HST por Dr.ª Sónia Gonçalves 2007

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1 REVER ALGUMAS ESTATÍSTICAS Neste apontamento gostaria de rever algumas estatísticas referentes aos acidentes de trabalho e de fazer uma breve reflexão sobre o ponto da situação actual. A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (European Agency for Safety and Health at Work, 2002) e a Organização Internacional do Trabalho (International Labour Organization, 2003) reforçam que os acidentes de trabalho constituem um problema social, dado o elevado número de acidentes de trabalho e de acidentes mortais. Estatísticas Mundiais A nível mundial os dados disponíveis de 2001 (International Labour Office, 2005) apontam para a ocorrência de 268 milhões de acidentes de trabalho que resultam em 3 ou mais dias de ausência e acidentes fatais; valores estes que aumentaram relativamente aos de 2000 (270 milhões de acidentes de trabalho, fatais e não fatais, de acordo com o Eurostat, 2001) e aos de 1998 (268 milhões de acidentes que resultam em 3 ou mais dias de ausência ao trabalho e acidentes fatais, segundo o International Labour Office, 2005). Estatísticas Europeias A nível europeu (EU-15), as estimativas que datam de 2002 referem a ocorrência de cerca de 4.7 milhões de acidentes com mais de 3 dias de ausência do trabalho e 4800 acidentes mortais (em 2001, 4.7 milhões dos acidentes que resultaram em mais de 3 dias de ausência e 7.6 milhões de acidentes de trabalho com menos de 3 dias de ausência do trabalho e cerca de 4900 acidentes fatais, European Commission, 2005). Página 1 de 6

2 O relatório da European Commission (2004) refere que a cada 5 segundos há um trabalhador da União Europeia que sofre um acidente de trabalho e em cada 2 horas há um trabalhador da União Europeia que morre devido a um acidente de trabalho. Estatísticas Nacionais Portugal é um dos países europeus com valores mais elevados de acidentes de trabalho, estando mesmo no topo da lista dos países da União Europeia com mais acidentes fatais em 2000 (Eurostat, 2001). Os acidentes de trabalho em Portugal representam um grave problema social pelas suas consequências e repercussões. Estatisticamente estes acidentes afectam anualmente cerca de 4% da população activa nacional, o que constitui um valor elevado (Guedes Soares e colaboradores, 2005). De acordo com os dados do Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento (2005) 1 em 2001 ocorreram acidentes de trabalho 2 em Portugal, dos quais 365 foram mortais (Quadro 1). É de notar que relativamente ao ano anterior, o total de acidentes de trabalho apresenta um acréscimo de 4.6% (em 2000, o número total de acidentes foi ). 1 De acordo com a DGEEP (2005), apesar da legislação portuguesa englobar os acidentes de trajecto na definição de acidente de trabalho, as estatísticas apresentadas não têm em consideração este tipo de acidente, devido às suas características e atendendo às recomendações do grupo de trabalho do Eurostat que refere que estes devem ser objecto de um tratamento estatístico em separado. 2 Em 2001, cerca de acidentes implicaram ausência ao trabalho, provocando dias de trabalho perdido, sendo o número médio de dias perdidos de 41.4 (DGEEP, 2005). Página 2 de 6

3 Quadro 1 - Estatísticas Nacionais de Acidente de Trabalho de 2001 Fonte: Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento (2005) Actividade económica Total Não Mortais Homens Mulheres Ignorado mortais Total A. Agri., prod. anim. caça e silvicultura B. Pesca C. Indústrias extractivas D. Indústrias transformadoras E. produção e dist. electr., gás e água F. Construção G. Comércio gros. e ret., rep. veíc. autom H. Alojamento e restauração I. Transportes, armaz. e comunicações J. Actividades financeiras K. Activ. Imob., alug. serv. prest. empresas L. Adm. publ. defesa e seg. soc M. Educação N. Saúde e acção social O. Outras act. serv. colect., soc. e pessoais P. Famílias c/ empreg. domésticos Q. Org. inter. e out. inst. ext-territ Ignorado A sinistralidade mortal 3 evidencia uma ligeira descida de 0.8% (em 2000 morreram 368 pessoas). As estatísticas nacionais referentes aos acidentes mortais eram actualizadas mensalmente no site da Inspecção Geral do Trabalho (2006), com a extinção da IGT, infelizmente estas estatísticas já não se encontram on-line, nem são actualizadas mensalmente. O gráfico abaixo apresentado (Figura 2) procura com base nas estatísticas disponíveis apresentar a evolução dos acidentes de trabalho mortais em Portugal. Importa referir que o valor de 2006 refere-se ao final do mês de Outubro de 2006, altura na qual se contabilizavam 138 acidentes de trabalho mortais (informação extraída no antigo site 3 O acidente de trabalho mortal é um acidente de que resulte a morte da vítima num período de um ano (após o dia) da sua ocorrência (DGEEP, 2005). Página 3 de 6

4 da IGT) e que o valor de 2007 também é referente ao final do mês de Outubro (informação já extraída da Agência) altura em que se contabilizavam 117 acidentes de trabalho mortais. Figura 2 Estatísticas Nacionais dos Acidentes de Trabalho Mortais Fonte: IGT (2006) e Agência Lusa (2007) Acidentes Mortais em Portugal de 2001 a Procurei fazer uma pesquisa on-line na imprensa para perceber os comentários (e notícias) que têm vindo a ser proferidos acerca destas estatísticas. Deixo-vos aqui dois exemplos: Excerto da Notícia da LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A Acidentes de trabalho fizeram 117 mortos este ano Os acidentes de trabalho em Portugal já causaram a morte a 117 pessoas, número referente ao período de 1 de Janeiro a 15 de Outubro de 2007, avançado pela Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT - a ACT sucedeu, desde Setembro, à extinta Inspecção-Geral do Trabalho). Durante a primeira metade do mês de Outubro morreram seis trabalhadores, todos do sector da construção. Ainda segundo os dados da ACT, em Setembro foram registados 12 óbitos por acidente de trabalho, metade na área da Página 4 de 6

5 construção. Este sector tem sido aquele que mais mortes tem provocado, este ano, com quase metade do total - 57 acidentes mortais de um total de 117. As quedas em altura continuam a ser as principais causas de morte, com 45 vítimas (34 delas na construção). A maior ocorrência de vítimas mortais surge no distrito do Porto, com 20 mortes, seguido de Lisboa (17) e Braga (12). Em 2004 morreram 197 pessoas. Excerto da Notícia da LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A Os acidentes mortais na construção civil registaram uma redução em 2007, com menos 12 mortes que em igual período do ano anterior, revelou hoje o Sindicato da Construção do Norte. O presidente do sindicato, Albano Ribeiro, disse que Portugal tem menos acidentes mortais neste sector do que ouros países europeus como a Espanha, Grécia ou Irlanda. Considerou, todavia, necessária "uma redução muito maior dos acidentes" com medidas que passam sobretudo por "acabar com o trabalho precário. Segundo disse, "é nas pequenas obras que morrem mais trabalhadores" e defendeu que "o Governo tem de acabar de uma vez por todas com esta situação". Albano Ribeiro revelou que neste tipo de obras [ponte internacional de Quintanilha] são sempre feitas estimativas sobre o possível número de mortes que em alguns casos apontam para dezenas. "Há pontes que são construídas com uma meta de mortes de 25 trabalhadores, aqui não sei qual era a previsão, mas foi exemplar", referiu. O responsável pelas Estradas de Portugal, que acompanhou o sindicato nesta acção, João Rocha, garantiu que a empresa "não faz este tipo de previsão". Segundo disse, este tipo de estimativa "fazia-se antigamente nas obras das grandes barragens, mas não em obras rodoviárias". Que reflexões vos surge a estas informações? Página 5 de 6

6 A mim pessoalmente parece-me que estas estatísticas dão conta de que os acidentes de trabalho constituem um importante problema social e empresarial. Contudo, também me fazem pensar que provavelmente ainda não foram levadas a cabo as intervenções e medidas necessárias para combater esta problemática. S ó n i a Gonçalves Página 6 de 6