ASPECTOS ANATÔMICOS E FUNCIONAIS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA COXA DO TAMANDUÁ BANDEIRA (Myrmecophaga tridactyla)
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1 ASPECTOS ANATÔMICOS E FUNCIONAIS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA COXA DO TAMANDUÁ BANDEIRA (Myrmecophaga tridactyla) Viviane Souza CRUZ 1 ; Júlio Roquete CARDOSO 1 ; Marcelo Seixo de Brito e SILVA 1 ; Gustavo de Souza OLIVEIRA 2 ; Luis Fernando Silva SANTOS 2 ; e Gabriel QUALHATO 3 1 Docentes do Departamento de Morfologia- ICB- UFG. souzacruzviviane@gmail.com; 2 Alunos de Graduação do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás. gustavoliveira.vet@gmail.com 3 Técnico em anatomia e necropsia - Dmorf ICB UFG Resumo O objetivo desse estudo foi descrever a morfologia geral e inervação dos músculos mediais da coxa, bem como inferir suas ações na biomecânica do movimento em Myrmecophaga tridactyla. Para tanto, foram utilizados seis cadáveres adultos dessa espécie, de ambos os sexos, fixados e conservados em solução de formaldeído a 10%. A pele dos membros pélvicos foi rebatida e os músculos dissecados para evidenciação de suas fixações, morfologia, divisão, inervação e relações topográficas. Foram identificados nesta região os músculos grácil, pectíneo, adutores magno, longo e curto. Essa é a musculatura usualmente presente nos mamíferos, com evidência para uma nítida divisão entre as três porções do grupo dos adutores e pela inserção mais distal e medial do músculo pectíneo.. Palavras-chave: membro pélvico, aparelho locomotor, xenartra Keywords: pelvic limb, locomotor system, xenarthra. Introdução A evolução do modo de vida aquático para o terrestre se fez com várias adaptações, que se manifestaram principalmente nos membros, em decorrência de estarem diretamente envolvidos com a locomoção (KARDONG, 2011). Baseado na filogenia, o M. tridactyla é um animal terrestre e fossorial, de andar lento, podendo correr quando em perigo utilizando-se de um galope desordenado e utiliza-se da posição bípede durante as escavações e na defesa, movimento este auxiliado por modificações anatômicas bastante peculiares como a presença do processo xenarthro nas vértebras lombares, a articulação sacro isquiática e caudo isquiática (OLIVEIRA, 2001). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0113
2 No entanto, apesar de ser um animal de hábitos bastante peculiares, o interesse por estudos na área morfológica nesta espécie se fizeram mais recentemente devido ao apelo conservacionista e pela grande necessidade deste conhecimento, haja vista ser essencial ao atendimento clínico e cirúrgico em casos de traumas. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi descrever os músculos mediais da coxa, com suas origens, inserções e inervações, fazendo ainda a inferência de suas ações no contexto do movimento. Metodologia Foram utilizados neste estudo seis exemplares de M. tridactyla, adultos, sendo três fêmeas, dois machos e outro indefinido devido à retirada dos órgãos genitais em procedimento de necropsia. As carcaças foram cedidas pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) IBAMA-GO (licença 99/2011), e o projeto foi previamente aprovado pela comissão de ética no uso de animais (Processo CEUA-UFG nº 015/11). Ao dar entrada no Laboratório, os animais foram descongelados a temperatura ambiente por um período de 48 h, higienizados em água corrente e posteriormente submetidos à fixação por meio de injeções com solução de formol a 10% (LABSYNTH Produtos para Laboratórios, Ltda), num volume correspondente a 10% do peso corporal e posteriormente imersos em tanques com solução conservadora de formol na mesma concentração. A dissecação teve início com a retirada da pele da cintura pélvica, coxa e perna de ambos os antímeros. Posteriormente seguiu-se na evidenciação dos músculos, que foram documentados por meio de esquemas e fotografias, obtidas com uma câmera digital (Sony DSC- H50, Brazil). Resultados e Discussão Foram identificados na face medial da coxa do M. tridactyla os músculos grácil, pectíneo e adutores magno, longo e curto. O músculo grácil é plano e o mais superficial na face medial da coxa. Relaciona-se cranialmente com o músculo pectíneo e profundamente com os músculos adutores e semimembranoso. Origina-se na borda caudal do ísquio e ramo ventral do púbis, cranial e ventral à sínfise pélvica. Insere-se por meio de uma extensa aponeurose na margem medial da tíbia, juntamente com o músculo ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0114
3 semimembranoso e semitendinoso. Atua na adução e flexão da articulação do quadril, e também auxilia na flexão e rotação medial do joelho. No M. tridactyla este músculo apresenta um único ventre muscular, como descrito nos animais domésticos (SCHALLER, 1999) e algumas espécies de animais selvagens (PEREIRA et al., 2010; GUIMARÃES et al., 2014), no entanto, Garcia- Esponda e Candela (2010) relataram na cutia a presença de duas cabeças. O músculo pectíneo está localizado na face medial da coxa parcialmente encoberto pelo músculo grácil. Relaciona-se caudalmente com os músculos adutores, profundamente com o músculo iliopsoas e cranialmente com os vasos femorais. Origina-se no tubérculo ventral do púbis caudalmente à eminência iliopúbica. Insere-se em uma superfície rugosa na face medial do terço médio do fêmur, distal e medial a inserção do músculo iliopsoas. Atua na flexão e adução da articulação do quadril. É inervado pelo nervo femoral. No M. tridactyla o músculo pectíneo insere mais distalmente na coxa em relação aos animais domésticos (SCHALLER, 1999), o que proporciona comparativamente maior poder de alavanca no movimento de adução da coxa. No M. tridactyla são encontrados os três adutores de forma individualizada, sendo eles os adutores magno, longo e curto, situação similar ao observado nos gatos domésticos (NICKEL et al.,1986) e quatis (GUIMARÃES, 2014). Sesoko (2012), no entanto, descreve no M. tridactyla os músculos adutores como um único músculo. O grupo é inervado pelo nervo obturador e responsável pela adução da coxa, coincidindo com os relatos de Getty (1986). O músculo adutor magno é longo e plano relacionando-se cranialmente com o músculo adutor longo, medialmente com o grácil, e profundamente com o músculo adutor curto, adutor longo e face medial da tíbia. Origina-se na borda lateral do púbis, dorsalmente a sínfise e na superfície caudoventral do ísquio. Insere na borda caudal da crista lateral do fêmur, em toda a sua extensão e no terço caudal do fêmur. O músculo adutor longo é plano e longo, estendendo-se do púbis até a extremidade distal do fêmur. As fibras se separam próximo à extremidade distal e parte se insere na borda medial do fêmur e a outra parte no epicôndilo medial e proximal a este. Sendo assim forma-se um hiato para passagem dos vasos femorais. Origina na borda ventrolateral do púbis e insere na face medial do fêmur, no segmento médio distal até o epicôndilo medial. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0115
4 O músculo adutor curto é pequeno e se origina na borda ventrolateral do púbis, caudalmente ao pectíneo e cranialmente ao adutor longo. Insere-se proximalmente ao músculo iliopsoas na borda medial do fêmur. Assim como relatado em humanos (GILROY, 2008), observou-se no M. tridactyla a formação de um hiato para passagem dos vasos femorais na superfície do músculo adutor longo, o que não ocorre em outras espécies de animais domésticos (SCHALLER, 1999) e silvestres (GARCIA-ESPONDA e CANDELA, 2010; PEREIRA et al., 2010; CARLON e HUBBARD, 2012; GUIMARÃES et al., 2014). Conclusões Os músculos mediais da coxa do M. tridactyla são aqueles usualmente observados nesta região, com evidência para uma nítida divisão entre as três porções do grupo dos adutores e pela inserção mais distal e medial do músculo pectíneo. Agradecimentos Ao Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis do estado de Goiás (IBAMA-GO) pela doação dos cadáveres de M. tridactyla utilizados neste estudo. Referências Bibliográfica CARLON, B.; HUBBARD, C. Hip and Thigh Anatomy of the Clouded Leopard (Neofelisnebulosa) with Comparisons to the Domestic Cat (Feliscatus). The Anatomical Record, v. 295, p , GARCIA-ESPONDA, C. M.; CANDELA, A. M. Anatomy of the hindlimb musculature in the cursorial caviomorphdasyproctaazarae Lichtenstein, 1823 (Rodentia, Dasyproctidae): functional and evolutionary significance. Mammalia, New York, v. 74, p , GETTY, R. SISSON / GROSSMAN. Anatomia dos animais domésticos. 6.ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan S.A., v. 1 e 2, 2000p. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0116
5 GILROY, A. M.; MacPHERSON, B. R.; ROSS, L. M. Atlas de Anatomia.1 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, 656p. GUIMARÃES, F. R; CARDOSO, J. R.; SADDI, T. M.; ARAÚJO, L. B. M.; ARAÚJO, E. G. Aspectos anatômicos dos músculos mediais da coxa do quati (Nasua nasua, LINNAEUS 1766). Bioscience Journal, Uberlândia, v. 30, n. 6, p , Nov./Dec NICKEL, R.; SCHUMMER, A.; SEIFERLE, E.; FREWEIN, J.; WILKENS, H.; WILLE, K.H. The locomotor system of the domestic mammals. Berlin-Hamburg: Verlag Paul Parey, p. OLIVEIRA, M. F. Morfologia funcional e desenho corporal da cintura pélvica e membros posteriores dos tamanduás (MAMMALIA: XENARTHRA: MYRMECOPHAGIDAE) f. Tese (Mestrado em Ciências) _ Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará e do Museo Paraense Emílio Goeldi, Belém. PEREIRA, F. C.; LIMA, V. M.; PEREIRA, K. F. Morfologia dos músculos da coxa de mão-pelada (Procyoncancrivorus) - Cuvier Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 11, n. 4, p , out./dez SESOKO, N. F. Estudo anatômico e imaginológico do braço e da coxa em Tamanduá-bandeira (Myrmecophagatridactyla Linnaeus, 1758) para a determinação de acesso cirúrgico) f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu. SCHALLER, O. Nomenclatura anatômica veterinária ilustrada. 1. ed. São Paulo: Manole, p. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0117
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