Inscrevi-me na prova dos 49K do EGT, por já ter feito a prova dos 26K, em 2016, e ter gostado muito!

Transcrição

1 Inscrevi-me na prova dos 49K do EGT, por já ter feito a prova dos 26K, em 2016, e ter gostado muito! Chegada a Manteigas ponto de partida e chegada de todas as provas, bem como o local onde está sediado o secretariado na véspera da prova, num dia de autêntico verão: bom presságio! No dia da prova, ainda tenho a companhia (durante cerca 15 minutos) dos 2 atletas do Clube que vão fazer a prova dos 26K: Vanda e Luís. Desejos recíprocos de uma boa prova e, pouco depois às 08h00m em ponto - dá-se a partida da prova dos 49K. Estando Manteigas localizada num vale, o percurso só podia ser mesmo a subir. Mais de 6K sempre, sempre a subir. Nada que eu não estivesse à espera porque o percurso destas 2 provas coincide até por volta dos 12/13K, até à fenda da Nave Mestra. A única diferença é que os

2 atletas dos 26K tinham 3 horas para chegar ao 1º abastecimento localizado no Vale do Rossim e os atletas dos 49K tinham apenas 1 hora e 45 minutos. Há que dar corda aos sapatos e garantir que não era barrada logo no início da prova. O que consegui: cheguei ao abastecimento 3 minutinhos antes do tempo limite ufa! O único ponto negativo até aqui foi a paisagem, já perto do Vale do Rossim, que foi muito afetada pelos fogos do ano anterior. Felizmente, não voltámos a ver esta paisagem no restante percurso. A partir daqui foi um alternar entre algumas subidas e planos, até à Nave Mestra. A cerca de 1K da fenda da Nave Mestra, o Hélio Fumo teve o desplante de passar por mim, fresquinho que nem uma alface!!! Para quem não sabe, este atleta faz parte da Seleção Nacional de Trail, esteve a participar no Campeonato do Mundo na Ultra de Penyagolosa de 85K no fim de semana anterior, e começou a prova dos 26K 1 hora e meia depois de mim! E, não foi por acaso que foi o justo vencedor da prova dos 26K. Só tive pena de não o ver a fazer a descida da fenda deve ter ido a voar! Passada a fenda, a prova dos 26K virava à esquerda, e a dos 49K à direita em direção à Torre. Este percurso até à Torre foi o mais divertido, com cerca de uns 20 troços alguns de apenas 100 metros, e outros com mais de 700 metros em cima da neve. Nunca tinha feito uma prova na neve. Gostei muito da experiência, apesar de escorregar imenso por não ter ténis apropriados para este piso.

3 Aos 20K surge o 2º abastecimento este, só de líquidos onde já estão alguns atletas que desistiram. A partir daqui, o número de atletas desistentes em cada abastecimento aumentava. Foi pena, porque me empurraram para o fim da tabela classificativa! Já uma pessoa não pode contar com os outros para brilhar tem mesmo de treinar, treinar, treinar é uma canseira! Após o penúltimo troço na neve, uns 100 metros à frente, e lá está o abastecimento da Torre. A entrada no abastecimento - com direito a pórtico e tudo é feita em cima de mais de meio metro de neve. Aqui estava instalada a 2ª barreira horária, onde consegui chegar com 49 minutos de folga. Estava rapidíssima!!! Abastecimento este, ainda mais recheado que os restantes: fruta, tostas, batatas, doces, salgados, massa com carne, canja uma maravilha! Aqui encontramos uma série de atletas da prova dos 109K (prova que começou às 00h00m), que irão fazer o mesmo percurso que nós durante os próximos 16K (só que eles chegaram à Torre com 59K de prova, e nós com 24K uma ligeiríssima diferença!).

4 Gostei desta coincidência, porque permitiu o convívio e motivação mútua dos atletas de ambas as provas. É sempre um orgulho poder ter a companhia, nem que seja por uns breves minutos, de atletas que certamente estão muito mais bem preparados que nós. Ainda não tinha chegado há mais de 2 minutos ao abastecimento da Torre e já estava à conversa com um atleta dos 109K. Ele tinha feito a prova dos 49K no ano anterior, e chamou-me a atenção para uma descida um pouco chata e difícil que eu iria ter uns kms mais à frente. Tirando isso, era um percurso muito bonito. Acreditei nele, mas fiquei com curiosidade em perceber qual o conceito dele de chata Duas tijelas de canja depois, saio do abastecimento da Torre: 200 metros em plano e, começa uma descida. O último troço de neve, este com quase 1K numa descida a pique! Do melhor para cair foram mais de 4 quedas na neve e não foi pior porque, felizmente, resolvi levar os bastões! No fim desta descida devo ter batido o meu recorde naqueles 500 metros de alcatrão, a tentar descongelar os pés. Surge uma curva, com um raid protector na estrada, mas onde estão as marcações? É pá, as marcações fugiram em direção à ravina, do lado de fora dos raids!!! Bom, lá tenho de seguir as fitas, não é? Neste ponto, finalmente, percebi o conceito de descida chata do atleta dos 109K: trilho muito estreito, em cima de pedras grandes, a maior parte delas soltas, com uma ravina do lado direito. Nem olhei bem para o que se passava do lado direito do trilho, porque esta coisa das vertigens não mo permitia. O melhor mesmo é olhar para onde ponho os pés, e seguir em frente! Uns 2/3K mais à frente, e finalmente chegamos ao Vale Glaciar e Nave de Santo António. Há que recuperar o fôlego, para atacar os últimos 17K da prova. A pouco menos de 1K do abastecimento dos 33K, e depois de ultrapassar um grupo de meia dúzia de atletas dos 109K, eis que surge um atleta ao meu lado. Informame que é um dos 3 Vassouras (juntamente com a Filipa Vilar, atleta do Clube Millennium bcp), e que todos os atletas dos 49K que estavam mais atrasados, já tinham desistido. Bolas! Agora é que fui mesmo para o fundo da tabela classificativa Para me motivar ainda mais, o Vassoura disse-me que aquele pico que via lá bem acima (estávamos mesmo no fundo do vale), era para onde teria de ir. A famosa subida dos Poios Brancos. Chegada ao abastecimento dos 33K resolvi colar-me ao atleta dos 109K que por lá já se encontrava. Ele saiu, e eu fui atrás! Depois da interminável subida, em que consegui deixar para trás não só os Vassouras como também o atleta dos 109K, surge um estradão revigorante. Chegada ao último abastecimento, aos 38K, e encontro uns quantos atletas dos 49 e 109K. Informei os atletas que eu era a última atleta dos 49K, e assim pretendia continuar (sim, porque o prémio de última classificada não é um prémio qualquer!). Como tal, eles que se despachassem! Abasteci-me nas calmas, troquei 2 dedos de conversa com alguns atletas dos 109K, recusei a oferta de um dorsal dos 109K, e lá fui! Uns 2K mais à frente, e passei um grupo de 3 atletas dos 49K. Um deles, que era a 5ª vez que estava a fazer esta prova, alertou-me para o empeno que iria ter pela frente, chamado Poço do Inferno. A parte da subida não é tão extensa como a dos Poios Brancos, mas é mais perigosa. Boas notícias Por alguma razão se chama Poço: desce, desce, desce e depois sobe, sobe, sobe! Há que ter muito cuidado onde se põe os pés porque a área disponível para tal não abunda, nem se pode dizer que tenha muita estabilidade. Olhar para o lado direito, nem pensar! Muito verdejante, mas uma Senhora Ravina (ai as vertigens ).

5 Assim que começou a subida, dou com o Telmo Dourado (mais um atleta de topo que por lá se estava a divertir) a segurar uma GoPro na minha direção e a fazer-me uma entrevista!!! Eu, a tentar descobrir onde devia pôr os pés e a tentar respirar ao mesmo tempo, e ainda tinha de pensar o que é que lhe havia de responder Esta confusão para mim continuou por cerca de 5 minutos, com o Telmo feliz e contente, sem qualquer sinal de cansaço, a trepar por ali acima ao mesmo tempo que me filmava e me entrevistava (suspeito que não tenha sido a única atleta a ser entrevistada). Será que esta malta não tem maneira de se cansar??? Finda a subida/empeno, o trilho acalmou reduzindo significativamente a inclinação, até que finalmente começou a descida de 6K para Manteigas, antes da subida de 1K para a meta. Começando a descida final, a moral elevou-se significativamente e a única dúvida que persistia era se ainda tinha direito à camisola de finisher (que o rapaz da organização quando fui levantar o dorsal me disse que tinha de acabar a prova, porque era muito bonita e valia a pena!). Só me tinha esquecido que a meta (no mesmo local da partida) estava instalada mesmo a meio da vila, o mesmo que dizer que para lá chegar, tinha de subir 1K! Mas, há que dar corda aos sapatos/ténis e não parar até atravessar o pórtico em forma de estrela. Dois passos mais à frente e, lá está o Armando Teixeira (para quem não sabe é ele que organiza a prova, para além de ser mais um atleta de topo do trail nacional), com quem dou dois dedos de conversa, após o que me dirijo ao local da organização da prova para receber a minha camisola. Afinal, o fornecedor enganou-se no envio dos tamanhos corretos das camisolas, e não havia o meu tamanho. A organização prometeu o envio da dita cuja por correio. Vou aguardar, com expectativa! A seguir, uma bela de uma refeição completa sopa, prato (vários, na realidade), salada, bebida e até café fornecida pela organização, um banho morno e respirar de alívio por ter conseguido alcançar mais um objetivo! Estrela Orion Belt 49K (terminaram a prova 313 atletas):