EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA PARAMÉTRICA EM DADOS DA LÍNGUA-E: O SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA PARAMÉTRICA EM DADOS DA LÍNGUA-E: O SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL Humberto Soares da Silva 2011

2 EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA PARAMÉTRICA EM DADOS DA LÍNGUA-E: O SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL Humberto Soares da Silva Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-orientador: José Camacho (Rutgers University) Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

3 EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA PARAMÉTRICA EM DADOS DA LÍNGUA-E: O SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL Orientadora: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-orientador: José Camacho (Rutgers University) Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2011 Examinada por: Presidente, Professora Doutora Maria Eugênia Lamoglia Duarte Professor Doutor Paulo Antonio Pinheiro Correa (UFF) Professora Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (Letras Neolatinas/UFRJ) Professor Doutor Celso Vieira Novaes (Linguística/UFRJ) Professora Doutora Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (Letras Vernáculas/UFRJ) Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

4 Soares da Silva, Humberto. Evidências da mudança paramétrica em dados da língua-e: o sujeito pronominal no português e no espanhol/humberto Soares da Silva. Rio de Janeiro: UFRJ, xvii, 126f.: il.; 30cm. Orientadora: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-orientador: José Camacho Tese (Doutorado) UFRJ/Faculdade de Letras/Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Referências bibliográficas: f Sujeito nulo 2. Riqueza flexional 3. Mudança paramétrica 4. Língua portuguesa 5. Língua espanhola I. Duarte, Maria Eugênia Lamoglia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. Título.

5 RESUMO EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA PARAMÉTRICA EM DADOS DA LÍNGUA-E: O SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL Humberto Soares da Silva Orientadora: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-orientador: José Camacho (Rutgers University) Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas. Seguindo pressupostos gerativistas e variacionistas, comparo análises da representação do sujeito em sete línguas românicas: português europeu e brasileiro (PB); espanhol europeu (EE), argentino (EA), porto-riquenho (EP) e dominicano (ED); e italiano. As análises do português e do italiano vêm, respectivamente, das pesquisas de Duarte (1995) e Marins (2009); as do EE e do EA estão em Soares da Silva (2006); a do ED se baseia em dados de diversos estudos; e a do EP foi feita para esta Tese, usando a amostra de Samper Padilla, Hernández Cabrera & Troya Déniz (1995). A comparação permite estabelecer um conceito de riqueza flexional que explique o comportamento dessas línguas em relação ao uso dos sujeitos nulos e caracterizar melhor a progressiva diminuição nas frequências de sujeitos nulos no PB. Diversas propostas de relação entre riqueza do paradigma verbal e sujeito nulo foram feitas (CHOMSKY, 1981; JAEGGLI & SAFIR, 1989; ROBERTS, 1993; DUARTE, 1995), mas nenhuma é compatível com o que se observa no PB. Proponho separar as categorias de número e pessoa, considerando, com base em Toribio (1994), que dois parâmetros atuam no fenômeno: o Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN) relacionado ao licenciamento e o Parâmetro da Identificação (PI). Concluo que o licenciamento se relaciona à riqueza de oposições para a categoria número e a identificação, à riqueza da categoria pessoa, e que duas mudanças paramétricas estão em progresso no PB: a primeira, no PSN, detonada por volta de 1930 pela inclusão de você(s) no paradigma pronominal; a segunda, no PI, desencadeada por volta de 1970 pela gramaticalização de a gente. Palavras-chave: sujeito nulo, riqueza flexional, mudança paramétrica, português, espanhol

6 RESUMEN EVIDENCIAS DEL CAMBIO PARAMÉTRICO EM DATOS DE LA LENGUA-E: EL SUJETO PRONOMINAL EN EL PORTUGUÉS Y EN EL ESPANHOL Humberto Soares da Silva Orientadora: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-orientador: José Camacho (Rutgers University) Resumen de la Tesis Doctoral sometida al Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras de la Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte de los requisitos necesarios a la obtención del título de Doctor en Letras Vernáculas. Siguiendo presupuestos generativistas y variacionistas, comparo análisis de la representación del sujeto en siete lenguas románicas: portugués europeo y brasileño (PB); español europeo (EE), argentino (EA), portorriqueño (EP) y dominicano (ED); e italiano. Los análisis del portugués y del italiano vienen, respectivamente, de los estudios de Duarte (1995) y Marins (2009); los del EE y del EA están en Soares da Silva (2006); los del ED se basan datos de diversos estudios; y el del EP se realizó para esta Tesis, a base de la muestra de Samper Padilla, Hernández Cabrera & Troya Déniz (1995). La comparación permite establecer un concepto de riqueza flexional que explique el comportamiento de esas lenguas acerca del uso de los sujetos nulos y caracterizar mejor la progresiva disminuición en las frecuencias de sujetos nulos en el PB. Se propusieron diversas maneras de relacionar la riqueza del paradigma verbal al sujeto nulo (CHOMSKY, 1981; JAEGGLI & SAFIR, 1989; ROBERTS, 1993; DUARTE, 1995), pero ninguna es compatible con lo que se observa en el PB. Propongo separar las categorías de número y persona, considerando, basado en Toribio (1994), que dos parámetros actúan en el fenómeno: el Parámetro del Sujeto Nulo (PSN) relacionado al licenciamiento y el Parámetro de la Identificación (PI). Concluyo que el licenciamiento tiene que ver com la riqueza de oposiciones para la categoría número y la identificación, con la riqueza de persona, y que dos cambios paramétricos están en progreso en el PB: el primero, en el PSN, detonado a más o menos 1930 por la inclusión de você(s) en el paradigma pronominal; el segundo, en el PI, desencadenado a eso de 1970 por la gramaticalización de a gente. Palabras clave: sujeto nulo, riqueza flexional, cambio paramétrico, portugués, español

7 ABSTRACT EVIDENCE OF PARAMETRIC CHANGE IN E-LANGUAGE DATA: THE PRONOMINAL SUBJECT IN PORTUGUESE AND SPANISH Humberto Soares da Silva Supervisor: Maria Eugênia Lamoglia Duarte Co-supervisor: José Camacho (Rutgers University) Abstract of the PhD Dissertation submitted to Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras of Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, as part of requirements for obtaining the title of Doctor in Vernacular Letters. Following generative and variationist assumptions, I compare analyses of subject representation in seven Romance languages: European and Brazilian Portuguese (BP); European (ES), Argentinean (AS), Puerto Rican (PS) and Dominican Spanish (ED); and Italian. The analyses for Portuguese and Italian come, respectively, from Duarte s (1995) and Marins s (2009) researches; the ones about ES and AS are in Soares da Silva (2006); the one about ED is based on data from several studies; and the one about PS was carried out for this Dissertation, using the sample of Samper Padilla, Hernández Cabrera & Troya Déniz (1995). The comparison allows one to propose a concept of inflectional richness which explains the behavior of those languages regarding the use of null subjects and to provide a better description of the progressive decreasing in the frequencies of null subjects in BP. A number of proposals to relate verbal paradigm richness to null subject have been made (CHOMSKY, 1981; JAEGGLI & SAFIR, 1989; ROBERTS, 1993; DUARTE, 1995), but none of them is compatible with BP facts. I propose to separate the categories of number and person, considering, based on Toribio (1994), that two parameters actuate in the phenomenon: the Null Subject Parameter (NSP) related to licensing and the Identification Parameter (PI). I conclude that licensing is related to the richness of oppositions for the category number, and identification, to the richness of the category person, and that two parametric changes are in progress in BP: the first one in the NSP, triggered in the 1930 s by the inclusion of você(s) to the pronominal paradigm; the other one in the PI, triggered in the 70 s by the grammaticalization of a gente. Keywords: null subject, inflectional richness, parametric change, Portuguese, Spanish

8 A ciência tem o dever de servir à humanidade, com a função de disponibilizar-lhe o máximo de informação e conhecimento possível, numa caminhada em direção à descrição da verdade. Para atingir esse objetivo, é fundamental que o fazer científico inclua compartilhar dados, resultados e descobertas, seja dentro de um campo de investigação, seja entre as suas diversas áreas, o que permite o desenvolvimento das sociedades e uma constante melhoria nas relações interpessoais, além do aprimoramento da própria ciência. A todos os pesquisadores que acreditam nesse diálogo, os verdadeiros cientistas, dedico este trabalho.

9 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, sou extremamente grato à professora Maria Eugênia Lamoglia Duarte, que, há quase 10 anos, me vem proporcionando uma orientação cujo escopo é muitas vezes maior do que o desenvolvimento desta Tese. Ao professor José Camacho, da Rutgers University, agradeço, principalmente, por acreditar neste projeto, dando ótimo apoio e grande incentivo, e também por me colocar em contato com outros professores e pesquisadores durante o estágio nos Estados Unidos, quando foi meu supervisor. A indicação do supervisor do estágio devo a Jacqueline Toribio, da University of Texas. Aos professores Viviane Deprez, Mark Baker, Liliana Sánchez e Tom Stephens, por me aceitarem como aluno em seus cursos na Rutgers e por todas as informações, comentários, críticas e sugestões que foram úteis para o desenvolvimento deste trabalho. À professora Nydia Flores-Ferrán, da Rutgers, por dispensar tempo e paciência para reuniões e discussões e por disponibilizar os seus trabalhos relacionados ao meu estudo. Sou grato a todos os professores de Graduação e Pós-Graduação da UFRJ que contribuíram, dentro e/ou fora de sala de aula, para o desenvolvimento e a realização desta Tese, em especial a Dinah Callou, que, mais de uma vez, me disponibilizou o Macrocorpus usado na pesquisa. Agradeço, também, aos membros da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas e aos funcionários da UFRJ e da Rutgers que me auxiliaram na complicada burocracia que envolve um estágio no exterior. Sou grato, também, à colega Agnes Rissardo, pela ajuda com a revisão da papelada necessária à solicitação do estágio. Quanto à instalação nos Estados Unidos e à adaptação aos usos e costumes estrangeiros, sou grato ao professor Phillip Hotwell, da Rutgers, e aos meus mais novos amigos de infância Desio e Andre. A realização deste trabalho não seria possível sem o apoio, a compreensão e a paciência de familiares, amigos e colegas durante todo o processo. Agradeço a todos que contribuiram para o sucesso disto, deixando claro que toda e qualquer falha existente neste trabalho é de minha inteira responsabilidade. O estágio no exterior e os estudos realizados no Brasil tiveram o apoio de bolsas de estudos da CAPES.

10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS A modificador (adjetivo ou advérbio) Agr concordância (núcleo do sintagma de concordância, de agreement) AgrP sintagma de concordância (de agreement phrase) arg argentino AS espanhol argentino (de Argentinean Spanish) BP português brasileiro (de Brazilian Portuguese) bras brasileiro C complementador CP sintagma complementador (de complementizer phrase) dir direta DP sintagma determinante (de determiner phrase) DS estrutura profunda (de deep structure) EA espanhol argentino ECP Princípio das Categorias Vazias (de Empty Category Principle) ED espanhol dominicano EE espanhol europeu EP espanhol porto-riquenho ES espanhol europeu (de European Spanish) esp. espanhol eur europeu exp expletivo I flexão (núcleo do sintagma flexional, de inflection) ind indireta IP sintagma flexional (de inflection phrase) it italiano LF forma lógica (de logical form) N nome Nm número (núcleo do sintagma de número) NmP sintagma de número NSP Parâmetro do Sujeito Nulo (de Null Subject Parameter)

11 xi oc. ocorrências op operador nulo P preposição PB português brasileiro PEUL Programa de Estudos Sobre o Uso da Língua PF forma fonética (de phonetic form) PI Parâmetro da Identificação port português PP sintagma preposicional (de prepositional phrase) PR peso relativo pro pronome nulo Ps pessoa (núcleo do sintagma de pessoa) PS espanhol porto-riquenho (de Puerto Rican Spanish) PSN Parâmetro do Sujeito Nulo PsP sintagma de pessoa qu- interrogativo ou relativo que pode mover-se a speccp (exemplos: qual, que, quem) sing. singular spec especificador (de specifier) SS estrutura superficial (de superficial structure) t vestígio de movimento (de trace) T tempo (núcleo do sintagma temporal) TopP sintagma de tópico (de topic phrase) TP sintagma temporal (de tense phrase) V verbo vbl variável (de variable) VP sintagma verbal (de verb phrase)

12 SUMÁRIO RESUMO... v RESUMEN... vi ABSTRACT... vii AGRADECIMENTOS... ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS... x SUMÁRIO... xii LISTA DE TABELAS... xv 1 TABELAS DOS CAPÍTULOS... xv 2 TABELAS DO ANEXO A... xvi 3 TABELAS DO ANEXO B... xvi LISTA DE GRÁFICOS... xvii INTRODUÇÃO CAPÍTULO I: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PRIMEIRAS OBSERVAÇOES SOBRE O GERATIVISMO E O VARIACIONISMO PRESSUPOSTOS GRAMÁTICA GERATIVA Definindo parâmetro Resumo da seção VARIAÇÃO E MUDANÇA A teoria da mudança linguística, segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968) Condicionamento Transição Encaixamento Avaliação Implementação SOBRE A UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DAS DUAS CORRENTES POR QUE UTILIZAR A VARIAÇÃO PARAMÉTRICA SISTEMATIZAÇÃO DO CAPÍTULO

13 xiii CAPÍTULO II: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA COMENTADA ESTUDOS FUNCIONALISTAS SOBRE O FENÔMENO O SUJEITO NULO E O PARADIGMA FLEXIONAL DO VERBO ADAPTAÇÃO DO CONCEITO DE RIQUEZA FUNCIONAL A MUDANÇA EM CURSO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO EXPLICAÇÕES FORMAIS A ATRIBUIÇÃO DE NOMINATIVO E O LICENCIAMENTO DO SUJEITO NULO A IDENTIFICAÇÃO DE REFERÊNCIA DO SUJEITO NULO A identificação da referência do sujeito nulo pelo núcleo I A identificação da referência do sujeito nulo por um antecedente A EXISTÊNCIA DE DOIS PARÂMETROS O FORMATO DA ESTRUTURA SISTEMATIZAÇÃO DO CAPÍTULO CAPÍTULO III: METODOLOGIA E RESULTADOS PRÉVIOS A COLETA DOS DADOS RESULTADOS GERAIS PARA A VARIÁVEL DEPENDENTE A ANIMACIDADE DO SUJEITO OS GRUPOS RELEVANTES PARA O ESPANHOL EUROPEU E O ARGENTINO AS CONDIÇOES DE REFERÊNCIA A PESSOA GRAMATICAL O TIPO DE ORAÇÃO A FAIXA ETÁRIA A POSIÇÃO ADJUNTA A IP A PRESENÇA DE UM ELEMENTO ENTRE A POSIÇÃO DE SPECIP E O VERBO A FORMA VERBAL A FUNÇÃO SINTÁTICA DA ORAÇÃO A ESTRUTURA DE CP O TIPO DE DESINÊNCIA VERBAL O GÊNERO DO INFORMANTE OS OUTROS GRUPOS DE FATORES CONTROLADOS O TEMPO E O MODO VERBAIS A TRANSITIVIDADE VERBAL

14 xiv CAPÍTULO IV: ANÁLISE COMPARATIVA RESULTADOS GERAIS DAS ANÁLISES DE REGRA VARIÁVEL RESULTADOS PARA CADA GRUPO DE FATORES A ANIMACIDADE DO SUJEITO AS CONDIÇOES DE REFERÊNCIA O TIPO DE ORAÇÃO O TEMPO E O MODO VERBAIS A PESSOA GRAMATICAL O GÊNERO DO INFORMANTE A PRESENÇA DE ELEMENTOS ENTRE SPECIP E VERBO A POSIÇÃO ADJUNTA A IP A FAIXA ETÁRIA DO INFORMANTE O PARÂMETRO DA IDENTIFICAÇÃO A ESTABILIDADE DAS LÍNGUAS AS CONDIÇÕES DE IDENTIFICAÇÃO A RIQUEZA FLEXIONAL DE PESSOA O SUJEITO EXPLETIVO E O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO EVIDÊNCIAS DA EXISTÊNCIA DE DOIS PARÂMETROS CONSIDERAÇÕES FINAIS CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO A: GRUPOS NÃO SELECIONADOS NO ESPANHOL PORTO-RIQUENHO 125 ANEXO B: PARADIGMAS DO ESPANHOL ARGENTINO E PORTO-RIQUENHO ESPANHOL ARGENTINO ESPANHOL PORTO-RIQUENHO

15 LISTA DE TABELAS 1 TABELAS DOS CAPÍTULOS I.1 Quantidade de línguas possíveis em relação à quantidade de parâmetros existentes I.2 Principais adaptações necessárias para a utilização das duas correntes teóricas simultaneamente II.1 Três tipos de paradigma verbal no espanhol porto-riquenho, segundo o grau de ambiguidade II.2 Preenchimento do sujeito de acordo com a pessoa gramatical e o tipo de paradigma II.3 Expressão do sujeito nos contextos de mudança e manutenção de referência em San Juan e Madri. 030 II.4 Paradigmas de três tempos do indicativo no espanhol europeu, com as seis desinências distintivas. 032 II.5 Paradigmas flexionais de três tempos do indicativo no espanhol europeu e no argentino II.6 Paradigma flexional do presente do indicativo no português europeu e no brasileiro II.7 Taxa de redução nos percentuais de sujeitos nulos em cada intervalo do Gráfico II.8 Evolução do paradigma flexional do verbo no português brasileiro (em três tempos do indicativo). 036 II.9 Paradigma do presente do indicativo no espanhol porto-riquenho: cruzamento de número e pessoa 048 II.10 Tipos de sujeitos nulos possíveis em diferentes línguas de acordo com a natureza do núcleo I III.1 Distribuição comum das entrevistas na amostra de cada cidade do Macrocorpus III.2 Inquéritos usados para as análises do espanhol europeu, do argentino e do porto-riquenho III.3 Distribuição dos dados coletados da fala dos informantes e dos entrevistadores III.4 Grupos selecionados no espanhol europeu e no argentino (valor de aplicação: sujeito nulo) III.5 Sujeito nulo no espanhol europeu e no argentino, segundo o padrão sentencial III.6 Sujeito nulo de acordo com a pessoa gramatical no espanhol europeu e no argentino III.7 Sujeito nulo de acordo com o tipo de oração no espanhol europeu III.8 Sujeito nulo de acordo com a presença de um elemento adjunto a IP no espanhol argentino III.9 Sujeito nulo segundo os elementos entre specip e verbo no espanhol europeu e no argentino III.10 Sujeito nulo de acordo com a forma verbal no espanhol europeu III.11 Sujeito nulo de acordo com a função sintática da oração no espanhol argentino III.12 Sujeito nulo de acordo com os elementos encontrados em CP no espanhol argentino III.13 Sujeito nulo de acordo com o tipo de desinência no espanhol argentino III.14 Sujeito nulo de acordo com o gênero do informante no espanhol argentino IV.1 Grupos selecionados nas análises das três variedades do espanhol (valor de aplicação: sujeito nulo) 83 IV.2 O padrão sentencial no espanhol europeu, no argentino, no porto-riquenho e no italiano IV.3 O tipo de oração no espanhol europeu, no porto-riquenho e no italiano IV.4 O tempo e o modo verbais no espanhol porto-riquenho IV.5 A pessoa gramatical no espanhol europeu, no argentino, no porto-riquenho e no italiano

16 xvi IV.6 Cruzamento da pessoa gramatical com o tipo de desinência no espanhol porto-riquenho IV.7 O gênero do informante no espanhol argentino e no porto-riquenho IV.8 A presença de elementos entre a posição de specip e o verbo no espanhol IV.9 A presença de um elemento adjunto a IP no espanhol argentino e no porto-riquenho IV.10 A faixa etária do informante no espanhol porto-riquenho e no italiano IV.11 Índices gerais de sujeitos nulos em seis línguas, em ordem crescente de percentuais IV.12 Paradigma flexional (indicativo) do italiano IV.13 Paradigma flexional (subjuntivo) do italiano IV.14 Paradigma flexional (indicativo) do espanhol europeu IV.15 Paradigma flexional (subjuntivo) do espanhol europeu IV.16 Paradigma flexional do espanhol argentino IV.17 Paradigma flexional do espanhol porto-riquenho IV.18 Paradigma flexional (indicativo) do português europeu IV.19 Paradigma flexional (subjuntivo) do português europeu IV.20 Paradigma flexional (indicativo) do português brasileiro (cf. DUARTE, 1995, p. 40) IV.21 Paradigma flexional (subjuntivo) do português brasileiro (cf. DUARTE, 1995, p. 40) IV.22 Paradigma flexional (indicativo) do italiano IV.23 Paradigma flexional (subjuntivo) do italiano IV.24 Paradigma flexional do português brasileiro (cf. DUARTE, 1995, p. 40) IV.25 Paradigma flexional (indicativo) do espanhol dominicano IV.26 Paradigma flexional (subjuntivo) do espanhol dominicano TABELAS DO ANEXO A A.1 Sujeito nulo de acordo com a forma verbal no espanhol porto-riquenho A.2 Sujeito nulo de acordo com a função sintática da oração no espanhol porto-riquenho A.3 Sujeito nulo de acordo com os elementos encontrados em CP no espanhol porto-riquenho A.4 Sujeito nulo de acordo com a transitividade verbal no espanhol porto-riquenho TABELAS DO ANEXO B B.1 Paradigma flexional (indicativo) do espanhol argentino B.2 Paradigma flexional (subjuntivo) do espanhol argentino B.3 Paradigma flexional (indicativo) do porto-riquenho B.4 Paradigma flexional (subjuntivo) do espanhol porto-riquenho

17 LISTA DE GRÁFICOS 1 Evolução das frequências de sujeito nulo no português brasileiro nos últimos séculos Frequências de sujeitos de terceira pessoa nulos segundo o padrão sentencial Sujeito nulo nas três faixas etárias, no espanhol europeu e no argentino Sujeito nulo nas três faixas etárias, no espanhol porto-riquenho... 99

18 INTRODUÇÃO A representação do sujeito é um dos temas que mais têm recebido contribuições dos estudiosos da linguagem, sob diferentes perspectivas teóricas, e, à medida que as pesquisas avançam, mais questões surgem, demandando novas explicações. O campo de investigação inclui o apagamento e o preenchimento do sujeito referencial e do expletivo, a posição do sujeito na sentença, as estratégias de indeterminação do sujeito etc. E o diálogo entre diversos trabalhos existentes sobre o assunto sugere que todos esses fenômenos estão relacionados de alguma forma. No caso do português, várias pesquisas têm seu foco no fenômeno do apagamento e do preenchimento do sujeito pronominal (DUARTE, 1993, 1995, 2003a; CYRINO, DUARTE & KATO, 2000; KATO & DUARTE, 2003; entre outros) e atestam que no português europeu a preferência é pelo sujeito apagado ou nulo, além de mostrar a mudança que está em curso no português brasileiro, que apresenta uma ocorrência cada vez maior de sujeitos plenos. Essa mudança costuma ser relacionada a uma remarcação no Parâmetro do Sujeito Nulo, que classifica as línguas que permitem o apagamento do sujeito como [+ sujeito nulo] e as que não o permitem como [ sujeito nulo] (ou, em outros termos, [+ pro-drop] e [ pro-drop], respectivamente). O português brasileiro, por estar no meio de um processo de mudança, apresentaria, ao mesmo tempo, características dos dois tipos de língua.

19 2 Trabalhos funcionalistas relacionam índices mais altos de preenchimento do sujeito à falta de uma desinência número-pessoal que identifique a pessoa gramatical sem dar margem a ambiguidade, como os de Bentivoglio (1980), Hochberg (1986) e Cameron (1993), para o espanhol, e o de Paredes Silva (1993), para o português. E, de fato, a mudança do português brasileiro é encaixada, consequência de outras mudanças que levaram a reduções na quantidade de desinências número-pessoais (DUARTE, 1993, 1995, 2003a), já que a frequência de sujeitos nulos foi diminuindo à medida que o sistema flexional do verbo empobrecia. Mas Duarte (1995) mostra que não há relação direta entre o fato de a desinência ser ou não distintiva e o favorecimento do sujeito nulo (uma observação mais atenta dos resultados dos estudos funcionalistas citados leva a essa mesma conclusão): segundo a autora, o detonador da mudança é funcional, mas depois a tendência ao preenchimento se espalha por todo o paradigma, mesmo com formas verbais distintivas, portanto a explicação para a crescente expressão fonética do sujeito não pode ser unicamente a compensação funcional pela falta de uma desinência específica. Mesmo existindo sistemas mistos, no grupo das línguas românicas parece funcionar a relação entre o paradigma número-pessoal e o preenchimento do sujeito, a qual é de difícil definição. Diferentes propostas foram apresentadas e depois rebatidas (CHOMSKY, 1981; JAEGGLI & SAFIR, 1989), até que Roberts (1993) apresentou o conceito de riqueza funcional, adaptado posteriormente por Duarte (1995) com base em seu estudo sobre o português europeu. Mesmo assim, esse conceito não é capaz de explicar o fenômeno em todas as línguas que já foram investigadas, precisando de um maior refinamento. É, pois, evidente que já existem muitos trabalhos que tratam de descrever e explicar o fenômeno da representação do sujeito. Provavelmente, esse é o fenômeno sintático mais estudado, seja por uma perspectiva formal, funcionalista ou sociolinguística (para citar apenas as principais correntes teóricas que podem ser aplicadas a uma investigação sintática), seja por um estudo de interface entre mais de uma dessas teorias. Ainda assim, o fenômeno está longe de ser totalmente explicado, ficando ainda muitas perguntas a ser respondidas.

20 3 Uma das questões ainda sem uma solução definitiva é o status da relação entre o paradigma flexional verbal de uma língua e seu comportamento quanto à representação do sujeito, como mencionado acima. Alguns estudos afirmam que essa relação simplesmente não existe, sendo acidental nas línguas em que é observada, enquanto outros tentam definir essa relação de forma que cubra a maior quantidade possível de línguas. Outros, ainda, pretendem mostrar que essa relação é, de alguma forma, parametrizada, atuando apenas em um certo grupo de línguas, ou, então, que, embora o apagamento do sujeito se relacione com uma certa riqueza do paradigma flexional, este também pode ser possível por outra(s) razão(ões). Com a intenção de caracterizar melhor o português brasileiro, o objetivo central deste trabalho é buscar evidências entre línguas que permitam defender a existência efetiva de uma relação entre a riqueza do paradigma e o apagamento/preenchimento do sujeito. Para possibilitar uma explicação unificada para todas as línguas que comparo aqui, assumo, com base em Silva (1996), que duas riquezas flexionais devam ser observadas: (a) a do paradigma de número verbal, que influi na representação de sujeitos em geral, e (b) a do paradigma de pessoa gramatical, que influi apenas na representação dos sujeitos referenciais; e relaciono essa assunção à proposta de Toribio (1994), baseada em Rizzi (1986), de que dois parâmetros distintos têm efeito na representação do sujeito pronominal, um deles associado ao licenciamento dos sujeitos nulos e o outro, à identificação dos sujeitos nulos referenciais. Assim, a hipótese geral é: (a) uma riqueza nas oposições de número verbal é responsável pelo licenciamento de sujeitos nulos expletivos e referenciais, enquanto (b) uma riqueza nas oposições de pessoa verbal é responsável pela identificação da referência de sujeitos nulos, não afetando os expletivos. Comparando o português europeu com o brasileiro, espero encontrar dois tipos de língua. O português europeu seria uma língua em que sujeitos nulos são licenciados pelo paradigma de número e identificados pelo de pessoa. No brasileiro, num primeiro momento, os sujeitos nulos seriam licenciados pela riqueza de número, mas o empobrecimento das oposições pessoais impulsionaria uma mudança paramétrica quanto à perda da capacidade de identificação da referência dos sujeitos nulos pela flexão, o que só atinge os sujeitos referenciais; o posterior embobrecimento das oposições de número impulsionaria uma segunda mudança, na perda do licenciamento, atingindo, então, os sujeitos expletivos.

21 4 Para comprovar isso, trabalhos anteriores sobre o português são comparados com estudos de outras línguas do grupo românico. Para o português europeu, utilizo o estudo de Duarte (1995) e comparo com o estudo sobre o espanhol europeu e o argentino feito em Soares da Silva (2006) e sobre o italiano (MARINS, 2009), já que, nas quatro línguas, os sujeitos nulos seriam licenciados e identificados pelo paradigma, e o português brasileiro (DUARTE, 1995) é comparado com o espanhol porto-riquenho, considerando a hipótese de que esta língua sofre mudança relacionada à identificação, mas se mantém como língua de sujeito nulo no que se refere ao licenciamento, e com um dialeto do espanhol da República Dominicana que estaria passando por uma mudança que leva à perda do licenciamento do sujeito nulo (ao qual me referirei, daqui por diante, simplemente por espanhol dominicano), o que está associado ao paradigma de número verbal. Para chegar ao objetivo central, esta Tese tem como objetivos específicos, então, uma análise de regra variável da representação do sujeito referencial no espanhol porto-riquenho e análises qualitativas de dados de sujeito expletivo nessa língua e no espanhol dominicano. Uma vez mostrado, em relação à representação do sujeito, um comportamento semelhante (a) entre o português europeu, o italiano, o espanhol europeu e o argentino, (b) entre o português brasileiro da metade do século passado e o espanhol porto-riquenho e (c) entre o português brasileiro atual e o espanhol dominicano, além de um comportamento diferente entre os grupos de línguas em (a), (b) e (c), comparo os paradigmas flexionais verbais dessas línguas para estabelecer uma definição de riqueza flexional unificada, que sirva pelo menos para essas sete línguas. Os paradigmas das línguas em (a) e (b), em que o sujeito nulo é licenciado, são mais ricos em oposições de número, enquanto os paradigmas das línguas em (c), em que o sujeito nulo deixa de ser licenciado, são menos ricos nessas oposições. Quanto às oposições de pessoa, apenas as línguas do grupo (a) apresentam a riqueza necessária, o que explica a perda da capacidade de identificação da referência de um sujeito nulo nas línguas listadas em (b) e (c). O modelo teórico adotado é uma associação do quadro de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981) com a Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), associação essa iniciada no Brasil por Tarallo & Kato (1989), às vezes rotulada de Sociolinguística Paramétrica, às vezes, por sugestão de Ramos (1999), de Variação Paramétrica. Os dados do espanhol porto-riquenho foram coletados do Macrocorpus de la norma lingüística culta de las principales ciudades de España y América (SAMPER PADILLA, HERNÁNDEZ CABRERA & TROYA DÉNIZ, 1995), de onde também provêm os dados do espanhol europeu e do argentino usados no estudo feito em Soares da Silva

22 5 (2006), e metodologia de análise do espanhol porto-riquenho também é a mesma que foi aplicada para o espanhol europeu e o argentino: os dados foram codificados segundo variáveis sociais, estruturais e funcionais, o que permite uma comparação com os resultados e as análises das outras línguas que ponho em comparação. Também coletei, do mesmo corpus, alguns dados de sujeito expletivo do espanhol europeu, do argentino e do porto-riquenho em diversos contextos, apenas para confirmar a hipótese de que estes não são alcançados pela mudança em direção ao preenchimento, sendo sempre nulos. Até o término da redação desta Tese, não havia conseguido acesso a um corpus de fala do espanhol dominicano. O acesso às amostras foi negado ora pelo fato de ainda estar em processo de elaboração, ora por ser restrita aos integrantes do projeto que financiou sua constituição. Assim, a análise da representação do sujeito nessa língua se baseará em descrições de estudos feitos por outros pesquisadores (TORIBIO, 1994; CAMACHO, no prelo). O texto é organizado como se segue. No primeiro capítulo, apresento alguns pressupostos da Gramática Gerativa e da Teoria da Variação e Mudança e as razões para utilizar as duas teorias simultanemante, além das adaptações feitas em cada uma para permitir uma compatibilidade, e, no segundo, uma revisão bibliográfica comentada, com informações, hipóteses, descrições, análises e resultados de outros estudos sobre o fenômeno, com diferentes visões teóricas, a que acrescento minhas próprias idéias. O Capítulo III traz a metodologia de análise dos sujeitos de referência definida aplicada ao espanhol europeu, ao argentino e ao porto-riquenho. No Capítulo IV, analiso o sujeito referencial na fala do espanhol porto-riquenho, comparando com análises já feitas sobre o português europeu, o brasileiro, o italiano, o espanhol europeu e o argentino, e comparo, brevemente, todas essas línguas, junto com o espanhol dominicano, quanto ao preenchimento dos sujeitos expletivos, apresentando as definições de riqueza do paradigma que permitem explicar, unificadamente, o comportamento de cada uma em relação à representação do sujeito pronominal, e mostrando evidências de que identificação e licenciamento do sujeito nulo são efeitos de parâmetros distintos.

23 CAPÍTULO I Pressupostos teóricos

24 7 Inicio este capítulo com um breve contraponto entre as duas correntes teóricas utilizadas no trabalho: a Gramática Gerativa, cujo desenvolvimento teve grande colaboração do quadro de Princípios e Parâmetros apresentado por Chomsky (1981), e a Sociolinguística, que é descrita, majoritariamente, com base em informações e idéias de Weinreich, Labov & Herzog (1968). Em 2, apresento pressupostos do quadro de Princípios e Parâmetros e da Teoria da Variação e Mudança e, em seguida, justifico a utilização simultânea das duas visões, consideradas, ainda, rivais por muitos linguistas, e comentários sobre trabalhos anteriores que também levam ambas em consideração, além dos frutos que essa união vem proporcionando ao estudo das propriedades das línguas e da linguagem e ao estudo da própria implementação da mudança linguística, que só pode ser confirmada com uma análise empírica. A primeira seção não é recheada de referências bibliográficas diretas, já que contém informações adquiridas e construídas ao longo de períodos anteriores de estudos e pesquisas e em aulas assistidas, discussões com professores, orientadores, colegas e outros pesquisadores. 1 PRMIEIRAS OBSERVAÇÕES SOBRE O GERATIVISMO E O VARIACIONISMO A Gramática Gerativa e a Sociolinguística são muito diferentes em diversos aspectos, a começar pelo objeto de estudo de cada uma e pela metodologia geralmente aplicada. A primeira é responsável pelo estudo da linguagem (busca princípios comuns às línguas em geral) e sua metodologia se baseia, principalmente, em comparações de sentenças segundo sua gramaticalidade e em testes de produção e percepção, o que não significa que não existam trabalhos que analisam dados de fala espontânea; a segunda nasceu da preocupação com o estudo da mudança linguística, se fundamenta sempre em dados reais de desempenho e se ocupa da descrição específica de uma língua ou um dialeto pela observação da variação em fenômenos linguísticos, por meio da quantificação de ocorrências e do cálculo de probabilidades. Com base nessas principais diferenças, faço uma comparação entre as duas correntes.

25 8 Segundo o Gerativismo, a linguagem, seu objeto de estudo, por ser uma faculdade exclusiva da espécie humana, é um dos elementos que nos diferenciam das outras espécies da biosfera. Sendo determinada pela biologia (codificada no genoma humano), a faculdade da linguagem pode ser descrita como uma característica do Homo sapiens sapiens, da mesma maneira que o são a respiração pulmonar e a existência de olhos sensíveis a variações de luminosidade e cor, ou seja, a linguagem existe como resultado de mutação e seleção natural. Assim, a linguagem está presente da mesma forma em toda a espécie, o que permitiu a criação do conceito de Gramática Universal: todas as línguas existentes são regidas pelos mesmos princípios e regras; por outro lado, por ser uma característica biológica, a linguagem está presente, individualmente, em cada pessoa, que é capaz de desenvolver sua própria gramática individual (desde que não desobedeça à Gramática Universal), o que permite explicar as diferenças entre as línguas, entre os dialetos e entre os idioletos. Não é intenção principal da Sociolinguística observar seu objeto de estudo como algo individual e inerente ao ser humano como parte de sua constituição biológica; ao contrário, a capacidade de comunicação linguística é descrita como resultado da interação social entre as pessoas, portanto as línguas se desenvolveram, se tornaram mais complexas e atingiram a configuração que têm hoje acompanhando, paralelamente, o desenvolvimento da humanidade e a formação das civilizações a Sociolinguística não descuida, entretanto, dos elementos estruturais ou internos e seu papel na mudança, a ponto de Labov (1994) ter iniciado um resumo dos principais achados da pesquisa sociolinguística por um volume que trata exclusivamente dos fatores internos. Por ter uma função social, as línguas podem ser descritas segundo pressupostos do Funcionalismo, não sendo acaso o fato de a utilização simultânea da Sociolinguística e do Funcionalismo ser quase nada polêmica, ou gerar muito menos críticas do que a união entre a Sociolinguística e o Gerativismo. A Sociolinguística não se interessa por uma gramática individual, mas por uma coletiva, delimitada pelo que se denominou comunidade de fala ou comunidade linguística.

26 9 Assim, para a Sociolinguística, as gramáticas de cada falante de uma língua ou comunidade de fala não são consideradas individuais, mas moldadas pelo contato entre os indivíduos de toda a comunidade (embora isso não signifique que a origem da mudança seja de natureza social), enquanto o Gerativismo prega a individualidade da gramática de cada um. Por outro lado, a Sociolinguística pretende delimitar fronteiras entre as comunidades de fala e entre as línguas, descrevendo as diferenças entre elas, enquanto o Gerativismo prioriza as semelhanças, chegando alguns estudiosos a afirmar, com base na Gramática Universal, que todas as línguas do mundo são iguais (em LF) 1. Conclui-se que ambas as correntes admitem semelhanças e diferenças entre sistemas, porém a Sociolinguística prioriza semelhanças na micro-observação (comparando indivíduos) e diferenças na macro-observação (comparando línguas), e a Gramática Gerativa prioriza diferenças na micro-observação (entre indivíduos) e semelhanças na macro-observação (entre línguas). Com base nessa pequena comparação entre as correntes, é possível afirmar que, mais do que apresentar características diferentes, elas têm focos opostos. E esse parece ser o motivo que levou diversos pesquisadores a opinar contra a utilização simultânea das duas, apresentando argumentos que testemunham a favor da impossibilidade da união, conforme apresento em 3. Porém, ao longo do capítulo, procurarei mostrar que, para a pesquisa pretendida aqui, a utilização dessas duas teorias é não só possível, como necessária. 2 PRESSUPOSTOS Apresento, nas duas subseções seguintes, separadamente, pressupostos teóricos gerativistas e variacionistas que são importantes para o desenvolvimento deste trabalho. Em seguida, em 3, faço uma reflexão sobre a utilização das duas teorias numa mesma pesquisa, mostrando em que medidas cada uma teve que ser adaptada ou afrouxada para a realização deste trabalho. A justificativa para a utilização das duas correntes está em 4. 1 Transcrição literal de frase dita pelo professor Celso Novaes, em uma de suas aulas de Introdução à Gramática Gerativa, disciplina que frequentei durante o primeiro semestre de 2004 no curso de Mestrado (UFRJ).

27 GRAMÁTICA GERATIVA A mente humana é modular, podendo ser separada em faculdades, sendo cada uma responsável por algo diferente na vida dos seres, como, por exemplo, visão e locomoção. Uma dessas faculdades é a faculdade da linguagem, associada à produção e à interpretação de sentenças em uma ou mais línguas. Cada módulo opera por meio de seus princípios e, no caso da faculdade da linguagem, o conjunto de princípios é denominado Gramática Universal. Tais princípios da linguagem não são conscientemente conhecidos, o que é um indício de que sejam inatos, provavelmente 2 codificados no genoma humano. A existência de linguagem em todos os indivíduos da espécie humana (salvo em caso de sérias patologias), e somente nessa espécie, serve para reforçar tal afirmação; acrescenta-se, também, o argumento da pobreza de estímulos (CHOMSKY, 1981, p. 1986): um falante exibe conhecimentos sobre sua língua que não podem ser diretamente inferidos dos dados a que ele é exposto. Com base, principalmente, nesses argumentos, assumo como verdade, neste estudo, a linguagem como uma propriedade genética humana. Existem dois tipos de princípios: os mais rígidos (aos quais me referirei, daqui em diante, simplesmente por princípios), que são invariantes para todas as línguas, e os mais flexíveis (denominados parâmetros na literatura gerativista), cuja realização difere línguas. Cada parâmetro pode ser marcado positiva ou negativamente 3 e, segundo Raposo (1992), a marcação negativa representa um subconjunto da positiva: o Parâmetro do Sujeito Nulo, por exemplo, divide as línguas entre as [+ sujeito nulo] e as [ sujeito nulo]; enquanto as línguas [ sujeito nulo] só exibem sujeitos plenos, as [+ sujeito nulo], embora demonstrem preferência pelos sujeitos nulos, podem exibir sujeitos nulos e plenos. A seguir, apresento uma definição mais detalhada de parâmetro Definindo parâmetro 2 Estudos que comparam seres humanos com outros mamíferos sugerem associação entre o gene FOXP2 e a linguagem humana (FISHER, 1998; ENARD, 2005 apud BERWICK & CHOMSKY, 2008). Pesquisas mais recentes sobre esse gene em pássaros (VARGHA-KADHEM, 2005; GROSZER, 2008 apud BERWICK & CHOMSKY, 2008), porém, mostram que ele não é responsável pela linguagem, mas por uma coordenação motora fina, que, nos seres humanos, está associada à externalização da linguagem. Segundo Berwick & Chomsky (2008), o FOXP2 é responsável por movimentos precisamente coordenados de partes da boca e da face (para a expressão pela fala) ou das mãos (para a expressão pela língua de sinais), e não pela linguagem em si. Assim, a hipótese de que a linguagem é determinada geneticamente ainda carece de comprovação definitiva. 3 A existência de duas possibilidades de marcação para um parâmetro é um postulado aceito e seguido por praticamente toda a comunidade científica. Na seção 4, porém, apresento uma concepção de parâmetro como escala polarizada, concepção essa que adoto nesta pesquisa.

28 Quantidade de parâmetros 11 Embora existam princípios gramaticais invariantes, válidos para todas as línguas, é certo que línguas são diferentes entre si em certas propriedades. Essa variabilidade pode ser explicada pelos parâmetros, que são marcados positiva ou negativamente, ou seja, cada parâmetro abstrato tem potencialmente dois efeitos (ou conjuntos de efeitos) na realização das línguas. Segundo Kayne (1996), o parâmetro é a menor unidade da variação sintática. Dada a grande variabilidade observada entre línguas e entre dialetos, intuitivamente é possível imaginar que a quantidade de parâmetros deva ser muito grande. Kayne (1996) afirma que, atualmente, existem cerca de 5 mil línguas no mundo. E, considerando todos os seus dialetos, essa quantidade é ainda maior. Se for adotada uma visão mais radical, segundo a qual dois falantes não utilizam a língua da mesma maneira (BLOOMFIELD, 1933 apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968) 4, a quantidade de línguas existentes atualmente seria igual à quantidade de pessoas vivas, isto é, mais de 5 bilhões. Isso pode levar a crer que, para explicar tamanha variabilidade, a quantidade de parâmetros deva ser imensa. E essa enorme quantidade de parâmetros demoraria muito mais tempo para ser marcada por uma criança do que o tempo que se acredita que uma criança leva para adquirir uma língua. Um cálculo matemático simples, porém, mostra que essa intuição é falsa. Para estimar a quantidade de parâmetros existentes, imaginemos que a quantidade de parâmetros a ser marcados é x. A tabela a seguir mostra, em suas colunas, todas as combinações possíveis de marcações positivas e negativas dos parâmetros, em quatro cenários imaginários, representados pelas quatro linhas da tabela: a existência de apenas um, dois, três ou quatro parâmetros. COMBINAÇÕES PARAMÉTRICAS POSSÍVEIS Quantidade de línguas 1 a + 02 (= 2 1 ) 2 a + + b (= 2 2 ) a b (= 2 3 ) c a b c (= 2 4 ) d LÍNGUAS Tabela I.1 Quantidade de línguas possíveis em relação à quantidade de parâmetros existentes 4 Essa visão já era defendida por Paul (1880 apud WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), para quem a língua seria uma entidade psicológica.

29 12 A primeira linha da tabela representa um cenário imaginário em que só existisse um parâmetro: duas línguas seriam possíveis, uma com a marcação positiva e outra com a marcação negativa para esse parâmetro único. Em seguida, apresento um cenário com dois parâmetros: as quatro colunas mostram as quatro combinações de marcações positivas e negativas para esses dois parâmetros em conjunto ([+ a,+ b], [+ a, b], [ a, + b] e [ a, b]), o que significa que, se apenas existissem dois parâmetros, apenas quatro línguas existiriam. O mesmo é demonstrado para os outros cenários imaginados: com três parâmetros, oito línguas seriam possíveis; com quatro parâmetros, 16 línguas poderiam existir. Assim, a quantidade de línguas depende da quantidade de parâmetros da seguinte maneira: com um parâmetro, 2 1 línguas ( dois elevado a um, ou seja, duas línguas); com dois parâmetros, 2 2 línguas ( dois elevado ao quadrado, o que equivale a dizer quatro línguas); com três parâmetros, 2 3 línguas ( dois ao cubo, ou oito línguas); com quatro parâmetros, 2 4 línguas ( dois elevado à quarta potência : 16 línguas), e assim sucessivamente. Dessa forma, a quantidade de línguas possíveis deve ser calculada numa operação em que a quantidade de marcações para cada parametro (que são duas: + e ) é elevada à quantidade de parâmetros existentes. Simplificadamente, se a quantidade de parâmetros é x, então a fórmula matemática que se aplica é: quantidade de línguas = 2 x ( 2 elevado à quantidade de parâmetros ). Então, para dar conta da existência de 5 mil línguas, são necessários apenas 13 parâmetros, já que 2 13 = Kayne (1996) afirma, porém, que a quantidade de 5 mil é subestimada se consideramos que dialetos de uma língua também devem ser contados (e também línguas que já existiram e não existem mais, ou que possam vir a existir no futuro por conta de mudança paramétrica) o autor exemplifica que 500 dialetos podem ser identificados somente no italiano. Mesmo assim, com apenas 33 parâmetros poderiam ser descritas mais de 8 bilhões de línguas (2 33 = ), número que é maior do que a população mundial atual. Se o número de 50 parâmetros é razoável para marcação durante o período de aquisição, como afirma o autor, então mais de um quatrilhão (ou 1 seguido de 15 zeros 5 ) de línguas seriam possíveis. Com 100 parâmetros, teríamos mais de um nonilhão (ou seja, 1 seguido de 30 zeros 6 ) de línguas. Dessa forma, não é absurdo afirmar que toda a variabilidade entre as línguas pode ser capturada por um conjunto finito de parâmetros, cada um com suas duas possíveis marcações, interagindo com os princípios universais. 5 2 elevado a 50ª potência, ou 2 50, é igual a =

30 13 Uma outra questão relacionada aos parâmetros é como saber se um conjunto de propriedades de uma língua é efeito de um mesmo parâmetro ou se se trata de distintos parâmetros. O Parâmetro do Sujeito Nulo, por exemplo, é descrito como o conjunto das propriedades listadas abaixo as propriedades de (a) a (e) foram dadas por Chomsky (1981); a propriedade (f) foi apresentada por Rizzi (1982); (g) e (h), acrescentadas por Roberts (1993); (i) e (j) são de Roberts & Holmberg (2010). São consideradas propriedades do mesmo parâmetro uma vez que ou todas se manifestam (caso das línguas de sujeito nulo) ou nenhuma delas se manifesta (caso das línguas de sujeito pleno). (1) Conjunto de propriedades associadas ao Parâmetro do Sujeito Nulo: a. sujeito pronominal nulo; b. inversão livre do sujeito; c. movimento longo do qu- sujeito; d. pronome resumptivo vazio em orações subordinadas; e. ausência de efeito do filtro complementizer-trace 7 ; f. movimento longo de objeto; g. seleção de auxiliar; h. subida de clítico; i. expletivo nulo; e j. diferença de interpretação entre sujeito nulo e pleno. Ou, usando a notação matemática e denominando o Parâmetro do Sujeito Nulo conjunto S, temos um conjunto com dez elementos: (2) S = {sujeito nulo, inversão livre, movimento longo de qu-, resumptivo vazio, ausência de efeito do filtro complementizer-t, movimento longo de objeto, seleção de auxiliar, subida de clítico, expletivo nulo, diferença de interpretação entre sujeito nulo e pleno} Para verificar se uma lista de propriedades realmente se refere a um mesmo parâmetro, deve-se observar em diversas línguas, comparativamente, se tais propriedades ocorrem sempre juntas. Kayne (1996) menciona um experimento com o qual se poderia verificar isso 7 No Capítulo II, porém, mostro que tal filtro é universal e que, em algumas línguas, embora o filtro esteja sempre atuando, não é observado nenhum efeito na estrutura superficial.

31 14 diretamente em uma língua 8 : pegue uma língua, altere uma única propriedade dela e examine o resultado para ver se outra(s) propriedade(s) muda(m) como consequência da manipulação original; se sim, interprete esse resultado como indicador de que essa(s) propriedades e a propriedade originalmente alterada estão ligadas por um mesmo parâmetro. Evidentemente, uma experiência de manipulação como essa pode ser realizada quando o objeto de estudo são átomos ou células, mas é impossível para estudar línguas, então o autor mostra o que seria o mais próximo disso, dentre as metodologias possíveis para o estudo das línguas (KAYNE, 1996, p. xii): examinando pares (e conjuntos maiores) de línguas mais proximamente relacionadas, é possível começar a se aproximar do resultado de tal experimento. 9 A maneira de verificar se uma lista de propriedades está associada a um único parâmetro seria análoga à busca por pares mínimos que serve para identificar se uma lista de fones representa um único fonema. Considerando, abstratamente, a observação de cinco propriedades sintáticas (chamemo-las de a, b, c, d e e), verifica-se, interlinguisticamente, se é verdade que ou todas se manifestam ou nenhuma se manifesta: se, em algumas línguas observadas, a, b, c, d e e se comportam de uma mesma maneira e, em outras, todas essas propriedades apresentam o comportamento inverso, é provável que se trate de apenas um parâmetro (ou seja, para o parâmetro P, temos P = {a, b, c, d, e}); se, por outro lado, a manifestação de d e e, por exemplo, independe do que se observa para a, b e c, estamos diante de pelo menos dois parâmetros (nesse exemplo, um parâmetro P teria, como efeito, as propriedades a, b e c, ou P = {a, b, c}; o outro, que pode ser chamado de Q, as propriedades d e e ou, em notação matemática, Q = {d, e}). Se for possível isolar uma determinada propriedade encontrando duas línguas que se difiram somente em relação a ela (ou seja, um par mínimo de línguas), significa que tal propriedade, sozinha, representa o efeito de um parâmetro (isto é, esse parâmetro só tem uma propriedade, ou seja, é um conjunto unitário, que poderia ser matematicamente representado assim: P = {b}), e isso seria mais facilmente obtido comparando línguas semelhantes do que comparando línguas de famílias distintas. Por esse motivo, opto por comparar, nesta pesquisa, línguas próximas. Todas as línguas consideradas são do grupo românico 10 : português, espanhol e italiano. Além disso, 8 O que segue é uma paráfrase minha a partir do texto original. 9 by examining pairs (and larger sets) of ever more closely related languages, one can begin to approximate the result of such an experiment 10 Em alguns pontos do texto insiro o inglês, que não é uma língua do grupo românico, na comparação. Faço isso sempre que é necessário um contraponto com uma língua de sujeito pleno prototípica, já que, entre as línguas investigadas aqui, nenhuma apresenta esse comportamento (embora o espanhol dominicano se aproxime bastante disso). A escolha do inglês se deve ao fato de ser a língua mais completamente descrita quanto ao fenômeno.

32 15 observo quatro variedades 11 do espanhol e duas do português. Para finalizar, cito Chomsky (1995), para quem toda variabilidade entre línguas está associada a um núcleo funcional da estrutura sentencial. Em outras palavras, a marcação de cada parâmetro é, na realidade, um traço negativo ou positivo de um núcleo funcional. Sendo assim, existem tantos núcleos funcionais na estrutura sintática quantos são os parâmetros que diferenciam línguas Resumo da seção Nesta parte, apresentei muito brevemente os pressupostos gerativistas e do quadro de Princípios e Parâmetros e me detive mais no conceito tradicional de parâmetro. Com base em Kayne (1996), demonstrei que a quantidade de parâmetros existentes deve ser limitada e menor do que o que geralmente se imagina e mostrei como se pode diferenciar um parâmetro de uma propriedade variante que, junto com outra(s), constitui um parâmetro mais abrangente. Além disso, apresentei a concepção de parâmetro que adoto: a menor unidade da variabilidade linguística, obrigatoriamente associada a um núcleo funcional. 2.2 VARIAÇÃO E MUDANÇA A principal afirmação da Sociolinguística é a de que a variação está presente em todas as línguas naturais. O objeto de estudo não é a competência linguística: a língua é vista como desempenho e é analisada como é produzida. Dessa forma, fica impossível ignorar a variação. Um estudo variacionista é restrito a uma comunidade de fala, que é um grupo de indivíduos que interagem entre si falando a mesma língua, delimitado por critérios sociais e geográficos, ou então compara comunidades de fala distintas, bem criteriosamente delimitadas. Labov (1972, p. 248) define a comunidade de fala como um grupo de falantes que compartilham um conjunto de atitudes sociais em relação à língua 12. Assim, é possível 11 No texto desta Tese, utilizo o termo língua para me referir, inclusive, ao que se costuma denominar variedade de uma língua; dessa forma, trato as variedades europeia e brasileira do português, por exemplo, como duas línguas distintas. Faço isso porque considero que, apresentando comportamentos diferentes em relação a pelo menos um parâmetro, trata-se de sistemas/gramáticas diferentes, portanto línguas distintas, independentemente da sua origem histórica comum e do nome que receberam. A palavra variedade é usada unicamente com o objetivo de simplificar o texto, sem prejuízo à idéia de que são línguas diferentes, quando me refiro, em conjunto, a línguas que foram batizadas com o mesmo nome: assim, por quatro variedades do espanhol, por exemplo, entenda-se quatro línguas: espanhol europeu, espanhol argentino, espanhol portoriquenho e espanhol dominicano. 12 a group of speakers who share a set of social attitudes towards language

33 16 identificar a que comunidade de fala pertence uma pessoa com base na sua maneira de usar a língua, já que dois falantes de uma mesma comunidade apresentam muito mais semelhanças do que dois falantes de comunidades diferentes, ainda que falem a mesma língua. A variação é observada, porém, dentro de uma comunidade de fala e, até mesmo, na fala de um único indivíduo. Mas a variabilidade é condicionada por fatores de ordem linguística e/ou social, não sendo aleatória. Análises quantitativas e probabilísticas podem mostrar a influência de cada fator na escolha entre as variáveis em competição. Quanto mais monitorada a fala, mais se usam variantes-padrão e, consequentemente, menos variação se observa. Para analisar variação, então, o ideal seria observar o estilo casual dos falantes, quando o monitoramento é mínimo, mas isso é mais difícil metodologicamente (e pode gerar protestos com base em questões éticas, já que a melhor maneira de fazer com que o falante monitore menos sua fala é não deixar que ele saiba que ela está sendo gravada), por isso uma maioria esmagadora dos estudos (assim como o presente trabalho) usa entrevistas sociolinguísticas, das quais o falante consente a gravação. Esse é o paradoxo do observador (LABOV, 1972): a Sociolinguística objetiva analisar a maneira como os falantes usam a língua quando não são sistematicamente observados, mas só é possível obter dados para essa análise através de observação sistemática. O estudo da variação oferece um ótimo material para a investigação da mudança linguística, já que toda mudança em um fenômeno da língua provém de uma variação existente nesse mesmo fenômeno. Por outro lado, não existe garantia de que um fenômeno variável vá desencadear uma mudança. Na seção seguinte, apresento alguns pontos da teoria da mudança linguística, com base em Weinreich, Labov & Herzog (1968) A teoria da mudança linguística, segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968) A teoria da mudança linguística tem seus pressupostos, majoritariamente, originados dos Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968). Nesse livro, os autores vão contra a visão estruturalista da língua como uma entidade homogênea, mas também não aceitam que a variabilidade linguística seja acidental e aleatória. Introduzem, assim, o conceito de heterogeneidade ordenada, demonstrando que toda língua apresenta variação e mudança, mas que variação ou mudança não podem ultrapassar certos limites linguísticos. A maior contribuição para os estudos da mudança linguística, nesse texto, é o estabelecimento das cincos questões que devem ser respondidas por uma investigação sobre

34 17 mudança na língua: condicionamento 13, transição, encaixamento, avaliação e implementação. Os autores chegaram a essas questões com base em estudos empíricos. Nas subseções seguintes, apresento resumidamente cada uma delas Condicionamento O condicionamento se refere aos fatores linguísticos e sociais que condicionam uma mudança (favorecendo ou desfavorecendo cada uma das formas em competição), bem como aos limites axiomáticos que variação e mudança não podem violar (ou seja, pelo condicionamento, certas variantes ou mudanças não podem ocorrer, por conta de restrições inerentemente linguísticas). Além dos favorecimentos e das restrições, Weinreich, Labov & Herzog (1968) afirmam que a direção seguida por uma mudança também é condicionada. No texto citado, apresentam evidências empíricas de que mudanças semelhantes sempre seguem para um sentido, e nunca para o sentido inverso Transição A mudança é contínua, ou seja, entre dois estágios quaisquer de uma mudança sempre existe uma etapa intermediária. Esses infinitos pontos na evolução de uma mudança linguística podem ser agrupados em três grandes fases. Segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 122): A mudança se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competência, e (3) quando uma das formas se torna obsoleta Encaixamento O encaixamento se refere à relação com outras mudanças, que influenciam ou engatilham a mudança observada. Uma mudança linguística sempre é encaixada tanto na estrutura linguística quanto na social (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, p. 114): características linguísticas e sociais, bem como mudanças precedentes na língua e na sociedade, podem ser apontadas como tendo desencadeado a mudança linguística em análise, 13 O termo constraint, na edição em português de Weinreich, Labov & Herzog (1968) que consultei, foi traduzido para restrição. Mas o significado é mais amplo, pois constraint pode referir-se tanto a algo que restringe quanto a algo que favorece. Por isso, optei por usar a palavra condicionamento, que é mais abrangente.

35 18 como a tendo influenciado ou como tendo determinado seus rumos, o que relaciona o encaixamento diretamente a cada uma das outras quatro questões. Além disso, a própria mudança em análise engatilhará uma mudança futura, que ocasionará uma outra, e assim por diante, numa reação em cadeia Avaliação Segundo Labov (1972, p. 251), os falantes não aceitam facilmente o fato de que duas expressões diferentes significam a mesma coisa. Por isso, tendem a atribuir significados distintos a cada uma delas. Esse tipo de avaliação é natural e inconsciente. Mais consientemente, as variantes envolvidas na mudança são avaliadas pela comunidade de fala como sendo ou não de pretígio, como certas ou erradas, como inovadoras ou conservadoras etc. Além disso, uma característica linguística particular a um grupo social serve para identificar falantes de tal grupo (cf. LABOV, 1972, p. 251); assim, o prestígio ou não-prestígio que tal grupo tem está diretamente ligado à maneira como as formas linguísticas usadas por ele são avaliadas. O grau de avaliação varia segundo o fenômeno: para Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 114), as mudanças que envolvem variantes cujas frequências se diferem segundo a classe social são mais conscientes, portanto mais suscetíveis à avaliação. A avaliação positiva ou negativa das variantes é um dos determinantes do percurso da mudança. Não é, porém, homogênea: a avaliação diverge entre os falantes, segundo suas diversas posições sociais (por exemplo, os falantes mais idosos podem avaliar mais positivamente uma variante conservadora enquanto os falantes mais jovens prefiram a inovadora). Dessa forma, durante a etapa central de uma mudança, a implementação pode darse de maneira bastante distinta em diferentes classes sociais, faixas etárias, gêneros etc, o que causa, pelos resultados da análise variacionista, a impressão de que a variação é aleatória, mas, ao fim da transição, uma das formas se torna universal e seu valor social se perde Implementação A última questão, considerada a mais fundamental pelos os autores, pode ser traduzida pela seguinte pergunta (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, p. 37): Por que as mudanças num aspecto estrutural ocorrem numa língua particular numa dada época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras épocas? A mudança

36 19 ocorre, na verdade, por causa do encaixamento, que faz com que uma variante de uma variação já existente comece a ser implementada por um grupo social da comunidade de fala em determinados contextos linguísticos. A mudança se completa quando tal variante se generaliza, implementando-se em todos os grupos e contextos e perdendo o valor avaliativo que tinha. 3 SOBRE A UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DAS DUAS CORRENTES Borges Neto (2004) afirma que a Gramática Gerativa e a Sociolinguística são incompatíveis, sendo impossível a aproximação chamada de Sociolinguística Paramétrica (MOINO, 1987; NUNES, 1990, PAGOTTO, 1992; RAMOS, 1992; CYRINO, 1994). Segundo o autor, a incompatibilidade é causada, principalmente, pelo fato de as duas teorias terem objetos de estudo distintos: a Gramática Universal e a gramática de uma comunidade de fala, respectivamente. O trecho seguinte (BORGES NETO, 2004, p. 208) reforça tal opinião: não se pode exigir que a gramática gerativa dê conta da variação e da mudança lingüística ou que a sociolingüística dê conta da gramática universal presente na mente/cérebro dos falantes como herança genética. Borges Neto (2004) critica Tarallo (1987, p. 54 apud BORGES NETO, 2004, p. 210), que afirma que a complementaridade entre as duas teorias se torna uma realidade se desconsiderarmos (...) o componente social da linguagem. Segundo Borges Neto (2004), isso seria reduzir a Sociolinguística de teoria a metodologia. O autor acrescenta que a introdução do conceito de parâmetro na Sociolinguística tem duas consequências, ambas negativas: o conceito ficaria descaracterizado e a Sociolinguística seria esvaziada do que lhe é essencial. Neste trabalho, as duas teorias são usadas como complementares: as propriedades dos parâmetros do quadro de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981) da Gramática Universal auxiliam as investigações de caráter variacionista no levantamento das hipóteses e no estabelecimento dos grupos de fatores; da mesma forma, as tendências identificadas pelas pesquisas variacionistas ajudam a determinar ou atualizar as propriedades características dos parâmetros em questão. Os resultados encontrados nos estudos sobre o sujeito pronominal, por exemplo, têm contribuído para uma rediscussão sobre quais são as propriedades das línguas de sujeito nulo (KATO, 2000; DUARTE, 2004; BARBOSA, DUARTE & KATO, 2005; KATO & DUARTE, 2005). Apresento, na tabela a seguir, resumidamente, os pontos mais divergentes das duas teorias usadas como pressupostos e as soluções que adoto para permitir o uso de ambas neste trabalho.

37 A variabilidade linguística A entidade língua/linguagem A origem dos dados para a análise O objeto de estudo 20 GERATIVISMO VARIACIONISMO UNIÃO DAS DUAS CORRENTES A competência linguística dos falantes (a língua-i, interna). O desempenho linguístico dos falantes (a língua-e, externa). A competência linguística (língua-i), observada através do desempenho (língua-e). Na maioria dos estudos, os dados analisados provêm da intuição de um falante nativo. A faculdade da linguagem, relacionada à competência linguística, é inata, biologicamente determinada e universal para toda (e somente para) a espécie humana; e a língua é um fenômeno interno e individual, relacionado ao desempenho linguístico. Diferentes modos de falar dentro de uma mesma língua ou são explicados pela existência de gramáticas em competição (durante o progresso de uma mudança paramétrica) ou são consideradas superficiais 14. À Gramática Gerativa não interessam as variações superficiais porque estas se manifestam apenas no desempenho, não estando codificadas na competência. Os dados analisados são sempre coletados de amostras de uso real da língua em uma comunidade de fala. A língua é um fenômeno coletivo e é determinada pelo contato social. Sentenças produzidas pela intuição de falantes, neste trabalho, não são consideradas dados confiáveis (Cf. CHOMSKY, 1964). Não é possível, porém, observar a competência linguística diretamente na mente dos falantes, por não haver ainda tecnologia disponível para tal feito. Analisase a competência, então, indiretamente, através da comparação de amostras de uso real de diferentes línguas. Os princípios linguísticos universais, que dão conta das semelhanças entre todas as línguas, são inatos, assim como as possibilidades de marcação de cada parâmetro. A seleção entre as marcações disponíveis para cada parâmetro é adquirida pelo contato social. A variação, determinada por contextos linguísticos e sociais, pode ser superficial ou estar relacionada à marcação de um parâmetro, sendo esta última a que interessa a A variação dentro de uma língua é determinada por contextos este trabalho. A variação paramétrica está linguísticos e sociais, que podem ligada a uma mudança paramétrica, com a favorecer ou desfavorecer o uso existência de gramáticas em competição. A de cada uma das formas em observação das tendências apontadas pelas competição, podendo estar ou não análises de caráter variacionista indica quais relacionada a uma mudança são os contextos estruturais e sociais que linguística. permitem que a mudança se implemente mais rapidamente e quais são os mais resistentes a ela. Tabela I.2 Principais adaptações necessárias para a utilização das duas correntes teóricas simultaneamente Além disso, Gerativismo e Variacionismo diferem quanto ao estabelecimento da função primordial da linguagem. Enquanto Labov (1972, p. 183) afirma que a língua é uma forma de comportamento social 15, usada para a comunicação com outro(s), utilizando os argumentos de que crianças criadas em isolamento não usam língua e de que pouquíssimas pessoas gastam muito tempo falando consigo mesmas 16, para os gerativistas a função primordial da linguagem é a de organizar pensamentos (cf. RAPOSO, 1992). Na verdade, as pessoas passam mais tempo pensando e planejando sozinhas (e utilizando linguagem para isso) do que transmitindo mensagens a outras, ou seja, elas falam mais consigo mesmas do 14 Existe, ainda, a possibilidade de um parâmetro não ter sido muito bem descrito e analisado, fazendo com que as realizações relacionadas a ele sejam tratadas erroneamente como variação superficial. 15 language is a form of social behavior 16 children raised in isolation do not use language, very few people spend much time talking to themselves

38 21 que com outros, portanto assumo que a função principal é interna, a de organizar pensamentos, sendo a transmissão de mensagens uma função secundária da linguagem. Um ponto comum entre as duas correntes, mas que geralmente não é citado, é a existência dos princípios linguísticos, geralmente mencionados somente quando se fala de Gramática Gerativa. Na verdade, variacionistas também postulam e adotam princípios invariantes, como aqueles que devem ser definidos como parte da resposta à questão do condicionamento (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968) em estudos sobre mudança. Uma definição simples e generalizante, que não é nada contraditória em relação ao conceito gerativista, foi feita pelo sociolinguista Labov (1994, p. 48): Um princípio é uma generalização que não está restrita em sua aplicação no tempo ou no espaço. 17 Nesta seção, apresentei as críticas de Borges Neto (2004) sobre a utilização simultânea do Gerativismo e do Variacionismo num mesmo trabalho. Mostrei, também, as adaptações que adoto para poder utilizar as duas correntes. Na seção seguinte, defendo a utilização das duas correntes teóricas neste trabalho. 4 POR QUE UTILIZAR A VARIAÇÃO PARAMÉTRICA Um dos objetivos desta pesquisa (e sua principal motivação) é descrever o sistema do português brasileiro em relação ao fenômeno do apagamento e do preenchimento do sujeito no que se refere à mudança paramétrica em direção aos sujeitos expressos. E, num estudo paramétrico, faz-se obrigatória a comparação do sistema em análise com outros, pois, do contrário, o próprio conceito de parâmetro não teria sentido. Análises de sistemas de sujeito nulo e de sistemas que também estão passando por essa mudança são fundamentais para tal comparação, que vai ajudar a descrever a mudança no português brasileiro e o comportamento dessa língua em relação ao fenômeno. O grande problema em fazer uma análise puramente gerativa é a origem dos dados analisados, que provêm, geralmente, da intuição do próprio pesquisador ou de falantes consultados, ou, ainda, de julgamentos de gramaticalidade, também baseados na intuição linguística. Esses dados, embora muito importantes para formular hipóteses, não são considerados, aqui, totalmente confiáveis para a análise. E o mesmo se pode dizer das conclusões obtidas com base neles. É sabido que os falantes não têm consciência do que falam e de como falam, no que se 17 Un principio es una generalización que no está restringida en su aplicación en el tiempo o en el espacio.

39 22 refere à estrutura da língua em seus vários níveis, o que permite que tenham certeza de que realizam determinado fenômeno de uma maneira, mas na realidade o realizam de outra, o que pode ser comprovado através da gravação e posterior análise da fala dos indivíduos. Além disso, quando apresentados a testes de percepção e de produção eles mesmos afirmam usar o que efetivamente não usam; outras vezes não percebem estruturas que conscientemente rejeitam. E os linguistas, por serem também falantes, podem cometer o mesmo engano : não é impossível que um estudioso, ao realizar uma pesquisa, classifique, por exemplo, como agramatical uma estrutura que ele mesmo usa corriqueiramente na fala, já que antes de ser um linguista é um falante e, como tal, pode não ter consciência plena de todos os seus usos. Desconsiderando a opção de analisar a competência linguística por meio de sentenças produzidas com base na intuição, não resta outra opção para a análise direta da língua-i. Por causa disso, os dados que servem de corpus para este trabalho são extraídos de gravações de fala real, ou seja, da língua-e. Como em Kato & Nascimento (2009), a observação da língua-i é indireta: como as características da língua-i se refletem no desempenho, no uso (língua-e), a observação deste pode revelar as propriedades paramétricas das línguas em análise. Uma pesquisa baseada apenas em dados reais, porém, não elicita dados agramaticais, gerando uma análise que não é totalmente completa, ou seja, há problemas tanto em usar somente julgamentos intuitivos como em usar somente dados reais. Tentando solucionar esse problema, faço, sempre que necessário, referências a julgamentos de gramaticalidade de trabalhos anteriores sobre o fenômeno, que podem servir de base de comparação para as análises que obtenho aqui a partir de dados reais de fala. E, como recurso metodológico, quando não disponho de julgamento por parte de um falante nativo, considero agramaticais as estruturas que não são produzidas na amostra da língua analisada, inspirando-me no que Labov (1994, p. 45) diz sobre estudos em Linguística Histórica: O testemunho negativo sobre o que é agramatical só pode ser inferido de lacunas óbvias na distribuição. 18 O ponto motivador da realização deste trabalho é a mudança paramétrica que ocorre no português brasileiro, que, antes uma língua prototipicamente [+ sujeito nulo], caminha no sentido de se tornar uma língua [ sujeito nulo]. Sobre mudanças, gerativistas e variacionistas concordam que elas pressupõem variação (embora os termos técnicos para fazer essa afirmação difiram entre os seguidores de uma e outra corrente). A mudança é gradual, leva tempo para que seja totalmente concluída, e é nesse intervalo que a variação de formas em competição pode ser observada: a estrutura inovadora surge com pouca frequência e em 18 El testimonio negativo sobre lo que es agramatical sólo puede inferirse de huecos obvios en la distribución.

40 23 contextos específicos, e, à medida que a mudança avança, atinge novos contextos e aumenta em frequência, até que se generalize em todos os contextos e alcance uma frequência categórica ou quase categórica, momento em que se pode dizer que a mudança está concluída. Por isso, é importante a aplicação da Teoria da Variação e Mudança, que apresenta um modelo mais completo para a descrição da mudança linguística, o que permite uma observação mais detalhada desta, através da observação das cinco questões mencionadas. Assim, a Sociolinguística Variacionista, diferentemente do que diz Borges Neto (2004) sobre a união das duas correntes teóricas, não é utilizada, aqui, somente como procedimento metodológico. Para citar apenas dois exemplos, o problema do condicionamento foi adotado porque o conhecimento dos fatores condicionantes é importante no estudo de uma mudança, e por isso eles serão controlados, e o encaixamento é explicado quando identifico mudanças anteriores que desencadearam a mudança em direção ao sujeito pleno nas línguas observadas. A variação é foco de atenção neste trabalho, por isso utilizo o rótulo Variação Paramétrica, proposto por Ramos (1999), para me referir à conjugação de correntes teóricas. Além disso, a observação das frequências e dos pesos relativos feita em Soares da Silva (2006) fez perceber que é difícil classificar todas as línguas naturais apenas por meio das marcações positiva e negativa do Parâmetro do Sujeito Nulo. Na verdade, cada variedade analisada apresentou um comportamento diferenciado para as propriedades relacionadas ao parâmetro. Por isso, propus uma escala contínua, na qual as línguas podem ser localizadas, segundo o comportamento exibido, entre os extremos que representam os comportamentos prototípicos [ sujeito nulo] e [+ sujeito nulo] (SOARES DA SILVA, 2006) 19 : (3) [ sujeito nulo] [+ sujeito nulo] Dessa forma, a quantidade de parâmetros necessários para dar conta de todas as línguas que existem, existiram ou podem existir é ainda menor do que a que foi estimada em Naquela seção do capítulo, afirmei que a quantidade de línguas possíveis é igual à quantidade de marcações de cada parâmetro (duas) elevada à quantidade de parâmetros, ou seja, quantidade de línguas = 2 x. Se não são apenas dois os comportamentos possíveis das línguas em relação a um parâmetro, como defendo, pode-se imaginar que a quantidade de 19 Ao analisar um parâmetro da Gramática Universal considerando a Teoria da Variação, acaba sendo difícil tratá-lo como binário e discreto, já que a variação linguística é contínua. Mesmo assim, há uma polaridade, representando binariamente os comportamentos mais prototípicos que as línguas podem apresentar, localizados nos limites do segmento de reta proposto.

41 24 parâmetros (x) necessária para dar conta da existência de todas as línguas é ainda menor. A visão contínua do Parâmetro do Sujeito Nulo diverge do que sempre pregou a teoria gerativa. Mas a noção de parâmetro não foi totalmente abandonada. As propriedades associadas às línguas de sujeito nulo (e ausentes nas línguas de sujeito pleno), como, por exemplo, a possibilidade de inversão do sujeito e a subida de clítico, são mantidas, mas propõe-se observar as frequências e as tendências, que podem revelar que, em relação ao parâmetro analisado aqui, uma língua X pode ser mais de sujeito nulo do que uma língua Y (e que as línguas X e Y podem ser menos de sujeito nulo do que uma língua Z), quando duas ou mais línguas são comparadas. Sobre isso, Tarallo & Kato (1989, p. 20) já afirmavam: a lingüística das propriedades paramétricas parece agir no sentido de TUDO ou NADA; a das probabilidades, na direção do MAIS ou MENOS (grifos do original). Os autores dão a entender que a visão contínua pode ser uma forma de explicar e interpretar qualquer parâmetro ou fenômeno, não ficando restrita à realização do sujeito, tema deste trabalho. Mais adiante, exemplificam: Três línguas podem ser agrupadas como pertencentes a um mesmo parâmetro por compartilharem uma mesma propriedade, mas a abordagem quantitativa poderá aproximar duas delas contra a outra em função do grau de incidência de um fenômeno. (TARALLO & KATO, 1989, p. 24) 20 Se uma análise puramente gerativa não é suficiente para desenvolver o trabalho proposto aqui, como demonstrei acima, é necessário, também, explicar por que não fazer uma análise puramente sociolinguística. Acontece que, ao descrever diferenças entre línguas ou a mudança de acordo com o modelo variacionista, é possível chegar a uma descrição completa de cada língua analisada, fazer uma comparação entre elas e até observar cada passo da mudança observada, porém o trabalho não seria muito mais do que uma descrição que não responde, totalmente, às questões propostas por Weinreich, Labov & Herzog (1968). O gerativismo, então, contribui para estabelecer as causas de tudo o que é descrito, através da relação entre as questões propostas pelo modelo variacionista (condicionamento, transição, encaixamento, implementação e avaliação) e o funcionamento comum das mentes em relação à linguagem, de acordo com os conceitos de gramática, sistema, estrutura, princípio e parâmetro cf. Bolinger (1965, p. 10 apud CHAMBERS, 1995, p. 29), para quem o estudo da performance deve incorporar pressupostos gerativos ou outras assunções sobre a competência, 20 O texto citado leva a crer que, em lugar de como pertencentes a um mesmo parâmetro, se deva ler: como apresentando a mesma marcação (ou o mesmo comportamento) em relação a um parâmetro.

42 25 já que a competência linguística precede o desempenho SISTEMATIZAÇÃO DO CAPÍTULO Apresentei aqui os pressupostos das duas correntes teóricas utilizadas, considerando as adaptações necessárias para resolver o problema da incompatibilidade entre elas. A principal adaptação é no conceito de parâmetro, apresentado tradicionalmente na literatura como discreto e binário (com apenas duas possibilidades de marcação), que considero contínuo e polarizado, representado matematicamente por um segmento de reta, tendo, em seus extremos, os pontos que representam os dos dois comportamentos prototípicos em relação a ele e, entre os extremos, infinitos pontos, representando as infinitas possibilidades de comportamento que as diferentes línguas não-prototípicas podem exibir: podem estar mais ou menos afastadas de cada um dos extremos. A visão contínua do parâmetro, além de permitir uma melhor compatibilização entre o Gerativismo e o Variacionismo, é a conclusão obtida empiricamente em Soares da Silva (2006). Matematicamente, além de ser um segmento de reta, o parâmetro é também um conjunto. Os elementos desse conjunto são as propriedades que se diferem juntas quando se colocam línguas em comparação. Se apenas uma propriedade se diferir na comparação entre duas línguas, trata-se de um parâmetro com uma única propriedade, ou um conjunto unitário. Este capítulo mostra que as duas correntes teóricas que utilizo são tradicionalmente opostas, principalmente no que se refere à delimitação do objeto de estudo e à metodologia a ser aplicada, e apresenta as soluções que proponho para a utilização simultânea delas. Justifica a utilização das duas no trabalho, também como uma solução de problemas que cada uma apresentaria se fosse utilizada isoladamente (como, por exemplo, a caracterização discreta do parâmetro, como tendo apenas duas possibilidades, o que não permite uma explicação suficiente para o fenômeno): para a realização de um estudo mais completo, as duas teorias, desde que consideradas certas adaptações, se fazem complementares, sendo a teoria da Variação e Mudança necessária para pôr em prática as questões de Gramática Gerativa e a Gramática Gerativa necessária para pôr em prática as questões de Variação e Mudança. Considerando essas adaptações e afrouxamentos das duas correntes teóricas, o capítulo seguinte traz as assunções necessárias para o desenvolvimento do trabalho proposto, através de uma revisão de trabalhos já publicados sobre o tema. 21 Para uma visão oposta à de Bolinger, consulte-se Chambers (1995, p. 29).

43 CAPÍTULO II Revisão bibliográfica comentada

44 27 Inicio este capítulo fazendo uma revisão de alguns estudos funcionalistas sobre o apagamento e o preenchimento do sujeito. Em seguida, apresento um histórico das tentativas anteriores de relacionar a riqueza do paradigma flexional do verbo ao apagamento do sujeito, que também usam conceitos funcionais. Em 3, 4 e 5, apresento ideias sobre os mecanismos de licenciamento e identificação do sujeito nulo, sobre a estrutura sintática e sobre os parâmetros analisados. 1 ESTUDOS FUNCIONALISTAS SOBRE O FENÔMENO Trabalhos sobre o fenômeno que seguem uma perspectiva funcional tentam associar, de forma direta, o preenchimento do sujeito à falta de uma desinência verbal capaz de identificá-lo, como um mecanismo de compensação. Além disso, associam a tendência a apagar o sujeito a uma maior acessibilidade do antecedente que tem a mesma referência. Análises em Variação Paramétrica, a corrente teórica seguida neste trabalho, vão depor a favor desta associação e contra aquela. O artigo de Hochberg (1986) apresenta uma descrição do uso do pronome sujeito no espanhol falado por porto-riquenhas moradoras de Boston, com base na Condição de Distinção de Kiparsky (1982, p. 87 apud HOCHBERG 1986, p. 609): há uma tendência a serem retidas na estrutura superficial as informações semanticamente relevantes 1. No espanhol porto-riquenho, há variação quanto à realização fonética e ao apagamento do /s/ final, que é morfologicamente relevante quando indica plural num sintagma determinante (DP) ou segunda pessoa do singular num verbo. Enquanto os falantes de espanhol da Andaluzia (Espanha) compensariam a perda do /s/ com a abertura da vogal precedente (ALONSO, ZAMORA VICENTE & CANELLADA DE ZAMORA, 1950; ÁLVAR, 1970; NAVARRO-TOMÁS, 1939), no espanhol porto-riquenho a compensação desse apagamento nos verbos não se daria no nível fonético, mas no sintático, através da expressão do pronome sujeito, segundo a Hipótese Funcional 2. 1 there is a tendency for semantically relevant information to be retained in surface structure 2 Functional Hypothesis (HOCHBERG, 1986)

45 28 O apagamento do /s/ final das formas verbais, no espanhol porto-riquenho, cria ambiguidade quanto à identificação do sujeito. A Tabela II.1, construída a partir de informações de Hochberg (1986, p. 613), mostra que a ambiguidade pode ser entre as formas de segunda e terceira do singular ou nas três pessoas do singular, a depender do tempo verbal. Há, portanto, três tipos de paradigma: no paradigma tipo A (representado pelo pretérito perfeito do indicativo), o apagamento do /s/ final não causa ambiguidade porque a forma verbal de segunda pessoa do singular não termina em /s/; no tipo B (exemplificado pelo presente e pelo futuro do presente do indicativo), o apagamento do /s/ cria ambiguidade entre as formas de segunda e terceira do singular; o tipo C (exemplificado pelo futuro do pretérito) é o mais ambíguo, pois o apagamento do /s/ neutraliza as três pessoas do singular. PESSOA GRAMATICAL TIPO A TIPO B TIPO C YO estudié estudio estudiaré estudiaría TÚ estudiaste estudia(s) estudiará(s) estudiaría(s) ÉL/ELLA/USTED estudió estudia estudiará estudiaría NOSOTROS estudiamo(s) 3 estudiamo(s) estudiaremo(s) estudiaríamo(s) ELLOS/ELLAS/USTEDES estudiaron estudian estudiarán estudiarían Tabela II.1 Três tipos de paradigma verbal no espanhol porto-riquenho, segundo o grau de ambiguidade Os resultados de Hochberg (1986) indicam que 40% dos pronomes sujeito foram realizados foneticamente e a autora associa essa alta taxa de preenchimento ao fato de 84% dos /s/ finais de segunda do singular não terem sido realizados, estabelecendo a relação entre apagamento do /s/ final e preenchimento do sujeito. A segunda pessoa do singular (tú), que perde a identificação morfológica do sujeito com o apagamento do /s/ final, é a que tem a maior taxa de sujeitos expressos (64%), seguida da primeira (yo) e da terceira (él/ella) do singular (ambas com 43% dos sujeitos plenos), cujas formas verbais podem ser homófonas à da segunda do singular quando ocorre o apagamento do /s/ final nesta. Além disso, mostra-se que, no pretérito perfeito, que não é afetado pelo apagamento do /s/ final, as porcentagens de realização do pronome são mais baixas e que, nos tempos verbais com paradigma tipo C, o mais ambíguo, são mais altas. 3 Embora o /s/ final da forma verbal de primeira pessoa do plural também possa ser apagado, isso não acarreta perda de informação morfológica: -mo, como alomorfe de -mos, representa a primeira pessoa do plural em todos os tempos e modos no espanhol. De qualquer forma, é realizada uma desinência exclusiva e distintiva.

46 29 Se a explicação para as taxas de sujeito pleno encontradas é apenas a compensação funcional causada pela perda do /s/ com conteúdo gramatical, espera-se que ela afete apenas as pessoas gramaticais potencialmente ambíguas. Mas o cruzamento dos resultados para a pessoa gramatical e o tipo de paradigma verbal mostram que não é exatamente isso que acontece. A tabela a seguir foi adaptada do mesmo trabalho (HOCHBERG, 1986, p. 614): PARADIGMA YO TÚ ÉL/ELLA NOSOTROS ELLOS/ELLAS TIPO A 33% 60% 38% 07% 17% TIPO B 41% 64% 44% 22% 25% TIPO C 56% 80% 46% 15% 28% Tabela II.2 Preenchimento do sujeito de acordo com a pessoa gramatical e o tipo de paradigma É possível argumentar a favor da compensação funcional observando parcialmente a tabela. De fato, as porcentagens de tú e él/ella plenos são menores no paradigma não-ambíguo (60% e 38%, respectivamente), intermediárias no paradigma B (64% e 44%), em que as duas pessoas gramaticais (segunda e terceira do singular) podem ser homófonas, e mais altas no C (80% e 46%), que é o tipo de paradigma em que a neutralização inclui ainda a primeira pessoa do singular. Além disso, as porcentagens de preenchimento de tú, pronome que está associado a formas verbais cujo /s/ final representa um morfema, são maiores do que as de preenchimento dos outros pronomes. Acontece que o pronome yo também é mais preenchido quando o paradigma é do tipo B do que quando é do tipo A, embora, como visto na Tabela II.1, nem no paradigma do tipo A nem no do tipo B haja ambiguidade envolvendo a primeira pessoa do singular. E como explicar o fato de, na terceira pessoa do plural, haver a mesma gradação de taxas que ocorre com as outras pessoas gramaticais 4, se ela não é afetada pelo apagamento do /s/? Além disso, a própria autora informa que os falantes que apagam mais frequentemente o /s/ final apresentam, em relação à representação do sujeito, um comportamento semelhante ao dos que o apagam menos. Além do mais, diversos estudos (CAMERON, 1992; MORALES, 1997; RANSON, 1991 apud FLORES-FERRÁN, 2007, entre outros) mostram não haver evidências que suportem a Hipótese Funcional de Hochberg (1986). A principal crítica é que a autora se baseia numa amostra com poucos dados. Segundo Flores-Ferrán (2007), a inclusão de marcadores discursivos bastante frequentes, como tú sabes, pode ter feito aumentar a taxa de 4 As taxas de preenchimento de nosotros não seguem a mesma gradação. Pode-se apontar, como motivo para isso, o fato de terem sido encontrados poucos dados para a primeira pessoa do plural: apenas 208 ocorrências, segundo Hochberg (1986, p. 613).

47 30 expressão do sujeito pronominal de segunda pessoa no estudo de Hochberg (1986), assim como a não-separação entre as referências específica e genérica de tú (CAMERON, 1992, 1996, 2002; MORALES, 1986 apud FLORES-FERRÁN, 2007), já que os sujeitos genéricos tendem a ser mais frequentemente expressos 5. Observa-se, então, que a redução no número de distinções afeta a comunidade de fala como um todo, e não apenas a parcela da população que usa as formas verbais ambíguas de segunda pessoa do singular. E também afeta o paradigma número-pessoal inteiro, ou seja, traz consequências para todas as pessoas gramaticais e não apenas para as diretamente envolvidas com as neutralizações e ambiguidades. Isso indica que a explicação para esses resultados não deve ser apenas a compensação funcional pela não-realização da desinência distintiva. Cameron (1993) compara o espanhol falado em San Juan (Porto Rico) com o falado em Madri (Espanha). Em San Juan, nas pessoas gramaticais do singular, o sujeito pronominal é expresso em 50% das ocorrências e, nas do plural, em 19%; em Madri, as taxas são bem menores: 26% de expressão nas pessoas do singular e 7% no plural. Como no espanhol portoriquenho ocorre apagamento do /s/ final e no europeu não, o autor também associa as taxas mais altas na fala porto-riquenha ao apagamento do /s/. Cameron (1993) observa, ainda, se a mudança de referência influi na expressão do sujeito. Os sujeitos que têm uma referência diferente da do sujeito anterior têm seu preenchimento favorecido e os que têm a mesma referência do anterior, desfavorecido, como mostra a Tabela II.3, que agrupa os resultados das tabelas 4 e 5 de Cameron (1993, p. 315). Apesar de as frequências de uso do sujeito expresso serem diferentes nas duas variedades, os pesos relativos são praticamente idênticos: por causa da semelhança entre esses resultados e também com os resultados encontrados por Bentivoglio (1980) para o espanhol de Caracas e o de mexicanos que moram em Los Ângeles Cameron (1993, p. 315) afirma que as gramáticas dessas variedades, em relação à influência da mudança ou manutenção da referência no fenômeno da expressão e do apagamento do sujeito, são iguais 6. VERIEDADE DO ESPANHOL SAN JUAN MADRI REFERÊNCIA % PESO RELATIVO % PESO RELATIVO MUDANÇA 66% 0,65 38% 0,66 MANUTENÇÃO 35% 0,35 14% 0,35 Tabela II.3 Expressão do sujeito nos contextos de mudança e manutenção da referência em San Juan e Madri 5 Acrescento o fato de Hochberg (1986) ter tratado o pronome usted(es) você(s) como de terceira pessoa, provavelmente influenciada pela desinência associada, não obtendo, por isso, dados da segunda pessoa do plural. 6 Os pesos relativos independem de haver ou não mudança. Os resultados apresentados por Cameron (1993) são semelhantes aos encontrados para o espanhol europeu, o argentino, o porto-riquenho e o português brasileiro, que serão mostrados em

48 31 Paredes Silva (1988, 1993), refinando o tradicional grupo de fatores sobre manutenção e mudança de referência, estabeleceu seis graus de conexão discursiva, que representam uma escala do quanto a oração em análise está conectada à anterior: no primeiro grau a conexão é mais forte; no último, mais fraca. Os pesos relativos encontrados para esses fatores são escalares: no primeiro grau o favorecimento do sujeito nulo é maior, no segundo é um pouco menor, e os pesos vão reduzindo gradativamente até o sexto e último grau, o mais desfavorecedor do apagamento do sujeito. Segue a lista dos graus de conexão discursiva 7, que reúnem fatores discursivos e funcionais. (1) Graus de conexão discursiva (PAREDES SILVA, 1993, p. 43): a. mantém-se a referência do sujeito e o tempo e o modo verbais da oração anterior; b. mantém-se a referência do sujeito, mas altera-se o tempo e/ou o modo verbais; c. não se mantém a referência do sujeito e não há outro candidato a antecedente entre o sujeito em análise e seu real antecedente; d. o antecedente do sujeito em análise tem outra função sintática, diferente de sujeito; e. não se mantém a referência do sujeito e existe outro candidato a antecedente entre o sujeito em análise e seu real antecedente; e f. muda o tópico discursivo, independentemente de manutenção ou mudança de referência. Tanto Paredes Silva (1993), com um grupo de seis fatores, quanto Cameron (1993), com um grupo de dois fatores (mudança e manutenção da referência), mostram que, quanto mais acessível é o antecedente de um sujeito, maior é a probabilidade de apagamento. Já a relação direta entre a ambiguidade e o preenchimento do sujeito, apontada por Hochberg (1986), pode ser negada por uma análise mais atenta dos resultados que ela mesma apresenta. Mesmo assim, existe uma relação entre as marcas concretas de flexão verbal e o preenchimento do sujeito, mas esta se dá de outra forma, como mostra a seção seguinte. 2 O SUJEITO NULO E O PARADIGMA FLEXIONAL DO VERBO A partir de Chomsky (1981), que associou o preenchimento do sujeito pronominal ao sistema de desinências número-pessoais, outros estudiosos começaram a testar a hipótese do 7 Comparando com Cameron (1993), os graus de conexão (a) e (b) de Paredes Silva (1993) referem-se à manutenção de referência, enquanto (c), (d) e (e) se referem à mudança de referência.

49 32 autor e a propor atualizações nela. O pensamento sobre a relação entre paradigma flexional e expressão do pronome, então, vem mudando à medida que mais línguas são comparadas, e não se chegou ainda a uma sistematização definitiva. Apresento, nesta seção, resumidamente, a evolução da descrição dessa relação ao longo do tempo e do surgimento de mais pesquisas. Chomsky (1981) propôs, a partir de comparações entre o inglês, língua que não permite o sujeito nulo (exceto em situações pragmaticamente controladas, como é o caso do apagamento da primeira pessoa em diários e da segunda pessoa em interrogativas globais), e línguas românicas de sujeito nulo (utilizando dados do espanhol e do italiano), que o que permitiria a não-expressão fonética do sujeito seria um paradigma verbal com uma riqueza formal, ou seja, com distinção morfológica para todas as seis pessoas gramaticais. Uma língua cuja morfologia verbal não tem essa riqueza não teria, também, sujeitos nulos. A pesquisa feita em Soares da Silva (2006), com dados reais da fala culta do espanhol de Madri gravados nos anos 70 (SAMPER PADILLA, HERNÁNDEZ CABRERA & TROYA DÉNIZ, 1995), mostrou que no espanhol europeu existe essa riqueza formal (em três tempos verbais do indicativo, cada pessoa gramatical tem sua desinência número-pessoal exclusiva, como mostra a Tabela II.4) e que, como tinha previsto Chomsky (1981), ocorre o apagamento do sujeito 8 (ver Capítulo III) a mesma relação é mostrada por Marins (2009) para o italiano. Espanhol europeu Presente do indicativo Pretérito perfeito do indicativo Futuro do presente do indicativo hablo hablé hablaré hablas hablaste hablarás habla 9 habló hablará hablamos hablamos hablaremos habláis hablasteis hablaréis hablan hablaron hablarán [+ riqueza formal] Tabela II.4 Paradigmas de três tempos do indicativo no espanhol europeu, com as seis desinências distintivas 8 Pode-se dizer que o apagamento do sujeito no corpus observado é obrigatório. O preenchimento da posição fica restrito aos casos em que o pronome sujeito é enfático, como, por exemplo, quando indica contraste ou individualização, o que também ocorre no italiano, segundo as observações de Rizzi (1988, p. 15), e, também, à primeira pessoa do singular, contexto em que o sujeito pleno é utilizado pelo falante para se inserir no discurso. 9 Existe um debate entre morfologistas sobre a existência do morfema zero. Considerando que tal tipo de morfema não existe, esta forma não seria derivada nos termos de Jaeggli & Safir (1989) ver parágrafo seguinte. Assumo a existência do morfema zero e que este indica a terceira pessoa do singular na forma a que esta nota se refere, portanto usarei os rótulos morfema zero e desinência zero, como sinônimos, para me referir a esses casos. Porém, como mostrarei ao longo deste capítulo, acredito que o que deve ser observado no paradigma é a oposição entre as formas, e a forma habla, por ser diferente de todas as outras cinco do paradigma verbal do presente do indicativo no espanhol europeu, é oposta e exclusiva, independentemente de conter ou não um morfema zero.

50 33 A reação à proposta de Chomsky vem prontamente com o texto clássico de Huang (1984), que apresentou algumas línguas não consideradas por Chomsky (1981), como, por exemplo, o chinês, que têm paradigmas flexionais pobres, sem nenhuma desinência distintiva, e mesmo assim o sujeito é apagado, o que levou ao levantamento de novas hipóteses. Jaeggli & Safir (1989), então, afirmaram que não seria uma questão de riqueza do paradigma, mas de sua uniformidade: um paradigma uniforme é o que contém apenas formas derivadas (com uma desinência distintiva para cada pessoa gramatical, ou seja, com riqueza formal, como o do espanhol europeu) ou apenas formas não-derivadas (sem nenhuma marca de flexão, como o do chinês). Um paradigma que contenha os dois tipos não é uniforme, portanto a língua não teria, segundo os autores, sujeitos nulos. Roberts (1993) mostra, a partir de evidências diacrônicas do francês e do inglês, que o paradigma não tem que ser obrigatoriamente uniforme para que o sujeito possa ser nulo. Segundo o autor, um paradigma com até uma pessoa gramatical representada pela desinência zero e com um sincretismo (uma mesma forma para duas pessoas gramaticais) mantém uma riqueza funcional, o que permite o apagamento do sujeito. A observação de todas as desinências encontradas nos dados de fala culta do espanhol argentino levantados em Soares da Silva (2006) permitiu definir o paradigma dessa língua, que aparece ao lado do paradigma do espanhol europeu na tabela seguinte (o sincretismo está assinalado em cinza): Espanhol europeu Espanhol argentino Presente Pretérito perfeito Futuro Presente Pretérito perfeito Futuro hablo hablé hablaré hablo hablé hablaré hablas hablaste hablarás hablás hablaste hablarás habla habló hablará habla habló hablará hablamos hablamos hablaremos hablamos hablamos hablaremos habláis hablasteis hablaréis hablan hablaron hablarán hablan hablaron hablarán hablan hablaron hablarán [+ uniformidade] [+ riqueza formal] [ uniformidade] [+ riqueza funcional] Tabela II.5 Paradigmas flexionais de três tempos do indicativo no espanhol europeu e no argentino

51 34 De acordo com a Tabela II.5, o paradigma flexional do espanhol europeu é formalmente rico, enquanto o do argentino é apenas funcionalmente rico: contém uma desinência zero na terceira pessoa do singular (exceto no pretérito perfeito) e um sincretismo para a segunda e a terceira pessoas do plural. Se a afirmação de Roberts (1993) está correta, deve-se esperar um comportamento muito semelhante para as duas línguas em relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo. E é isso que mostram os resultados obtidos em Soares da Silva (2006), que mostrarei no Capítulo III. Pelo que foi exposto até aqui, uma língua tem sujeitos nulos se o paradigma verbal tiver uniformidade ou riqueza funcional e, se nenhuma dessas duas propriedades estiver presente, o sujeito nulo não é possível. Acontece que, ao incluir o português europeu na comparação entre as línguas, essa afirmação deixa de ser válida. Para essa língua ser coberta pela explicação, o conceito de riqueza funcional, proposto por Roberts (1993), precisou ser adaptado, como mostro a seguir. 2.1 ADAPTAÇÃO DO CONCEITO DE RIQUEZA FUNCIONAL Duarte (1995) encontrou, também no português europeu, um comportamento de língua de sujeito nulo no que se refere ao apagamento do pronome referencial em sentenças finitas. Com base no paradigma dessa língua (com um sincretismo representando a segunda e a terceira pessoas do singular e outro para as mesmas pessoas do plural, conforme a primeira coluna da Tabela II.6), o conceito de riqueza funcional proposto por Roberts (1993) foi adaptado: segundo a autora, um paradigma funcionalmente rico pode ter uma desinência zero e até dois sincretismos, podendo um dos sincretismos ser representado pela própria desinência zero (essa adaptação permite explicar, unificadamente, a alta ocorrência de sujeitos nulos não só no português europeu, cujo paradigma tem dois sincretismos, mas também no espanhol europeu e no argentino, que exibem paradigmas com, respectivamente, nenhum e um sincretismo: nas três línguas, há até dois sincretismos no paradigma). Além disso, explicam-se as taxas baixas e decrescentes de sujeitos nulos no português brasileiro, que teria ultrapassado esse limite de sincretismos por apresentar uma mesma forma para três pessoas gramaticais (ou para até cinco, nas amostras de fala mais popular), como se vê na tabela abaixo, começando a perder, assim, os sujeitos nulos.

52 35 Português europeu (DUARTE, 1995) Português brasileiro (mais culto) Português brasileiro (mais popular) falo falo falo fala(s) fala fala fala fala fala falamos fala(mos) fala falam falam fala falam falam fala [ uniformidade] [ uniformidade] [ uniformidade] [+ riqueza funcional] [ riqueza funcional] [ riqueza funcional] Tabela II.6 Paradigma flexional do presente do indicativo no português europeu e no brasileiro O Gráfico 1, adaptado de um estudo com peças de teatro de caráter popular 10 (DUARTE, 1993), mostra a evolução do percentual de sujeitos nulos no português brasileiro dos séculos XIX e XX. É possível observar que os primeiros percentuais são compatíveis com uma língua [+ sujeito nulo], enquanto os últimos não. Percebe-se, porém, que a mudança não se dá de maneira uniformemente gradual: depois de 73 anos de estabilidade (com percentuais variando de 80% a 75%, entre 1845 e 1918), houve uma queda brusca, de 21 pontos percentuais (de 75% a 54%), num intervalo de até 19 anos (entre 1918 e 1937), e outra, de 17 pontos percentuais (de 50% a 33%), num intervalo não maior que 20 anos (entre 1955 e 1975), havendo, entre essas duas reduções, um período de 18 anos com uma alteração estatisticamente desprezível (os períodos de redução significativa estão destacados em preto). Gráfico 1 Evolução das frequências de sujeito nulo no português brasileiro nos últimos séculos A tabela a seguir traduz a curva observada no Gráfico 1. Há dois períodos com redução mais significativa, com uma média em torno de 1% ao ano, em meio a períodos estatisticamente estáveis, em que os percentuais alteram numa taxa de até 0,3% ao ano. E foi 10 O noviço (Martins PENA, 1845), Como se fazia um deputado (FRANÇA JR., 1882), O simpático Jeremias (Gastão TOJEIRO, 1918), O hóspede do quarto n o 2 (Armando GONZAGA, 1937), Um elefante no caos (Millôr FERNANDES, 1955), A mulher integral (Carlos NOVAES, 1975) e No coração do Brasil (Miguel FALABELLA, 1992).

53 36 justamente nos dois períodos destacados (no gráfico e na tabela) que ocorreram duas importantes mudanças no paradigma pronominal do português brasileiro de 80% a 75% de 75% a 54% de 54% a 50% de 50% a 33% de 33% a 28% 73 anos: 5% 19 anos: 21% 18 anos: 4% 20 anos: 17% 17 anos: 5% ( 0,1% ao ano) ( 1,1% ao ano) ( 0,2% ao ano) ( 0,9% ao ano) ( 0,3% ao ano) ESTÁVEL REDUÇÃO ESTÁVEL REDUÇÃO ESTÁVEL Tabela II.7 Taxa de redução nos percentuais de sujeitos nulos em cada intervalo do Gráfico 1 A primeira redução significativa nos percentuais corresponde à época em que os pronomes você e vocês deixam de ser usados em distribuição com os pronomes tu e vós e passam a substituí-los. Como você e vocês se associam, respectivamente, à desinência zero (ou -u, no pretérito perfeito do indicativo), a mesma que representa concretamente a terceira pessoa do singular, e à desinência -m/-ram (também usada para a terceira pessoa do plural), criam-se dois sincretismos no paradigma, que ainda mantém uma riqueza funcional (mais recentemente, tu reaparece, em variação com você, associando-se também à desinência zero/-u: tu fala ~ você fala). O limite é ultrapassado com a generalização (ocorrida na época correspondente à segunda redução significativa apresentada no Gráfico 1 e na Tabela II.7) do uso do a gente 11, que também é associado à desinência zero, como mostra a tabela a seguir, que representa a evolução do paradigma do português brasileiro: Presente Pretérito Futuro Presente Pretérito Futuro Presente Pretérito Futuro falo falei falarei falo falei falarei falo falei falarei falas falaste falarás fala falou falará fala falou falará fala falou falará fala falou falará fala falou falará falamos falamos falaremos falamos falamos falaremos fala falou falará falais falastes falareis falam falaram falarão falam falaram falarão falam falaram falarão falam falaram falarão falam falaram falarão [+ uniformidade] [ uniformidade] [ uniformidade] [+ riqueza funcional] 12 [+ riqueza funcional] [ riqueza funcional] Tabela II.8 Evolução do paradigma flexional do verbo no português brasileiro (em três tempos do indicativo) Num primeiro momento, o português brasileiro exibia um paradigma com riqueza formal (e, consequentemente, uniformidade morfológica), já que possuía desinências 11 Sobre a gramaticalização de a gente, ver Lopes (2003). 12 Como a riqueza funcional foi definida como a existência de até dois sincretismos (DUARTE, 1995), os paradigmas formalmente ricos, que não apresentam sincretismos, também são funcionalmente ricos.

54 37 distintivas para todas as seis pessoas gramaticais. Num segundo momento, perderam-se a riqueza formal, por causa dos sincretismos, e a uniformidade, por haver formas tanto com como sem desinência distintiva, passando a haver apenas a riqueza funcional. Num terceiro momento, a riqueza funcional também é perdida, pois passa a existir uma única forma (a desinência zero ou -u) que representa três pessoas gramaticais, o que impulsiona a mudança, apontada por Duarte (1993, 1995, 2003a), em direção ao preenchimento do sujeito. 13 Assim, a hipótese de Duarte (1995) sobre a riqueza funcional, além de permitir a inclusão do português europeu, língua [+ sujeito nulo], entre as que possuem tal riqueza, ajuda a apontar a causa da mudança em direção ao preenchimento do sujeito pela qual passa o português brasileiro. O item 2.2, a seguir, traz evidências dessa mudança. 2.2 A MUDANÇA EM CURSO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Duarte (1993) mostrou que o português brasileiro está passando atualmente por uma mudança paramétrica, de uma língua de sujeito nulo para uma de sujeito pleno, conforme mostra o Gráfico 1 (seção 1.1). Observa-se uma inversão: os sujeitos nulos, que ocupavam 80% das ocorrências na peça de 1845, em 1992 apresentam uma taxa de apenas 28% das ocorrências. Exemplos de Duarte (2003a), extraídos das amostras do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL), evidenciam essa mudança na fala popular: nos fragmentos (2), (3) e (4) 14, os sujeitos preenchidos têm referência definida (de primeira, segunda e terceira pessoas, respectivamente) e, em (5), têm referência arbitrária ou indefinida (tais preenchimentos são incompatíveis com línguas de sujeito nulo). (2) Eu nasci aqui em Inhaúma e aqui nessa casa eu moro tem trinta e um anos. Trinta e um anos que eu moro aqui. Eu morei numa outra casa. (3) Vocês são muito jovens. Vocês acham que vocês podem mudar o mundo. (4) Meu marido i conhece o Brasil todo, porque ele i trabalhava no Instituto Nacional de Migração. Então ele i viajava muito. (5) A gente tem que seguir o que a gente sabe e da forma que a gente foi criado. 13 Os resultados do Gráfico 1 são compatíveis com os de Tarallo (1992 apud GALVES, 1993, p. 388), que observou, no português brasileiro, uma taxa alta de 67% de sujeitos nulos no ano de 1880 apenas 21% em 1981, sem observar períodos intermediários. Analisando esses números, Galves (1993, p. 389) conclui que em 1880 a mudança em direção aos sujeitos plenos ainda não era observada, mas em 1981 já estava bastante avançada. Isso sustenta a idéia de que foram as mudanças no paradigma pronominal (substituição de tu e vós por você e vocês e gramaticalização de a gente), ocorridas entre os dois períodos investigados por Tarallo (1992 apud GALVES, 1993), que ocasionaram as diminuições nas taxas de sujeitos nulos. 14 Em todos os exemplos desta Tese, o dado em análise, a que a explicação se refere, aparece sublinhado.

55 38 Duarte (2003a) mostra, ainda, que a mudança está mais avançada na primeira e na segunda pessoas. O tipo de desinência (exclusiva/não-exclusiva) não se mostrou relevante na análise do português brasileiro, o que também foi observado no português europeu (DUARTE, 1995): independentemente da desinência, a tendência é o preenchimento no português brasileiro e o apagamento no português europeu. Uma consequência dessa mudança em curso no Brasil é o aparecimento dos sujeitos deslocados à esquerda (DUARTE, 1995, p. 6), como ocorre nas sentenças dos exemplos abaixo, retirados de Duarte (2003a, p. 126), que não ocorrem no espanhol (RIVERO, 1980) e no português europeu (DUARTE, 1987): (6) A minha vida i ela i já foi mais tranqüila. (PEUL) referente inanimado (7) Mulher nenhuma i ela i pode querer dominar o homem. O homem j ele j é livre por natureza. A mulher i ela i tem que aceitar isso. (PEUL) referente animado Mesmo estando mais avançada na primeira e na segunda pessoas gramaticais, a mudança em direção ao preenchimento atinge todas elas, independentemente de haver ou não desinência distintiva em cada caso. Isso ocorre porque o que está relacionado com a tendência ao preenchimento do sujeito são as propriedades do paradigma flexional do verbo como um todo, e não a existência ou não-existência de desinência exclusiva num dado específico. Segundo Duarte (1995), o que detonou a mudança foi uma questão funcional, mas depois a tendência se espalhou para todo o paradigma e a compensação funcional deixou de atuar. Exemplos como os que aparecem em (8) e (9), de Duarte (2003a, p. 117), coletados das amostras do PEUL, com sujeito nulo associado a uma desinência não-distintiva, poderiam depor contra a relação entre o paradigma flexional e a representação do sujeito pronominal. Isso só seria verdade, porém, se fosse observado em cada dado, separadamente, se há ou não desinência distintiva. Mas o que ocorre não é uma distribuição complementar. (8) Aí, depois que ele se aposentou, (ele) nunca mais viajou. (desinência para 2ª/3ª singular) (9) (Vocês) Acham que tudo é fácil. (desinência para 2ª/3ª plural) Não se pode dizer, categoricamente, que a presença de uma desinência distintiva leve ao sujeito nulo e que a presença de uma não-distintiva leve ao pleno. A riqueza funcional, proposta inicialmente por Roberts (1993), pressupõe o conceito de sistema: o paradigma flexional, visto como um todo, permite sujeitos nulos se não ultrapassar um certo limite de

56 39 sincretismos, e não os permite se ultrapassá-lo. Assim, os efeitos dessa propriedade do paradigma são observados em todas as pessoas gramaticais, independentemente de haver ou não sincretismo envolvendo determinada pessoa gramatical especificamente. Uma das hipóteses que guiam este trabalho é a existência de duas mudanças paramétricas no português brasileiro, cada uma delas detonada em um dos períodos de redução significativa assinalados no Gráfico 1. Nenhuma das propostas de associação do paradigma flexional verbal com o fenômeno citadas nesta seção dá conta dessa diferença, e isso inclui a adaptação mais recente de Duarte (1995). Se tal versão mais refinada da riqueza funcional de Roberts (1993) fosse verdadeira, as taxas de sujeito nulo só deveriam diminuir significamente na segunda metade do século XX, por ultrapassar o limite de dois sincretismos (ver Tabela II.6, 2.1) não é, pois, capaz de explicar a razão da primeira redução nos percentuais indicada no gráfico. Por isso, com base em Silva (1996), proponho que duas riquezas flexionais estão relacionadas a dois parâmetros (RIZZI, 1986; TORIBIO, 1994) que têm um efeito semelhante, o apagamento e o preenchimento do sujeito, mas são diferenciáveis por uma análise mais atenta. Como mostrarei mais adiante, ainda neste capítulo, um paradigma verbal rico para número é responsável pela produtividade dos sujeitos nulos em geral (o português brasileiro atual, por ter perdido essa riqueza, passa por uma mudança paramétrica em direção ao preenchimento que atinge todos os sujeitos), enquanto um paradigma rico para pessoa pode identificar a referência dos sujeitos nulos (no português brasileiro da metade do século passado, que havia perdido a riqueza de pessoa mas não a de número, a mudança atingia os sujeitos referenciais, mas não os expletivos, que não têm referência). Antes disso, porém, é necessário esclarecer algumas questões formais sobre as posições de sujeito e os mecanismos de licenciamento e identificação de sujeitos nulos, o que faço a seguir. 3 EXPLICAÇÕES FORMAIS A visão minimalista prega que a estrutura sintática vai sendo gerada à medida que a sentença é construída, o que tem como resultado estruturas geometricamente diferentes para sentenças diferentes ou até para sentenças sinônimas em línguas diferentes. Assumindo um conceito forte de Gramática Universal, considero que a estrutura também é universal, com uma árvore sintática fixa, capaz de gerar todas as sentenças possíveis em qualquer língua natural (embora, a depender da sentença, algumas posições sintáticas possam permanecer não ocupadas). Por esse motivo, não recorro ao Programa Minimalista, e minhas análises levam

57 40 em conta o formato da gramática que tem os níveis léxico, estrutura profunda (DS), estrutura superficial (SS), forma fonética (PF) e forma lógica (LF), esquematizado abaixo, e, no lugar das operações de concatenação, reconcatenação e checagem, continuo tratando, respectivamente, de posição onde o item é gerado, movimento e atribuição, usando uma estrutura arbórea anterior ao advento do Minimalismo. (10) léxico g DS g SS PF g LF adaptado de Mioto, Silva & Lopes (2004, p.26) Tal estrutura é a que foi proposta por Koopman & Sportiche (1988, 1990, 1991 apud GALVES, 2001, p. 79), que prevê duas posições de sujeito (uma no nível funcional e outra no nível lexical da sentença) a seguir, mostro que um traço parametrizado do núcleo I determina em qual delas o Caso nominativo será atribuído, o que tem relação direta com o licenciamento de sujeitos nulos e pospostos. Em 3.2, apresento os mecanismos de identificação da referência de um sujeito nulo, que pode ser feita diretamente pelo núcleo I flexionado ou por um antecedente na sentença ou fora dela. Em seguida, no item 4, defendo que licenciamento e identificação são efeitos de dois parâmetros diferentes, relacionados, respectivamente, à riqueza de oposições de número verbal e à riqueza de oposições de pessoa. 3.1 A ATRIBUIÇÃO DE NOMINATIVO E O LICENCIAMENTO DO SUJEITO NULO Todos os DPs de uma sentença gramatical têm, obrigatoriamente, um Caso (cf. HAEGEMAN, 1994, p. 167). São atribuidores de Caso os itens que têm o traço [ nome], ou seja, verbo (V) exceto no particípio, que é uma forma nominal, que atribui acusativo, preposição (P), que atribui oblíquo, e o núcleo flexional (I) finito, que atribui nominativo. Segundo Haegeman (1994, p. 159), Caso é atribuído por domínio, cuja definição é a seguinte. (11) X domina Y somente se: a. X é um núcleo dominante (são núcleos dominantes V, N, P, A e I finito); b. X m-comanda Y; e

58 41 c. não há um núcleo dominante que c-comande Y e não c-comande X. 15 É nessa configuração que, geralmente, verbo (V) e preposição (P) atribuem Caso aos seus complementos, como em (12). Em (13), é impossível o verbo confia atribuir Caso ao DP me/mim, porque existe uma barreira interveniente: a projeção máxima PP (sintagma preposicional) o núcleo P c-comanda DP (Y), mas não c-comanda V (X), violando (11c), portanto X não domina Y, ou seja, o verbo confia não domina DP me/mim. Nesse caso, o núcleo do PP ou seja, a preposição em atribui o Caso oblíquo ao DP, que assume a forma oblíqua mim. (12) a. [ VP matou V o João DP(acusativo) ] b. [ PP em P mim DP(oblíquo) ] (13) a. *[ VP confia V [ PP em P me DP(acusativo) ] ] b. [ VP confia V [ PP em P mim DP(oblíquo) ] ]! : z m Interessa aqui a atribuição de Caso por I flexionado, que está diretamente envolvida no fenômeno do preenchimento do sujeito de sentenças finitas. 16 Levando em consideração a definição de domínio em (11), existem duas posições que são dominadas por I na estrutura. Como mostrarei a seguir, essas duas posições de sujeito se relacionam diretamente com o Parâmetro do Sujeito Nulo. Existem línguas que licenciam o sujeito nulo pronominal (pro 17 ), como o espanhol europeu, conforme o exemplo em (14), e línguas que não o licenciam, como o inglês, como mostra (15), e essa diferença costuma ser atribuída ao Parâmetro do Sujeito Nulo. Uma língua marcada como [+ sujeito nulo] permite que o sujeito pronominal seja nulo, e uma marcada como [ sujeito nulo] não o permite. Segundo Toribio (1994), isso ocorre porque o núcleo funcional I tem um traço parametrizado: pode ser [+ lexical] 18 ou [ lexical]. 15 Definição traduzida e adaptada de Rizzi (1990, p.7 apud HAEGEMAN, 1994, p. 163). 16 Não analisarei, neste trabalho, os sujeitos de miniorações e de orações subordinadas com infinitivo impessoal (nomenclatura tradicional) que têm Caso acusativo ou oblíquo por Marcação Excepcional de Caso. 17 Novaes (1996) diferencia os sujeitos nulos do tipo pro dos do tipo variável (vbl), sendo estes identificados pelo contexto e aqueles, pela flexão. Independentemente de a identificação ser feita por um DP antecedente ou pela flexão, as análises variacionistas indicam que tanto pro quanto vbl variam com um pronome pronunciado, portanto os dois tipos representam a contraparte nula de um pronome expresso (ou seja, pro e vbl são duas categorias distintas, mas, quando a posição é ocupada por um elemento pronunciado, este é sempre considerado pronome). Como o foco da análise é a variação entre apagamento e preenchimento, considero-os igualmente pronomes, e me referirei a todos os casos como pro, sem preocupação com a diferenciação entre os dois tipos. 18 Núcleos funcionais geralmente atribuem Caso à esquerda, enquanto núcleos lexicais, como verbos, o atribuem à direita. Nas línguas que exibem sujeito nulo, o rótulo [+ lexical] para o núcleo I significa que este se comporta, na atribuição de Caso, como se fosse um elemento lexical, ou seja, atribuindo Caso ao DP à sua direita.

59 42 (14) a. Estudia lingüística. (TORIBIO, 1994, p. 409) espanhol europeu: I [+ lexical] (15) a. *Studies linguistics. b. She studies linguistics. inglês: I [ lexical] a. *Studies linguistics. b. Ela estuda linguística. Essas diferentes naturezas de I se relacionam às duas diferentes posições em que o Caso nominativo pode ser atribuído. O núcleo I lexical tem a propriedade de atribuir Caso nominativo ao elemento que ocupa a posição specv n, numa relação de c-comando, como no espanhol europeu estrutura (16a). O núcleo I não-lexical atribui nominativo, através de uma relação especificador-núcleo, ao elemento que ocupa a posição specip: para receber Caso, o DP sujeito tem que se mover, como acontece em inglês, cuja SS está representada em (16b). (16) a. Espanhol europeu: IP b. Inglês: IP 3 ei spec I DP i I 3 : 3 I V n Caso I V n [+ lexical] 1 z_-_ [ lexical] 1 z Caso > DP VP t i VP Para as estruturas, sigo Koopman & Sportiche (1988, 1990, 1991 apud GALVES, 2001, p. 79), que postulam a existência de uma projeção extra de V (V n ) como complemento de I: V n é um tipo de minioração cujo predicado é VP 19. Segundo essa hipótese, há duas posições de sujeito, sendo uma externa (a de especificador de IP) e a outra, interna à minioração V n. O nó V n não é uma barreira para a atribuição de caso (cf. TORIBIO, 1994). Em algumas línguas, os verbos movem-se para a posição I na sintaxe aberta a fim de se completarem morfologicamente (POLLOCK, 1989), recebendo seus traços númeropessoais ( ) e modo-temporais. A consequência disso é a possibilidade de sujeitos pospostos no espanhol europeu (já que o sujeito pode permanecer numa posição mais baixa que I, onde se localiza o verbo em SS), como mostra (17). Em inglês, não há possibilidade de sujeitos pospostos, porque o sujeito obrigatoriamente tem que ocupar uma posição hierarquicamente mais alta que o verbo, como se vê em (18). (17) Van todos los niños. (espanhol europeu) 19 As autoras propuseram essa projeção extra para poder explicar o fenômeno dos quantificadores flutuantes.

60 43 (18) a. *Are going all of the children. b. All of the children are going. (inglês) b. Todas as crianças estão indo. Assim, as línguas que licenciam o sujeito nulo são as mesmas que autorizam o sujeito posposto, já que os dois fenômenos estão relacionados à mesma característica de I: o traço [+ lexical]. Isso está de acordo com Chomsky (1981), que coloca os sujeitos pronominais nulos e esse tipo de inversão na lista de propriedades do mesmo parâmetro (o Parâmetro do Sujeito Nulo). O contraste entre as línguas [+ sujeito nulo] e as [ sujeito nulo] em relação à existência, ao mesmo tempo, de sujeitos nulos e sujeitos pospostos é capturada se assumimos que o sujeito nulo só é licenciado, em SS, na posição specv n (cf. TORIBIO, 1994, p. 411): (19) pro com caso nominativo só é licenciado na posição specv n da estrutura. O contraste entre o inglês e o italiano/espanhol segundo o filtro complementizer-trace, em Haegeman (1994), está em consonância com essa afirmação. O filtro estabelece que as sentenças com um vestígio de movimento de DP logo após a posição de complementador (C), se esta tem um elemento pronunciado, são agramaticais em inglês, como mostra (20). Em italiano e espanhol, por outro lado, esse filtro parece não atuar 20, como se vê nos exemplos em (21) e (22), respectivamente. (20) Who i do you think (*that) [ IP t i has telephoned ]? adaptado de Haegeman (1994) (21) Chi i credi che [ IP t i abbia telefonato ]? adaptado de Haegeman (1994) Quem você acha que telefonou? (22) Quién i dijiste que [ IP t i vino]? adaptado de Haegeman (1994) Quem você disse que veio? Porém, considerando a possibilidade de sujeito posposto em italiano e espanhol e sua impossibilidade no inglês, pode-se dizer que o filtro complementizer-trace atua em todas essas línguas. Segundo Haegeman (1994, p. 20), é um princípio da Gramática Universal. Ao contrário do que ocorre em línguas como o inglês, no italiano e no espanhol o sujeito é extraído diretamente da posição specv n (onde recebe Caso) para o início da sentença, sem deixar um vestígio (t i ) em specip, como demonstram, respectivamente, (23a) e (23b): 20 No espanhol dominicano, entretanto, Camacho (2010) identificou alguns casos em que esse efeito é visível.

61 44 (23) a. Chi i credi che [ IP abbia [ V n t i telefonato ] ]? b. Quién i dijiste que [ IP vino [ V n t i ] ]? A total impossibilidade de movimento do sujeito da encaixada com C pleno no inglês, conforme (20), evidencia que o sujeito, nessa língua, só pode receber caso em specip, diferentemente do que ocorre em italiano e espanhol. Nessas línguas, o sujeito é pós-verbal (considerando o verbo movido para I), como confirma (23). Assumindo (19), deve-se considerar que pro é pós-verbal em línguas de sujeito nulo como o espanhol europeu, em que o verbo se move para I, como se vê em (24). A categoria vazia deve ocorrer após o verbo em SS, assim como o sujeito expresso em (24b). Em línguas de sujeito pleno, o sujeito se move obrigatoriamente para specip e, como pro não é licenciado nessa posição, o sujeito é obrigatoriamente expresso, como em (25), que exemplifica o inglês. (24) a. [ IP Estudia i [ V n pro [ VP t i lingüística ] ] ]. b. [ IP Estudia i [ V n ella [ VP t i lingüística ] ] ]. (25) a. *[ IP [ V n pro [ VP Studies linguistics ] ] ]. b. [ IP She [ V n t i [ VP studies linguistics ] ] ]. O núcleo I é [ lexical] em inglês, ou seja, não permite que o sujeito ocupe a posição specv n em SS. E, como pro só é licenciado em specv n, pode-se dizer que o inglês não licencia pro como sujeito, o que justifica a agramaticalidade de (25a), sendo, portanto, uma língua de sujeito pleno. No espanhol europeu, cujo I é [+ lexical], o sujeito permanece em specv n, posição que licencia pro, portanto o sujeito pode ou não ser pronunciado, como mostrado em (24). Assim, o sujeito pleno posposto é gramatical no espanhol europeu, conforme (24b). Em inglês, isso não ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o verbo não se move para I na sintaxe aberta cf. Pollock (1989) e item 5 deste capítulo; depois, porque o Caso nominativo é atribuído em specip, para onde o sujeito deve mover-se obrigatoriamente, conforme a agramaticalidade de (25a) e a gramaticalidade de (25b). A comparação entre o espanhol europeu e o inglês, respectivamente uma língua que permite sujeitos nulos e pospostos e uma que não os permite, leva a mais generalizações. Evidentemente, essa é uma comparação inicial entre apenas duas línguas, e as afirmações sobre universais linguísticos são mais exatas quanto mais línguas são observadas e comparadas. Talvez a análise de dados de outras línguas leve a uma adaptação das afirmações abaixo, que por enquanto servem para explicar os dados comparados em (24) e (25).

62 45 (26) O Caso nominativo é atribuído ao sujeito pelo núcleo I no nível SS da derivação: a. I [ lexical] atribui nominativo em specip. a. I [ lexical] não pode atribuir nominativo a pro. b. I [+ lexical] atribui nominativo em specv n. b. I [+ lexical] pode atribuir nominativo a pro. A agramaticalidade e a gramaticalidade de todas as sentenças em (24) e (25) pode agora ser justificada pelo fato de o DP sujeito ter ou não, em SS, o Caso nominativo atribuído. Para demonstrar isso, repito esses exemplos abaixo, como (27) e (28). Expandi cada exemplo de dois para quatro itens, a fim de mostrar as quatro combinações possíveis entre movimento/não-movimento e apagamento/preenchimento. (27) a. [ IP Estudia j [ V n pro [ VP t j lingüística ] ] ]. b. [ IP Estudia j [ V n ella [ VP t j lingüística ] ] ]. c. *[ IP pro i Estudia j [ V n t i [ VP t j lingüística ] ] ]. d. [ IP Ella i estudia j [ V n t i [ VP t j lingüística ] ] ]. (espanhol europeu) (28) a. *[ IP [ V n pro [ VP Studies linguistics ] ] ]. b. *[ IP [ V n She [ VP studies linguistics ] ] ]. c. *[ IP pro i [ V n t i [ VP Studies linguistics ] ] ]. d. [ IP She [ V n t i [ VP studies linguistics ] ] ]. (inglês) Em inglês, a frase (28c) é agramatical porque o I [ lexical] atribui nominativo em specip, mas não atribui nominativo a pro, elemento que ocupa essa posição; a sentença (28b) é agramatical porque I não atribui nominativo em specv n nessa língua. O exemplo (28a) é agramatical por ambas as razões, conforme (26a) e (26a ). A frase (28d) é a única gramatical porque o I [ lexical] atribui nominativo ao pronome lexical She na posição specip, o que garante a interpretação do seu papel temático. No espahol europeu a restrição é menor: a única frase agramatical é (27c), porque a posição de specip não pode ser ocupada por pro. As outras são gramaticais porque o I [+ lexical] dessa língua pode atribuir Caso a um DP pleno, como em (27b), e a pro, como em (27a). Em (27d), o Caso (e a interpretação do papel temático) de Ella está garantido porque o nominativo é atribuído à categoria vazia t i quando Caso é atribuído a um elemento de uma cadeia não-trivial (formada por um DP e todos os seus vestígios de movimento, no exemplo:

63 46 [Ella i, t i ]), é transmitido para todos os outros elementos dela (cf. MIOTO, SILVA & LOPES, 2004, p. 179), desde que seja formada antes da atribuição de Caso, que ocorre no nível SS. Segundo o artigo de Toribio (1994), o fato de I ser ou não lexical está relacionado ao licenciamento ou não do sujeito nulo, à maneira como o Caso nominativo é atribuído e à existência ou não-existência do sujeito posposto. Mas, assumindo (17) e (20) como princípios, é possível afirmar, com mais economia, que os traços [+ lexical] e [ lexical] do núcleo I estão associados diretamente apenas ao local de atribuição de nominativo. A existência de sujeitos nulos e sujeitos pospostos é uma consequência disso, já que ambos ocorrem em specv n, após I, e só podem ocupar essa posição se receberem o Caso nominativo ali. 3.2 A IDENTIFICAÇÃO DA REFERÊNCIA DO SUJEITO NULO A comparação entre o espanhol europeu e o inglês, no item anterior, permite a classificação das línguas segundo a marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo: [+ sujeito nulo] e [ sujeito nulo], respectivamente. No espanhol europeu há sujeitos nulos referenciais, como em (29a), e expletivos, como (29b); em inglês não existe nenhum dos dois tipos, como se vê em (30). Os exemplos foram adaptados de Toribio (1994, p. 414): (29) a. Estudia pro lingüística. b. Parece pro que las obras de esa artista son muy populares. (espanhol europeu) (30) a. *Studies pro linguistics. a. She studies linguistics. b. *Seems pro that the work of that artist is very popular. b. It seems that the work of that artist is very popular. (inglês) b. Parece que o trabalho dessa artista é muito popular. Dados do espanhol porto-riquenho, porém, evidenciam que pode haver línguas que, mesmo em processo de perda do sujeito nulo referencial, ainda mantenham o sujeito nãoreferencial sempre nulo. Segundo Toribio (1994), está em progresso uma mudança em relação ao preenchimento do sujeito nessa língua, e a autora associa tal mudança ao empobrecimento do paradigma flexional. Acontece que apenas a frequência de sujeitos referenciais plenos, como exemplificado em (31a), aumenta, não havendo nenhuma evidência de ocorrência de expletivo lexical nessa variedade do espanhol, conforme (31b), o que também foi observado no português brasileiro, que, para Kato (2000), tem um sistema defectivo de sujeitos nulos.

64 47 (31) a. Ella estudia lingüística. b. Parece pro que las obras de esa artista son muy populares. Essa aparente incoerência passa a fazer sentido se a identificação e o licenciamento de pro forem dissociados, conforme Toribio (1994). O sujeito só pode ser pro se pro for licenciado por um núcleo I [+ lexical], como mostrou o item anterior. Porém, se a esse pro tiver sido atribuído um papel temático, pro tem uma referência, que deve ser identificada. Pode-se explicar o comportamento do espanhol porto-riquenho, então, da seguinte maneira: com a mudança, nessa língua, I está perdendo a capacidade de identificar a referência do sujeito nulo, mas não a de licenciá-lo. Por isso, cada vez menos ocorre pro referencial. Mas ainda ocorre pro sem referência: se não existe referência, não há necessidade de identificação. A proposta de Toribio (1994, p. 410) segue Rizzi (1986), para quem a identificação da referência do sujeito pro é possível quando pro é c-comandado por um I [+ pronominal] 21. O núcleo I pronominal tem traços inerentes, que são capazes de recuperar a referência de um sujeito pro referencial em specv n, posição c-comandada por I, como se vê em (32). A mudança que ocorre no espanhol porto-riquenho, então, é nessa propriedade de I, que está deixando de ser [+ pronominal] e passando a ser [ pronominal], ou seja, deixando de ter traços inerentes. (32) IP wo spec I ei I i ( ) [+ pronominal] 1 pro i VP V n É possível relacionar essa afirmação à proposta de Silva (1996). Com a redução fonética que causou a perda do -s final de segunda pessoa do singular, aliada à substituição do 21 Para Kato (1999), que também relaciona a concordância [+ pronominal] à possibilidade de sujeitos nulos, nas línguas de sujeito nulo a flexão verbal é o próprio sujeito (projetado pelo verbo), que se move a T, onde checa seus traços como consequência disso, a posição spectp não é projetada (daí o sujeito nulo). Nas línguas de sujeito pleno, em que, segundo a autora, a flexão faz parte da forma verbal, a posição spectp é projetada para abrigar o movimento do pronome sujeito, que deve mover-se para checar seus traços. Assumir essa proposta significa assumir a existência de estruturas com formatos diferentes, o que não faço neste trabalho conforme explicado no início da seção 3, portanto sigo Toribio (1994) e trato [+ pronominal] e [ pronominal] como traços parametrizados do núcleo funcional, relacionados à identificação e à não-identificação do sujeito nulo.

65 48 pronome vosotros (associado à desinência -is/-steis) por ustedes (associado à desinência -n/-ron), na segunda do plural, o paradigma do espanhol porto-riquenho também está deixando de exibir oposição entre as três pessoas gramaticais (embora ainda preserve a oposição de número em todas elas), conforme a tabela abaixo. Os paradigmas com oposição entre as três pessoas estão associados a um núcleo I [+ pronominal], e os que não têm essa oposição sistematicamente pertencem a línguas com I [ pronominal], que não é capaz de identificar a referência de um sujeito nulo. NÚMERO SINGULAR PLURAL PRIMEIRA PESSOA canto cantamo(s) SEGUNDA PESSOA canta(s) cantan TERCEIRA PESSOA canta cantan Tabela II.9 Paradigma do presente do indicativo no espanhol porto-riquenho: cruzamento de número e pessoa A identificação da referência de pro é possível quando há um núcleo funcional I com o traço [+ pronominal] (o que estaria associado a um paradigma verbal rico em oposições de pessoa) que o c-comande. Um I [ pronominal] não é capaz de identificar a referência de pro. Nesse caso, se o I for [+ lexical] e licenciar pro, a ocorrência deste só será possível se sua referência puder ser recuperada por um outro elemento que o c-comande, que pode ser um DP antecedente na sentença ou um operador (op) co-indexado a um DP anterior no discurso A identificação da referência do sujeito nulo pelo núcleo I A identificação da referência do sujeito nulo é associada à riqueza do paradigma flexional por vários autores, como mostrado em 1. Na subseção 1.1 foi apresentado um conceito de riqueza funcional para explicar a identificação de pro: um paradigma verbal com até dois sincretismos na marcação concreta de número e pessoa estaria associado ao traço abstrato [+ pronominal] do núcleo I, permitindo a identificação da referência de pro, e um paradigma verbal que extrapola esse limite seria a manifestação concreta da propriedade abstrata [ pronominal] de I, que, dessa forma, é incapaz de identificar a referência de sujeitos nulos. Acontece que o paradigma do espanhol porto-riquenho tem somente dois sincretismos (CAMERON, 1993; TORIBIO, 1994), mas está perdendo a capacidade de identificação de pro (TORIBIO, 1994). Assim, a hipótese da riqueza funcional não serve para explicar a mudança em progresso nessa língua. Fica mais difícil ainda relacionar o paradigma flexional do verbo ao

66 49 sujeito nulo se forem consideradas, por exemplo, as investigações que mostram línguas que têm sujeito nulo em alguns contextos morfossintáticos e sujeito pleno em outros, como o hebraico (BORER, 1986 apud TORIBIO, 1994), o irlandês (MCCLOSKEY & HALE, 1984) e o finlandês (HOLMBERG, 2005). Apesar da existência desses sistemas mistos, a relação entre a identificação de pro e o paradigma verbal parece existir nas línguas românicas observadas. Como evidência disso estão as mudanças em curso no português brasileiro e no espanhol porto-riquenho, que parecem ter sido motivadas por reduções no paradigma. Porém, (ainda) não é possível sistematizar essa relação com precisão. É possível que a solução esteja na observação não do paradigma número-pessoal, mas apenas do paradigma de morfemas pessoais. Aplicando isso ao português brasileiro e ao espanhol porto-riquenho, pode-se afirmar que a mudança foi motivada pela perda da oposição entre as três pessoas. Talvez isso também funcione nos sistemas mistos citados, caso os contextos que permitam o sujeito nulo sejam aqueles em que há oposição sistemática de pessoa e os que não o permitam sejam aqueles em que essa oposição não existe, mas essa investigação não faz parte dos objetivos deste trabalho. Em suma, características da morfologia verbal estão relacionadas às marcações paramétricas do núcleo I: [+ pronominal] e [ pronominal]. Nas línguas que têm I [+ lexical], se I é pronominal, é capaz de identificar a referência de pro; se não é pronominal, a identificação por I não é possível. Se a língua tem I [ lexical], é impossível (e talvez irrelevante) determinar se I é [+ pronominal] ou [ pronominal] (em outras palavras: se a língua não licencia sujeitos nulos, não há como, observando dados, verificar se I seria ou não capaz de identificar suas referências caso fossem nulos) A Identificação da referência do sujeito nulo por um antecedente O núcleo I [+ pronominal] não é a única possibilidade para a identificação da referência de um sujeito nulo. Mesmo em línguas em que I é [ pronominal], ou seja, incapaz de identificar a referência de pro, esta ainda pode ser identificada de outra maneira, através da coindexação com um antecedente, como mostro a seguir. O sujeito pro pode ser identificado por um elemento que o c-comande, que pode ser um DP antecedente na sentença ou um op co-indexado a um antecedente no discurso. Em (33), a referência do pro da oração encaixada é identificada por El presidente, DP da oração matriz que c-comanda pro; em (34), a referência é identificada por op (que também c-

67 50 comanda pro), o que significa que não é o presidente, mas um outro referente (mencionado anteriormente no discurso e co-indexado a op) que vai aumentar os impostos. Ocorrências como (34) são mais raras do que as do tipo (33). (33) El presidente i dice [ CP que va pro i a aumentar los impuestos. ] (TORIBIO, 1994, p.14) O presidente diz que vai aumentar os impostos. (34) op i El presidente [ CP dice que va pro i a aumentar los impuestos. ] (TORIBIO, 1994) O presidente diz que (ela) vai aumentar os impostos. O sujeito é mais frequentemente nulo no português brasileiro e no espanhol portoriquenho quando está numa oração encaixada e é identificado pelo sujeito da matriz, que o c- comanda (situação classificada como padrão sentencial A). Nos outros quatro padrões, em que o antecedente do sujeito nulo é um op ligado ao discurso, a frequência de sujeitos nulos é menor do que no padrão A para todas as línguas que aparecem no Gráfico O resultado é gradual: quanto menos acessível é o antecedente, menor é a frequência de sujeitos nulos (o padrão D, que representa a situação em que há pelo menos uma oração entre o sujeito em análise e seu antecedente, isto é, em que antecedente do sujeito é menos acessível, apresenta as menores taxas de sujeitos nulos). Gráfico 2 Frequências de sujeitos de terceira pessoa nulos segundo o padrão sentencial 22 O trabalho de Barbosa, Duarte & Kato (2005) se baseia em entrevistas publicadas em jornais e revistas, o que significa que os índices de sujeitos nulos apresentados podem ser maiores do que o que se observa na realidade linguística da fala do português brasileiro. As entrevistas da pesquisa sobre o espanhol, por outro lado, foram gravadas e transcritas para investigação linguística, sendo os resultados encontrados mais representativos da fala natural. Nesse gráfico só foram computadas as ocorrências de terceira pessoa das variedades do espanhol, para permitir a comparação com os resultados de Barbosa, Duarte & Kato (2005), que só observaram a terceira pessoa. Nos capítulo III e IV serão apresentados os resultados do espanhol para todas as pessoas gramaticais, inclusive referentes ao padrão sentencial E, que não foi considerado pelas autoras citadas na análise do português brasileiro, além dos pesos relativos.

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