que o alteamento da vogal anterior se encontra em propagação. Os falantes da década de 2010 (54,80% / 0.675) foram as que mais altearam a vogal anterior, em seguida os da década de 1990 (51,2% / 0.433) e, por último, as da década de 1970 (35,1% / 0.387). Em relação às vogais médias posteriores, a variável Década foi selecionada como condicionadora apenas para o contexto de sílaba livre. No entanto, a partir dos resultados percentuais da variável Década, realizou-se um estudo de tempo real de curta duração das vogais médias posteriores, considerando as décadas de 1970, 1990 e A partir dos percentuais, observou-se que: (i) Em contexto de sílaba livre, o alteamento encontra-se em recuo. Os falantes da década de 1970 (31,1% ) foram os que mais realizaram o alteamento da vogal posterior, seguido dos falantes da década de 1990 (18,8% ) e dos falantes da década de 70 (11,1% ). (ii) Apesar do baixíssimo número de dados, em contexto de sílaba travada por sibilante, o alteamento da posterior se encontra em variação estável com tendência à propagação. Os falantes da década de 2010 (35,71%) foram os que mais realizaram o alteamento, seguidos dos falantes da década de 1970 (33,3%) e dos falantes da década de 1990 (20%); (iii) Em contexto de sílaba travada por nasal, os resultados percentuais da variável Década indicaram que o fenômeno de alteamento da vogal posterior encontra-se em variação estável com tendência ao recuo. Os falantes da década de 1990 (21,05%) foram os que mais realizaram o alteamento das vogais posteriores, seguido dos falantes da década de 2010 (21,05%) e dos falantes da década de 1970 (16,46%). (iv) No contexto de sílaba travada por rótico, os percentuais indicaram que o alteamento da vogal posterior se encontra em recuo. Os falantes da década de 1970 (26,56%) foram os que mais realizaram o alteamento, seguido dos falantes da década de 1990 (15,63%) e dos falantes da década de 2010 (11,63%).

221 221 Comparando os resultados do estudo de tempo real de curta duração da vogal anterior com o da vogal posterior, é possível afirmar que: (a) em contexto de sílaba livre, o fenômeno do alteamento tanto na vogal anterior quanto na vogal posterior encontra-se em recuo; (b) em contexto de sílaba travada por sibilante, verifica-se estabilidade no processo de alteamento das vogais anterior e posterior; (c) em contexto de sílaba travada por nasal, o alteamento da vogal anterior está em propagação enquanto alçamento da posterior apresenta-se em variação estável com tendência ao desuso, e (d) em contexto de sílaba travada por /R/, na vogal anterior, o alteamento realizou-se em apenas dois vocábulos, e na vogal posterior, o fenômeno encontrase em recuo. Os pesquisadores apresentam opiniões divergentes quando observam se o fenômeno do alteamento é ou não estigmatizado. Alguns autores acreditam que o fenômeno não é estigmatizado, pois o alteamento se realiza tanto na fala popular quanto na culta (Cf. CALLOU & LEITE, 2005). Entretanto, outros autores, como Viegas (1987) acreditam que o alçamento é um fenômeno estigmatizado. Partindo-se da hipótese de Labov (2008) que propõe que estudos de Crenças e Atitudes podem contribuir com a análise dos fatores sociais, uniram-se esses dois conhecimentos para analisar a avaliação dos informantes em relação ao alteamento das vogais médias pretônicas. No estudo Sociolinguístico, as variáveis extralinguísticas (sexo/gênero, faixa etária, década, escolaridade etc.) têm como principal objetivo observar como uma comunidade linguística realiza, produz e avalia (em alguma medida) um fenômeno linguístico. Por meio das variáveis extralinguísticas e a comunidade a ser estudada, é possível observar a avaliação dos informantes acerca dos fenômenos linguísticos. No entanto, como afirma Labov (2008: 174) muitas vezes é difícil observar a avaliação, o julgamento dos usuários da língua somente pelas variáveis extralinguísticas, já que muitas vezes o fenômeno encontra-se abaixo do nível de percepção do consciente, por isso defende-se a importância de conciliar os estudos da Sociolinguística, das variáveis linguísticas e extralinguísticas, com os estudos de Crenças e a Atitudes. Com estes dois estudos é possível verificar como um fenômeno linguístico ocorre / é avaliado / é julgado / é visto em uma (ou mais) comunidade (s). A leitura foi a primeira técnica adotada nos testes de crenças e atitudes. O objetivo era observar se todos os informantes realizavam o alteamento das vogais pretônicas. Foi possível verificar que todos os informantes realizaram o alteamento. Tal observação é importante, pois se verificou, a partir do questionário fechado, do questionário fechado avaliativo e da entrevista que o informante não tem consciência de que realiza o alteamento, uma vez que muitos informantes julgam negativamente a pessoa que produz o fenômeno.

222 222 Nos estudos Crenças e Atitude, observou-se que tanto as mulheres quantos os homens apresentam avaliações negativas ao falante que realiza o alteamento das vogais pretônicas. Nas três técnicas empregadas (questionário fechado, questionário fechado avaliativo e entrevistas), tanto homens quanto mulheres apresentaram algumas avaliações negativas. Por exemplo: (i) As mulheres atribuíram uma menor escolaridade à pessoa que realizou as vogais alteadas e uma maior escolaridade à pessoa que não produziu o alteamento. Tal atribuição pode estar relacionada ao fato de as mulheres acreditarem que o alteamento é um desvio da norma culta, por isso afirmam que uma pessoa de baixa escolaridade realiza o alteamento, ao passo que uma pessoa de alta escolaridade não produz o fenômeno. (ii) No questionário avaliativo, um maior número de homens atribuiu avaliações negativas ao falante que realiza o alteamento das vogais pretônicas. (iii) Na entrevista, de um total e 10 homens, 8 disseram que não realizavam o alteamento das vogais pretônicas provavelmente por considerar que o alteamento se trata de um erro linguístico. No entanto, a pesquisadora observou tanto na leitura do texto quanto na leitura que os informantes realizaram o alteamento. No estudo de tempo real de curta duração, verificou-se que foram as mulheres que mais realizaram o alteamento das vogais anteriores em contexto de sílaba livre e em contexto de sílaba travada por /S/. Nos testes de Crenças e Atitudes tanto as mulheres quanto os homens apresentaram avaliações negativas ao falante que produz o alteamento. Os resultados da variável Sexo/Gênero no Estudo de Tempo Real de Curta Duração e resultado do estudo de Crenças e Atitudes revelam que diferentes fenômenos linguísticos em diferentes comunidades linguísticas apresentam resultados também diferentes (LUCCHESI, 2012). Por isso, não se pode, sem analisar como é visto o fenômeno pela comunidade, repetir predições feitas em estudos linguísticos (LABOV, 1972). Em relação à presente pesquisa, o que se pode dizer acerca da avaliação do alteamento pretônico é que, em alguma medida, homens e mulheres avaliam o usuário que utiliza a variante alta, a depender do que está em jogo: a competência, a atratividade social ou a integridade do falante. Isso se deve ao fato de o alteamento ser um fenômeno não marcado, abaixo do nível da consciência do indivíduo produzido por falantes escolarizado e não escolarizados. Logo,

223 223 antes de generalizar resultados de estudos anteriores, os pesquisadores têm que observar, analisar o fenômeno e aspecto social da comunidade em que o fenômeno está sendo analisado. Labov (2008: 360) classifica como Indicadores, Marcadores e Estereótipos os diversos elementos envolvidos na mudança linguística segundo o tipo de avaliação social que eles recebem. A partir dos testes de crenças e atitudes, verificou-se que o alteamento está entre um indicador e um marcador. Pode-se caracterizar o alteamento como Indicador, pois se trata de um fenômeno não marcado socialmente, sua mudança ocorre de baixo para cima, ou seja, as pessoas não têm consciência do fenômeno linguístico em variação, no caso, a variação entre as vogais médias fechadas [e, o] e as vogais altas [i, u]. No entanto, é possível também classificar o alteamento como Marcador, pois embora possa estar abaixo do nível da consciência o falante produz respostas regulares de avaliação negativa em teste de reação subjetiva acerca do fenômeno. Nos testes, questionário fechado e questionário fechado avaliativo, observou-se que os informantes tendem a avaliar mais negativamente o aspecto Competência do falante que produz o alteamento, cujas frases incitam o julgador a avaliar a inteligência, a escolaridade, a profissão do falante usuário da variante alta. Os resultados dos testes mostram que muitos informantes talvez entendam o fenômeno linguístico do alteamento como um erro linguístico e um desvio da norma culta, por isso avaliam negativamente o falante que produz o fenômeno, afirmando que: (i) o alteamento ocorre com maior frequência na fala nordestina; (ii) são as pessoas mais velhas que realizam o alteamento; (iii) as pessoas de menor escolaridade realizam o alteamento das vogais pretônicas; (iv) as pessoas de profissão menos prestigiosa são as que realizam o alteamento; (vi) o alteamento só pode ser utilizado em situações informais, e (vi) as pessoas que realizam o alteamento sofrem preconceito linguístico. Já respostas como (i) a pessoa que produz o alteamento é feia e (ii) a pessoa que realiza o alteamento é antipática enunciam que o falante pode ter sua aparência (atratividade social) marcada, segundo a maneira que fala. É necessário esclarecer que o fenômeno do alteamento pretônico se encontra em variação na língua portuguesa do Brasil, isto é, na fala de todas as variedades brasileiras: as pessoas ora utilizam as vogais médias fechadas [e, o] ora utilizam as vogais altas [i, u]. Esta variação não constitui em um erro linguístico, mas uma manifestação da língua permitida pelo sistema linguístico. Como afirma Faraco (2008 apud BAGNO 2009):

224 224 Obviamente, ninguém é obrigado a adotar as inovações. Qualquer um de nós pode perfeitamente ser mais conservador em matéria de língua. Mas o fato de ter uma atitude mais conservadora não lhe dá o direito de condenar os que usam as formas inovadoras, em especial se elas estão corretas entre os falantes letrados em situações mais monitoradas de fala e escrita (...). O falante mais conservador pode perfeitamente aconselhar, sugerir, recomendar o uso mais clássico. Está no seu direito. Mas, se na forma culta / comum / standard já circulam outras formas, esse falante não tem o direito de condenar os que as usam. Antes cabe maravilhar-se com a beleza da dinâmica da língua que muda continuamente sem jamais perder sua plenitude estrutural e seu potencial semiótico. Somente com o estudo Sociolinguístico das variáveis sociais e extralinguísticas não seria possível fazer uma análise tão minuciosas de como as pessoas observam, analisam e avaliam o fenômeno do alteamento. Por isso, destaca-se mais uma vez a importância de conciliar a metodologia da Sociolinguística com o estudo de Crenças e atitudes, as junções dessas duas metodologias contribuem com a análise social do fenômeno linguístico a ser analisado. Nesta dissertação, comprova-se que a estrutura silábica é um contexto importantíssimo para o alteamento das vogais pretônicas, pois o alteamento ocorre mais em umas estruturas e menos em outras. Além disso, a partir do estudo de tempo real de curta duração e a depender da estrutura silábica, o fenômeno pode estar mais ou menos avançado, observando-se ainda que, de um modo geral, a tendência à manutenção das médio-altas [e] e [o] se evidencie. Destaque-se, ainda, que são poucos os trabalhos que utilizam essas duas metodologias na análise de um fenômeno fonético. Assim, a avaliação social do alteamento pretônico contribui para a análise do status do fenômeno e, espera-se, incentiva a que outros estudos sobre avaliação sejam realizados, contemplando fenômenos de diferentes níveis da língua.

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232 232 ANEXOS Anexo 1: Termo de Consentimento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Letras Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas TERMO DE CONSENTIMENTO Prezado participante, Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa de Comportamento Social e Usos Linguísticos, desenvolvida por Silvia Carolina Gomes de Souza, discente de Mestrado do curso de Língua Portuguesa, registrado na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob o no A pesquisa se desenvolve sob a orientação da Professora Dra. Eliete Figueira Batista da Silveira, do Setor de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas, SIAPE nº Sua participação é voluntária, seu nome e informações pessoais não serão divulgados, sendolhe garantido o sigilo. Nesse sentido, qualquer dado que possa identificá-lo(a) será omitido na divulgação dos resultados da pesquisa. Além disso, você terá plena autonomia para decidir se quer ou não participar; no entanto, sua colaboração é muito importante para a execução da pesquisa. A sua participação consistirá em responder perguntas de um roteiro de entrevista/questionário à pesquisadora do projeto. Os resultados serão divulgados em palestras, relatórios individuais, artigos científicos e dissertações e teses. Desde já agradeço sua disponibilidade em participar da pesquisa. Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo em participar.

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