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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro O ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU: ANÁLISES SOCIOLINGUÍSTICA E ACÚSTICA Anna Carolina da Costa Avelheda Rio de Janeiro Março de 2013

2 2 UFRJ O ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU: ANÁLISES SOCIOLINGUÍSTICA E ACÚSTICA Anna Carolina da Costa Avelheda Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Eliete Figueira Batista da Silveira Rio de Janeiro Março de 2013

3 3 O ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU: ANÁLISES SOCIOLINGUÍSTICA E ACÚSTICA Anna Carolina da Costa Avelheda Orientador: Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: Presidente, Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira Professora Doutora Maria Jussara Abraçado de Almeida UFF Professora Doutora Mônica Tavares Orsini UFRJ Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra Suplente Professora Doutora Christina Abreu Gomes Suplente Rio de Janeiro Março de 2013

4 4 Avelheda, Anna Carolina da Costa. O alteamento das vogais médias pretônicas no município de Nova Iguaçu: análises sociolinguística e acústica / Anna Carolina da Costa Avelheda. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, ccxxvi, 226f.; il.; 30 cm. Orientador: Eliete Figueira Batista da Silveira Dissertação (Mestrado) UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós- Graduação em Letras Vernáculas, Referências Bibliográficas: p Sociolinguística. 2. Vogais. 3. Pretônicas. 4. Alteamento. 5. Harmonia Vocálica. 6. Análise Acústica. 7. Análise Lexical. I. Batista da Silveira, Eliete Figueira. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. O alteamento das vogais médias pretônicas no município de Nova Iguaçu: análises sociolinguística e acústica.

5 É melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a esperança; é melhor buscar refúgio no Senhor do que contar com os poderosos deste mundo (Salmo 117, 8-9). 5

6 Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, a confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço (1Tm 1, 12). 6

7 7 Aos meus pais, Paulo e Fátima Aos avós, Lúcia, Luiz e Antônio (in memoriam) Alzira À minha irmã, Anna Clara À minha Família, sempre presente. Ao André, meu companheiro.

8 8 Eu quero te agradecer... Ao Deus Pai, Bom, Justo e Fiel, graças e louvores se deem a todo o momento, porque muita gente considera-me um prodígio, mas sois vós o meu auxílio poderoso (Salmo 70, 7). Sem Seu auxílio, não teria chegado aonde cheguei, não teria sido capaz de ir tão longe. Quando paro para refletir a respeito de minha vida, dou-me conta do quanto necessito agradecer e louvar a Deus por tudo o que tenho. Tudo o que alcancei foi graças a Seu auxílio, proteção e graça. À Nossa Senhora, Mãe a quem entreguei o meu anseio de entrar para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e para o Mestrado em Língua Portuguesa À minha família, meu chão, meu porto seguro, por ter acreditado e investido em mim, por me ter apoiado para que eu realizasse cada um dos meus sonhos, pelas muitas vezes em que aceitou renunciar à minha presença quando havia muita coisa a ser feita. A meu pai, grande patrocinador de sonhos e de esperança, por ter me encorajado sempre, por ter sempre palavras de incentivo e por tentar amenizar os meus maiores desesperos. À minha mãe, ombro amigo e acolhedor que me escutava nos momentos de angústia, que sempre sabia como levantar o meu astral e se doou sem limites para que eu chegasse aonde cheguei. À minha irmã, minha pequeninha, que já está da minha altura, pela paciência e por cotidianamente me fazer gargalhar, mesmo sem saber o porquê, nos momentos em que batia a vontade de chorar. À minha avó Alzira, portuguesa do meu coração, por todos os anos de dedicação, desde a minha infância, pelas orações a cada prova que eu prestava, pela compreensão e pela preocupação em diversos momentos, pelo carinho que me cedeu a seu jeito. À minha madrinha Cecília, pela torcida e pela comemoração, pela presença nos momentos importantes, pelo carinho e pela compreensão dos meus sumiços. À minha prima Luciana e à minha Tia Aninha, pelos passeios divertidos que me proporcionaram, pela torcida incansável e por toda a ajuda que me deram. À Tia Aninha, especialmente, pelas promessas feitas à Nossa Senhora Aparecida em prol de minha aprovação. À Lu, minha primadrinha, pelas dicas imprescindíveis, pela paciência para ouvir minhas constantes crises, pelo incentivo constante e pela companhia agradável. E ao padrinho Arthur, que me deixou boas recordações e sempre estará em meu coração. À minha Grande Família, mais distante geograficamente do que os acima mencionados, mas igualmente importantes: primos Ana Paula e César, que me presentearam com flores quando souberam da minha aprovação, Rodrigo, Alessandra, Ana Clara e Lucas, Alexia e Eduardo, Tia Lourdes; primos Karina e Rafael, Tia Fátima Rocha e Tio Paulinho; Tia Mariê. Aos meus avós paternos, Lúcia Cunha e Luiz Lopes, à Tia Alzira

9 9 do Grajaú, aos Tios José e José Peta, que não estão presentes nesse momento, mas têm um papel especialíssimo e lugar cativo em meu coração. Ao mais recente membro da família: André Alves Bandeira. Quando adolescente, costumava dizer às amigas, utilizando-me de um trecho de música da cantora Ana Carolina: Não vou viver como alguém que só espera um novo amor; há outras coisas no caminho onde eu vou. Sempre acreditei que as coisas aconteciam no tempo certo e que, quando fosse a hora prevista por Deus para que eu conhecesse um namorado, isso iria acontecer independentemente de onde eu estivesse, do que estivesse fazendo: "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3, 1). E assim se fez: conheci essa pessoa especial, que me compreende, me incentiva, acredita e investe em meu potencial. Aos amigos Karine Lourenço, Ana Beatriz, Mayko Sotero, Andressa Siciliano, Ana Carolina Policicchio e Debora Cascaes, por terem me ensinado a crescer e a compartilhar a vida com outras pessoas, quando ainda éramos milho e pipoca. À amiga Sarah Korn, que me fez ver que a distância nunca é suficientemente forte para acabar com uma amizade de infância bem consolidada. À amiga Taynara Leal, que se tornou uma excelente companheira para meus poucos momentos livres. Às amigas Jackie, Dodô e Tia Inês, pela torcida durante todos os anos de minha vida, pela presença sempre constante e pelo apoio nos momentos decisivos. E à Vó Almerinda, que não estava aqui para presenciar esse momento, mas certamente intercedia para que tudo desse certo. Aos amigos que a Faculdade de Letras me trouxe: André Luís Uzêda, Guilherme Gonçalves, Aline Lanzilotta, Katharine Freitas, Arthur Melo, Thiago Motta, Rony Ron- Rén e João Carlos Tavares pela companhia e por compartilharem comigo muitos temores durante a Graduação. À amiga Fabiana Gonçalo, dupla imbatível que está comigo desde os primórdios até hoje em dia, por ter tornado mais coloridos e suportáveis os meus dias, por tudo o que passamos juntas, pela companhia sempre indispensável e pelo nosso sofrimento no período de estudos para o Mestrado, do qual sempre tirávamos bons motivos para gargalhadas. A Silvia Carolina e a Ana Inês, pela companhia nas matérias da Faculdade de Educação, pela sensibilidade, pela dedicação e compreensão, pela paciência em me ouvir falar de curiosos dados de alteamento, pelos desabafos, pelas confidências e pelas gargalhadas que me proporcionaram. Às mais recentes, Fernanda Delgado e Mariana Negreiros, pela presença e pela disponibilidade em acompanhar os últimos detalhes da confecção deste trabalho. Ambas entraram em minha vida por meio do Grupo de Pesquisa, mas a Amizade veio a nascer devido a outros fatores que, se formos pensar bem, desconhecemos.

10 10 A Olívia Mello Alves e a Cristina Márcia, pela força e pelas conversas de fim de período, pelo incentivo, por todo o auxílio que me deram e pelas dicas de especialistas. Aos amigos Hugo Ornellas e Patrícia Noro, monitores-organizadores que comigo compuseram a trupe dos Três Mosqueteiros Incansáveis do XV Congresso da Associação de Estudos Linguísticos do Rio de Janeiro (ASSEL-Rio), pela afinidade alcançada desde os primeiros dias de trabalho conjunto, pela dedicação e pela seriedade na condução de tão grande responsabilidade, pela diversão e pelas conversas. À amiga Mariana Quintanilha, pelo auxílio com o Abstract desta Dissertação. Às amigas Aline Areas e Olivia Mosqueira, pelo incentivo durante boa parte dessa empreitada, que jamais poderia ser esquecido. Aos amigos pela Fé, que comprovam que uma amizade recente, estando fundamentada em Deus, torna-se mais firme do que uma que há muitos anos existe: Carla Trindade, Jorge Souza, Anderson Dias, Sheila Queiroga, Amanda Vianna, Vinicius Paula, Adlane Barbato, Ana Barbato Perez, Adriana Barbato, Marcela Sant Ana, Barbara Nunes, Eduardo Gribel, Solange Gribel, Nadir Medeiros, Lucilene Vieira, Carlos Bruno Queiroga, Marco Antônio, por terem compartilhado comigo os momentos finais desta Jornada, rezando para que tudo corresse bem. Às tias Ana Paula, Zulmira, Fátima, Silena e Luciana, que fizeram minha iniciação ao maravilhoso mundo da Educação, deixando-me desde cedo encantada com a arte de ensinar, aprender e fazer aprender coisas de tão grande valor, riqueza e importância. Às professoras Priscilla Mouta, Denise Magalhães, Rosana Tadeu, Flávia Ésper e Valéria Antunes, que me mostraram os encantos da Língua Portuguesa e da Literatura e me cativaram com o amor que demonstravam pelo magistério. Aos professores Richard Zimmerman, Maria Tereza Pimenta, Glória Regina Fonseca, Caterina Rizzo e Jorge Alexandre, pelo carinho que me dispensaram e pela relação de Amizade que permitiram que se estabelecesse. À professora Ana Crélia Dias, que fez renascer em mim a confiança na Educação e me fez lembrar que foi pelo Magistério que escolhi a Faculdade de Letras, e tudo o mais veio apenas em acréscimo a esse pilar fundamental. A todos os professores que, durante a Graduação, reanimaram em mim o amor pela Literatura: em especial, Antonio Carlos Secchin, Mônica Fagundes, Maluh Guimarães, Mônica Figueiredo, Teresa Cerdeira, Eduardo Coutinho, Anélia Pietrani. À professora Eliana Barbosa, supervisora do meu estágio na Escola Municipal Luiz César Sayão Garcez, por ter me mostrado que é necessário amar para que se possa lecionar: é preciso ter amor ao próximo, à educação, a si mesmo e à profissão. Pela acolhida e pela confiança, pela troca de conhecimentos, pelo carinho e pela admiração gratuitos, por ter feito valer a pena o meu estágio obrigatório.

11 11 Às professoras Célia Lopes, Violeta Rodrigues e Regina Gomes, que compuseram a banca do processo de seleção para o Mestrado, pelas sugestões durante a arguição, que contribuíram para a reformulação da pesquisa. Aos professores Afrânio Barbosa, Dinah Callou, Maria Lúcia Leitão, Carlos Alexandre, Marcia Machado, Silvia Rodrigues, Cláudia Cunha e Carolina Serra, por terem feito parte da minha formação e contribuído para o meu crescimento como aluna. Às professoras Eliete Silveira, Marcia Machado, Regina Gomes e Leonor Werneck, pelo grande aprendizado que me proporcionaram ao me darem a oportunidade de participar da organização do XV Congresso da ASSEL-Rio. Graças a elas, hoje sei que é necessário estabelecer um grupo de amigos que seja também um grupo de trabalho bem sintonizado, a fim de se poder encarar tudo com o humor que quebra o estresse da responsabilidade. Por fim, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão brasileiro de fomento à pesquisa que, por custear os meus estudos, possibilitou a realização de um grande sonho da minha vida profissional. Agradecimento Especial À minha digníssima orientadora, Eliete Silveira, pela confiança em mim depositada durante todos esses anos de convivência, pelos sábios conselhos e pelos sempre pertinentes comentários. Mais que uma professora: uma amiga de coração, sempre presente, um exemplo de profissional a se seguir, uma mãe acadêmica, que me adotou desde os princípios do caminho do ensino superior. Sempre ouvi dizer que o caminho era árduo demais para ser percorrido sozinho e eu tive a sorte de receber de Deus uma pessoa como você: dedicada, porque tem um ânimo indescritível para orientar as mais diversas situações, amiga, porque está sempre disposta a ouvir e aconselhar, e aventureira, porque se dispôs a investir em mim ao me chamar, quando ainda no segundo período, crua que eu estava, para ser sua orientanda. Quando eu já não aguentava mais ler a respeito do mesmo tema, a certeza de que estava comigo, trabalhando igual e arduamente o mesmo assunto, me ajudava a tomar coragem e seguir adiante. Quando eu já não sabia se queria que chegasse logo a Defesa ou se preferia voltar no tempo para poder fazer tudo o que gostaria de ter feito, a certeza de que estávamos, juntas, fazendo o mais possível para que o trabalho ficasse bem "amarrado", como você sempre me disse, fazia com que eu perdesse o medo e continuasse o trabalho!

12 12 Resumo O alteamento das vogais médias pretônicas no município de Nova Iguaçu: análises sociolinguística e acústica Resumo da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Esta dissertação analisa o processo de alteamento das vogais médias pretônicas, que vem sendo amplamente considerado na literatura linguística. Conhecendo-se a possibilidade de alteamento, objetiva-se descrever o comportamento dessas vogais, sejam anteriores ou posteriores, seguidas ou não por um segmento em posição de coda silábica, com vistas a verificar que condicionamentos favorecem a aplicação da regra. A hipótese é a de que o processo esteja condicionado lexical e foneticamente, visto que há palavras que possuem contexto fonético favorecedor, mas nunca são atingidas pelo fenômeno. Utiliza-se um corpus constituído por inquéritos do tipo DID (diálogo entre informante e documentador). As entrevistas foram realizadas no município de Nova Iguaçu, as análises são norteadas pelos pressupostos teóricos da Sociolinguística variacionista de orientação laboviana (LABOV, 1994) e os dados são submetidos ao programa variacionista GOLDVARB X, a fim de conhecer possíveis condicionamentos para cada realização da vogal. Os resultados demonstraram que as pretônicas anteriores são mais suscetíveis de alteamento do que as posteriores. Deparando-se com realizações que dificultaram a identificação da variante concretizada, não sendo possível classificá-la como alteada ou média, e com dados que apresentaram especialização semântica, a análise sociolinguística foi complementada por uma análise acústica que e por uma análise lexical. Pela acústica, através da medição das frequências formânticas no programa computacional PRAAT, busca-se oferecer meios de compreensão do fenômeno de alteamento; pela análise lexical, pretende-se verificar a que significados está vinculado o processo de alteamento. Os resultados puderam comprovar que os dados que dificultam o desenvolvimento de uma análise mais pontual do processo se concretizam por uma variante enquadrada em espaço intermediário do espectro acústico, configurando casos em vias de alteamento. Quanto à especialização semântica, o alçamento parece estar relacionado ao desprestígio do significado veiculado. Palavras-chave: Alteamento; vogais médias; sociolinguística variacionista; análise acústica; especialização semântica.

13 13 Abstract The raising of pretonic mid vowels in the municipality of Nova Iguaçu: sociolinguistic and acoustic analysis Abstract da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). This essay analyses the process of raising in the pretonic mid vowels, which has been widely considered in linguistic literature. Once the possibility of increasing is known, the objective is to describe the behavior of these vowels, either front ones or back ones, followed or not by a segment in position of syllabic coda, in order to verify which constraints that favor the application of the rule. The hypothesis is that the process is conditioned lexically and phonetically, since there are words that have a favorable phonetic context flattering, but are never affected by the phenomenon. The corpus consists by interviews of the DID type (dialogue between informant and documentation writer). The interviews were conducted in the municipality of Nova Iguaçu, the analyses are guided by the theoretical assumptions of the sociolinguistics variationist guidance labovian (LABOV, 1994) and the data is submitted to the program variationist GOLDVARB X, to ascertain possible realization of constraints for each vowel. Faced with achievements that have hampered the identification of variant implemented, it is not possible to classify it as high or medium, and data that were specialized semantics, sociolinguistic analysis was complemented by an analysis of acoustic and lexical analysis. For acoustics, by measuring the frequencies of formants in the computer program PRAAT, it intends to offer ways of understanding the phenomenon of increasing height of mid vowels; lexical analysis intends to verify that the process is bound meanings of increasing height. The results could prove that the data that hinder the development of a more precise analysis of the process are realized by a variant fitted into the space between acoustic spectrum, configuring cases in the process of increasing height. As for specialization semantics, the raising seems to be related to discredit the meaning conveyed. Keywords: Raising, mid vowels, variationist sociolinguistics, acoustic analysis, semantic specialization.

14 14 SINOPSE Análise das vogais médias pretônicas segundo os pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista de orientação laboviana. Estudo de amostra sociolinguisticamente estratificada em três faixas etárias, com informantes do sexo masculino e feminino, detentores de níveis fundamental, médio ou superior de escolaridade. Atuação dos condicionamentos de ordem neogramática e difusionista. Utilização de pressupostos teóricos da Fonética Acústica para análise de contextos duvidosos. Análise de casos de especialização semântica.

15 15 SUMÁRIO Índice de Figuras, Gráficos e Tabelas REVISITANDO O PROCESSO DE ALTEAMENTO: PROBLEMAS E ABORDAGENS O VOCALISMO PORTUGUÊS NA LITERATURA LINGUÍSTICA As Vogais Cardeais O sistema vocálico do Português Brasileiro A questão das vogais nasais O ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA LITERATURA Propostas para análise do fenômeno Os fatores condicionantes do fenômeno Outros olhares sobre o processo de alteamento Análise Acústica Análise Lexical O TRATAMENTO DA LÍNGUA: ABORDAGENS PRÉ- E PÓS-SAUSSURIANAS Sociolinguística Variacionista: o espaço da heterogeneidade Abordagens da mudança sonora Os Neogramáticos e a analogia Os Difusionistas e o léxico Resolvendo a controvérsia Outro olhar sobre o processo de alteamento: aspectos da análise acústica PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Etapas da análise sociolinguística Os fatores condicionantes Variáveis estruturais Vogal da sílaba subsequente à da pretônica-alvo Qualidade da vogal-alvo quanto ao papel das cordas vocais Contexto fonológico adjacente Estrutura silábica Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Localização da vogal-alvo no vocábulo Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Estatuto gramatical do vocábulo Variáveis sociais Faixa etária do informante Grau de escolaridade Gênero do informante Procedimentos metodológicos da análise acústica Procedimentos metodológicos da análise lexical... 89

16 16 6 RESULTADOS Pretônicas anteriores Sílabas livres Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Localização morfológica da pretônica Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Ponto de articulação da consoante precedente Faixa etária do informante Classe gramatical Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Vogais pretônicas em contexto de hiato Ponto de articulação da consoante precedente Vogal presente na sílaba seguinte Vogais pretônicas travadas por consoante nasal /N/ Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Ponto de articulação da consoante precedente Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Grau de escolaridade Classe gramatical Localização morfológica da pretônica Faixa etária do informante Vogais pretônicas travadas por consoante vibrante /R/ Vogais pretônicas travadas por consoante sibilante /S/ Ponto de articulação da consoante precedente Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Classe gramatical Localização morfológica da pretônica Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Faixa etária do informante Conclusões parciais Pretônicas posteriores Sílabas livres Ponto de articulação da consoante precedente Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Classe gramatical Grau de escolaridade Faixa etária do informante Vogais pretônicas em contexto de hiato Vogal presente na sílaba seguinte Gênero do informante Ponto de articulação da consoante precedente Vogais pretônicas travadas por consoante nasal /N/ Grau de escolaridade Faixa etária do informante Gênero do informante

17 Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Ponto de articulação da consoante precedente Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Vogais pretônicas travadas por consoante vibrante /R/ Vogais pretônicas travadas por consoante sibilante /S/ Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Classe gramatical Ponto de articulação da consoante precedente Conclusões parciais Resultados da análise acústica das vogais pretônicas Um olhar lexical para o processo de alteamento: especialização semântica CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

18 18 Índice de Figuras, Gráficos e Tabelas Figuras Figura 1: Quadro vocálico do Português Brasileiro em sílaba tônica Figura 2: Continuum de alteamento das vogais médias pretônicas anteriores Figura 3: Continuum de alteamento das vogais médias pretônicas posteriores Figura 4: Diagrama vocálico utilizado pelo IPA Gráficos Gráfico 1: Distribuição no corpus das pretônicas anteriores em contexto de sílaba livre Gráfico 2: Distribuição no corpus das vogais anteriores em contexto de sílaba livre após a exclusão de dados Gráfico 3: Distribuição percentual do alteamento por faixa etária do informante Gráfico 4: Distribuição no corpus das vogais anteriores em contexto de hiato Gráfico 5: Distribuiçao no corpus das vogais anteriores travadas por consoante nasal Gráfico 6: Distribuição percentual do alteamento por faixa etária em Nova Iguaçu, São Fidélis e Rio de Janeiro Gráfico 7: Distribuição no corpus das vogais anteriores travadas por consoante vibrante Gráfico 8: Distribuição no corpus das vogais anteriores travadas por consoante sibilante Gráfico 9: Distribuiçao percentual do alteamento por faixa etária do informante Gráfico 10: Distribuição no corpus das pretônicas anteriores Gráfico 11: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores em contexto de sílaba livre Gráfico 12: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores em contexto de hiato Gráfico 13: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores travadas por consoante nasal Gráfico 14: Distribuição no corpus das pretônicas travadas por consoante vibrante Gráfico 15: Distribuição no corpus das vogais posteriores travadas por consoante sibilante

19 19 Gráfico 16: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores Gráfico 17: Distribuição dos valores formânticos das vogais pretônicas Gráfico 18: Distribuição vocálica em Nova Iguaçu e no Rio de Janeiro (MACHADO, 2010) Gráfico 19: Distribuição vocálica em Nova Iguaçu Tabelas Tabela 1: Valor médio de F1 e F2 para as Vogais Cardeais Tabela 2: Vocábulos do corpus para análise acústica vogais anteriores Tabela 3: Vocábulos do corpus para análise acústica vogais posteriores Tabela 4: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 5: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tabela 6: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Tabela 7: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Tabela 8: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 9: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Tabela 10: Resultados obtidos para a variável classe gramatical do vocábulo Tabela 11: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Classe gramatical do vocábulo Tabela 12: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Tabela 13: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 14: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores em contexto de hiato Tabela 15: Resultados obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 16: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte

20 20 Tabela 17: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Tabela 18: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Natureza da atonicidade da pretônica Tabela 19: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 20: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tabela 21: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Tabela 22: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Tabela 23: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Tabela 24: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Classe gramatical Tabela 25: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Tabela 26: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores alteadas em contexto de travamento por consoante nasal Tabela 27: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Tabela 28: Resultados obtidos para a variável faixa etária (AVELHEDA & BATISTA DA SILVEIRA, 2011b) Tabela 29: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores travadas por consoante vibrante Tabela 30: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 31: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 32: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Tabela 33: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Tabela 34: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Classe gramatical Tabela 35: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Tabela 36: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente

21 21 Tabela 37: Cruzamento Ponto de articulação da consoante precedente vs. Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tabela 38: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Tabela 39: Resumo dos contextos favorecedores do alteamento de pretônicas anteriores Tabela 40: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 41: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 42: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tabela 43: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Tabela 44: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Tabela 45: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Tabela 46: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Tabela 47: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Tabela 48: Comportamento das vogais posteriores de acordo com a vogal da sílaba seguinte Tabela 49: Resultados obtidos para a variável vogal da sílaba seguinte Tabela 50: Resultados obtidos para a variável gênero do informante Tabela 51: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 52: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 53: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Tabela 54: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Tabela 55: Resultados obtidos para a variável gênero do informante Tabela 56: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Tabela 57: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação na consoante precedente

22 22 Tabela 58: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Tabela 59: Vocábulos no corpus pretônicas posteriores travadas por consoante vibrante Tabela 60: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Tabela 61: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tabela 62: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Tabela 63: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Tabela 64: Resumo dos contextos favorecedores do alteamento de pretônicas posteriores Tabela 65: Vogais anteriores para análise acústica e informações sociolinguísticas relevantes Tabela 66: Vogais posteriores para análise acústica e informações sociolinguísticas relevantes Tabela 67: Valor médio de F1 e F2 para as Vogais Cardeais Tabela 68: Valor médio de F1 e F2 segundo Machado (2010) Tabela 69: Valores de F1 e F2 de vogais pretônicas classificadas como alteadas Tabela 70: Valores de F1 e F2 de vogais pretônicas classificadas como não-alteadas Tabela 71: Análise comparativa dos valores de F1 e F2 casos alteados Tabela 71: Análise comparativa dos valores de F1 e F2 casos não-alteados Tabela 72: Valores de F1 e F2 de pretônicas altas subjacentes em Nova Iguaçu Tabela 73: Valores médios de F1 e F2 de vogais pretônicas de Nova Iguaçu

23 23 1 REVISITANDO O PROCESSO DE ALTEAMENTO: PROBLEMAS E ABORDAGENS Caracterizado pela elevação das vogais médias pretônicas, o processo de alteamento vem sendo muito estudado nas mais variadas regiões do território brasileiro. Viegas (1987; 2001) concentrou-se no dialeto de Belo Horizonte, Bisol (1981) dedicou-se ao dialeto gaúcho, Silva (2008) observou o comportamento das pretônicas em Recife, Callou (1986; 1991; 1995) focou o Rio de Janeiro, Brandão & Cruz (2005) analisaram falares dos Estados do Amazonas e do Pará. Além desses, inúmeros outros foram desenvolvidos levando em consideração cidades mais interioranas, com vistas a reconhecer se havia diferença de aplicação do processo na fala de informantes dos centros urbanos e na de informantes de regiões mais afastadas. Lemos (2003) dedicou-se a Divinópolis, cidade localizada a 110 Km de Belo Horizonte, Silveira & Tenani (2007) concentraram-se em dialeto do interior Paulista, Avelheda & Batista da Silveira (2011b) estudaram comparativamente os municípios do Rio de Janeiro e de São Fidélis. As pesquisas supracitadas costumam considerar o fenômeno de alteamento como um processo de harmonização vocálica, pelo qual a vogal pretônica assimila o traço de altura da vogal que se lhe segue, mas há autores que compreendem que não é apenas a vogal subsequente que exerce influência sobre a candidata à elevação, mas também as consoantes que lhe são adjacentes. Viegas (1987: 63) afirma que parecem ser dois processos diferentes controlando o alteamento: a harmonização vocálica, que atua mais fortemente no caso da vogal anterior, e o enfraquecimento da vogal por assimilação de traços consonantais adjacentes, que seria mais significativo entre as vogais posteriores. Outra observação a respeito dos contextos em que se encontra a pretônica é vista em Barroso (1999: 128), para quem o vocalismo pretônico tem de ser considerado individualmente, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre. O que determina, então, a aplicação da regra de alteamento: a vogal da sílaba seguinte ou as consoantes adjacentes à vogal média candidata à elevação? Sendo a vogal da sílaba seguinte, ela precisa ser tônica ou localizar-se em sílaba contígua à da pretônica sob análise? Sendo o contexto consonantal adjacente, que consoantes favorecem o alteamento e quais desfavorecem? Há diferenças entre os diferentes tipos de sílaba? Se sim, quais são os travamentos silábicos que mais favorecem a aplicação do processo de alteamento? Se não, por que tanto se insiste em que as diferentes estruturas silábicas sejam consideradas isoladamente?

24 24 Em contrapartida, análises pautadas em abordagem difusionista preveem que não é efetivamente o condicionamento fonético que prevalece, mas o condicionamento lexical, de modo que palavras mais frequentes, utilizadas em contextos menos formais de fala, seriam mais rapidamente alteadas. Diante disso, ainda que não seja possível esgotar uma questão há tanto persistente na literatura, a presente pesquisa vê-se instigada a observar qual é, afinal, o condicionamento que mais fortemente controla a aplicação do processo de alteamento: o lexical, fazendo com que as palavras sejam gradualmente atingidas, ou o fonético, que leva a serem atingidas concomitantemente todas as palavras que apresentem o mesmo contexto fonético. Sendo fonético o condicionamento, quais os ambientes favorecedores? Quais os ambientes desfavorecedores? Sendo lexical o condicionamento, quais as características das palavras primeiramente atingidas? Ainda no que diz respeito à atuação do condicionamento lexical, Labov (2008: 290) afirma que os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente têm o mesmo significado e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas. O processo de alteamento se prestaria à atribuição de significados diversos aos itens atingidos? Se sim, quais significados seriam introduzidos pela variante alteada em oposição contrastiva com a variante média? Se não, se não há mudança de significado a depender da variante utilizada, o que faz com que o informante ora opte pela variante alteada, ora prefira a variante média? Assim, encontrando-se dados alteados que se tenham especializado semanticamente com relação às realizações não-alteadas, empreendeu-se uma análise lexical, visando à verificação dos significados veiculados pelos que foram atingidos pelo processo e à análise do porquê de se ter escolhido, para expressão desse significado específico, a variante alteada em detrimento da variante médio-alta. A discussão não girará em torno de quais são os itens primeiramente atingidos e do porquê de o serem em detrimento de outros, mas se fundamentará na questão de o mesmo item ora ser atingido pelo processo expressando um significado jocoso, depreciativo, zombeteiro ou menos prestigiado, ora não o ser quando o significado a ser expresso é mais valorizado ou prestigiado socialmente. Tais observações serão baseadas em quatro casos de especialização semântica encontrados no corpus de Nova Iguaçu a saber, sentido, serviço, segurança e português. Objetivando contribuir para a solução dos problemas apontados, há muito observados nas mais diversas pesquisas a respeito do processo, o presente estudo pauta-se na sociolinguística variacionista de orientação laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006). Pretende-se, dessa forma, analisar a distribuição do processo em nível linguístico e

25 25 extralinguístico, a fim de verificar quais são os fatores que contribuem para a aplicação do processo de alteamento e quais são as variáveis que o inibem. Foram coletados dados de inquéritos de Nova Iguaçu, sendo um homem e uma mulher de cada faixa etária (18 a 35 anos; 36 a 55 anos; 56 a 75 anos), distribuídos pelos níveis fundamental, médio e superior de escolaridade. Em análise das pretônicas travadas por consoante nasal, Avelheda & Batista da Silveira (2011b) tiveram problemas em distinguir a variante concretizada em algumas palavras, não sendo possível classificá-la como alteada ou média. Acreditaram, portanto, tratar-se de uma variante que se localizava entre as duas, no meio do caminho, ocupando um lugar intermediário do espectro acústico. Durante a coleta de dados para a análise sociolinguística desta dissertação, também foram encontrados dados que se caracterizam essencialmente pelo fato de a variante por meio da qual se realiza a vogal média pretônica não ser, com base puramente em análise perceptiva, de fácil identificação. Decidiu-se, então, empreender uma análise acústica, que visa a verificar as diferenças entre pretônicas alteadas, não-alteadas e aquelas cuja variante não é facilmente identificável. Há realmente uma distinta distribuição dessas variantes? Do ponto de vista acústico, como se distribuem as vogais alteadas, comparativamente às vogais altas subjacentes: são mais altas e mais periféricas, como afirma Machado (2010) a respeito do Rio de Janeiro, ou são mais baixas e ligeiramente mais centralizadas, como afirma Orsini (1995) para a voz feminina no mesmo Município? Esta dissertação, para alcançar os objetivos apresentados, desenvolve-se em mais cinco capítulos. No primeiro capítulo, expõe-se a revisão de toda a literatura concernente ao sistema vocálico do português e ao processo de alteamento, desde as vogais cardeais até os aspectos lexicais que determinam quais os itens primeiramente atingidos pelo processo. No segundo, percorrem-se todas as vertentes de estudo da língua que antecedem o advento da sociolinguística variacionista de orientação laboviana, com vistas a identificar o lugar ocupado pela variação até que fosse reconhecida como um fato inerente ao sistema linguístico, e apresentam-se os pressupostos teóricos que nortearam a elaboração deste trabalho. No terceiro, expõe-se a metodologia utilizada no desenvolvimento das análises sociolinguística, desde a escolha da variável dependente ao estabelecimento das variáveis independentes, acústica e lexical propostas nesta pesquisa. No quarto capítulo, expõem-se os resultados obtidos em cada uma das etapas empreendidas para o estudo do alteamento no município de Nova Iguaçu. Por fim, apresentam-se as conclusões gerais a que foi possível chegar neste estudo.

26 26 2 O VOCALISMO PORTUGUÊS NA LITERATURA LINGUÍSTICA 2.1 As Vogais Cardeais Quando se abordam as vogais, logo se pensa no Método das Vogais Cardeais, ainda que sejam poucos os trabalhos que se destinem a explicitá-lo. Inicialmente proposta por A. J. Ellis, em 1844, a ideia de se desenvolver um sistema de pontos de referência para a classificação das vogais foi levada a cabo por Daniel Jones, que, no início do Século XX, apresentou o Método das Vogais Cardeais. Sendo o termo cardeal utilizado em analogia ao sistema de pontos geográficos, as vogais cardeais, conforme argumenta Jones (1980), permitem caracterizar qualquer segmento vocálico de qualquer língua. Segundo Abercrombie (1967: 151 apud CRISTÓFARO-SILVA, 1999: 81-2), as vogais cardeais (cf. Figura 4, p. 211) são um ponto de referência fixo e imutável estabelecido dentro do limite da área vocálica, ao qual qualquer outro som vocálico pode ser relacionado diretamente. A área vocálica dentro da qual se encontram as vogais cardeais compreende parte da cavidade bucal onde a língua assume diferentes posições na articulação das vogais sem causar fricção ou obstrução (CRISTÓFARO-SILVA, 1999: 82). Caracterizam-se de acordo com os seguintes critérios: (a) são de qualidade invariável e exatamente determinadas, o que significa dizer que cada vogal primária apresenta qualidade vocálica específica, ao contrário dos ditongos, por exemplo, em que há mudança contínua e gradual de qualidade no percurso de uma vogal a outra; (b) são selecionadas arbitrariamente, tratando-se de um recurso descritivo, não de algo que necessariamente ocorra em alguma língua; (c) são vogais periféricas, visto que o ponto mais alto da língua para cada uma delas ocorre nos limites extremos da área vocálica; (d) são auditivamente equidistantes; e (e) são em número de oito vogais cardeais primárias, às quais se somam quatorze vogais cardeais secundárias. A descrição das vogais do Português ou de qualquer outra língua tomará como referência os pontos correspondentes às vogais cardeais, estabelecidos com base em parâmetros auditivos que caracterizam uma vogal dentro da já mencionada área vocálica. Por meio deste método, é possível identificar os parâmetros articulatórios utilizados na descrição das vogais de uma língua específica: altura, posição da língua e arredondamento dos lábios, sendo que este só passa a ser esquematizado posteriormente, a partir da sugestão de Ladefoged & Maddieson (1996). É com base nesta identificação que as vogais são caracterizadas. Segundo o parâmetro de altura, podem ser altas, médio-altas, médio-baixas e baixas; segundo a posição do

27 27 corpo da língua, podem ser anteriores, centrais ou posteriores; e, a depender do arredondamento dos lábios, podem ser arredondadas ou não-arredondadas. 2.2 O sistema vocálico do Português Brasileiro O sistema vocálico do Português Brasileiro é composto por sete fonemas, depreendidos em sílaba tônica, posição considerada ótima para a caracterização das vogais por apresentar maior estabilidade articulatória, revelando em sua plenitude e maior nitidez os traços distintivos (CAMARA JR., 2006: 41). Trata-se de segmentos orais que são capazes de estabelecer oposição distintiva de significado, conforme se pode observar no conjunto de palavras a seguir: s[a]co (eu) s[ ]co s[e]co s[i]co (eu) s[ ]co s[o]co s[u]co. A classificação desses sete fonemas realiza-se exatamente do modo já referido: de acordo com os parâmetros de altura, de posição horizontal do corpo da língua e de arredondamento dos lábios. Altas /i/ /u/ Médio-altas /e/ /o/ Médio-baixas /ε/ / / Baixa Figura 1: Quadro vocálico do Português Brasileiro em sílaba tônica /a/ Se a vogal de sílaba tônica possui maior força expiratória ou intensidade de emissão (CAMARA JR., 2006: 63), nas posições átonas, entretanto, ocorre uma gradativa redução do número de fonemas em virtude da maior debilidade que as caracteriza, de modo que, quanto maior o grau de atonicidade, maior a possibilidade de mais de uma oposição desaparecer ou ser suprimida. Este fenômeno, ao qual se convencionou chamar de Neutralização, consiste em dois ou mais fonemas que se opõem em dado contexto deixarem de fazê-lo em outro. Camara Jr. (2006: 63) propõe uma escala de tonicidade a ser aplicada a cada vogal, atribuindo o grau 3 de força expiratória para a sílaba tônica; o grau 1 para a sílaba pretônica; e o grau 0 para a postônica, além de reservar o grau 2 para aqueles vocábulos derivados ou compostos que apresentem uma subtônica fortemente e segunda-feira. Por as sílabas pretônicas serem menos débeis do que a postônica, esta é atingida de maneira mais significante pelo fenômeno da neutralização.

28 28 Segundo o autor, na pauta postônica podem-se identificar dois quadros vocálicos: o primeiro refere-se às vogais átonas finais, em que desaparece a oposição entre vogais médias e vogais altas, com prejuízo daquelas; o segundo, por sua vez, refere-se às postônicas nãofinais, encontradas em palavras proparoxítonas como número e fósforo, em que desaparece a oposição entre /o/ e /u/, mas não entre /e/ e /i/. Bisol (2003: ), em seu artigo sobre a Neutralização das átonas, argumenta, indo de encontro à proposta de Camara Jr. (2006), que a elevação de ambas as vogais vem ocorrendo, semelhantemente ao que ocorre na átona final, embora ainda não se tenha manifestado como regra geral em nenhuma variedade do português brasileiro, diferentemente do que ocorre com a pauta final (p. 280). A autora, que argumenta não mais haver funcionalidade em distinguir uma média e uma alta anteriores, propõe a existência (i) de uma regra que reduz o sistema a três vogais na posição postônica; e (ii) de uma flutuação, na postônica não-final, de dois sistemas átonos o de cinco vogais, depreendido em sílaba pretônica, e o de três vogais, depreendido em posição átona final, que tende a se estender para a posição átona medial em busca da regularização do sistema. Na pauta pretônica, encontra-se um quadro de cinco vogais, proveniente do desaparecimento da oposição entre as médias / / e / / de 1º grau e as médias /e/ e /o/ de 2º grau. Tal neutralização também se pode verificar quando a vogal se localiza diante de consoante nasal na sílaba seguinte, sendo coibida a realização das médias de 1º grau em proveito das médio-altas. Nascentes (1953), utilizando-se de suas observações a respeito do comportamento das vogais médias pretônicas, propusera a divisão do território nacional e do falar brasileiro em dois grandes grupos, separados por uma zona que [...] se estende [...] da foz do Rio Mucuri, entre Espírito Santo e Bahia, até a cidade de Mato Grosso (p. 91): o do norte, composto pelos subfalares amazônico e nordestino, e o do centro-sul, composto pelos subfalares baiano, fluminense, mineiro e sulista. Segundo o autor, o que caracteriza estes dois grupos é a cadência e a existência de pretônicas abertas em vocábulos que não sejam diminutivos nem advérbios em -mente (p. 25): No sul não há vogais protônicas abertas antes do acento (salvo determinados casos de derivação) e a cadência é diferente da do norte. É palpável a diferença entre a fala cantada do nortista e a fala descansada do sulista (NASCENTES, 1953: 19-20).

29 29 Barbosa da Silva (2008), em estudo intitulado Pretônicas fechadas na fala culta de Recife, afirma que embora Nascentes (1953) tenha caracterizado o falar do Norte pela presença de pretônicas abertas e não pela ausência de pretônicas fechadas, difundiu-se a versão segundo a qual os falares do Sul optam pela realização fechada e os do Norte, pela aberta (p. 320, grifo acrescido). A versão difundida implica considerar que os falares do Sul nunca realizariam as vogais pretônicas pelas variantes abertas e que os falares do Norte nunca as realizariam pela variante fechada. Segundo Barbosa da Silva (2008: 320), mesmo os relatos mais antigos como os de Marroquim (1934), Aguiar (1937) e Castro (1958) já apontavam, entre os falares do Norte, a existência de realizações fechadas ao lado das altas e das abertas. De posse dessas informações a autora propõe três regras para descrição da alternância entre as pretônicas. A primeira, que ela diz ser a norma básica e categórica dos falares do Norte, é a Regra Categórica de Timbre, que faz com que a pretônica se realize (i) pela variante fechada quando há vogal média fechada em sílaba contígua ou quando antes da consoante palatal de verbos e deverbais de primeira conjugação c[e]rveja, c[o]rreio, plan[e]jar; ou (ii) pela variante aberta, nos contextos em que não ocorre assimilação cob[ ]rtura, esp[ ]rtivo, af[ ]tiva, m[ ]lusco. As duas próximas regras são de caráter variável: uma (a) Regra Variável de Elevação, regra supradialetal que eleva as médias pretônicas quando antes de algumas consoantes ou quando em sílaba contígua há uma vogal alta m[i]lhor, g[u]verno, m[i]nino, c[u]mida; e uma (b) Regra Variável de Timbre, que produz realizações violadoras da regra categórica supracitada, sendo responsável pela variação, entre médias abertas e médias fechadas, que não se pode explicar por assimilação, nem por interferência de palatais, nem por guardarem o timbre da vogal tônica da palavra primitiva. O Estado do Rio de Janeiro insere-se entre os dialetos do Sul, constituindo, juntamente com o Distrito Federal, com parte de Minas Gerais e com o Estado do Espírito Santo, o subfalar fluminense, no qual há predomínio das médias fechadas. Para essa variedade, aplicase também a Regra Categórica de Timbre proposta por Barbosa da Silva (2008: 322), mas de forma inversa: a variante aberta pode ser realizada quando há vogal média aberta em sílaba contígua acentuada, como n[ ]vela e p[ ]teca, mas a maior diversidade de contextos favorece a variante fechada. Também se aplica à variedade sob estudo a Regra Variável de Elevação, que constitui exatamente o foco desta pesquisa, visto que, ao lado dessas pretônicas geralmente fechadas, que caracterizam o linguajar carioca como variedade do subfalar fluminense, Nascentes (1953: 29) já reconhece que

30 30 o e apresenta-se reduzido, como em Portugal, diante de vogal: real, leal, leão, teatro r[i]al, l[i]al, l[i]ão, t[i]atro, e em certas palavras: menino m nino (Portugal), m[i]nino (RJ), pequeno p queno (Portugal), p[i]queno (RJ) Também Camara Jr. (2006: 44) adverte que, no contexto pretônico, as oposições (...) entre /o/ e /u/, de um lado, e, de outro lado, entre /e/ e /i/ ficam prejudicadas pela tendência a harmonizar a altura da vogal pretônica com a da vogal tônica. Percorrendo as posições átonas, Nascentes (1953: 31-37) apresenta o seguinte panorama para o contexto pretônico: 1) O e inicial e protônico ou se conserva [...] ou passa para i, nasalizando-se ou não (p. 32): erguer, herdeiro, herói [e]rguer, [e]rdeiro, [e]rói e não [i]rguer, [i]rdeiro, [i]rói; fechar, telhado f[e]char, t[e]lhado e não f[i]char, t[i]lhado; senhor, pedir, pequeno s[i]nhor, p[i]dir, p[i]queno; errado, educar, elogio, eleição [i ]rado, [i ]ducar, [i ]lugio, [i ]leição. 2) O prefixo ex- inicial nunca se pronuncia eis- (p. 33). 3) O e nasal inicial, exceto nos compostos de entre, passa a i nasal [...]: embaraço, entender [i]mbaraço, [i]ntender (p. 33). 4) Protônico, conserva seu valor [...]: lembrar l[e]mbrar (p. 33). 5) O o átono inicial é fechado [...]: orelha [o]relha, e não [u]relha (p. 35). 6) Protônico é geralmente fechado: porteiro p[o]rteiro e não p[u]rteiro, amoroso am[o]roso e não am[u]roso. Em alguns casos pronuncia-se reduzido, como em Portugal, na pronúncia normal: cozinha c[u]zinha, colégio c[u]légio, cortina c[u]rtina, comer c[u]mer (p. 35). 7) O o nasal átono inicial é fechado [...]: ondulação [o]ndulação e não [u]ndulação (p. 36). 8) Protônico, é geralmente fechado [...]: comprar c[o]mprar e não c[u]mprar. Em alguns casos, pronuncia-se reduzido, como em Portugal, na pronúncia normal: compadre c[u]mpadre (p. 36) Portanto, além do processo de neutralização entre as vogais médio-altas e as médiobaixas, ocorre ainda, no referido contexto, a realização alternante de [e] ~ [i] e de [o] ~ [u], fenômeno denominado alçamento ou alteamento das vogais médias pretônicas, que consiste na substituição de um fonema por outro que com ele estabeleceria par opositivo:

31 31 A distinção entre comprido «longo» e cumprido «executado» é, por exemplo, praticamente gráfica, pois a pronúncia corrente, por causa da harmonização no primeiro vocábulo, é nos dois vocábulos /kunpri du/ (p. 45). Como ressalta Camara Jr. (2006: 45), a elevação do traço de altura das vogais médias de segundo grau [e] e [o], que passam a realizar-se como as altas [i] e [u], não constitui neutralização já que a oposição existente entre estes fonemas continua perceptível na posição pretônica, como se pode verificar em cilada X selada, mural X moral, ou pode ser recriada para fim de clareza comunicativa, como em descriminar X discriminar, comprimento X cumprimento. O que acontece é que as vogais altas debordam (...) as vogais médias correspondentes (p. 45), constituindo, como propõe Oliveira (1991), uma mudança dentro de um subsistema, uma flutuação dentro do sistema de cinco vogais pretônicas, atrofiando ou hipertrofiando elementos dele: pela invasão do espaço fonológico de uma vogal por outra, os fones [i] e [u] passam a servir, em um mesmo contexto, à realização concreta de dois fonemas distintos, como se pode perceber em [i]mpada X impresso e c[u]mpadre X cumprido. 2.3 A questão das vogais nasais No estudo fonológico empreendido em língua portuguesa, é consensual a existência de sete fonemas vocálicos em posição tônica, os quais apresentam caráter distintivo na língua. Ao lado do sistema composto por sete vogais orais, encontra-se um problema de difícil resolução entre os linguistas: o das vogais que se caracterizam por uma emissão nasal e sofrem a neutralização das oposições [e] [ ] e [o] [ ] em proveito das médias de 2º grau. Não é consensual entre os diversos autores, todavia, o tratamento que se dê a tais vogais, sendo atestadas duas abordagens distintas: ou (i) são consideradas intrinsecamente nasais, constituindo um quadro fonológico composto por cinco vogais puramente nasais; ou (ii) são consideradas correspondentes a uma estrutura bifonemática de vogal oral seguida de elemento consonântico nasal. Autores filiados à tese de que existem vogais puramente nasais argumentam que o que o ouvido humano capta é a vogal envolvida de nasalidade, e não a vogal oral seguida de elemento consonântico nasal. Em contrapartida, Camara Jr. (2006: 59) destaca que não se pode considerar a existência de vogais puramente nasais, uma vez que estas não se opõem a vogais seguidas de consoante nasal, como se dá em francês bon /bõ/, face a bonne /bon/, em

32 32 que o segmento nasal posvocálico, produzido e percebido pelo falante-ouvinte, apresenta caráter morfodistintivo. Segundo Leite (2005: 35), o arcabouço teórico de Camara Jr. apenas é ameaçado por Pontes (1972), que apresenta um par mínimo em que a vogal oral seguida de consoante nasal contrasta com a vogal nasal seguida de consoante nasal caminha 3ª pessoa do verbo caminhar vs. caminha diminutivo de cama. No entanto, sabe-se que o sufixo -inho tem propriedades fonético-fonológicas que levam a ser mantida a realização da vogal pretônica idêntica à da palavra primitiva, de modo que, sendo nasalizada a vogal tônica de cama, é natural que permaneça nasalizada quando em sua forma diminutiva. Sabe-se, ainda, que a nasalização fonética em palavras trissilábicas é objeto de estudos variacionistas, porque submissa a uma série de fatores estruturais, como segmento nasal da sílaba subsequente, e sociais, como região de origem do falante. Assim, não é inadmissível a possibilidade de um informante da região nordeste, por exemplo, realizar pela variante nasalizada o [a] pretônico de (Ele) caminha. Somando-se a essa constatação da ausência de oposição entre vogais orais e vogais puramente nasais, devem-se destacar três argumentos que encaminham para o tratamento da vogal dita nasal como uma estrutura bifonemática, composta por uma vogal oral e um segmento consonântico nasal. O primeiro deles é o de que o fenômeno do sândi, muito comum em língua portuguesa quando ocorre a emissão ininterrupta de vocábulos seguidos, formando um grupo de força, (i) ou não se verifica entre a vogal dita nasal e a vogal oral subsequente; (ii) ou ocorre através da recuperação do elemento consonântico posvocálico, dando-se a palatalização do mesmo, quando precedido por vogais anteriores. Assim, tem-se a atuação do fenômeno em jovem amigo [ j ve a mig ], mas não em fã animado ou bom amigo, ainda que haja, neste último, a ditongação da vogal silábica [bõ a migʊ] 1. O segundo argumento diz respeito à não-ocorrência de vogais ditas nasais em hiato, como ocorre com as demais vogais. Nesse contexto, (i) ou a nasalidade desaparece, o que se pode verificar na evolução da língua como em luna > lu a > lua, ou mesmo sincronicamente, através de flexão bom boa, leão leoa; (ii) ou o elemento consonântico pós-vocálico é recuperado, passando a ocupar a posição pré-vocálica da sílaba subsequente: valentão valentona. 1 Isso se dá porque as vogais anteriores possuem o traço [+ palatal] em comum com o fone [ɲ], o que possibilita a palatalização dos fones [m] e [n] em posição de fronteira silábica, seguidos por quaisquer vogais. Contrariamente, as vogais posteriores não possuem esse traço são [+ recuadas], o que coíbe a realização palatal da consoante, dando-se a ditongação com o glide que partilha o mesmo traço [w].

33 33 Por fim, o terceiro argumento é o de que, após as vogais ditas nasais, ao contrário do que se verifica em contexto genuinamente intervocálico, não se verifica a ocorrência do chamado R brando / /, mas a exclusividade de ocorrência de R forte /r/: / tenru/, / enru/. Levando-se em consideração a exaustiva argumentação de Camara Jr. (2006), esta pesquisa considerará a existência de uma estrutura bifonemática composta por vogal oral seguida de um arquifonema /N/ que lhe confere emissão nasal, assumindo-se, com Bisol (1981: 39), que se trata de uma vogal nasalizada pelo elemento consonântico que a segue.

34 34 3 O ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA LITERATURA Segundo Camara Jr. (1976), o processo de alteamento é um dos traços que distinguem o português falado no Brasil e o falado em Portugal. Viegas (1987: 44) afirma que é bastante comum no português e caracteriza, por vezes, diferenças dialetais, mas traz em si certo estigma social, sobretudo em casos menos tradicionalmente atingidos, como intestino, teoria e academia, que podem marcar origem geográfica ou estratificação social. Bisol (1981: 30), por sua vez, acredita que o fenômeno se tenha espraiado sem estigmatismo social. É verificado desde muito cedo em Língua Portuguesa, tratando-se de uma tendência a fazer passar /e/ a /i/, principalmente nos grupos en- + consoante e est- (TEYSSIER, 1997: 74), encontrando-se registrado desde a gramática de Fernão de Oliveira: Das vogais, entre u e o pequeno há tanta vizinhança, que quase nos confundimos, dizendo uns sorrir e outros surrir e dormir ou durmir e bolir ou bulir e outras partes semelhantes. E outro tanto entre i e e pequeno, como memória e memórea, glória e glórea (OLIVEIRA, 1975[1536] apud SILVEIRA & TENANI, 2007, grifos acrescidos). Paiva (2008: 215), apropriando-se deste trecho de Fernão de Oliveira (1975), observa a existência de dois fenômenos: (i) o da variação fonética, em que o alteamento das pretônicas estaria relacionado exclusivamente à redução das vogais átonas; e (ii) o da analogia, em que resultaria da alteração por interação analógica no grupo dos verbos. Assim é que, segundo a autora, a não uniformidade de usos a que Oliveira faz referência não é, como diz, consequência da semelhança dos fones o não é tão fechado que quase se confunde com u, mas da variação que é inerente à expansão de qualquer mudança (p. 216). No entanto, reconhece que a sua interpretação, não sendo adequada (...), não deixa por isso de comprovar a existência de um fenômeno de variação entre [o] e [u] átonos, do mesmo tipo do que é referido a seguir quanto a [e] e [i] átonos. Carvalho (1969), em Nota sobre o vocalismo antigo português, procedendo a uma exaustiva pesquisa em Manuais de Ortografia e Gramáticas, desde a primeira gramática portuguesa, a de Fernão de Oliveira (1536), até a Ortografia, de Frei Luís de Monte Carmelo (1767), observa que apenas três gramáticos ou ortógrafos Fernão de Oliveira (1536), D. Luís Caetano de Lima (1736) e Luís António Verney (1746) podem ser verdadeiramente úteis para os propósitos, sendo que este apenas faz menção às letras nos fins das dicções (VERNEY, 1746: 105 apud CARVALHO, 1969: 93):

35 35 Dos restantes, Duarte Nunes de Leão (1576), Magalhães de Gândavo (1574), Álvaro Ferreira de Vera (1631), Jão Franco Barreto (1671), Contador de Argote (1725) são de nenhum préstimo para o esclarecimento do problema do vocalismo átono. João de Barros (1540) só pode servir-nos num aspecto de pormenor; e Monte Carmelo (1767), que escreveu a mais completa exposição da pronúncia portuguesa antes de Gonçalves Viana, só complementarmente nos auxilia no problema particular que nos ocupa (p. 81). Dom Luís Caetano de Lima (1736 apud CARVALHO, 1969: 89-91), em sua Ortografia da Língua Portuguêsa, ao contrário do que atesta Oliveira (1536), declara que as vogais médias, na sílaba pretônica, realizam-se pela variante fechada, com exceção de alguns nomes como seteira, mesinha, corado e somente, em que se realizam pela variante aberta, ao menos na variedade idiomática representada por D. Luís Caetano, natural de Lisboa. Segundo o autor, essa regra se aplicaria também às postônicas finais e mediais, assim como a hiatos, nas quais a vogal média se realiza sempre como [e, o] fechados. Carvalho (1969: 92), valendo-se de outra obra do próprio Lima (1734), observa que a exatidão de suas observações acerca da realização das postônicas finais como médias fechadas é posta em xeque por informações que oferece quanto à pronúncia do italiano pelos portugueses: Ao expor a pronúncia italiana e depois de distinguir na sílaba tônica as duas vogais e aberto e e escuro ou fechado, acrescenta: «Note-se que as palavras que acabam em e se devem pronunciar com um som escuro mas não tão escuro como fazem os portugueses, os quais mudam quasi o e final em i, e em lugar de pronunciarem anche, pure, rumore, parlare, sentire, pronunciam anchi, puri, rumori, etc.» (pp. 9-10). Para Carvalho (1969), se ao pronunciar o italiano os portugueses substituem sistematicamente o -e e -o finais por -i e -u, isso não se pode explicar evidentemente senão pela circunstância de que na sua própria língua eles realizam como i e u aqueles fonemas que a ortografia ordena se representem por -e e -o em posição final (p. 92). Com relação às vogais em hiato, declara que se já dois séculos antes se apresentavam como alofones tão fechados que se confundiam com i e u, não era agora muito provável que fossem acusticamente idênticos a e e o fechados (p. 93). No que se refere às pretônicas e às postônicas mediais, reconhece que se deverá aceitar a proposta de Lima (1736) de que os grafemas -e e -o efetivamente correspondiam a [e, o] fechados, visto que D. Luís Caetano de Lima nenhuma advertência faz quanto a possíveis erros cometidos pelos portugueses na pronúncia de e e o átonos não-finais em italiano. (CARVALHO, 1969: 94).

36 36 Entretanto, argumenta que, ao lado do testemunho de Fernão de Oliveira de que antre u e o pequenos há tanta vezinhença que quasi nós [os] confundimos, dizendo uns somir e outros sumir, e dormir ou durmir, e bolir e bulir, e outras muitas partes semelhantes (OLIVEIRA, 1536: 44 apud CARVALHO, 1969: 94), há ainda o testemunho de textos que, pelo menos desde o século XV, apresentam numerosos exemplos de u por o na pretônica: custura, custume, cubrir, fremusura, cumunicar, recupilou, etc. Segundo Viegas (1987: 6), palavras que hoje têm a vogal alta como sinal ortográfico nem sempre a tiveram: taboleta, logar, egreja, o que parece indicar que houve uma reforma ortográfica baseando a escrita (i, u) na pronúncia [i, u]. No entanto, tal reforma ortográfica não se aplicou a todos os vocábulos que, escritos com (e, o), fossem pronunciados com vogais altas, visto que algumas palavras têm a vogal média somente representada na sua ortografia, mas nunca na sua pronúncia [...]: aperitivo, acostumar, costume, costela, seguir, seguinte, comprimento, costeleta, tomate, menino. Carvalho (1969: 94) afirma que se examinarmos bem as formas citadas por F. de Oliveira e as compararmos com as restantes formas quatrocentistas e quinhentistas com u pretônica em vez de o, verificamos que elas têm todas de comum a presença de um u ou i, na sílaba imediatamente posterior (em geral a tônica) àquela em que o se fechou em u. [...] um fenômeno assimilatório perfeitamente idêntico está também amplamente documentado para e pretônico, fechado em i por efeito de um u ou i da sílaba seguinte, em numerosos textos dos mesmos séculos: ricibido, pitiçom, minino, pidir, testimunha [...]. O cerramento o > u, e > i estava pois submetido na linguagem quinhentista às mesmas condições em que o fenômeno hoje mesmo se observa, não ainda estabilizado, no português do Brasil. Nestes termos, pode-se pensar na atuação do princípio do uniformitarismo (LABOV, 1994), que prediz que as mesmas mudanças ocorridas no passado podem vir a acontecer no presente, justificando-se a afirmativa de que é preciso estudar aquele para que este se ilumine, e vice-versa. Teyssier (1977: 101) afirma que o brasileiro pratica algumas das transformações excepcionais das pretônicas que a língua antiga conhecia; por exemplo: entrar e estar como [i]ntrar e [i]star, ou menino e costume pronunciados m[i]nino e c[u]stum[i]. Viegas (2003: 308) afirma que a realização de uma abordagem histórica é imprescindível, a fim de que se possa fazer uma análise do resíduo de aplicação da regra, ou seja, itens que possuem contexto e, portanto, poderiam ser atingidos pela regra e não o são, e itens que não possuem contexto e que, apesar disso, alçam. Para a autora, o alçamento de

37 37 itens que não apresentam contexto favorecedor da aplicação dessa regra variável pode ser explicado por se tratar de empréstimos, analogias, por esses itens terem na sua origem uma vogal /i, u/ ou por virem de uma variação [e ~ i, o ~ u] muito cedo detectada no português. Devido à inexistência de registros orais de sincronias anteriores ao século XX e à necessidade de se estudar o passado para que melhor se possam compreender os fatos do presente, Avelheda & Souza (2009) empreenderam um estudo que visava à análise do comportamento das vogais médias pretônicas travadas por consoante nasal /N/ em documentos do Século XIX a saber, notícias, anúncios e editoriais disponíveis no sítio eletrônico do projeto VARPORT 2 (Análise Contrastiva de Variedades do Português). Buscou-se fazer o melhor uso possível dos maus dados fornecidos pela língua do papel, como sugere Labov (1982: 20), testemunhos menos diretos, mas suficientemente claros [...] do próprio uso ortográfico (CARVALHO, 1969: 79). No início da garimpagem dos dados, por muitas vezes questionou-se a viabilidade de se fazer um trabalho como esse em dados escritos, uma vez que sempre se soube que o polo da escrita é menos vulnerável à ocorrência de fenômenos variáveis, por pressupor maior vigília do que a fala. Viegas (2003: 310) afirma que, se existe um período ortográfico que pode dar pistas sobre a pronúncia das palavras, este é o chamado período fonético, posto que as convenções ortográficas não estavam bem estabelecidas. No entanto, não se tinha à disposição, no corpus selecionado como fonte da pesquisa, dados de sincronias anteriores ao Século XIX, o que fez com que, ainda que dado seguimento à pesquisa, se abrisse mão de uma análise variacionista em prol de uma análise quase que exclusivamente qualitativa. Como, mesmo depois de observarem com exaustividade o corpus composto por notícias, anúncios e editoriais, não foi possível encontrar quaisquer dados de alteamento, Avelheda & Souza (2009) analisaram 1200 dados obtidos em cartas pessoais disponíveis no corpus diacrônico do Projeto Para uma História do Português Brasileiro 3 (PHPB-RJ). Apesar de se tratar de um domínio menos tenso de escrita, já que geralmente se verifica maior proximidade entre remetente e destinatário dos textos, nem mesmo nesse gênero foi possível observar muitos casos de aplicação da regra de alteamento. De posse dessas considerações, as autoras puderam corroborar a hipótese de Barbosa (2007: 485) de que escrever, mais do que hoje, já era, em si, um ato cerimonioso, que pressupunha um aprendizado dos fatos do modelo subjetivo da gramática de inspiração greco-latina, nem que seja no espírito que lhe faz produzir ultracorreções (p. 486). 2 Disponível em: « 3 Disponível em: «

38 38 Com efeito, embora não se tenham encontrado dados de realização do alteamento, pôde-se observar a ocorrência do processo inverso, de abaixamento, numa provável produção de hipercorreções: engratidão; emperdoável; complices 4. Levando-se em conta que os três dados em que se processou o abaixamento apresentavam os mesmos contextos que atualmente favorecem a realização do alteamento, acredita-se que se trate de um indício de que o fenômeno de alçamento das médias pretônicas já se encontrava em voga no século sob análise. Devido ao fato de os dados coletados não terem rendido muita análise, o que provavelmente se deve ao fato de as convenções ortográficas já estarem estabelecidas, pressão normatizadora que faz com que os escritos passem a não transparecer em suas variações gráficas os índices da realidade sonora (BARBOSA, 2007: 485), Avelheda & Souza (2009) tiveram de recorrer à análise de gramáticas (FREIRE, 1842; BARBOSA, 1822) da referida sincronia. Buscou-se observar se essas obras faziam menção ao processo de alteamento e se o registravam em seu interior, quer nos textos que veiculavam, quer no manual de ortografia que desenvolviam no início das obras de cunho normativo. Em Barbosa (1822: 51), verificou-se apenas uma referência ao processo de alteamento, segundo a qual, referindo-se aos brasileiros, mudava-se o e pequeno e breve em i, dizendo Minino, Filiz, Binigno, Mi dêo, Si firio. Em Freire (1842), por sua vez, verificamse registradas seis palavras que, ao que tudo indica, eram atingidas pelo processo de alteamento, já que, numa reprodução do Appendix Probi, o autor indica a forma correta de se grafar a palavra vs. a forma pela qual a mesma era pronunciada pelo vulgo: (i) Empellicado [nascer empellicado] e não emplicado ou implicado, como diz o vulgo, grande mestre de erros. (p. 70) (ii) Empigem, menos seguro do que impigem, porque vem da voz latina impeligo. (p. 71) (iii) Empíreo [céu dos bem-aventurados] e não Empirio ou Impirio. (p. 71) (iv) Enfatuar melhor do que infatuar, segundo o observamos em Vieira. (p. 72) (v) Troncar mais seguro do que truncar, postoque se derive do latim detruncare. (p. 147) (vi) Venturina [pedra] e não vinturina, como ignorantemente pronunciam até os prezados de cultos. (p. 149) 4 Esse dado parece corroborar ainda mais fortemente a hipótese de que os dados de abaixamento constituem um indício de realização do alteamento no século sob análise, uma vez que a hipercorreção, neste dado, atinge mesmo a sílaba tônica.

39 39 A partir da análise dos dados retirados de gramáticas, pôde-se verificar que, a despeito do que ressalta Barbosa (2007: 485) com relação à relevância da inabilidade do redator para a transparência das marcas fonéticas, o processo de alteamento fora registrado mesmo nos clássicos de maior autoridade, autores da Literatura em que se baseiam tais obras de cunho normativo. De posse dessas observações, pôde-se concluir que o processo de alteamento encontrava-se bastante difundido, já que, como observado nas gramáticas, cujas correções são elaboradas a partir de consultas a autores de maior autoridade, começava já a influenciar a escrita, fazendo-se necessário um apêndice para restabelecer as normas gramaticais. Silva (2009), trabalhando com cartas 5 do século XVIII disponíveis no corpus diacrônico do Projeto Para uma História do Português Brasileiro 6 (PHPB-RJ), encontrou ainda alguns dados de alteamento: infado, cintir, sintirei, avinturei-me, incalhar e intidade, além de um maior número de casos de abaixamento encomodo, emportância, enflamação e empreterivelmente. Avelheda & Batista da Silveira (2011a), sabendo que as convenções ortográficas foram estabelecidas no Século XVI e considerando que a adaptação a novas normas ortográficas é lenta e gradual, explicam que a existência de registros do fenômeno no século XVIII e a inexistência dos mesmos no século XIX se deve ao fato de que as regras de ortografia já estavam mais fortemente fixadas neste, de forma que os registros escritos tornavam-se menos passíveis de variação. Para as autoras, a oralidade funciona como uma força centrífuga da variação, permitindo a ocorrência dos mais diversos fenômenos, enquanto a escrita funciona como uma força centrípeta, inibindo o registro de fenômenos variáveis. 3.1 Propostas para análise do fenômeno A regra variável de alteamento costuma ser descrita como um processo de harmonização vocálica, no qual ocorre a assimilação do traço de altura da vogal presente na sílaba tônica: menino, comida. De acordo com Lemle (1974), a condição necessária para a aplicação da regra de alçamento é a presença de vogal alta seguinte, não necessariamente imediata, que deve ser tônica em alguma palavra do paradigma, não necessariamente na palavra cuja pretônica se está analisando. Para Bisol (1981), contrariamente, mais do que a tonicidade da vogal alta, é fator favorecedor a sua contiguidade com a vogal-alvo. 5 Documentos da Administração Pública cartas oficiais; Documentos da Administração Privada Cartas de Comércio e Cartas Comuns; Cartas Pessoais e Documentos Particulares; e Documentos Oficiais. 6 Disponível em: «

40 40 Bortoni et alii (1992) afirmam que as vogais altas [i, u] de sílabas tônicas favorecem o alçamento das vogais médias por intermédio de regras de harmonização. Bisol (2011) define a harmonização vocálica como um processo de assimilação regressiva cujo gatilho é a vogal alta e o alvo, a vogal média fechada. Para a autora, existem dois tipos de assimilação: (i) local, que exige adjacência e pode ser exemplificada pelas consoantes pós-vocálicas a nasal, que assimila ponto de articulação, como em ca[m]po, ca[n]to e ca[ ]ga, e a sibilante, que assimila sonoridade, como em pa[ ]ta e le[ ]ma; e (ii) à longa distância, que pode dispensar a adjacência e se exemplifica pelo processo de alteamento. Segundo alguns (SILVA NETO, 1970; LEMLE, 1974), a condição necessária para a aplicação da regra de alçamento é a presença de vogal alta seguinte, não necessariamente imediata, que deve ser tônica em alguma palavra do paradigma, não necessariamente na palavra cuja pretônica se está analisando. Para outros (BISOL, 1981, 2011; CAMARA JR., 1969), contrariamente, mais do que a tonicidade da vogal alta, é fator favorecedor a sua contiguidade com a vogal-alvo. Brandão & Cruz (2005) atestam, no que diz respeito à série anterior, que os vocábulos que apresentam vogal tônica alta demonstram, nos falares amazonense e paraense, predomínio da vogal médio-fechada, como b[e]bida, p[e]rfume. No que diz respeito à série posterior, entretanto, verificam que os vocábulos com vogal alta em posição tônica têm, na fala amazonense, suas pretônicas predominantemente atingidas pelo processo de alteamento, como n[u]tícia e ass[u]bio; na fala paraense, verificam uma forte concorrência entre [o] e [u]. Viegas (1987: 124) declara haver um forte processo de harmonização vocálica: média tônica imediata retém média (merenda), alta tônica imediata favorece enormemente a elevação do traço de altura (perigo), e vogal baixa tônica desfavorece o alçamento em qualquer posição. Segundo a autora, evidencia-se como essencial a proximidade entre a vogal que engatilha a assimilação e a vogal-alvo do processo: a contiguidade parece ser um fator favorecedor no caso da vogal alta tônica e um fator desfavorecedor no caso da média tônica: outro tipo de vogal entre a vogal a ser alçada e a tônica influencia no processo de harmonização. Dias, Cassique & Cruz (2007) atestam que a presença de vogais médias em sílaba tônica, ao contrário do que mostram pesquisas como a de Viegas (1987), também pode favorecer o alteamento, desde que sejam verificadas as seguintes combinações: (a) pretônica /o/ + tônica /e/, como em comer e cozer, no qual ainda se pode verificar uma especialização semântica, opondo cozer cozinhar a coser costurar ; (b) pretônica /o/ + tônica / /, como

41 41 em colher; (c) pretônica /e/ + tônica / /, como em melhor e senhora. Contrariamente, o alteamento é inibido pelas seguintes combinações: (a) pretônica /o/ + tônica /o/, como em colocar; e (b) pretônica /o/ + tônica /u/, como em fofura e bocuda. Bisol (1981) declara que as vogais altas /i, u/ desencadeiam um mecanismo segundo o qual as vogais médias /e, o/ assimilam o traço de altura, a fim de estabelecer uma harmonia entre os traços das vogais. Ressalta, porém, que a harmonização é um processo que não faz saltos e, portanto, a vogal assimiladora é a da sílaba imediatamente seguinte, sendo condição obrigatória para aplicação da regra a contiguidade. Lemos (2003) também aponta que o contexto favorecedor da regra variável de alteamento é a vogal alta em sílaba imediatamente seguinte à da vogal-alvo. Abaurre-Gnerre (1981: 36), no entanto, considera que o alteamento não se circunscreve apenas a uma relação entre as vogais, argumentando que há exemplos como pequeno, colher, melhor, tomate, boneca, colégio etc., onde [sic] o levantamento da vogal pretônica não pode ser tratado como harmonia vocálica. A autora apresenta, então, uma segunda proposta para análise do fenômeno: o processo de redução vocálica, que consiste no enfraquecimento da vogal, tornando-a menos sonora por assimilação dos traços de consoantes circunvizinhas. Em sua pesquisa, Viegas (1987: 63) atesta que o alçamento de (e) 7 ocorre com frequência quando este está seguido de vogal alta, diferentemente do que diz Abaurre-Gnerre (1981). Tendo em vista os contraexemplos apresentados por Abaurre-Gnerre, Viegas (2003: 309) afirmava que, retirados os empréstimos (visícula), as possíveis analogias (pior/milhor; bimestre/simestre), os itens que têm na sua origem uma vogal /i/ ou que, possivelmente, vieram de uma variação muito cedo detectada no português, se obtém uma lista que contém, hoje, ou conteve algum dia, o ambiente tido como favorecedor do alteamento, que é a presença de vogal alta seguinte. No caso do alçamento do (o), afirmava ainda Viegas (1987: 63), esta condição não é tão significativa, diferentemente do que diz Bisol (1981). Assim, corrobora o que afirmaram Viegas & Veado (1982: 54), segundo as quais os ambientes que propiciam o levantamento das vogais e e o não são exatamente coincidentes e, em termos de frequência de aplicação da regra, as diferenças são significativas. 7 Segundo Labov (2008:30), os parênteses indicam uma abordagem diferente da análise da variação. Enquanto / / indicam que a variação interna deve ser desconsiderada por ser insignificante, ( ) indicam que essa variação é o principal foco de estudo.

42 42 Formulam-se, então, duas propostas de regra com relação ao alçamento: harmonização vocálica (HOUAISS (1959), CAMARA JR (1976), LEMLE (1974), BISOL (1981)) e enfraquecimento da vogal por assimilação de traços consonantais adjacentes (ABAURRE-GNERRE (1981), PASSOS, PASSOS & ARAÚJO (1980)). Segundo Silveira & Tenani (2007), o processo de redução vocálica baseia-se na redução da diferença articulatória entre a vogal pretônica e as consoantes adjacentes, e dá conta de esclarecer a aplicação da regra a palavras como pequeno, cujo alteamento pode resultar do fato de a velar [k] subsequente possuir um ponto de articulação alto, o que favorece a elevação da pretônica. Ainda que aposte fortemente na influência da vogal alta subsequente à vogal-alvo, como desencadeadora do processo de harmonização vocálica, Bisol (1981: 43-44) já reconhece que as consoantes podem exercer influência sobre as vogais com que vizinham. Segundo a autora, as vogais altas, as mais convexas, são produzidas pelo levantamento do corpo da língua, seja em direção ao palato mole [u] seja em direção ao palato duro [i]. Então, presume-se que as consoantes produzidas por articulação semelhante venham a favorecer o processo assimilatório em pauta, tanto a velar, articulada com o dorso da língua levantado, quanto a palatal, emitida com todo o corpo da língua levantado. Ao contrário, a alveolar, cuja articulação se faz com a língua em posição razoavelmente plana [...], tenderia a não favorecer o processo [...], por não ter pontos de semelhança com a vogal assimiladora (p. 93). Segundo Bisol (1981: 33), os princípios que regem a elevação da vogal inicial não se identificam com os que elevam uma vogal média pretônica interior, afirmação à qual se coaduna a de Viegas (1987: 109) de que para que a vogal média [anterior] alce, ela deve estar precedida por pausa, ou melhor, em início de palavra. Em sua pesquisa, a autora atestou que o silêncio à esquerda favorece a elevação, quando seguido de /N/ e /S/, fato que tem comprovação histórica. Naro (1971 apud BORTONI, GOMES & MALVAR, 1992: 13) afirma que a prótese das vogais e ~ i ao grupo consonântico inicial formado por s + consoante constitui uma fonte de alternância entre a vogal média e a vogal alta em posição pretônica inicial. No que diz respeito à vogal em hiato, já Fernão de Oliveira (1536) [...] notara a condição de variável da vogal posta com outra em contato (BISOL, 1981: 35): Das vogais, entre u e o pequeno há tanta vizinhança, que quase nos confundimos, dizendo uns sorrir e outros surrir e dormir ou durmir e bolir ou bulir e outras partes

43 43 semelhantes. E outro tanto entre i e e pequeno, como memória e memórea, glória e glórea (OLIVEIRA, 1975[1536] apud SILVEIRA & TENANI, 2007, grifos acrescidos). Lemos (2003) aponta a vogal em hiato como contexto altamente favorecedor tanto para a média pretônica anterior peão, quanto para a média pretônica posterior coelho. No entanto, no que diz respeito à pretônica anterior, destaca que as ocorrências de alteamento em contexto de hiato, em seu corpus, restringem-se ao vocábulo peão, não havendo nenhuma ocorrência de alteamento, por exemplo, em leão. Assim, afirma que o fator estrutural não pode ser entendido como a única explicação para a variação em questão. Brandão & Cruz (2005) afirmam que, quando a média posterior se encontra em contexto de hiato, a norma é o alteamento, quer mantendo o hiato, quer propiciando a ditongação, como em joelho e assoalho. Caso se levasse em consideração a afirmação de Oliveira (1986) de que os sistemas linguísticos conspiram contra as variações, de modo que tendem a se resolver deixando as variáveis estáveis de serem variáveis e passando a regras categóricas, era de se esperar que o alteamento das vogais médias em posição de hiato já se tivesse tornado uma regra categórica. No entanto, Bisol (1981: 35), em estudo do dialeto gaúcho, atesta que se ouvem: teatro ~ tiatro, geada ~ giada, real ~ rial, ideal ~ idial, doente ~ duente, toalha ~ tualha, joelho ~ juelho, etc. Acompanhando a discussão quanto a ser o processo de harmonização vocálica o responsável pela aplicação do processo de alteamento, ou, contrariamente, o de redução vocálica, encontra-se, na literatura que defende que as vogais pretônicas assimilam o traço de altura da vogal adjacente, uma discussão em torno de ser a contiguidade, ou a tonicidade, o fator mais relevante para que haja a harmonização. De acordo com Lemle (1974), a condição necessária para a aplicação da regra de alçamento é a presença de vogal alta seguinte, não necessariamente imediata, que deve ser tônica em alguma palavra do paradigma, não necessariamente na palavra cuja pretônica se está analisando. Para Bisol (1981: 114), contrariamente, a vogal alta não imediata não exerce influência sobre a vogal média, de modo que apenas é natural a regra de assimilação que atinge sons vizinhos, e não-natural a que pula uma sílaba para afetar terceiras (p. 115). Battisti (1993) mostra que a vogal alta na sílaba seguinte, mesmo não sendo tônica, favorece o alçamento da pretônica em sílaba inicial, assim como Freitas (2001), segundo a qual a variação das vogais médias pretônicas é desencadeada pelos contextos vocálicos imediatamente seguintes, independente da tonicidade, por processo de assimilação, e Célia

44 44 (2004), que declara que o fator mais importante na harmonização vocálica é a proximidade, e não a tonicidade, da vogal favorecedora da harmonia. Dias, Cassique & Cruz (2007) afirmam que as vogais altas imediatas são as que mais favorecem a elevação da vogal pretônica, e que o que menos a favorece é a presença de vogais não-altas em sílaba contígua à da vogal-alvo e a de vogais altas não-imediatas. Para os autores, a proximidade ou, melhor dizendo, a contiguidade da pretônica em relação à tônica alta eleva as possibilidades de ocorrência do alteamento, ao passo que, quanto maior a distância, menor a chance de a vogal média ser alteada. 3.2 Os fatores condicionantes do fenômeno Além dos descritos na seção anterior, que dizem respeito ao contexto vocálico e aos contextos consonantais adjacentes, muitos são os fatores tradicionalmente considerados condicionantes da aplicação do fenômeno de alteamento. Abaixo, descrevem-se os fatores que são sistematicamente mencionados na literatura a respeito do processo. Bisol (2003: 278), tomando como base um estudo das vogais postônicas não-finais, afirma que o diagrama das vogais cardeais, de Daniel Jones, atribui menor espaço bucal às posteriores, o que justificaria o fato de que o sistema vocálico se reduz a um conjunto assimétrico não-natural, havendo neutralização entre a vogal média e a vogal alta da série posterior, mas não entre a vogal média e a vogal alta da série anterior. Martinet (1964: 139 apud BISOL, 2003: 278) afirma que, dado um sistema com o mesmo número de fonemas na série posterior e na anterior, as margens de segurança são mais estreitas na série posterior, o que poderia explicar essa diferença de comportamento. No entanto, dois questionamentos devem ser feitos a respeito dessa observação de Bisol (2003). Primeiramente, essa mesma característica não é observável em sílaba pretônica, contexto em que o alteamento se demonstra mais frequente entre as anteriores. Em segundo lugar, Martinet (1952; 1955 apud LABOV, 1996: 202) não menciona que a assimetria da série posterior seja resolvida por meio de uma elevação da vogal média, mas por meio de uma anteriorização da mesma, que se direcionaria até a zona anterior: Na perspectiva de Martinet (1952; 1955), o Princípio III, de que as vogais posteriores se anteriorizam, é o resultado de duas tendências opostas: a assimetria do espaço articulatório da região supraglotal e o impulso fonológico em busca de simetria. Segundo Martinet, há mais espaço articulatório disponível para as vogais anteriores do que para as posteriores. Embora este espaço se acomode facilmente a quatro graus de altura para as vogais anteriores, a mesma série de quatro vogais

45 45 origina sobreposição na zona posterior, com a consequente ameaça para as margens de segurança das vogais posteriores. A pressão para aliviar esta sobreposição ocasiona o movimento das vogais posteriores até a zona anterior. Vê-se que, embora o autor não se refira exatamente a uma possível elevação, o fato de se referir a uma ameaça para as margens de segurança das vogais posteriores permite que se depreenda uma provável maior suscetibilidade ao processo de alteamento. O problema reside, portanto, no fato de que, se isso é verídico entre as postônicas não-finais, também deveria sêlo entre as pretônicas, o que não se confirma nos dados de observação empírica. Entretanto, no âmbito das postônicas não-finais, a autora se refere ao processo de neutralização entre as médias e as altas, ao passo que, no âmbito das pretônicas, refere-se a uma variação que está condicionada por inúmeros fatores de ordem linguística e extralinguística. Barroso (1999: 128) afirma que o vocalismo apresenta um funcionamento muito irregular, sendo necessário considerá-lo individualmente, isto é, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre [no caso das sílabas fechadas, mesmo em relação à(s) unidade(s) que o entrava(m)]. Segundo Hooper (1976 apud VIEGAS, 1987: 59), devido à relação entre alçamento e enfraquecimento, o processo seria mais frequente no meio ou no final da sílaba do que no início, que é a posição forte da sílaba. Assim, as vogais pretônicas de sílabas fechadas, travadas por elemento consonântico, seriam mais propensas ao alteamento do que as de sílabas livres, visto que estas constituem o único elemento da sílaba. Enquanto Bisol (1981: 88) declara que a nasalidade é um traço que favorece a elevação da vogal /e/ e tende a inibir a elevação de /o/, Viegas (1987: 122) atesta que o travamento por nasal favorece o alçamento no início de palavra, mas não parece favorecê-lo em outras posições (encarnou, mensagem). Para a autora (p. 60), a vogal em sílaba travada por nasal parece ter um comportamento diferente da vogal passível de nasalização [fonética] (seguida de consoante nasal [na sílaba seguinte]) com relação ao alteamento (p[u]mada, p[o]ndera), o que se justificaria pelo fato de que a vogal [travada por consoante] nasal não antecipa articulação alguma, enquanto a vogal nasalizada [por elemento nasal da sílaba seguinte] antecipa :... uma nasalidade como de junta, oposto a juta [...] não se deve confundir com uma pronúncia levemente nasal da vogal de cimo, ou de uma [...], em que o falante tende a antecipar o abaixamento do véu palatino, necessário à emissão nasal da consoante na sílaba seguinte, e emite já nasalizada a vogal precedente. Aí não há oposição entre a vogal nasalizada e a vogal, também possível, no mesmo vocábulo, sem a nasalização (CAMARA JR., 1969: 25).

46 46 Quando se trata da série anterior, Brandão & Cruz (2005) atestam que, nos vocábulos em que a vogal pretônica apresenta nasalidade fonológica, há [...] maior possibilidade de alteamento, ao passo que, no âmbito da série posterior, quando a vogal média posterior apresenta nasalidade de cunho fonológico, se mantém a média fechada. Segundo as autoras, diversas pesquisas mostram que há maior probabilidade de a média anterior nasalizada sofrer o alteamento do que a posterior. Contrário ao comportamento da pretônica localizada em sílaba travada por elemento consonântico nasal é o comportamento da pretônica travada por fricativa, que, independentemente de se tratar da vogal anterior [e] ou da vogal posterior [o], parece favorecer fortemente a atuação do processo de alteamento. Segundo Viegas (1987: 103), é necessário verificar se tal realidade pode ser atribuída ao modo de articulação da consoante, declarando que a fricativa favorece sempre, independente de estar na mesma sílaba ou não. Bortoni et alii (1992) afirmam que a presença de uma média pretônica travada por consoante fricativa, como vestido, é fator favorecedor. Lemos (2003) também atesta que a presença de consoante fricativa subsequente na mesma sílaba à vogal-alvo, como estouro e mosquito, é fator que favorece a aplicação da regra variável de alçamento, tanto da média pretônica anterior, quanto da posterior. Brandão & Cruz (2005) também verificam, nos dados dos falares amazonense e paraense, que, quando a média [anterior] inicia sílaba e antecede -s em coda silábica [...], a norma é o alteamento, como em esgoto, estrada, escola e esquerdo. Embora não seja comumente utilizado nas pesquisas que levam em consideração dados de sincronias atuais, a análise de Avelheda & Batista da Silveira (2011a) demonstrou que as vogais pretônicas prefixais são mais suscetíveis à aplicação do processo do que as que se localizam na base lexical do vocábulo. Naro (1971 apud BORTONI, GOMES & MALVAR, 1992: 13) aponta que um dos processos a que se deve a elevação das vogais pretônicas é a contaminação do prefixo en- > in-, com o prefixo erudito in-, e de eis- ou es-, derivado de ex-, com ens-, derivado de ins-, o que resulta, em posição inicial, na alternância entre en- ~ in- e de es- ~ ens- ~ ins- ~ is-. Além disso, outra fonte de alternância, conforme já citado anteriormente, é a prótese das vogais e ~ i ao grupo consonântico inicial formado por s + consoante. Callou et alii (1995) mostram que a presença da vogal média anterior no prefixo des- é um dos fatores condicionantes da elevação da vogal. Segundo Vasconcelos (1956 apud BISOL, 1981: 37), podem-se dividir os prefixos da língua portuguesa em dois grandes grupos: (i) os que mantêm o caráter da palavra de que se originaram, como entre- e contra-; e (ii) os que se integram totalmente no vocábulo com que combinam, como en-, des-, re-, con- e

47 47 por-. Para a autora, os vocábulos formados pelos prefixos que não perdem completamente o caráter da palavra originária parecem apresentar certos traços de composição, ambiente pouco propício para a regra de harmonização vocálica : A regra de harmonização vocálica que atua no âmbito da estrutura de vocábulo (menino ~ minino) e ultrapassa por vezes junturas morfêmicas (sofria ~ sufria) não alcança prefixos (predizer, *pridizer) ou qualquer formação vocabular que se assente no processo de composição (sempre-viva, *simpri-viva), isto é, não funciona por cima do limite /#/ nem ultrapassa o limite de derivado especial /=/ (BISOL, 1981: 108). Assim é que não se registram casos de alteamento de palavras como entreaberto e contracenar, visto que tais prefixos podem (i) ter livre curso na língua, como se observa em Ele é contra; (ii) instanciar forma livre, como em contrariar e entrevistar; e (iii) funcionar como formas dependentes, como em Ele lutou contra as dificuldades e A poltrona fica entre a cama e o guarda-roupa. Nesses termos, formas como entreaberto e contracenar apresentam características de compostos. Por outro lado, quando o prefixo adere por completo à palavra a que se adjunge ou quando se perde a sua origem, a harmonização passa a atuar, porque o prefixo deixa de ser assim interpretado e passa a ser parte integrante da própria palavra. É o que ocorre com os prefixos das palavras engordar, despreparado, comer e conversar anteriormente citadas. No caso dos exemplos de pretônica anterior, o prefixo integrou-se totalmente com os vocábulos; nos casos de pretônica posterior, perdeu-se a origem prefixal por que se caracterizava, de modo que não mais se interpretam tais palavras como formadas por prefixação. Segundo Bisol (1981: 42), a vogal candidata à elevação pode manter seu caráter de átona [...] como pode perdê-lo. Chamam-se átonas permanentes aquelas que, mesmo submetidas a processos de flexão e derivação, nunca figuram como tônicas: empresa, entender, conversar e acostumar. Chamam-se átonas eventuais, por sua vez, aquelas sílabas que derivam (de) uma tônica, como se observa em lembrar (átona) lembro (tônica) e contar (átona) conto (tônica). Para a autora (1981: 72), as átonas aparentadas com vogais acentuadas /e o / tendem a reter a aplicação da regra, ao passo que a átona permanente oferece-lhe o contexto ideal. Teyssier (1997: 101) afirma que o brasileiro pratica algumas das transformações excepcionais das pretônicas que a língua antiga conhecia; por exemplo: entrar e estar como [i]ntrar e [i]star, ou menino e costume pronunciados m[i]nino e c[u]stum[i].

48 48 Segundo Viegas (2003: 315), a afirmação de Teyssier (1977) supramencionada indica, pelo uso do termo excepcionais, que o caráter do processo não era (e não é) uniforme em termos lexicais. Para a autora, no entanto, atingir o léxico gradualmente não quer dizer mudança excepcional, sem direção nem condicionamento (p. 215). Sob essa concepção, argumenta que o processo de harmonia vocálica não é excepcional, mas lexical: Os itens não alçados são, em geral, mais formais, mais especializados, mais eruditos (p. 313). Sendo assim, é importante verificar se há uma classe gramatical que favoreça a aplicação do alteamento mais do que outra. Avelheda & Batista da Silveira (2011b) atestaram que os itens verbais, sobretudo os pertencentes à segunda e à terceira conjugações, são mais suscetíveis ao alteamento do que os itens nominais, por exemplo. Viegas (1987: 68) afirma que, com relação aos verbos, o que parece favorecer o alçamento é a presença de vogal alta no paradigma. Para Klunck (2007: 89), que afirma que o conjunto de dados de /o/ mostra um indício de difusão lexical ao envolver palavras do mesmo paradigma derivacional, a interpretação desse caso como indício de difusão lexical dá margem à atribuição de um papel à analogia: o alçamento da vogal sem motivação aparente estaria ocorrendo por analogia à pretônica que se torna alta por harmonização vocálica. Assim, o alteamento da pretônica de consigo ~ c[u]nsigo levaria ao alteamento também em consegue, consegui, conseguia, bem como o alteamento da pretônica de comi ~ c[u]mi levaria ao de comeu, comer, comendo. Lee (1995) propõe a existência de duas estruturas no português: o verbo e o nãoverbo. Segundo o autor, enquanto a estrutura do não-verbo constitui-se de radical + (vogal temática), observa-se no verbo uma estrutura mais complexa, formada por tema (radical + vogal temática) + sufixo flexional (sufixo modo-tempo + sufixo número-pessoa). De posse dessa informação, Silveira & Tenani (2007) empreenderam sua análise com base apenas em palavras pertencentes à classe dos nomes ou, mais especificamente, dos substantivos e adjetivos, argumentando que as diferentes estruturas envolvidas entre as diversas classes gramaticais podem influenciar distintamente no comportamento das vogais. Segundo Lemle (1974), a classe dos formadores de grau e terminação -mente têm características sintáticas e fonológicas que tendem a interceptar o enfraquecimento do acento e consequentemente a redução vocálica. Dias, Cassique & Cruz (2007) atestaram que o sufixo diminutivo mostra-se favorecedor da regra de alteamento, mas deve-se ressaltar que os autores consideraram formado por sufixo de grau diminutivo o vocábulo sobrinho. Por ser um

49 49 item bastante comum, que se pode ter repetido diversas vezes no corpus, o resultado apresentado é questionável. A análise sociolinguística caracteriza-se essencialmente por promover estudos que levem em consideração os aspectos sociais diante dos quais se realizam as variações encontradas na língua. Para Labov (2008: 21), nenhuma mudança acontece num vácuo social, de modo que não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorra. Segundo o autor, a mudança linguística inicia-se em um grupo da comunidade de fala e é levada às demais gerações. Silveira & Tenani (2007) afirmam que uma série de pesquisas aponta a faixa etária como variável relevante para determinar a preservação, o retrocesso ou a estagnação de um fenômeno linguístico. Segundo as autoras, tal variável mostra-se significativa para verificar se a variação é apenas uma questão de gradação etária, tratando-se de modismos de determinada fase da vida, ou se está igualmente distribuída, no âmbito horizontal, por toda a comunidade. Segundo Viegas (1987: 73), a mudança é geralmente incorporada pelos falantes mais jovens, que passam a utilizar a regra além do modelo dos pais. Labov (2008: 152) postula, ainda, a existência de dois tipos de pressões que conduzem a mudança linguística: (a) pressões vindas de cima, que representam o processo explícito de correção social e (b) pressões vindas de baixo, que operam sobre sistemas linguísticos inteiros, em resposta a motivações sociais que são relativamente obscuras e mesmo assim têm a maior importância para a evolução linguística. No que diz respeito ao fenômeno sob análise nesta pesquisa, acredita-se tratar-se de uma regra variável impulsionada por pressões vindas de baixo, visto que não se encontram no nível da percepção consciente. Apesar disso, observa-se que, em momentos de transmissão de conteúdo, sobretudo quando guiado por um texto, o professor pode mesmo monitorar sua fala, esforçando-se por não utilizar a variante alteada, e mesmo corrigir-se após ter feito seu uso. Para Callou & Leite (1999), o processo de alteamento não constitui objeto de estigmatização social, manifestando-se tanto na fala de não-escolarizados quanto na de escolarizados. Da mesma forma, Bisol (1981: 47) afirma ter acreditado que a variante alteada afloraria sem peias de retenção entre os falantes de baixa escolaridade, mas atesta que da fala culta e da fala popular podem ser tiradas consideráveis observações sobre a variável em estudo. Dias, Cassique & Cruz (2007) afirmam expressamente que quanto maior a escolaridade, menor a possibilidade de realização do alteamento, ou seja, o processo de escolarização influencia diretamente no modo de falar dos habitantes da comunidade de Breves (PA), o que os autores explicam por uma possível relação que os falantes façam entre

50 50 o alteamento da pretônica e o alteamento da tônica que caracteriza o falar altamente estigmatizado da Amazônia, definido jocosamente por Silva Neto (1957 apud DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007) como o dialeto do canua cheias de cucu de pupa a prua. Outro fator social tradicionalmente considerado pelas análises sociolinguísticas é o sexo do informante. Para Labov (2008: 282), as mulheres são mais sensíveis do que os homens aos valores sociolinguísticos explícitos, de modo que, por estarem sempre em situação de autoafirmação, tendem a ser mais conservadoras. Segundo o autor, que considera que o poder de mudança de um grupo social está associado ao prestígio de que goza na comunidade de fala e ao contato que possui com os mais diversos grupos, as mulheres, mesmo quando usam as formas mais extremas de uma variável linguística em avanço em sua fala casual, [...] se corrigem mais nitidamente do que os homens nos contextos formais. Oliveira (1982: 86) afirma que os homens desfrutam de maior mobilidade dentro e fora de sua vizinhança imediata e que, por isso, tendem a liderar a propagação de fenômenos inovadores, comandando o estabelecimento de tendências linguísticas. Para Bisol (1981), Bortoni et alii (1991) e Yacovenco (1993), não se trata de uma variável que traga resultados relevantes no que se refere à diferença de manifestação do processo. 3.3 Outros olhares sobre o processo de alteamento Análise Acústica Catford (1988), tomando como base o diagrama das vogais cardeais de Daniel Jones (1980), empreendeu uma análise acústica por meio da qual realizou a média de suas frequências formânticas na voz masculina. Assim, fez-se possível estabelecer um quadro de referência, que oferece um conhecimento prévio dos valores aproximados dos formantes para cada uma das vogais. Orsini (1995), visando ao preenchimento de uma lacuna, empreendeu análise de igual natureza a fim de observar a média das frequências formânticas das vogais cardeais na voz feminina. Na tabela 1, abaixo, observam-se os referidos valores: Tabela 1: Valor médio de F1 e F2 para as Vogais Cardeais Valor médio de F1 e F2 para as vogais cardeais na voz masculina, segundo Catford (1988 apud ORSINI, 1995). Valor médio de F1 e F2 para as vogais da voz feminina em todos os contextos de tonicidade, segundo Orsini (1995 apud SANTOS, 2010).

51 51 Machado (2010), a partir de um corpus gravado em laboratório e constituído por 56 palavras e por meio da medição do primeiro e do segundo formantes, a autora buscou observar a existência de um padrão na distribuição das vogais e distinguir acusticamente as vogais altas subjacentes das geradas por atuação do processo de alteamento. Nesse empreendimento, atestou que [i] e [u] derivados das médias [e] e [o] subjacentes são sempre mais altos, apresentando valores menores de F1, e mais anteriores, com valores maiores de F2, do que as contrapartes altas subjacentes. Para Machado (2010), o espaço vocálico é um contínuo articulatório, acústico e auditivo no qual as vogais das mais diferentes línguas vão ocupar pontos específicos, sendo produzidas a partir dos diversos posicionamentos da língua e dos lábios. Ladefoged (1967) afirma que a qualidade vocálica é mais bem caracterizada em termos de suas dimensões acústicas, mas acrescenta que a qualidade de um som não é determinada unicamente pelos valores formânticos obtidos através da análise acústica do som em questão, mas pela relação que se estabelece entre estes valores e os valores formânticos das outras vogais produzidas pelo mesmo falante (ORSINI, 1995: 26) Análise Lexical As mudanças sonoras costumam ser abordadas sob duas perspectivas de análise: a neogramática e a difusionista. A perspectiva neogramática propõe que as mudanças sonoras: (i) são condicionadas apenas por fatores fonéticos, não estando submetidas a nenhum fator de outra ordem seja ele linguístico ou extralinguístico; (ii) são foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais com contextos semelhantes; e (iii) são realizadas de acordo com leis fonéticas que não reconhecem exceções. A perspectiva difusionista, por sua vez, propõe que (i) há processos fonológicos que não são explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama de fatores, incluindo os de natureza discursivo-pragmática e sociogeográfica; (ii) as mudanças sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, já que nem todos os vocábulos que contêm o som em mudança são afetados simultânea e igualmente; e (iii) há exceções a mudanças sonoras que não podem ser explicadas por analogia. Kiparsky (1993) e Gonçalves (1997) afirmam que as duas doutrinas podem atuar juntamente, complementando-se, haja vista que ambos os modelos podem dar conta dos dados da língua. Chen & Wang (1975 apud OLIVEIRA, 1991: 101) afirmam que o surgimento de

52 52 uma mudança sonora tem a ver com as restrições inerentes aos aparelhos fisiológico e perceptual dos falantes, ao passo que sua implementação se realiza através de difusão lexical. Krishnamurti (1978 apud OLIVEIRA, 1991: 94) demonstra que dois são os fatores envolvidos como possíveis determinantes do grau de exposição das palavras à mudança sonora: frequência e domínio semântico, sendo este uma área de experiência coberta pelo conjunto de termos de determinado campo semântico (CRYSTAL, 2000: 88). Nesses termos, itens que apresentam maior frequência de uso são mais vulneráveis do que os restritos a dados domínios semânticos. Para Oliveira (1991: 102), há três fatores que podem inibir as mudanças sonoras: (a) nomes próprios, que podem preservar uma forma antiga e resistir à mudança; (b) reação contrária por parte de uma classe social, que provoca um efeito retardador e pode trazer proteção temporária a algumas palavras; e (c) estilos de fala formais, que provocam um efeito inibidor. Assim, uma mudança sonora da forma X Y/Z 8 pode atingir regularidade se Z fornecer um ambiente fonético natural para Y, de modo que as primeiras vítimas desse tipo de mudança são as palavras que apresentam os seguintes traços: (a) X ocorre em um nome comum; (b) Z oferece contexto fonético natural para Y; e (c) X é parte de uma palavra que ocorre em contextos informais de fala. No que diz respeito ao processo de alteamento, embora o foco das análises esteja fundamentado na abordagem neogramática, dando-se prioridade à pesquisa dos contextos fonéticos que favorecem ou desfavorecem a aplicação do processo, é comum verificar que existe, como assim o nomeia Viegas (2001), um resíduo de aplicação da regra: itens que possuem contexto e, portanto, poderiam ser atingidos pela regra e não o são, e itens que não possuem contexto e, apesar disso, alçam. Para a autora, esse mencionado resíduo de aplicação da regra não estaria previsto no modelo neogramático, motivo principal para que se opte por uma análise de orientação difusionista. O modelo difusionista explica melhor a realidade do que o modelo neogramático, pois admite a postulação de regras com um efeito neogramático para alguns tipos de mudanças (para as que os fundadores do modelo neogramático chamavam de mudança sonora, aquelas bem regulares) e, além disso, abrange outros tipos de mudanças (aquelas que os neogramáticos chamavam de mudanças esporádicas, não favorecidas por fatos fonéticos apenas). As exceções não são exceções no modelo difusionista pois, sendo lexical a implementação da mudança, espera-se que os itens todos não tenham exatamente o mesmo comportamento. O modelo difusionista 8 Leia-se tal equação como X realiza-se como Y em contexto Z, que indica que o contexto fonético Z demonstra-se favorecedor do processo sob análise. No caso do fenômeno de alçamento das vogais pretônicas, pode-se escrever uma equação do tipo /e/ [i] / #_, por exemplo, que deve ser lida como /e/ realiza-se como [i] em contexto inicial de vocábulo, como se observa em encontrar e entender.

53 53 descreve melhor o processo porque permite fazer uma análise condizente com as realidades históricas e sociais das comunidades de fala, ou seja, de acordo com a produção, o uso do item e sua valoração social (VIEGAS, 2001: 210). Oliveira (1991: 100) afirma que o contexto fonético não garante que o processo de alteamento se aplique ou não aos itens sob análise, o que corrobora comparando listas de vocábulos que apresentam o mesmo contexto fonético, mas uns se realizam categoricamente pela vogal médio-alta [e, o] e outros concretizam a vogal alta [i, u]: meninge vs. menino, medita vs. medida, semente vs. semestre, comício vs. comida, pomar vs. pomada, forminha vs. formiga. Para Oliveira (1991: 99), o alteamento das vogais médias pretônicas é um processo de natureza difusionista, o que se justificaria pelo fato de haver (a) casos em que o contexto fonético favorecedor está presente e, mesmo assim, não ocorre o alteamento; (b) casos em que o contexto fonético desfavorece o processo, mas ele se aplica. Além disso, há ainda casos em que o alteamento se aplica variavelmente, em uma mesma palavra, a despeito de haver ou não um contexto fonético favorecedor. Para esses últimos casos, Viegas (2003: 308) afirma que o item alçado é aquele cujo uso normalmente é feito em situações mais familiares ou menos prestigiadas. Nas formas em que a vogal média está em oposição distintiva em relação à vogal alta, aqueles itens que têm um uso considerado menos prestigiado socialmente alçam (purção, com significado de muita quantidade, traz o rótulo brasileirismo em dicionários) e aqueles cujo uso é socialmente considerado mais prestigiado não alçam (Peru é inclusive escrito com letra maiúscula e porção é usado, normalmente, em restaurantes, mas não é usual em casa, no dia-a-dia). Houaiss (1958 apud BORTONI, GOMES & MALVAR, 1992: 13) faz referência a uma restauração erudita, a qual, por via ortográfica, estaria preservando as vogais médias. Segundo o autor, incluem-se na análise do processo de alteamento os fatores frequência e estilo: as palavras comuns estão mais sujeitas à elevação do que palavras raras, e o processo é mais frequente em estilo coloquial do que em estilos formais. Para Viegas (2001: 204), o item alçado é relacionado ao desprestígio, ao passo que o não-alçamento do item é relacionado ao prestígio do seu uso. A autora distingue dois tipos de itens: os itens aprendidos ou transmitidos, que são passados de geração a geração no meio familiar, e os itens adquiridos, que são adicionados mais tardiamente ao léxico do falante. Desse modo, os primeiros itens a serem alçados são exatamente os transmitidos de geração a geração, itens mais populares e utilizados frequentemente no dia-a-dia:

54 54 As primeiras vítimas do alteamento não foram itens com sentido pejorativo, pois esta marcação veio com a utilização de determinada forma alçada por determinado grupo social pouco prestigiado, ou seja, com o processo já iniciado e com o confronto com os novos itens tomados por empréstimo, mais eruditos, e com as situações menos familiares (VIEGAS, 2001: 211). O alteamento se iniciou nos itens aprendidos, populares, cotidianos, menos marcados; posteriormente, adquiriu certo grau de estigma social e o processo passou a atuar nos itens mais pejorativos, palavrões, itens jocosos, irônicos (VIEGAS, 2003: 316). Em sua pesquisa, Viegas (2001) atestou que, entre pares de homônimos, como concerto vs. cunserto, porção vs. purção, Senhor vs. sinhor, cobertura vs. cubertura, o alçamento se relaciona ao desprestígio do item ou à intimidade do informante com ele. Esse aspecto é tão sistemático que mesmo um informante analfabeto que, portanto, não se valia de recursos gráficos como a utilização de letras maiúsculas era capaz de distinguir os itens de significado mais prestigiados daqueles menos prestigiados unicamente pelo processo de alteamento. Tal sistematicidade só é afetada quando a relação de prestígio/desprestígio dos itens não é muito nítida (VIEGAS, 2001: 205), o que faz com que se troque um vocábulo pelo outro com mais facilidade: comprimento é utilizado com o significado de aceno, e cumprimento com o significado de extensão; dispensa é utilizado com significado de local em que se armazenam mantimentos, e despensa é utilizado como isenção. Conhecido como especialização semântica, esse processo consiste em reservar cada variante para a expressão de um sentido particular, o que corrobora a afirmação de Labov (2008: 290) de que os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente têm o mesmo significado e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas. Para Cristófaro-Silva (2001), o falante faz escolhas lexicais específicas em situações específicas. Os itens, quando usados de maneira depreciativa, alçam mais facilmente ( o purtuga ali da esquina ) e, dependendo do momento da enunciação, itens que normalmente não são alçados podem ocorrer alçados quando se quer dar um sentido zombeteiro, jocoso (VIEGAS, 2001: 213) Sendo assim, a abordagem lexical do processo de alteamento preocupa-se não só em definir quais teriam sido os itens primeiramente atingidos, mas principalmente em avaliar as possíveis especializações semânticas decorrentes da escolha por uma ou por outra variante.

55 55 4 O TRATAMENTO DA LÍNGUA: ABORDAGENS PRÉ E PÓS-SAUSSURIANAS Pode-se comparar a língua a uma sinfonia, cuja realidade independe da maneira por que é executada; os erros que podem cometer os músicos que a executam não comprometem em nada tal realidade (SAUSSURE, 1969: 26). Durante décadas de estudos linguísticos, perpetua-se o axioma da homogeneidade, instaurado por Hermann Paul, em 1880, que estabelece uma identificação entre estruturalidade e homogeneidade, de modo que só é possível detectar estrutura num recorte que homogeneíze o objeto, tornando teoricamente irrelevante a variabilidade (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 13). Paul, diante da questão da inobservabilidade da mudança fonética infinitesimal, ou seja, realizada em etapas lentas e graduais, acoplada à inobservabilidade da mudança estrutural instantânea, isto é, que atinge todos os contextos que possuam o mesmo esquema estrutural, assume o posicionamento de negar que a mudança ocorra dentro de um sistema e afirmar, ao contrário, que o sistema (por exemplo, o dialeto) tomou emprestado o novo fenômeno de outro dialeto (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 65). Para o autor, são dois os princípios reguladores e motivadores da mudança: (a) utilidade, de modo que a menor ou maior utilidade dos padrões resultantes é decisiva para sua preservação ou extinção ; e (b) comodidade, de forma que o desvio em uma direção de algum modo se adapta melhor aos órgãos do falante (PAUL, 1880 apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 45). A esses, pode-se acrescentar, ainda, um princípio que diz respeito à conformidade, que prediz que os falantes gostam de se conformar aos idioletos de seus interlocutores (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 48). A esta hipótese, acrescenta-se a observação de que Somente o acaso pode fazer com que, numa área mantida unida por intercurso particularmente intenso, uma tendência alcance preponderância sobre outra (PAUL, 1880: 61 apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 47). O que subjaz às orientações teóricas de Paul, todavia, é uma íntima relação entre os estudos linguísticos e estudos científicos de outras ordens, como a lógica, a psicologia e a fisiologia. A partir do século XX, em cujo início surgiu a linguística saussuriana, o campo de estudos sobre o desenvolvimento da língua foi se tornando cada vez mais autônomo, independente de outros campos de conhecimento, o que se pôde lograr a partir dos ensinamentos de Saussure, considerado o Pai da atual configuração das ciências da linguagem como um campo específico de estudos.

56 56 Fundamentando-se na metodologia dos estudos comparativistas do século precedente, que procuravam saber não como as línguas funcionavam, mas como evoluíam de um estágio a outro, e acreditando que somente a língua parece suscetível duma definição autônoma (SAUSSURE, 1969: 17), Saussure compreende a linguagem como um fenômeno intrinsecamente complexo e heterogêneo, ao passo que a língua assim delimitada é de natureza homogênea (p. 32). Para analisá-lo com maior nitidez e segurança, propõe sua divisão em dois aspectos: (a) língua (langue), um todo por si e um princípio de classificação (p. 17); e (b) fala (parole), um ato cuja unidade não se sabe como inferir (p. 17), um ato individual de vontade e inteligência (p. 22). Com essa concepção, o autor considera a existência de uma estreita relação entre a possibilidade de se inferir uma estrutura linguística e a necessidade de que a língua seja um objeto homogêneo, de modo que seja responsável por propiciar e manter a unidade da linguagem (p. 18). Reconhece que língua e fala são interinfluenciáveis: a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos e a fala é necessária para que a língua se estabeleça (p. 27), já que se trata de uma parte social, exterior ao indivíduo, o qual não pode criar ou modificar a língua, mas apenas registrá-la passivamente, sem meditar ou refletir a respeito de sua formação. Toma-se a língua como um fator abstrato de natureza homogênea, cujo conhecimento só se obtém por meio de aprendizagem mais ou menos formal. A fala, por sua vez, é encarada como ambiente caótico, soma do que as pessoas dizem, compreendendo combinações individuais, dependentes das vontades dos que falam (p ). Pautando-se, muito embora, em tentativas de explicar como ocorrem as mudanças linguísticas, Saussure não dá a merecida atenção à questão da transição de um estágio de língua a outro. Ora, se o indivíduo falante não pode criar nem modificar a língua, sistema abstrato de que faz uso, de onde provêm as forças que levam à evolução? Se o falante não tem autonomia diante da língua, como se introduzem nela novas formas? Com Bloomfield (1933), apesar de já se reconhecer a existência de diversidade linguística dentro de uma comunidade de fala, ainda se repetem o desinteresse pelo caráter sistemático da heterogeneidade e a descrença na possibilidade de descrever a estrutura linguística com base em um objeto heterogêneo:

57 57 Se observássemos bem de perto, descobriríamos que duas pessoas ou, antes, talvez, nenhuma pessoa em diferentes épocas jamais falam exatamente do mesmo modo. [...] Essas diferenças desempenham um papel muito importante na história das línguas; o linguista é forçado a considerá-las muito cuidadosamente, embora em alguma parte de seu trabalho ele seja forçado provisoriamente a ignorá-las (BLOOMFIELD, 1933: apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 58). Mantém-se, ainda, a certeza quanto à inobservabilidade das mudanças sonoras, de modo a se compreender que são realizadas de forma tão contínua, lenta e gradual, que não se pode observá-las antes de começarem a produzir efeitos no sistema da comunidade em questão. Para o autor, a motivação da mudança não se localiza internamente ao sistema linguístico, mas se deve ao mecanismo de imitação dos hábitos prestigiosos de seus companheiros coetâneos. Com Noam Chomsky (1965) e a sua premissa de um falante-ouvinte ideal, membro perfeitamente representante da comunidade de fala absolutamente homogênea, o axioma da homogeneidade assume lugar central: A teoria linguística se ocupa de um falante-ouvinte ideal, numa comunidade de fala completamente homogênea [grifos dos autores], que conhece sua língua perfeitamente [grifos acrescidos] e não é afetado por condições gramaticais irrelevantes tais como limitações de memória, distrações, alterações de atenção e interesse, e erros (aleatórios ou característicos) ao aplicar seu conhecimento (CHOMSKY, 1965: 3-4 apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 60). Embora reconhecesse a criatividade dos falantes, esta consistia tão somente em considerar e demonstrar que se fala muito, conhecendo-se muito pouco ou seja, que um falante, contando com o mesmo sistema relativamente restrito, é capaz de elaborar construções absolutamente inéditas, assim como de compreender enunciados nunca antes escutados. O gerativismo não incluía nesse aspecto criativo a existência de variação, visto que seu objetivo não era empreender uma verificação empírica, mas identificar uma teoria para o funcionamento da língua com base em juízos de gramaticalidade que expressariam o conhecimento intuitivo e internalizado do falante nativo, sua competência linguística (LUCCHESI, 2011: 239). Tendo por objeto de estudo o que Chomsky (1981) passou a designar como Língua-I interna e individual, em oposição a uma Língua-E, esta sim externamente objetivada e coletiva, as mudanças linguísticas e os desvios desse sistema homogêneo apregoado são apenas, geralmente, erros aleatórios de desempenho, ou, de forma mais otimista, descrições realistas da competência de um membro da comunidade de fala, ou seja, assistemáticas.

58 58 Com o advento da Teoria de Princípios e Parâmetros, começa a se manifestar o interesse pela diversidade. Segundo Lucchesi (2011: 250), sendo princípios os aspectos invariantes e imutáveis que regem as línguas naturais e parâmetros os aspectos de variação interlinguística concebidos como opções, é exatamente nos parâmetros que se encontra, para a Teoria Gerativa, o locus da variação, uma vez que os princípios que caracterizam uma língua e a diferem de outras são naturalmente imutáveis: se é comum em muitas línguas o falante ser estigmatizado por não empregar adequadamente as regras de concordância, dificilmente se encontrará uma comunidade de fala em que o falante é estigmatizado por construir um sintagma com a ordem núcleo-especificador quando o padrão seria a ordem especificador-núcleo, porque este não é um mecanismo da gramática potencialmente sujeito à variação. A depender do input a que seja exposta, a criança definirá os parâmetros quanto ao valor positivo ou negativo que depreende de sua comunidade de fala durante o período da aquisição. Assim é que uma criança, exposta a um input em que haja marcação positiva do parâmetro do sujeito nulo, desenvolverá em sua gramática internalizada tal possibilidade, de modo a produzir e compreender estruturas assim formadas. Ainda levando em consideração a hipótese de que a descrição de uma estrutura linguística só pode ser feita com base em um objeto homogêneo, Eugenio Coseriu (1987), com o intuito de separar a língua de qualquer determinação sociocultural, propõe uma abordagem tricotômica da linguagem, que se organizaria em sistema, norma e fala. Note-se, entretanto, que, mesmo reservando o sistema para aquilo que é característico de dada língua, Coseriu já prevê um espaço para descrever a estruturalidade daquilo que é variável: variações e mudanças linguísticas não são, como o queriam Chomsky e Saussure, erros aleatórios e imprecisões de desempenho, nem, como o queria Bloomfield, mera imitação de hábitos prestigiosos de seus companheiros coetâneos. Ao contrário, são possibilidades que o sistema linguístico, até então aquele para cuja existência se exigia a ausência de heterogeneidade, oferece para a expressão do indivíduo: inédita, mas, ao mesmo tempo, compreensível para os que utilizam o mesmo sistema. O que subjaz à tricotomia coseriana é uma série de progressivas abstrações, que parte do falar concreto, e o relaciona com os seus modelos, com um falar anterior. Segundo Coseriu (1987: 15), atos linguísticos propriamente ditos

59 59 se criam com base em atos linguísticos precedentes e, por sua vez, servem como base de atos linguísticos ulteriores, visto que a língua não existe a não ser como sistema abstrato de atos linguísticos comuns, ou concretamente registrados ou acumulados na memória dos falantes. O sistema coseriano constitui um conjunto de possibilidades que abarca tudo aquilo que é distintivo na língua, incluindo-se os fatos ainda não realizados, mas passíveis de o serem, e aqueles realizados outrora, mas tornados obsoletos pela característica evolutiva intrínseca a todas as línguas. Trata-se de um sistema composto por uma série de elementos essenciais e indispensáveis, de oposições funcionais. A norma, por sua vez, consiste em um subsistema, um recorte do sistema de oposições por que se caracterizam as línguas, e abarca todos os fatos tradicionais e comuns, ainda que não distintivos: tudo o que se diz de uma maneira e não de outra em determinada comunidade de fala, tudo o que é repetição de modelos anteriores (p. 73). A fala ou, mais especificamente, o falar concreto, por fim, é a realização do que se encontra nesses dois níveis de abstração. Melhor dizendo, é a realização da escolha feita, dentre as opções oferecidas pelo sistema linguístico, por aquela comunidade e é, ao mesmo tempo, o que determina o que estará contido na norma, visto que não é um ato individual de vontade e inteligência (SAUSSURE, 1969: 22), mas um acordo estabelecido entre os falantes para que se realize com perfeição a comunicação. Com essa sua proposta, Coseriu resolve o problema que chamou de insuficiência da dicotomia langue vs. parole saussuriana, uma vez que consegue considerar o ponto onde há o encontro entre língua e fala, onde se realiza o ato verbal. Reconhece no sistema certa flexibilidade, que advém do fato de permitir que o falante faça escolhas, com base em atos linguísticos anteriores, no momento de concretizar o seu ato linguístico: pode ser considerado um conjunto de imposições, mas também, e talvez melhor, como conjunto de liberdades, pois que admite infinitas realizações e só exige que não se afetem as condições funcionais do instrumento linguístico (p. 74). Assim, começa-se a resolver o problema que se impõe à sociolinguística variacionista: Se uma língua tem de ser estruturada para funcionar eficientemente, como ela funciona enquanto a estrutura muda? O fato é que, por ser o sistema um campo que prevê todas as possibilidades, a variação e a mudança linguísticas não afetam a estruturalidade da língua, mas, pelo contrário, aproveitam-se de toda a variada gama de opções por ele oferecidas.

60 Sociolinguística Variacionista: o espaço da heterogeneidade Um dos corolários de nossa abordagem é que numa língua que serv e a uma comunidade complexa (i.e., real), a ausência de heterogeneidade estruturada é que seria disfuncional (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006:36). Embora compreendessem que as abstrações que levam a sistemas homogêneos e invariantes são, sem dúvida, mais coerentes do que os dados reais, induzindo mais facilmente à redação de regras sem exceções, Weinreich, Labov e Herzog (2006: 104) argumentam que por outro lado, se alguém tentasse descrever como um falante (...) realmente usa a língua, haveria diversas incoerências intrigantes e inexplicáveis nos dados, as quais seriam explicáveis dentro de um modelo que incluísse elementos variáveis dentro do próprio sistema. Reconhecendo a inconsistência e a incoerência de descrições que não se apropriassem de fatos variáveis característicos das línguas vivas, Weinreich, Labov & Herzog (2006) propõem o abandono do axioma da homogeneidade. Para os autores, a variação é uma propriedade inerente e regular do sistema, sendo a mudança linguística um processo contínuo, subproduto inevitável da interação. Assim, a mudança (...) não afeta a estruturalidade da língua, isto é, a língua continua estruturada enquanto vão ocorrendo as mudanças (p. 13). No lugar de tornarem teoricamente irrelevante a variabilidade, como sugeriam as análises de Hermann Paul anteriormente explicitadas, consideram a existência de uma heterogeneidade ordenada, o que significa dizer que as formas variantes estão sistematicamente estruturadas na Gramática que os falantes da língua dominam. Para os autores, a variação consiste em meios alternativos de dizer a mesma coisa, disponíveis a todos os membros da comunidade de fala (p. 97), de modo que a escolha entre as alternativas linguísticas acarreta funções sociais e estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social (p. 99). Assim, resolve-se uma das maiores incoerências de abordagens anteriores, que enxergavam unanimemente a língua como um fato social, mas não reconheciam a ação que a sociedade e os falantes são capazes de exercer sobre ela, adaptando-a aos mais variados contextos comunicativos, submetendo-a a uma série de condicionamentos extra- ou intralinguísticos, que a moldam de acordo com tempo e espaço em que é utilizada: Nem todas as mudanças são altamente estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. (...) não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorra (LABOV, 2008: 20-1).

61 61 Com essa concepção, Labov (1966) assume que existe variação contínua dentro de cada dialeto como um elemento estrutural, correlacionado com algum outro fator linguístico ou extralinguístico (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006: 65). Tomando como base a abordagem tricotômica proposta por Coseriu (1987), observa-se que a compreensão de Labov (1966) a respeito do que se pode entender por estrutura, como uma organização necessária para que se dê o funcionamento da língua, é mais ampla do que a de Paul (1880), uma vez que a do sociolinguista se constitui de todas as possibilidades disponíveis para os falantes se comunicarem entre si, ao passo que a do neogramático refere-se apenas aos fatos de língua que caracterizam determinado falante. A sociolinguística visa a responder a cinco problemas que permeiam a elaboração de uma teoria da variação e da mudança linguísticas: (a) implementação, (b) transição, (c) fatores condicionantes, (d) encaixamento e (e) avaliação. O problema da implementação diz respeito à tentativa de compreender o porquê de uma mudança linguística ocorrer em um tempo e lugar determinados, mas não em outro momento ou lugar: por que as mudanças num aspecto estrutural ocorrem numa língua particular numa dada época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras épocas? (p. 37). A questão da transição concerne ao percurso através do qual determinadas mudanças se realizam, ou seja, o que ocorre até que uma mudança linguística seja finalizada, até que a forma nova suplante a forma originária daquela comunidade de fala e se torne o modo preferencial de expressão. Nas palavras de Weinreich, Labov & Herzog (p. 36), quais os estágios intervenientes que podem ser observados, ou que devem ser postulados, entre quaisquer duas formas de uma língua definida para uma comunidade linguística em épocas diferentes? No que diz respeito ao problema dos fatores condicionantes, buscam-se encontrar as condições possíveis para mudanças que podem ocorrer numa estrutura de determinado tipo (p. 36), ou seja, busca-se determinar o conjunto (...) de condições possíveis para a mudança (p. 121). Ligado a essa questão, encontra-se o problema do encaixamento, que procura observar como as mudanças (...) estão encaixadas na matriz de concomitantes linguísticos e extralinguísticos das formas em questão (p. 36), de modo que não se possam atribuir ao acaso, a desvios ou a erros aleatórios de desempenhos, como o queriam Chomsky (1965) e Saussure (1969). Por fim, há ainda o problema da avaliação, que diz respeito a como as mudanças observadas podem ser avaliadas em termos de seus efeitos sobre a estrutura linguística, sobre a eficiência comunicativa (...) e sobre o amplo espectro de fatores não-representacionais

62 62 envolvidos no falar (p. 36), incluindo-se aqui a avaliação subjetiva do indivíduo frente às variantes. A este problema, relaciona-se o nível de consciência social que os falantes apresentam em torno de determinadas variáveis linguísticas: Para algumas variáveis, o nível de consciência social é tão elevado que se tornam tópicos salientes em qualquer discussão sobre a fala. (...) A correção, nos estilos formais, associada a tais estereótipos é extrema, mas bizarra em sua distribuição, e é acompanhada por uma considerável tensão psicológica na maioria dos falantes: os resultados são o conjunto assistemático e instável de contrastes característicos da linguagem formal (p. 119). Os manuais de sociolinguística preveem que as análises podem ser realizadas sob duas perspectivas. A primeira delas diz respeito ao estudo da mudança em tempo real, de curta ou longa duração, que se configura pela observação de dois distintos momentos do tempo, geralmente deixando-se passar um período de, pelo menos, vinte anos entre um contato e outro. Segundo Labov (1996: 138), há duas abordagens do problema de coletar dados em tempo real: (i) buscar a bibliografia que se ocupe da comunidade em questão e comparar os resultados antigos com os atuais método mais simples e eficiente; e (ii) regressar à comunidade depois de certo tempo e realizar o mesmo estudo. Na primeira dessas abordagens, faz-se uso do passado para auxiliar na interpretação do presente, procedimento natural da linguística histórica, que busca estudos prévios relacionados ao tema sob investigação. Na segunda abordagem, utiliza-se o presente para interpretar o passado, o que se pode efetuar por meio de (a) um estudo de tendência ou (b) um estudo de painel. O estudo do tipo tendência utiliza amostras aleatórias da mesma comunidade de fala, estratificadas com base nos mesmos parâmetros sociais, em dois distintos momentos do tempo, de modo que se consiga abranger os falantes representativos da comunidade no momento da primeira gravação e, após um intervalo de, geralmente, vinte anos, os falantes representativos da comunidade no momento da segunda gravação. Segundo Labov (1996: 141), enumera-se a população geral do mesmo modo, extrai-se a população da amostra do mesmo modo, obtêm-se e analisam-se os dados do mesmo modo mas depois de um número x de anos. Para que tal estudo produza um retrato significativo da evolução linguística, é essencial que a comunidade tenha permanecido mais ou menos estável durante o intervalo de tempo. Se tiveram lugar mudanças drásticas em sua configuração demográfica, as mudanças que observemos na língua podem ter pouco a ver com a lógica da mudança linguística em curso (LABOV, 1996: ). Somente assim, sendo resguardadas as características sócio-históricas da comunidade de fala, o resultado do estudo comparativo das amostras será, em termos estatísticos,

63 63 equivalente ao estudo de toda a comunidade, sendo possível depreender a direcionalidade do sistema na comunidade linguística e verificar em que medida mudanças na configuração social de um grupo podem se refletir na propagação, estabilização ou no recuo de processos de mudança (PAIVA & DUARTE, 2003: 17). O estudo do tipo painel, caracterizado pela comparação de amostras de fala dos mesmos informantes em diferentes pontos do tempo, intenta localizar os mesmos indivíduos que foram informantes do primeiro estudo e controla quaisquer mudanças em seu comportamento submetendo-os ao mesmo questionário, entrevista ou experimento (LABOV, 1996: 142). Por meio dessa abordagem, é possível captar mudanças ou atestar estabilidade no comportamento linguístico do indivíduo, o que permite verificar se se trata de mudança geracional ou de mudança comunitária. Segundo Labov (p. 153), ocorre mudança geracional quando Os falantes individuais ingressam na comunidade com uma frequência característica para uma variável particular, mantida durante toda a sua vida, mas os incrementos regulares nos valores adotados pelos indivíduos, frequentemente realizados de geração em geração, levam à mudança linguística na comunidade. A mudança comunitária, por sua vez, ocorre quando todos os membros de uma comunidade modificam suas frequências juntos, ou adquirem novas formas simultaneamente. Para que se possa afirmar a existência de uma mudança na comunidade, entretanto, é necessário que se façam gravações com novos indivíduos, para registrar a possível percepção do pesquisador quanto à existência de variação, uma vez que, ao regravar sujeitos que já foram entrevistados em um momento anterior, o estudo painel perde a aleatoriedade, não representando a comunidade de fala como um todo (PAIVA & DUARTE, 2003: 17). Como afirma Labov (1996: ), a interpretação dos dados em tempo real (...) requer um modelo subjacente de como os indivíduos realizam ou não realizam mudanças durante suas vidas, de como as comunidades realizam ou não realizam mudanças ao longo do tempo. A segunda técnica, que consiste no estudo da mudança em tempo aparente e norteia a presente pesquisa, baseia-se no pressuposto de que comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem ilustrar diferentes estágios da língua, com os grupos etários mais jovens introduzindo novas alternantes que, gradativamente, poderão substituir aquelas que caracterizam o desempenho linguístico dos falantes de faixas etárias mais avançadas (PAIVA & DUARTE, 2003: 14). Pauta-se, segundo as autoras, na hipótese de que

64 64 o processo de aquisição da linguagem se encerra mais ou menos no início da puberdade, estabilizando-se a partir desse momento ou, pelo menos, não sofrendo modificações significativas a partir de então. Assim, a fala de um indivíduo com 75 anos, no ano 2000, representaria um estado de língua de sessenta anos atrás, ou seja, Labov (1996: 99), no entanto, declara que, descobrindo-se uma relação uniforme entre a idade e a variável linguística, ou uma significativa correlação entre as duas, o problema é decidir se está envolvida uma verdadeira mudança em curso ou estratificação por idade, ou seja, mudança regular de comportamento linguístico com a idade que se repete em cada geração. Para o autor, que declara ser confusa a visão da mudança em tempo aparente e incompleta a sua abordagem em tempo real, a combinação de observações em tempo aparente e em tempo real é o método mais básico para o estudo da mudança em curso (p. 123). Ao contrário do que previa Paul (1880), para quem só podia tornar-se psicologicamente consciente uma mudança linguística que afetasse elementos contrastivos do sistema, Weinreich, Labov & Herzog reconhecem que não existe correlação entre percepção social e status estrutural (p. 67). Sendo o sistema das línguas, como o definiu Coseriu (1987), composto por oposições distintivas, compreende-se que a variação será permitida desde que não as afete. Um exemplo dessa possibilidade é o caso das vogais médias em posição pretônica. Realiza-se, no dialeto carioca, o processo de neutralização entre as vogais médio-fechadas [e o] e as médio-abertas [ ], que perdem, em sedento e coral, o valor contrastivo que tinham em posição tônica, como em s[e]de vs. s[ ]de e (o) c[o]ro vs. (eu) c[ ]ro. Nesta mesma posição, ocorre a variação entre vogais médias e suas correspondentes altas; entretanto, não se observa essa mesma perda de valor contrastivo entre [e ~ i] e [o ~ u], visto que ainda se percebe a oposição, distintiva de significado, entre as vogais médias e as vogais altas, como em selada vs. cilada e morar vs. murar. O que ocorre é que as vogais altas [i u] invadem o espaço fonológico das vogais médias, fenômeno denominado debordamento, e passam a servir, em um mesmo contexto, à realização concreta de dois fonemas distintos. Conforme se observa, o sistema costuma coibir as mudanças linguísticas que possam vir a prejudicar o estabelecimento da comunicação costuma, porque, quando se trata do Português Europeu, se observa a completa neutralização entre as médias pretônicas e as altas, de modo que a distinção entre morar vs. murar apenas se realiza em função do contexto linguístico. Tendo em vista essa característica do sistema, de geralmente inibir quaisquer

65 65 variações que prejudiquem as oposições contrastivas que garantem a inteligibilidade da língua, não se pode acreditar que apenas as mudanças em elementos distintivos despertem a atenção dos falantes-ouvintes. Pelo contrário, acredita-se que sejam outros os fatores a fazerem com que certas variantes sejam estigmatizadas, sobretudo fatores de ordem social, como o grau de relação existente com a falta de escolaridade, de modo que uma variável que não seja influenciada pelo grau de escolaridade tem tendência a despertar menos consciência; ou o estrato social do qual emergiu a mudança, de modo que uma variante introduzida por falantes de classes econômicas superiores tende a ser mais prestigiada. 4.2 Abordagens da mudança sonora Diante da constatação de que a variação e a mudança são propriedades intrínsecas das línguas, desenvolveram-se duas abordagens opostas para a sua consideração: a dos neogramáticos, para quem a mudança sonora é estruturalmente condicionada; e a dos difusionistas, para quem há mudanças sonoras que não podem ser explicadas por características estritamente estruturais. A respeito do dissenso existente entre os dois modelos, Kiparsky (1993) afirma que a regra neogramática e a regra difusionista podem atuar juntamente, visto que os processos fonológicos espalham-se de forma gradual e regular item por item com um resultado final consistente com o que preconizam os neogramáticos. Tal é também a visão de Gonçalves (1997), que afirma que as doutrinas neogramática e léxico-difusionista entram em choque em diversos aspectos, mas os dois modelos, na verdade, se complementam, haja vista que ambos podem igualmente dar conta dos dados. Labov (1966), em uma primeira abordagem das teses neogramática e difusionista, argumenta serem absolutamente excludentes os dois modelos, visto que não poderia haver, concomitantemente, motivação fonética e motivação lexical. Posteriormente, entretanto, com base no fato de que há exceções evidentes a mudanças sonoras que não podem ser resolvidos no âmbito da analogia, revê seu posicionamento, argumentando que os modelos neogramático e difusionista não são duas linguísticas rivais, mas mutuamente complementares na explicação da mudança. Assim também Oliveira (1991), que inicialmente afirma não haver casos de mudança neogramática, argumentando que a hipótese neogramática passa a ser vista como efeito, isto é, como resultado final do processo de mudança, revê seus conceitos a esse respeito e

66 66 passa a considerar que as duas abordagens se interseccionam na explicação da mudança sonora. Segundo Oliveira (1995: 77-78), a discussão entre os modelos Neogramático e Difusionista não gira em torno de se o léxico conta ou não conta na mudança sonora, ou de se há ou não há alguma influência do contexto fonético na mudança sonora. Embora as análises de inclinação neogramática privilegiem o efeito fonético na implementação de uma mudança sonora, enquanto que as análises de inclinação difusionista privilegiam um controle lexical, não podemos dizer que nenhuma análise séria, independentemente de seu sabor neogramático ou difusionista, ignore as razões do modelo oposto. Por exemplo, por mais neogramática que seja a análise, ninguém irá dizer, seriamente, que todas as palavras de uma determinada classe de palavras tenham sido alteradas ao mesmo tempo por uma regra do tipo X Y/Z. Do mesmo modo, por mais difusionista que seja uma análise, não há como ignorar que certas coincidências fonéticas sejam coincidentes demais para serem ignoradas. Na verdade, a diferença entre as duas abordagens, naquilo que se refere ao papel do léxico nas mudanças sonoras (e não em outros aspectos), se resume na ordenação relativa dos efeitos lexical e fonético. Por exemplo, é interessante observar que os linguistas de inclinação neogramática resistam à ideia do léxico como controlador primário de uma mudança sonora, mas não à ideia de que, uma vez disparada, a mudança possa ser implementada lexicalmente. Do mesmo modo, nenhum trabalho de inclinação difusionista dirá que o contexto e/ou o efeito fonético não deva(m) ser levado(s) em conta; o que não se aceita é que eles seja [sic] uma explicação para uma determinada mudança sonora. Pode-se dizer, portanto, que a diferença básica entre os dois modelos reside na escolha do controlador principal e do controlador secundário de uma mudança: para o modelo Neogramático, temos 1º) Fonético > 2º) Lexical, muito embora isto seja raramente explicitado, enquanto que para o modelo difusionista temos 1º) Lexical > 2º) Fonético. É o que se acredita ocorrer no caso do alteamento das vogais médias pretônicas, em cujo estudo se pode atestar que há palavras que não apresentam contexto fonético favorecedor da aplicação do fenômeno e, ainda assim, alçam, enquanto outras, que apresentam tal contexto propício para a atuação do processo, não são alçadas. Compreendendo que a implementação se dá gradualmente, palavra por palavra, e não por ambiente fonético, pode-se explicar não só o fato de verbos que seguem o mesmo paradigma tenderem a ser afetados em sua totalidade, como é o caso em repito rep[i]tiu, rep[i]timos, rep[i]tir e em c[u]mi c[u]memos, c[u]mer, mas também o fato de palavras que não apresentam o contexto fonético favorecedor serem atingidas pelo processo, como é o caso em pequeno, demais, moleque, almoçar Os Neogramáticos e a analogia O modelo neogramático, que tem o som como unidade básica controladora, implica considerar que as mudanças sonoras: (i) são condicionadas apenas por fatores fonéticos, não

67 67 estando submetidas a nenhum fator de outra ordem seja ele linguístico ou extralinguístico; (ii) são foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais com contextos semelhantes; e (iii) são realizadas de acordo com leis fonéticas que não reconhecem exceções. Deparando-se, óbvia e inevitavelmente, com algumas palavras que não são atingidas pelas mudanças sonoras, muito embora tenham o contexto propício para sua aplicação, os neogramáticos recorrem aos subterfúgios da analogia, que funciona no sentido de inibir ou subverter o efeito das mudanças sonoras, e do empréstimo linguístico, considerado capaz de interferir no desenvolvimento natural dos sons da fala, contrariando a esmagadora força das leis fonéticas (GONÇALVES, 1997). Levando-se em consideração o processo sob análise neste estudo, verifica-se que, pelo primeiro pressuposto dos teóricos neogramáticos, fatos morfológicos, como localização da pretônica passível de alçamento em prefixo, ou localização da vogal alta mais próxima à vogal alvo em sufixo, não seriam relevantes nessa abordagem, visto que transcendem o nível fonológico. No entanto, vê-se que pretônicas prefixais são mais suscetíveis ao processo de alteamento, mesmo quando não há fatores fonéticos que justifiquem a aplicação do fenômeno: em despertar, por exemplo, não há um dos ambientes fonéticos prototipicamente favorecedores do alteamento a saber, a presença de vogal alta em sílaba subsequente, mas a vogal média pretônica é realizada por sua variante alta. Se as regras que coordenam as mudanças sonoras não têm exceções e atingem todos os itens lexicais com contextos semelhantes, por que tomate, colégio e pomada são frequentemente alçados, mas tomada, colega e pomar não costumam sê-lo, se apresentam o mesmo contexto? Por que segundo, teatro e sentir são recorrentemente atingidos pelo processo, mas secretário, teoria e sentinela não alteiam com igual frequência, se apresentam o mesmo contexto fonológico? Por que o alteamento ocorre em entender e em entrega, mas não em entidade e entrar? Por que ocorre em compadre e em conversa, mas não em compadecer e em conveniente? Para os neogramáticos, as lacunas deixadas pelas mudanças sonoras não constituem falhas, mas estão relacionadas à analogia que seria feita com outras estruturas gramaticais já existentes, de modo que a regra que controla a mudança sonora é anulada por fatores que exercem ação reguladora, normativizadora do sistema. Tendo deixado alguns vácuos inexplicáveis em sua abordagem, como a desconsideração das irregularidades, a Teoria Neogramática recebe uma série de críticas, em sua maioria relacionadas com a ausência de preocupação com o dado social. Para Schuchardt (1885 apud GONÇALVES, 1997), mudanças sonoras não podem ser reduzidas a leis que

68 68 imperem sobre a mente dos falantes, devendo ser analisadas em profunda relação com o pensamento dos indivíduos, o que se corrobora pelo argumento de Camara Jr. (1975: 81) de que o som muda em mais de uma direção, de acordo com as analogias momentâneas criadas na mente de um falante Os Difusionistas e o léxico O modelo difusionista, que, por sua vez, tem como básica unidade controladora da mudança o léxico, apresenta a seu favor três argumentos, que passam a ser considerados o cerne da abordagem léxico-difusionista: (i) há processos fonológicos que não são explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama de fatores, incluindo os de natureza discursivo-pragmática e sociogeográfica; (ii) as mudanças sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, já que nem todos os vocábulos que contêm o som em mudança são afetados simultânea e igualmente; e (iii) há exceções a mudanças sonoras que não podem ser explicadas por analogia. Os defensores dessa perspectiva acreditam que cada item lexical tem sua própria história e, portanto, é atingido de forma diferente pelas mudanças sonoras. Krishnamurti (1978: 16 apud OLIVEIRA, 1991: 94) questiona-se quanto a Que tipo de itens lexicais tende a ser a primeira vítima de uma mudança sonora? Outras condições estruturais equiparam-se para a implementação de uma mudança sonora? Há algo no domínio semântico de certos itens, ou em suas frequências, que os faça mais vulneráveis à mudança que outros? Duas são as propostas para definir as primeiras vítimas de uma mudança sonora. A primeira delas, assumida por Leslau (1969: 181 apud OLIVEIRA, 1991: 81), vale-se da noção de frequência: os itens lexicais mais frequentes são os mais expostos e, portanto, são primeiramente afetados. Para Phillips (1984 apud OLIVEIRA, 1991: 97), se uma mudança é motivada por fatores fisiológicos, agindo nas formas fonéticas de superfície, os itens lexicais mais frequentes serão atingidos primeiro; por outro lado, se ela é motivada por fatores não fisiológicos, que atuam nas formas subjacentes, originando-se na esfera conceitual da linguagem, as palavras menos frequentes serão atingidas em primeiro lugar. A segunda proposta, assumida por Oliveira (1992) em análise do comportamento do processo de monotongação em palavras como gueixa e deixa, vale-se da noção de erudição: os itens lexicais marcados como [- Comum] são mais resistentes à mudança. Uma questão que

69 69 sobrevém às duas propostas para discriminação das primeiras vítimas de uma mudança é: como identificar os itens que são mais ou menos frequentes, mais ou menos eruditos? Ou seja, como determinar quais itens têm frequência mais alta em determinada comunidade de fala e quais são os menos eruditos? Oliveira (1995: 87) propõe que [± Frequente] e/ou [± Formal] sejam traços atribuídos aos itens lexicais a partir das configurações contextuais em que eles se encontram, e não que sejam vistos como traços intrínsecos : uma vez que a frequência do contexto que comporta determinado item léxico não é a mesma de falante para falante, é de se esperar que a marcação de um determinado item léxico como [± Frequente] também não seja idêntica de falante para falante, ou de comunidade para comunidade. Assim, podemos preservar a ideia de que o traço [Frequência] tenha algo a ver com a exposição dos itens lexicais a uma determinada mudança [...] sem ter que marcar um determinado item léxico sempre do mesmo modo: ele será marcado como + ou - dependendo da frequência do contexto onde ele ocorre na praxis linguística dos falantes (ou de grupos de falantes). Novamente levando-se em consideração o processo sob análise neste estudo, palavras mais frequentes tendem a ser alçadas mais rapidamente, mesmo que tal realização das mesmas não seja encontrada no uso de outros falantes. Essa abordagem alternativa, além de resolver o problema de identificação das palavras que seriam mais frequentes, resolve, ainda, o fato de palavras que não são alçadas na realização de um falante poderem sê-lo na de outro que com elas tenha maior intimidade. Assim se justifica o fato de uma costureira usar a variante alta em tecido e dedal, de um Sacerdote a utilizar em seminário e confessionário, e de um cozinheiro a utilizar em cebola. Oliveira (1991: 101), no entanto, acredita que a frequência alta de ocorrência não parece ser um fator interessante para a seleção dos itens lexicais que serão atingidos primeiro pelo Alçamento de Pretônicas. Para o autor, as primeiras vítimas de uma mudança sonora do tipo X Y/Z 9 são as palavras que apresentam os seguintes traços: X ocorre num nome comum; Z oferece um contexto fonético natural para Y; X é parte de uma palavra que ocorre em contextos informais de fala (p. 102). Citado acima por Oliveira (1991: 101) como relevante para que uma palavra seja selecionada como primeira vítima de uma mudança sonora, o traço de [Formalidade] passa a 9 Leia-se tal equação como X realiza-se como Y em contexto Z, que indica que o contexto fonético Z demonstra-se favorecedor do processo sob análise. No caso do fenômeno de alçamento das vogais pretônicas, pode-se escrever uma equação do tipo /e/ [i] / #_, por exemplo, que deve ser lida como /e/ realiza-se como [i] em contexto inicial de vocábulo, como se observa em encontrar e entender.

70 70 ser considerado derivado da empatia entre o falante e o contexto onde sua fala é produzida (OLIVEIRA, 1995: 87): Assim, nenhum item léxico será marcado como [± Formal] por natureza ou por comparação: esse traço será atribuído a partir da marca a ser atribuída à própria situação de fala (ou, dizendo de outra forma, à empatia entre o falante e a situação de fala). O autor defende que todas as mudanças sonoras são lexicalmente implementadas e que os casos que, no presente, não demonstram difusão lexical, demonstraram-na no passado. Sobre estes casos que ora não demonstram condicionamento lexical, declara que uma mudança sonora da forma X Y/Z pode atingir regularidade se, e somente se, Z fornece um ambiente fonético natural para Y, fazendo-se possível a destruição gradual das barreiras lexicais de uma mudança sonora, visto que se atinge regularidade a longo prazo (p. 102). Portanto, o léxico controla as mudanças sonoras, abrindo ou fechando as portas à sua implementação, acelerando ou retardando a sua implementação, mas passa a ser visto, com base na abordagem alternativa que determina que os traços [± Frequente] e/ou [± Formal] dependem diretamente das configurações contextuais em que os itens lexicais se encontram, como um conjunto de traços que são construídos caso a caso, nas situações concretas de interação verbal, e não como algo previamente determinado, que não pode ser alterado (OLIVEIRA, 1995: 88). Também previsto no cerne dessa abordagem encontra-se o fato de que pode haver uma especialização semântica, de modo a reservar cada variante para a expressão de um sentido particular. Para Labov (2008: 290), os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente têm o mesmo significado e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas. Cristófaro-Silva (2001) argumenta que o falante faz escolhas lexicais específicas em situações específicas. No que tange ao processo de alteamento, itens mais coloquiais tendem a apresentar a realização da vogal pretônica como alta, ao passo que a variante média é reservada para empregos linguísticos de maior prestígio. Itens como precisa, porção e fogão são marcados por uma mudança semântica, decorrente da manutenção do timbre da vogal média pretônica ou de sua realização como uma vogal alta, conforme se observa nos exemplos abaixo, que não foram retirados do corpus utilizado na análise:

71 71 (1) É uma medida muito pr[e]cisa. Ele não pr[i]cisa disso; (2) Garçom, por favor uma p[o]rção de batatas fritas? Vi uma p[u]rção de gente na festa de aniversário; e (3) Silêncio, porque vai começar o jogo do f[o]gão. Mulher tem mais é que pilotar o f[u]gão de casa. Nos primeiros exemplos de cada par, é quase impossível que ocorra o alteamento, tendo-se quase sempre a manifestação da vogal média; nos segundos exemplos, é comum que o processo se realize, por tratar-se de usos mais frequentes e utilizados em contextos menos formais. Observe-se que, no segundo par se pode falar em maior coloquialidade quando utilizada a variante alteada, mas há também uma extensão de sentido: a realização que remete à quantidade de determinado alimento, derivado do latim portio, estende seu sentido para remeter à quantidade de gente em dado local, sentido que é considerado brasileirismo pelos dicionários da língua portuguesa. Nos demais pares não parece se tratar especificamente desse aspecto de formalidade ou coloquialidade, visto que não parecem ser tão marcados. No primeiro par, que considera o verbo precisar, no sentido de necessitar, e o adjetivo preciso, que tem sentido de fundamentado ou correto, a especialização semântica se dá em virtude de o verbo, como comprovam os resultados estatísticos de inúmeras pesquisas, serem mais suscetíveis de alteamento do que os nomes. No terceiro par, por sua vez, estão em jogo aspectos de formação de palavras: enquanto a realização que remete ao eletrodoméstico é formada por extensão de sentido do aumentativo de fogo, tornando-se assim mais vulnerável ao alteamento, a realização que remete ao time de futebol é formada pelo truncamento da forma composta Botafogo, o que faz com que o alteamento seja bloqueado Resolvendo a controvérsia Diante dessa controvérsia, ainda hoje irresoluta, Labov (1981) apresenta uma lista de traços cuja presença ou ausência caracterizariam cada um dos dois tipos de mudança. Segundo o autor, são os onze critérios abaixo que atuam na distinção entre um processo neogramático e um processo difusionista de mudança sonora: 1) Discrição Fenômenos de ordem neogramática não são discretos, porque, por atingirem todas as palavras que possuem o mesmo contexto fonético-fonológico, não

72 72 se concentram em uma única categoria gramatical, ao passo que os de ordem difusionista, por se iniciarem em um grupo específico de vocábulos e depois se espalharem para outros, apresentam-se como discretos. 2) Fino condicionamento fonético Para os neogramáticos, a mudança sonora apresenta um condicionamento fonético fino, sistemático, de modo que todas as palavras que tenham o mesmo contexto fonético sejam atingidas repentinamente. Para os difusionistas, o condicionamento fonético é grosseiro, porque as palavras com o mesmo contexto não são todas atingidas ao mesmo tempo. 3) Exceções lexicais Na abordagem neogramática, os contraexemplos que surgiam eram devidos à analogia a estruturas gramaticais existentes; no difusionismo, contrariamente, há espaço para as exceções que são até bem quistas, visto que corroboram a hipótese de que as palavras não são atingidas abruptamente. 4) Condicionamento gramatical Os neogramáticos não admitem a existência de qualquer outro tipo de influência intralinguística senão a da fonética, enquanto os difusionistas apostam no condicionamento gramatical como predominante, sobrepujando absolutamente mesmo a fonética. 5) Afetamento social Os neogramáticos acreditam na interferência de fatores sociais, enquanto os difusionistas não admitem que aspectos extralinguísticos tenham influência sobre a mudança sonora, já que está lexicalmente condicionada. 6) Previsibilidade Considerando-se que o modelo neogramático aposta em serem todas as palavras que apresentam o mesmo contexto fonético atingidas ao mesmo tempo, pressupõe-se que seja possível prever a conclusão da mudança sonora, ao passo que, no modelo da difusão lexical, tal previsibilidade não existe, porque sua distribuição pelo léxico não pode ser predita. 7) Possibilidade de aprendizado Os neogramáticos predizem que é possível ensinar aos falantes a processarem determinada mudança sonora, enquanto os difusionistas não acreditam nessa possibilidade de aprendizado, julgando ser internalizada e inata a propensão à mudança sonora lexicalmente condicionada.

73 73 8) Categorização Mudanças sonoras de caráter neogramático não estão categorizadas, visto serem abruptas do ponto de vista lexical, mas as de caráter difusionistas estão, porque são lexicalmente graduais. 9) Dupla entrada no dicionário Mudanças neogramáticas não geram dupla entrada no dicionário, mas as difusionistas podem vir a fazê-lo, já que pode haver especialização semântica como ocorre, por exemplo, em: a) Garçom, por favor uma p[o]rção de batatas fritas? vs. b) Vi uma p[u]rção de gente na festa de aniversário 10) Difusão lexical no passado Os neogramáticos não admitem que a mudança sonora se tenha implementado lexicalmente e, por ter encontrado ambiente fonético natural para sua aplicação, tenha passado a atuar foneticamente condicionada; os difusionistas, por sua vez, chegam a admitir que o caráter lexical não tenha permanecido, dando lugar ao caráter fonético. 11) Difusão lexical no presente Para os neogramáticos, a hipótese sequer é cogitada; para os difusionistas, é a difusão gradual pelo léxico que sustenta e caracteriza toda e qualquer mudança sonora Outro olhar sobre o processo de alteamento: aspectos da análise acústica A fonética é a ciência linguística que estuda as características dos sons usados na fala humana e fornece métodos para sua descrição, classificação e transcrição (CRYSTAL, 2000: 114). Divide-se em três ramos: a fonética articulatória, que se volta para a observação da fase de produção do som e objetiva descrever a forma por que os sons são gerados no aparato vocal; a fonética acústica, que se volta para as propriedades físicas dos sons; e a fonética perceptiva, que se volta para a reação em termos da percepção dos sons da fala. Catford (1988 apud ORSINI, 1995: 16) considera que a produção do som se divide em diversas fases, as quais reúnem uma série de eventos que viabilizam a externalização, por parte do falante, de um discurso, e sua imediata compreensão por parte do ouvinte. As fases

74 74 descritas por Catford (1988) são: (1) Programação neurolinguística: início do processo, com a ativação de um programa neural no sistema nervoso central; (2) Neuromuscular: transmissão de impulsos neurais, acarretando a contração de vários músculos; (3) Orgânica: movimentação e posicionamento dos diferentes órgãos do aparato vocal; (4) Aerodinâmica: o ar é posto em movimento e circula ao longo do trato vocal, que, em consequência da fase anterior, já se encontra em uma posição específica para a produção de dado som; (5) Acústica: propagação das ondas sonoras geradas pelos eventos aerodinâmicos; (6) Neuroreceptiva: efetivação do processo de estimulação periférica e consequente transmissão neural, viabilizando a percepção auditiva do som; e (7) Identificação neurolinguística: identificação dos sinais neuroreceptivos como sons distintivos, é a fase da interpretação. Nestes termos, a fonética acústica estuda os sons enquanto transmitidos entre a boca do locutor e o ouvido do interlocutor, analisando a duração, a frequência e a intensidade dos mesmos, propriedades que auxiliam na distinção entre os sons da língua. É utilizada, em especial, na elaboração de softwares de reconhecimento e síntese de fala, na fonética forense ramo da fonética que trabalha com a autenticação da fala. Ajuda, ainda, na caracterização de dialetos regionais, visto que cada dialeto possui determinadas características prosódicas (ritmo, entonação, acento) que colaboram na distinção entre os falares. Por seu caráter essencialmente instrumental, a fonética acústica pode fornecer dados objetivos e claros para a pesquisa da fala, de modo que frequentemente é necessário lançar mão de seus aparatos para sustentar uma análise feita em termos de fonética articulatória ou auditiva, contribuindo-se, assim, para o estudo de aspectos fonológicos como o alteamento das vogais médias pretônicas. Segundo Orsini (1995), o fato de haver uma fonética articulatória e uma acústica não implica ausência de intercâmbio entre elas. Pike (1947) afirma que a técnica instrumental não está desvinculada do procedimento auditivo, visto que só o ouvido humano é capaz de detectar diferenças entre um som e outro, tarefa que nenhum outro instrumento é capaz de desempenhar. Clark & Yallop (1990) observam haver uma íntima relação entre as propriedades articulatórias e as propriedades acústicas, que derivariam daquelas. Orsini (1995: 18-19), por sua vez, lembra que os primeiros estudos acústicos basearam-se em modelos desenvolvidos por analogia ao funcionamento do aparato vocal. No tocante ao sistema vocálico, a propriedade física cujo estudo se faz fundamental é a frequência formântica, frequências secundárias, amplificadas de ressonância e determinadas pela forma e comprimento das cavidades supralaríngeas, que têm a função de diferenciar os timbres vocálicos. Assim, a diferença entre [e] e [i], por exemplo, encontra-se em seus

75 75 respectivos valores formânticos. São três os formantes mais mencionados no estudo das vogais do português brasileiro: o primeiro (F1) diz respeito à dimensão vertical, ao grau de abertura do trato vocal, de modo que, quanto mais baixa e, por conseguinte, mais aberta a vogal, maior será o seu valor formântico; o segundo formante (F2) relaciona-se à dimensão horizontal, ao grau de anteriorização ou posteriorização da língua, de modo que, quanto mais anterior, maior o seu valor; e o terceiro (F3) relaciona-se ao grau de arredondamento dos lábios, de modo que, quanto mais distensa for a vogal, maior o seu valor. Esta última é comumente desconsiderada, devido ao fato de o arredondamento dos lábios ser um traço redundante, visto que todas as anteriores são distensas, enquanto as posteriores são todas arredondadas. Muitos estudos acústicos têm sido desenvolvidos com a tarefa de descrever os sistemas vocálicos das mais variadas línguas. Entretanto, sobretudo no que se refere à Língua Portuguesa, focam-se majoritariamente sobre a pauta tônica, na qual é possível identificar todos os sons que compõem seu sistema vocálico, geralmente com exclusividade da voz masculina (GODINEZ JR., 1978; ABAURRE & CAGLIARI, 1986; NOBRE & INGEMAN, 1987; CALLOU et alii, 1994; LEITE et alii, 1994; MORAES et alii, 1996). Delgado-Martins (1973) empreendeu a primeira tentativa de classificação acústica das vogais tônicas do português falado em Lisboa, na qual procurou estudar as distintas realizações de um mesmo fonema em vários informantes. Com isso, pôde obter os valores dos três formantes supracitados, com base em 69 dados de vogais, e estabelecer o triângulo acústico das vogais portuguesas. Destaque-se que, dentre as pesquisas desenvolvidas, a grande maioria se pauta apenas na voz masculina, em virtude de apresentar, segundo Delgado-Martins, maior nitidez na análise espectrográfica (1973: 305). Klatt & Klatt (1990) assinalam a existência de modificações anatômicas, entre o aparato vocal dos homens e o das mulheres, que geram alterações nas frequências formânticas: os homens possuem laringe mais larga e aparato vocal ligeiramente mais longo que o das mulheres. Para Coleman (1971), a frequência fundamental baixa, combinada a valores formânticos também baixos, caracteriza a voz masculina, ao passo que valores mais altos vão caracterizar a voz feminina. Para Machado (2010), o espaço acústico das vogais deve ser mais amplo para a voz feminina do que para a voz masculina. Reconhecendo essas diferenças, Orsini (1995) optou por se dedicar exclusivamente à voz feminina, analisando as vogais tônicas, pretônicas e postônicas com base em dados de fala espontânea obtidos no município do Rio de Janeiro.

76 76 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Caracterizada por observar a face estrutural e a face social da variabilidade inerente a toda e qualquer língua viva, a Sociolinguística volta-se para a organização das formas linguísticas e para a significação que assumem na sociedade. Dessa forma, analisa a relação existente entre língua e sociedade, buscando verificar a influência que fatores de ordem externa podem exercer sobre ela e a coatuação destes e dos fatores de ordem interna no condicionamento de regras variáveis. Abrindo espaço para o reconhecimento da variação antes ignorada e deixada à explicação do mero acaso como um fato intrínseco às estruturas linguísticas, a sociolinguística dá início a uma série de estudos que busca discriminar e compreender as motivações para os fatos variáveis. Para tanto, conjuga-se a modelos estatísticoprobabilísticos, fundamentando-se em dados matemáticos para averiguar o comportamento da língua. Portanto, análises quantitativas compreendem a conjunção de dois aspectos de análise: o linguístico e o estatístico, tendo este a função de fundamentar as hipóteses inicialmente estabelecidas pelo pesquisador e embasar as conclusões a que se possa chegar. 5.1 Etapas da análise sociolinguística A primeira etapa é a delimitação da variável linguística, elemento variável dentro do sistema que precisa ser definido sob condições estritas para que seja parte da estrutura linguística (LABOV, 2006: 107). Um fenômeno pode ser considerado variável quando oferece meios alternativos de se dizer a mesma coisa disponíveis a todos os membros da comunidade de fala (p. 97). Segundo o autor (2008: 26), as propriedades úteis para a seleção da variável linguística dependente são: Primeiro, (...) um item que seja frequente, que ocorra tão reiteradamente no curso da conversação natural que seu comportamento possa ser mapeado a partir de contextos não-estruturados e de entrevistas curtas. Segundo, deve ser estrutural: quanto mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades funcionais, maior será o interesse linguístico intrínseco do estudo. Terceiro, a distribuição do traço deve ser altamente estratificada: ou seja, (...) explorações preliminares devem sugerir uma distribuição assimétrica num amplo espectro de faixas etárias ou outros estratos ordenados da sociedade. Para a presente pesquisa, a escolha do processo de alteamento se deve ao fato de este enquadrar-se nos pré-requisitos supracitados, indispensáveis para a escolha da variável, além de se

77 77 tratar, como também exige Labov, de um traço que, embora seja saliente tanto para o pesquisador quanto para o falante, não envolve nenhum grau de distorção consciente na fala espontânea, visto que não há nenhuma reação de estigma social que pudesse levar à correção em contextos mais cuidados de fala, como o é a entrevista sociolinguística. Levando-se em consideração que, quando se tomam duas (ou mais) realizações superficiais como sendo alternantes ou variantes de uma única entidade, isso implica sustentar que há algum ponto no sistema linguístico no qual se faz uma escolha entre essas duas formas (GUY & ZILLES, 2007: 36), o procedimento seguinte à definição da variável linguística dependente é a delimitação das variantes possíveis para a realização superficial do fenômeno variável controlado. No presente caso, havendo em posição pretônica um processo de neutralização que desfaz a oposição distintiva existente entre as vogais médias abertas [, ] e as vogais médias fechadas [e, o], foram identificadas quatro variantes: (i) médias abertas, pouco recorrentes entre os informantes de Nova Iguaçu; (ii) médias fechadas, mais recorrentes entre eles; (iii) vogais altas [i, u], derivadas do processo de alteamento; e (iv) ditongadas, com a inserção de uma semivogal bastante fraca após a articulação da vogal. Eleita a variável linguística que servirá ao estudo que se pretende desenvolver e definidas as variantes que servem à sua concretização, pode-se empreender a análise quantitativa, que envolve três etapas: (i) coleta de dados; (ii) redução e apresentação dos dados; e (iii) interpretação e explicação. Para a primeira das etapas, que constitui a coleta de dados, é necessário ter em mente que não se pode permitir que sejam feitas escolhas que enviesem o resultado. Para tanto, deve-se utilizar uma amostra construída de forma aleatória, dividindo-se a população de interesse em várias unidades, compostas, cada uma, de indivíduos com as mesmas características sociais (BRESCANCINI, 2002: 17), de maneira a dar, a cada informante ou dado potencial existente na população total, igual probabilidade de serem incluídos na amostra (GUY & ZILLES, 2007: 22). Através das amostras aleatórias, obtém-se a necessária segurança de que o estudo não está se restringindo a dados (...) de indivíduos pertencentes a um único subsegmento social (BRESCANCINI, 2002: 17). Para a constituição do corpus que será utilizado na análise em tempo aparente aqui empreendida, foram utilizados dezoito inquéritos de informantes naturais de Nova Iguaçu, os quais se encontram disponíveis no sítio eletrônico 10 do Projeto Estudo Comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias, coordenado pelas professoras Silvia Rodrigues Vieira e Maria Antónia Ramos Coelho da Mota. Os critérios 10 Disponível em «

78 78 empregados para a constituição da amostra dizem respeito a três variáveis extralinguísticas: faixa etária, nível de escolaridade e sexo do informante. Assim sendo, têm-se um homem e uma mulher de cada faixa etária (18 a 35 anos; 36 a 55 anos; 56 a 75 anos), distribuídos pelos níveis fundamental, médio e superior de escolaridade. Desses inquéritos, foram coletados todos os dados que possuíssem as vogais médias pretônicas [e] e [o], fossem elas alteadas ou não. Assim, respeita-se o caráter variacionista do estudo que se pretende desenvolver e garante-se a confiabilidade da amostra constituída, uma vez que não se coletam apenas os dados que são atingidos pelo processo de alteamento: se quiséssemos investigar a altura humana média, não selecionaríamos todos os informantes de times de basquete, pois isso certamente produziria resultados enviesados (GUY & ZILLES, 2007: 22). Conforme já mencionado, tendo considerado que a visão da mudança em tempo aparente é confusa, e incompleta a sua abordagem em tempo real, Labov (1996: 123) ressalta que, embora muitas comunidades de fala (...) não possuam observações em tempo real que possam utilizar para calibrar e confirmar as possibilidades suscitadas em tempo aparente, a combinação de observações no tempo aparente e no tempo real é o método básico para o estudo da mudança em progresso. Tendo isso em vista, e duplamente motivado a estudar o presente em maior profundidade e examinar o que se pode deduzir sobre a mudança a partir das distribuições em tempo aparente, este trabalho pretende comparar o estudo ora desenvolvido com outros outrora realizados (BISOL, 1981; VIEGAS, 1987, 2001; CALLOU et alii, 1995; BRANDÃO & CRUZ, 2005; DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007; MACHADO, 2010; AVELHEDA & BATISTA DA SILVEIRA, 2011), sobretudo com os que se dedicaram ao Rio de Janeiro (CALLOU et alii, 1995; MACHADO, 2010; AVELHEDA & BATISTA DA SILVEIRA, 2011), estado a que pertence o município de Nova Iguaçu, de modo a verificar o estágio em que se encontra o processo de alteamento e observar se há diferenças no comportamento das vogais pretônicas. A etapa de redução e apresentação dos dados consiste em encontrar uma forma de resumi-los que minimize detalhes sem importância e apresente eficientemente uma visão geral do que é relevante para o pesquisador, e que faça tudo isso sem distorcer significativamente os dados originais nem obscurecer fatos importantes (GUY & ZILLES, 2007: 24). Envolve, portanto, os métodos que serão escolhidos para exposição dos dados e, mais especificamente, dos resultados obtidos através da análise quantitativa. Deve-se escolher entre tabelas ou gráficos, considerando-se qual permitirá mais clara visualização. Envolve, ainda, a escolha

79 79 dos dados, dentre todos os coletados na constituição do corpus, que servirão para exemplificar a análise empreendida. A última e mais importante das etapas, uma vez que o objetivo final de qualquer estudo quantitativo não é produzir números, mas identificar e explicar fenômenos linguísticos (GUY & ZILLES, 2007: 31), é a de interpretação e explicação dos resultados. É, no entanto, a que menos se relaciona com a metodologia, visto que depende majoritariamente do conhecimento que o pesquisador detém sobre o tema em estudo e de suas hipóteses e análises próprias, mas, ainda assim, requer um conhecimento bastante apurado da mesma, para que a interpretação dos resultados não seja feita de forma equivocada. Realiza-se com base em uma análise multivariada, que dá resultados mais precisos, porque, ao mesmo tempo em que computa o efeito de uma variável independente, controla explicitamente o efeito de todas as outras (GUY & ZILLES, 2007: 34). O procedimento que possibilita o desenvolvimento da análise multivariada é mais objetivo e envolve diversos critérios, como a consciência do pesquisador a respeito do funcionamento da língua e o conhecimento obtido na literatura específica já desenvolvida sobre o fenômeno em estudo. Trata-se de estabelecer possíveis fatores condicionantes, variáveis independentes que possam favorecer ou desfavorecer a aplicação da regra variável, determinar o envelope (GUY & ZILLES, 2007: 36) da variação, considerando-se os locais em que pode ocorrer e aqueles em que não ocorre. 5.2 Os fatores condicionantes os dados se identificam com pessoas, tempos e lugares particulares, não perdem a identificação com as comunidades da qual são extraídos. Essas investigações pretendem representar o processo de mudança linguística na comunidade e, assim entendidas, são sociolinguísticas (LABOV, 1996: 32). Um dos problemas que a sociolinguística variacionista de orientação laboviana busca resolver é o dos fatores condicionantes, que diz respeito ao conjunto de condições possíveis para a mudança. Segundo Labov (1996: 32), todos os estudos sistemáticos de variação são sociolinguistas, e a perspectiva variacionista não pode ser aplicada sem considerar comunidades de fala particulares. Portanto, tais restrições são não só de ordem linguística, mas também extralinguística, e atuam favorável ou desfavoravelmente para a aplicação da regra variável.

80 80 Se a variável linguística sob análise é considerada dependente, visto que toda variante é condicionada por fatores linguísticos e extralinguísticos, os fatores que controlam a sua realização são chamados independentes, porque não têm seu funcionamento condicionado por nenhum tipo de regra. Para esta pesquisa, foram selecionadas quinze variáveis independentes, sendo doze de ordem linguística, e as três remanescentes, de ordem extralinguística, seleção feita com base em pesquisas anteriores sobre o comportamento das médias pretônicas e em pressupostos gerados a partir do corpus constituído. A observação do corpus já permite tecer algumas hipóteses a respeito das condições mais propícias para a aplicação do processo de alteamento. A pretônica anterior mostrou-se mais suscetível à alteração da vogal média, ao passo que a posterior mostrou-se mais resistente. A presença de uma vogal alta na sílaba subsequente, independentemente de sua tonicidade, mostrou-se favorecedora, ao passo que a presença de vogais médias inibira o alteamento menino, cotovelo, epidemia, costume. No caso específico da vogal anterior, a ausência de consoante precedente escola, entender, educação, assim como a presença de uma africada desastre, descontrair, demais. No âmbito da vogal posterior, a ausência de ataque silábico inibira o processo oportunidade, oração, e os ambientes mais favorecedores parecem ser a presença de oclusivas e nasais boneca, morcego, notícia. A presença dos segmentos consonânticos /N/ e /S/ em posição de coda silábica estudar, entregar mostrouse favorecedora no âmbito da anterior, mas inibira o alteamento da série posterior, que parece ser favorecido pela ausência de travamento e pela localização em hiato governo, polícia, moeda, doente. A vogal-alvo anterior, quando prefixal descobrir, envergonhar, mostrou-se favorecedora, mas a vogal posterior, localizada em prefixo, não pareceu favorecer o alteamento cooperar, conviver. A vogal-alvo que não deriva (de) uma tônica mostrou-se mais favorecedora do que aquela que possui uma vogal acentuada em seu paradigma conhecer, entender. As vogais pretônicas de verbos de terceira conjugação e dos irregulares de segunda conjugação parecem constituir ambiente favorecedor seguir > seguia, poder > podia ~ p[u]dia Variáveis estruturais Vogal da sílaba subsequente à da pretônica-alvo A literatura a respeito do processo de alteamento apresenta uma extensa discussão quanto a ser a contiguidade ou a tonicidade que determina a ocorrência da assimilação. Há

81 81 autores que afirmam que a harmonização vocálica, pela qual as vogais assimilam traços de outras vogais que lhe sucedem, não faz saltos, devendo haver adjacência, no caso do alteamento, entre a vogal média candidata à elevação e a vogal alta que desencadeia o processo. Há outros, todavia, que afirmam que a assimilação pode se dar à longa distância, dispensando a adjacência. Por fim, há aqueles que declaram que, isoladamente, nem a tonicidade nem a contiguidade determinam a aplicação da regra de harmonização vocálica, precisando haver uma conjugação dos dois fatores. A fim de verificar, portanto, se é a contiguidade que desencadeia o processo de assimilação, buscou-se verificar a atuação da vogal da sílaba seguinte na regra de acordo com a sua tonicidade: (a) tônica ou (b) pretônica. As vogais foram classificadas de acordo com a altura do corpo da língua, de modo que se apresentam quatro categorias para cada uma alta, sendo esta dividida em homorgânica e não-homorgânica, média-fechada, média-aberta, admitindo-se que poderia haver, no dialeto de Nova Iguaçu, uma realização para as vogais pretônicas distinta da encontrada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e baixa Qualidade da vogal-alvo quanto ao papel das cordas vocais A língua portuguesa apresenta dois tipos de nasalidade: (a) a nasalidade fonológica, que é distintiva de significado em palavras como cata vs. canta, e (b) a nasalidade fonética, que não apresenta caráter morfodistintivo na língua e decorre da assimilação do traço da consoante que ocupa a posição de ápice da sílaba subsequente: cama, rema, cima, Roma, uma. Por não apresentar caráter opositivo, a nasalidade fonética é condicionada a fatores linguísticos, os quais se distribuem em uma escala gradual de atuação, de modo que (i) vogais que se encontram em sílaba tônica de um vocábulo dissilábico assimilam o traço da consoante subsequente com maior facilidade do que vogais de um vocábulo trissilábico ou polissilábico: cama, fama, tema, coma, manutenção, panela, menino; (ii) vogais tônicas assimilam mais que as pretônicas eventuais, átonas por derivação, que, por sua vez, o fazem mais que as pretônicas permanentes: cana, chama, cena, clonagem, banheiro, análise, banana; (iii) vogais seguidas pela nasal palatal / / nasalizam mais que as seguidas por /n/ e /m/: linhagem, punhadal, amanhã, primeira, fonologia, frenético. Além disso, observa-se que falantes originários da região nordeste procedem à nasalização com maior recorrência do que os falantes da região sudeste, sendo as ocorrências de assimilação em vocábulos trissilábicos ou polissilábicos mais frequentes no registro oral de falantes provenientes daquela área.

82 82 Por esta variável, pretende-se verificar se as vogais mais suscetíveis ao processo de alteamento são (i) as orais cedilha, conseguir, almoçar, governo; (ii) as nasalizadas por assimilação do traço da consoante da sílaba subsequente demais, menino, comer, domingo; ou (iii) as nasalizadas por atribuição de emissão nasal pelo elemento consonântico localizado em posição de coda silábica ensinar, sentir, conversa, conseguir Contexto fonológico adjacente Acredita-se que o ponto de articulação das consoantes exerce influência sobre as vogais pretônicas a que são adjacentes, visto ser este determinado, assim como a altura das vogais, pelo grau de levantamento do corpo da língua. No entanto, levou-se também em consideração o modo de articulação, uma vez que, como afirma Viegas (1987: 56), as obstruintes, devido ao tipo de constrição, tornam as vogais menos sonoras, ou mais altas, com um impedimento relativamente mais próximo a uma constrição do tipo consonantal (por assimilação). Dois contextos merecem especial atenção, por afastarem-se dos demais no que diz respeito à classificação. Trata-se da vogal inicial, sem consoante na posição de ataque silábico, e da vogal em hiato, seguida ou precedida por outro segmento vocálico. Foram introduzidos neste grupo por se tratar de aspectos relacionados aos segmentos que são adjacentes às pretônicas candidatas à elevação Estrutura silábica Inicialmente criado para controlar a atuação do processo de alteamento, este grupo de fatores passou a constituir apenas um grupo de controle, visto que a grande quantidade de dados permitiu que fossem feitas análises separadas de acordo com a ausência ou a presença e o tipo de travamento silábico. Acredita-se ser este o melhor caminho para a compreensão da atuação da estrutura silábica no condicionamento do processo, visto que na posição pretônica, segundo Barroso (1999: 128), o vocalismo apresenta um funcionamento muito irregular. Por esta razão, tem-se de considerá-lo individualmente, isto é, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre [no caso das sílabas fechadas, mesmo em relação à(s) unidade(s) que o entrava(m)] (...).

83 83 As vogais travadas por /R/ costumam ser relegadas na maioria dos trabalhos dedicados ao estudo do processo de alteamento, visto a observação empírica já indicar que não se trata de um ambiente natural para a sua aplicação. Neste estudo, decidiu-se verificar quantitativamente o que a percepção já demonstrava e atestou-se que vogais médias pretônicas em sílabas travadas por /R/ (i) são em número muito pequeno no vocabulário da língua portuguesa; e (ii) não são favorecedoras do processo de alteamento. Dentre os elementos consonânticos que Camara Jr. (2006: 54) admite funcionarem na parte decrescente da sílaba, ou seja, em posição de coda silábica, não se considerou na presente pesquisa o travamento por /l/, visto que, como afirmam Brandão & Cruz (2005), ora ocorre ditongo por conta da vocalização do /l/, variante característica da variedade fluminense do português brasileiro, ora ocorre monotongo, isto é, redução do ditongo, o que parece justificar a não-ocorrência da variante alta. Foram controladas, portanto, as pretônicas (i) em posição de hiato, como especificado anteriormente, com vistas a verificar se apresentavam realmente um resultado categórico; (ii) localizadas em sílabas abertas; (iii) travadas por /R/; (iv) travadas por /S/; e (v) travadas por /N/ Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Levando-se em consideração toda a discussão existente em torno de ser a vogal alta tônica ou a vogal alta mais próxima da pretônica alvo a responsável pelo processo de harmonização vocálica, esta variável visa a identificar se o fator relevante para a atuação do alteamento é a tonicidade ou a contiguidade. Assim, elencaram-se, para este grupo de fatores, seis possibilidades sendo três para o caso de a vogal alta contida na palavra ser tônica: 1 gentil, bonito; 2 melhoria, porcaria; 3 economia, ortografia; e outras três para o caso de ser outra átona pretônica: 5 presidente, sociedade; 6 especifique, personalidade; 7 responsabilidade, aposentadoria. Havia ainda uma quarta possibilidade, para ambas as categorias, que era a de uma distância de quatro ou mais sílabas, como correspondência, mas não foi encontrada nenhuma ocorrência dessa possibilidade.

84 Localização da vogal-alvo no vocábulo A observação empírica demonstra que palavras como engordar, despreparado, comer e conversar, que historicamente foram derivadas por um processo de prefixação, são mais frequentemente atingidas pelo alteamento do que palavras como educação, melhorar e comércio, que não apresentam histórico de acréscimo de um prefixo. Por esta variável, portanto, pretende-se verificar se as pretônicas em prefixo, como embarcar e desculpar, são mais suscetíveis à aplicação do processo de alteamento, desde que tais prefixos se enquadrem no pré-requisito de esvaziarem-se de seu sentido originário e assumirem-se como parte integrante da palavra, ou se são as pretônicas localizadas na base lexical, como vender, existir e estranho Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Segundo Bisol (1981: 42), a vogal candidata à elevação pode manter seu caráter de átona [...] como pode perdê-lo. Chamam-se átonas permanentes aquelas que, mesmo submetidas a processos de flexão e derivação, nunca figuram como tônicas: empresa, entender, conversar e acostumar. Chamam-se átonas eventuais aquelas sílabas que derivam (de) uma tônica, como se observa em lembrar (átona) lembro (tônica) e contar (átona) conto (tônica). Sendo o alteamento um processo de enfraquecimento que faz passar [e] a [i] e [o] a [u], é de se esperar que as átonas permanentes sejam mais suscetíveis à aplicação do fenômeno, visto que as átonas eventuais guardam resquícios das formas de origem Estatuto gramatical do vocábulo A discussão existente entre difusionistas e neogramáticos diz respeito, sobretudo, à propagação das mudanças sonoras pelo léxico. Enquanto estes afirmam que as mudanças são foneticamente graduais, atingindo um contexto fonológico por vez, e lexicalmente abruptas, atingindo todas as palavras do léxico que possuam o contexto em mudança, aqueles afirmam que as mudanças são foneticamente abruptas, aplicando-se sem selecionar um contexto fonológico específico, e lexicalmente graduais, visto que cada palavra tem a sua história e, portanto, é atingida de forma diferente pelas mudanças sonoras.

85 85 Além das classes usualmente elencadas a saber, substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome e numeral, procedeu-se ao desmembramento de algumas dessas categorias, visando a facilitar a análise de hipóteses e constatações oferecidas por outras pesquisas. Em etapas posteriores deste trabalho, serão realizadas as modificações necessárias para que este grupo envolva apenas as classes tradicionais. Assim é que foram diferenciadas dos demais substantivos, adjetivos e advérbios, as formas terminadas em -(z)inho, -íssimo, -érrimo e -mente, com vistas a controlar se tais sufixos realmente faziam a pretônica comportar-se de maneira distinta. Também se distinguiram (i) dos demais pronomes, os itens você, por acreditar-se que apresente nãoalteamento categórico, comigo e contigo, por acreditar-se que apresente alteamento categórico; e (ii) das demais conjunções, os itens enquanto, portanto e porque, que se imaginava apresentar alteamento categórico, além de então que, independentemente de atuar como conjunção ou como marcador linguístico, parecia igualmente realizar-se sempre pela variante alteada. Assim, procura-se testar a hipótese difusionista de existência de um condicionamento lexical para o alteamento, segundo a qual a implementação de um dado fenômeno se dá a partir de itens lexicais específicos e depois se espraia para o léxico Variáveis sociais Faixa etária do informante A análise em tempo aparente baseia-se no pressuposto de que comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem ilustrar diferentes estágios da língua. Pretende, com base nos pressupostos teóricos da aquisição da linguagem, verificar a norma codificada no período de estabilização linguística aproximadamente aos 15 anos. Desse modo, um falante de 25 anos, em tese, teria codificada a norma de dez anos passados, bem como um falante de 40 anos codifica a norma de 25 anos passados (LABOV, 2006; 2008). A fim de verificar se o fenômeno de alteamento está sistematizado de acordo com a idade dos indivíduos, foram observados, para este trabalho, informantes de três gerações distintas: (i) um grupo mais jovem, com idade entre 25 e 35 anos, fase em que as pessoas estão em busca de realizações profissionais, em período de inserção no mercado de trabalho; (ii) um grupo de adultos, com idade entre 36 e 55 anos, período em que as pessoas estão inseridas e atuantes no mercado de trabalho, com sua vida profissional relativamente

86 86 estabilizada; e (iii) um grupo de adultos mais velhos, com idade entre 56 e 75 anos, momento em que já estão em vias de deixar o mercado de trabalho Grau de escolaridade Sobre alguns fenômenos linguísticos, o ensino formal parece exercer uma força centrípeta que faz com que seja reduzida gradativamente a sua aplicação. Considerando-se que a codificação da norma é concluída por volta dos quinze anos, é natural que o tempo de escolarização possa vir a influenciar na fixação da norma individual do falante, assim como influencia mais ou menos diretamente no estrato social que será ocupado pelo indivíduo. Para o alteamento, no entanto, acredita-se não haver tal influência, já que parece tratar-se de um processo que não desperta estigma social e, portanto, não é conscientemente percebido pelos informantes Gênero do informante Pretende-se verificar o comportamento de homens e mulheres ante o processo de alteamento, a fim de observar se a variável atua no controle de sua aplicação e se há diferentes padrões de estratificação social, conforme postula Oliveira (1982: 88), segundo o qual as novas mudanças serão levadas adiante [...] por aqueles grupos cujas características sociais determinam as características sociais gerais da comunidade. 5.3 Procedimentos metodológicos da análise acústica Com o advento e o aprimoramento do instrumental utilizado pela Fonética Acústica, passou-se a considerar imprescindível que os pesquisadores saíssem do campo da investigação de cunho perceptivo meramente impressionista e enveredar pelo campo da investigação instrumental. No entanto, Pike (1947 apud MACHADO, 2010: 19) afirma que a técnica instrumental não está desassociada do procedimento auditivo, pois só o ouvido humano é capaz de discriminar diferenças entre um som e outro, tarefa que não pode ser realizada por nenhum instrumento. Sendo assim, pretende-se que os dois ramos da fonética o acústico e o perceptivo se possam complementar na análise do processo de alteamento, dando-lhe maior credibilidade.

87 87 Como a análise acústica foi desenvolvida concomitantemente a uma análise de caráter sociolinguístico, a constituição do corpus obedece às mesmas normas que regeram a coleta de dados para a análise sob a ótica da Sociolinguística Variacionista de orientação laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968). No entanto, em virtude da função precípua deste trabalho, de identificar com exatidão a variante utilizada em algumas palavras cuja análise meramente perceptiva não foi capaz de determinar, não houve uma preocupação clara com a obtenção de um maior número de dados. De igual modo, não houve preocupação em manter um equilíbrio no número de dados por informante, visto que a pretensão era apenas a de observar o comportamento acústico daquelas vogais que não apresentam uma variante perceptivamente clara. Com base nos valores de referência propostos por Catford (1988) e Orsini (1995) e explicitados na seção destinada à Revisão da Literatura, pode-se avaliar e gerar a configuração do espaço acústico das vogais no caso do presente estudo, das pretônicas passíveis de sofrer alteamento. Orsini (1995) e Machado (2010) argumentam que o uso desses valores de referência pressupõe sempre uma relativização, uma vez que, no que tange às vogais cardeais na voz masculina, são geradas artificialmente e não possuem contexto fonético-prosódico. Se Orsini (1995) afirma que é necessário relativizar os valores de referência dos formantes das vogais cardeais por serem geradas artificialmente por aparatos eletrônicos, é imprescindível relativizar valores obtidos em laboratório quando se trabalha com fala espontânea. Na presente pesquisa, pretende-se observar o espaço acústico que ocupam as vogais altas derivadas pelo alteamento de vogais médias subjacentes, a fim de compará-lo com o espaço ocupado pelas vogais altas subjacentes, o que se fará possível com base na pesquisa desenvolvida por Machado (2010), que traçou o espaço acústico de cada vogal pretônica. Intencionando-se verificar se os dados de Nova Iguaçu corroboram os resultados obtidos pela autora, também na presente se fará necessária a relativização dos valores formânticos por ela fornecidos, uma vez que usa dados de laboratório, enquanto esta pesquisa utiliza dados de fala espontânea. Para tanto, analisam-se 34 vogais médias pretônicas, seguidas ou não por um segmento em posição de coda silábica, obtidas através de entrevistas com informantes de Nova Iguaçu. Os dados se caracterizam essencialmente pelo fato de a variante por meio da qual se realiza a vogal média pretônica não ser, com base puramente em análise perceptiva, de fácil identificação. Com isso, intenta-se observar o espaço acústico que tais vogais ocupam, a

88 88 fim de fundamentar sua interpretação como uma variante alteada ou como uma variante médio-alta. Focam-se os contextos (i) de ausência de travamento silábico, como em medida, corrupto; e (ii) de presença de travamento silábico: por nasal /N/ emburrar, consciência; ou por vibrante /R/ serviço, oportunidade. Embora as pretônicas travadas por sibilante tenham sido consideradas na etapa de análise sociolinguística, foram retiradas do grupo de dados cuja variante da vogal média pretônica não era de fácil identificação, visto que pareciam não conter nenhum elemento vocálico, mas somente o chiado característico da consoante /S/. Nas tabelas abaixo, discriminam-se as palavras que foram objeto da análise acústica aqui empreendida: Tabela 2: Vocábulos do corpus para análise acústica vogais anteriores ACREDITAM ENGENHEIRO PESSOAS COMPETIU MARECHAL PREFEITURA CONHECIA MEDICAÇÃO SEGREDO EDUCAÇÃO (2 oc.) MEDICAMENTO SERVIÇO EMANCIPOU MEDIDAS Tabela 3: Vocábulos do corpus para análise acústica vogais posteriores ACOMPANHADO CONSCIÊNCIA DOCUMENTO ACONTECER (2 oc.) CONSEGUE OBSERVAR ATROFIAR CONSIGO PROCURAVA AUTORIDADE CONTEÚDO PROCURO (2 oc.) COMECEI CORRETO SOCIAL CONJUNTO CORRUPTO Selecionados os vocábulos que comporiam o corpus para análise acústica do fenômeno, utilizou-se o programa Sound Forge 10 para cortar os inquéritos no ponto em que se encontravam os dados desejados. Feito isso, os dados foram submetidos ao programa Praat, que permitiu vislumbrar os valores do primeiro e segundo formantes, que interessam à pesquisa por se prestarem à distinção entre vogais médias e vogais altas. Obtidos os valores de F1 e F2, pretendem-se tecer considerações a respeito do espaço acústico ocupado por essas vogais cuja variante parece enquadrar-se no que se ousou chamar de espaço intermediário do espectro acústico, onde as fronteiras entre a vogal média e a vogal alta tornam-se menos nítidas. Além da medição dos valores formânticos das vogais médias cuja variante não foi possível identificar apenas com o auxílio da análise perceptiva, selecionaram-se 23 dados claramente alteados e 25 dados claramente não-alteados, com vistas

89 89 a comparar os valores formânticos e melhor fundamentar as classificações conferidas aos dados que eram foco da análise acústica. Foram selecionados, ainda, 14 dados com vogal alta subjacente, a fim de então se poder observar a distribuição acústica das vogais médias e altas em posição pretônica. Com isso, pretende-se resolver o problema constatado, de que há dados que dificultam o desenvolvimento de uma análise mais pontual do processo, e contribuir para a descrição do espaço acústico em que se localizam as vogais médias pretônicas e suas correspondentes alteadas. Além da análise acústica das vogais cuja variante se quer determinar precisamente tratar-se de uma vogal alteada ou de uma vogal média mantida, faz-se a análise acústica de vogais claramente alteadas e de vogais claramente mantidas como médias, para delimitar o espaço acústico ocupado pelas vogais derivadas do processo e por aquelas que não são atingidas por ele. Faz-se, ainda, a análise de vogais altas subjacentes, a fim de verificar se as vogais derivadas são mais altas do que as que são originalmente altas. 5.4 Procedimentos metodológicos da análise lexical Nesta etapa da pesquisa, expõem-se os casos de especialização semântica, processo pelo qual se reserva uma variante para a expressão de cada sentido particular, corroborando-se a afirmação de Labov (2008: 290) de que os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente têm o mesmo significado e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas. Busca-se observar se os itens entre os quais foi identificada a especialização obedecem à teoria proposta por Viegas (2001), que prevê que aqueles itens que têm um uso considerado menos prestigiado socialmente alçam (purção, com significado de muita quantidade, traz o rótulo brasileirismo em dicionários) e aqueles cujo uso é socialmente considerado mais prestigiado não alçam (Peru é inclusive escrito com letra maiúscula e porção é usado, normalmente, em restaurantes, mas não é usual em casa, no dia-a-dia). No corpus sob análise, puderam-se verificar quatro casos de especialização semântica: a) A gente adianta o serviço [e] na parte da manhã [3ª faixa etária, nível fundamental de escolaridade, sexo feminino]. b) Estava no serviço [i] público, a prioridade é o paciente [3ª faixa etária, nível médio de escolaridade, sexo feminino]. c) Eu sou horrível em p[o]rtuguês, gente, eu não decoro nada [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo masculino].

90 90 d) Insuflou os católicos, os p[u]rtugueses a matarem os indígenas [3ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo masculino]. e) Tem também o s[i]gurança dela ali [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo feminino]. f) Não vai ver nenhuma s[e]gurança [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo feminino]. g) Tem uma s[i]gurança no trabalho [3ª faixa etária, nível médio de escolaridade, sexo feminino]. h) Na parte do s[i]ntido da palavra [1ª faixa etária, nível fundamental de escolaridade, sexo masculino]. i) Se vocês forem no s[e]ntido de Nova Iguaçu [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo masculino]. A análise não será fundamentada em termos de quais são os itens primeiramente atingidos e do porquê de o serem em detrimento de outros, mas se pautará na teoria de Viegas (2001), que afirma que, considerado o mesmo item vocabular, a expressão de significados jocosos, depreciativos ou menos prestigiados é realizada por meio do processo de alteamento, enquanto a expressão de sentidos mais valorizados ou prestigiados é realizada pelo nãoalteamento.

91 91 6 RESULTADOS Em seu trabalho, Viegas (1987) levantara 2190 dados de pretônica anterior [e] contra apenas 1741 dados de posterior, o que indicaria que a produtividade de [o] em sílaba pretônica é baixa. Entretanto, a autora coletara todos os itens que contivessem vogal média em sua sílaba pretônica, independentemente dos diferentes contextos em que se podem achar estas variantes: sílaba livre, sílaba travada por consoante nasal, sílaba travada por consoante fricativa. Pode-se, então, questionar se esta discrepância entre as ocorrências de [e] e [o] decorria (i) da junção feita pela autora, misturando indistintamente todos os contextos em que as vogais pretônicas podem ocorrer ou (ii) realmente de um menor número de vocábulos em que a vogal posterior [o] figure em sílaba pretônica. Barroso (1999: 128) argumenta que, em posição pretônica, o vocalismo apresenta um funcionamento muito irregular. Por esta razão, tem-se de considerá-lo individualmente, isto é, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre [no caso das sílabas fechadas, mesmo em relação à(s) unidade(s) que o entrava(m)] (...). Diante do questionamento a que leva a pesquisa de Viegas (1987) e da constatação de Barroso (1999), a presente pesquisa, conforme explicitado na seção Aspectos Metodológicos, intentou coletar todos os itens com vogal média em posição pretônica, mas reservou-lhes um tratamento diferenciado. Pretende-se detalhar o comportamento das médias pretônicas, distribuindo-as em níveis distintos de análise, a fim de verificar se a estrutura silábica é um fator relevante para a aplicação do processo de alteamento. Assim, os resultados serão expostos separadamente, de acordo (i) com a vogal pretônica sob análise se a anterior ou a posterior; e (ii) com a estrutura da sílaba na qual se encontra a vogal pretônica que se está analisando. Acredita-se ser este o melhor caminho para a compreensão da atuação da estrutura silábica no condicionamento do processo. Como a análise multivariada só permite o estudo de variáveis binárias, optou-se por amalgamar a vogal médio-baixa [, ] à médio-alta [e, o], gerando uma categoria única, que abarca ambas as realizações da vogal média que não fora atingida pelo processo de alteamento. De igual forma, no caso das vogais travadas por /N/ e /S/, ambiente que possibilita a inserção de um glide e consequente formação de ditongo, ainda que haja indícios de que a variante ditongada [ey, ow] constitui um meio termo entre a manutenção da vogal média e a sua elevação, optou-se por eliminá-la da análise.

92 Pretônicas anteriores Sílabas livres O corpus levantado apresentou 6236 ocorrências de vogais pretônicas anteriores em contexto de ausência de travamento consonântico. Deste total, 61 dados (1%) realizaram-se pela variante médio-aberta, 5198 (83,4%) não foram atingidos pelo processo e apenas 977 (15,6%) apresentaram alteamento. Gráfico 1: Distribuição no corpus das pretônicas anteriores em contexto de sílaba livre No entanto, desse montante de dados, há alguns que necessitaram ser eliminados da análise, pelas questões explicitadas em seção anterior. Trata-se de advérbios e conjunções, classes nas quais se verificou que o processo de alteamento se dá de forma categórica em alguns itens advérbios: demais, debaixo, detrás e devagar; conjunções: senão, segundo e à medida que, mas não se realiza em outros advérbios: depois; conjunções: apesar, devido e perante. Há também os numerais, dentre os quais se pôde perceber que a primeira pretônica, sendo derivada de uma tônica, sempre alteia (dezesseis, dezessete e dezenove), ao passo que a segunda, originalmente uma vogal de ligação do processo de composição a que foram submetidas tais palavras, nunca alteia (dezesseis, dezessete e dezenove). Além desses dados, há também outros tantos que assumem apenas uma das realizações prováveis: segundo e

93 93 dezoito, sempre alteados; sessenta, setenta e trezentos, nunca alteados. Por fim, foram também excluídas as formas em -(z)inho, -íssimo e -mente, visto que as vogais médias seguidas desses elementos não são atingidas pelo processo de alteamento. Feitas essas exclusões, obteve-se um corpus com 5718 ocorrências de vogais pretônicas anteriores em contexto de ausência de travamento consonântico, das quais 27 (0,5%) realizaram-se pela variante médio-aberta [ ], 4861 (85%) não foram atingidas pelo processo e apenas 830 (14,5%) apresentaram alteamento, obtendo esta última variante o input geral de Gráfico 2: Distribuição no corpus das vogais anteriores em contexto de sílaba livre após a exclusão de dados A partir dos valores absolutos e percentuais obtidos nesta análise, em que se obtém apenas 14,5% de aplicação da regra de alteamento, o que primeiro se pode observar é que a ausência de travamento silábico parece não favorecer a aplicação do processo de alteamento. Esses resultados corroboram a hipótese de Hooper (1976 apud VIEGAS, 1987: 59), segundo o qual, devido à relação entre alçamento e enfraquecimento, o processo seria mais frequente no meio da sílaba do que no início, que é a posição forte da sílaba. Assim, as vogais pretônicas de sílabas fechadas, travadas por elemento consonântico, seriam mais propensas ao alteamento do que as de sílabas livres, visto que estas constituem o último, ou único, elemento da sílaba.

94 94 A realização de uma análise multivariada dá resultados mais precisos, porque, ao mesmo tempo em que computa o efeito de uma variável independente, controla explicitamente o efeito de todas as outras (GUY & ZILLES, 2007: 34). Antes de passar, portanto, aos grupos selecionados como significativos para o condicionamento do fenômeno, é válido ressaltar que as duas únicas variáveis eliminadas foram de ordem extralinguística a saber, grau de escolaridade e sexo do informante. No que diz respeito ao sexo do falante, é consensual na literatura sociolinguística que os homens, por desfrutarem de maior mobilidade social e de maior prestígio na comunidade de fala, tendem a liderar a propagação de fenômenos inovadores, ao passo que as mulheres, por estarem em constante situação de autoafirmação, tendem a ser mais conservadoras. Neste estudo, assim como em Avelheda & Batista da Silveira (2011b), não se verificam diferenças significativas de aplicação da regra por homens (50,4%) e mulheres (49,6%). Assim, confirma-se o que atestara Bisol (1981), em cuja pesquisa se pôde perceber que não se trata de uma variável que traga resultados relevantes no que se refere à diferença de manifestação do processo. De posse dessas informações, pode-se aferir que o processo de alteamento de vogais pretônicas que não se encontram em contexto de travamento silábico não constitui um fenômeno inovador em língua portuguesa. No que diz respeito ao grau de escolaridade, de igual modo, acredita-se que a educação formal tende a inibir a propagação de certos fenômenos, funcionando como uma força que coíbe gradativamente a sua aplicação. No caso do processo em estudo, que parece apresentar estigma social apenas quando registrado graficamente, o avanço no grau de escolaridade dos indivíduos não se demonstrou relevante (Fundamental: 32%; Médio: 30,7%; Superior: 37,3%), assim como em Avelheda & Batista da Silveira (2011b), em cujo estudo os falantes de nível fundamental (35%) se equipararam aos falantes de ensino médio (35,2%) com relação à frequência de aplicação do processo de alteamento. No entanto, as autoras ressaltaram que, dentre as dez entrevistas utilizadas, apenas três delas eram de falantes com grau médio de escolaridade, de modo que, considerando-se o menor número de dados advindos de um menor número de inquéritos, se pode considerar que o processo é mais frequente entre os falantes de ensino médio. A pouca significância do grau de escolarização formal de um indivíduo para a aplicação do alteamento das vogais pretônicas se deve ao fato, conforme afirmam Callou & Leite (1999), de tal processo já não constituir objeto de estigmatização, podendo-se manifestar tanto na fala de não escolarizados quanto na de escolarizados.

95 95 Uma última consideração que se deve tecer diz respeito ao grupo que controlava o tipo de vogal presente na sílaba imediatamente seguinte e sua tonicidade, abarcando as vogais médias e baixas. Como o grupo que controla as vogais altas e a distância existente entre elas e a pretônica-alvo não dava conta das vogais médias e baixas, acredita-se convir maior detalhamento a respeito da atuação destas no controle do processo. O cruzamento destes dois grupos revelou ausência de ortogonalidade entre os grupos de fatores, o que se deve ao fato de que a vogal pretônica que estiver seguida de uma vogal alta tônica necessariamente estará contígua à vogal alta mais próxima, que, neste caso, será tônica, assim como a vogal pretônica que estiver seguida de uma vogal alta átona necessariamente estará contígua à outra vogal alta pretônica. Observava-se, então, o primeiro dos casos de não-ortogonalidade expostos por Guy & Zilles (2007: 52), quando um fator do grupo a ocorre com apenas um fator do grupo b, o que fez com que se optasse pela exclusão do grupo mais desmembrado o que controlava todo o tipo de vogais presentes em sílaba imediatamente seguinte. Assim sendo, segue-se, abaixo, uma tabela que, com vistas à ilustração, não apresentará valor para a análise aqui empreendida, uma vez que o grupo fora excluído. Tabela 4: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] [i]xame, [i]xagero 23/880 2,6 % 22/263 8,4 % [e, o] conh[i]cer, d[i]scentralizado 73/1860 3,9 % 17/565 3% [, ] [i]clético, [i]norme 40/373 10,7 % [i] acr[i]ditar, av[i]nida 426/845 50,4 % 85/475 17,9 % [u] r[i]curso, d[i]rrubado 54/120 45% 38/282 13,5 % Como se pode observar, não favorece a aplicação do processo a presença de vogal baixa (tônica: 2,6%; átona: 8,4%), como em [i]xame, d[e]talhe, [i]xagero e d[e]bater, das vogais médio-baixas (tônica: 10,7%), como em [i]clético, [e]xcesso, [i]norme e colest[e]rol, e das vogais médio-altas (tônica: 3,9%; átona: 3%), como em conh[i]cer, comprom[e]ter, s[i]nhor, tel[e]fone, d[i]scentralizado, r[e]belião, [i]goísta e r[e]solveu. No que diz respeito às vogais altas, observa-se que as vogais tônicas (anterior [i]: 50,4%; posterior [u]: 45%), em palavras como av[i]nida, perc[e]bi, r[i]curso e J[e]sus, favorecem mais fortemente a aplicação do processo do que as vogais átonas (anterior [i]: 17,9%; posterior [u]: 13,5%) de palavras como acr[i]ditar, int[e]rior, d[i]rrubado e int[e]rruptor.

96 96 Feitas as necessárias considerações acerca das variáveis preteridas pelo programa e da variável excluída devido à sobreposição de fatores, inicia-se a descrição dos resultados obtidos a partir da análise multivariacionista. Os resultados dispõem-se de acordo com a ordem em que foram selecionados pelo programa, tendo como valor de aplicação a atuação da regra variável de alteamento das pretônicas Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Na abordagem do processo de alteamento que se baseia na proposta neogramática de que é o contexto fonético-fonológico o fator condicionante básico, a maior controvérsia existente é quanto a ser gatilho do fenômeno apenas a vogal alta tônica adjacente à vogal alvo ou qualquer vogal alta ou seja, quanto a ser favorecedora apenas a tonicidade ou simplesmente a contiguidade. Lemle (1974) declara que a condição necessária para a aplicação da regra variável é a presença de vogal alta, tônica em alguma palavra do paradigma, não obrigatoriamente na palavra que se está analisando, nem necessariamente contígua à vogal alvo, como em d[i]safiar e d[i]sanimar, em que a vogal alta não se encontra adjacente à pretônica candidata à elevação nem é tônica nessas palavras, mas apresenta tonicidade em d[i]safio e d[i]sanima, e o processo de alteamento se aplica. Bisol (1981), por sua vez, argumenta que não há influência de vogal alta não imediata sobre a vogal média. Para a autora, em palavras como mexerica, que apresentam possibilidade de harmonização vocálica à distância, há possibilidade de se realizar mex[i]rica ou m[i]x[i]rica, mas nunca m[i]xerica. Battisti (1993) mostra que a vogal alta contígua à média sob análise, em palavras como Jap[e]ri e pr[i]guiçoso, propicia o alçamento da pretônica, resultado que também se revela em Freitas (2001) e em Celia (2004), nos quais se atesta que o fator mais importante é o contexto vocálico imediatamente seguinte. Dias, Cassique & Cruz (2007) declaram que as altas contíguas são as que mais favorecem a elevação da vogal pretônica, como em m[i]nino e s[i]gunda, enquanto a presença de vogais altas não imediatas tende a desfavorecer a aplicação do fenômeno, como em r[e]lativo. Os autores supracitados, no entanto, realizam uma abordagem distinta da aqui empreendida, visto que estudam indistintamente, como Bisol (1981) e Dias, Cassique & Cruz (2007), ou apenas controlando o fato de ser sílaba aberta ou travada, como Freitas (2001) e Celia (2004) todos os contextos silábicos típicos da língua portuguesa. Nesta pesquisa, optou-se por fazer separadamente as análises, acreditando que pode haver

97 97 condicionamentos que atuam em sílaba livre, por exemplo, que deixarão de atuar em sílabas travadas e, com relação às travadas, condicionamentos que atuam diferentemente dependendo do elemento que as trave. Os resultados aqui obtidos corroboram, em parte, a hipótese de Lemle (1974), segundo a qual a condição necessária para a aplicação da regra de alçamento é a presença de vogal alta seguinte, como se verifica em pr[i]firo e qu[i]ria, mas não em pr[e]ferência ou qu[e]rer. Entretanto, ao dizer que a vogal alta que desencadeia o processo de harmonização vocálica deve ser tônica em alguma palavra do paradigma, não necessariamente na palavra cuja pretônica se está analisando, como em pr[i]cisar e s[i]gurança, a autora abre espaço para que se considere favorável para o alteamento a presença de uma vogal alta átona em sílaba contígua. Os resultados desta pesquisa, contrariamente, atestam que a contiguidade com outra pretônica alta, como em s[i]gurança, acr[e]ditar e af[e]minado, variável que apresenta 18,2% de aplicação do processo e peso relativo de 0.35, não favorece o alteamento das médias pretônicas em sílabas livres, de modo que se pode afirmar que, ao menos neste contexto, é a tonicidade, com percentual de 51,7% de aplicação e peso relativo de 0.75, que mais atua no condicionamento do processo, como em acont[i]cia e c[i]dilha. Se a contiguidade, sozinha, já não é capaz de determinar a aplicação do processo de alteamento, a tonicidade o é ainda menos. Conforme se observa na tabela abaixo, a existência de um intervalo, entre a vogal-alvo e a vogal alta tônica mais adjacente, faz com que o processo de alteamento não se aplique: quando o intervalo é de apenas uma sílaba, como em [i]vanil e danc[e]teria, há 3,4% de aplicação do processo, o que corresponde ao peso relativo de 0.05; quando o intervalo é de duas sílabas, como em gin[i]cologista e [e]mergência, há 5,3% de aplicação do fenômeno, o que equivale ao peso relativo de Observe-se que, embora a aplicação do alteamento seja maior nas palavras que apresentam intervalo de duas sílabas entre a vogal-alvo e a vogal alta mais adjacente, apenas um dado, entre dezenove nessa situação, é atingido pelo fenômeno. No que diz respeito à ausência de contiguidade entre a vogal-alvo do processo e outra pretônica alta mais adjacente, verifica-se que, quando o intervalo é de apenas uma sílaba, como em d[i]sanimado e [e]voluir, há 4,8% de aplicação do processo, o que corresponde ao peso relativo de 0.11; e, quando o intervalo é de duas sílabas, como em d[i]scentralizado e d[e]scendência, há 16,7% de aplicação do fenômeno, o que equivale ao peso relativo de Assim como no caso das pretônicas candidatas à elevação que distam da vogal tônica alta por duas sílabas, se demonstraram mais favoráveis ao processo as que distam de outra pretônica

98 98 alta por duas sílabas. No entanto, igualmente se observa que apenas um dado, entre seis nessa situação, é atingido pelo fenômeno. Dessa forma, observa-se que, exclusivamente nesses casos de distância de duas sílabas para a próxima vogal alta, o resultado pode ter sido enviesado pela pouca quantidade de dados disponíveis para análise. Tabela 5: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Vogal Distância da vogal alvo do processo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Distância 1 Contígua s[i]guir, p[i]dir, cons[i]guir. 520/ ,7% 0.75 Tônica Distância 2 Intervalo de 1 sílaba d[i]safio, [i]vanil, d[i]sanima. 4/118 3,4% 0.05 Distância 3 intervalo de 2 sílabas gin[i]cologista. 1/19 5,3% 0.11 Distância 1 Contígua p[i]rigosa, s[i]gurança, pr[i]cisar. 141/774 18,2% 0.35 Átona Distância 2 Intervalo de 1 sílaba d[i]sanimado, [i]volução. 6/124 4,8% 0.11 Distância 3 intervalo de 2 sílabas d[i]scentralizado. 1/6 16,7% 0.34 Input: 0.25 Significância: Ainda de acordo com seus argumentos, percebe-se que os dados desta pesquisa não apresentam realização pela variante alteada quando a vogal alta átona que se segue à vogal média não possui um correlato tônico em alguma palavra do paradigma: ant[e]rior, mat[e]rial, int[e]ligente, c[e]lular. Observe-se, ainda, que mesmo as vogais médias às quais se seguem vogais tônicas quer na própria palavra, quer em alguma outra do paradigma podem não ser atingidas pelo processo, o que se verifica em [e]ducação, em que a vogal posterior [u] é tônica na forma [e]duca, e cr[e]scido, em que a vogal anterior [i] é tônica já nesta palavra. Da mesma forma, vocábulos que não apresentam vogal alta tônica no paradigma podem se submeter ao fenômeno, como m[i]diano, cuja vogal alta é sempre átona nas palavras do paradigma, como medianiz e mediatriz, ou d[i]semprego e d[i]senvolve, nos quais as vogais médias travadas por elemento nasal /N/ que se seguem às pretônicas livres também são alteadas por igualmente se localizarem em posição pretônica Localização morfológica da pretônica Bisol (1981) e Celia (2004) optam por excluir de suas análises as vogais pretônicas localizadas em prefixo. Para Bisol (p. 37), que apresenta a concepção de Michaëlis de Vasconcelos (1956) de existência de dois tipos de prefixos, há (i) os que mantêm o caráter da palavra de que se originaram, como entre- e contra-, sobre os quais não atuariam as regras de

99 99 harmonização vocálica; e (ii) os que se integram totalmente no vocábulo com que combinam, como en-, des-, re- e con-, sobre os quais a harmonização teria liberdade para atuar. As autoras argumentam, ainda, que há casos em que o enfraquecimento é tão severo que a vogal pode chegar até a sofrer elisão, reduzindo-se a zero. Viegas (1987), por sua vez, considera também as vogais pretônicas localizadas em prefixo, mas a única observação a seu respeito que apresenta baseia-se em Bisol (1981: 108), que afirma que a regra de harmonização vocálica que atua no âmbito da estrutura de vocábulo (menino ~ minino) e ultrapassa por vezes junturas morfêmicas (sofria ~ sufria) não alcança prefixos (predizer, *pridizer). Bisol (1981: 69) argumenta que a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica, o que também é corroborado na pesquisa de Celia (2004: 67), que declara que somente as átonas permanentes favorecem a aplicação da regra de alteamento. Como os prefixos figuram em sílabas átonas permanentes, acredita-se ser o ambiente mais propício para a elevação da vogal candidata. Em Avelheda & Batista da Silveira (2011b), estudo em que foram consideradas apenas as médias pretônicas travadas por consoante nasal, o alteamento processou-se mais produtivamente quando a pretônica se localizava na base lexical, como em empresa e entender. No que diz respeito às pretônicas em contexto de ausência de travamento, observase na presente pesquisa que são mais frequentemente alteadas as que se encontram em prefixo, como em d[i]samparado, d[i]samor e r[e]freiar, corroborando a hipótese inicial de ser este o ambiente mais favorecedor, em que há 63,6% de alteamento da pretônica, o que equivale à probabilidade de 0.97 de aplicação do processo. Tabela 6: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Prefixo d[i]sestruturar, d[i]sandar. 56/88 63,6% 0.97 Base lexical pr[e]ferir, acont[e]cer 774/ ,7% 0.49 Input: 0.25 Significância: Já entre as pretônicas localizadas em base lexical, como em p[i]rigo, p[e]rícia, par[i]cido e p[e]cado, há 13,7% de aplicação do processo, o que corresponde à probabilidade de 0.49 de alteamento da média pretônica. Como não há grande quantidade de vogais médias livres em contexto prefixal, somando apenas 88 dados do total de 5718 ocorrências de pretônicas livres de travamento, e a maioria dentre as que assim se classificam é realizada pela variante alta, é de se compreender, ainda que o programa pondere a diferença no número

100 100 de ocorrências de uma e outra variável, que este seja o ambiente apresentado como mais fortemente favorecedor. Celia (2004: 52) afirma que os vocábulos com prefixo des- foram eliminados da análise por apresentarem uma realização praticamente categórica da variante alteada. Dentre os dados desta pesquisa que possuem pretônicas médias em prefixo, verifica-se que a maior recorrência é exatamente de vocábulos em que o elemento des- se adjunge ao princípio da palavra, de modo que o último elemento do prefixo forma sílaba com o primeiro da palavra a que se concatena. Assim como afirma Célia (2004), observa-se que tais palavras são sempre realizadas através da variante alteada: desabafar (1 oc.), desabrochar (1 oc.), desafinado (1 oc.), desafogar (1 oc.), desagradando (1 oc.), desagradar (4 oc.), desagradável (1 oc.), desaguar (3 oc.), desamor (2 oc.), desamparado (1 oc.), desandar (1 oc.), desanimado (1 oc.), desanimar (1 oc.), desaparecer (1 oc.), desativado (1 oc.), descentralizado (1 oc.), desempenho (1 oc.), desempregado (2 oc.), desemprego (5 oc.), desencadear (1 oc.), desentendimento (1 oc.), desenvolvendo (2 oc.), desenvolver (5 oc.), desenvolvimento (4 oc.), desesperado (3 oc.), desespero (1 oc.), desestimular (1 oc.), desestruturado (2 oc.), desestruturar (3 oc.), desonesto (1 oc.), desordem (1 oc.), subdesenvolvido (1 oc.). Contrariamente, os prefixos sobre-, re-, pré- e de- nunca se apresentam alteados: defasagem, demarcar, preconceito, rebater, rechear, reciclagem, reclamação, reclamando, recolher, reforma, reformando, repartição, repassar, retalhar, retornar, retrasado, sobressair, sobreviver. Assim, corroborando a afirmação de Michaëlis de Vasconcelos (1956 apud BISOL, 1981: 37), atestam-se realmente dois tipos de prefixos aqueles que não perdem suas características originais, como sobre- e pré-, e aqueles que as perdem por completo, integrando-se de todo à palavra, como des Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Inicialmente, atribuía-se ao processo de alteamento apenas o condicionamento do contexto vocálico adjacente, de modo que seria desencadeado por uma harmonização do traço de altura da vogal da sílaba tônica. Com o tempo, percebeu-se que (i) não era só a vogal alta tônica que exercia influência sobre a vogal média candidata à elevação, mas, sobretudo, como afirma Bisol (1981), a vogal alta imediatamente seguinte ao elemento vocálico passível de alteamento; e (ii) o processo de alteamento não se circunscrevia apenas a uma relação entre vogais, como afirma Abaurre-Gnerre (1981).

101 101 De posse da constatação de que há exemplos como pequeno, colher, melhor, tomate, boneca, colégio etc., onde [sic] o levantamento da vogal pretônica não pode ser tratado como harmonia vocálica (ABAURRE-GNERRE, 1981: 36), a autora propõe outra abordagem para a análise do fenômeno: o processo de redução vocálica, pelo qual, segundo Silveira & Tenani (2007), se reduz a diferença articulatória existente entre a vogal pretônica e as consoantes que lhe são adjacentes. Assim, seria possível abranger também os casos em que o alteamento se processa em palavras que não permitem a atuação da harmonização vocálica, tal como p[i]queno e m[i]lhor. Também Bisol (1981), que defende a proposta da harmonização vocálica como forte condicionamento para a aplicação da regra variável de alteamento, reconhece que as consoantes podem exercer influência sobre as vogais com que vizinham (p ). Para a autora, já que a harmonização vocálica é um processo de assimilação que se realiza por força da articulação alta de uma vogal seguinte, deve-se esperar que as consoantes caracterizadas por uma articulação alta venham a funcionar como elementos condicionadores do referido processo, enquanto as demais [...] inversamente atuem (p ). Tabela 7: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] pr[i]cisar, emb[e]l[e]zou, [i]norme, 515/ ,9% 0.47 d[e]cente, [i]xemplo, op[e]ração Pós-alveolar [, ] privil[i]gia, f[e]chado, pr[e]judicar 1/74 1,4% 0.04 Velar [k, g] p[i]queno, pr[e]caver, bot[i]quim, ch[e]gar, 182/980 18,6% 0.72 s[i]gurança, p[e]gar Labial [p, b, f, v, m] b[i]bida, s[e]paração, pr[i]firo, r[e]belde, 63/896 7% 0.37 d[i]via, d[e]morar, epid[i]mia Palatal [, ] s[i]nhor, m[e]lhoria, m[i]lhor, m[e]lhorar 69/305 22,6% 0.66 Input: 0.25 Significância: Em termos percentuais, os resultados aqui obtidos apontam as consoantes palatais (22,6%) de vocábulos como s[i]nhor, s[i]nhora, eng[e]nharia e emp[e]nhar como maiores favorecedoras, seguidas pelas consoantes velares (18.6%) de [i]quipe, pers[i]guido, empet[e]cado e carr[e]gamento; pelas consoantes alveolares (14,9%) de Cat[i]cismo, [i]xiste, despr[e]zível e d[e]t[e]rioram; pelas consoantes labiais (7%) de pr[i]feitura, [i]mancipado, arr[e]bentar e d[e]ver; e, por fim, pelas consoantes pós-alveolares (1,4%) de privil[i]gia, corr[e]gedor, mar[e]chal e plan[e]jamento. Os pesos relativos, no entanto,

102 102 apontam as consoantes velares (0.72) como maiores favorecedoras, seguidas pelas consoantes palatais (0.66). Os demais contextos subsequentes demonstram-se desfavorecedores do processo: as consoantes alveolares apresentam peso relativo de 0.47, fazendo-se neutras ao condicionamento, mas tendendo à manutenção da vogal média, ao passo que as consoantes labiais (0.37) e as pós-alveolares (0.04) apresentam-se inibidoras da aplicação do alteamento. Os resultados comprovam a hipótese de Bisol (1981: 93), que presume que as consoantes produzidas pelo levantamento do corpo da língua venham a favorecer o processo assimilatório em pauta, tanto a velar, articulada com o dorso da língua levantado, quanto a palatal, emitida com todo o corpo da língua levantado. Ao contrário do que afirma a autora (p. 95) quanto ao fato de a elevação da vogal diante de palatal estar condicionada à presença de uma vogal alta, não se tendo difundido no português do Rio Grande do Sul, alterações por ela provocadas que não estivessem no contexto da harmonização vocálica, o presente trabalho atesta casos como s[i]nhor, s[i]nhora, m[i]lhor e m[i]lhorar, nos quais há alteamento sem que à consoante palatal se siga uma vogal alta que venha a engatilhar o processo de assimilação. No que diz respeito às consoantes velares, a autora afirma que podem, por si mesmas, condicionar a elevação das vogais médias pretônicas, ainda que não haja o elemento condicionador da regra de harmonização, o que se deve ao seu caráter articulatório. Contrariamente, a consoante alveolar, cuja articulação se faz com a língua em posição razoavelmente plana, embora a parte da frente fique um pouco elevada, tenderia a não favorecer o processo, de modo que, por força de sua articulação mais baixa, tende a preservar a vogal média (BISOL, 1981: 93). Uma vez que o articulador, durante a produção da vogal alta, precisa mover-se rapidamente para ajustar-se ao ponto de articulação da consoante subsequente e que a consoante alveolar está mais próxima das vogais baixas do que das altas, observa-se neste trabalho, como no de Bisol (1981), a partir de dados como v[e]t[e]rinária, Cat[e]dral e V[e]n[e]zuela, que a combinação alveolar e vogal média ou vice-versa não é contexto que motive a aplicação da regra que altera a pretônica (p. 94) Ponto de articulação da consoante precedente Assim como no caso da consoante de ataque da sílaba subsequente, acredita-se que a precedente à vogal candidata à elevação também possa exercer influência sobre o condicionamento do processo. Lemos (2003) atestou que a presença de /t/ precedente favorece o alteamento, como em tesoura. Em casos como estes, no entanto, o fonema se realiza por seu

103 103 alofone [t ] na variedade carioca da língua portuguesa. Para Freitas (2003), quando as consoantes [t, d ] favorecem o alteamento, o que ocorre, na verdade, é um comportamento inverso: é a ocorrência da vogal alta anterior [i] que propicia a ocorrência da [...] palatalização de [t, d]. Os valores percentuais indicam as consoantes alveolares (19,5%) de vocábulos como d[i]rrubado, s[i]gurança, mis[e]ricórdia e arquit[e]tura, seguidas pelas consoantes palatais (15,3%) de conh[i]cido, envelh[e]cendo e conh[e]cimento; pelas consoantes labiais (13,6%) de esp[i]cialidade, m[i]dicina, sorv[e]teria e reb[e]lar; pelas velares (9,7%) de qu[i]ria, r[i]cebeu, gu[e]rreiro e r[e]gular; pela ausência de consoante de ataque (8,4%) de [i]conômico, [i]ducação, [e]létrico e [e]moção; e, por fim, pelas consoantes pós-alveolares (2%) de ch[i]gar, refrig[e]rante e X[e]rém. Os pesos relativos, no entanto, apontam que apenas as consoantes labiais, com probabilidade de 0.62 de aplicação do processo, favorecem o alteamento. Demonstrando-se neutras para o condicionamento do fenômeno, as consoantes palatais (0.46) tendem a desfavorecê-lo e as alveolares (0.52) tendem ligeiramente a favorecêlo. Por sua vez, as consoantes pós-alveolares (0.13) e as velares (0.35) demonstram-se inibidoras da aplicação da regra variável. Tabela 8: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio [i]norme, [e]xigir, [i]xemplo, [e]xistir, 51/605 8,4% 0.34 [i]xame, [e]rrado, [e]quilíbrio Alveolar [s, z, t, d, t, d ] s[i]guinte, s[e]parar, pr[i]cisar, ofer[e]cer, 439/ ,5% 0.52 n[i]nhum, n[e]gócio Pós-alveolar [, ] ch[i]gar, X[e]rém, exag[e]rado 5/255 2% 0.13 Velar [k, g] qu[i]rido, Jaqu[e]line, pequ[i]nininho, 55/569 9,7% 0.35 fregu[e]sia, r[e]belião, r[e]voltar Labial [p, b, f, v, m] p[i]dir, p[e]ssoas, pref[i]rível, f[e]deral, 269/ ,6% 0.63 prev[i]nir, v[e]rão, m[i]nino, m[e]recer Palatal [, ] conh[i]cido, conh[i]cimento, conh[e]cer, 11/72 15,3% 0.46 amanh[i]cia, envelh[e]cer, Input: 0.25 Significância: É interessante observar que a conclusão de Viegas (1987: 109) que declara que para que a vogal média alce ela deve estar precedida por pausa, ou melhor, em início de palavra demonstra não se aplicar às vogais médias pretônicas em contexto de sílabas livres, visto que a ausência do onset silábico funciona, nesses casos, como condição de preservação da média.

104 104 Já Bisol (1981: 34) o indicara em seu estudo: exemplos não faltam em que o silêncio à esquerda funciona como elemento preservador da média: educação (1 vez), educado (3 vezes) e nenhuma iducado e iducação; eletricista (5 vezes) e nenhuma eletricista; economia e nenhuma iconomia. Ao contrário do que atestara Bisol (1981: 95), em cuja pesquisa as consoantes labiais não se demonstraram atuantes, por não estar em jogo [...] a altura da língua em que o processo de assimilação [...] se fundamenta, os resultados desta pesquisa indicam que a consoante labial é a que mais fortemente favorece a atuação da regra variável de alteamento da vogal média pretônica, com peso relativo de Ressalte-se que há, dentre os vocábulos que apresentam consoante labial precedente à pretônica anterior, aqueles que alteiam em todas as suas ocorrências, como menino (82 oc.), e aqueles que jamais alteiam, não havendo variação de realização do vocábulo pelos diversos falantes, como melhorar (29 oc.). No entanto, há também aqueles que permitem uma realização variável da vogal pretônica, como é o caso de melhor, que ora se concretiza pela variante alta (5 oc.), ora pela variante média (97 oc.) Faixa etária do informante No que diz respeito às sílabas livres, das três variáveis sociais propostas para o estudo do alteamento, apenas a que controla a idade do indivíduo foi selecionada como atuante no condicionamento do processo. Labov (2008) postula que a mudança linguística inicia-se em um grupo da comunidade de fala e é levada às demais gerações. Segundo o autor (1996: 194), falantes mais velhos mostram tendência limitada à mudança comunitária, participando em pequeno grau das mudanças que têm lugar ao seu redor. Para Viegas (1987: 73), a mudança é geralmente incorporada pelos falantes mais jovens, que passam a utilizar a regra além do modelo dos pais. Bisol (1981: 86) já declarava que a alteração da pretônica era uma regra em vias de regressão, uma vez que o processo de alteamento era mais frequente entre os falantes mais velhos do dialeto gaúcho. Viegas (1987), por sua vez, em estudo do dialeto mineiro de Belo Horizonte, atesta lidar com uma mudança em progresso, visto que os falantes mais jovens favorecem ligeiramente a aplicação do processo. No Município de Nova Iguaçu, a diferença de aplicação do processo entre as três faixas etárias não se faz tão significativa. Em termos percentuais, falantes da primeira faixa etária (12,8%) desfavorecem o alteamento, de modo que se pode inferir não se tratar de

105 105 processo inovador entre as sílabas livres, ao passo que falantes da segunda (15,2%) e da terceira (15,6%) faixas etárias se demonstram mais suscetíveis ao fenômeno, podendo-se considerar que se trata de um processo livre de estigma social, já que aplicado entre enunciadores que se encontram inseridos no mercado de trabalho, e de caráter conservador, já que se aplica principalmente aos falantes mais idosos. Tabela 9: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35) 249/ ,8% 0.44 Faixa 2 (36 55) 302/ ,2% 0.49 Faixa 3 (56 75) 279/ ,6% 0.57 Input: 0.25 Significância: Os pesos relativos, por sua vez, indicam que o alteamento se registra preponderantemente na fala de informantes da terceira faixa etária (0.57), ao passo que os falantes de segunda (0.49) apresentam comportamento neutro com relação ao processo, tendendo a desfavorecê-lo, e os informantes da primeira faixa (0.44) não favorecem a sua aplicação. Atesta-se, portanto, que o alteamento parece tratar-se de fenômeno altamente conservador também no município de Nova Iguaçu, já que é verificado com maior frequência entre os falantes mais idosos. Gráfico 3: Distribuição percentual do alteamento por faixa etária do informante

106 106 No gráfico acima, estabelecido a partir dos valores percentuais, percebe-se, apesar de a diferença ser de apenas 2,8% entre a primeira e a terceira faixas etárias, que há, conforme afirma Bisol (1981), tendência à regressão da regra, já que, conforme supracitado, o processo apresenta maior probabilidade de aplicação entre os falantes mais velhos, que participam em pequeno grau nas mudanças que têm lugar a seu redor Classe gramatical Até o presente momento, todas as variáveis selecionadas contribuíam para fortalecer a hipótese neogramática de que as mudanças sonoras são foneticamente condicionadas. A seleção da variável que controla o estatuto gramatical do vocábulo indica que, apesar de o contexto fonético ser colaborador no condicionamento da aplicação do fenômeno, também há forças lexicais que atuam favorável ou desfavoravelmente para o processo de alteamento. A abordagem neogramática pressupõe que as mudanças são foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingindo todas as palavras do léxico que possuam o contexto favorecedor, ao passo que os difusionistas afirmam que são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, uma vez que cada palavra, tendo sua história particular, é atingida de forma diferente pelas mudanças sonoras. Sendo assim, da mesma forma que se pesquisou o condicionamento fonético, é importante verificar se há uma classe gramatical que favoreça a aplicação do alteamento mais do que outra. Silveira & Tenani (2007) empreenderam sua análise com base apenas em palavras pertencentes à classe dos nomes ou, mais especificamente, dos substantivos e adjetivos, argumentando que as diferentes estruturas envolvidas entre as diversas classes gramaticais podem influenciar distintamente no comportamento das vogais. Carmo (2009) afirma que as vogais pretônicas de verbos e de nomes não se comportam de maneira semelhante em relação ao alteamento. Lee (1995), por sua vez, propõe a existência de duas estruturas no português: o verbo, que apresentaria uma estrutura mais complexa, constituída de tema (radical + vogal temática) + sufixo flexional (sufixo modo-tempo + sufixo número-pessoa), e o não-verbo, que se constituiria de radical + (vogal temática). A presente pesquisa procurou abarcar todos os dados das classes gramaticais tradicionalmente utilizadas a saber, nomes e verbos, sendo esta última categoria subdividida em: (a) verbos em forma finita, como pr[i]firo e pr[i]cisa; e (b) verbos em forma infinitiva, como cons[i]guir e d[i]senvolvendo.

107 107 Assim como em Avelheda & Batista da Silveira (2011b), que atestaram que os itens verbais, sobretudo os pertencentes à segunda e à terceira conjugações, são mais suscetíveis ao alteamento do que os itens nominais, os resultados relativos ao Município de Nova Iguaçu indicam que os verbos, em forma finita (23,5%) ou em forma nominal (14,5%), como acr[i]dito, cons[i]guir, d[e]marcar e [e]duquei, são mais favoráveis ao processo de alteamento do que os nomes (12,1%), como ap[i]lidado, d[i]safio, agr[e]ssivo e cab[e]leireiro. No entanto, a pouca quantidade de itens em forma finita aos quais se aplica o processo de alteamento faz com que essa variável assuma um comportamento neutro frente o condicionamento do fenômeno, apresentando um peso relativo de As formas infinitas, por sua vez, apresentam peso relativo de 0.58, sendo ligeiramente mais favorecedoras do alteamento do que as formas finitas. Tabela 10: Resultados obtidos para a variável classe gramatical do vocábulo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nome Substantivos: m[i]dida, s[i]gurança, t[e]rritório, caract[e]rística 441/ ,1% 0.46 Adjetivos: p[i]rigoso, pr[i]guiçoso, despr[e]zível, int[e]ligente Verbo em forma finita pr[i]cisa, d[i]scia, [i]xiste, 281/ ,5% 0.55 qu[e]bour, m[e]lhorou, acont[e]ceu Verbo em forma infinita d[i]sestimular, fal[i]cido, p[i]dindo, d[e]marcar, apr[e]sentar, 108/764 14,5% 0.58 carr[e]gando, r[e]cuar, d[e]scendo Input: 0.25 Significância: A respeito do comportamento das vogais pretônicas dos verbos, Schwindt (2002) declara que, entre as vogais das raízes dos verbos e as dos sufixos verbais, parece haver uma grande aplicação do processo de harmonização vocálica, como em d[i]via e d[i]scia. Contrariamente, isso não ocorre entre as vogais pretônicas dos nomes e as dos sufixos nominais, como em burgu[e]sia. Carmo (2009) declara que se pode observar a relação entre as vogais pretônicas que sofrem o processo de alçamento e a presença de vogal alta na sílaba seguinte à da pretônica-alvo, assim como Viegas (1987: 68), que afirma que, com relação aos verbos, o que parece favorecer o alçamento é a presença de vogal alta no paradigma. Partindo-se dessas informações, realizou-se o cruzamento entre os resultados do grupo de fatores que controla a vogal presente em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação e os do grupo que controla a classe gramatical, conforme apresentado na tabela abaixo:

108 108 Tabela 11: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Formas verbais encontradas no corpus Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] 6/399 2% 11/92 12% [e, o] 13/555 2% 6/236 3% [, ] [i] 303/549 55% 41/120 34% [u] 2/6 33% 7/43 16% Nos dados de Nova Iguaçu, observa-se que, efetivamente, houve elevado índice de aplicação do processo de alteamento quando à pretônica candidata à elevação se seguiam as vogais altas tônicas (anterior [i]: 55%; posterior [u]: 33%), como em p[i]dindo e s[i]gurem, ou átonas (anterior [i]: 34%; posterior [u]: 16%), como em cons[i]guir e s[i]gurou. Quando se segue à pretônica-alvo uma vogal baixa (tônica: 2%; átona: 12%) ou média (tônica: 2%; átona: 3%), contrariamente, a tendência é a manutenção de [e], como se observa em esp[e]rar, com[e]cei, ch[e]gou, el[e]ger e r[e]tornar. Os resultados obtidos nesta dissertação vão ao encontro dos obtidos por Carmo (2009), que atestou que a maioria dos casos de alçamento se dá quando há contexto propício à realização do processo, isto é, quando há influência de uma vogal alta presente na sílaba seguinte e que a maioria dos casos em que não há alçamento ocorre em vocábulos em que não há vogal alta na sílaba seguinte. Isso indica que a harmonia vocálica é um processo produtivo do ponto de vista sincrônico, visto que foi preponderante a escolha das vogais [e, o] em casos em que não estavam presentes as vogais altas [i, u], e, em casos em que as mesmas estavam presentes, a opção pela variante alta foi significativa. No caso particular deste contexto silábico, em que as vogais pretônicas não estão travadas por nenhum elemento em posição de coda silábica, pôde-se observar um detalhe digno de nota. Enquanto itens como cons[i]guia, d[i]via e p[i]dia foram atingidos pelo processo de alteamento, suas formas correspondentes no futuro do pretérito, cons[e]guiria dev[e]ria e p[e]diria, não apresentaram nenhuma ocorrência de alteamento. Carmo (2009) afirma que há um tipo particular de vocábulo que não alça, mesmo havendo vogal alta na sílaba seguinte à da pretônica-alvo: trata-se de vocábulos que apresentam o sufixo modotemporal de futuro do pretérito -ria, como s[e]ria, t[e]ria e pod[e]ria. Collischonn & Schwindt (2004) apontam três explicações para o fato de esse sufixo desfavorecer a aplicação do alçamento: (i) o futuro do pretérito tem uso muito reduzido na língua, sendo muitas vezes substituído pelo pretérito imperfeito, como o ilustram as formas cons[i]guia, d[i]via e p[i]dia citadas acima; (ii) nas vezes em que ocorrem, os verbos no futuro do pretérito costumam estar vinculados à fala cuidada ou à modalização do discurso; e

109 109 (iii) esses morfemas se configuraram como palavras prosódicas independentes, o que Vigário (2001) corrobora, defendendo, com base na ocorrência de mesóclise, a existência de fronteira prosódica. A explicação que se parece mais pertinente é a de que o processo de alteamento não se aplica aos verbos no pretérito imperfeito por se tratar de formas em que se observa a fronteira prosódica, derivada de sua origem como palavras prosódicas independentes. A esse respeito, é interessante observar casos como o de entrevista, que, como mencionado na subseção que diz respeito à presença de vogal média pretônica em posição de prefixo, não é atingido pelo processo de alteamento por manter o caráter da palavra de que se originaram, assim como contra-. Se, como afirma Bisol (1981: 108), a regra de alçamento não ultrapassa fronteiras morfoprosódicas, é coerente que casos como esses, de cons[e]guiria, d[e]v[e]ria, p[e]diria e entrevista, nos quais se retém a lembrança do acento subjacente das palavras primitivas, não sejam atingidos pelo processo de harmonização vocálica que leva ao alteamento Natureza da atonicidade da sílaba pretônica A última variável selecionada controla a natureza da sílaba pretônica quanto ao fato de sua atonicidade ser eventual ou permanente. Segundo Bisol (1981: 69), a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica, ou seja, as vogais [...] originariamente átonas que esse caráter preservam na derivação paradigmática estão sujeitas a alterações, ao passo que, se a atonicidade for adquirida por deslocamento de acento, então a vogal tende a preservar-se (p ). Para a autora, admitindo-se que o acento primário (1) é o índice da sílaba tônica e o acento secundário (2) o de subtônica, então a atonicidade propriamente dita [...] é caracterizável a partir do acento terciário (p. 100). A autora atesta, em sua pesquisa, que as átonas aparentadas com vogais acentuadas /e o / tendem a reter a aplicação da regra, ao passo que a átona permanente oferece-lhe o contexto ideal (p. 72). Viegas (1987: 67) supõe que, se o alçamento é um processo de enfraquecimento, então a atonicidade da vogal deve ser um fator relevante. Também Avelheda & Batista da Silveira (2011b) verificam que a átona permanente é mais sensível ao processo, ao passo que a átona eventual tende a manter-se como vogal médio-alta. Conforme se observa na tabela abaixo, pelo menos no que diz respeito às pretônicas livres, não há diferença muito significativa entre as pretônicas eventuais (14,7%), encontradas em acont[i]cia e ad[e]rir, e as pretônicas permanentes (14,4%), encontradas em cons[i]gui e

110 110 acr[e]ditar. Observe-se que a seleção dessa variável como última a se mostrar relevante para o processo deriva do fato de apresentar resultados pouco relevantes em termos de probabilidade, apresentando comportamento neutro as pretônicas permanentes tendem, com peso relativo de 0.52, ao favorecimento do processo, ao passo que as pretônicas eventuais, com peso relativo de 0.45, tendem ao seu desfavorecimento. Disso se pode inferir que, em se tratando de sílabas livres em posição pretônica, a permanência de sua atonicidade é apenas levemente favorecedora do processo. Tabela 12: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pretônica eventual ofer[i]cido, pref[i]rido, transf[i]rir, 282/ ,7% 0.45 l[e]var, transf[e]rência, qu[e]rer Pretônica permanente [i]norme, s[i]nhor, acr[i]ditar, 548/ ,4% 0.52 r[e]lógio, pr[e]feitura, [e]quipamento Input: 0.25 Significância: Viegas (1987: 68) afirma que, com relação aos verbos, o que parece favorecer o alçamento é a presença de vogal alta no paradigma. De posse dessa informação, nota-se que há uma íntima relação entre as pretônicas eventuais que são atingidas pelo processo de alteamento, em sua maioria no interior de itens verbais, que são mais suscetíveis ao deslocamento do acento primário, e uma vogal alta consecutiva. Assim, o alteamento chega até a atingir as pretônicas eventuais, mas apenas o faz quando há uma vogal alta contígua à candidata à elevação como em conh[i]ci, mas não em conh[e]cer, e em d[i]scia, mas não em d[e]scer Vogais pretônicas em contexto de hiato Fernão de Oliveira (1536) demonstrara, já na primeira gramática do português, a condição variável da vogal posta em contato com outra. Apesar de ainda hoje manter-se como variável, Bisol (1981: 35) retira de sua análise este contexto, afirmando que a elevação dessa vogal sobrepuja a da vogal interna, havendo efeito diversificado da vogal que se lhe segue. Na presente pesquisa, observou-se uma quantidade bastante reduzida de dados de vogais pretônicas em contexto de hiato, apesar de a mostra ter sido maior do que a apresentada por Bisol (1981). Ainda assim, foi possível verificar, no município de Nova Iguaçu, o mesmo caráter variável que a autora declarou encontrar no dialeto gaúcho. Inicialmente, foram coletados 220 dados, dos quais 163 não foram atingidos pelo processo e

111 111 apenas 57 foram alçados. Desse corpus, foram eliminadas as 56 ocorrências de r[e]almente, todas elas realizadas através da variante média, operação que fez com que restassem 164 ocorrências de vogais pretônicas em contexto de hiato, das quais 107 (66,5%) não foram atingidas pelo processo e as mesmas 57 (33,5%) foram alçadas, obtendo-se um input geral de 0.35 para a aplicação do fenômeno de alteamento. Além das modificações já operadas no grupo de fatores, que se aplicam a todos os tipos de estrutura silábica abarcados por este estudo, o contexto de hiato apresentou algumas particularidades. Para o estudo aqui desenvolvido, foi considerada apenas a vogal média que ocupasse a primeira posição do encontro vocálico denominado hiato, de modo que palavras como sociedade, poesia, alienado, aeroporto e medieval, cujas consoantes alveolar e labial se demonstraram inibidoras do processo de alteamento, não foram consideradas neste subcorpus, mas naquele que diz respeito às vogais médias em sílaba desprovida de travamento. Assim, não foi considerado o grupo que controla o ponto de articulação dos segmentos consonânticos subsequentes, visto que a totalidade dos dados apresentados possuía outra vogal seguinte à pretônica candidata à elevação. Gráfico 4: Distribuição no corpus das vogais anteriores em contexto de hiato Também no que diz respeito ao ponto de articulação do segmento precedente e à distância entre a vogal alvo e a vogal alta mais adjacente foi necessário realizar mudanças que não se aplicaram em âmbito mais geral. Quanto à consoante que antecede a vogal média

112 112 seguida de hiato, a presença de uma pós-alveolar mostrou-se favorecedora do fenômeno de alteamento, como em rechear e Geana. Por fim, a contiguidade com outra vogal alta, como em veículo, reunir e conteúdo, mostrou-se desfavorecedora da aplicação da regra variável, visto que, como afirma Viegas (1987: 109), a vogal [e], quando está em contato com vogal alta [...], não alça. Entre os hiatos, poucos foram os dados que apresentaram vogal média pretônica seguida por uma vogal alta, estando ou não em sílaba contígua. Dos 164 dados de vogais pretônicas em contexto de hiato, apenas 52 apresentaram vogal alta em sua estrutura a saber, reagir (2 oc.), reúne (5 oc.), reuniu, reunido, reunião (4 oc.), reunir, realidade (14 oc.), realiza, realizar (4 oc.), realizada, reabrir, conteúdo (6 oc.), repreendido, veículo, arqueologia (7 oc.), preenchia, Beatriz, teoria. Dentre esses, alteiam apenas repreendido, preenchia e arqueologia (6 oc.). Assim, a quantidade de dados com que o programa conta para fazer a análise ponderada se reduz tão drasticamente que não se pode chegar a nenhuma conclusão a respeito da relevância desse fator, a não ser a de que a proximidade com outra vogal alta, no caso dos hiatos, tende a inibir a aplicação do processo. Por esse motivo, optouse por, exclusivamente no âmbito dos hiatos, eliminar este grupo e passar a considerar o que controla a vogal presente na sílaba seguinte à da vogal candidata à elevação, acreditando-se que melhor poderá abarcar o comportamento das vogais médias e baixa no condicionamento do fenômeno. Após terem sido tecidos estes comentários a respeito das particularidades do processo de alteamento em contexto de hiato, expõem-se, de acordo com a ordem de seleção, as variáveis indicadas pelo programa como relevantes para o condicionamento Ponto de articulação da consoante precedente As pretônicas em contexto de hiato, tal como as pretônicas livres, sujeitam-se não só ao controle da vogal da sílaba seguinte, mas também ao das consoantes que a precedem, visto que são aqui consideradas apenas as vogais pretônicas que ocupam a primeira posição do encontro vocálico sob observação. Em sua pesquisa, Bisol (1981: 93) afirmara que a consoante alveolar, cuja articulação se caracteriza pela posição razoavelmente plana do corpo da língua, tenderia a não favorecer o processo. Também nessa pesquisa se observou que as consoantes labiais não se demonstravam atuantes no âmbito da média anterior, porque não estava em jogo [...] a altura

113 113 da língua em que o processo de assimilação [...] se fundamenta (p. 95) e, portanto, não havia parentesco entre a vogal candidata à elevação e a consoante com que vizinhava. Tabela 13: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] pr[i]encher, repr[e]ender, t[e]atral, ost[e]oporose, san[i]amento, id[e]al, 39/71 54,9% 0.73 pass[i]ei, C[e]ará Velar [k, g, ] farr[i]ar, arqu[i]ologia, r[e]agir, r[e]alidade 8/78 10,3% 0.11 Labial [p, b, f, v, m] camp[i]ão, bob[i]ar, B[e]atriz, caf[e]ína, 7/12 58,3% 0.81 v[e]ículo, am[e]açar Input: 0.31 Significância: No que diz respeito às vogais pretônicas em contexto de hiato, em termos percentuais, observa-se que as consoantes labiais (58,3%) são apresentadas como as que mais fortemente favorecem a aplicação do processo de alteamento (P.R.: 0.81), como em bob[i]ar, p[i]ão, B[e]atriz e am[e]açou, seguidas pelas alveolares (54,9%; P.R.: 0.73)), como em empr[i]endedor, manus[i]ar, t[e]oria e D[e]odoro, e pelas velares (10,3%), que se demonstram desfavorecedoras do processo em arqu[i]ologia, farr[i]ar, r[e]eleger e r[e]erguendo. Comprova-se, assim, que a análise individual dos diferentes contextos silábicos pode deixar transparecer condicionamentos que, em uma análise conjunta, podem não ser revelados Vogal presente na sílaba seguinte As abordagens mais tradicionais do processo de alteamento alegam ser o contexto fonético-fonológico o condicionamento original das mudanças sonoras. Assim, determinam que a condição sine qua non para que se processe o alteamento da vogal média pretônica é a existência de uma vogal alta, que seria o gatilho para a assimilação do traço de altura. Em suas pesquisas, Bisol (1981) e Viegas (1987) eliminaram as vogais pretônicas em contexto de hiato, argumentando que a vogal que vizinha com outra parece ter um comportamento diferenciado daquela que vizinha com consoantes estejam essas em posição de travamento silábico, como entalhar e estudar, ou em posição de onset da sílaba subsequente, como desabrochar e enorme. Em análise apurada do corpus obtido, verificou-se que as vogais com que se coadunam as pretônicas candidatas à elevação exercem efeitos diversificados sobre o processo

114 114 de alteamento, de modo que as vogais médias [e, o] de palavras como compr[i]ender e desencad[i]ou e a vogal baixa [a] de palavras como san[i]amento e pass[i]ar tendem a favorecer a aplicação da regra variável, enquanto a presença de vogais altas, como em v[e]ículo e r[e]união, tende a ser um fator a bloquear a atuação do fenômeno. Tal constatação vai de encontro à de Bisol (1981: 36), que observa que a presença de vogal alta, sobretudo a anterior, possibilita maior frequência de uso da variante alteada. [i] [e, o] [a] [u] Tabela 14: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores em contexto de hiato Pretônica alteada Pretônica não-alteada Átona preenchia Tônica veículo Compreender, empreendedor, Deodoro, osteoporose, reerguendo, Átona arqueologia (7 oc.), repreendido, Leopoldo, reeleger (2 oc.), teoria, compreensão (6 oc.) repreender, Leonardo (3 oc.) Tônica desencadeou, passeei, recheei, saneou. adoecer, adoecendo, preencho, peões. ameaçou, reagir (2 oc.), realizada, realizar (4 oc.), Realengo (10 oc.), Átona teatral, saneamento (6 oc.) reabrir, realidade (14 oc.), reação, Ceará, vereador, ameaçando, cearense, Beatriz, vereador. Tônica Átona Tônica teatro (12 oc.), farrear, cornear, manusear, peão, rechear, bobear (5 oc.), passear, maleável, corneando, campeão, passeando, Napoleão, Geana real (24 oc.), ideal (4 oc.), Leandro, oceano, leão reunião (4 oc.), reunido (2 oc.), reunir (2 oc.) conteúdo (6 oc.), reúne (5 oc.) Segundo Viegas (1987: 109), a vogal [e], quando está em contato com vogal alta [...], não alça. De fato, observa-se que as vogais altas sequer foram consideradas na análise multivariada, visto que mostraram resultado categórico para o não-alteamento. Dos 21 dados que apresentam vogal alta em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação, apenas o vocábulo pr[i][i]nchia se realiza pela variante alteada, conforme se pode ver na tabela acima, em que se explicitam todos os dados de vogal pretônica em contexto de hiato, suas respectivas realizações e as vogais que lhe sucedem. Conforme indicam os resultados percentuais, as vogais médias [e, o] demonstram-se mais favorecedoras do processo de alteamento, sejam tônicas (66,7%), como em rech[i]ei, san[i]ou, pr[e]encho e p[e]ões, sejam átonas (61,5%), como em repr[i]endido, arqu[i]ologia, r[e]erguendo e ost[e]oporose. Considerados os valores probabilísticos, as vogais médias tônicas de palavras como pass[i]ei e desencad[i]ou demonstram-se menos favorecedoras, com peso relativo de 0.57, beirando a neutralidade, do que as vogais médias átonas de palavras como empr[i]endedor e compr[i]ensão, com peso relativo de 0.76.

115 115 [e, o] [a] Tabela 15: Resultados obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Aplicação total Porcentagem Probabilidade Átona 16/26 61,5% 0.76 Tônica 4/6 66,7% 0.58 Átona 7/46 15,2% 0.29 Tônica 29/65 44,6% 0.53 Input: 0.31 Significância: Parece que, enquanto os demais tipos de estrutura silábica demonstram-se suscetíveis a um processo de assimilação, as vogais em hiato passam pelo processo inverso, de dissimilação, de modo que se coíbe o alteamento da pretônica candidata quando muito proximamente se encontra outra vogal alta, como em v[e]ículo e em cont[e]údo Vogais pretônicas travadas por consoante nasal /N/ Viegas (1987: 60) declara que a vogal em sílaba travada por nasal parece ter um comportamento diferente da vogal passível de nasalização [fonética] (seguida de consoante nasal [na sílaba seguinte]) com relação ao alteamento (p[u]mada, p[o]ndera), o que se justificaria pelo fato de que a vogal [travada por consoante] nasal não antecipa articulação alguma, enquanto a vogal nasalizada [por elemento nasal da sílaba seguinte] antecipa :... uma nasalidade como de junta, oposto a juta [...] não se deve confundir com uma pronúncia levemente nasal da vogal de cimo, ou de uma [...], em que o falante tende a antecipar o abaixamento do véu palatino, necessário à emissão nasal da consoante na sílaba seguinte, e emite já nasalizada a vogal precedente. Aí não há oposição entre a vogal nasalizada e a vogal, também possível, no mesmo vocábulo, sem a nasalização (CAMARA JR., 1969: 25). Brandão & Cruz (2005), por sua vez, atestam que há maior possibilidade de alteamento nos vocábulos em que a vogal pretônica anterior apresenta nasalidade fonológica. No corpus em que se baseia este estudo, foram encontradas, inicialmente, 2164 ocorrências de pretônicas em contexto de travamento nasal, das quais 140 se realizaram pela variante ditongada, 692 não foram atingidas pelo processo e 1332 apresentaram a variante alteada. No entanto, a recorrência de itens como então (695 oc.), enquanto (20 oc.), embora (26 oc.) e embaixo (17 oc.) fez com que se comprometessem os resultados quantitativos que, em todas as pesquisas, mostram que a manutenção da vogal média ainda é a variante preponderante. Feita a eliminação desses dados, que categoricamente eram atingidos pelo processo de alteamento, foram encontrados 1381 dados de pretônicas em contexto de travamento nasal,

116 116 dos quais 138 (10%) se realizaram pela variante ditongada, 670 (48,5%) não foram atingidos pelo fenômeno e 573 (41,5%) apresentaram a forma alteada, chegando-se ao input geral de 0.46 para aplicação do alteamento. Assim como argumenta Camara Jr. (2006), não se pôde observar a realização das vogais médio-baixas, coibidas pela presença de consoante nasal em posição de coda. Gráfico 5: Distribuiçao no corpus das vogais anteriores travadas por consoante nasal Conforme se observa no gráfico acima, as vogais pretônicas travadas por uma consoante nasal, assim como se verá posteriormente nas travadas por consoante fricativa /S/, possibilitam a inserção de um glide e consequente formação de ditongo. Ainda que haja indícios, que deverão ser posteriormente verificados em análise acústica, de que a variante ditongada [ey, ow] constitui um meio termo entre a manutenção da vogal média e a sua elevação, optou-se por eliminá-la da análise. Assim, restaram 1243 dados, sendo 670 (53,9%) realizados pela variante médio-fechada, como ent[e]nder e ac[e]nderam, e 573 (46,1%) realizados com a variante alteada, como [i]ngraçado e v[i]ndi. A decisão pela eliminação da variante ditongada advém do fato de que, em contextos específicos, estando amalgamadas as variantes ditongada e alteada, o programa selecionava certos fatores como favoráveis ao processo de alteamento. No entanto, os poucos casos que levavam a esse resultado, na verdade, não eram de vogais pretônicas alteadas, mas de vogais às quais foi acrescido um glide, levando à formação do ditongo. Tal foi o que ocorreu nos casos em que as pretônicas anteriores travadas por consoante nasal /N/ estão precedidas por

117 117 uma consoante pós-alveolar legendado, inteligentíssima, gentileza. Assim, verificando-se que a manutenção da variante ditongada levaria a um leve enviesamento dos resultados, optou-se por excluir estes 138 dados que se referiam à ditongação. Para as pretônicas travadas por elemento consonântico nasal, foi necessário eliminar da análise multivariada o fator que controla a presença de uma consoante pós-alveolar subsequente à estrutura bifonemática de vogal + /N/, uma vez que este contexto atua como categoricamente favorecedor do processo de alteamento em vocábulos como [i]ngenheiro (7 oc.), [i]ncher (2 oc.), [i]ngenharia (3 oc.), [i]ngenho (8 oc.), [i]njoado, [i]nxergando, [i]njoando, [i]nxada, pre[i]ncher. Com a exclusão do grupo que controla a natureza da vogal da sílaba seguinte, se átona ou tônica, perderam-se informações quanto à atuação das vogais médias e baixas que, se já eram importantes no âmbito das sílabas livres, no qual obedeciam às hipóteses de estudos anteriores, se fazem ainda mais relevantes para as pretônicas travadas por nasal, já que parecem ir de encontro aos resultados anteriormente obtidos. Veja-se, abaixo, uma tabela que demonstra o papel de cada vogal no condicionamento da aplicação do processo. Tabela 16: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] [i]nxada, [i]ngraçado 21/324 6,5% 45/79 57% [e, o] [i]mprego, [i]ngenheiro 156/347 45% 170/183 92,9% [, ] [i]ntregue, [i]ncosta 12/13 92,3% [i] m[i]ntira, [i]nrijecer 110/172 64% 41/100 41% [u] [i]mpurra, p[i]ndurado 3/8 37,5% 15/17 88,2% Os resultados percentuais indicam que o alteamento das pretônicas anteriores travadas por consoante nasal /N/ não estão submetidos apenas à presença de vogal alta em sílaba subsequente: as vogais altas anteriores (tônica: 64%; átona: 41%) e as posteriores (tônica: 37,5%; átona: 88,2%) favorecem o alteamento de palavras como m[i]ntir e [i]mpurrar, mas as vogais médio-baixas (92,3%), como em [i]ntrega e [i]ngole, e as vogais médio-altas (tônicas: 45%; átonas: 92,9%), como em [i]ndereço e subdes[i]nvolvido, também permitem que o processo se aplique. Da mesma forma, a vogal baixa (tônica: 6,5%; átona: 57%) não se demonstra inibidora do processo, como em [i]ngravidou e des[i]ncadeou. Assim, parece que a vogal da sílaba subsequente não exerce influência sobre o alteamento ou a manutenção das

118 118 vogais médias pretônicas travadas por consoante nasal /N/, uma vez que o alteamento se aplica a despeito da vogal que se encontra em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação. Pode-se supor que, neste contexto, o mais forte condicionamento é o próprio elemento nasal que entrava a vogal, ao qual se coaduna o fato de a maioria das pretônicas nasais analisadas encontrarem-se em início de vocábulo, posição que favorece quase categoricamente o alteamento. Nesse sentido, um caso curioso merece ser mencionado. No presente trabalho, observou-se que o vocábulo entrar, tal como suas flexões, a despeito de apresentar a nasalidade fonológica e de se localizar em início absoluto de palavra, não foi atingido sequer uma vez pelo processo. Brandão & Cruz (2005), em estudos com o Atlas Linguístico do Amazonas (ALAM) e o Atlas Linguístico Sonoro do Pará (ALiSPA), destacam o caso do vocábulo mentira, que, apesar de possuir o contexto nasal favorecedor do alteamento, apresentam índices em favor da média fechada. As autoras explicam que, por possuir em sílaba tônica a vogal alta [i], que favorece nas variedades estudadas a realização da pretônica pela variante média fechada [e], a nasalidade fonológica não exerce influência sobre a aplicação da regra. De posse dessas considerações, acredita-se que a presença de vogal baixa em sílaba subsequente à que ocupa a vogal alvo, ambiente naturalmente desfavorecedor, obteve maior peso no condicionamento do processo em relação a entrar, já que coibiu a sua atuação. Feitas as devidas observações a respeito de mudanças no grupo de fatores, segue-se a exposição, de acordo com a ordem de seleção, das variáveis indicadas pelo programa como relevantes para o controle do processo de alteamento Natureza da atonicidade da sílaba pretônica A vogal pretônica candidata à elevação, por meio dos processos de flexão e derivação a que são submetidos os vocábulos, pode manter seu caráter átono ou pode perdê-lo. Bisol (1981) classifica como átonas permanentes aquelas que nunca figuram como tônicas empresa, entender, empregar e encontrar, e como átonas eventuais aquelas que derivam (de) uma tônica lembrar (átona) ~ lembro (tônica). Segundo Bisol (1981: 72), por ser o alteamento um processo de enfraquecimento das vogais a ele submetidas, as átonas aparentadas com vogais acentuadas /e o / tendem a reter a aplicação da regra, ao passo que a átona permanente oferece-lhe o contexto ideal.

119 119 Bortoni et alii (1991: 85) observam que o [e] pretônico que não está associado a [e] tônico em palavras cognatas é o mais sujeito à elevação, assim como Tenani & Silveira (2008: 461), que declaram que a atonicidade permanente é a condição ideal para que ocorra a elevação vocálica. Avelheda & Batista da Silveira (2011b) afirmam que, sendo o alteamento um processo de enfraquecimento que faz passar [e] a [i] e [o] a [u], é de se esperar que as átonas permanentes sejam mais suscetíveis ao fenômeno, visto que as átonas eventuais guardam resquícios das formas de origem. Tabela 17: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pretônica eventual s[i]ntido, s[i]ntir, [i]ncher, v[i]ndi, 187/609 23,5% 0.11 g[e]ntil, apr[e]nder, t[e]ntar, l[e]mbrar Pretônica permanente [i]nsinar, [i]mpregado, [i]ngenharia, 524/585 89,6% 0.91 s[e]nsacional, at[e]nção, [e]ntrar Input: 0.82 Significância: Ao contrário do que se verificou em relação às pretônicas permanentes no âmbito das sílabas livres, que apenas modicamente se apresentaram favorecedoras (P.R.: 0.52), como se verifica nos itens [i]norme e [e]quilíbrio, as que se encontram em contexto de travamento nasal se demonstraram altamente favoráveis, atingindo o peso relativo de 0.91, como se observa em [i]nveredando e [i]ntregador. Da mesma forma, enquanto o peso relativo das pretônicas livres eventuais se mostrou neutro, sem favorecer ou desfavorecer o processo (P.R.: 0.45), como se percebe em fal[i]ceu e em escr[e]ver, o das pretônicas eventuais travadas por nasal atuou de maneira altamente desfavorável, com peso relativo de apenas 0.11, como se observa em [i]ngordar e em H[e]nrique. Portanto, corrobora-se a hipótese de haver condicionamentos que atuam de forma diferente a depender da estrutura da sílaba a que pertence a vogal média candidata à elevação. Evidentemente, é possível que, por atuação de outros fatores, como o favorecimento pela posição inicial do vocábulo, no caso de encher, a pretônica travada por nasal seja atingida pelo processo de alteamento, mas os valores do cruzamento entre este grupo e o que controla a vogal da sílaba seguinte, realizado com vistas a ilustrar a observação já empreendida, indicam que é mais provável o alçamento quando há uma vogal alta, sobretudo se for tônica, como em v[i]ndia, mas não em v[e]nder, em dep[i]ndia, mas não em dep[e]nder, e em s[i]ntido, mas não em s[e]ntimento.

120 120 Tabela 18: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Natureza da atonicidade da pretônica Vogal Átona eventual Átona permanente Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] Átona 45/48 94% Tônica 3/287 1% 18/37 49% [e, o] Átona 1/14 7% 169/ % Tônica 4/192 2% 152/155 98% [, ] Átona Tônica 12/12 100% [i] Átona 41/50 69% Tônica 45/92 49% 65/80 81% [u] Átona 15/16 94% Tônica 3/5 60% Sendo assim, tal como as vogais em contexto de ausência de travamento, que permitiram observar que há íntima relação entre as pretônicas eventuais atingidas pelo processo de alteamento e uma vogal alta consecutiva, também as travadas por nasal revelam que, para que uma pretônica eventual alce, é necessário haver uma vogal alta em sílaba subsequente. Isso se confirma pelo fato de que o vocábulo vender não é atingido pelo processo de alteamento, mas as formas flexionadas vendi e vendiam, que passam a ter uma vogal alta subsequente, o são. Por outro lado, observa-se que as pretônicas permanentes apresentam valores percentuais bastante elevados, demonstrando que, nessas condições, não é exatamente a vogal da sílaba seguinte que condiciona a aplicação do processo, mas algum outro fator, que pode ser o próprio elemento consonântico nasal ou a localização dessas vogais, majoritariamente, em posição de início de vocábulo sem consoante de ataque. Se as vogais altas [i] (tônica: 81%; átona: 69%) e [u] (tônica: 60%; átona: 94%) de palavras como [i]nsino, [i]nciclopédia, [i]mpurra e [i]ntupido possibilitam a ocorrência do processo de alteamento, também não coíbem sua ocorrência as vogais médio-baixas (100%) de palavras como [i]ntregue e [i]ncosta, as médio-altas (tônica: 98%; átona: 100%) de [i]mpresa, [i]mpregado, [i]ntorno e [i]nrolado, e a vogal baixa (tônica: 49%; átona: 94%) de palavras como [i]nsaio e [i]ngasgar Ponto de articulação da consoante precedente Bortoni et alii (1991: 83) atestam que as vogais pretônicas precedidas por pausa são mais suscetíveis à aplicação do processo de alteamento, seguidas pelas consoantes palatais. Callou et alii (1991: 73) verificam serem as labiais e as velares as que mais favorecem o processo de alteamento, enquanto as alveolares o coíbem. Tenani & Silveira (2008: 456) também verificam serem as labiais as que mais favorecem o processo.

121 121 Avelheda & Batista da Silveira (2011b) atestam serem as fricativas alveolares /s, z/ as mais favorecedoras do fenômeno, juntamente com as vogais de sílabas desprovidas de ataque silábico. Bisol (1981) declara que o processo assimilatório em pauta é favorecido pelas consoantes palatais, por serem produzidas com todo o corpo da língua levantado, e pelas velares, que são articuladas com o dorso da língua elevado, mas desfavorecido pelas alveolares, cuja produção se faz com a língua em posição razoavelmente plana, e pelas labiais, em cuja articulação não está envolvido o traço de altura que desencadeia a assimilação. Os resultados desta pesquisa apontam como ambiente altamente favorecedor a ausência de consoante em posição de onset silábico, que apresenta 80,4% de aplicação do processo e peso relativo de De fato, já empiricamente se pode notar que, em palavras como [i]nvolver, [e]ntrar, [i]mprego, [i]nxada e [i]ncosta, o ataque vazio parece constituir um ambiente fonético natural para o alteamento de pretônicas travadas por nasal /N/, tal como afirmam Avelheda & Batista da Silveira (2011b) em estudo do município de São Fidélis. A esse respeito também falavam Viegas (1987: 113), para quem parece haver uma relação direta entre início de palavra e alçamento, de modo que quanto mais próximo do início da palavra, maior a porcentagem de alçamento, e Bisol (1981: 34), para quem o silêncio à esquerda favorece a elevação quando a pretônica vem seguida por /N/. Tabela 19: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio [i]mprego, [i]ncostar, [i]ntender, [e]ntrar, 513/638 80,4% 0.80 influ[e]nciar, ori[e]ntador Alveolar [s, z, t, d, t, d ] s[i]ntir, des[i]mprego, at[i]ndido, t[e]ntar, 147/498 29,5% 0.18 pr[e]ndeu, s[e]ntar Labial [p, b, f, v, m] p[i]ndurado, m[i]ntindo, m[i]ntira, 42/213 19,7% 0.22 p[e]nsamento, v[e]ndedor, experim[e]ntar Input: 0.82 Significância: Contrariamente, a existência de consoante na posição de onset silábico inibe a aplicação do processo. Assim é que as consoantes alveolares (29,5%) de palavras como s[i]ntido, ess[e]ncial, apres[e]ntação, est[e]nder e id[e]ntidade, com peso relativo de 0.18, desfavorecem a aplicação do processo, assim como as consoantes labiais (19,7%) de vocábulos como indep[e]ndência, ab[e]nçoado e aum[e]ntar, que apresentam peso relativo de Sabendo dessas peculiaridades, muitos autores optam por excluir de sua análise as vogais pretônicas em posição de início absoluto de vocábulo, como Bisol (1981), Celia (2004)

122 122 e Freitas (2001), acreditando que os princípios que regem a elevação da vogal inicial não se identificam com os que elevam uma vogal média pretônica interna. Neste estudo, todavia, pretende-se dar conta de todos os contextos que propiciam o alteamento das médias pretônicas, de modo que excluir o ataque vazio não seria coerente com o propósito da pesquisa. Relembrando que inicialmente, além das variantes alta e médio-alta, controlava-se a possibilidade de ditongação da vogal média travada por consoante nasal, é interessante destacar que foi a variável que controla a consoante precedente que indicou a necessidade de retirada dessa variante, visto que, como outrora explicitado, havia contextos específicos em que o programa selecionava como favorável, por exemplo, as pretônicas travadas por consoante nasal e precedidas por consoantes pós-alveolares [, ], como leg[ey]ndado e g[ey]ntileza, mas os itens eram sempre realizados pela variante ditongada. Portanto, por esse motivo e por a análise multivariada só permitir o estudo de variáveis binárias, optou-se por proceder à exclusão da variante ditongada Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tenani & Silveira (2008) afirmam que a adjacência da vogal alta à pretônica é fator predominantemente favorecedor do processo de alteamento, mostrando-se como condição ideal para que a regra variável seja aplicada. Afirmam que, além de ser a presença da vogal alta o contexto ideal à manifestação do processo [...], a adjacência desse tipo de vogal também exerce papel determinante na caracterização da regra (p ). Bortoni et alii (1991: 83) atestam que as vogais altas, orais ou nasais, são as que mais favorecem o alteamento no dialeto brasiliense. Dias, Cassique & Cruz (2007) afirmam que as vogais altas imediatas são as que mais favorecem a elevação da vogal pretônica, e que o que menos a favorece é a presença de vogais não-altas em sílaba contígua à da vogal-alvo e a de vogais altas não-imediatas. Battisti (1993) mostra que a vogal alta na sílaba seguinte, mesmo não sendo tônica, favorece o alçamento da pretônica em sílaba inicial, ao passo que Lemle (1974) acredita ser condição necessária para o alteamento a presença de vogal alta tônica, ou com resquícios de tonicidade de outro vocábulo do paradigma.

123 123 Tabela 20: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Vogal Distância da vogal alvo do processo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Distância 1 Contígua s[i]ntido, [i]nsino, m[i]ntir, m[i]ntira, apr[e]ndi, at[e]ndido, qu[e]ntinha 128/194 66% 0.86 Tônica Distância 2 Intervalo de 1 sílaba [i]ntrevista, [i]nvolvido, [i]ngravida, 20/21 95,2% 0.66 aum[e]ntaria Distância 3 intervalo de 2 sílabas [i]ngenharia, [i]nfermaria, apos[e]ntadoria 5/9 55,6% 0.24 Distância 1 Contígua [i]nsinamento, [i]mpurrar, [i]ntupido, at[e]ndimento, apr[e]ndizado, id[e]ntificar 71/131 54,2% 0.08 Átona Distância 2 Intervalo de 1 sílaba [i]ncaminhar, des[i]nvolvimento, desc[e]ntralizado, m[e]ntalidade, 13/20 65% 0.30 c[e]ntralização, s[e]nsacionalismo Input: 0.82 Significância: Como se pode verificar na tabela acima, a contiguidade entre a pretônica candidata à elevação e outra vogal alta é o fator que mais fortemente favorece a aplicação da regra variável de alteamento, com 66% de aplicação da regra variável e probabilidade de 0.86 para que se processe o alteamento em palavras como at[i]ndido, dep[i]ndia, desent[e]ndimento e H[e]nrique. Ao lado deste fator, a presença de uma vogal tônica, ainda que com o intervalo de uma sílaba, mostra-se relativamente favorecedora do processo, com 95,2% de alteamento e probabilidade de 0.66 para aplicação do fenômeno em palavras como [i]nvolvido e aum[e]ntaria. A existência de uma distância maior, de duas sílabas entre a vogal-alvo e a próxima vogal alta da palavra, como em apos[e]ntadoria, apresenta 55,6% de aplicação do processo de alteamento, mas um peso relativo de 0.24 extremamente desfavorecedor. Quando se passa a considerar uma pretônica alta que esteja na palavra, verifica-se que a existência de uma sílaba interposta à vogal alta e à vogal candidata à elevação, como em [i]mbutido e c[e]ntralização, faz com que o processo seja desfavorecido, havendo, nesse contexto, 65% de aplicação do processo e probabilidade de 0.30 para o alteamento dessas vogais. Quando há contiguidade entre essas duas vogais, como em [i]nsinamento, s[e]ntimento, observa-se 54,2% de aplicação do processo, mas peso relativo de 0.08 altamente desfavorecedor. O fato de a contiguidade ser menos favorecedora do processo quando a vogal a engatilhar a harmonização é uma átona não invalida a teoria de Bisol (1981) quanto a se tratar de fator relevante. Nesse caso, por se tratar majoritariamente de vogais que se encontram em contexto de ausência de ataque silábico, o que, como já visto anteriormente, parece configurar ambiente fonético favorecedor do alteamento entre as pretônicas travadas

124 124 por elemento consonântico nasal, a variável mais fortemente responsável pelo controle do processo parece ser a que considera a ausência de contexto precedente. Ao contrário do resultado obtido em Tenani & Silveira (2008: 453), que afirmam que houve ocorrências em que a presença da vogal alta tônica não foi suficiente para desencadear a elevação, em virtude de haver a distância de mais de uma sílaba entre a vogal pretônica e a vogal alta tônica, observa-se que, como no que diz respeito às pretônicas livres, o que é relevante para a aplicação do processo de alteamento não é a presença de uma vogal alta em sílaba contígua, mas, sobretudo, de uma vogal alta tônica. No âmbito das pretônicas travadas por consoante nasal, vê-se, ainda, que os resultados são favoráveis à tonicidade e não à contiguidade, porque, mesmo quando se tem uma sílaba intercalando a pretônica alvo e vogal alta tônica, o fenômeno se concretiza Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Avelheda & Batista da Silveira (2011b), em estudo comparativo sobre o comportamento das vogais médias pretônicas nos municípios de Rio de Janeiro e São Fidélis, acreditam haver a possibilidade de a vogal média pretônica candidata à elevação assimilar um traço presente no segmento que a sucede, de modo que, mesmo que não exista uma vogal alta que desencadeie o processo, o alteamento se justifica por assimilação de traços de posição e altura do corpo da língua. Bisol (1981) afirma que, para que as consoantes exerçam influência sobre as vogais com que vizinham, é necessário que existam pontos de semelhança com a vogal assimiladora. As consoantes velares (92,2%) apresentam probabilidade de 0.52 para atuação do alteamento em palavras como des[i]ncadeou, [i]ngrandece, [e]nrolado e flam[e]nguista, demonstrando comportamento neutro tendente ao favorecimento do processo. As consoantes alveolares (40%), por sua vez, demonstram comportamento desfavorecedor, com peso relativo de 0.36 para a aplicação do processo em palavras como [i]nsinamento, [i]ntretenimento, inc[e]ndiar e m[e]nsalão. Contrariamente ao que afirma Bisol (1981), segundo a qual as consoantes labiais não atuam no condicionamento do processo de alteamento por não estar em jogo [...] a altura da língua em que o processo de assimilação [...] se fundamenta, os dados desta pesquisa indicam que as labiais são as que mais favorecem o alteamento das pretônicas travadas por consoante nasal, apresentando 89,6% de aplicação do processo e probabilidade de 0.95 para sua atuação em palavras como [i]mbaixador, des[i]mpenho, cont[e]mporâneo e l[e]mbrado.

125 125 Tenani & Silveira (2008) igualmente atestaram um forte condicionamento das consoantes labiais para o processo de alteamento, mas os maiores índices relacionaram-se somente à vogal posterior /o/, o que pôde ser entendido com base no traço de labialidade comum à vogal posterior e ao segmento labial. Tabela 21: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] [i]ntregar, p[i]ndurado, [i]nsinar, [i]nsaio, g[e]ntil, at[e]ndimento, apres[e]ntação, 428/ % 0.36 apr[e]nder, resid[e]ncial Velar [k, g] [i]nrolado, [i]ncaminhar, [i]ngraçado, 95/103 92,2% 0.52 H[e]nrique Labial [p, b, f, v, m] [i]mprestado, [i]nfrentar, des[i]nvolver 163/182 89,6% 0.95 Input: 0.82 Significância: Por aqui se tratar isoladamente da vogal pretônica seguida por um elemento consonântico nasal em posição de travamento silábico, acredita-se que a consoante subsequente não exerça propriamente uma influência sobre a estrutura bifonemática, de modo que a explicação para o alteamento esteja em seu próprio interior: como afirmam Brandão & Cruz (2005), há maior possibilidade de alteamento nos vocábulos em que a vogal apresenta nasalidade fonológica. Com efeito, a localização da pretônica anterior + arquifonema nasal /N/ em posição inicial de vocábulo favorece majoritariamente o alteamento, independentemente da consoante que se lhe siga: empenhar, emprego, empregado, empreiteira, empresa, empurrar, encaixar, encaminhar, encenar, encher, encontrar, enfermagem, enganar, engenharia, engraçado, ensinar, entregar. Quando a vogal candidata se encontra em contexto medial de vocábulo, todavia, a regra é a manutenção da vogal média emergência, empreendedor, enfrentar, entender. Observa-se, portanto, que não parece ser o ponto de articulação da consoante de sílaba subsequente que determina predominantemente a realização ou não realização do processo de alteamento, mas o fato de a vogal candidata à elevação encontrar-se no princípio ou no meio do vocábulo. Esses resultados vão de encontro à hipótese de Hooper (1976 apud VIEGAS, 1987: 59), que declara que, devido à relação entre alçamento e enfraquecimento, o processo seria mais frequente no meio ou no final da sílaba do que no início, que é a posição forte. No entanto, as vogais que se encontram em princípio absoluto de sílaba, sem apoio de consoante em posição de ataque, mostram-se mais favoráveis ao processo de alteamento do

126 126 que aquelas que, estando em posição medial de vocábulo, apresentam o onset silábico preenchido Grau de escolaridade Callou & Leite (1999) afirmam que o processo de alteamento manifesta-se tanto na fala de indivíduos escolarizados quanto na de não-escolarizados. Bisol (1981), igualmente, declara acreditar que a variante alteada se manifesta sem retenção entre os falantes. Se, no que diz respeito às pretônicas livres, o grau de escolaridade não exerceu influência no condicionamento do processo, observa-se que, para as pretônicas travadas por elemento consonântico nasal, os falantes de nível médio demonstram-se mais favoráveis, com 69,1% de aplicação do alteamento e probabilidade de Seguidamente encontram-se os informantes de nível fundamental, que apresentam frequência de 46,7% de aplicação do processo e probabilidade de Tabela 22: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nível Fundamental 195/418 46,7% 0.58 Nível Médio 315/456 69,1% 0.67 Nível Superior 201/507 39,6% 0.32 Input: 0.82 Significância: No Município de Nova Iguaçu, pelo menos no que diz respeito às pretônicas travadas por consoante nasal /N/, são os falantes de nível superior que pouco frequentemente (39,6%) utilizam a variante alteada, encontrando-se a probabilidade de 0.32 para aplicação do processo. Parece confirmar-se a hipótese de Dias, Cassique & Cruz (2007), segundo os quais a possibilidade de realização do processo de alteamento reduz à medida que aumenta o nível de escolaridade. Mais surpreendente do que ter o nível médio de escolaridade se demonstrado favorecedor é o fato de se ter atribuído tão ínfimo valor ao nível superior, o que parece indicar que o alteamento das pretônicas travadas por consoante nasal é objeto de estigmatização na variedade de Nova Iguaçu. Callou & Leite (1999) afirmam que o alteamento da vogal pretônica já não constitui objeto de estigmatização, mas aqui se observa que algumas das realizações que causam mais estranheza, chamando mais à atenção os ouvintes, foram registradas exatamente em falantes com menor nível de escolaridade, que também se

127 127 demonstraram suscetíveis ao processo de alteamento, embora em menor grau de atuação: v[i]ndia e dep[i]ndia, por exemplo, ambos na fala de uma mulher com nível fundamental Classe gramatical Freitas (2001: 94) acredita que certas classes de palavras, em função da presença de determinados componentes morfológicos, propiciariam ou não a aplicação da regra variável de alteamento das vogais médias pretônicas. Os resultados de Pereira (1997 apud FREITAS, 2001: 97) apontam os nomes como favorecedores do processo de alteamento, ao passo que os verbos o inibiriam. Avelheda & Batista da Silveira (2011b) atestaram, contrariamente, que os itens verbais, sobretudo os pertencentes à segunda e à terceira conjugações, são mais suscetíveis ao alteamento do que os itens nominais. Viegas (1987: 97) afirma que não parece [...] haver diferenças significativas que possam ser atribuídas à classe de palavras e não a outro grupo de fatores, visto que não houve condicionamento relevante por parte de uma ou outra classe gramatical. Tabela 23: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nome Substantivos: [i]mpreiteira, [i]nsinamento, alim[e]ntação, repres[e]ntante 286/525 54,5% 0.28 Adjetivos: [i]mprestado, [i]enterrado, dep[e]ndente, inv[e]ntado Verbo em forma finita [i]ngana, [i]ngrandece, [i]ngravidou, 217/373 58,2% 0.57 p[e]nsava, influ[e]nciou, [e]ntrou Verbo em forma infinita [i]njoar, [i]nfartar, [i]ntender, s[i]ntir, 208/483 43,1% 0.71 apr[e]ndendo, at[e]nder, inv[e]ntar Input: 0.82 Significância: Assim como se pôde observar para as pretônicas livres, que demonstraram ser o processo de alteamento mais favorecido pela forma nominal do verbo, aqui também se verifica que a forma infinita é a que mais propicia o alteamento, com 43,1% e probabilidade de 0.71 para atuação em palavras como s[i]ntir, [i]mbutido, at[i]ndido, difer[e]nciado, apr[e]nder e t[e]ntar. Seguidamente, as pretônicas travadas por nasal de verbos em forma finita, como [i]ntregava, pre[i]nchia, [e]ntrou e experim[e]ntei, também se demonstram favorecedoras, com 58,2% e probabilidade de 0.57 para aplicação do fenômeno. Nomes como

128 128 [i]ntorno, [i]mpresário, porc[e]ntagem e qu[e]ntinha, com 54,5% e peso relativo de 0.28, não favorecem a aplicação do processo. Segundo Carmo (2009), o processo de alçamento das vogais pretônicas de verbos apresenta íntima relação com a presença de vogal alta na sílaba seguinte. Da mesma forma, Viegas (1987) indica que o que parece favorecer o alteamento, nos verbos, é a presença de vogal alta no paradigma. Schwindt (2002), igualmente, afirma que há, entre as vogais das raízes dos verbos a as dos sufixos verbais, uma grande aplicação do processo de harmonização vocálica. De posse dessas considerações, procedeu-se ao cruzamento entre os resultados do grupo de fatores que controla a vogal presente em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação e os do grupo que controla a classe gramatical. Conforme apresentado na tabela abaixo, ao contrário do que foi atestado no âmbito das sílabas livres, cujo alteamento efetivamente estava relacionado à presença de vogais altas, as pretônicas travadas por consoante nasal apresentam uma distribuição mais equilibrada, ainda que os mais elevados índices de aplicação do processo se mostrem exatamente quando há uma vogal alta em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação. Tabela 24: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Formas verbais encontradas no corpus Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] 16/224 7% 12/15 80% [e, o] 69/245 28% 115/116 99% [, ] 10/10 100% [i] 54/85 64% 34/46 74% [u] 3/3 100% 11/11 100% Novamente, observa-se que a vogal alta anterior [i] (tônica: 64%; átona: 74%) e a vogal alta posterior [u] (tônica: 100%; átona: 100%) realmente facilitam a aplicação do processo em palavras como s[i]ntir, v[i]ndia, [i]ntupido e [i]nfiar, mas também se observa a aplicação do processo quando na sílaba subsequente se encontram as vogais médio-baixas (100%) de palavras como [i]ntregue e [i]mpolga, as vogais médio-altas (tônicas: 28%; átonas: 99%) de [i]nveredando, compre[e]nder, [i]ncontrar e [i]ntrou e a vogal baixa (tônica: 7%; átona: 80%) de [i]ncaixo, [i]ncarar, [e]ntrando e ori[e]ntar. Assim, corroborase a hipótese já levantada anteriormente de que as pretônicas travadas por consoante nasal não parecem estar suscetíveis a um condicionamento específico como o da vogal da sílaba subsequente, acreditando-se que a explicação para o seu alteamento esteja em seu próprio

129 129 interior, já que, como afirmam Brandão & Cruz (2005), há maior possibilidade de alteamento nos vocábulos em que a vogal apresenta nasalidade fonológica Localização morfológica da pretônica Callou et alii (1995) mostram que a presença da vogal média anterior em prefixo é fator condicionante da elevação da vogal. Avelheda & Batista da Silveira (2011b) afirmam que, como os prefixos figuram em sílaba átona permanente, que tende a ser mais frequentemente atingida pelo processo de alteamento do que a átona eventual, é de se esperar que a pretônica prefixal seja mais suscetível à atuação do processo. Por trabalharem indistintamente com as vogais pretônicas anteriores, que apresentam forte tendência ao alteamento quando em posição prefixal, e as posteriores, que costumam coibi-lo no mesmo contexto, acredita-se que não tenha sido considerada a hipótese de que pode haver dois processos diferentes a regerem o fenômeno de alteamento: um que rege a variação no âmbito das pretônicas anteriores; outro, no âmbito das posteriores. Observa-se que o alteamento das pretônicas travadas por consoante nasal /N/ apresenta caráter semicategórico quando a estrutura bifonemática compõe um prefixo adjungido ao vocábulo, com 99% e probabilidade de 0.96 para a aplicação do processo em palavras como [i]mpetecado, [i]ncarar e [i]ntocado. Contrariamente, a pretônica localizada na base lexical demonstra-se pouco favorecedora do processo, com frequência de 47,6% de aplicação e peso relativo de 0.43 para sua atuação em palavras como ent[e]ndimento, dep[i]ndia, v[e]nder e [e]ntrada. Tabela 25: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Prefixo [i]ncaixar, [i]ncenar, [i]ncaminhar 104/105 99% 0.96 Base lexical [i]ncontrar, [i]nsino, [i]ntender, 607/ ,6% 0.43 ac[e]nder, enfr[e]ntar, at[e]ndimento Input: 0.82 Significância: É importante observar, no entanto, que há uma confluência de fatores que podem estar atuando conjuntamente no condicionamento do processo. Sempre que a pretônica se localiza em prefixo, há dois outros aspectos já mencionados como favoráveis ao processo que acompanham esse caráter prefixal: a pretônica configura uma átona permanente e se localiza em contexto de princípio absoluto de vocábulo, como em [i]ntristece e [i]nvergonhar,.

130 130 Assim, não se pode determinar qual dos três fatores colabora mais fortemente para favorecer a aplicação do processo, mas pode-se dizer que haja uma concorrência colaborativa entre os mesmos, que faz com que o alteamento se processe categoricamente nesses casos. Além disso, há que se observar a afirmação de Michaëlis de Vasconcelos (1956 apud BISOL, 1981: 37), que afirma que os prefixos da língua portuguesa podem ser divididos em dois grupos: (i) o dos que mantêm o caráter da palavra de que se originaram, como entre-; e (ii) o dos que se integram totalmente no vocábulo com que combinam, como en-. Bisol (1981: 37) afirma que os vocábulos formados por prefixos que não perdem completamente o caráter da palavra originária parecem apresentar traços de composição, ao passo que os prefixos que aderem por completo à palavra e perdem sua origem constituem ambiente propício para a harmonização vocálica. Entre as palavras cujas pretônicas prefixais são atingidas pelo processo, poucas são as que apresentam em sua estrutura uma vogal alta que pudesse desencadear o processo de harmonização vocálica, de modo que o condicionamento para a aplicação do processo também não parece ser exclusivamente este. Tabela 26: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores alteadas em contexto de travamento por consoante nasal Com vogal alta em sílaba subsequente Sem vogal alta em sílaba subsequente Desenvolver, embelezar, embolsar, empenhar (7 oc.), empenho (5 oc.), empetecado, emprestado, encaixado, encaixar (3 oc.), encantado, encantador Desenvolvimento (2 oc.), encaminhado, encaminhar (2 oc.), encarar, encenar, encostando, encostar (3 (3 oc.), enfiado, enfiando, enfiar (2 oc.), engravidar oc.), enfrentar (4 oc.), engordar (3 oc.), engraçado (2 oc.), enrijecer (2 oc.), entristecer, envolvido (6 (16 oc.), engrandecer, enquadrar, enrolado (6 oc.), oc.). enrolando, enterrado (2 oc.), entocado, entornar, entorno (5 oc.), envelhecer, enveredando, envergonhado, envergonhar (3 oc.), envolvendo, envolver (5 oc.). Considerando-se que o prefixo en- diacronicamente se relaciona a uma preposição, forma dependente que geralmente é atingida por processos de variação fonético-fonológica devido ao seu nível de enfraquecimento, acredita-se que, embora o prefixo tenha deixado de ser assim considerado e tenha passado a ser parte integrante da própria palavra, se tenha mantido algum resquício de sua origem preposicional, visto que se trata de ambiente que sequer abre espaço à variação Faixa etária do informante Labov (1996) afirma que os informantes mais velhos apresentam tendência limitada aos processos de mudança, atuando de maneira mais conservadora nos fenômenos

131 131 linguísticos. Viegas (1987), em consonância com a afirmação do sociolinguista, declara que a mudança é incorporada pelos falantes mais jovens. Bisol (1981) detectou regressão do processo de alteamento, que era mais frequente entre os falantes mais velhos do dialeto gaúcho. Callou et alii (1991) atestaram que o alteamento é um pouco mais frequente nos informantes da terceira faixa etária, o que, coadunado ao fato de que os informantes do sexo masculino utilizam mais a regra, assinala, segundo as autoras, uma possível perda de produtividade. Viegas (1987), por sua vez, em estudo do dialeto mineiro de Belo Horizonte, atesta que os falantes mais jovens favorecem ligeiramente a aplicação do processo, ao passo que os adultos a inibem, o que a leva a afirmar que está diante de um indício de mudança em progresso. Tabela 27: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35) 267/480 55,6% 0.41 Faixa 2 (36 55) 195/436 44,7% 0.39 Faixa 3 (56 75) 249/465 53,5% 0.68 Input: 0.82 Significância: Os resultados percentuais apontam a primeira (55,6%) e a terceira (53,5%) faixas etárias como mais suscetíveis ao processo de alteamento, ao passo que os informantes da segunda faixa etária (44,7%) não o utilizam com tanta frequência. Quando se comparam os pesos relativos, verifica-se que há maior probabilidade de os informantes mais idosos utilizarem a variante alteada (P.R.: 0.68) do que os da primeira (P.R.: 0.41) e da segunda (P.R.: 0.39) faixas etárias. Desse modo, configura-se um fenômeno de caráter mais conservador que inovador, o que corrobora os resultados de Avelheda & Batista da Silveira (2011b), em estudo realizado com base em dados dos municípios de São Fidélis e Rio de Janeiro que atestou ser o processo de alteamento verificado com maior frequência entre os falantes mais idosos. No citado estudo comparativo, entretanto, não era observável uma diferença relevante entre a frequência de aplicação do fenômeno pelos mais jovens e pelos mais idosos, conforme se pode observar na tabela abaixo. Em Nova Iguaçu, por sua vez, observou-se um alto valor percentual tanto para os mais jovens (55,6%), quanto para os mais idosos (53,5%).

132 132 Tabela 28: Resultados obtidos para a variável faixa etária (AVELHEDA & BATISTA DA SILVEIRA, 2011b) Rio de Janeiro São Fidélis Aplicação Porcentagem Aplicação Porcentagem Faixa 1 (26 35) 47/148 32% 66/199 33% Faixa 2 (36 55) 46/154 30% 36/91 40% Faixa 3 (56 75) 29/85 34% 119/299 40% Por se localizar na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, pode-se levantar a hipótese de que os falantes de Nova Iguaçu procedam mais frequentemente à aplicação da regra variável de alteamento das médias pretônicas por uma questão de buscar aproximar-se linguisticamente da capital, o que explicaria o fato de haver maior frequência de utilização da variante alteada do que entre os falantes do Rio de Janeiro e de São Fidélis. Tais hipóteses, no entanto, só poderiam ser confirmadas se realizados alguns testes de atitude, com vistas a observar a avaliação que os falantes dos dois municípios supracitados atribuem às formas atingidas pelo processo de alteamento. No gráfico abaixo, estabelecem-se as curvas de distribuição percentual do processo entre os três municípios até o momento contemplados pelo projeto. Gráfico 6: Distribuição percentual do alteamento por faixa etária em Nova Iguaçu, São Fidélis e Rio de Janeiro Na cidade do Rio de Janeiro, conforme indica o gráfico acima, tem-se variação estável, visto que os falantes mais jovens e os mais idosos são os que apresentam os mais altos índices de aplicação da regra de alteamento das vogais médias pretônicas. Segundo

133 133 Leite, Callou & Moraes (2003: 100), trata-se de um fenômeno estável no município, sequer sendo notadas quaisquer diferenças de comportamento entre falantes do sexo masculino e falantes do sexo feminino. Em São Fidélis, por sua vez, observa-se uma leve regressão do processo, uma vez que os falantes mais jovens apresentam frequências mais baixas, com aumento de sua aplicação na segunda e na terceira faixas etárias. Em Nova Iguaçu, por sua vez, o processo apresenta-se em variação estável, visto que os falantes mais jovens e os mais idosos são os que apresentam os mais altos índices de alteamento. Verifica-se ainda que, tanto no município do Rio de Janeiro quanto no de Nova Iguaçu, há uma tendência à redução de aplicação do processo nos falantes da segunda faixa etária. Com base nos pressupostos da teoria sociolinguística, essa característica, coadunada ao fato anteriormente explicitado de que os falantes com nível médio de escolaridade são os que mais alteiam, parece indicar que, ao contrário do que afirmam Callou & Leite (1999), o alteamento apresenta certo grau de estigmatização, uma vez que os indivíduos da segunda faixa etária, assim como os detentores de nível superior de escolaridade, geralmente estão em fase de inserção no mercado de trabalho. Em São Fidélis, contrariamente, os falantes da segunda faixa etária, juntamente com os da terceira, são os que apresentam maior percentual de aplicação do processo. Avelheda & Batista da Silveira (2011b) argumentam que, sendo São Fidélis um município do interior, que geralmente se caracteriza por aspectos mais conservadores, é possível pensar na hipótese de se tratar de um fenômeno conservador e, sendo um fenômeno conservador, não mais é capaz de despertar estigma social Vogais pretônicas travadas por consoante vibrante /R/ As vogais travadas por /R/ costumam ser relegadas na maioria dos trabalhos dedicados ao estudo do processo de alteamento, porque a própria observação empírica já indica não se tratar de um ambiente natural para a sua aplicação. Neste estudo, pretendeu-se analisar estatisticamente o que a percepção já demonstrava e atestou-se que há poucas palavras com vogais médias pretônicas em sílabas travadas por /R/. Além de estarem em número muito menor no vocabulário, observou-se que não são favorecedoras do processo de alteamento. Inicialmente, coletou-se um corpus que contava com 652 dados de vogais pretônicas em contexto de travamento por /R/, sendo 25 realizados pela vogal médio-aberta, 623 pela variante médio-fechada e apenas quatro ocorrências de aplicação do processo de alteamento. Retirando-se as formas em -(z)inho, -íssimo e -mente, e as ocorrências do numeral terceiro,

134 134 categoricamente realizado pela variante média, restaram 610 dados, dentre os quais foram registradas apenas três ocorrências do processo de alteamento (0,5%) serviço (2 oc.) e servido (1 oc.). Gráfico 7: Distribuição no corpus das vogais anteriores travadas por consoante vibrante Viegas (1987), ao considerar a natureza da atonicidade das vogais pretônicas, estabeleceu três grupos: (a) o das átonas permanentes, que não derivam (de) uma tônica; (b) o das átonas casuais que apresentam alternância [e ~ ], como f[ ]bre > f[e]bril; e (c) o das átonas casuais que não apresentam essa alternância, como s[e]de > s[e]dento. Cita, ainda, que a presença de vogal alta no paradigma favorece fortemente a atuação do processo de alteamento. Schwindt & Quadros (2011), em trabalho intitulado Efeitos paradigmáticos envolvendo vogais na morfologia verbal portuguesa e apresentado no VII Congresso da Associação Brasileira de Linguística, declaram que a primeira pessoa do singular apresenta alto grau de informatividade, o que se reflete no fato de ser ela a base para a formação do presente do subjuntivo. Segundo os autores, talvez essa informação possa explicar o fato de os verbos de 3ª conjugação altearem com mais frequência, o que se deveria à existência da vogal alta em seu paradigma: sigo ~ s[i]guir, sinto ~ s[i]ntir.

135 135 De posse dessas observações, verifica-se que o processo de alteamento atinge apenas as pretônicas travadas por /R/ que apresentem um ambiente propício para a sua aplicação. Com efeito, as palavras serviço e servido, além de terem uma vogal alta em sua estrutura paradigmática, ainda contam com a alternância [e ~ i] de que falam Schwindt & Quadros (2011) para a primeira pessoa do singular: sirvo. No entanto, a forma verbal divertir, que igualmente apresenta, na primeira pessoa do singular, a alternância [e ~ i] divirto, não foi atingida pelo processo de alteamento, o que leva a pensar na existência de um condicionamento lexical que opera mais fortemente que o fonético. Tabela 29: Vocábulos do corpus pretônicas anteriores travadas por consoante vibrante Itens vocabulares com pretônicas anteriores travadas por /R/ Abertura, acertar, advertência, alergia, alergista, alternativa, alternativo, aniversário, aperfeiçoamento, aperfeiçoar, apertando, apertar, bermuda, caderneta, certeza, cerveja, cobertor, comercial, comercializar, comerciário, consertado, consertar, conservado, conversando, conversar, despertar, determinado, diversão, diversidade, diversificação, diversificado, diversificar, divertido, divertir, emergência, energia, enfermagem, enfermaria, enfermeiro, envergonhado, envergonhar, enxergando, exercendo, exercer, exercitar, exterminado, extermínio, Fernando, governador, governante, governar, herdei, hipermercado, intercâmbio, interceptando, interferir, interligado, intermédio, internação, internado, internar, internet, interpretação, inversão, inverter, maternidade, mercado, mercadoria, modernidade, observando, observar, percebo, perdão, perdendo, perder, perdoar, perfeição, perfeito, perfil, pergunta, perguntando, perguntar, permanecer, permanente, permitir, pernambucano, Pernambuco, perpétuo, perseguido, personagem, personalidade, pertencer, perturbação, perturbado, perturbar, reerguendo, sacerdócio, sertanejo, sertão, servente, serviço (público), serviço (trabalho), servido, servidor, subterfúgio, supermercado, superpoderoso, terminado, terminar, universal, universidade, universitário, Vanderlei, verdade, vergonha, vermelho. Pode-se perceber, portanto, que as vogais médias pretônicas travadas pelo rótico /R/ apresentam um condicionamento lexical muito mais atuante do que se pôde verificar nos demais contextos silábicos. Por se tratar, em sua maioria, de palavras restritas a ambientes mais formais, como enfermagem, sacerdócio, universidade, alergista, comercial, ou de nomes próprios, que, segundo Oliveira (1991), resistem à mudança, como Vanderlei e Fernando, acredita-se que haja uma barreira para sua implementação. Além disso, a produção do /R/ em Nova Iguaçu, assim como em grande parte do Estado do Rio de Janeiro, se dá em região posterior, mais especificamente, na direção do véu palatino. Assim, o alteamento não encontra ambiente fonético natural para atingir a regularidade (OLIVEIRA, 1991), uma vez que a vogal alta é a mais anterior do sistema vocálico da língua portuguesa, enquanto a vogal média realiza-se ligeiramente mais recuada.

136 Vogais pretônicas travadas por consoante sibilante /S/ Bortoni et alii (1991) afirmam que a presença de consoante fricativa em posição de coda silábica, como em v[i]stido, é fator favorecedor do processo de alteamento. Lemos (2003) também demonstra que a consoante fricativa é fator que favorece a aplicação da regra variável de alteamento, atuando tanto sobre a pretônica anterior quanto sobre a posterior. Brandão & Cruz (2005), igualmente, atestam que, quando a vogal média inicia sílaba e antecede -s em posição de coda, a norma é o alteamento. Bisol (1981), por sua vez, declara que a elevação de /e/ antes de /S/ é um fato consagrado na literatura fonológica. Callou et alii (1995) mostram que a presença de vogal pretônica anterior na sequência prefixal des- é um dos fatores condicionantes da elevação, concepção de que partilha Celia (2004). No corpus do município de Nova Iguaçu no qual se fundamenta o presente estudo, foram inicialmente coletados 1364 dados, dos quais cinco (0,4%) se realizaram pela variante médio-aberta, 13 (1%) apresentaram ditongação da vogal média, 194 (14,2%) não foram atingidos pelo processo e 1152 (84,5%) apresentaram alteamento da pretônica anterior. Assim como se procedeu no âmbito das pretônicas travadas por consoante nasal, ainda que haja indícios de que a variante ditongada [ey, ow] constitua um meio termo entre a manutenção da vogal média e a sua elevação, optou-se por eliminá-la da análise. Desse corpus foram eliminadas, ainda, as formas em -(z)inho, -íssimo e -mente, visto que as vogais médias seguidas desses elementos não são atingidas pelo processo de alteamento, operação que fez com que restassem 1328 ocorrências de média pretônica travada pela fricativa /S/, sendo 1135 (85,5%) alteadas e 193 (14,5%) com manutenção da vogal média, chegando-se ao input geral de 0.86 para aplicação do alteamento. Gráfico 8: Distribuição no corpus das vogais anteriores travadas por consoante sibilante

137 137 Um grupo de fatores, excluído devido a problemas de ortogonalidade explicitados em seção anterior, mas que é importante para a compreensão do processo de harmonização vocálica no qual se acredita pautar-se o fenômeno de alteamento, é o que controla a vogal da sílaba seguinte à pretônica travada por /S/. Na tabela que se segue, expõe-se a atuação das diferentes vogais em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação, a fim de verificar se, tal como ocorre nas pretônicas travadas por consoante nasal /N/, o mais forte condicionamento é o próprio elemento que entrava a vogal. Conforme se pode observar, a vogal da sílaba seguinte à candidata à elevação não parece exercer influência sobre o condicionamento do processo no âmbito das pretônicas travadas por consoante fricativa, visto que todas as vogais apresentam um número elevado de aplicação do processo de alteamento. Tabela 30: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] [i]stranho, [i]stação 136/197 69% 82/94 87,2% [e, o] des[i]spero, [i]xperiência 55/94 58,5% 186/227 81,9% [, ] [i]squece, [i]scola 227/228 99,6% [i] M[i]squita, qu[i]stionário 70/85 82,4% 59/76 77,6% [u] d[i]sculpa, d[i]sg[u]verno 110/ % 201/204 98,5% Ao mesmo tempo em que a vogal alta anterior [i] (tônica: 82,4%; átona: 77,6%) de vocábulos como [i]squina e a vogal alta posterior [u] (tônica: 100%; átona: 98,5%) de itens como [i]xpulso favorecem a elevação da vogal média, verifica-se que também são favorecedoras do processo a vogal médio-baixa (99,6%) de palavras como [i]spera, a vogal baixa (tônica: 69%; átona: 87,2%) de [i]spanhol e a vogal médio-alta (tônica: 58,5%; átona: 81,9%) de [i]sperança e [i]stômago. Assim, pode-se supor que, neste contexto, o mais forte condicionamento é o próprio elemento que entrava a vogal, ao qual se coaduna o fato de a maioria das pretônicas travadas por fricativa encontrarem-se (i) em início de vocábulo ou (ii) no interior do prefixo des-, ambas posições que favorecem quase categoricamente o alteamento. Feitas as necessárias considerações acerca das variáveis preteridas pelo programa e da variável excluída devido à sobreposição de fatores, inicia-se a descrição dos resultados

138 138 obtidos a partir da análise multivariacionista. Os resultados dispõem-se de acordo com a ordem em que foram selecionados pelo programa, tendo como valor de aplicação o alteamento das pretônicas Ponto de articulação da consoante precedente Bortoni et alii (1991: 83) atestam que as vogais pretônicas precedidas por pausa são mais suscetíveis à aplicação do processo de alteamento, seguidas pelas consoantes palatais. Viegas (1987) afirma que a pausa favorece o alteamento quando [e] está em sílaba travada, ao que Bisol (1981) acrescenta que o silêncio à esquerda favorece a elevação quando a vogal média pretônica está seguida por /N/ ou /S/. Callou et alii (1991: 73) verificam serem as labiais e as velares as que mais favorecem o processo de alteamento, enquanto as alveolares o coíbem. Tenani & Silveira (2008: 456) também verificam serem as labiais as que mais favorecem o processo. Bisol (1981) declara que o processo assimilatório em pauta é favorecido pelas consoantes palatais, por serem produzidas com todo o corpo da língua levantado, e pelas velares, que são articuladas com o dorso da língua elevado, mas desfavorecido pelas alveolares, cuja produção se faz com a língua em posição razoavelmente plana, e pelas labiais, em cuja articulação não está envolvido o traço de altura que desencadeia a assimilação. Tabela 31: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio [i]xpulso, [i]statal, [i]sperar, [i]studo 981/988 99,3% 0.83 Alveolar [s, z, t, d, t, d ] d[i]sgraça, d[i]sgaste, des[i]stimular, 105/146 71,9% 0.05 nord[e]stino, empr[e]stado Labial [p, b, f, v, m] v[i]stir, inv[i]stir, M[i]squita, 45/70 64,3% 0.04 b[e]steira, p[e]squisa, m[e]strado Velar [k, g, ] r[i]spirar, qu[i]stionário, r[e]speito, 4/124 3,2% qu[e]stão, r[e]sponsável Input: 0.99 Significância: Os resultados deste estudo vão ao encontro dos obtidos por Viegas (1987), que afirma que, para que a vogal pretônica, sobretudo a anterior, alce, ela deve estar precedida por pausa, em início de palavra, contexto que apresenta 99,3% de frequência de alteamento e probabilidade de 0.83 para aplicação a palavras como [i]spanhol, [i]specífico e [i]struturar. Os demais contextos, por sua vez, demonstram-se absolutamente desfavorecedores do

139 139 processo: as consoantes alveolares (71,9%) de d[i]svalorizado e des[i]struturar apresentam probabilidade de apenas 0.05 para aplicação do processo, as labiais (64,3%) de v[i]stir e M[i]squita apresentam peso relativo de 0.04, e as velares (3,2%) apresentam de probabilidade de aplicação em palavras como qu[i]stionando e r[e]speito. De fato, parece haver uma relação intrínseca entre o alteamento das pretônicas seguidas de elemento consonântico em posição de coda silábica e o início de palavra, visto que, quando mais próximo da margem esquerda do vocábulo preferencialmente, sem consoante em posição de ataque, maior a probabilidade de a vogal sofrer o processo Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Segundo Bisol (1981), vogais que são originariamente átonas e preservam esse caráter quando submetidas a processos de derivação estão mais sujeitas a alterações do que aquelas que adquirem a tonicidade por deslocamento de acento, que tendem a se preservar. Para a autora, por ser o alteamento um processo de enfraquecimento, as átonas derivadas de vogais acentuadas tendem a reter a aplicação da regra, ao passo que a átona permanente oferece o contexto ideal. Bortoni et alii (1991) afirmam que as átonas que não estão associadas a tônicas em palavras cognatas são mais suscetíveis ao processo. Tenani & Silveira (2008) observam que a atonicidade permanente é condição ideal para a elevação vocálica. Também Viegas (1987), assim como Avelheda & Batista da Silveira (2011b), atesta que, se o alteamento é um processo de enfraquecimento que faz passar [e] a [i] e [o] a [u], é de se esperar que as átonas permanentes sejam mais sensíveis ao fenômeno, visto que as átonas eventuais guardam resquícios das formas de origem. Tabela 32: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pretônica eventual v[i]stir, inv[i]stir, pr[i]stando, mol[e]stando, 8/45 17,8% 0.02 pr[e]stação, prot[e]stante Pretônica permanente [i]spetacular, d[i]slocar, [i]squina, r[e]sponder, 1127/ ,8% 0.53 r[e]sfriado, p[e]scoço, in[e]xplicável Input: 0.99 Significância: Apesar de os valores absolutos e os percentuais demonstrarem que o processo é mais recorrente entre as pretônicas permanentes, com 87,8% de aplicação do processo em palavras como d[i]scarregar, d[i]slocamento e [i]scopeta, o peso relativo (P.R.: 0.53), que indica a

140 140 probabilidade de aplicação da regra variável, apresenta comportamento neutro, ainda que tendendo a favorecer o processo de alteamento. Esses resultados aproximam-se aos de Viegas (1987), em cuja pesquisa as átonas permanentes obtiveram um efeito neutro, tendendo a favorecedor. As pretônicas eventuais, por sua vez, apresentam pouquíssimos casos de alteamento, com 17,8% de frequência de aplicação do processo, e probabilidade de 0.02 de sua atuação em palavras como v[i]stido, v[i]stia, b[e]steira e flor[e]stal Classe gramatical Freitas (2001: 94) acredita que há classes de palavras que, por apresentarem componentes morfológicos específicos, podem favorecer ou desfavorecer a aplicação da regra variável de alteamento das vogais pretônicas. Schwindt (2002) declara que parece haver elevado nível de aplicação do processo de harmonização entre as vogais dos verbos e as dos sufixos verbais, o que não ocorre, entretanto, entre as vogais pretônicas dos nomes e as dos sufixos nominais. Pereira (1997 apud FREITAS, 2001: 97), por sua vez, aponta os nomes como favorecedores do processo e os verbos como desfavorecedores. Mateus (2003) afirma que a vogal acentuada dos verbos é alta, na primeira pessoa do singular, quando a vogal temática do mesmo é a vogal alta anterior [i]. Tabela 33: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nome Substantivos: [i]scuridão,[i]stabilidade, r[e]staurante, inv[e]stigação 629/785 80,1% 0.27 Adjetivos: [i]special, d[i]sprezível, empr[e]stado, in[e]xplicável Verbo em forma finita [i]xtrapola, [i]stabaquei, d[i]smaiei, 295/310 95,2% 0.82 r[e]speitavam, pr[e]stava, corr[e]sponde Verbo em forma infinita [i]sforçando, d[i]scartar, d[i]scontrair, 211/233 90,6% 0.77 r[e]sponder, pr[e]stando, r[e]speitando Input: 0.99 Significância: Como se pode observar, os verbos, seja em forma finita (95,2%), seja em forma nominal (90,6%), demonstraram-se altamente favorecedores do processo de alteamento, com, respectivamente, 0.83 e 0.77 de probabilidade de atuação em palavras como d[i]scobri, [i]scolhi, d[i]sconsiderar, [i]scoltado e [i]scavar. Assim como realizado em todos os demais contextos, procede-se aqui ao cruzamento entre os resultados do grupo de fatores que controla

141 141 a vogal presente em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação e os do grupo que controla a classe gramatical. Tabela 34: Cruzamento Natureza da vogal da sílaba seguinte vs. Formas verbais encontradas no corpus Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] 58/68 85% 37/37 100% [e, o] 30/39 77% 116/128 91% [, ] 42/42 100% [i] 11/13 85% 33/36 92% [u] 30/30 100% 149/150 99% Os resultados relativos às pretônicas travadas por consoante fricativa vão de encontro aos obtidos no âmbito das sílabas livres, cujo alteamento estava efetivamente relacionado à presença de vogais altas, e ao encontro das pretônicas travadas por consoante nasal, cujo alteamento não se mostrou sujeito ao condicionamento das vogais da sílaba subsequente à da pretônica-alvo do processo. Dessa forma, parece que o alteamento das pretônicas de palavras como [i]sconder, [i]scolhido e d[i]sgastando, travadas por consoante fricativa, assim como o das travadas por nasal, em palavras como [i]ntregar, des[i]ncadeou e [i]ncher, não está relacionado ao processo de harmonização vocálica. Entre as pretônicas ora consideradas, observa-se que, se a vogal alta anterior [i] (tônica: 85%; átona: 92%) e a vogal alta posterior [u] (tônica: 100%; átona: 99%), em palavras como [i]stive, [i]scr[i]vi, [i]scuta e [i]sburacado, facilitam o processo de alteamento, a vogal médio-baixa (100%), as vogais médio-altas (tônicas: 77%; átonas: 91%) e a vogal baixa (tônica: 85%; átona: 100%) também não se apresentam como inibidoras do processo, tal como se observa nas palavras [i]screve, d[i]sloca, d[i]sfeito, d[i]sconto, [i]screver, d[i]sconsiderar, [i]scapa e [i]spalhar. O que parece reger esses dois contextos, portanto, é o próprio elemento localizado em coda silábica e o fato de a maioria ocorrer em contexto de início absoluto de vocábulo Localização morfológica da pretônica Callou et alii (1995) mostram que a presença da vogal média no prefixo des- é um dos fatores mais fortemente condicionadores da aplicação do processo de alteamento. Bortoni et alii (1991) afirmam que a regra de elevação é muito produtiva nas palavras iniciadas pela sequência des-, que geralmente atua como um morfema. Viegas (1987) afirma ter encontrado, dentre os seus dados, grande número de palavras com prefixo des- alçadas.

142 142 Bisol (1981), Tenani & Silveira (2008) e Celia (2004), sabendo das especificidades das pretônicas em posição de prefixo, optaram por excluí-las de suas análises, argumentando que há elevação categórica dessa vogal, como em d[i]scontraído, d[i]sgraça e d[i]spreocupado. Como se pode observar, as vogais médias localizadas em prefixo são mais frequentemente alteadas (93,9%) do que as que se encontram na base lexical do vocábulo (84,8%). Em palavras como d[i]srespeito, d[i]svantagem e d[i]sgoverno, há probabilidade de 0.95 de aplicação do processo, ao passo que, em palavras como d[i]strói, [i]scândalo e [i]scolher, a probabilidade de aplicação do processo é de 0.45, peso relativo que atribui um comportamento neutro para as pretônicas localizadas em base lexical. Tabela 35: Resultados obtidos para a variável localização morfológica da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Prefixo d[i]sgaste, d[i]scaso, [i]sforçar, 92/98 93,9% 0.95 [e]x-secretário Base lexical [i]studar, [i]scola, [i]xplicar, 1043/ ,8% 0.45 fr[e]scurada, p[e]scoço Input: 0.99 Significância: Observe-se que, apesar de haver maior recorrência de pretônicas anteriores no interior da base lexical, atesta-se que, quando se encontra em prefixo, o resultado é o alteamento semicategórico, ao passo que, quando se encontra na base, há variação entre o alteamento e a manutenção da vogal média. Aqui, como entre as pretônicas travadas por nasal, é importante observar que parece haver uma concorrência de fatores que podem estar atuando conjuntamente no favorecimento da aplicação do processo. Isso porque, sempre que a pretônica se localiza em prefixo, outros aspectos estão envolvidos: a pretônica prefixal sempre configura uma átona permanente, como em d[i]sgrudar e d[i]sfeito, e geralmente compõe o prefixo des-, já apontado por Callou et alii (1995) como um dos fatores condicionantes da elevação. Assim, não se pode determinar qual dos três fatores colabora mais fortemente para favorecer a aplicação do processo, mas pode-se dizer que haja uma concorrência colaborativa entre os mesmos, que faz com que o alteamento se processe categoricamente nesses casos Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Tenani & Silveira (2008) afirmam que o ambiente mais favorável à regra é a adjacência da vogal alta tônica à pretônica, ou seja, a contiguidade entre a vogal candidata à

143 143 elevação e a vogal alta que desencadeará o processo de harmonização vocálica. Bortoni et alii (1991: 83) atestam que as vogais altas, orais ou nasais, são as que mais favorecem o alteamento. Dias, Cassique & Cruz (2007) afirmam que as vogais altas imediatas são as que mais favorecem a elevação da vogal pretônica, e que o que menos a favorece é a presença de vogais não-altas em sílaba contígua à da vogal-alvo e a de vogais altas não-imediatas. Assim também Bisol (1981), que declara que a tônica alta não imediata, ao lado da tônica não alta, figura como elemento que tende a preservar a vogal média. Battisti (1993) mostra que a vogal alta na sílaba seguinte, mesmo não sendo tônica, favorece o alçamento da pretônica em sílaba inicial, ao passo que Lemle (1974) acredita ser condição necessária para o alteamento a presença de vogal alta tônica. Tabela 36: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Vogal Distância da vogal alvo do processo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Distância 1 Contígua M[i]squita, [i]spírita, [i]studo, 183/198 92,4% 0.83 Tônica nord[e]stino, inv[e]stir Distância 2 Intervalo de 1 sílaba [i]xtermínio, d[i]sprezível, [i]statística, s[e]smaria, t[e]stemunho 21/24 87,5% 0.15 Distância 1 Contígua [i]xplicar, [i]sc[u]rregar, [i]studar, 258/277 93,1% 0.35 inv[e]stigação, in[e]xplicável Distância 2 Intervalo de 1 sílaba Átona [i]stagiar, [i]stadual, d[i]sconsiderar, 39/42 92,9% 0.17 in[e]xperiência Distância 3 intervalo de 2 sílabas [i]scolaridade, d[i]svalorizado, [i]spetacular, d[i]sprotegido, 8/27 29,6% 0.23 r[e]sponsabilidade Input: 0.99 Significância: Os resultados aqui obtidos indicam que a conjugação dos fatores contiguidade e tonicidade configuram o ambiente mais favorável para o processo de alteamento, com frequência de 92,4% e probabilidade de 0.83 de aplicação em palavras como [i]stímulo, [i]spírita, [i]studo e [i]scuro. Conforme se pôde observar, mesmo a contiguidade com outra vogal pretônica alta não é suficiente para desencadear o processo de alteamento, contexto que apresenta frequência de 93,1%, mas probabilidade de 0.35 de aplicação em vocábulos como d[i]sviado, [i]scritório, [i]scultor e d[i]snutrido. Tenani & Silveira (2008: ), observando que há itens que, mesmo com uma vogal alta em sílaba contígua, não sofrem alteamento, como é o caso de vestibular, afirmam que, da mesma forma que a tonicidade sozinha não determina a aplicação da regra de

144 144 harmonização [...], a contiguidade, por si só, também não é determinante. Assim, a existência de intervalo de uma sílaba entre a vogal-alvo e a vogal alta tônica já desfavorece o fenômeno, apresentando frequência de 87,5% e 0.15 de probabilidade de aplicação em palavras como [i]scondido, [i]specífico e [i]xpressivo. Quando o intervalo de uma sílaba (92,9%) ou de duas sílabas (29,6%) se dá entre a vogal-alvo e outra pretônica alta existente na palavra, como em [i]specialidade, [i]xposição e [i]spetacular, a probabilidade é, respectivamente, de 0.17 e 0.23 de aplicação do processo, mostrando que é necessária a conjugação dos fatores contiguidade e tonicidade para que o alteamento se concretize. Observando-se comparativamente os valores percentuais e os pesos relativos, verificase que mesmo as palavras que apresentam intervalo de até duas sílabas para uma vogal alta, não necessariamente tônica, foram atingidas pelo processo, ainda que os valores probabilísticos não indiquem essas ocorrências, como é o caso de [i]xtermínio, [i]stagiar e [i]spetacular. Apurando-se as rodadas, observa-se que, no primeiro nível da análise multivariada, o processo de alteamento apenas não foi favorecido pelo intervalo de duas sílabas entre a pretônica candidata à elevação e a vogal alta átona, como r[e]sponsabilidade e [i]scolaridade. Os restantes fatores, mesmo com intervalo de uma sílaba, mesmo que a vogal alta não fosse tônica, mostraram-se relativamente favorecedores do processo, com os seguintes pesos relativos: (i) vogal alta tônica contiguidade: 0.53, distância de uma sílaba 0.39; (ii) vogal alta pretônica contiguidade 0.56, distância de uma sílaba 0.54, distância de duas sílabas Quando se passa para o segundo nível de análise, em que o grupo é rodado com o que controla o contexto consonantal que precede a pretônica travada por fricativa /S/, os pesos relativos imediatamente passam a desfavorecedores, restando favorável apenas a contiguidade com uma vogal alta tônica. Com base nos números que o cruzamento desses dois grupos oferece, percebe-se um comportamento bastante interessante: A contiguidade com a vogal tônica favorece o alteamento independentemente do elemento consonântico que antecede a pretônica travada por consoante fricativa /S/, sendo atuante o processo entre as alveolares (62%) de palavras como d[i]sligo e d[i]sviou, e entre as labiais (81%), como em v[i]stia e M[i]squita. Contrariamente, nos dados de descontinuidade entre a pretônica candidata à elevação e a vogal alta subsequente, apenas as vogais que se encontram em contexto fonético natural é que se submetem ao processo de alteamento a saber, as pretônicas travadas por fricativa /S/ em posição de princípio absoluto de palavra, desprovidas de uma consoante em posição de ataque silábico, como [i]squecer e [i]stagnado, e as precedidas por consoante

145 145 alveolar, sobretudo /d/, que favorece o alteamento na sequência des-, como em d[i]svalorizar e d[i]smontado. Tabela 37: Cruzamento Ponto de articulação da consoante precedente vs. Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Distância da vogal alvo do Consoante Consoante Consoante Vogal Ataque vazio processo alveolar labial velar Distância 1 Contígua 136/136 8/13 39/48 0/1 [i]spírita, d[i]sculpa, M[i]squita 100% 62% 81% Tônica Distância 2 Intervalo de 1 sílaba 19/19 2/5 [i]xtermínio, d[i]sprezível 100% 40% Distância 1 Contígua 226/228 29/36 3/10 0/3 [i]sc[u]rregar, d[i]struíram, 99% 81% 30% Distância 2 Intervalo de 1 sílaba 37/38 1/2 Átona 0/1 [i]xperiência, d[i]sconsidera, 97% 50% Distância 3 intervalo de 2 sílabas 5/5 3/3 0/19 [i]scolaridade, d[i]svalorizar 100% 100% Acredita-se, portanto, que os elevados índices percentuais se devam ao fato de haver uma grande quantidade de dados em que a pretônica figura em sílaba desprovida de apoio silábico, ambiente fonético natural para a aplicação do alteamento que, portanto, prescinde da presença de vogal alta em sílaba contígua. Por outro lado, a atribuição do condicionamento favorável à contiguidade com uma vogal alta tônica se deve ao fato de que este contexto favorece o alteamento mesmo quando um segmento consonântico precede a vogal candidata à elevação Faixa etária do informante Silveira & Tenani (2007) afirmam que a faixa etária do informante é um fator relevante para determinar a preservação ou a mudança de determinado fenômeno linguístico. Callou et alii (1991) demonstraram que o alteamento é mais frequente entre os informantes da terceira faixa etária, o que, coadunado ao fato de que os informantes do sexo masculino utilizam mais a regra, assinala, segundo as autoras, uma possível perda de produtividade. Viegas (1987), por sua vez, em estudo do dialeto mineiro de Belo Horizonte, atesta que os falantes mais jovens favorecem ligeiramente a aplicação do processo, ao passo que os adultos a inibem, o que a leva a afirmar que está diante de um indício de mudança em progresso. Neste estudo, observa-se, igualmente, que os falantes mais idosos, com frequência de 86,1% e probabilidade de 0.68 de aplicação do alteamento, são mais suscetíveis ao processo do que os falantes mais jovens, que apresentam 84,7% e 0.40 de probabilidade, e do que os

146 146 falantes da segunda faixa etária, com 85,7% e probabilidade de 0.43 de aplicação do fenômeno. Tabela 38: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35) 409/483 84,7% 0.40 Faixa 2 (36 55) 379/442 85,7% 0.43 Faixa 3 (56 75) 347/503 86,1% 0.68 Input: 0.99 Significância: Assim como se atestou no que diz respeito às pretônicas livres e às travadas por consoante nasal /N/, em cujas análises o presente grupo também foi selecionado, o processo de alteamento parece apresentar tendência à regressão da regra, já que apresenta maior probabilidade de aplicação entre os falantes mais velhos, que participam em pequeno grau nas mudanças que têm lugar a seu redor. Gráfico 9: Distribuiçao percentual do alteamento por faixa etária do informante Conforme o gráfico acima permite observar, apesar de haver um leve aumento nos valores percentuais de acordo com o avanço das faixas etárias, o processo de alteamento das pretônicas travadas por consoante fricativa /S/ encontra-se bastante difundido entre os diversos informantes, de modo que parece configurar, na verdade, uma variação que não é determinada pela idade. Observando as curvas de distribuição percentual, verifica-se que, ao contrário do que se atestou para as pretônicas travadas por consoante nasal /N/, os falantes da segunda e os da terceira faixas etárias são os que apresentam as mais altas frequências de alteamento, do que

147 147 se pode depreender que, quando atinge as pretônicas travadas por consoante fricativa, se trata de um fenômeno efetivamente conservador e, como tal, não mais é capaz de despertar estigma social. Por isso, os indivíduos da segunda faixa etária, geralmente em fase de inserção no mercado de trabalho, não desfavorecem a sua aplicação Conclusões parciais No corpus de Nova Iguaçu investigado, o processo de alteamento das médias pretônicas apresentou um baixo valor percentual no âmbito da série anterior. De 9063 contextos de pretônica [e] analisados, apenas 2598 (28,7%) apresentaram alteamento, número que ficou distintamente distribuído entre os variados contextos considerados nesta pesquisa, atingindo o input geral de 0.29 de aplicação do processo. No gráfico abaixo, observe-se o comportamento de cada estrutura silábica na atuação do processo: Gráfico 10: Distribuição no corpus das pretônicas anteriores Essa distribuição permite que se estabeleça um continuum de alteamento, com base nos valores de input da regra oferecidos pelo programa Goldvarb X, que constituem o nível geral de uso de determinada variante dentre as estabelecidas no caso deste estudo, o input irá determinar o nível geral de uso da variante alteada.

148 148 Figura 2: Continuum de alteamento das vogais médias pretônicas anteriores Conforme se pode observar, as sílabas livres são as que menos favorecem a aplicação do processo de alteamento, com input de 0.15, enquanto as travadas por consoante fricativa /S/ são as que mais favorecem, com input de Em nível intermediário se encontram as vogais em hiato, que apresentam input de 0.35, e as vogais travadas por consoante nasal /N/, com input de Cada um desses contextos silábicos comportou-se de maneira distinta no condicionamento da aplicação do processo, apresentando diferentes fatores favorecedores. No geral, no entanto, as variáveis selecionadas são basicamente as mesmas para todos os contextos. A fim de verificar com maior cautela quais as variáveis selecionadas para cada contexto silábico, assim como de observar quais seriam selecionadas no caso de se fazer uma rodada única, com todos os tipos de sílaba misturados, expõe-se abaixo uma tabela resumptiva, que explicita, de modo a permitir melhor visualização, as variáveis indicadas como relevantes para a atuação do processo de alteamento:

149 149 Tabela 39: Resumo dos contextos favorecedores do alteamento de pretônicas anteriores Todos os contextos Input = 0.36 Significância = Estrutura silábica: Travamento por /S/ (0.96) > Hiato (0.89) > Travamento por /N/ (0.80) Distância: Contiguidade com vogal alta tônica (0.80) Ponto de Articulação Consoante precedente: Ataque vazio (0.76) > Palatal (0.69) Localização morfológica: Prefixo (0.93) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.62) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Velar (0.75) > Palatal (0.59) > Pós-alveolar (0.56) > Labial (0.55) Classe gramatical: Forma nominal do verbo (0.61) > Verbo (0.59) Faixa etária: 3ª Faixa 56 ~ 75 anos (0.58) Grau de Escolaridade: Ensino Médio (0.53) > Ensino Fundamental (0.51) Sílabas livres Distância: Contiguidade com vogal alta tônica (0.75) Localização morfológica: Prefixo (0.97) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Velar (0.72) > Palatal (0.66) Ponto de Articulação Consoante precedente: Labial (0.63) Faixa etária: 3ª Faixa 56 ~ 75 anos (0.57) Classe gramatical: Forma nominal do verbo (0.58) > Verbo (0.55) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.52) Hiato Ponto de Articulação Consoante precedente: Labial (0.81) > Alveolar (0.73) Vogal da sílaba seguinte: Média átona (0.76) > Média tônica (0.58) Travadas por /N/ Input = 0.25 Significância = Input = 0.31 Significância = Input = 0.82 Significância = Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.91) Ponto de Articulação Consoante precedente: Ataque vazio (0.79) Distância: Contiguidade com vogal alta tônica (0.86) > Intervalo de uma sílaba para vogal alta tônica (0.66) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Labial (0.95) Grau de Escolaridade: Ensino Médio (0.67) > Ensino Fundamental (0.58) Classe gramatical: Forma nominal do verbo (0.71) > Verbo (0.57) Localização morfológica: Prefixo (0.96) Faixa etária: 3ª Faixa 56 ~ 75 anos (0.68) Travadas por /S/ Ponto de Articulação Consoante precedente: Ataque vazio (0.83) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.53) Classe gramatical: Verbo (0.82) > Forma nominal do verbo (0.77) Localização morfológica: Prefixo (0.95) Distância: Contiguidade com vogal tônica (0.83) Faixa etária: 3ª Faixa 56 ~ 75 anos (0.68) Input = 0.99 Significância = Conforme se pode verificar na tabela, não há muita diferença entre as variáveis selecionadas para cada uma das estruturas silábicas, de modo que as variáveis linguísticas consideradas relevantes para as sílabas livres, por exemplo, também o são para as travadas por

150 150 /N/ e as travadas por /S/. O único contexto que apresenta um comportamento peculiar é o de vogal pretônica em posição de hiato, em cuja análise, inclusive, se acrescenta a variável que controla a vogal presente na sílaba seguinte, desconsiderada nas demais. Neste ambiente, apenas a vogal da sílaba seguinte e o ponto de articulação da consoante precedente são consideradas favorecedoras. Observe-se que, ainda que o condicionamento lexical esteja atuando no controle da aplicação do processo de alteamento, o condicionamento fonético é mais forte no âmbito das pretônicas anteriores, que parecem submeter-se mais fortemente à presença de uma vogal alta em sílaba subsequente. Assim, tal como o afirma Viegas (1987), o alçamento de [e] ocorre frequentemente quando este está seguido de vogal alta, ao passo que, para a vogal posterior, tal condição não é tão significativa. No entanto, esse condicionamento se demonstra atuante principalmente no âmbito das pretônicas livres, sendo imprescindível que a vogal alta seja tônica e esteja localizada em sílaba contígua à da vogal candidata à elevação. Para as vogais em contexto de hiato, por sua vez, verifica-se que a harmonização vocálica não atua, parecendo mesmo ocorrer o processo inverso, de dissimilação, de modo que a presença de uma vogal alta inibe a ocorrência do fenômeno de alteamento. Entre elas, embora a assimilação dos traços consonantais pareça ser relevante para a aplicação do alçamento, parece ser o próprio contexto de encontro entre duas vogais o maior condicionador, já que a estrutura fonotática da língua portuguesa não prevê esse tipo de continuidade. Entre vogais travadas por consoante nasal e as travadas por consoante fricativa, percebe-se que é igualmente a redução vocálica que exerce maior influência sobre o controle do processo de alteamento, visto que as vogais travadas por /N/ e por /S/ alteiam ainda que haja vogal baixa ou qualquer uma das vogais médias em sílaba subsequente. Como há uma consoante em posição de travamento silábico, observa-se que a que ocupa a posição de ataque da sílaba seguinte parece não influenciar o processo de alteamento, sendo os elementos /S/ e /N/ os maiores condicionadores de sua aplicação, uma vez que é consensual que as vogais às quais sucedem são mais suscetíveis ao alteamento do que as que não possuem travamento silábico. No que diz respeito ao contexto precedente, verifica-se que é especificamente a ausência de consoante em posição de ataque que mais possibilita a atuação do processo, mostrando-se um ambiente fonético natural para a aplicação do processo. Por último, é importante observar que o alteamento das pretônicas anteriores é, sobretudo, um processo de caráter linguístico, visto que as variáveis sociais não são isoladamente determinantes de sua ocorrência.

151 Pretônicas posteriores Sílabas livres Viegas (1987) atesta que o alçamento das pretônicas posteriores é favorecido pela sílaba canônica, ou seja, composta apenas por uma consoante em posição de ataque e pela vogal em posição nuclear. Declara, ainda, que a vogal /o/, para ser passível de alteamento, deve estar precedida por consoante, pelo que propõe que a aplicação do fenômeno no âmbito das vogais posteriores seja regulada pelo processo de redução vocálica. Na presente pesquisa, o corpus relacionado às pretônicas posteriores em contexto de ausência de travamento silábico compõe-se, inicialmente, de um total de 4671 dados, sendo 60 realizados pela variante médio-aberta, 3877 realizados pela variante médio-fechada e 734 atingidos pelo processo de alteamento. Desse montante, no entanto, devem-se eliminar alguns dados que apresentaram comportamento categórico: trata-se de conjunções, numerais e pronomes, classes nas quais se verificou que o alteamento se processa sempre em alguns itens comigo e contigo, mas nunca se aplica a outros porém, conosco, você, noventa. Além desses dados, foram excluídas também as formas em -(z)inho, -íssimo e -mente, visto que as vogais médias seguidas desses elementos não são atingidas pelo processo de alteamento. Realizadas essas mudanças, obteve-se um corpus com 3214 ocorrências de pretônicas posteriores passiveis de elevação, das quais 30 (0,9%) realizaram-se pela variante médioaberta [ ], 2523 (78,5%) não foram atingidas pelo processo e 661 (20,6%) apresentaram alteamento, atingindo 0.21 de uso da variante alteada. Gráfico 11: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores em contexto de sílaba livre

152 152 A partir dos valores absolutos e percentuais obtidos, o que primeiro se pode observar é que a ausência de travamento silábico, ao contrário do que afirmara Viegas (1987: 95), parece não favorecer a aplicação do processo de alteamento. Assim como entre as anteriores, esses resultados apontam para a hipótese defendida por Hooper (1976 apud VIEGAS, 1987: 59) de que, devido à relação entre alçamento e enfraquecimento, o processo seria mais frequente no meio da sílaba do que no início, que é a posição forte. Assim, as vogais pretônicas de sílabas fechadas, travadas por elemento consonântico, seriam mais propensas ao alteamento do que as de sílabas livres, visto que estas constituem o último elemento da sílaba. Antes de passar à exposição dos fatores selecionados como favorecedores do processo de alteamento, é conveniente ressaltar que as variáveis excluídas pelo programa, por não terem apresentado relevância no condicionamento, foram gênero do informante e localização morfológica da pretônica. No que diz respeito ao gênero do informante, já Bisol (1981), Bortoni et alii (1991) e Yacovenco (1993) haviam afirmado não se tratar de uma variável que trouxesse resultados relevantes à diferença de manifestação do processo. É consensual na literatura sociolinguística que os homens, por desfrutarem de maior mobilidade social e de maior prestígio na comunidade de fala, tendem a liderar a propagação de fenômenos inovadores, ao passo que as mulheres, por estarem em constante situação de autoafirmação, tendem a ser mais conservadoras. Verificando-se os resultados deste estudo, observa-se que a diferença de aplicação da regra entre homens e mulheres não é, de fato, muito significativa. Quanto à localização morfológica da pretônica, acredita-se que a pretônica prefixal, sobre a qual não recai o acento primário, é mais suscetível ao alteamento do que as pretônicas localizadas na base do vocábulo. Segundo Vasconcelos (1956 apud BISOL, 1981: 37), os prefixos da língua portuguesa dividem-se entre aqueles que mantêm o caráter da palavra de que se originaram, como entre- e contra-, e aqueles que se integram totalmente no vocábulo com que combinam, como en-, des-, re-, con- e por-. Assim, quando o prefixo adere por completo à palavra a que se adjunge ou quando se perde a sua origem, a harmonização passa a atuar, porque o prefixo deixa de ser assim interpretado e passa a ser parte integrante da própria palavra. É o que ocorre com o prefixo da palavra comer, por exemplo, que perdeu a origem prefixal por que se caracterizava, de modo que não mais se interpretam tais palavras como formadas por prefixação e o alteamento passa a atuar. No entanto, poucos foram os dados de pretônicas prefixais, de modo que não é possível afirmar sobre o real favorecimento das vogais posteriores em posição de prefixo. Por fim, uma consideração que se faz importante diz respeito ao tipo de vogal presente na sílaba seguinte à da candidata à elevação, ainda que o grupo não tenha sido considerado na

153 153 análise multivariada pela questão de falta de ortogonalidade já explicitada. Como o grupo que controla a distância existente entre as vogais altas e a pretônica alvo não dava conta das vogais médias e baixas, acredita-se convir maior detalhamento a respeito da atuação destas no controle do processo. Assim sendo, segue-se, abaixo, uma tabela que, com vistas exclusivamente à ilustração, não apresentará valor probabilístico para a análise aqui empreendida, uma vez que o grupo fora excluído, mas não se pode ignorar a informação referente ao comportamento das vogais médias e baixa no controle do processo de alteamento. Conforme a tabela permite que se observe, o alteamento da vogal pretônica posterior é favorecido, sobretudo, pela presença de vogal alta anterior tônica (64,9%) em sílaba subsequente à da candidata à elevação, como em c[u]mida, m[u]chila e c[u]zinha. Já a mesma vogal anterior, quando átona (13%), como em m[o]vimento, n[o]ticiário e [o]brigado, não se demonstra tão significativamente atuante sobre o processo. Da mesma forma, a presença da vogal alta homorgânica [u] (tônica: 2,9%; átona: 7,8%), ao contrário do que muitas pesquisas costumam afirmar (BISOL, 1981; VIEGAS, 1987), não se demonstra favorecedora do processo de alteamento em palavras como c[u]munhão, c[o]rrupto, d[o]cumento e p[o]pulação. Tabela 40: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] s[u]taque, alm[u]xarifado 50/647 7,7% 1/104 1% [e, o] c[u]nheço, c[u]meçar 72/547 13,2% 119/578 20,6% [, ] m[u]leque, desc[u]berto 70/331 21,1% [i] p[u]lítico, n[u]ticia 288/444 64,9% 49/376 13% [u] pr[u]curo, c[u]tuvelo 2/70 2,9% 9/116 7,8% Se a alta homorgânica não oferece contexto favorável ao alteamento, as vogais médiobaixas (21,1%), as médio-altas (tônicas: 13,2%; átonas: 20,6%) e a vogal baixa (tônica: 7,7%; átona: 1%) se demonstram ainda menos favorecedoras da aplicação do processo em palavras como c[u]meça, d[o]méstica, c[u]t[u]velo, compr[o]meter, c[o]moção, c[u]loquial, c[o]roa, s[u]taque, pr[o]var e c[o]l[o]cação. Feitos os comentários necessários acerca das variáveis preteridas pelo programa e da variável excluída devido à sobreposição de fatores, inicia-se a descrição dos resultados obtidos a partir da análise multivariacionista, tendo como valor de aplicação a atuação da

154 154 regra variável de alteamento das pretônicas e dispondo-os de acordo com a ordem em que foram selecionados pelo programa Ponto de articulação da consoante precedente Viegas (1987) afirma que, para que seja atingida pelo processo de alteamento, a pretônica posterior deve estar precedida por consoante. Para Bisol (1981) é natural que consoantes caracterizadas por uma articulação alta venham a funcionar como elementos condicionadores do referido processo. Abaurre-Gnerre (1981) afirma que o processo de alteamento não se encontra circunscrito apenas a uma relação entre vogais. Bisol (1981: 93) afirma que, por serem as vogais altas produzidas pelo levantamento do corpo da língua, seja em direção ao palato mole [u] seja em direção ao palato duro [i], é possível presumir que as consoantes velares, produzidas com o dorso da língua levantado, e as consoantes palatais, emitidas com todo o corpo da língua levantado, venham a favorecer o processo. Lemos (2003) aponta como favorecedora a presença de consoante labial em posição antecedente. Silveira & Tenani (2007), por sua vez, apontam a consoante velar como favorável à aplicação do processo. Tabela 41: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Ataque vazio [u]cupação, [u]ficial 2/335 0,6% 0.03 [o]pções, [o]ficina, [o]portunidade, h[o]rrível Alveolar [s, z, t, d, t, d ] s[u]taque, d[u]mingo, apr[u]veitar, n[u]tícias 108/ ,1% 0.32 t[o]mar, in[o]cente, pr[o]fessor, col[o]rido Pós-alveolar [, ] ch[u]ver, J[u]sé 6/89 6,7% 0.78 ch[o]rar, j[o]gado, apaix[o]nado, ch[o]colate Velar [k, g] c[u]meçar, c[u]nhecer, c[u]mer, c[u]zinha 303/868 34,9% 0.78 c[o]légio, c[o]brar, R[o]drigues, c[o]xia Labial [p, b, f, v, m] p[u]licial, p[u]lítico, p[u]ssível, b[u]nito, 242/800 30,2% 0.74 m[o]rrer, alv[o]roço, p[o]pulista, b[o]tar Input: 0.21 Significância: Com efeito, os dados coletados nesta pesquisa indicam que as consoantes produzidas com a elevação do corpo da língua são mais favorecedoras do processo de alteamento, o que se deve ao fato de possuírem pontos de semelhança com a vogal assimiladora: as velares, que apresentam frequência de 34,9% e 0.78 de aplicação do processo em palavras como c[u]chilo,

155 155 c[u]bertor e rec[u]rrer, e as pós-alveolares, que apresentam frequência de 6,7% e 0.78 de probabilidade de atuação do alteamento em palavras como ch[u]ver e J[u]sé. Também as labiais, cuja ação positiva, para Bisol (1981: 95), se deve ao fato de estarem aparentadas com a vogal /o/ pelo traço de labialidade, se demonstram favorecedoras, com frequência de 30,2% e 0.74 de probabilidade de alçamento das vogais de palavras como b[u]neca, b[u]nito, imp[u]ssível, m[u]queca e p[u]ssibilidade Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Bisol (1981) afirma que a vogal a desencadear o processo de harmonização vocálica é a alta da sílaba imediatamente seguinte, sendo a contiguidade condição obrigatória para que se realize o processo. Segundo a autora, a vogal alta, mesmo quando em posição pretônica, é fator que favorece a aplicação da regra que eleva as médias /e, o/, enquanto a não alta figura como elemento que tende a preservá-las (p. 61). Tabela 42: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Vogal Distância da vogal alvo do processo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Distância 1 Contígua p[u]lítica, d[u]mingo, b[u]nito 288/516 55,8% 0.83 Tônica mot[o]rista, h[o]rrível, melh[o]ria Distância 2 Intervalo de 1 sílaba ab[u]rreci, c[u]nheci, c[u]nhecido 6/88 6,8% 0.11 f[o]ragido, m[o]torista, m[o]narquia Distância 1 Contígua v[u]mitar, p[u]liciamento, n[u]ticiar 59/483 12,2% 0.29 s[o]cial, [o]pinião, p[o]pulação Átona Distância 2 Intervalo de 1 sílaba c[u]mercializar, c[o]merciário, c[o]nhecimento, alm[o]xarifado 4/88 4,5% 0.10 [o]portunidade, esc[o]laridade Input: 0.21 Significância: Os resultados aqui obtidos indicam que a contiguidade, como afirma Bisol (1981), é verdadeiramente um fator relevante para aplicação do processo de harmonização vocálica, mas deve estar conjugado à tonicidade da vogal alta que funcione como gatilho para o mesmo. A própria autora, que defende a hipótese de que a vogal alta assimiladora é a da sílaba imediata, reconhece que a tonicidade da vogal alta imediata [...] é mais atuante que a contraparte átona. De fato, a pretônica posterior contígua a uma vogal alta tônica apresenta frequência de alteamento de 55,8% e probabilidade de 0.83 para a aplicação do processo em palavras como p[u]lícia, m[u]chila, p[u]dia e m[u]tivo. Quando a contiguidade, no entanto, se dá com outra pretônica, a frequência de alteamento se reduz a 12,2% e a probabilidade de

156 156 aplicação do processo em palavras como m[o]tivação, Nap[o]l[i]ão, hip[o]crisia e s[o]licito, é de apenas Quando não existe a contiguidade, ou seja, quando, entre a vogal-alvo e a próxima vogal alta do vocábulo, se interpõe uma sílaba, a situação é ainda menos favorável. Se a vogal alta for tônica, como em c[u]nheci, ab[u]rreci, ort[o]grafia e c[o]letivo, a frequência de alteamento é de 6,8% e a probabilidade de aplicação do processo é de 0.11; se a vogal alta for átona, como em c[u]nhecimento, ab[o]rrecimento e [o]casião, a frequência de alteamento é de 4,5% e a probabilidade de aplicação da regra variável é de Assim, diante do desfavorecimento da descontinuidade entre a vogal-alvo e a próxima vogal alta encontrada na estrutura da palavra, assim como da continuidade entre vogal alta e outra pretônica alta, corrobora-se a hipótese de Tenani & Silveira (2008: ): observando que há itens que, mesmo com uma vogal alta em sílaba contígua, não sofrem alteamento, como é o caso de social, da mesma forma que a tonicidade sozinha não determina a aplicação da regra de harmonização [...], a contiguidade, por si só, também não é determinante, sendo necessária a conjugação dos dois fatores Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Abaurre-Gnerre (1981) atenta para o fato de que o processo de alteamento não se circunscreve apenas a uma relação entre vogais, como vinha sendo disseminado pelos mais diversos estudos desenvolvidos a esse respeito. Conforme afirma Bisol (1981), as consoantes podem exercer influência sobre as vogais com que vizinham (p ), sendo natural que as consoantes caracterizadas por uma articulação alta venham a funcionar como elementos condicionadores do referido processo (p. 92). Entre as sílabas desprovidas de travamento silábico, é natural que as vogais antecipem alguma articulação das consoantes que lhes sucedem, uma vez que os sons são produzidos continuamente durante o ato de fala. Assim ocorre entre as vogais nasalizadas, que antecipam a articulação nasal da consoante de ataque da sílaba subsequente, como em pomar, coma, conhecer e sonho, e assim também pode ocorrer com as médias pretônicas, que podem antecipar traços de altura e de labialidade das consoantes que se lhes seguem.

157 157 Tabela 43: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] s[u]taque, p[u]ssível, b[u]nito, m[u]leque 310/ ,4% 0.48 tir[o]teio, in[o]cente, lanch[o]nete, c[o]légio Pós-alveolar [, ] m[u]chila, c[u]chilando, alm[u]xarifado 10/53 18,9% 0.26 alm[o]xarife, c[o]cheira, biol[o]gia, pr[o]jeto Velar [k, g] esc[u]rregou, m[u]rri, c[u]rrupção 26/467 5,6% 0.13 pr[o]curar, j[o]gar, c[o]rrer, ch[o]colate Labial [p, b, f, v, m] C[u]munhão, apr[u]veitar, disc[u]brir 264/ ,2% 0.72 c[o]meçar, pr[o]fissão, p[o]pular Palatal [, ] c[u]nhecer, c[u]nhecido, c[u]nhecimento 51/219 23,3% 0.49 s[o]nhar, [o]lhar, rec[o]lher, enverg[o]nhar Input: 0.21 Significância: Bisol (1981) afirma que as consoantes labiais apresentam ação positiva para a elevação da pretônica posterior [o], visto que já compartilham o traço de labialidade e a variante alteada [u] é a mais labial do quadro vocálico do português brasileiro. Com efeito, é possível reparar que as consoantes labiais são as que mais se mostram favorecedoras do processo de alteamento, com 24,2% de aplicação e 0.72 de probabilidade de elevação das pretônicas de palavras como C[u]munhão, c[u]mer, ort[o]pédico e c[u]brança. Esse resultado corrobora os estudos de Lemos (2007), que atestou serem as labiais favorecedoras do processo de alteamento entre as posteriores. Contrariamente, as consoantes alveolares (22,4%), que partilhariam do traço de altura com a vogal assimiladora e poderiam propiciar o alteamento, apresentam apenas 0.48 de probabilidade de favorecerem o alteamento em palavras como c[u]tovelada, pr[u]duzia, c[u]zinha, gl[o]ssário e b[o]tar, assim como as pós-alveolares (18,9%), que apresentam probabilidade de 0.26 em palavras como c[u]chilando, c[o]xia, alm[o]xarifado e angiol[o]gista, as velares (5,6%), que apresentam 0.13 de probabilidade em palavras como [u]cupação, f[u]gão, l[o]cal e dr[o]gado, e as consoantes palatais (23,3%), que apresentam peso relativo de 0.49 para a atuação do processo em palavras como c[u]nhecer, enverg[o]nhar e rec[o]lher. Contudo, é interessante notar a existência de duas particularidades entre os dados de pretônicas posteriores em contexto de sílabas livres. Primeiramente, observe-se que, ainda que Viegas (1987) tenha afirmado que parece existir, para controlar o alteamento de [o], uma regra diferente da que controla a sua aplicação entre as anteriores, o mesmo processo parece atuar nas duas séries do sistema vocálico. Segundo a autora, a harmonização vocálica

158 158 regularia o alteamento de [e], ao passo que o de [o] seria controlado pela redução vocálica. No entanto, há alguns dados que indicam que a presença de uma vogal alta consecutiva é preponderante para que se realize o fenômeno, como no caso de morrer, socorrer e poder, que não são atingidos pelo alteamento, e suas formas flexionadas morri, socorria, podia, morria e podiam, que, por apresentarem uma vogal alta subsequente, são realizadas pela variante alteada. Em segundo lugar, o processo distinto que, segundo a própria Viegas (1987), estaria envolvido entre as posteriores, longe de ser o contexto consonantal adjacente, parece ser o condicionamento lexical. Conforme afirma Klunck (2007), a elevação da pretônica posterior tende a envolver todo o paradigma a que pertence a palavra que teve sua vogal média convertida em vogal alta. É o que ocorre, por exemplo, com os verbos aproveitar, comer, almoçar, chover, começar, conversar e sossegar, cujas formas flexionadas são categoricamente realizadas pela variante alta, independentemente de possuírem ou não uma vogal alta em sílaba subsequente Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Segundo Bisol (1981: 69), a atonicidade permanente é condição primordial para a aplicação do processo de alteamento das vogais médias pretônicas. Também Celia (2004) afirma que somente as átonas permanentes favorecem a elevação das pretônicas. Viegas (1987), assim como Avelheda & Batista da Silveira (2011b), atesta que, se o alteamento é um processo de enfraquecimento que faz passar [e] a [i] e [o] a [u], é de se esperar que as átonas permanentes sejam mais sensíveis ao fenômeno, visto que as átonas eventuais guardam resquícios das formas de origem. Tabela 44: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pretônica eventual c[u]mer, alm[u]çar, pr[u]ximidade 127/ ,1% 0.30 fl[o]resta, gl[o]balização, cal[o]ria Pretônica permanente pr[u]fissão, Car[u]lina, s[u]brinho 534/ ,7% 0.60 pr[o]posta, [o]pinião, d[o]minação Input: 0.21 Significância: Os resultados indicam realmente que as pretônicas permanentes são altamente favorecedoras do processo, com 24,7% e probabilidade de 0.60 de aplicação do processo entre palavras como p[o]liciamento, n[u]ticiário, N[o]ronha e nam[o]rado. As átonas que derivam

159 159 (de) uma tônica, por sua vez, inibem a sua realização, apresentando apenas 12,1% e probabilidade de 0.30 de alteamento em palavras como alm[u]çar, c[u]mer, n[o]tei e melh[o]rar. Isso se deve ao fato de que as átonas eventuais, sobretudo aquelas que apresentam alteração com vogais médio-abertas, como notei ~ n[ ]ta, melhorar ~ melh[ ]r e proximidade ~ pr[ ]ximo, guardam um resquício da tonicidade que incidia sobre elas. No que diz respeito aos itens c[u]mer, que constitui uma átona eventual, e alm[u]çar, que, além de ser átona eventual, apresenta alteração com a vogal médio-aberta almoçar ~ alm[ ]ço, observe-se que o alteamento só não se realiza quando a vogal posterior se encontra efetivamente em sílaba tônica; nas formas flexionadas em que figura em sílaba pretônica, o alteamento realiza-se sempre, atingindo todo o paradigma em que se encontra, como c[u]meu, alm[u]çou, c[u]mendo, alm[u]çando, c[u]mida, c[u]milança e c[u]milão Classe gramatical Pautada na hipótese de Carmo (2009) de que as vogais pretônicas de verbos e de nomes não se comportam de maneira semelhante em relação ao alteamento, considera-se importante verificar se há alguma palavra ou classe de palavras que é mais rapidamente atingida pelo processo, à luz de uma abordagem difusionista que afirma que as mudanças sonoras são lexicalmente graduais e foneticamente abruptas, espalhando-se lentamente pelo léxico. Para Silveira & Tenani (2007), as diferentes estruturas envolvidas entre as diversas classes gramaticais podem influenciar distintamente no comportamento das vogais. A respeito do comportamento das vogais pretônicas dos verbos, Schwindt (2002) declara que, entre as vogais das raízes dos verbos e as dos sufixos verbais, parece haver com frequência a aplicação do processo de harmonização vocálica: p[u]dia, soc[u]rria, o que não necessariamente ocorre entre as vogais pretônicas dos nomes e as dos sufixos nominais: ambulat[o]rial e cal[o]ria. Carmo (2009) declara que se pode observar a relação entre as vogais pretônicas que sofrem o processo de alçamento e a presença de vogal alta na sílaba seguinte à da pretônica-alvo, assim como Viegas (1987: 68), que afirma que, com relação aos verbos, o que parece favorecer o alçamento é a presença de vogal alta no paradigma.

160 160 Tabela 45: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nome Substantivos: c[u]zinha, p[u]lítica b[o]né, pr[o]fessor, p[o]ssibilidade 364/ ,2% 0.42 Adjetivos: imp[u]ssível, c[u]nhecido h[o]rrível, p[o]pulacional, dr[o]gado Verbo em forma finita apr[u]veitava, c[u]meçou, desc[u]brir 217/658 33% 0.68 dem[o]rou, s[o]freu, d[o]brava Verbo em forma infinita rec[u]rrer, v[u]mitando, t[u]mando 80/664 12% 0.56 ch[o]rar, m[o]rando, c[o]municar Input: 0.21 Significância: Assim como entre as anteriores, observa-se que o processo de alteamento das posteriores em contexto de ausência de travamento silábico é mais constante entre os verbos, estejam em forma finita (33%) ou em forma nominal (12%) com probabilidade de 0.68 de aplicação do processo em palavras como c[u]meça, c[u]miam e c[u]nhecia e de 0.56 em palavras como s[u]ssegado, t[u]mando, v[u]mitar e c[u]mercializar. Os nomes, por sua vez, apresentam frequência de 19,2% e probabilidade de 0.42 de aplicação do processo, como em g[u]verno, c[u]rrupto, h[o]l[o]fote e fed[o]rento. Conforme se pode observar, entre as pretônicas posteriores, parece ter forte influência sobre o alteamento o condicionamento lexical, de modo que as palavras do mesmo paradigma derivacional costumam ser atingidas sequencialmente, a despeito de terem ou não uma vogal alta em contexto subsequente ao da pretônica candidata à elevação. Para Oliveira (1991), estaria em jogo não um condicionamento do contexto sonoro a que se circunscreve o alvo da mudança, mas uma questão de maior ou menor formalidade do item envolvido. Assim, um item utilizado em contexto mais formal de fala, ainda que tivesse todo o contexto favorecedor, tenderia à preservação da vogal média, como ocorre em comunicação e populacional, ao passo que um item utilizado em ambiente menos formal de fala, ainda que não possuísse o contexto fonético natural para a aplicação do processo, tenderia ao alteamento, como ocorre com Carolina, sendo este ainda mais surpreendente, visto tratar-se de um nome próprio cujo alteamento é possibilitado pelo fato de ser muito corriqueiro. Klunck (2007) afirma que a elevação da pretônica posterior tende a envolver todo o paradigma a que pertence a palavra que teve sua vogal média convertida em vogal alta. A preponderância do processo entre os verbos pode ser justificada pela facilidade com que o processo se espalha pelo paradigma. Com efeito, é natural que um item, tendo sido alteado,

161 161 envolva todo o paradigma a que pertence, como ocorre, por exemplo, com os verbos comer, almoçar, chover, conversar e sossegar Grau de escolaridade Dias, Cassique & Cruz (2007) afirmam que o grau de escolaridade influencia negativamente na realização do processo de alteamento ou seja, quanto maior o grau de escolaridade, menor a possibilidade de aplicação da regra variável. Para Callou & Leite (1999), por sua vez, por não constituir objeto de estigmatização, o alteamento é processável tanto na fala de escolarizados quanto na de não escolarizados. Tabela 46: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nível Fundamental 268/ ,9% 0.59 Nível Médio 178/941 18,9% 0.47 Nível Superior 215/ % 0.44 Input: 0.21 Significância: Os resultados acima expostos indicam que, ainda que o nível fundamental de ensino se tenha demonstrado mais relevante para aplicação do processo, com 24,9% de frequência e probabilidade de aplicação de 0.59, os valores de peso relativo não são tão determinantes, visto que beiram a neutralidade. Embora mais timidamente, os informantes de nível médio (18,9%) e os de nível superior (18%) também se demonstram suscetíveis ao uso da variante alteada, apresentando, respectivamente, pesos relativos de 0.47 e Faixa etária do informante Silveira & Tenani (2007) afirmam que uma série de pesquisas aponta a faixa etária do informante como um fato importante para determinar a preservação ou a mudança de um fenômeno linguístico. Segundo Labov (1996: 194), falantes mais velhos mostram tendência limitada à mudança comunitária, participando em pequeno grau das mudanças que têm lugar ao seu redor. Para Viegas (1987: 73), a mudança é geralmente incorporada pelos falantes mais jovens, que passam a utilizar a regra além do modelo dos pais. Bisol (1981: 86) já declarava que a alteração da pretônica era uma regra em vias de regressão, uma vez que o processo de alteamento era mais frequente entre os falantes mais velhos do dialeto gaúcho. Callou et alii (1991), em estudo do dialeto do Rio de Janeiro,

162 162 atestaram, igualmente, que é um pouco mais frequente nos informantes da terceira faixa etária, o que, coadunado ao fato de que os informantes do sexo masculino utilizam mais a regra, assinala, segundo as autoras, uma possível perda de produtividade. Tabela 47: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35) 166/910 18,2% 0.45 Faixa 2 (36 55) 243/ ,6% 0.47 Faixa 3 (56 75) 252/ ,4% 0.56 Input: 0.21 Significância: No dialeto de Nova Iguaçu, atesta-se que os falantes da terceira faixa etária (22,4%) são mais suscetíveis ao processo de alteamento do que os demais, ainda que o valor probabilístico (P.R.: 0.56) beire a neutralidade, o que implica considerar tratar-se de um processo mais conservador. Os informantes da segunda (20,6%) e da primeira (18,2%) faixas etárias, por sua vez, apresentam pesos relativos que tendem a desfavorecer o processo, ainda que demonstrem comportamento neutro em seu condicionamento, sendo a probabilidade de aplicação, respectivamente, de apenas 0.47 e Observando-se os valores percentuais, que atribuem à terceira faixa etária (22,4%) maior frequência de aplicação do que à segunda (20,6%) e à primeira (18,2%), percebe-se que formam uma curva crescente na direção dos falantes mais idosos, de modo que, como afirma Bisol (1981), parece realmente haver uma tendência à regressão do processo. Levando-se em conta os resultados da variável grau de escolaridade acima explicitados, de acordo com os quais os falantes de ensino fundamental são mais suscetíveis ao alteamento do que os de ensino médio e os de ensino superior, pode-se inferir que os falantes menos expostos à escolarização teriam aprendido sua norma linguística com falantes que não lhe são coetâneos e, por isso, estariam reproduzindo a norma de fala de seus pais e avós, dando continuidade à estável variação das pretônicas. Contrariamente, aqueles que foram expostos à escolarização e aprenderam com seus pares coetâneos novas normas de uso, conforme afirma Viegas (1987: 73), passam a utilizar a regra além do modelo dos pais Vogais pretônicas em contexto de hiato Fernão de Oliveira (1536), na primeira gramática do português, descrevera a condição variável da vogal posta em contato com outra. Apesar de ainda hoje mostrar-se como variável

163 163 no estudo de Bisol (1981: 35) sobre o dialeto gaúcho, a autora retira de sua análise este contexto, afirmando que a elevação dessa vogal sobrepuja a da vogal interna. Viegas (1987: 80) afirma que o comportamento da vogal [o] em contato com outra vogal ou semivogal não é um fenômeno variável, mas atesta que, quando a vogal [o] está seguida de vogal [a], o alteamento é quase categórico. Bisol (1981), fundamentando-se em Oliveira (1536), declara que os hiatos merecem ser estudados separadamente dos demais contextos, porque apresentam comportamento diverso daquele apresentado pela vogal que apresenta as posições de ataque e/ou de coda preenchidas. Na presente pesquisa, observou-se uma quantidade bastante reduzida de dados de vogais pretônicas em contexto de hiato. No entanto, foi possível verificar um caráter minimamente variável, tendendo mais para o alteamento do que para a manutenção da vogal média. O corpus coletado para desenvolvimento da análise compõe-se de 123 dados, dos quais 105 (85,4%) se realizaram pela variante alteada, atingindo o nível de 0.85 para a aplicação do alteamento, ao passo que apenas 18 (14,6%) não foram atingidos pelo processo. Gráfico 12: Distribuição no corpus das vogais posteriores em contexto de hiato Em suas pesquisas, Bisol (1981) e Viegas (1987) eliminaram as vogais pretônicas em contexto de hiato, argumentando que a vogal que vizinha com outra vogal parece ter comportamento diferenciado daquela que vizinha com consoantes. Em análise preliminar, no entanto, Bisol (1981) atesta que o alteamento das pretônicas posteriores em contexto de hiato (80%) sobrepuja o das anteriores neste mesmo contexto (43%). Também neste estudo, que

164 164 abarca a variedade do dialeto carioca utilizada no município de Nova Iguaçu, verificou-se que o alteamento das pretônicas em contexto de hiato é maior no âmbito da série posterior (85,4%) do que no da série anterior (33,5%). Assim como para a análise das anteriores, foram consideradas, dentre as vogais posteriores, apenas aquelas que ocupassem a primeira posição do encontro vocálico denominado hiato, de modo que não foram inseridos neste subcorpus, mas naquele que diz respeito às vogais médias localizadas em sílabas livres, os vocábulos: angiologista, arqueologia, biblioteca, biologia, biológico, cardiologista, curiosidade, decepcionado, decepcionar, dicionário, fisioterapeuta, fisioterapia, funcionamento, funcionando, funcionário, interiorano, lecionar, Leonardo, Leopoldo, maioria, missionário, nacional, nacionalidade, nacionalização, nutricionista, operacional, osteoporose, pensionista, piorando, piorar, populacional, pressionado, pressionando, prioridade, profissional, questionando, questionar, questionário, raciocinar, recepcionista, relacionar, teoria, tradicional, violão, violência, violentado, violentar, violento, vocacional. Assim, não foi considerado o grupo que controla o ponto de articulação dos segmentos consonânticos subsequentes, visto que a totalidade dos dados apresentados possuía outra vogal seguinte à pretônica candidata à elevação. Além das modificações já operadas no grupo de fatores, que se aplicam a todos os tipos de estrutura silábica abarcados por este estudo, o contexto de hiato apresentou algumas peculiaridades que merecem ser ressaltadas. Ao contrário do que se observou na série anterior, não houve ocorrência de pretônica posterior em contexto de hiato que se localizasse morfologicamente em um prefixo, apesar de existirem prefixos que, adjungidos a uma palavra principiada por vogal, levam à formação de um hiato, como cooperar e coordenar. Assim, foi excluído o grupo que controlava a localização morfológica da pretônica candidata à elevação, uma vez que a totalidade das vogais se encontrava no interior da base lexical. Entre os hiatos, poucos foram os dados que apresentaram vogal média pretônica seguida por uma vogal alta, estando ou não em sílaba contígua. Dos 123 dados de vogais posteriores em contexto de hiato, apenas 11 apresentaram vogal alta em sua estrutura a saber, egoísta (2 oc.), poesia, Joaquim, proibir (6 oc.), proibido, dentre as quais apenas alteia Joaquim e uma ocorrência de egoísta e proibir. Por esse motivo, assim como no caso das pretônicas anteriores, optou-se por, exclusivamente no âmbito dos hiatos, eliminar este grupo e passar a considerar o que abrange a vogal presente na sílaba seguinte à pretônica candidata à elevação, com vistas a melhor poder verificar o comportamento das vogais médias e baixa no condicionamento do fenômeno.

165 165 Feitas as devidas observações a respeito das especificidades do processo de alteamento em contexto de hiato, expõem-se, de acordo com a ordem de seleção, as três variáveis indicadas pelo programa como relevantes para o condicionamento Vogal presente na sílaba seguinte Os estudos a respeito do alteamento das médias pretônicas indicam, em sua maioria, que a condição indispensável para que se processe o fenômeno é a existência de uma vogal alta em sílaba subsequente, que funcionaria como gatilho para a harmonização do traço de altura. Embora eliminem de suas pesquisas as vogais pretônicas em contexto de hiato, Bisol (1981) e Viegas (1987) atestam que, neste caso específico, a presença de vogal alta tende a inibir a realização do alteamento. Para Viegas (1987: 82), quando a vogal [o] está seguida da vogal [a], o alçamento é quase categórico, mas destaca que os itens nestas condições formam uma classe à parte, pois as vogais postas em contato frequentemente são pronunciadas como ditongos o [o] alça para [u], que, então, se transforma na semivogal [ ]. [i] [e, o] [, ] [a] Tabela 47: Comportamento das vogais posteriores de acordo com a vogal da sílaba seguinte Pretônica alteada Pretônica não-alteada Átona proibir proibir (5 oc.), proibido Tônica egoísta egoísta Átona adoecer, poeirada, adoecendo, poesia (4 oc.) Tônica capoeira, doer, cachoeira (9 oc.), Coelho (7 oc.), doente (17 oc.), doença (6 oc.) Átona Tônica moeda, Faroeste Átona Joaquim, zoação, doação (3 oc.), escoamento, aperfeiçoamento Tônica razoável (2 oc.), pessoal (35 oc.), boate, aperfeiçoar (2 oc.), atordoado, toboágua, perdoar, abençoado, zoar, enjoado, Soares, voam, enjoando doado, João (6 oc.) Com efeito, observa-se que as vogais altas inibem a realização do processo de alteamento, a não ser a presença da alta anterior tônica no vocábulo egoísta e a da alta anterior átona no vocábulo proibir, realizados uma vez pela variante alteada, uma vez pela variante média. A análise do corpus permite verificar que, quando coadunadas com vogais médio-altas (átona: 42,9%) ou com a vogal baixa (tônica: 91,1%; átona: 87,5%%), as pretônicas em contexto de hiato são mais suscetíveis ao alteamento do que quando estão coadunadas com uma vogal alta, que tende a bloquear a atuação do fenômeno. Com efeito, os pesos relativos

166 166 indicam que há probabilidade de 0.61 de atuação do processo quando o segundo elemento do hiato é a vogal baixa, assim como se observa em raz[u]ável, pess[u]al, atord[o]ado e v[o]ar. Já para as pretônicas às quais se seguem vogais médio-altas, o peso relativo (P.R.: 0.45) beira a neutralidade, tendendo ao desfavorecimento do processo em vocábulos como ad[u]ecer, p[o]esia, C[u]elho e d[u]ença. [i] [e, o] [, ] [a] Tabela 49: Resultados obtidos para a variável vogal da sílaba seguinte Aplicação total Porcentagem Probabilidade Átona 1/7 14,3% 0.06 Tônica 1/2 50% 0.11 Átona 3/7 42,9% 0.45 Tônica Átona Tônica 1/2 50% 0.15 Átona 7/8 87,5% 0.61 Tônica 51/56 91,1% 0.61 Input: 0.90 Significância: A vogal alta (tônica: 50%; átona: 14,3%), por sua vez, não se demonstra favorecedora do processo, havendo probabilidade de 0.11 de aplicação quando se trata de uma vogal tônica, como em eg[u]ísta, e de 0.06 quando se trata de vogal átona, como em pr[u]ibir e pr[o]ibido. Portanto, assim como entre as vogais anteriores, parece que, enquanto os demais tipos de estrutura silábica demonstram-se suscetíveis a um processo de assimilação, as vogais em hiato passam pelo processo inverso, de dissimilação, de modo que se coíbe o alteamento da pretônica candidata quando muito proximamente se encontra outra vogal alta Gênero do informante É consensual na literatura sociolinguística que os homens, por desfrutarem de maior mobilidade social e de maior prestígio na comunidade de fala, tendem a liderar a propagação de fenômenos inovadores, ao passo que as mulheres, por estarem em constante situação de autoafirmação, tendem a ser mais conservadoras. Bisol (1981), Bortoni et alii (1991) e Yacovenco (1993), no entanto, mostram que não se trata de uma variável que tenha resultados relevantes no que se refere à diferença de manifestação do processo. Tabela 50: Resultados obtidos para a variável gênero do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Masculino 60/65 92,3% 0.78 Feminino 45/58 77,6% 0.19 Input: 0.90 Significância: 0.011

167 167 Entre as vogais posteriores em contexto de hiato, esta foi a única variável de ordem extralinguística selecionada, indicando os homens (92,3%) como mais favoráveis ao uso da variante alteada, com probabilidade de 0.78 para a aplicação do processo de alteamento. Contrariamente, embora haja um alto valor percentual para o uso da variante alta entre as mulheres (77,6%), a probabilidade de 0.19 indica que o sexo feminino prefere a variante média à alteada. Esse resultado coincide com o encontrado por Callou et alii (1991), em pesquisa no município do Rio de Janeiro. As autoras puderam atestar que o alteamento é um pouco mais frequente nos informantes da terceira faixa etária, o que, coadunado ao fato de que os informantes do sexo masculino utilizam mais a regra, assinala uma possível perda de produtividade. Segundo Viegas (1987), deve-se ao desprestígio da variante alteada o fato de os homens a utilizarem com maior frequência do que as mulheres Ponto de articulação da consoante precedente Assim como ocorre nos demais tipos silábicos, as consoantes adjacentes à pretônica candidata à elevação também podem exercer influência em contexto de hiato. Assim, as vogais-alvo estão sujeitas não só ao condicionamento da vogal com que vizinham, mas também ao das consoantes que a precedem. Bisol (1981) declara que a consoante alveolar, cuja articulação se faz com a língua em posição razoavelmente plana [...], tenderia a não favorecer o processo [...], por não ter pontos de semelhança com a vogal assimiladora (p. 93). Tabela 51: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pós-alveolar [, ] cach[u]eira, J[u]aquim, enj[u]ado, J[u]ão, 17/18 94,4% 0.66 enj[o]ando Alveolar [s, z, t, d, t, d ] raz[u]ável, pess[u]al, perd[u]ar, d[u]ente, 75/85 88,2% 0.57 pr[o]ibir, atord[o]ado, Far[o]este Velar [k, g, ] c[u]elho, esc[u]amento, eg[o]ísta 9/10 90% 0.50 Labial [p, b, f, v, m] cap[u]eira, b[u]ate, p[u]eirada, m[u]eda, 4/10 40% 0.03 p[o]esia, v[o]ar, tob[o]água Input: 0.90 Significância: 0.011

168 168 Os resultados aqui obtidos indicam serem as consoantes pós-alveolares (94,4%), em palavras como enj[u]ado e cach[u]eira, as que mais favorecem o alteamento, com 0.66 de probabilidade de atuação do processo, seguidas das alveolares (88,2%), em palavras como pess[u]al, S[o]ares e z[u]ação, com 0.57 de probabilidade de elevação da média pretônica. No entanto, embora os pesos relativos não o corroborem, há grande frequência de aplicação do processo de alteamento mesmo quando às vogais pretônicas posteriores precedem consoantes velares ou labiais, que não foram indicadas como favorecedoras pelo programa estatístico-probabilístico. As consoantes velares, ainda que apresentem um alto valor percentual (90%), levam ao alteamento apenas três dados diversos, que se repetem algumas vezes no subcorpus utilizado para a análise: c[u]elho (7 oc.), esc[u]amento (1 oc.) e eg[u]ísta (1 oc.), demonstrando um comportamento neutro (P.R.: 0.50) perante o condicionamento do processo. E as consoantes labiais, que apresentam frequência de 40% para o alteamento nos dados desse subcorpus, demonstram comportamento altamente desfavorecedor (P.R.: 0.03) do processo em palavras como p[u]eirada, m[u]eda e p[o]esia. Tal observação parece indicar que, independentemente das consoantes que lhe são adjacentes, o alteamento encontrou, nas pretônicas posteriores em contexto de hiato, um ambiente fonético natural (OLIVEIRA, 1991) que ainda não logrou encontrar no âmbito das pretônicas anteriores que se encontram nesse mesmo contexto Vogais pretônicas travadas por consoante nasal /N/ Viegas (1987: 60) afirma que a pretônica posterior parece ter um comportamento diferente da vogal passível de nasalização [fonética] (seguida de consoante nasal [na sílaba seguinte]) com relação ao alteamento (p[u]mada, p[o]ndera), o que se justificaria pelo fato de que a vogal [travada por consoante] nasal não antecipa articulação alguma, enquanto a vogal nasalizada [por elemento nasal da sílaba seguinte] antecipa :... uma nasalidade como de junta, oposto a juta [...], não se deve confundir com uma pronúncia levemente nasal da vogal de cimo, ou de uma [...], em que o falante tende a antecipar o abaixamento do véu palatino, necessário à emissão nasal da consoante na sílaba seguinte, e emite já nasalizada a vogal precedente. Aí não há oposição entre a vogal nasalizada e a vogal, também possível, no mesmo vocábulo, sem a nasalização (CAMARA JR., 1969: 25).

169 169 No corpus obtido a partir das entrevistas com informantes de Nova Iguaçu, obtiveramse 1035 dados de pretônicas posteriores travadas por consoante nasal /N/, sendo 404 realizados pela variante ditongada, 537 concretizados pela variante médio-alta e apenas 94 atingidos pelo processo de alteamento. Desse contingente, foram retirados os dados de -inho, - íssimo, -mente e de advérbios, que apresentaram não-alteamento categórico, e itens isolados como contigo e conforme, que apresentaram aplicação categórica do processo. Eliminados esses itens, obteve-se um total de 1023 dados, tendo sido registradas 402 (39,3%) ocorrências da variante ditongada, 531 (51,9%) da pretônica médio-alta e apenas 90 (8,8%) da variante alteada. Gráfico 13: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores travadas por consoante nasal Nos demais contextos silábicos, e mesmo entre as anteriores travadas por consoante nasal /N/, havia-se optado por eliminar os dados de pretônicas realizadas pela variante ditongada, visto apresentarem pouca recorrência no corpus coletado. No entanto, entre as pretônicas posteriores, é exatamente a variante ditongada que apresenta maior quantidade de ocorrências, de modo que não se poderiam ignorar importantes resultados sob a égide de manter o padrão até então escolhido para exposição dos resultados. Assim sendo, realizaram-se duas rodadas diversas, buscando-se saber qual delas melhor auxiliaria a descrever o comportamento das pretônicas posteriores. Em uma primeira rodada, observando-se serem poucos os dados de alteamento, eliminaram-se os dados concretizados pela variante alteada, a fim verificar se não influenciavam nos resultados, mas

170 170 houve seleção e exclusão de um mesmo grupo a saber, natureza da atonicidade da sílaba pretônica, o que indica que a metodologia não pôde ser aplicada tão corretamente ao corpus a ela submetido e o programa, portanto, não pôde determinar com clareza se a variável era ou não relevante para o condicionamento do processo. Analisando-se cada nível isoladamente, verificou-se que, ainda que os valores percentuais o indiquem como altamente favorecedor, o peso relativo atribuído pelo programa às pretônicas permanentes beirou a neutralidade em todos os níveis, mesmo naquele em que se deu a sua seleção pelo fato de ter gerado o grau de significância mais próximo de de todo o nível. Em uma segunda rodada, amalgamaram-se as vogais ditongadas às alteadas, acreditando-se que aquelas constituem um passo rumo ao alteamento, visto que já visam a uma acomodação articulatória maior. Tendo-se observado ter sido essa a rodada mais coerente quanto aos resultados, se comparados com o de estudos anteriores, optou-se por selecioná-la para a exposição dos resultados que abaixo se fará. Antes de se passar à discussão dos resultados, cabe analisar, conforme se vem fazendo nos demais contextos silábicos, o comportamento das vogais médias e baixas, informações que, com a exclusão do grupo que controlava a vogal da sílaba seguinte, acabaram se perdendo. Veja-se, abaixo, uma tabela que demonstra o papel de cada vogal no condicionamento da aplicação do processo. Tabela 52: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguinte Vogal Tônica Átona Alteamento Ditongação Alteamento Ditongação Aplicação % Aplicação % Aplicação % Aplicação % [a] c[u]mprando, 2/156 1,3% 70/156 44,9% 2/68 2,9% 25/68 36,8% m[ow]ntar [e, o] corr[u]mper, ac[ow]ntecer [, ] c[u]nversa, c[ow]nsegue [i] c[u]nvívio, s[ow]mbrio [u] c[u]nfundindo, c[ow]nfusão 5/86 5,8% 21/86 24,4% 38/202 14/116 12,1% 48/116 41,4% 18,8 % 71/202 35,1% 13/70 18,6% 28/70 40% 14/249 5,6% 106/249 42,6% 5/14 35,7% 2/62 3,2% 28/62 45,2% Para as pretônicas posteriores travadas por consoante nasal /N/, verifica-se que a presença de vogal alta anterior favorece mais fortemente a ditongação (tônica: 40%; átona: 42,6%) do que o alteamento (tônica: 18,6%; átona: 5,6%), como se observa em palavras como

171 171 c[u]nvívio, c[u]ntinuado, esc[ow]ndido e c[ow]nvivência. A vogal alta posterior, igualmente, favorece a ditongação (tônica: 35,7%; átona: 45,2%) em palavras como c[ow]nsultório, c[ow]nfundem e c[ow]ndução, e inibe o alteamento (átona: 3,2%) em c[u]nfundindo e c[o]nsumiu. Assim também acontece com a vogal médio-baixa, que apresenta 41,4% de ditongação em palavras como c[ow]nseguem e c[ow]ncordo, mas apenas 12,1% de alteamento, como em c[u]nversa (7 oc.) e c[u]nhece (7 oc.). Quando a vogal da sílaba subsequente é uma médioalta, novamente é mais recorrente a ditongação (tônica: 24,4%; átona: 35,1%) da pretônica travada por consoante nasal do que o alteamento (tônica: 5,8%; átona: 36,8%), como se pode observar em c[u]nversar, c[ow]nversando, desc[ow]ntou, esp[ow]ntâneo, interr[ow]mper e corr[u]mper. Por fim, quando é a vogal [a] que sucede à sílaba em que se encontra a pretônica candidata à elevação, é também a ditongação (tônica: 44,9%; átona: 36,8%) de itens como inc[ow]mparável, esp[ow]ntâneo e desm[ow]ntado que prepondera sobre o alteamento (tônica: 1,3%; átona: 2,9%) de vocábulos como c[u]mprando e c[o]ntrapartida. Conforme os números da tabela permitem observar, parece não haver influência da vogal da sílaba subsequente à da pretônica travada por consoante nasal candidata à elevação, uma vez que há elevado índice de ditongação, independentemente da vogal da sílaba subsequente à da estrutura bifonemática. No entanto, observando-se exclusivamente os casos de alteamento, verifica-se que a elevação é mais recorrente quando a vogal da sílaba seguinte é uma média fechada átona, como em c[u]nversar, c[u]mprometer, c[u]mportar e c[u]nteúdo, ou uma tônica alta anterior, como em c[u]nvívio, c[u]mprido e c[u]nsigo. Analisando-se os itens que são atingidos pelo processo de alteamento, observa-se que se trata de palavras utilizadas em contextos informais de fala, o que, segundo Oliveira (1991), favorece a sua aplicação. Além disso, verifica-se haver, ainda, um espraiamento da variante alteada por toda uma série paradigmática, de modo que, ainda que o vocábulo não apresente vogal alta em sílaba subsequente, a tendência, conforme afirma Klunck (2007), é a de que seja atingido todo o paradigma a que pertence a palavra que teve sua vogal média convertida em vogal alta. É o que se observa, por exemplo, em conseguir, cuja pretônica posterior se realiza pela variante alteada devido à influência de outra pretônica, contígua a ela, que também é atingida pelo processo de alteamento, e em consegue, que não apresenta vogal alta em sílaba subsequente, mas alteia por extensão da aplicação do fenômeno. Expostas essas observações, seguem-se as variáveis selecionadas, conforme já explicitado, em rodada em que se amalgamaram as vogais ditongadas às alteadas,

172 172 acreditando-se que aquelas constituem um passo rumo ao alteamento, visto que já visam a uma maior acomodação articulatória Grau de escolaridade Callou & Leite (1999) afirmam que o alteamento da vogal pretônica já não constitui objeto de estigmatização, de modo que se manifesta tanto na fala de não-escolarizados quanto na de escolarizados. Segundo Bisol (1981), a variante alteada se manifesta sem retenção entre os falantes. Para Dias, Cassique & Cruz (2007), todavia, a frequência de alteamento reduz na medida em que os informantes progridem na educação formal. Na presente pesquisa, o nível médio de escolaridade (74%) demonstrou-se mais propício à variação da vogal média pretônica, sendo registrados, dentre os 262 casos abaixo explicitados, 21 ocorrências de alteamento e 241 de ditongação da pretônica posterior e havendo 0.85 de probabilidade de aplicação dos fenômenos de flutuação das vogais pretônicas aqui considerados. O nível fundamental de escolaridade (48,2%) apresenta comportamento neutro, tendendo ao favorecimento do processo, como indica o peso relativo de Nesse nível, foram encontradas, entre os 164 casos abaixo expostos, 35 ocorrências de alteamento e 129 de ditongação da pretônica posterior. No nível superior de escolaridade (20,1%), foram encontradas apenas 34 ocorrências de alteamento e 32 de ditongação, chegando-se ao peso relativo altamente desfavorecedor de Tabela 53: Resultados obtidos para a variável grau de escolaridade Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nível Fundamental 164/340 48,2% 0.51 Nível Médio 262/354 74% 0.85 Nível Superior 66/329 20,1% 0.13 Input: 0.45 Significância: Talvez se possa justificar esse resultado pelo fato de que o nível médio de escolaridade costuma ser uma fase em que o informante ainda apresenta maior liberdade de expressão, sem ter de atentar para sua fala em situações de maior formalidade. No entanto, se o processo realmente não configura alvo de estigma social, conforme afirmam Callou & Leite (1999), não era de se esperar que o nível superior de escolaridade se demonstrasse tão desfavorável à sua aplicação como efetivamente se apresenta. A conjectura que aqui se tece é de que as pretônicas posteriores ainda carregam consigo um grau de estigma social que faz com que, como afirmam Dias, Cassique & Cruz

173 173 (2007), a probabilidade de alteamento reduza de acordo com o avanço escolar do informante. Ainda que entre as anteriores o resultado tenha sido semelhante, o peso relativo (0.67) foi mais baixo do que o que aqui se expõe, de modo que a variável parece ser mais relevante para a série posterior Faixa etária do informante Silveira & Tenani (2007) afirmam que a faixa etária do informante é um fator relevante para determinar a preservação ou a mudança de determinado fenômeno linguístico. Labov (2008) afirma que a mudança linguística não mobiliza os falantes mais velhos, que mostram tendência limitada à mudança comunitária e participam em pequeno grau das mudanças que têm lugar ao seu redor. De acordo com Viegas (1987), a mudança é incorporada pelos falantes mais jovens, que ultrapassam o modelo dos pais e avós a partir do contato com seus pares coetâneos. Em seu estudo do dialeto mineiro, a autora atesta lidar com uma mudança em progresso, visto que os falantes mais jovens utilizam com mais frequência a regra variável de alteamento das pretônicas. Contrariamente, Bisol (1981) atesta, em estudo do dialeto gaúcho, tratar-se de uma regra em vias de regressão, sendo mais aplicada entre os falantes mais velhos. Em estudo do dialeto carioca, Callou et alii (1991) observaram que o fenômeno é mais frequente entre falantes mais velhos. Tabela 54: Resultados obtidos para a variável faixa etária do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Faixa 1 (25 35) 204/329 62% 0.76 Faixa 2 (36 55) 179/343 52,2% 0.52 Faixa 3 (56 75) 109/351 31,1% 0.23 Input: 0.45 Significância: Entre as posteriores travadas por /N/, os falantes mais jovens (62%) são mais propensos a aplicar a regra variável de alteração das médias pretônicas do que os das faixas etárias subsequentes, apresentando probabilidade de 0.76 para a aplicação dos fenômenos de flutuação das pretônicas aqui considerados. Entre os 204 casos explicitados, registraram-se 175 dados de ditongação e apenas 29 de alteamento propriamente dito. Entre os falantes da segunda (52,2%) faixa etária, os fenômenos de flutuação das pretônicas aqui considerados (ditongação: 147 oc.; alteamento: 32 oc.) ainda se fazem relativamente produtivos, com um peso relativo de 0.52 que, ainda que demonstre comportamento neutro, tende a favorecer o

174 174 processo. Já entre os informantes da terceira (31,1%) faixa etária, a ditongação (80 oc.) e o alteamento (29 oc.) são pouco produtivos e a probabilidade (P.R.: 0.23) de que essas variantes sejam utilizadas é muito baixa, sendo desfavorecidos esses fenômenos na fala de informantes mais idosos. Sabe-se que o alteamento das médias posteriores não é fenômeno tão recorrente no português brasileiro, e que algumas realizações alteadas ainda apresentam certo grau de estigma social, sobretudo quando as vogais candidatas à elevação encontram-se em posição de travamento por consoante nasal. Assim, acredita-se que o processo esteja recentemente tornando-se usual na variedade de Nova Iguaçu, de modo que os falantes mais jovens são os que encabeçam esta mudança de comportamento linguístico da comunidade Gênero do informante É consensual na literatura que os homens, por desfrutarem de maior mobilidade social, tendem a liderar a propagação de fenômenos inovadores, ao passo que as mulheres, por estarem em constante situação de autoafirmação, tendem a ser mais conservadoras. Bisol (1981), Bortoni et alii (1991) e Yacovenco (1993), no entanto, mostram que não se trata de uma variável que tenha resultados relevantes no que se refere à diferença de manifestação do processo. Tabela 55: Resultados obtidos para a variável gênero do informante Aplicação total Porcentagem Probabilidade Masculino 309/491 62,9% 0.71 Feminino 183/532 34,4% 0.31 Input: 0.45 Significância: Selecionada apenas entre as vogais posteriores em contexto de hiato, essa variável parece corroborar que a flutuação das pretônicas posteriores em contexto de travamento por consoante nasal /N/ configura um processo inovador na língua portuguesa, o que se justifica pela maior produtividade (62,9%) e maior probabilidade de aplicação (P.R.: 0.71) entre os homens (ditongação: 270 oc.; alteamento: 39 oc.). As mulheres, por sua vez, demonstram evitar a aplicação dos processos de ditongação (132 oc.) e alteamento (51 oc.), tornando-se pouco produtivos (34,4%) e apresentando apenas 0.31 de probabilidade de atuação. A conjugação dessas três variáveis extralinguísticas, selecionadas pelo programa como favorecedoras da alteração das pretônicas posteriores travadas por consoante nasal, parece indicar que, nesse contexto, se trata de um processo inovador. Se, conforme afirmam Callou

175 175 et alii (1991), o uso mais frequente entre os informantes da faixa etária, coadunado ao uso mais frequente entre os falantes do sexo masculino, indica que o processo está perdendo produtividade, acredita-se que o uso mais recorrente entre os falantes do sexo masculino e os da primeira faixa etária, por sua vez, indique um ganho de produtividade que tende a generalizar o processo em todos os contextos silábicos Natureza da atonicidade da sílaba pretônica Sabe-se que as pretônicas permanentes, por não guardarem resquícios de tonicidade, são mais suscetíveis ao processo de alteamento. Segundo Bisol (1981: 69), a atonicidade permanente é a condição ideal para as flutuações da pretônica, ou seja, as vogais [...] originariamente átonas que esse caráter preservam na derivação paradigmática estão sujeitas a alterações, ao passo que, se a atonicidade for adquirida por deslocamento de acento, então a vogal tende a preservar-se (p ). Tabela 56: Resultados obtidos para a variável natureza da atonicidade da pretônica Aplicação total Porcentagem Probabilidade Pretônica eventual esc[u]ndido, corr[u]mper, c[u]mprando red[o]ndeza, resp[o]nsável 40/131 30,5% 0.32 m[ow]ntar, c[ow]ntar Pretônica permanente c[u]ntinuar, c[u]nversar, c[u]mparecer c[o]ncordar, c[o]mbinar, c[o]nvivência 452/892 50,7% 0.53 c[ow]mbater, ac[ow]ntecer, c[ow]nviver Input: 0.45 Significância: Nos resultados relativos ao corpus de Nova Iguaçu, observa-se que as pretônicas permanentes (50,7%) apenas modicamente se apresentaram favorecedoras, como se observa em palavras como c[u]nsertar, c[u]nseguir, desc[o]nfortável e esp[ow]ntâneo. Nesse contexto, foram registrados 369 casos de ditongação e 83 de alteamento, com um peso relativo de 0.53 que indica comportamento neutro. As pretônicas eventuais (30,5%), por sua vez, demonstram-se altamente desfavorecedoras, sendo registrados 33 casos de ditongação e apenas 7 de alteamento, com 0.32 de probabilidade de aplicação em palavras como corr[u]mper, c[o]ntagem, desm[ow]ntado Ainda que se tenham amalgamado as pretônicas alteadas, menos frequentes no referido contexto, às pretônicas ditongadas, bastante recorrentes, acredita-se que o programa aponta a natureza permanente da atonicidade da vogal alvo como favorecedora devido ao fato

176 176 de o alteamento propriamente dito atingir principalmente as pretônicas permanentes. Acredita-se, ainda, que a neutralidade encontrada na probabilidade (P.R.: 0.53) de as pretônicas permanentes favorecerem o processo se deve ao fato de a ditongação da vogal alvo, por não se tratar propriamente de processo de enfraquecimento, atingir tanto as pretônicas eventuais quanto as pretônicas permanentes Ponto de articulação da consoante precedente Viegas (1987) afirma que o alteamento ocorre entre as pretônicas posteriores quando a vogal candidata à elevação se encontra precedida por consoante em posição de onset silábico. Bisol (1981) declara que não há, na literatura fonológica, muitas informações a respeito da elevação da vogal [o] em contexto de ausência de consoante de apoio. Bisol (1981) argumenta que as consoantes velares, articuladas com o dorso da língua levantado, podem vir a favorecer o alteamento das pretônicas, visto serem produzidas por articulação semelhante à das vogais altas. Da mesma forma, as consoantes labiais, por partilharem com as vogais posteriores o traço de labialidade, tenderiam a favorecer o alteamento, visto ser a vogal [u] a mais arredondada de toda a série. Entre as vogais posteriores travadas por consoante nasal, o traço de labialidade (57,5%) da consoante precedente, mais do que o de maior posterioridade da consoante velar (47,6%), parece ser o que mais influencia a flutuação da pretônica em palavras como resp[ow]nsabilidade, resp[ow]nder, b[ow]mbeiro e m[ow]ntar, com 0.69 de probabilidade de aplicação dos processos de ditongação (49 oc.) e alteamento (1 oc.). Tabela 57: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação na consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] apr[o]ntava, tr[o]mbose 1/10 10% 0.05 s[ow]mbria Velar [k, g] c[u]nversa, c[u]mprido ac[o]ntecer, c[o]ndomínio 441/926 47,6% 0.49 c[ow]ntrolar, c[ow]ntratado, c[ow]ndição Labial [p, b, f, v, m] resp[u]nder resp[o]nsabilidade, M[o]nteiro 50/87 57,5% 0.69 v[o]ntade, desm[ow]ntado Input: 0.45 Significância: As consoantes velares (47,6%), por sua vez, apresentam um peso relativo de 0.49, que beira a neutralidade e tende ao desfavorecimento dos processos de ditongação (352 oc.) e

177 177 alteamento (89 oc.) em palavras como esc[u]ndido, c[u]ntinua, rec[o]nciliar, prec[o]nceito, G[o]nçalo, c[ow]nviver e c[ow]ntrole. Por fim, as alveolares (10%) coíbem o processo de alteamento e desfavorecem, com um peso relativo de 0.05, a ditongação (1 oc.) em palavras como s[ow]mbria, cand[o]mblé, apr[o]ntava e tr[o]mbose Ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente Abaurre-Gnerre (1981) atenta para o fato de que o processo de alteamento não se circunscreve apenas a uma relação entre vogais, como vinha sendo disseminado pelos mais diversos estudos desenvolvidos a esse respeito. Bisol (1981) afirma que as consoantes podem exercer influência sobre as vogais com que vizinham (p ), sendo natural que as consoantes caracterizadas por uma articulação alta venham a funcionar como elementos condicionadores do referido processo (p. 92). Para Viegas (1987: 60), ao contrário da vogal nasalizada por elemento nasal em posição de ataque da sílaba subsequente, que tende a antecipar a articulação da consoante, a vogal nasal não antecipa articulação alguma. Tabela 58: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante subsequente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Alveolar [s, z, t, d, t, d ] c[u]ntinuar, c[u]nsigo, c[u]ntinuar c[o]ntagem, c[o]ndutor, resp[o]nsabilidade 282/592 47,6% 0.44 c[ow]nsertado, ap[ow]ntar Pós-alveolar [, ] c[o]njunto 1/2 50% 0.93 c[ow]njunto Velar [k, g] c[o]ngresso, c[o]ncorrer, c[o]ncordar 15/34 44,1% 0.42 c[ow]ncluído, c[ow]ncurso, Labial [p, b, f, v, m] c[u]nversar, c[u]mprido, c[u]mpetitivo c[o]mparar, desc[o]nfortável, c[o]nvênio 194/395 49,1% 0.59 c[ow]nvivência, ac[ow]mpanhar, Input: 0.45 Significância: Assim como afirma Bisol (1981), as consoantes labiais (49,1%) apresentaram ação positiva para a alteração da pretônica posterior [o], com um peso relativo de 0.59 que, ainda que beirando a neutralidade, reflete os 131 casos de ditongação e os 63 de alteamento em palavras como ac[ow]mpanhar, corr[u]mper, b[o]mbeiro, s[ow]mbrio, tr[o]mbose, c[u]nvívio e c[ow]nfiança. Além dessa variável, mostrou-se também relevante a presença de consoante pós-alveolar, mas o alto valor probabilístico (P.R.: 0.93) se deve ao fato de que, de apenas duas ocorrências da palavra conjunto, se atingiu a percentagem de 50% de flutuação

178 178 da pretônica, uma vez que uma ocorrência foi realizada pela variante ditongada, enquanto a outra concretizou a variante médio-fechada. Contrariamente, consoantes alveolares (47,6%) demonstram-se desfavorecedoras dos processos de flutuação da pretônica, com um peso relativo de 0.44 que, beirando a neutralidade, tende a inibir a ditongação (255 oc.) e o alteamento (27 oc.) de pretônicas em palavras como c[ow]nsciência, c[u]nsegue, c[o]nsequência, esp[ow]ntâneo, c[u]nteúdo e horiz[o]nte. Também as consoantes velares (44,1%), a despeito da maior posterioridade que partilham com a vogal alta, desfavorecem, com a baixa probabilidade de 0.42, a ditongação (15 oc.) de pretônicas em palavras como c[ow]ncorrência, c[o]ncurso, c[o]nglomerado e c[o]ngresso. Assim, ao contrário do que ocorre nas sílabas desprovidas de travamento silábico, entre as quais é natural que as vogais antecipem alguma articulação das consoantes que lhes sucedem, não parece natural que as sílabas travadas por consoante nasal venham a antecipar a articulação da consoante que se encontra em sílaba subsequente, uma vez que há um elemento intermediário: se, como afirma Bisol (1981), a harmonização vocálica não salta uma sílaba para atingir a vogal pretônica da que lhe antecede, não é de se esperar que um traço consonantal ultrapasse o elemento que entrava a sílaba para atingir a vogal entravada por ele Vogais pretônicas travadas por consoante vibrante /R/ As vogais travadas por /R/ empiricamente parecem não constituir um ambiente muito favorecedor do processo de alteamento, visto que, além de não serem encontradas em muitas palavras do léxico, geralmente fazem parte de palavras que não ocorrem em contextos informais de fala. Por esse motivo, muitas vezes se deixa de considerá-las nos estudos concernentes ao processo, dando-se especial atenção apenas às travadas por /N/ e às travadas por /S/. A presente pesquisa, no entanto, quis abranger também este tipo silábico, com vistas a verificar estatisticamente o que a observação empírica aponta. Havendo-se inicialmente coletado um corpus com 1370 dados, foram observadas 12 (0,9%) ocorrências de vogais médio-abertas, 478 (34,9%) realizações pela variante médio-fechada e um total de 880 (64,2%) ocorrências do processo de alteamento. Desse surpreendente número de 880 dados realizados pela variante alta, 824 (99,2%) se referem exclusivamente à conjunção porque, à qual a regra variável de alteamento da vogal pretônica se aplica categoricamente. Eliminados os dados de porque e portanto, que se relacionam à preposição por, cuja vogal também é

179 179 categoricamente alçada, e excluídas as formas em -inho, -íssimo e -mente, obteve-se uma soma de 522 dados, dentre os quais foram registradas nove ocorrências de vogal médio-baixa (1,7%), 458 (87,7%) de vogal médio-alta e 55 (10,5%) dados em que se aplicou o processo de alteamento. Gráfico 14: Distribuição no corpus das pretônicas travadas por consoante vibrante Ao contrário do que acontecera entre as anteriores, em que não foi possível realizar a análise multivariada pretendida pelos estudos sociolinguísticos, as vogais posteriores travadas pelo rótico /R/ permitiram que se chegasse a essa etapa de análise, ainda que a frequência de aplicação do processo tenha sido relativamente baixa. No entanto, a pouca quantidade de dados não permitiu que se chegasse a um resultado preciso, havendo exclusão e seleção do mesmo grupo de fatores, o que indica que a metodologia não pôde ser aplicada tão corretamente ao corpus a ela submetido. Observando-se os dados cujas pretônicas se realizaram pela variante alta, verifica-se que se trata de itens que (i) compõem o mesmo paradigma, no caso do verbo dormir e suas flexões; (ii) apresentam especialização semântica, como é o caso de porção e português; ou (iii) são itens utilizados em contextos menos formais de fala, como morcego e cortina. Observando-se, igualmente, as variáveis linguísticas selecionadas pelo programa na análise multivariada descartada devido à baixa quantidade de dados, verifica-se que remetem quase que exclusivamente ao item dormir, visto que são selecionadas: (i) quanto à variável que controla a distância entre a vogal alvo e a vogal alta mais adjacente, a contiguidade com vogal

180 180 alta tônica dormir, dormi, dormiam, dormia, dormindo; e (ii) quanto à variável que controla o ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente, a presença de uma consoante labial dormir. Assim sendo, optou-se por realizar uma análise estritamente qualitativa, à semelhança da que foi realizada em relação às anteriores travadas por /R/. Klunck (2007), em estudo do alçamento sem motivação aparente, observa que, ao se envolverem palavras de um mesmo paradigma derivacional, o alteamento de /o/ mostra um indício de difusão lexical, de modo que se poderia atribuir a aplicação da regra à analogia: a elevação sem motivação aparente estaria ocorrendo, na verdade, por analogia à pretônica que se torna alta por harmonização vocálica. Assim, segundo a autora, o alçamento, dentro de dado grupo paradigmático, se iniciaria em uma palavra que possuísse vogal alta em sílaba subsequente à da vogal candidata à elevação e, por analogia, se expandiria para os demais itens deste grupo. Em estudo do paradigma verbal do português brasileiro, Vivas (2011) observa que a primeira pessoa do singular de verbos irregulares difere da terceira pessoa por uma oposição sistemática indicada pela alternância vocálica: a primeira pessoa apresenta radical alomórfico com vogal alta, ao passo que a terceira pessoa apresenta vogal média. O verbo dormir, que aqui se considera, enquadra-se em um grupo no qual a alternância vocálica se dá com a vogal médio-baixa: acudo ~ ac de, durmo ~ d rme. Schwindt & Quadros (2011), em trabalho intitulado Efeitos paradigmáticos envolvendo vogais na morfologia verbal portuguesa e apresentado no VII Congresso da Associação Brasileira de Linguística, declaram que a primeira pessoa do singular apresenta alto grau de informatividade, o que se reflete no fato de ser ela a base para a formação do presente do subjuntivo. Segundo os autores, talvez essa informação possa explicar o fato de os verbos de 3ª conjugação altearem com mais frequência, o que se deveria à existência da vogal alta em seu paradigma: durmo ~ d[u]rmir. Para o caso específico das pretônicas travadas por /R/, não se pode afirmar, com base nos dados disponíveis no corpus utilizado nesta pesquisa, que haja difusão lexical ou condicionamento fonético, visto que o único grupo paradigmático que se pôde formar referese ao item dormir e suas flexões, cujas vogais tônicas são sistematicamente a vogal alta nãohomorgânica [i]. No entanto, recorrendo-se a itens do paradigma derivacional, como dormência e dormente, de um lado, que não apresentam vogal alta subsequente à pretônica candidata à elevação e são passíveis de se realizarem pela variante alteada, e dormitório, de outro, que apresenta vogal alta, mas, embora passível de alteamento, não foi atingido pelo processo no corpus aqui analisado, é possível supor que, como afirma Klunck (2007), a

181 181 elevação da pretônica posterior tende a envolver todo o paradigma a que pertence a palavra que teve sua vogal média convertida em vogal alta, mas também está submetida ao controle de características do prestígio social dos itens em questão dormitório é palavra restrita a contextos mais formais do que dormência, por exemplo. Tabela 59: Vocábulos no corpus pretônicas posteriores travadas por consoante vibrante Itens vocabulares com pretônicas posteriores travadas por /R/ Acordado, acordar, atordoado, comportamento, comportar, comportar, concordando, concordar, cordilheira, corneando, cornear, corporação, cortando, cortar, cortesia, cortina, deformado, desconfortável, divorciar, dormindo, dormir, dormitório, engordar, entornar, esforçar, exportar, forç ado, forçando, formação, formado, formal, formando, formar, formatura, formidável, fornecedor, fortaleza, importância, importante, informação, informal, informática, jornal, jornalismo, morcego, mordomia, Nordeste, nordestino, normal, normalizando, nortista, oportunidade, orçamento, ordenado, organismo, organização, organizado, organizar, orgulho, orgulhoso, orquestra, ortografia, ortopédico, porção (muito), porcaria, porcentagem, portão, Portugal, português, recordação, reformando, reportagem, retornar, sorvete, sorveteria, suportando, suportar, torcendo, torcer, torcer, tornando, tornar, transformação, transformando, transformando, transformar, transportadora. Assim, observa-se que o alteamento das pretônicas posteriores travadas por /R/ está relacionado, de um lado, a um processo de difusão lexical que faz com que sejam envolvidas várias palavras de um mesmo paradigma derivacional; de outro, a características do prestígio social dos itens em questão. No entanto, mesmo nesse contexto em que se observa forte atuação da difusão lexical, o aspecto fonético também parece exercer influência. Entre as anteriores, o alteamento das pretônicas travadas por rótico não encontrou ambiente fonético natural, uma vez que a vogal alta é a mais anterior do sistema vocálico da língua portuguesa, enquanto a vogal média realiza-se ligeiramente mais recuada. Entre as posteriores, no entanto, o processo parece encontrar o ambiente fonético natural, visto que a maior posteriorização da vogal alta favorece a acomodação articulatória para a realização do rótico que, em Nova Iguaçu, assim como em grande parte do Estado do Rio de Janeiro, se dá em região posterior, mais especificamente, na direção do véu palatino. Apesar de não se tratar da norma do Estado do Rio de Janeiro, foram registradas ocorrências de vogal médio-baixa no corpus referente ao Município de Nova Iguaçu, como em esf[ ]rçar, f[ ]rçado, n[ ]rdeste, n[ ]rmal, n[ ]rtista, [ ]rçamento, [ ]rquestra e [ ]rtopédico, a maioria encontrada na fala de uma informante da segunda faixa etária, com nível médio de escolaridade, que, embora natural do Rio de Janeiro e filha de pais igualmente naturais da Cidade, é casada com um baiano. Não se tem informação a respeito de há quanto tempo convivem, mas acredita-se que possa ter adquirido alguns traços linguísticos característicos da Bahia. No entanto, apesar desse aspecto social, observa-se que as palavras

182 182 cujas pretônicas se realizam pela variante médio-baixa apresentam um contexto fonético que favorece essa opção. Barbosa da Silva (2008) propõe a existência de três regras para descrever a alternância de vogais pretônicas em Salvador, que se caracteriza majoritariamente por pretônicas abertas: (a) uma regra categórica de timbre, que torna fechada qualquer vogal média no contexto de vogais da mesma altura na sílaba seguinte, torna fechada a vogal anterior que precede consoante palatal em dado grupo de palavras, e mantém aberta a vogal média nos demais contextos; (b) uma regra supradialetal, que eleva as pretônicas médias; e (c) uma regra dialetal, responsável pelas ocorrências minoritárias e variáveis de pretônicas fechadas. Para o mesmo fenômeno, no âmbito do Rio de Janeiro, podem-se estabelecer essas mesmas regras, que, todavia, se aplicarão de maneira distinta. A regra categórica de timbre tornaria aberta qualquer vogal média em contexto que possibilitasse a assimilação do traço de altura como em ortopédico, Nordeste e orquestra, em que a pretônica travada por /R/ se realiza pela variante médio-baixa em função da vogal aberta da sílaba tônica e manteria fechada a vogal média em todos os demais contextos, como em ordenado, divorciar e cortesia. A regra supradialetal, por sua vez, apresentaria condicionamentos específicos que podem não se aplicar a todos os dialetos. Por fim, a regra variável de timbre seria responsável pela ocorrência minoritária de pretônicas abertas em contexto de vogal alta, baixa ou nasal em sílaba tônica, como em esforçar, orçamento, forçado, normal, nortista. Apesar de se terem encontrado ocorrências dessas duas variantes, os valores absolutos e os percentuais indicam que a norma do Município é a manutenção da vogal média, que se concretizou em 87,7% dos dados encontrados. O fator que mais parece favorecer o alteamento da pretônica posterior travada por /R/ é a presença de vogal alta tônica em sílaba contígua, mas este contexto, como afirma Oliveira (1991), deve encontrar-se em um nome comum, em palavra que faz parte de contextos menos formais de fala. Com efeito, observa-se que a mesma estrutura fonético-fonológica que favorece o alteamento em dormir não o favorece em dormitório, que parece ser item mais restrito a contextos formais e específicos, ainda que aconteça em dormência, que não possui a vogal alta na sílaba subsequente, mas é utilizado em contextos informais de fala.

183 Vogais pretônicas travadas por consoante sibilante /S/ Se a elevação de /e/ antes de /S/ já é fato consagrado na literatura fonológica, conforme afirma Bisol (1981), o mesmo não se pode declarar quanto à elevação de /o/ nesse contexto, visto que não se encontram trabalhos que veiculem essa informação. Empiricamente, observa-se que há palavras que são frequentemente alteadas, como é o caso de costume, e outras que nunca são alteadas, como gostar e mostrar. O corpus coletado a partir dos inquéritos de Nova Iguaçu apresentou inicialmente um total de 196 ocorrências, sendo 162 realizadas pela variante médio-fechada e 34 realizadas pela variante alta. Retiradas as formas em -(z)inho, -íssimo e -mente, obtiveram-se 190 ocorrências de pretônicas posteriores em contexto de travamento por /S/, das quais 156 (82,1%) mantiveram a vogal média e apenas 34 (17,9%) foram atingidas pelo processo de alteamento, não sendo registradas quaisquer outras variantes. Gráfico 15: Distribuição no corpus das vogais posteriores travadas por consoante sibilante Para análise das pretônicas posteriores travadas por elemento consonântico fricativo, algumas modificações foram necessárias no grupo de fatores, visto que apresentaram comportamentos categóricos. Na variável que controla o ponto de articulação da consoante precedente, eliminaram-se a consoante alveolar e a ausência de consoante de apoio, visto que se mostraram categoricamente desfavorecedoras do alteamento, como se observa em hospital,

184 184 hospitalar, diagnosticar e prosperar, que são as únicas palavras de todo o corpus que apresentam os referidos contextos. No que diz respeito à variável que controla o ponto de articulação da consoante de ataque da sílaba subsequente, por sua vez, eliminaram-se a consoante labial, que apresentou manutenção categórica da média pretônica nos mesmos itens hospital e hospitalar já citados, e a consoante velar, que apresentou apenas um dado alteado do item mosquito. Teve-se de eliminar, ainda, a variável que controlava a existência de intervalo de uma sílaba entre a pretônica candidata à elevação e a vogal alta tônica mais adjacente, visto que tal contexto foi detectado apenas no item gostaria e se demonstrou categoricamente desfavorecedor do processo de alteamento. Há um grupo de fatores, eliminado nos contextos de sílabas livres, travadas por /S/ ou /N/ e mantido apenas na análise das pretônicas em contexto de hiato, que se demonstra relevante para a compreensão do processo de harmonização vocálica que se acredita reger o fenômeno de alteamento. Trata-se da variável que controla a natureza da vogal da sílaba seguinte à da pretônica travada por /S/, que permite observar o comportamento de todas as vogais do português brasileiro no condicionamento do processo. Na tabela abaixo, observa-se a atuação de cada vogal, a fim de verificar se os segmentos vocálicos de sílabas contíguas influenciam no pouco grau de alteamento aqui registrado. Tabela 60: Resultados percentuais obtidos para a variável natureza da vogal da sílaba seguin te Vogal Tônica Átona Aplicação total Porcentagem Aplicação total Porcentagem [a] m[o]strar, g[o]staria 0/32 0% 0/8 0% [e, o] g[o]stoso, [o]steoporose 0/17 0% 0/2 0% [, ] ap[o]stólico 0/5 0% [i] m[u]squito 2/2 100% 0/86 0% [u] c[u]stume, ac[u]stumado 21/25 84% 11/13 84,6% Viegas (1987) afirma acreditar na existência de duas regras para abordagem do fenômeno de alteamento: uma, aplicável às pretônicas anteriores, que consiste no processo de harmonização vocálica defendido por Bisol (1981); e outra, aplicável às pretônicas posteriores, que consiste no processo de redução vocálica proposto por Abaurre-Gnerre (1981). Segundo a autora, o alçamento de [e] ocorre com frequência quando este está seguido de vogal alta, diferentemente do que diz Abaurre-Gnerre (1981). Já no caso de alçamento de [o],

185 185 esta condição não é tão significativa, diferentemente do que diz Bisol (1981). A relevância ou não deste grupo de fatores deve ser averiguada: seriam dois processos diferentes, um para o [e] (harmonização vocálica) e outro para [o]? (p. 63). Nos dados de Nova Iguaçu, no entanto, verifica-se que as únicas vogais atingidas pelo alteamento são exatamente aquelas às quais se seguem vogais altas, sobretudo se forem homorgânicas à candidata à elevação. A vogal alta anterior [i], na palavra m[u]squito, leva categoricamente ao alteamento da pretônica posterior travada por /S/ quando tônica, ao passo que sua atonicidade inibe a atuação do processo em palavras como h[o]spitalar e diagn[o]sticar. A vogal alta posterior [u], por sua vez, independentemente de ser tônica (84%) ou átona (84,6%), favorece o alteamento da vogal posterior, como em c[u]stume, c[u]stuma, c[u]stumo, c[o]stumeiro e p[o]stura. Ao contrário do que afirma Bisol (1981), segundo a qual ambas as vogais altas anterior e posterior atuam como assimilador da regra de elevação de [o], os resultados aqui obtidos indicam que apenas a alta homorgânica [u] impulsiona a elevação da vogal média. A vogal médio-baixa, em ap[o]stólico, e as vogais médio-altas de palavras como enc[o]stei, [o]steoporose, pr[o]sperou e g[o]stoso, assim como a vogal baixa de vocábulos como desg[o]stando, enc[o]star, g[o]star e m[o]strando demonstram-se desfavorecedoras do processo de alteamento, de modo que se pode pensar na existência de um fenômeno de harmonia vocálica entre as pretônicas travadas por /S/ e a vogal alta homorgânica localizada em sílaba subsequente. A observação minuciosa dos dados, no entanto, indica que, ainda que se submetam ao condicionamento fonético, o condicionamento lexical se demonstra mais atuante, visto que os itens cujas vogais pretônicas se realizam pela variante alteada compõem o mesmo paradigma flexional e/ou derivacional: costume, costumar (e suas flexões), acostumar (e suas flexões), acostumado, acostumando. O grande questionamento que aqui se faz, portanto, é quanto a qual dos dois processos atua primeira ou mais fortemente no processo de alteamento. A presença de vogal alta em sílaba subsequente à da pretônica candidata à elevação favorece o alteamento da pretônica, mas, à semelhança do que propõe Oliveira (1991), é viável acreditar que este seja um dos casos em que o ambiente fonético demonstrou-se natural à aplicação do processo, permitindo que atingisse a regularidade. Para o autor, que defende que todas as mudanças sonoras são lexicalmente implementadas (p. 101), o processo de alteamento atingiria algumas palavras e não se aplicaria a outras. Posteriormente, tendo encontrado ambiente fonético natural, teria atingido regularidade, quebrando-se as barreiras lexicais da mudança sonora (p. 102). Pode-se

186 186 verificar, por assim dizer, que o condicionamento lexical atua em um momento incipiente da aplicação do processo, atingindo regularidade por encontrar, no contexto fonético-fonológico, um ambiente que impulsionasse a disseminação da variante alteada. Feitas essas considerações, dignas de nota para uma melhor compreensão da atuação do processo no âmbito das pretônicas posteriores travadas por consoante fricativa /S/, passe-se à exposição, de acordo com a ordem indicada pelo programa Goldvarb X, das variáveis selecionadas como relevantes para seu condicionamento Distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Enquanto Bisol (1981) afirma que a contiguidade é condição sine qua non para que se realize a harmonização vocálica, Lemle (1974) acredita ser imprescindível a presença de vogal alta tônica, ou com resquícios de tonicidade de outro vocábulo do paradigma. Os resultados até então obtidos para o município de Nova Iguaçu indicam, como afirmam Tenani & Silveira (2008: ), que, da mesma forma que a tonicidade sozinha não determina a aplicação da regra de harmonização [...], a contiguidade, por si só, também não é determinante. Tabela 61: Resultados obtidos para a variável distância entre a vogal-alvo e a vogal alta adjacente Vogal Distância da vogal alvo do processo Aplicação total Porcentagem Probabilidade Tônica Distância 1 Contígua c[u]stume, m[u]squito 23/28 82,1% 0.84 p[o]stura Átona Distância 1 Contígua ac[u]stumado 11/98 11,2% 0.38 c[o]stumeiro, h[o]spital, diagn[o]sticar Input: 0.55 Significância: Assim como nos demais contextos, e mesmo entre as anteriores, observa-se que a contiguidade e a tonicidade da vogal (82,1%) devem estar conjugadas para que se manifeste o processo de harmonização vocálica, encontrando-se neste contexto a probabilidade de 0.84 de aplicação do fenômeno em palavras como m[u]squito e c[u]stume. Quando a contiguidade se dá com outra vogal pretônica (11,2%), a probabilidade de aplicação do processo se reduz a 0.38, como se verifica em palavras como ac[u]stumado e c[o]stumeiro. Esse aspecto de interdependência de contiguidade e tonicidade parece indicar que as vogais átonas não apresentam força suficiente para desencadear o processo de assimilação do traço de altura, do mesmo modo que não possuem importância para a sua aplicação as vogais que não se encontram contíguas.

187 187 Observe-se que, dos 190 dados de que se compõe o corpus, 126 apresentaram vogal alta em sua estrutura e, ainda mais importante, que os 34 dados atingidos pelo processo de alteamento estão contemplados nesse contingente, o que indica que a presença de uma vogal alta é primordial para a aplicação da regra variável entre as pretônicas posteriores travadas por /S/. Corrobora-se, dessa forma, a hipótese de Carmo (2009), segundo a qual é notável a íntima relação entre o alteamento e a presença de vogal alta em sílaba seguinte à da pretônica candidata à elevação, dando-se a maioria dos casos quando há contexto propício à realização do processo, ou seja, quando há influência de vogal alta Classe gramatical Carmo (2009) afirma que as vogais pretônicas de verbos e de nomes não se comportam da mesma maneira com relação ao alteamento das pretônicas. Freitas (2001) argumenta que há classes de palavras que apresentam componentes morfológicos específicos, os quais podem favorecer ou desfavorecer a aplicação da regra variável de alteamento das vogais pretônicas, ao que se acrescenta a hipótese de Schwindt (2002) de que parece haver elevado nível de aplicação do processo de harmonização entre as vogais dos verbos e as dos sufixos verbais. Pereira (1997 apud FREITAS, 2001: 97) aponta os nomes como favorecedores do processo e os verbos como desfavorecedores, ao passo que Avelheda & Batista da Silveira (2011b) atestaram exatamente que os verbos são seus maiores favorecedores. Para Schwindt (2002), as vogais pretônicas dos nomes não assimilam o traço de altura das dos sufixos nominais, de modo que a assimilação fica mais restrita às vogais altas que se lhe seguem ainda em base lexical. Tabela 62: Resultados obtidos para a variável classe gramatical Aplicação total Porcentagem Probabilidade Nome Substantivos: m[u]squito, c[u]stume h[o]spital, p[o]stura, h[o]spitalar 13/110 11,8% 0.55 Adjetivos: ac[u]stumado g[o]stoso, c[o]stumeiro, ap[o]stólico Verbo em forma finita ac[u]stumei, c[u]stumo 18/56 32,1% 0.35 g[o]stava, m[o]strou, enc[o]stei Verbo em forma infinita ac[u]stumando, ac[u]stumar 3/24 12,5% 0.63 diagn[o]sticar, enc[o]star, m[o]strar Input: 0.55 Significância: 0.000

188 188 Conforme os resultados indicam, novamente são os verbos, dessa vez exclusivamente os em forma nominal (12,5%), que mais favorecem o alteamento, com 0.63 de probabilidade de aplicação do processo em palavras como ac[u]stumando, desg[o]star e m[o]strando. Os verbos flexionados (32,1%), com peso relativo de 0.35, desfavorecem a aplicação do processo nos itens c[u]stumam, m[o]strei, g[o]stava e diagn[o]sticou, ao passo que os nomes (11,8%), com peso relativo de 0.55, demonstram comportamento neutro, tendendo ao favorecimento do fenômeno em palavras como c[u]stume, m[u]squito, c[o]stumeiro e g[o]stoso. No entanto, verifique-se que os valores absolutos não demonstram o que o peso relativo indicia, visto que há apenas três verbos em forma nominal atingidos pelo processo de alteamento. Analisando-se a rodada multivariacionista, verifica-se a real distribuição desta variável: no primeiro nível, os verbos em forma finita eram os maiores favorecedores, com um peso relativo de 0.71, enquanto as formas nominais apresentavam peso relativo de 0.42; no segundo nível, ao se cruzar com a variável que controla a distância entre a vogal alvo e a próxima vogal alta mais adjacente, os verbos flexionados mantêm-se favorecedores, com um peso relativo de 0.64, mas as formas nominais passam a apresentar o peso relativo favorecedor de 0.84; no terceiro nível, por fim, tendo já sido selecionada a variável que controla a classe gramatical do vocábulo, ao se cruzar com a que controla o ponto de articulação da consoante subsequente, os verbos em forma finita deixam de ser favorecedores do alteamento, assumindo o peso relativo de 0.35, e as formas nominais passam a encabeçalo, apesar do pouco número de dados, com 0.63 de probabilidade de sua aplicação. Com base nessas informações, acredita-se que o aspecto fonológico seja mais relevante do que o morfológico, visto que o cruzamento da informação lexical com duas informações de ordem fonética faz com que os resultados sejam completamente invertidos, a ponto de se mostrar favorecedora uma subclasse que apresenta tão poucos casos de alteamento, por possuir todo o contexto fonético favorecedor a saber, consoante velar precedente e contiguidade com vogal alta tônica Ponto de articulação da consoante precedente Viegas (1987) afirma que a pretônica posterior precisa estar precedida por consoante para ser suscetível ao processo de alteamento. Bisol (1981) declara que a literatura fonológica não fornece muitas informações a respeito da elevação da vogal [o] em contexto de ausência de consoante de apoio. A observação empírica demonstra que o alteamento de [o] é mais frequente quando a vogal se encontra precedida por uma consoante que com ela mantenha

189 189 pontos de semelhança. Bisol (1981) argumenta que as consoantes velares, articuladas com o dorso da língua levantado, podem vir a favorecer o alteamento das pretônicas, visto serem produzidas por articulação semelhante à das vogais altas. Da mesma forma, as consoantes labiais, por partilharem com as vogais posteriores o traço de labialidade, tenderiam a favorecer o alteamento, visto ser a vogal [u] a mais arredondada de toda a série. Tabela 63: Resultados obtidos para a variável ponto de articulação da consoante precedente Aplicação total Porcentagem Probabilidade Labial [p, b, f, v, m] m[u]squito 1/19 5,3% 0.03 p[o]stura, m[o]strar, ap[o]stólico Velar [k, g] ac[u]stumar, ac[u]stumado, c[u]stume 33/83 39,8% 0.69 enc[o]star, g[o]stoso, g[o]star Input: 0.55 Significância: Nos dados aqui encontrados, todavia, apenas as consoantes velares (39,8%) mostraram-se favorecedoras do processo de alteamento, com um peso relativo de 0.69, em vocábulos como c[u]stume, ac[u]stumado, enc[o]stei, ao passo que a consoante labial (5,3%) atuou como fator que inibe o alteamento das pretônicas posteriores, com peso relativo de 0.03 e apenas uma ocorrência de alteamento, nomeadamente no vocábulo m[u]squito. Ao contrário do que acontece entre as sílabas livres, observou-se que as consoantes labiais não se demonstraram propiciadoras do processo, o que pode ser devido à acomodação articulatória. Sendo a fricativa /S/ produzida em espaço anterior do trato vocal, a aplicação da regra variável de alteamento não seria cômoda para a antecipação da articulação, visto que a vogal [u] é a mais posterior da série Conclusões parciais Se, na série anterior, o alteamento das pretônicas apresentou baixo valor percentual, a sua recorrência na série posterior foi ainda mais fraca. De um total de 5072 dados, 3686 (72,7%) dados mantiveram a variante média e apenas 1347 apresentaram realização variável da pretônica posterior, sendo 945 (18,6%) casos de alteamento propriamente dito e 402 (7,9%) casos de ditongação, variante que se registrou apenas entre as vogais travadas por elemento consonântico nasal. Os processos de alteração das médias pretônicas atingiram, no âmbito da série posterior, o input geral de 0.27 de aplicação do processo. No gráfico que se segue, observe-se o comportamento do fenômeno de acordo com a estrutura da sílaba em que se encontrava a vogal candidata à elevação:

190 190 Gráfico 16: Distribuição no corpus das pretônicas posteriores A distribuição do processo de alteamento pelos variados tipos de estrutura silábica permite que se estabeleça um continuum, com base nos valores de input da regra oferecidos pelo programa Goldvarb X, que constituem o nível geral de uso de determinada variante dentre as estabelecidas. No presente trabalho, o input determina o nível geral de uso da variante alteada. Figura 3: Continuum de alteamento das vogais médias pretônicas posteriores Ao contrário do que se verificou entre as pretônicas anteriores, que mostraram baixa ocorrência do processo quando em contexto de hiato, as posteriores, em contato com outra vogal, mostraram-se altamente favorecedoras do alteamento. Bisol (1981), em estudo do dialeto gaúcho, já demonstrava que o contexto de hiato é mais suscetível à atuação da regra variável de alçamento entre as pretônicas posteriores (80%) do que entre as anteriores (43%).

191 191 Segundo a autora, a elevação dessa vogal sobrepuja à da vogal [o] interna, de modo que se faz necessário separá-las. Verificando-se o continuum obtido a partir do input de aplicação da regra entre as vogais anteriores, e comparando-o com o aqui apresentado, percebe-se que há inversão entre os contextos que favorecem o alteamento na série anterior e os que o favorecem na série posterior. Se as anteriores travadas por /S/ são as que mais favorecem o alteamento, com input de 0.86, as posteriores nesse mesmo contexto são as que menos o favorecem, com input de Se as anteriores em contexto de hiato apresentam comportamento desfavorecedor, com input de 0.35, entre as posteriores é esse o contexto que mais favorece o processo, com input de As travadas por consoante nasal /N/, tanto na série anterior, com nível geral de 0.46 de uso da variante alteada, quanto na posterior, com nível de 0.48, apresentam comportamento neutro, sendo ligeiramente favoráveis à atuação do processo. No entanto, as vogais posteriores travadas por /N/ são atingidas majoritariamente pelo processo de ditongação, ao passo que as vogais anteriores não apresentam uso significativo da variante ditongada. Por fim, as vogais em sílaba livre favorecem a manutenção da variante médio-alta, tanto entre as anteriores, que apresentam um input de 0.15 de aplicação do alteamento, quanto entre as posteriores, que apresentam um índice de 0.21 de alteamento. Se, entre as pretônicas anteriores, parece não haver muita diferença entre os fatores que se demonstraram favorecedores para o condicionamento da aplicação do processo de alteamento, as posteriores parecem realmente apresentar comportamentos distintos dependendo da estrutura da sílaba em que se inserem e do elemento que as entrava. Com vistas a tornar mais facilmente visível esta diferença, expõe-se uma tabela que comporta as variáveis selecionadas nas análises isoladas, de cada contexto silábico, e na análise geral, com todos os ambientes estruturais.

192 192 Tabela 64: Resumo dos contextos favorecedores do alteamento de pretônicas posteriores Todos os contextos Input = 0.24 Significância = Estrutura silábica: Hiato (0.99) > Travamento por /N/ (0.63) Distância: Contiguidade com vogal alta tônica (0.86) Ponto de Articulação Consoante precedente: Velar (0.70) > Labial (0.66) > Pós-alveolar (0.60) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Labial (0.64) > Palatal (0.58) Grau de Escolaridade: Ensino Médio (0.62) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.57) Gênero do informante: Gênero Masculino (0.57) Classe gramatical: Verbo (0.57) > Forma nominal do verbo (0.56) Faixa etária: 1ª Faixa 25 ~ 35 anos (0.55) Sílabas livres Input = 0.21 Significância = Ponto de Articulação Consoante precedente: Velar (0.78) > Pós-alveolar (0.78) > Labial (0.74) Distância: Contiguidade com vogal alta tônica (0.83) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Labial (0.72) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.60) Classe gramatical: Verbo (0.68) > Forma nominal do verbo (0.56) Grau de escolaridade: Ensino Fundamental (0.59) Faixa etária: 3ª Faixa 56 ~ 75 anos (0.56) Hiato Input = 0.90 Significância = Vogal da sílaba seguinte: Baixa tônica (0.61) > Baixa átona (0.61) Gênero do informante: Gênero Masculino (0.78) Ponto de Articulação Consoante precedente: Pós-alveolar (0.66) > Alveolar (0.57) Travadas por /N/ Grau de Escolaridade: Ensino Médio (0.85) Faixa etária: 1ª Faixa (0.76) Gênero do informante: Gênero Masculino (0.71) Natureza da atonicidade: Pretônica permanente (0.53) Ponto de Articulação Consoante precedente: Labial (0.69) Ponto de Articulação Consoante subsequente: Pós-alveolar (0.93) > Labial (0.59) Travadas por /S/ Distância: Contiguidade com vogal tônica (0.84) Classe gramatical: Forma nominal do verbo (0.63) Ponto de Articulação Consoante precedente: Velar (0.69) Input = 0.45 Significância = Input = 0.55 Significância = A primeira diferença digna de nota é que, se as vogais em sílaba livre têm o seu alteamento favorecido pela consoante de ataque da sílaba subsequente, as vogais travadas por elemento consonântico fricativo /S/ não o têm, visto que, como há uma consoante em posição de travamento silábico, os traços da que ocupa a posição de ataque da sílaba seguinte parecem impassíveis de assimilação por parte da vogal candidata à elevação. Fundamentando-se na afirmação de Bisol (1981), segundo a qual o processo de harmonização vocálica não faz

193 193 saltos, tece-se a hipótese de que a redução vocálica, processo igualmente assimilatório, também não os realiza. Da mesma forma, se os verbos se demonstram favorecedores no que diz respeito às sílabas livres, entre as quais é comum que a elevação envolva todo o paradigma de verbos como comer, almoçar, chover e sossegar, já não atuam de maneira positiva para as pretônicas travadas por /S/, entre as quais o que parece influenciar o alteamento de um vocábulo como acostumar é a própria presença de vogal alta em sílaba subsequente. Assim também no que diz respeito às variáveis extralinguísticas: se os falantes pertencentes à primeira faixa etária e detentores de grau médio de escolaridade são os que mais realizam o alteamento das pretônicas travadas por /N/, que parecem ainda apresentar um pequeno teor de estigmatização, são os falantes da terceira faixa etária, detentores de nível fundamental de escolaridade, que mais alteiam as pretônicas desprovidas de travamento silábico, que já parecem não constituir objeto de estigma social. No âmbito das pretônicas posteriores, observa-se que o condicionamento lexical parece ser mais forte do que atestado entre a série anterior. Além de o alteamento se realizar mais especificamente em vocábulos que façam parte de um contexto informal de uso, é comum verificar o espraiamento do processo no interior de uma série paradigmática, o que constitui um caso prototípico de difusão lexical. Assim, o fato de vocábulos como comer, chover, almoçar e sossegar serem categoricamente atingidos pelo processo de elevação da pretônica posterior, ainda que não apresentem vogal alta em contexto subsequente ao da vogal candidata à variação, corrobora a hipótese de Oliveira (1991) de que toda mudança sonora se inicia por difusão lexical, podendo vir, posteriormente, a encontrar ambiente fonético natural para sua instalação e generalização. Quanto aos dois processos apresentados como reguladores do alteamento das médias pretônicas, observa-se que, assim como afirmara Viegas (1987), para quem a presença de vogal alta em sílaba subsequente não é tão significativa no caso das vogais posteriores, a redução vocálica realmente parece atuar de forma mais significativa na série posterior do que a harmonização vocálica. Com efeito, as variáveis que controlam as consoantes adjacentes à vogal candidata à elevação são selecionadas de forma mais sistemática do que a que controla a presença de uma vogal alta e a distância existente entre esta e a vogal alvo do processo. Por fim, é importante ressaltar que, ao contrário do que se observa entre as pretônicas anteriores, cujo alteamento demonstra caráter particularmente linguístico, as pretônicas posteriores parecem apresentar um caráter social, visto que a realização do processo se encontra fortemente relacionada com aspectos de ordem extralinguística, como gênero do

194 194 informante e faixa etária em que se insere, assim como grau de escolaridade. A conjugação desses fatores em alguns dos ambientes estruturais utilizados para estudo do processo de alteamento parece indicar que a elevação das pretônicas posteriores é mais estigmatizada do que a das anteriores, que já se apresenta mais disseminada pelo português brasileiro, ainda que ocorra em contexto fonético específico, chegando mesmo a constituir um processo inovador. Encerrada a análise sociolinguística, passa-se à análise acústica, que pretende avaliar o valor formântico das vogais alteadas e a sua relação com as altas subjacentes, e à análise lexical, que terá como foco algumas ocorrências de especialização semântica encontradas no corpus utilizado para a pesquisa. 6.3 Resultados da análise acústica das vogais pretônicas Em virtude da função precípua deste trabalho, de identificar com exatidão a variante utilizada em algumas palavras cuja análise meramente perceptiva não foi capaz de determinar, não houve uma preocupação clara com a obtenção de um maior número de dados. De igual modo, não houve preocupação em manter um equilíbrio no número de dados por informante, visto que a pretensão era apenas a de observar o comportamento acústico daquelas vogais que não apresentam uma variante perceptivamente clara. Utilizaram-se, portanto, apenas os 34 dados explicitados na seção anterior e produzidos por informantes distintos do município de Nova Iguaçu. Na tabela abaixo, explicitam-se a relação entre os dados submetidos à análise acústica e algumas informações sociolinguísticas dos informantes. Essa exposição faz-se necessária pelo fato de aqui, ao contrário de Orsini (1995) e Delgado-Martins (1973), em que se analisa, respectivamente, apenas a voz feminina ou a voz masculina, serem considerados, à semelhança de Machado (2010), tanto o sexo masculino quanto o feminino. Se, de acordo com Klatt & Klatt (1990), os homens têm uma laringe mais larga e um aparato vocal ligeiramente mais longo do que o das mulheres, o que gera alterações nas frequências formânticas, e, de acordo com Coleman (1971), os valores formânticos da voz feminina são mais altos que os da masculina, não seria conveniente considerá-los indiscriminadamente nem metodologicamente correto fazê-lo quando se sabe destas particularidades de cada gênero. Seguem-se, abaixo, as informações de ordem sociolinguística:

195 195 Tabela 65: Vogais anteriores para análise acústica e informações sociolinguísticas relevantes ACREDITAM Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental COMPETIU CONHECIA EDUCAÇÃO EMANCIPOU ENGENHEIRO MARECHAL MEDICAÇÃO MEDICAMENTO MEDIDAS PESSOAS PREFEITURA SEGREDO SERVIÇO Homem, Faixa 2 (35 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (50 Anos), Ensino Médio Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 3 (56 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 3 (60 Anos), Ensino Médio Tabela 66: Vogais posteriores para análise acústica e informações sociolinguísticas relevantes ACOMPANHADO Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior ACONTECER (2 oc.) ATROFIAR AUTORIDADES COMECEI CONJUNTO CONSCIÊNCIA CONSEGUE CONSIGO CONTEÚDO CORRETO CORRUPTO DOCUMENTO OBSERVAR PROCURAVA PROCURO (2 oc.) SOCIAL Homem, Faixa 3 (58 Anos), Ensino Fundamental Homem, Faixa 3 (58 Anos), Ensino Fundamental Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 3 (56 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 3 (56 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (50 Anos), Ensino Médio Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 3 (60 Anos), Ensino Médio Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 1 (29 Anos), Ensino Superior Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Mulher, Faixa 2 (42 Anos), Ensino Fundamental Homem, Faixa 3 (68 Anos), Ensino Superior Para Machado (2010), o espaço vocálico é um contínuo articulatório, acústico e auditivo no qual as vogais das mais diferentes línguas vão ocupar pontos específicos, sendo produzidas a partir dos diversos posicionamentos da língua e dos lábios. Ladefoged (1967) afirma que a qualidade vocálica é mais bem caracterizada em termos de suas dimensões

196 196 acústicas, mas acrescenta que a qualidade de um som não é determinada unicamente pelos valores formânticos obtidos através da análise acústica do som em questão, mas pela relação que se estabelece entre estes valores e os valores formânticos das outras vogais produzidas pelo mesmo falante (ORSINI, 1995: 26). Retomando-se os aspectos metodológicos que se fazem importantes para a análise acústica a ser empreendida, utilizam-se os valores de referência fornecidos por Catford (1988), que, baseando-se no diagrama das vogais cardeais de Daniel Jones (1980), realizou uma análise acústica por meio da qual obteve a média de suas frequências formânticas na voz masculina. Por meio dessa iniciativa, fez-se possível estabelecer um quadro de referência, que oferece um conhecimento prévio dos valores aproximados dos formantes para cada uma das vogais. Orsini (1995), visando ao preenchimento de uma lacuna, empreendeu análise de igual natureza a fim de observar a média das frequências formânticas das vogais cardeais na voz feminina. Na tabela abaixo, observam-se os referidos valores: Tabela 67: Valor médio de F1 e F2 para as Vogais Cardeais Valor médio de F1 e F2 para as vogais cardeais na voz masculina, segundo Catford (1988 apud ORSINI, 1995). Valor médio de F1 e F2 para as vogais da voz feminina em todos os contextos de tonicidade, segundo Orsini (1995 apud SANTOS, 2010). Na presente pesquisa, em que se pretende observar o espaço acústico ocupado pelas vogais altas derivadas do alteamento de vogais médias subjacentes, a fim de compará-lo com o espaço ocupado pelas vogais altas subjacentes, pôde-se avaliar e gerar a configuração do espaço acústico das vogais com base nos valores da pesquisa desenvolvida por Machado (2010), que traçou o espaço acústico de cada vogal pretônica tanto para informantes do sexo feminino quanto para os do sexo masculino. A partir de um corpus gravado em laboratório e constituído por 56 palavras e por meio da medição do primeiro e do segundo formantes, a autora buscou observar a existência de um padrão na distribuição das vogais e distinguir acusticamente as vogais altas subjacentes das geradas por atuação do processo de alteamento. Nesse empreendimento, atestou que [i] e [u] derivados das médias [e] e [o] subjacentes são sempre mais altos, apresentando valores

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