Introdução da Fitoterapia no SUS
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- Manuela Alencar de Escobar
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1 Introdução da Fitoterapia no SUS Premiado pelo Ministério da Saúde, estudo de pesquisadora de Farmanguinhos estimula uso de plantas medicinais em Paty do Alferes (RJ) Amanda Valverde foi premiada pelo Ministério da Saúde por seu estudo sobre fitoterapia no SUS (Foto: arquivo) A colaboradora do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), Amanda Valverde, foi agraciada com o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS,
2 oferecido pelo Ministério da Saúde, concorrendo com mais 110 dissertações de mestrado de todo o Brasil. Segundo a pasta, a iniciativa tem como objetivo valorizar os pesquisadores e suas pesquisas, indispensáveis para o desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil. Neste sentido, a colaboradora do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) foi premiada pelo estudo Introdução da Fitoterapia no SUS: contribuindo com a Estratégia de Saúde da Família na comunidade rural de Palmares, Paty do Alferes, Rio de Janeiro. Trata-se de sua dissertação do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia Farmacêutica, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação das professoras Nina Claudia Barboza da Silva e Mara Zélia de Almeida. O estudo que realizamos baseou-se na gestão participativa, possibilitando a integração e diálogo dos diferentes atores, de modo a valorizar o uso da biodiversidade. Com isso, buscamos sempre a discussão sobre plantas medicinais em seus diversos aspectos, tais como a otimização do uso popular, segurança de uso, certificação botânica, cultivo e sustentabilidade visando garantir a saúde ambiental, individual e coletiva da comunidade, explica.
3 Especialistas da PAF têm capacitado os profissionais de saúde de Paty do Alferes (Foto: arquivo) Lacuna e uso tradicional Durante a investigação foi possível constatar que o conhecimento tradicional e popular está presente na comunidade de Palmares. Para se ter uma ideia, resultados preliminares mostraram que 82% da população fazem uso de plantas medicinais. A maioria utiliza em forma de chá. Apesar desta constatação, todos os profissionais de saúde da Unidade Básica de Saúde da comunidade desconheciam as políticas de plantas medicinais e práticas integrativas e complementares para a introdução no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, apresentaram demanda espontânea por capacitação para a atuação com plantas medicinais, observa a pesquisadora. A Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos (PAF), área de Farmanguinhos vinculada ao NGBS, contribuiu para a capacitação desses profissionais de saúde e na implantação de uma horta comunitária de plantas medicinais com caráter socioeducacional. As mudas das plantas foram produzidas pelo setor de agroecologia, e determinadas botanicamente pela Coleção Botânica de Plantas Medicinais, ambas pertencentes à
4 PAF, explica. Moradores da comunidade rural de Palmares, em Paty do Alferes (RJ), estão tendo contato com práticas integrativas relativas à PNPMF (Foto: arquivo) Destaca-se também a elaboração de materiais didáticos socioeducacionais, dentre eles o Memento Fitoterápico da Comunidade Rural de Palmares, Paty do Alferes, Rio de Janeiro. Segundo Amanda, essas iniciativas têm como objetivo estimular o uso de plantas medicinais na Estratégia de Saúde da Família como instrumento para a promoção de saúde na comunidade rural de Palmares. Para a introdução desta prática como terapêutica no SUS, é essencial planejar e executar atividades voltadas para a educação em saúde, valorizando os usuários do SUS local, de forma participativa e dialógica, assinala. Ainda, de acordo com a pesquisadora, as ações corroboram a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), criada em Este ano completamos 10 anos da Política, acredito que o prêmio é a concretização de que é possível termos a utilização desta prática na atenção básica de saúde. Espero que este trabalho incentive iniciativas para a inserção de práticas com plantas medicinais, ressalta a
5 pesquisadora. No centro, Amanda Valverde com os demais homenageados na cerimônia de entrega do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS (Foto: arquivo) Estudo aponta alta eficácia de medicamento contra malária Um estudo realizado por mais de dois anos com cerca de 160 pacientes aponta que o medicamento ASMQ, composto pela combinação dos fármacos artesunato e mefloquina, é altamente eficaz para o tratamento dos casos de malária provocados pelo Plasmodium falciparum. A pesquisa foi realizada no Vale do Juruá, no Acre, maior foco da doença no Brasil. Pacientes recrutados no município de Cruzeiro do Sul foram acompanhados por 42 dias após o início da terapia. Os exames apontaram
6 rápida cura clínica e parasitológica em todos os casos. Análises moleculares também descartaram a presença, entre os parasitos, de marcadores genéticos associados à resistência aos fármacos. Os resultados foram publicados na revista científica The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Para os autores, os achados sustentam a possibilidade de adoção do ASMQ como primeira linha no tratamento da forma não grave da malária causada por P. falciparum na região, especialmente considerando a vantagem de seu esquema de administração. Acesse o estudo. Verificamos alta eficácia e efeitos colaterais mínimos, com boa aceitação do tratamento pelos pacientes. O medicamento usado atualmente para tratamento da malária na maior parte do país formulação que combina os fármacos artemeter e lumefantrina exige administração de até quatro comprimidos duas vezes ao dia por três dias. Já a terapia com ASMQ demanda administração de no máximo dois comprimidos uma única vez ao dia por três dias. Esse esquema facilita a aceitabilidade e a administração supervisionada, importantes para atingir a meta de eliminação do P. falciparum no Brasil, afirma Simone Ladeia Andrade, pesquisadora do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), coordenadora e primeira autora do estudo. O trabalho integra as ações da Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas Antimaláricas (RAVREDA/AMI) e foi realizado pelo IOC em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Organização Pan- Americana de Saúde (Opas), do Programa Nacional de Controle da Malária do Ministério da Saúde (PNCM) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Terapia combinada Desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) em parceria com a organização sem fins-lucrativos Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês), o ASMQ segue a
7 recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da malária provocada pelo P. falciparum. A formulação combina um derivado da artemisinina o artesunato com um antimalárico de efeito prolongado a mefloquina. O objetivo é aumentar a chance e velocidade de cura e reduzir a possibilidade de desenvolvimento de resistência aos componentes da combinação: os derivados da artemisinina possuem ação potente e rápida, eliminando em curto período a maior parte dos parasitos, enquanto os fármacos associados permanecem por mais tempo no organismo, combatendo os possíveis micro-organismos restantes. O ASMQ integra as listas de medicamentos essenciais da OMS para adultos e crianças. No sudeste asiático, a combinação é fabricada e comercializada pela empresa indiana Cipla, que recebeu transferência de tecnologia de Farmanguinhos. Já na América Latina, alguns países têm acesso ao fármaco por meio de doações feitas pela unidade da Fiocruz. Em setembro, o Complexo Tecnológico de Medicamentos recebeu uma delegação da OMS para uma auditoria inicial, com o objetivo de préqualificar o medicamento. O processo continuará em 2017, quando está prevista uma segunda auditoria. A pré-qualificação permitirá a oferta comercial do produto no mercado internacional. Resistência descartada Entre 2006 e 2012, o ASMQ foi utilizado como primeira opção para o tratamento da forma não grave da malária causada pelo P. falciparum no Acre, incluindo o Vale do Juruá. Porém, a preocupação com a possibilidade de resistência dos parasitos à mefloquina levou o Programa Nacional de Controle da Malária a substituir o produto, adotando a formulação composta pelos fármacos artemeter e lumefantrina, que já era usada em outras áreas do país. Assim, o uso do ASMQ ficou restrito a regiões com muito baixa transmissão da doença, como o Mato Grosso. Tendo a mefloquina já sido utilizada no Brasil por quase duas décadas sem associação com outros fármacos, foi levantada a
8 hipótese de que algum grau de resistência poderia ter sido desenvolvido pelos parasitos nas áreas de maior transmissão. Nos mais de dois anos do estudo no maior foco do Brasil, porém, nenhum caso de falha terapêutica, seja clínica ou parasitológica, foi detectado, ressalta Simone, acrescentando que o número de pacientes acompanhado foi superior ao que seria necessário para conclusões robustas. A cura parasitológia foi avaliada por dois métodos: além do padrão-ouro utilizado nos estudos que avaliam a eficácia das terapias contra a malária, que consiste na visualização do parasito pelo exame microcópico de uma gota espessa de sangue, foi adotado o exame de qpcr (Reação em Cadeia de Polimerase em Tempo Real), que detecta, amplifica e quantifica o DNA dos patógenos nas amostras, apresentando resultado mais sensível. Amostras de sangue dos pacientes foram coletadas em dez momentos: antes do início do tratamento, nos três dias após o medicamento começar a ser tomado, sete dias depois do início da terapia e em intervalos de uma semana a partir de então, até completar 42 dias. No dia seguinte ao término do tratamento, a forma assexuada do P. falciparum parou de ser detectada nas amostras pela microscopia. Em um terço dos pacientes, a presença do P. falciparum foi identificada pela metodologia de qpcr nesse mesmo momento, porém, ao final do período do estudo, todos apresentavam resultado negativo no exame. O estudo molecular revelou que os parasitos não apresentavam marcadores genéticos associados à resistência ao artesunato ou à mefloquina. Contribuições do estudo Além de verificar a eficácia do ASMQ e a viabilidade de seu uso como primeira linha no tratamento da malária causada pelo P. falciparum em áreas com maior ocorrência de casos no Brasil, a pesquisa contribuiu com informações sobre a adequação do esquema terapêutico. Pela análise de microscopia, os cientistas identificaram que cerca de 20% dos pacientes mantiveram ou passaram a apresentar a forma sexuada do
9 parasito chamada de gametócito no período de acompanhamento, e somente no 35º dia após o início do tratamento, todos tiveram resultado negativo no exame. Embora não causem sintomas nos pacientes, os gametócitos são as formas capazes de infectar o mosquito vetor da doença, contribuindo para sua disseminação. Por esse motivo, o achado foi comunicado imediatamente ao Programa Nacional de Controle da Malária, ainda durante o andamento da pesquisa, o que levou à inclusão da primaquina fármaco que atua contra os gametócitos no protocolo do Ministério da Saúde para tratamento desse tipo de malária. Para Simone, a ausência de resistência à terapia no maior foco nacional de P. falciparum indica que esse não deve ser um problema no restante da Amazônia ou mesmo em outras áreas do país. Cerca de 40% dos casos malária provocados pelo P. falciparum no Brasil ocorrem no Vale do Juruá. Pela alta endemicidade, esse seria o local de maior risco para o desenvolvimento de resistência à mefloquina no país, o que não ocorreu, pondera a pesquisadora. Malária no Brasil A Amazônia concentra mais de 99% dos casos de malária no Brasil, onde a doença pode ser causada por três espécies de parasitos do gênero Plasmodium: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Embora não seja o parasito mais frequente, o P. falciparum preocupa porque é a espécie que provoca a forma mais grave da doença. Em 2015, o Brasil registrou o menor número de casos de malária dos últimos 35 anos, com 143 mil notificações, sendo 15,4 mil causadas pelo P. falciparum. Alinhado com a estratégia da OMS que estabeleceu o objetivo de eliminar a malária em 35 países até 2030, além de reduzir em 90% o total de casos e de mortes no mesmo período, o Ministério da Saúde lançou em novembro do ano passado o Plano de Eliminação da Malária no Brasil, que tem como foco inicial a eliminação do P. falciparum.
10 Independentemente da espécie de parasito, a malária é transmitida pela picada de mosquitos infectados do gênero Anopheles. O principal sintoma é a febre. Além disso, os pacientes podem apresentar episódios de calafrios, dor de cabeça, dor no corpo e artralgia dor nas articulações. O tratamento é feito com medicamentos antimaláricos que variam conforme a espécie de Plasmodium causadora da infecção. Maíra Menezes (IOC/Fiocruz) Modelo de negócio e inovação Agenda Estratégica do CD traz o ex- presidente da Fiocruz, Carlos Morel, como convidado e discute os desafios e oportunidades para o próximo ano na unidade Conselheiros e convidados da pesquisa participaram da Agenda Estratégica com Carlos Medici Morel Encerrando a última Agenda Estratégica do ano e visando pensar
11 as ações para 2017, o Conselho Deliberativo convidou o diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico e Saúde (CDTS) e expresidente da Fiocruz, Carlos Medici Morel, para abordar temas sobre Ciência, Tecnologia e inovação. O encontro foi o terceiro bloco de Agendas Estratégicas de 2016 e contou, também, com a participação de convidados da pesquisa. Segundo o diretor Hayne Felipe, foi uma forma de planejar o nosso futuro. O médico, biofísico e pesquisador da Academia Brasileira de Ciências fez um retrospecto histórico sobre ciência e tecnologia no Brasil, utilizando trechos importantes de autores conhecidos e sugerindo livros e artigos sobre o assunto. O primeiro livro mencionado foi Gênese e evolução da Ciência Brasileira, de Nancy Stepan, de 1976, que caracteriza a Fiocruz como pioneira da C&T no Brasil e o Castelo da Fundação ilustra a capa. Morel comentou sobre o fato da pesquisa básica ter sido vista muito tempo como a chave para o desenvolvimento, sendo muito estudada nas universidades, e as pesquisas avançadas aprofundadas nas indústrias. Segundo ele, Vannevar Bush foi o grande propulsor desta teoria e do termo pesquisa básica, no livro Ciência, a fronteira sem fim. Além disso, o convidado citou outras referências sobre a crise dos paradigmas do pósguerra e o dogma da pesquisa básica até a lei da inovação. O ex-presidente da Fundação lembrou da evolução do modo de fazer ciência, o qual começou sendo individual, com poucos grandes cientistas, depois começaram pequenos grupos e hoje são grandes equipes. Segundo ele, O pior período da Fiocruz foi quando focou somente em pesquisa básica. É necessária, porém não é suficiente, afirmou Morel.
12 Carlos Morel e Hayne Felipe falaram sobre as oportunidades e desafios para 2017 Ao citar as importantes leis da inovação, do bem e o Marco Legal de C&T, Morel fez uma comparação entre o Brasil e a Suíça. O Brasil apresenta o número de documentos publicados e a Suíça somente 42 mil, porém em número de patentes o país europeu leva vantagem com e o Brasil com apenas Para ele, estes dados são importantes para o entendimento da posição entre os países em termos de inovação, o qual a Suíça está em primeiro lugar e o Brasil ocupa a 69ª posição. Outra comparação ocorreu pelo fato da maioria das patentes brasileiras serem de estrangeiros, enquanto a China e a Coréia do Sul são o contrário e apresentam um número bem maior de participação interna de tecnologia. Morel comenta, ainda, a importância das redes para os países em desenvolvimento avançarem em saúde e as Parcerias de Desenvolvimento de Produtos Internacionais se tornarem essenciais em produção e desenvolvimento. Para ele, o momento é de arriscar e tentar acertar. Está na hora de ver um modelo de negócio sólido, buscar dinheiro de fora e pensar em como trabalhar as políticas de Far. É importante que estudem as leis, realizem parcerias sem verticalizar e pensem em como empoderar o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT). Após a explicação e apresentação dos slides, os conselheiros
13 tiveram a oportunidade de fazer perguntas, pensando em alternativas e melhorias para a unidade. Hayne Felipe agradeceu a presença de Morel e comentou sobre as dificuldades que aparecerão. É preciso decisões políticas tanto do ponto de vista da locação de recursos e também de uma regulamentação. A lei de inovação ainda não conseguiu ser regulamentada na possibilidade de cessão de recursos humanos e isso é um grande nó, principalmente dentro das universidades. Teremos que rever conceitos, até para podermos fazer seja sociedade de propósitos específicos, seja união com empresas privadas, mesmo sem fins lucrativos, por conta do nosso caráter autárquico até o momento, afirmou o diretor. Na parte da tarde, os membros do conselho se reuniram para uma rápida avaliação do ano e retirar algumas dúvidas sobre o assunto. Clique aqui e acesse a apresentação.
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