LEI DE DROGAS Parte I. Aula 6
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- Aurélio Peres Marreiro
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1 LEI DE DROGAS Parte I Aula 6
2 INTRODUÇÃO A Lei n , sancionada em 23 de agosto de 2006, é a atual Lei de Drogas. A lei antecedente /2002, que tratava do tema, foi expressamente revogada. No âmbito criminal, as principais inovações foram o tratamento diferenciado em relação ao usuário, a tipificação de crime específico para a cessão de pequena quantia de droga para consumo conjunto, o agravamento da pena do tráfico, a criação da figura do tráfico privilegiado, a tipificação do crime de financiamento ao tráfico, bem como a regulamentação de novo rito processual.
3 NOMENCLATURA Substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, que a atual lei chama, singelamente, de droga. É necessário que exista capitulação (em lei ou normas infralegais) do princípio ativo componente da droga e que sua existência seja constatada por exame químico-toxicológico. A legislação não mais utiliza os termos su st ia e torpe e te ou su st ia toxi ológi a, não obstante a lei ainda ser conhecida como Lei Anti-Tóxicos ou Lei de Tóxicos.
4 ARTIGO 28 Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. [...] Objetividade jurídica - saúde pública (bem jurídico aparente?) Descriminalização ou Despenalização? Natureza Jurídica A Lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime. O próprio procedimento estabelecido, junto ao Juizado Especial Criminal, também leva a essa conclusão. Não se aceita a tese de que o fato não é mais considerado infração penal, apenas porque a Lei não prevê pena privativa de liberdade em abstrato. Assim, o que houve com o advento da Lei foi uma despenalização das sanções clássicas, mas não a descriminalização completa. Não ocorre o abolitio criminis com a despenalização!
5 São incriminadas cinco condutas: a) adquirir: obter a propriedade, a título oneroso ou gratuito. O mais comum, entretanto, é a compra; b) trazer consigo: é sinônimo de portar, conduzir pessoalmente a droga; c) guardar e ter em depósito: é manter a droga em algum local; d) transportar: conduzir de um local para outro em algum meio de transporte. Uso Pretérito de Droga - é atípico. caso um exame de sangue ou de urina constate que alguém usou droga, ou, ainda, se ele confessar ter feito uso de entorpecente em determinada oportunidade, não responderá pelo delito. A lei pune apenas o perigo social representado pela detenção atual da substância, que deixa de existir quando ela já foi consumida.
6 Elemento subjetivo do tipo O art. 28 exige que a droga seja exclusivamente para uso do agente (consumo próprio). Se a intenção do agente é a entrega ao consumo de outrem, configura-se o tráfico. Critérios para determinação do consumo pessoal: Art 28, 2º - o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente a) Natureza e quantidade da substância determinadas drogas com princípio ativo mais brando admitem que sejam portadas em maior quantidade (maconha, haxixe, lança perfume, cola de sapateiro), enquanto para as mais fortes poucas porções configuram o art 28 (cocaína, crack, oxi, lsd e outras sintéticas).
7 b) Local Se o local é conhecido ponto de tráfico de drogas, a presunção para o tráfico ganha mais valor, enquanto que em locais e horários atípicos ou propícios para consumo tendem à configuração do art 28 (arredores de universidade, repúblicas, interior de veículos). c) Condições em que se desenvolveu a ação O tráfico de drogas possui um odus opera di bastante específico. Se a presença destes indicadores típicos estiverem presentes, tornase mais difícil desclassificar o 33 para o 28. Ex: dinheiro fracionado na posse do agente, mensagens de negociação no celular, encontro da droga em local próximo ao ponto, presença de outros objetos como embalagens, balanças de precisão, eppendorfs, lâminas para fracionamento do entorpecente, acondicionamento individual da droga, desproporção entre a profissão do agente e o dinheiro/objetos encontrados em sua posse, cadernos contendo anotações alusivas à contabilidade, etc.
8 d) Conduta/Antecedentes do Agente Os antecedentes do réu, principalmente os específicos relacionados aos crimes de drogas, representam fortes indicativos do tráfico. Com relação a conduta, ela pode ser segmentada em duas vertentes: a) as condições pessoais pretéritas do agente - são as circunstâncias econômico-financeiras, sociais, conhecido envolvimento com a criminalidade, existência ou inexistência de ocupação lícita e residência fixa. Também se o réu é usuário contumaz de entorpecente. b) a conduta propriamente dita relaciona ao delito - são as práticas flagradas no momento da ação. Ex: se o agente permanecia por algum tempo no local, se foi visto se livrando de objeto não apreendido, etc
9 Pequena Quantidade O tipo penal não fala em pequena quantidade, dando a entender que poderá configurar o crime em quantidades maiores. Contudo, este critério subjetivo vem sendo adotado pela maior parte dos juízes, gerando debates na jurisprudência atual. A depender da natureza do entorpecente. No RE STF, o Ministro Luís Roberto Barroso considerou adequado o critério adotado por Portugal, no caso da maconha. 25 gramas da droga processada ou 6 plantas fêmeas. Forma Privilegiada de Tráfico Art. 33 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
10 PENAS A grande inovação da Lei n /2006 foi deixar de prever pena privativa de liberdade para o crime de porte para consumo próprio, cujas penas passaram a ser de advertência sobre os efeitos da droga, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. De acordo com o art. 27, essas penas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas, umas pelas outras, a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. As penas de prestação de serviços e medida educativa de frequência a cursos serão aplicadas pelo prazo máximo de cinco meses, mas em caso de reincidência poderão ser aplicadas pelo prazo máximo de dez meses (art. 28, 3º e 4º). A prestação de serviços à comunidade preferencialmente em programas ou entidades de prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas (art. 28, 5º).
11 PENAS Dias-multa: O juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa entre 40 e cem, fixando o valor de cada diamulta entre 1/30 e 3x o valor do salário mínimo, segundo a capacidade econômica do agente. Os valores decorrentes da imposição dessa multa serão creditados à conta do Fundo Nacional de Drogas (art. 29). Prescrição - prescrevem em dois anos a imposição e a execução das penas previstas para esse crime, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.
12 FORMA EQUIPARADA O art. 28, 1º, estabelece o mesmo tratamento penal a quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. O dispositivo é aplicado, em geral, para pessoas que plantam algumas poucas mudas de maconha em sua própria residência para consumo pessoal. Note-se que, se a intenção do agente for a venda ou a entrega ao consumo de terceiro, a conduta será enquadrada no art. 33, 1º, II, que é equiparada ao tráfico. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA A condenação, nos termos do art 28, gera reincidência apenas considerada para os demais delitos da Lei Ex: trânsito em julgado do 28, condenação posterior 33 (reincidente) Ex2: trânsito em julgado do 28, condenação posterior 28 (reincidente) Ex3: trânsito em julgado do 28, condenação posterior em roubo (não reinc)
13 PROCEDIMENTO Se houver concurso com crime mais grave, modifica-se a competência para o rito comum de Drogas. a) Quem for flagrado na prática de infração penal dessa natureza não se imporá prisão em flagrante. b) Autor deve autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juizado competente ou assumir compromisso de nele comparecer c) Lavratura do Termo Circunstanciado e Requisição das Perícias. d) Agendamento da Audiência Preliminar para a propositura da transação penal (requisitos art 76 Lei 9.099/95) e) Na transação penal, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata das penas previstas no art. 28, caput, da Lei (advertência, prestação de serviços ou frequência a curso educativo). f) homologação judicial e cumprimento da medida pelo agente. g) declaração da extinção da pena. Obs: neste caso o autor não perde sua primariedade.
14 Se não houver êxito na transação penal por ter o acusado recusado a proposta ou por não ter comparecido à audiência, ou, ainda, por estarem ausentes os requisitos legais, a denúncia será oferecida verbalmente na própria audiência, observandose, em seguida, o rito sumaríssimo dos arts. 77 e seguintes da Lei n /95. Na Prática Havendo qualquer lastro de dúvida acerca dos elementos constitutivos do art 28, o juiz instaurará o procedimento para o tráfico ilícito de drogas (art 33) e a desclassificação fica reservada ao final da instrução probatória. Apenas no caso do encontro de uma ou duas porções é que se instaura o procedimento do 28 diretamente.
15 Defensor Público, 2018 e) o crime de oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem, submete-se às mesmas penas da posse de drogas para uso pessoal. Escrivão de Polícia RS, 2018 b) O porte e o cultivo para consumo próprio não configuram crime. Promotor de Justiça Substituto RO, 2017 c) Em relação ao porte de cannabis sativa (maconha) para uso próprio, o Supremo Tribunal Federal decidiu que tal figura é atípica, configurando autolesão impunível.
16 Delegado de Polícia, 2017 I. A lei descriminalizou a conduta de quem adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo, para consumo pessoal, drogas em autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Dessa forma, o usuário de drogas é isento de pena, submetendo-se, apenas, a tratamento para recuperação. TJ-SP, 2016 c) A chamada despe alizaç o da conduta de porte de drogas, de acordo com o entendimento jurisprudencial do STF, constitui hipótese de abolitio criminis.
17 Juiz Substituto, 2017 A praticou o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n /06) depois de haver sido condenado, com trânsito em julgado, pelo delito previsto no artigo 28 do mesmo estatuto. Na sentença, a condenação anterior a) não poderá ser considerada para fins de reincidência, porquanto tal delito não possui cominada a pena de prisão. b) poderá ser considerada para fins de reincidência, mesmo não tendo o réu recebido pena privativa de liberdade. c) somente poderá ser considerada como maus antecedentes. d) não poderá gerar qualquer efeito por não ser crime nos termos da lei de introdução ao código penal. e) somente poderá ser considerada como circunstância judicial na primeira fase do cálculo da pena.
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