Elis Jabbour: O social e o desenvolvimento, breves comentários
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- Milena Molinari Farias
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1 Vermelho.org, 23 de março de 2018 Elis Jabbour: O social e o desenvolvimento, breves comentários Formar uma nova maioria política em torno de nossas convicções e de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é o eixo principal que nos permitirá superar o entulho institucional da ordem neoliberal Encontrei Pedro Rossi, na última vez, no 45º Encontro Nacional de Economia (ANPEC) ocorrido em dezembro na cidade de Natal. Ele é um amigo que as lutas política e de ideias me deu a honra de ganhar. Jovem e brilhante professor do Instituto de Economia da Unicamp. Sabendo de meu desenvolvimentismo quase fanático, nunca me esqueço de uma frase que ele me disse em nossa despedida, a esquerda precisa mudar sua visão de desenvolvimento e industrialização. Tive certeza na hora de que não se tratava de uma brincadeira e provocação. Eram ideias sendo gestadas.
2 Sabia que algo de novo estava por vir e veio. Trouxe junto outros amigos em comum comigo, como Esther Dweck, Guilherme Mello e Eduardo Fagnani. Marco Antonio Rocha e Rodrigo Teixeira fecharam a equipe. Entregaram à sociedade um denso documento de 86 páginas do Projeto Brasil Popular. O núcleo da agenda que apresentam está na elaboração e execução de um projeto de desenvolvimento onde seu leitmotiv seria tanto a distribuição de renda quanto os investimentos sociais. Sugerem eixos de ação, como por exemplo: (...) políticas públicas em torno dos seguintes setores: mobilidade urbana, saneamento básico, tecnologia verde, habitação popular, saúde em particular a cadeia produtiva em torno do SUS e a educação, além de outros eixos voltados para as especificidades regionais como desenvolvimento das atividades agropecuárias do semiárido, desenvolvimento sustentável da Amazônia (incluindo a expansão do mapeamento do genoma da região amazônica), entre outros a serem elencados (...). Tenho concordância com o conteúdo do documento e elogio a ousadia intelectual, algo cada vez mais incomum numa academia que deixou de formar pensadores voltados a desenvolver as chamadas grandes narrativas. Nação e Projeto Nacional são duas grandes narrativas quase que abandonadas, inclusive por boa parte de nossos economistas heterodoxos, que muitas vezes passam a impressão de serem norte-americanos comentando as coisas do Brasil. Não é o caso de Pedro Rossi e os demais participantes do projeto, mas é sempre bom lembrar que as mazelas de um determinado povo, como o nosso, não serão superadas sem que consigamos formar maioria em torno de um Projeto Nacional. Nossas gritantes desigualdades sociais são fruto de uma via prussiana a la brasileira, ou seja, nos industrializamos sem prévia reforma agrária o que explica os ciclos de barbárie que o país vive desde a década de E completo meu raciocínio - e polemizo - dizendo que a
3 desigualdade foi um dos preços pagos por nosso brilhante processo de industrialização: saímos da Idade Média e entramos na Idade Contemporânea em 50 anos, algo que a Europa demorou ao menos 600 para fazer. O maior problema do Brasil não é a desigualdade. Nossa maior questão é falta de direção e rumo. Eis o x da questão. Historicizar o nosso processo pretérito é fundamental para entender que o Brasil foi o país mais dinâmico do mundo capitalista entre 1930 e Chamo esse dado à conversa para desabafar sobre a onda de pessimismo e vergonha do Brasil: está em marcha uma tentativa de destruição de nossa autoestima nacional a partir da desconstrução de nossa história. Não é incomum ouvir afirmações do tipo: afinal tudo aqui deu errado ; um pais com passado escravista e patriarcal não pode ter presente muito menos futuro, o desenvolvimento não é uma bandeira de esquerda e a nação como objeto de análise já não reúne sentido, "é ultrapassado. Um projeto de desenvolvimento deve ser a negação desta narrativa que povoa inclusive parcelas grandes da esquerda. Devemos nos orgulhar desta espetacular e única construção histórica. Não se trata de negar as violências contra os nossos povos originários e os negros. Ao contrário. Não faço do desenvolvimento uma ideia romântica, regada de pães e vinhos. Um estado de equilíbrio e bem estar. Aqui e alhures o processo de desenvolvimento é difícil, dolorido e coberto de provações, decepções e de mil inquietações. O processo histórico do desenvolvimento é duro para seus filhos que, como nós, precisamos aprender e gostar da luta e da instabilidade. Em resumo, o desenvolvimento nada mais é do que uma espiral onde não se salta de um ponto de equilíbrio a outro (visão cara aos nossos estruturalistascepalinos) e sim de desequilíbrio em desequilíbrio. O documento nesse sentido peca pela falta de uma visão mais global e nacional. Por exemplo, em um mundo onde o ritmo do processo de fusões e aquisições
4 denuncia um estágio em que as nações se movem em torno da proteção de seus capitais. Qual a posição do Brasil num mundo com estas características? Construiremos um capitalismo sem monopólios nacionais? Uma colônia não tem força para enfrentar seus problemas nesse mundo onde a guerra de capitais é a marca principal do momento. O investimento é a peça-chave fundamental a qualquer projeto que intente em melhorar o esquema de distribuição de renda. O ato de investir implica na conversão de uma grande renda em uma miríade de pequenas rendas. Mas vejamos, novamente historicamente. No início de nosso processo de industrialização, quando o chamado Departamento 1 da economia ainda tinha caráter pré-industrial, o multiplicador de emprego via investimento era imenso. Hoje a questão muda de forma, mas não de conteúdo. O seio da contradição principal não está mais no campo, o foco do problema central está nas cidades e na solução dos problemas de infraestrutura urbana. O documento aponta corretamente nesta direção e na questão do financiamento. Mas pouco diz sobre o reordenamento dos marcos institucionais capazes de abrir um ciclo de expansão. Para se alcançar os objetivos elencados no documento, teremos de investir mais, muito mais do que antes. E para isso todo um aparelho de intermediação financeira deverá ser remontado, ampliado e voltado a grandes objetivos. Evidente que muitos preconceitos deverão ser superados, principalmente aqueles relacionados às grandes obras de infraestrutura. Afinal, não é verdade que o limite do capital é o próprio capital? Não existe política de desenvolvimento regional sem conexão entre o particular e o geral, ou seja, políticas regionais em um país do tamanho do Brasil são sinônimo de inauguração de novas e superiores formas de divisão social do trabalho e unificação do mercado interno. Imensas obras de infraestruturas estão na ordem natural dos acontecimentos. Não nos esqueçamos do potencial em torno da cadeia produtiva do petróleo!
5 Formar uma nova maioria política em torno de nossas convicções e de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é o eixo principal que nos permitirá superar o entulho institucional da ordem neoliberal. Grandes objetivos para um grande e profundamente desigual país como o Brasil demandam proscrever vulgatas do tipo metas de inflação, Banco Central com uma única missão etc etc. Teria muito a dizer ainda, por exemplo, sobre o imperioso da planificação de nosso comércio exterior, a formação de nossos oligopólios etc. Fica para uma outra oportunidade. Acho que vocês, parafraseando a epigrafe, estão certos no fundamental. O próximo passo é acreditar no Brasil. *Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ). Membro do Comitê Central do PCdoB
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