PRÁTICAS LETRADAS NO AMBIENTE DAS BIBLIOTECAS: Um estudo no IF Sertão Pernambucano. Tatiane Lemos Alves 1
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- Izabel de Oliveira Belmonte
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1 PRÁTICAS LETRADAS NO AMBIENTE DAS BIBLIOTECAS: Um estudo no IF Sertão Pernambucano Tatiane Lemos Alves 1 RESUMO A leitura, inicialmente, veio atrelada à questão do incentivo e desenvolvimento do hábito de ler. Hoje as discussões ultrapassam essa questão e soma esforços no sentido de promover práticas sociais desenvolvidas a partir da leitura. Diante disso, esta pesquisa objetivou investigar e estimular as práticas de leitura são desenvolvidas no ambiente das bibliotecas do Instituto Federal do Sertão Pernambucano. Para tanto, partiu do pressuposto que a leitura é instrumento fundamental para possibilitar a ampliação do conhecimento sobre sociedade, cultura e a própria história do sujeito e ainda contribui para o desenvolvimento integral do ser humano. Foram realizadas a pesquisa exploratória, descritiva, bibliográfica, análise documental nas bibliotecas da Instituição e anais de eventos. A partir do aparato teórico apreendido pode-se perceber que uma pessoa que domina o universo da palavra é capaz de entender o mundo que o cerca, de modo que possa atuar nele conscientemente. PALAVRAS-CHAVE: Práticas letradas; Biblioteca; Letramento INTRODUÇÃO No Brasil, quase um terço da população possui baixo nível de letramento, (BATISTA, 2006). Desse modo, são muitos os desafios da alfabetização e do letramento no país. Da alfabetização no sentido de dotar o indivíduo dos instrumentos capazes de promover o domínio da leitura e da escrita e do letramento, no sentido que o sujeito possa envolver-se nas práticas sociais de ler e escrever, tornando-se letrado (SOARES, 2009). Neste artigo não se pretende discorrer sobre o processo de alfabetização em si, visto que apesar de os temas se entrelaçarem na literatura, o foco está nas práticas letradas desenvolvidas no ambiente das bibliotecas. Considera-se que este é o primeiro passo no sentido de tecer as discussões a cerca do letramento no ambiente das bibliotecas do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, sendo assim, as discussões aqui propostas se apoiaram no arcabouço teórico do letramento e da sua prática no ambiente de biblioteca, pautando-se em autores como Street (2014), Kleiman (2005), Batista (2014) e Soares (2009). No Brasil, a palavra letramento surgiu na década de 80, devido à necessidade do ser humano de nomear um novo fenômeno, uma nova ideia, um novo anseio, uma nova realidade social. Entende-se por letramento, a condução daqueles que se utilizam de 1 Aluna do Programa de Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos PPGESA/UNEB, Bibliotecária Documentalista; Coordenadora do Sistema de Bibliotecas Instituto Federal do Sertão Pernambucano. tatyanelemos@gmail.com.
2 fato das competências de leitura e de escrita participando de eventos e relações sociais organizadas em maior ou menor grau. Refletindo sobre letramento, Val (2006) mostra que este pode ser definido como o processo de inserção na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas etc.) e se prolonga por toda vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. Street (2014) esclarece que existem dois modelos de letramento, o autônomo e o ideológico. O modelo autônomo é aquele cujos expoentes estudavam o letramento em seus aspectos técnicos, independentes do contexto social. Já o modelo ideológico vem sendo adotado pelos pesquisadores contemporâneos em que a preocupação tem sido ver as práticas letradas como inextricavelmente ligadas a estruturas culturais e de poder numa dada sociedade. Percebe-se como o letramento relaciona-se com as práticas sociais, culturais e econômicas que envolvem uma sociedade, é preciso que se tenham condições para que este fenômeno aconteça. Soares (2009) aponta duas condições para que ele seja concretizado, a primeira é a escolarização real e efetiva da população e a segunda, que haja disponibilidade de material de leitura. Se a escolarização não estiver realmente efetivada, as pessoas não souberem ler e escrever e se não tiverem acesso a materiais informacionais sejam em bibliotecas, escolas ou livrarias, ficará bastante difícil à efetivação deste fenômeno. Sendo assim, este estudo se justifica, visto que o letramento é um instrumento fundamental, merece ser estudado, já que possibilita a ampliação do conhecimento acerca de sua sociedade, cultura e de sua própria história e contribui para o desenvolvimento integral do ser humano. Entende-se que as bibliotecas, como parte integrante dos Institutos Federais, podem apoiar a oferta de educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando cidadãos com vistas na atuação profissional, de modo muito particular, através das práticas letradas Logo, observa-se que dos estudos desenvolvidos sobre letramento e leitura nas mais variadas áreas de interesse, ganha destaque no quadro atual, a expressão práticas de leitura ou práticas letradas. Galvão e Batista (2011) acreditam que esta expressão designa uma tendência a lidar com a leitura em seu acontecimento concreto e situada no interior dos processos responsáveis por sua diversidade e variação, em oposição aos tradicionais estudos sobre hábitos de leitura e sobre sua distribuição em um determinado espaço social, político ou geográfico. O uso da expressão práticas de leitura se origina, no Brasil, de duas tradições investigações sobre a leitura. Primeiramente, de estudos históricos e sociológicos, nesse caso a expressão procura designar a situação da leitura em sua concretude, englobando o conjunto de elementos que concorrem para a criação dessa situação, sempre como histórica. Já a segunda linha de investigação de que se origina o uso pedagógico da expressão práticas de leitura é conhecida como estudos sobre o letramento. Nesse caso, trata-se do conceito de práticas de letramento dentre as quais as de leitura estão inseridas, BATISTA (2014)
3 Ainda na percepção de Batista (2014), na tradição pedagógica a expressão práticas de leitura refere-se à (i) criação de situações reais de leitura em sala de aula, bem como à (ii) busca de apreensão e negociação dos significados que os aprendizes atribuem à leitura em geral, bem como à leitura de diferentes gêneros. Em se tratando da criação de situações reais de leitura, a noção pedagógica de práticas de leitura retoma, ainda que de forma ampliada, a de usos sociais da língua escrita ou de usos sociais da leitura. Ela busca recriar, no interior da escola, as práticas de leitura que ocorrem em outras esferas do mundo social e não apenas fazer atividades para aprender a ler. A partir deste cenário e pensando no universo das bibliotecas na perspectiva do letramento, além do material de leitura e da responsabilidade do mediador da leitura, outro fator relevante para as discussões é a prática social estabelecida no ambiente da biblioteca através da leitura e da escrita. Street (2014) menciona as práticas letradas referindo-se a comportamentos e conceitualizações relacionadas ao uso da leitura e/ou escrita. Elas incorporam não somente os eventos de letramento, como ocasiões empíricas de que o letramento é parte integrante, mas também modelos populares desses eventos e preconcepções ideológicas que os sustentam. Dessa forma, como a biblioteca é um espaço propício para a realização das práticas de leitura proporcionando aos alunos uma colisão entre as experiências já vividas e as novas informações, compreende-se a importância da utilização desta como ambiente mediador das práticas letradas. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para desenvolver o estudo, buscou-se fundamentação metodológica na pesquisa descritiva e exploratória com abordagem qualitativa. Logo, teve como etapas o levantamento bibliográfico, a coleta de dados através de questionário e análise de exemplos que possibilitem a compreensão dessas práticas. Nesse contexto, a pesquisa descritiva é aquela que visa a descobrir a existência de associações entre variáveis. Já a pesquisa exploratória tem como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. (GIL, (2010). A investigação se desenvolveu por meio da pesquisa bibliográfica na literatura pertinente para relacionar as temáticas estudadas; da análise documental de relatórios das bibliotecas do Instituto Federal Sertão Pernambucano e anais do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD) das edições de 2011 e 2013; e aplicação de questionário com os responsáveis pelas bibliotecas do IF Sertão-PE. Logo, os materiais analisados na pesquisa foram às práticas letradas, tanto as que são desenvolvidas nas bibliotecas do IF Sertão Pernambucano quanto na literatura pertinente. Buscaram-se na literatura, as atividades de leitura que pudessem ser sugeridas para as Bibliotecas do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, considerando seu universo e suas particularidades.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES No que diz respeito às práticas de leitura que são desenvolvidas no ambiente das bibliotecas do IF Sertão Pernambucano, pode-se citar: (i) Clube do livro ou Clube do leitor atividade que consiste no compartilhamento de impressões literárias no qual os participantes poderão trocar informações sobre seus livros favoritos, debater temas ligados às obras, e socializar com a comunidade acadêmica; (ii) Quintas culturais - essa iniciativa conta com o apoio da biblioteca do campus e vem proporcionando uma construção coletiva do saber utilizando as realizações artísticoculturais como instrumento. Para tanto, foram incorporados além da literatura, outras manifestações artísticas como a música, artes plásticas, fotografia, audiovisual e cultura popular; e (iii) Cirandando a Leitura tem por objetivo praticar o exercício da leitura e socialização desta de forma coletiva, através de rodas de leitura. Após análise na literatura pertinente foram identificadas além de práticas já exercidas no IF Sertão Pernambucano, algumas atividades que podem ser incorporadas a este universo, a saber: (i) Ficha de leitura é uma atividade que consiste na socialização da leitura realizada na semana e o preenchimento da ficha de leitura, geralmente executada após a roda de leitura; (ii) Caixa de leitura consiste em uma caixa com vários gêneros literários que devem ser lidos no período em que se encontram nas salas de aulas, normalmente é realizada quando os alunos já estão finalizando a leitura do livro emprestado na biblioteca; (iii) Feira de troca livros esta atividade incentiva a troca de livros e de experiências literárias pelos usuários; e iv) Noite de autógrafos ação bastante utilizada para incentivar a aproximação do usuário com o autor e, consequentemente, da sua obra. Outra tática bastante utilizada pelas bibliotecas é unir várias ações na Semana do Livro e da Biblioteca, aproximando a história dos autores com outros contextos como a arte, música, cinema, dança, fotografia, jogos, entre outros, trazendo uma pluralidade de manifestações possíveis de uma mesma temática. Diante do exposto, a partir da literatura pertinente se propõe algumas ações a serem implementadas nas bibliotecas, a saber: a) implantação de atividades com poemas e canções com o intuito de convidar o leitor a partilhar ritmos, vozes e melodias com os seus alunos na biblioteca e nos espaços de leitura escolares; b) assumir o caráter público em relação com a comunidade escolar e do seu entorno bem como os demais espaços urbanos, com finalidade de favorecer práticas de letramento informacional dentro e fora dos espaços de leitura instituídos, sugerindo trabalhar com periódicos, livros informativos, anúncios, placas e cartazes; c) e por fim, propõese também atividades de leitura em voz alta, de contação de histórias e de paráfrase oral e escrita das narrativas ficcionais como potentes recursos nos processos de alfabetização e como relevantes práticas de letramento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, nota-se que é imprescindível a continuidade dos estudos acerca das possíveis contribuições da biblioteca para o processo de letramento. Recomenda-se que as novas práticas letradas desenvolvidas no ambiente das bibliotecas, especialmente do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, possam intensificar o uso da escrita e da leitura como práticas sociais, contribuindo na formação de leitores críticos, autônomos e interativos. Ressalta-se a importância de realização de práticas interdisciplinares com os professores para melhor aproveitamento nas atividades de leitura e participação
5 efetiva dos alunos. Outra observação a ser feita diz respeito à ampliação das ações e envolvimento de outros usuários que compõem a comunidade acadêmica, seja estes servidores técnico-administrativos, funcionários terceirizados ou a comunidade de bairros circunvizinhos. REFERÊNCIAS BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Alfabetização, leitura e escrita. In: CARVALHO, Maria Angélica Freire de; MENDONÇA, Rosa Helena (Orgs). Práticas de leitura e escrita. Brasília: MEC, BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Práticas de leitura. In: FRADE, Isabel Cristina Alves da S.; VAL, Maria da Graça Costa; BREGUNCI, Maria das Graças de Castro. Glossário Ceale: Termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: FaE, GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ed. São Paulo: Atlas, GALVÃO, Ana Maria de O.; BATISTA, Antonio Augusto G. (Orgs) Leitura: práticas, impressos, letramentos. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica, KLEIMAN, Ângela B. Preciso ensinar o letramento?: não basta ensinar a ler e a escrever? Brasília: MEC, SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, STREET, Brian V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. São Paulo: Parábola, p. VAL, Maria da Graça Costa. O que é ser alfabetizado e letrado?. In: CARVALHO, Maria Angélica Freire de; MENDONÇA, Rosa Helena (Orgs). Práticas de leitura e escrita. Brasília: MEC, 2006.
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