ESTUDO DA ANATOMIA DOS MÚSCULOS DA PERNA DE Cebus libidinosus (MACACO-PREGO) (PRIMATES, CEBIDAE) ASSOCIADO AOS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS
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- Ana Beatriz Victoria de Barros Pinto
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1 ESTUDO DA ANATOMIA DOS MÚSCULOS DA PERNA DE Cebus libidinosus (MACACO-PREGO) (PRIMATES, CEBIDAE) ASSOCIADO AOS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS Sarah de Sousa Garrido 1 ;Tales Alexandre Aversi-Ferreira 2 1 Aluno do Curso de nutrição; Campus de Palmas; sarinha.piano@hotmail.com; PIVIC/UFT 2 Orientador(a) do Curso de nutrição; Campus de Palmas; averssiferreira@gmail.com RESUMO Os Cebus libidinosus (C. libidinosus) são dotados de grande cognição e possuem habilidades motoras que podem ser observadas no manuseio de ferramentas para obtenção de alimentos e o bipedalismo intermitente. O conhecimento da morfologia dos C. libidinosus comparado a outros primatas permite inferências acerca da adaptação e evolução das estruturas relacionadas ao aparelho locomotor. Os objetivos desse trabalho são descrever anatomicamente os músculos da perna e comparar os resultados com anatomia de chimpanzés e babuínos. Foram utilizados 08 (oito) espécimes de C. libidinosus, realizou-se a dissecação e descrição dos músculos da perna. Sempre que possível, e por analogia, as estruturas receberam os mesmos nomes daqueles descritos para humanos e de outros primatas outrora estudados. Os músculos tibial anterior, extensor longo do hálux e extensor longo dos dedos não apresentaram alterações em relação à origem e inserção para os primatas estudados. O músculo fibular do quinto dedo é similar ao dos babuínos e chimpanzés, mas é ausente em humanos. Foi observada a presença do músculo tibial acessório apenas em C. libidinosus. Os músculos analisados são semelhantes ao dos outros primatas. Palavras-chave: macaco-prego; perna; primatas; morfologia. INTRODUÇÃO Os Cebus libidinosus (C. libidinosus) ocupam praticamente todos os tipos de vegetação neotropical devido à alta flexibilidade e ao oportunismo desses animais. Destacam-se devido as suas características comportamentais como o uso de ferramentas para extrair alimentos de fontes que são de difícil acesso a outros animais (FRAGASZY; VISALBERGUI; FEDIGAN, 2004). Os trabalhos disponíveis na literatura sobre anatomia comparativa que envolve C. libidinosus mostram que em termos comportamentais e quanto ao índice de encefalização, esse primata se aproxima evolutivamente dos chimpanzés, que são primatas que também fazem uso de ferramentas (AVERSI-FERREIRA et al. 2006, 2007a, 2007b, 2010; 2011a, 2011b; BOESCH; BOESCH, 1990; FRAGASZY, VISALBERGUI; FEDIGAN, 2004; LIU et al., 2009; FRAGASZY et al., 2010). Mas quanto às estruturas morfológicas, há uma convergência evolutiva para os babuínos, que são primatas que não fazem uso de ferramentas, se locomovem de forma quadrupedal e que possuem uma cauda reduzida (AVERSI-FERREIRA et al., 2006; 2007a; 2011b; PEREIRA-DE-PAULA et al., 2010).
2 Estudos morfológicos do membro pélvico são necessários para se compreender na íntegra as indagações que estão relacionadas ao comportamento locomotor. Além disso, o conhecimento da morfologia dos C. libidinosus comparado a outros primatas permite inferências acerca da adaptação e evolução das estruturas relacionadas ao aparelho locomotor (WRIGHT, 2007). Os C. libidinosus por ser um primata quadrúpede que adota o bipedalismo, ele é um interessante modelo de estudo aos antropologistas que estudam a evolução do bipedalismo humano. O estudo anatômico se faz necessário em procedimentos clínicos e cirúrgicos em hospitais veterinários (AVERSI-FERREIRA et al., 2011a). Dessa forma, pesquisas na área da anatomia que envolva animais silvestres se justificam, pelos poucos dados disponíveis e também porque esse conhecimento é muitas vezes limitado por parte do profissional médico veterinário (CASTRO, 2009; VANDEBERG; WILLIAMS-BLANGERO, 1997). Os estudos referentes à anatomia de Cebus spp. disponíveis na literatura não abrangem todas as áreas do corpo, portanto o objetivo desse trabalho é descrever anatomicamente os músculos da perna e comparar os resultados com anatomia de chimpanzés e babuínos. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 08 (oito) espécimes de Cebus adultos e saudáveis, que apresentara divergências quanto ao tamanho e idade, cedidos pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), provenientes da cidade de Sete Lagoas, MG, e acondicionados no Laboratório de Antropologia, Bioquímica, Neurociências e Comportamento de Primatas (LABINECOP) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) campus de Palmas. Realizou-se a dissecação e descrição dos músculos da perna. Em seguida, as estruturas foram fotografadas por uma CANON KISS X3. A denominação das estruturas foi baseada na descrição de humanos (STRANDRING et al., 2008) e de outros primatas (SWINDLER E WOOD, 1973). Sempre que possível, e por analogia, os músculos receberam os mesmos nomes daqueles descritos para humanos e de outros primatas outrora estudados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Músculo Tibial Anterior Origina-se no terço proximal da face anterior da tíbia até o côndilo lateral da tíbia na membrana interóssea que está entre a tíbia e a fíbula. Em alguns exemplares trocam fibras com os músculos extensor longo do hálux e tibial acessório. Tem sua inserção na região plantar do pé, no osso cuneiforme medial. É inervado pelo nervo fibular profundo. De acordo com Swindler e Wood
3 (1973), o músculo tibial anterior em babuíno é idêntico ao dos humanos modernos e chimpanzés, e origina-se no côndilo lateral e porção proximal-lateral da tíbia e membrana interóssea, se insere na base do osso cuneiforme medial e na base do metatarso do hálux; é inervado pelo nervo fibular profundo. Em C. libidinosus não foi observada a inserção desse músculo no metatarso I, mas os outros parâmetros de origem, inserção e inervação são idênticos entre todos os primatas aqui estudados. Músculo Tibial acessório Origina-se no côndilo lateral da tíbia, trocando fibras com o músculo tibial anterior. Sua inserção é por um tendão único, no osso sesamóide localizado na base do primeiro metatarso, na região plantar. É inervado pelo nervo fibular profundo. Os outros primatas estudados não possuem esse músculo de acordo com a literatura compulsada, no entanto, várias inserções acessórias são citadas para o tibial anterior para humanos modernos (LUCHANSKY E PAZ, 1986), mas em C. libidinosus foi encontrada separação entre as partes carnosas, o que justifica a denominação de músculo tibial acessório para esses primatas. Músculo Extensor Longo do Hálux Sua origem tem início no terço proximal e médio da tíbia, na membrana interóssea entre os dois ossos da perna e na porção medial da fíbula. Insere-se na falange distal do hálux. É inervado pelo nervo fibular profundo. A origem do músculo extensor longo do hálux é no terço médio da superfície antero-medial da fíbula e membrana interóssea, se insere na bases de ambas as falanges do hálux e é inervado pelo nervo fibular profundo em babuínos, no entanto, a diferença é a inserção na falange distal do hálux em humanos modernos e chimpanzés (SWINDLER E WOOD, 1973), idêntico ao que foi observado em C. libidinosus. Músculo extensor dos dedos Origina-se na cabeça e colo da fíbula, na membrana interóssea entre os dois ossos da perna e em toda a extensão do septo intermuscular lateral da perna. O tendão de inserção se ramifica na região metatarsal em quatro partes que são distribuídas para os quatro dedos laterais, inserindo na falange distal destes. O músculo extensor dos dedos se origina no côndilo lateral da tíbia, cabeça e superfície anterior da fíbula e membrana interóssea, se insere nas falanges média e distal dos quatro dedos laterais e é inervado pelo nervo fibular profundo nos babuínos, chimpanzés e humanos modernos (SWINDLER E WOOD, 1973), com parâmetros idênticos aos encontrados em C. libidinosus.
4 Músculo fibular do quinto dedo O músculo fibular do quinto dedo origina-se no terço distal da borda posterior da fíbula e se encontra profundamente ao músculo fibular curto e insere-se na falange distal do quinto dedo. Em humanos este músculo é ausente, em babuínos possui origem e inserção semelhante ao dos C. libidinosus e em chimpanzés esse músculo aparece como vestígio do fibular curto (SWINDLER E WOOD, 1973). LITERATURA CITADA AVERSI-FERREIRA, T. A. et al. Estudo anatômico dos músculos flexores superficiais do antebraço no macaco Cebus apella. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 22, n. 1, p , Jan/abr, AVERSI-FERREIRA, T. A. et al. Anatomy of the arteries of the arm of Cebus libidinosus (Rylands et al., 2000) monkeys. Acta Scientiarum. Biological Sciences Maringá, v. 29, p , 2007a. AVERSI-FERREIRA, T. A. et al. Anatomy of shoulderand arm muscles of Cebus libidinosus. Journal of Morphological Sciences, v. 24, n. 2, p , 2007b. AVERSI-FERREIRA, T. A. et al. Comparative Anatomical Study of the Forearm Extensor Muscles of Cebus libidinosus (Rylands et al., 2000; Primates, Cebidae), Modern Humans, and Other Primates, With Comments onprimate Evolution, Phylogeny, and Manipulatory Behavior. The Anatomical Record, v. 293, p , AVERSI-FERREIRA, R. A. G. M. F. et al. Comparative anatomy of the thigh nerve of Cebus libidinosus (Rylands et al., 2000). Pesquisa Veterinária Brasileira., Rio de Janeiro, v. 31, n. 3, p Mar, 2011a. AVERSI-FERREIRA, T. A. et al. Comparative anatomical analyses of the forearm muscles of Cebus libidinosus (Rylands et al. 2000): Manipulatory Behavior and Tool Use. Plos One, v. 6, july, 2011b. BOESCH, C.; BOESCH, H. Tool Use and Tool Making in Wild Chimpanzees. Folia Primatologica, v. 54, p , CASTRO, P. Primatas como modelo experimental para vigilância em saúde, pesquisa e saúde pública Disponível em acesso em: 03 de março de FRAGASZY, D. M.; VISALBERGUI, E.; FEDIGAN, L. M. The Complete Capuchin. New York: Cambridge University Press, p. 339, FRAGASZY, D. et al. Bearded capuchin monkeys' and a human's efficiency at cracking palm nuts with stone tools: field experiments. Animal Behavior, n. 79, p , LIU, Q. et al. Kinematics and Energetics of Nut-Cracking in Wild Capuchin Monkey (Cebus libidinosus) in Piauí, Brazil. American Journal of Physical Antropology, v. 138, p , PEREIRA-DE-PAULA, J. et al. Anatomical Study of the Main Sulci and Gyri of the Cebus Libidinosus Brain (Rylands, 2000). Neurobiologia, v. 2, n. 2 abr./jun, 2010.
5 STANDRING, S. Gray's Anatomia. Rio de Janeiro: Elsevier, SWINDLER D.R. & WOOD C.D. An Atlas of Primate Gross Anatomy.University of Washington Press, Washington. p.370, VANDEBERG, J. L.; WILLIAMS-BLANGERO, S. Advantages and limitations of nonhuman primates as animal models in genetic research on complex diseases. Journal of Medical Primatology, v. 26, n. 3, p , Jun, WRIGHT, K. A. The Relationship between locomotor and limb morphology in brown (Cebus apella) and weeper (Cebus olivaceus) capuchinos. American Journal of Primatology, v. 69, p , 2007.
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