Utilização de plantas medicinais pela comunidade periférica do município de Ipameri - Goiás

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1 Utilização de plantas medicinais pela comunidade periférica do município de Ipameri - Goiás Wesley Costa Silva 1 (IC)*, Aparecido Alves Serafim Ferreira 1 (IC), Anne Silva Martins 1 (IC), Máira Beatriz Teixeira da Costa 1 (IC), Alcione da Silva Arruda (PQ). wesley.eng.agronomia@gmail.com 1 Universidade Estadual de Goiás Câmpus Ipameri, Rodovia GO-330, Km 241, Anel Viário, , Ipameri GO. Resumo: O uso de plantas medicinais tem se mostrado importante para a população brasileira. Estududos etnofarmacológicos auxiliam conhecer essas plantas medicinais em toda a sua amplitude, seus usos e significados. O presente estudo objetivou fazer o levantamento das espécies medicinais utilizadas pela população periférica do município de Ipameri GO. Foram selecionadas aleatoriamente dez vilas para aplicação de 80 questionários multidisciplinar com parâmetros etnobotânicos e farmacológicos, esses foram contabilizados e expostos em gráficos e tabela. As famílias botânicas mais citada foram a Lamiaceae e Asteraceae, e as espécies mais utilizadas são: erva-cidreira (Melissa officinalis), hortelã (Mentha spicata), poejo (Mentha pulegium), alecrim (Rosmarinus officinalis), boldo (Plectranthus barbatus), dentre demais. O comércio e plantio de plantas medicinais no município se apresentam como praticas viáveis, mediante a diversidade e a utilização de plantas medicinais em Ipameri. Palavras-chave: Etnobotânica. Etnofarmacologia. Levantamento. Comunidade. Introdução A etnobotânica estuda a interação de comunidades humanas com o reino vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica. Esses estudos são de grande importância na manutenção da cultura, além de combinar conhecimentos tradicionais e modernos, permitindo uma melhor investigação da flora e sua conservação e manejo sustentável (HAVERROTH, 2007). Estudos etnobotânicos são levantamentos executados em uma população a respeito de como essa comunidade conhece essa planta em toda a sua amplitude, seus usos e significados (SILVA, 2003). Esses estudos desempenham ainda um papel importante no desenvolvimento de medicamentos oriundo de material vegetal,

2 quando visam à recuperação da informação popular, do conhecimento empírico que, em todas as culturas e tradições, tem sido transmitido de geração em geração. O resgate dos conhecimentos sobre as plantas medicinais teve seu marco no séc. XVIII com o médico Carl Linneus, no continente europeu, que iniciou a história da etnobotânica, registrando em seus diários de viagem dados culturais dos locais que visitava e o modo como os povos faziam uso das plantas (ALMASSY JÚNIOR et al., 2010). No Brasil, os jesuítas encarregaram-se de catalogar, experimentar e empregar largamente as plantas medicinais brasileiras no séc. XVI (QUEIROZ, 1984). Atualmente observa-se um aumento na demanda pelas plantas medicinais para uso no preparo de medicamentos industrializados o que sugere que as indicações populares orientem as pesquisas dos princípios ativos e das plantas que mais se realizam consumo (ALMASSY JÚNIOR et al., 2010). Diante deste contexto, o presente trabalho objetivou realizar o estudo da etnofarmacologia da população de vilas do município de Ipameri GO. Material e Métodos A pesquisa foi realizada nos meses de junho e julho de 2016 no município de Ipameri Goiás. O município se encontra na mesorregião Sul Goiana e microrregião de Catalão, tendo ainda como municípios limítrofe Caldas Novas, Campo Alegre, Catalão, Cristalina, Goiandira, Luziânia, Orizona, Paracatu, Pires do Rio, entre outros. Ipameri é uma cidade antiga, com fundação no ano de 1870, isso torna o município um berço cultural, que possui ainda forte vocação agrícola e com uma população nativa tradicional que ainda hoje pratica costumes que foram herdados de seus antepassados. Foram aplicados oitenta questionários estruturados com questões, em relação ao uso e consumo de plantas medicinais dessa população, de forma a atender as argumentações e discussões cabíveis no presente trabalho. Os questionários foram aplicados em dez vilas escolhidas aleatoriamente, e cada vila teve oito questionários aplicados em casa escolhidas também de forma aleatória. Os questionários foram aplicados pelos acadêmicos do grupo de pesquisa Biogen Cerrado da UEG Câmpus Ipameri, as informações foram abstraídas, contabilizadas e expostas em quadro e gráficos para interpretação. A identificação taxonômica foi feita de acordo

3 com suas características morfológicas vegetativas e reprodutivas, utilizando manual técnico de LORENZI e MATOS (2008). Resultados e Discussão Das 80 famílias entrevistadas, apenas uma disse não utilizar plantas medicinais. Estas que fazem o uso de espécies medicinais, citaram o uso diversificados de plantas medicinais, chegando a um total de 34 famílias botânicas citadas, se destacando como as mais utilizadas a família Lamiaceae (41,32%) e a Asteraceae (16,47%). As espécies mais utilizadas pela população ipamerina foram: erva-cidreira (Melissa officinalis), hortelã (Mentha spicata), poejo (Mentha pulegium), alecrim (Rosmarinus officinalis), boldo (Plectranthus barbatus), sabugueiro (Sambucus nigra), funcho (Foeniculum vulgare), canela (Cinnamomum zeylanicum), erva-santa-maria (Chenopodium ambrosioides) e camomila (Chamomilla recutita), todas com 10 a 35 citação respectivamente (Quadro 1). Quadro 1: Lista de nomes comuns, nomes científicos e famílias botânicas das espécies de plantas medicinais citadas no levantamento realizado nas áreas periféricas de Ipameri GO. Nome comum Nome científico Família botânica Hortelã Mentha spicata Lamiaceae Poejo Mentha pulegium Lamiaceae Alfavaca Ocimum campechianum Lamiaceae Erva-cidreira Melissa officinalis Lamiaceae Boldo Plectranthus barbatus Lamiaceae Alecrim Rosmarinus officinalis Lamiaceae Orégano Origanum vulgare Lamiaceae Sálvia Salvia officinalis Lamiaceae Manjericão Ocimum basilicum Lamiaceae Alfazema Lavandula officinalis Lamiaceae Hortelã-gorda Coleus amboinicus Lamiaceae Camomila Chamomilla recutita Asteraceae Carqueja Baccharis trimera Asteraceae Losna Artemisia absinthium Asteraceae Mentrasto Ageratum conyzoides Asteraceae Guáco Mikania glomerata Asteraceae Arnica Solidago microgrossa Asteraceae Assa-peixe Vernonia polyanthes Asteraceae Marcelinha Achyrocline satureioides Asteraceae Sucupira Bowdichia virgilioides Fabaceae Barbatimão Stryphnodendron barbatiman Fabaceae Chapadinha Acosmium subelegans Fabaceae Fedegoso Cassia occidentalis Fabaceae Canela Cinnamomum zeylanicum Lauraceae Continua...

4 ...Continuação Canfora Cinnamomum camphora Lauraceae Abacateiro Persea americana Lauraceae Arruda Ruta graveolens Rutaceae Laranjeira Citrus sinensis Rutaceae Fumo Nicotiana tabacum Solanaceae Panacéia Solanum cernuum Solanaceae Funcho Foeniculum vulgare Apiaceae Coentro Coriandrum sativum Apiaceae Quiabo Abelmoschus esculentus Malvaceae Algodoeiro Gossypium hirsutum Malvaceae Capim-cidreira Cymbopogon citratus Poaceae Milho Zea mays Poaceae Cana-de-macaco Costus spicatus Costaceae Quina Quassia amara Simaroubaceae Quebra-pedra Phyllanthus niruri Euphorbiaceae Sabugueiro Sambucus nigra Caprifoliaceae Mamacadela Brosimum guadichaudii Moraceae Algodãozinho Asclepias curassavica Asclepidaceae Douradinha Waltheria douradinha Sterculiaceae Gengibre Zingiber officinale Zingiberiaceae Pé-de-perdiz Fumaria officinalis Papaveraceae Rui-barbo Rheum tanguticum Polygonaceae Confrei Symphytum officinale Boraginaceae Erva-santa-maria Chenopodium ambrosioides Chenopodiaceae Casca-sagrada Rhamnus purshiana Rhamnaceae Romã Punica granatum Punicaceae Balsamo Cotyledon orbiculata Crassulaceae Babosa Aloe vera Liliaceae Nõne Morinda citrifolia Rubiaceae Tanchagem Plantago major Plantaginaceae Mamoeiro Carica papaya Caricaceae Amora Rubus brasiliensis Rosaceae Abobora Cucurbita pepo Curcubitaceae Manga Mangifera indica Anacardiaceae Pacari Lafoensia pacari Lythraceae Sumaré Cyrtopodium punctatum Orchidaceae Cravo Syzygium aromaticum Myrtaceae Em estudos etnobotânicos também em Ipameri, ZUCCHI et al encontrou resultados semelhantes, todavia a ordem e número de citações de algumas espécies se mostram diferentes, tendo algumas das espécies mais utilizadas incomum com o estudo em questão. A forma de obtenção dessas plantas medicinais pela população são basicamente três, ou são cultivadas, doadas ou plantadas (figura 1 - A), sendo na grande maioria as espécies mais usadas, plantadas no quintal da própria família ou de conhecidos e parentes (SILVA e SOUZA, 2007).

5 A B Figura 1: A Porcentual da procedência das plantas medicinais utilizadas pela população entrevistada; B Porcentual das partes das plantas utilizadas. Nos preparos medicinais, as partes das plantas mais utilizadas são as folhas, casca e flores (figura 1 B), resultados esses similares ao encontrado por ZUCCHI et al. 2013, onde o uso da raiz ficou em segundo no lugar da casca. A parte utilizada e dependente da espécie em uso e a forma de obtenção do preparado, tendo plantas em que todas as suas partes podem ser utilizadas para usufruir das propriedades medicinais (FREITAS et al. 2012). Em relação a forma de obtenção dos conhecimentos em plantas medicinais, boa parte dos entrevistados alegaram ter seus conhecimentos obtidos de parentes, de forma geral. Todavia alguns especificaram quais parentes e alegaram adquirir também através de conhecidos e diferentes formatos de mídias (figura 2 - A), buscando sempre tirar suas dúvidas antes de realizar o uso da planta. A B Figura 2: A Porcentual de forma que as pessoas adquiriram seus conhecimentos em plantas medicinais; B Porcentual de forma de uso das plantas medicinais pelos entrevistados.

6 As formas de preparo das plantas medicinais são variáveis, e depende, tanto da espécie em questão, quanto do male a ser tratado (ARAÚJO et al. 2014). Boa parte dos preparados medicinais são feitos por decocção ou por infusão, seguido pelo consumo e preparo in natura (figura 2 B), essas formas de uso foram encontradas nas entrevistas de SILVA e SOUZA, 2007 e SILVA et al Deste modo, nota-se que o consumo de plantas medicinais é verídico e uma realidade da comunidade ipamerina. Diante disto, pequenos produtores e cinturõesverdes do município poderiam aproveitar esses nicho de mercado e complementarem suas rendas, e trazendo ainda a comunidade, a oportunidade e variedades de compra e consumo de plantas medicinais. Segundo NAIVERTH e FARIA (2007), existe uma tendência de produção dessas plantas por pequenos agricultores, sendo uma boa alternativa a formação de pequenas cooperativas, aliando-se os conhecimentos empíricos diversos e também plantas diferentes. Conclusão A comunidade ipamerina, mesmo nas áreas periféricas têm o hábito de utilizarem plantas medicinais. A obtenção dessas plantas utilizadas e dos conhecimentos no uso delas, são bastante variáveis. As famílias botânicas mais utilizadas são as Lamiaceae e Asteraceae, e as espécies de plantas medicinais mais utilizadas são a erva-cidreira (Melissa officinalis), hortelã (Mentha spicata), poejo (Mentha pulegium), alecrim (Rosmarinus officinalis), boldo (Plectranthus barbatus), dentre outras. O consumo de plantas medicinais no município é diversificado e se mostra como uma oportunidade para comerciantes e agricultores na produção e comercialização de plantas medicinais. Referências ALMASSY JÚNIOR, A. A.; SILVA, A. F.; FONSECA, M. C. M. Conhecimento tradicional do uso medicinal das plantas. Informe Agropecuário, v. 31, n. 255, p , 2010.

7 ARAÚJO, C. R. F. de.; SILVA, A. B.; TAVARES, E. C.; COSTA, E. P. da.; MARIZ, S. R. Perfil e prevalência de uso de plantas medicinais em uma unidade básica de saúde da família em Campina Grande, Paraíba, Brasil. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 35, n. 2, p , FREITAS, A. V. L.; COELHO, M. de B. C.; MAIA, S. S. S.; AZEVEDO, R. A. B. de. Plantas medicinais: um estudo etnobotânico nos quintais do Sítio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, v. 10, n. 1, p HAVERROTH, M. Etnobotânica, uso e classificação dos vegetais pelos Kaingang Terra Indígena Xapecó. Recife: NUPEEA/Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Plantarum, p.544, NAIVERTH, J.A.; FARIA, C.M.D. Cultivo de Plantas Medicinais como Alternativa de Renda para Agricultores Familiares do Município de Candói - PR. Revista Eletrônica Lato Sensu, p.27-32, SILVA, J.O.; SOUZA, P.S. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais utilizadas pela população da Vila Canaã, região sudeste, Goiânia, Goiás. Ciência Agrotécnica, v.32, p.87-88, SILVA, V. A. da. Etnobotânica dos índios Fulni-ô (Pernambuco, Nordeste do Brasil). Tese (Doutorado em Biologia Vegetal). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, f. SILVA, V.; S.; RIBEIRO, J. R. de S.; ALVES, T. Uso e diversidade de plantas medicinais na Comunidade de Curuperé, Município de Curuçá PA. Cadernos de Agroecologia, v. 8, n. 2, p

8 QUEIROZ, M. S. Curandeiros do mato, curandeiros da cidade e médicos: um estudo antropológico dos especialistas em tratamentos de doenças na região do Iguape. Ciência e Cultura, v. 32, n. 1, p ZUCCHI, M. R.; OLIVEIRA JÚNIOR, V. F.; GUSSONI, M. A.; SILVA, M. B.; SILVA, F. C.; MARQUES, N. E. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais na cidade de Ipameri GO. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 15, n. 2, p