Nona semana do curso de Linguística III Professor Alessandro Boechat de Medeiros Departamento de Linguística e Filologia. A Teoria da Ligação
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- Patrícia Olivares Ribeiro
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1 Nona semana do curso de Linguística III Professor Alessandro Boechat de Medeiros Departamento de Linguística e Filologia A Teoria da Ligação A teoria da Ligação é uma das subteorias da arquitetura da gramática proposta pelo modelo GB que se aplica sobre a estrutura de superfície: ou seja, leva em consideração as configurações estruturais posteriores às operações de movimento que intermedeiam a estrutura profunda e a estrutura de superfície. A teoria da Ligação procura dar conta da relação entre pronomes, anáforas e expressões referenciais dentro de uma sentença. Que restrições existem sobre o tipo de referência que um pronome pode ter? Que restrições existem sobre as posições dos pronome e de expressões referenciais (expressões com referência própria) para que sejam correferentes? Para tratar da teoria da Ligação, vamos começar com uma lista de sentenças e pensar um pouco sobre elas. A pergunta que nos devemos fazer é: este pronome pode ter o mesmo referente deste ou daquele outro sintagma nominal/determinante da sentença? Sentenças do grupo A: Pedro se viu no espelho. Pedro disse que Mário se viu no espelho. A tia de Pedro se viu no espelho. Maria e João viram um ao outro no espelho. Maria e João disseram que nós vimos um ao outro no espelho. Sentenças do grupo B: Pedro viu ele no espelho. Pedro disse que Mário viu ele no espelho. A tia de Pedro viu ele no espelho. Pedro disse que ele viu o Mário no espelho. Sentenças do Grupo C: Ele viu Pedro no espelho. Pedro viu Pedro no espelho. Ele disse que Mário viu Pedro no espelho. Mário disse que ele viu Pedro no espelho. Pedro disse que Mário viu Pedro no espelho.
2 A tia dele disse que viu Pedro no espelho. A tia de Pedro viu Pedro no espelho. A tia dele viu Pedro no espelho. Algumas definições importantes para conduzir a discussão: a) Um nó x é ligado a um nó y se y c-comanda x e ambos têm o mesmo índice. b) Um nó x é livre se não é ligado. Como vemos dos exemplos acima, há restrições de domínio em relação à ligação. Quer dizer, não são quaisquer dois nós com uma relação de c-comando estabelecida entre eles na estrutura de superfície que podem ser ligados. Tecnicamente, o domínio para se dizer se algo tem que ser ligado, pode estar ligado ou não deve estar ligado é o seguinte: Domínio de ligação: Um domínio de ligação é uma categoria de regência, ou seja, o menor constituinte sintático que contenha um regente para o pronome, anáfora ou expressão referencial e um sujeito acessível. Normalmente, esse domínio coincide com o menor IP que contém a categoria sob avaliação e um sujeito acessível. De fato, o IP é o maior domínio possível para a avaliação dos princípios da teoria da Ligação. Vejamos a SS a seguir para as sentenças: Pedro/Ele disse que Mário viu-se/ele no espelho.
3 C CP C IP NP/DP I 4 tp Pedro i I VP Ele i 1 V I NP/DP V diss- -e 4 t i V CP t C C IP que NP I 4 2 Mário i I VP 1 tp V I VP PP v iu 1 4 NP V no espelho t i 2 V DP t 4 Princípio A: uma anáfora deve estar ligada em sua categoria de regência (ou seja, de modo geral, no menor IP que a contenha) Princípio B: um pronome não pode estar ligado em sua categoria de regência. Princípio C: uma expressão referencial é livre. se ele
4 Na gramática gerativa, ao contrário da gramática tradicional, chamaremos de anáfora pronomes reflexivos e expressões recíprocas. Os pronomes serão os outros tipos de pronomes do inventário da língua. Expressões referenciais serão todas aquelas expressões com referência própria, como os nomes próprios, expressões definidas ou indefinidas como o cachorro, um cachorro etc. Uma vez que os contextos de ligação de pronomes e anáforas são complementares, podemos imaginar dois traços, ±anafórico ou ±pronominal, onde as anáforas são caracterizadas pela matriz [+anafórico,-pronominal], o pronome é caracterizado pela matriz [-anafórico,+pronominal] e a expressão referencial é caracterizada por [-anafórico,-pronominal]. Assim, os princípios podem ser revistos: Princípio A: um DP +anafórico deve estar ligado em sua categoria de regência (ou seja, de modo geral, no menor IP que a contenha) Princípio B: um DP +pronominal não pode estar ligado em sua categoria de regência. Princípio C: um DP [-anafórico,-pronominal] é livre. Usando esse sistema de traços, conseguimos incluir outras entidades que não sejam exatamente os pronomes (reflexivos ou não) ou as expressões referenciais. Note-se que os vestígios de NP/DP têm o mesmo índice de objetos que os c- comandam e que estão no menor IP que contém o vestígio (sua categoria de regência). Assim, esses vestígios se comportam exatamente como as anáforas em relação ao princípio A, e possuem a matriz delas: [+anafórico,-pronominal]. Como se comporta um pro em relação aos princípios da ligação? Vejamos o seguinte exemplo: A Maria disse que (pro) caiu de cima da mesa quando estava fazendo a faxina. Note-se que o pro pode tanto tomar a referência de Maria como uma referência externa, como no contexto da pergunta: o que aconteceu com o vaso de flores da mesa? Nesse sentido, seu comportamento se parece com o de um pronome, que
5 não precisa estar ligado. Mas, além disso, pro costuma ocupar uma posição de especificador de IP em SS, posição jamais ocupada por anáforas ou vestígios de DPs movidos. Tudo isso nos leva a enquadrá-lo na categoria dos pronomes, sujeitos ao princípio B da teoria da Ligação. Os vestígios de QU, por outro lado, como vimos em outra aula, comportam-se como expressões referenciais. Vejamos o exemplo a seguir: Quem i a tia do Mário disse que o Pedro encontrou t i? O vestígio não pode ser correferente com Pedro e, portanto, não pode ser [+anafórico]. Também não pode ser correferente com a tia do Mário, o que não seria impedido a um pronome. Portanto, não deve ser pronome, pois não admite estar ligado a algo fora de sua categoria de regência. Ou seja, não pode ser [+pronominal]. Mas note-se que t poderia ser correferente com Mário: ou seja, poderíamos dizer que a tia do Mário disse que o Pedro encontrou o Mário. A correferência é com algo que não está ligado ao vestígio. Logo, o vestígio de QU se comporta como uma expressão referencial, pois é livre em qualquer contexto. É, pois, sujeito ao princípio C da teoria da Ligação. Podemos montar a seguinte tabela: [+anaf,-pron] [-anaf,+pron] [-anaf,-pron] [+anaf,+pro] Reflexivos Pronomes Expressões-R? Expressões rec. pro Vestígios de QU? Vestígios de DP? Princípio A Princípio B Princípio C N. A. A combinação de traços nos dá quatro possibilidades. Mas quais seriam os ocupantes da quarta coluna? Há alguma categoria que seria [+anafórica,+pronominal]? Há razões para se colocar na quarta coluna o PRO. As razões envolvem o fato de ele não ser regido (pelo menos em estrutura de superfície) e, portanto, não possui categoria de regência que o inclua. Isso casa com o fato de ele não estar sujeito aos princípios da teoria da ligação, por ter especificações contraditórias. Não trataremos disso neste curso, mas parece intuitivo que PRO não se enquadre na teoria da ligação. É só olharmos para os contextos em que ocorre.
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