Atos societários. Nova Lei da Arbitragem Voluntária. Obrigações decorrentes do Código das Sociedades Comerciais

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Atos societários. Nova Lei da Arbitragem Voluntária. Obrigações decorrentes do Código das Sociedades Comerciais"

Transcrição

1 Nº março ,50 março/2012 Atos societários Obrigações decorrentes do Código das Sociedades Comerciais Vida Judiciária destaque Nova Lei da Arbitragem Voluntária em foco Revisão ao Regulamento das Custas Processuais já se encontra em vigor MARcas IMITAÇÃO DE MARCA (Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 13/03/2012)

2 editorial VIDA JUDICIÁRIA - março Nº 164 março 2012 REVISTA MENSAL Proprietário Vida Económica - Editorial, S.A. Rua Gonçalo Cristóvão, 14-2º Porto NIF Diretor João Carlos Peixoto de Sousa Coordenadora de edição Sandra Silva Paginação e capa Flávia Leitão Direção Comercial Porto: Teresa Claro Madalena Campos Assinaturas Maria José Teixeira assinaturas@vidaeconomica.pt Redação, Administração Vida Económica - Editorial, S.A. Rua Gonçalo Cristóvão, 14 r/c Porto Telef Fax geve@vidaeconomica.pt Delegação de Lisboa Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6-4º piso Lisboa Telef Fax Impressão Uniarte Gráfica / Porto Publicação inscrita no Instituto da Comunicação Social nº Empresa Jornalística nº Periodicidade: mensal A nova lei da arbitragem voluntária Por: Sandra Miranda da Silva A nova Lei da Arbitragem Voluntária aplica-se aos processos arbitrais que se iniciem após , assim como aos processos arbitrais iniciados em data anterior, desde que ambas as partes nisso acordem. De acordo com o novo regime, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes à decisão de árbitros, desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, mediante convenção de arbitragem. Mesmo que os litígios não envolvam interesses de natureza patrimonial, é igualmente válida a convenção de arbitragem desde que as partes possam vir a celebrar transação sobre o direito controvertido. Acelerar a resolução de litígios entre empresas, contribuir para reduzir as pendências que entopem os tribunais do Estado e dotar Portugal de condições para atrair arbitragens internacionais são propósitos anunciados com a criação do novo quadro legal. Especialistas na matéria entendem que, ao nível da internacionalização que se persegue para a arbitragem nacional, esta lei poderá ter um papel importante. Nomeadamente ao nível da captação de arbitragens de conflitos que envolvam empresas de países onde se fala oficialmente a língua portuguesa Será necessário, no entanto, criar condições para que o novo quadro legal seja devidamente aproveitado. Na opinião do árbitro e professor universitário Dário Moura Vicente, para que a arbitragem se afirme como um meio alternativo ou complementar da justiça estadual, é muito importante a existência de centros de arbitragem sólidos, bem organizados e prestigiados. O uso da arbitragem depende, agora, da reforma extensiva dos regulamentos de arbitragem dos centros de arbitragem institucional. Por outro lado, a reforma das tabelas de custas e honorários, no sentido da sua redução significativa, é igualmente um passo importante no sentido da generalização da arbitragem.

3 2 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 sumário 4 Destaque Nova Lei da Arbitragem Voluntária 18 Em Foco Revisão ao Regulamento das Custas Processuais já se encontra em vigor 20 Atualidades Informações jurídicas 25 Registos & Notariado Cedência ocasional de trabalhador 26 Análise Atos societários obrigações decorrentes do Código das Sociedades Comerciais 27 Marcas & Patentes Imitação de marca 32 Jurisprudência Resumos de Jurisprudência Jurisprudência do STJ e das Relações Sumários do STJ 63 Legislação Principal legislação publicada 1ª e 2ª séries do Diário da República

4 A CLÁUSULA GERAL ANTIABUSO E O SEU PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO Uma obra inovadora que o vai ajudar a compreender e a interpretar uma cláusula que levanta problemas ao nível da sua aplicação. Exclusivo para compras online Regulamento em livraria.vidaeconomica.pt Autora: Patrícia Meneses Leirião Páginas: 228 P.V.P.: 15 Especialmente recomendada para juristas, advogados, consultores, financeiros e gestores Melhor Opção Compre já em e ganhe Pontos com Vida. encomendas@vidaeconomica.pt R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c PORTO

5 4 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque Nova Lei da Arbitragem Voluntária No dia 14 de Março de 2012 entrou em vigor a nova Lei da Arbitragem Voluntária (Lei 63/2011, de 14.12), data a partir da qual se considera revogada a lei da arbitragem actualmente em vigor (Lei nº 31/86, de 29.8), com excepção do disposto no nº 1 do artigo 1º (convenção de arbitragem), que se mantém em vigor para a arbitragem de litígios emergentes de ou relativos a contratos de trabalho. A nova Lei aplica-se aos processos arbitrais que se iniciem após Todavia, este novo regime é também aplicável aos processos arbitrais iniciados em data anterior, desde que ambas as partes nisso acordem ou se uma delas formular proposta nesse sentido e a outra a tal não se opuser no prazo de 15 dias a contar da respectiva recepção. O diploma que aprova o novo regime de arbitragem introduz, em conformidade, alterações aos arts. 812º-D, 815º, 1094º e 1527º do Código de Processo Civil e revoga o nº 2 do art. 181º e o artº 186º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, assim como o art. 1097º do Código de Processo Civil. De acordo com o novo regime, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes à decisão de árbitros, desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, mediante convenção de arbitragem. Mesmo que os litígios não envolvam interesses de natureza patrimonial é igualmente válida a convenção de arbitragem desde que as partes possam vir a celebrar transacção sobre o direito controvertido. Podem ser sujeitos a arbitragem litígios actuais ou litígios eventuais emergentes de determinada relação jurídica contratual ou extracontratual (cláusula compromissória). Por outro lado, as partes também podem acordar em submeter a arbitragem, para além das questões de natureza contenciosa em sentido estrito, quaisquer outras que requeiram a intervenção de um decisor imparcial, designadamente as relacionadas com a necessidade de precisar, completar e adaptar contratos de prestações duradouras a novas circunstâncias Acelerar a resolução de litígios entre empresas, contribuir para reduzir as pendências que entopem os tribunais do Estado e dotar Portugal de condições para atrair arbitragens internacionais são propósitos anunciados, com a criação deste novo quadro legal. Das alterações ora introduzidas destacamos as seguintes: - Cabe ao tribunal arbitral decidir se a convenção de arbitragem acordo pelo qual as partes decidem que determinada matéria pode ser submetida a árbitros é ou não válida. Os tribunais do Estado abstêm-se assim de julgar a matéria em questão, a não ser que se verifique que a convenção de arbitragem é manifestamente invalida. - A nova lei atribui também ao tribunal arbitral competência para proferir providências cautelares. Tal permitirá evitar que no decorrer de uma acção que se prolongue no tempo a parte demandada dissipe os seus bens. - Ao contrário do que sucedia até aqui, passam a ser possíveis arbitragens com pluralidade de partes, com vários demandantes e vários demandados. - Relativamente à duração do processo arbitral, a nova lei alarga-o para um período de 12 meses, contra os seis meses anteriormente previstos. - Deixa de haver possibilidade de recurso da decisão arbitral para os tribunais do Estado. Em situações excepcionais, como a existência de vícios muito graves da sentença arbitral, a lei permite interpor uma acção de anulação, que terá de ser intentada num Tribunal da Relação. - O reconhecimento de sentenças arbitrais oriundas do estrangeiro cabia, até aqui, aos Tribunais de primeira instância. Esse reconhecimento passa agora para a alçada dos Tribunais da Relação, de segunda instância. Transcrevemos nesta edição a nova Lei da Arbitragem Voluntária Lei da Arbitragem Voluntária CAPÍTULO I Da convenção de arbitragem Artigo 1º Convenção de arbitragem 1 - Desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros. 2 - É também válida uma convenção de arbitragem relativa a litígios que não envolvam interesses de natureza patrimonial, desde que as partes possam celebrar transacção sobre o direito controvertido. 3 - A convenção de arbitragem pode ter por objecto um litígio actual, ainda que afecto a um tribunal do Estado (compromisso arbitral), ou litígios eventuais emergentes de determinada relação jurídica contratual ou extracontratual (cláusula compromissória). 4 - As partes podem acordar em submeter a arbitragem, para além das questões de natureza contenciosa em sentido estrito, quaisquer outras que requeiram a intervenção de um decisor imparcial, designadamente as relacionadas com a necessidade de precisar, completar e adaptar contratos de prestações duradouras a novas circunstâncias. 5 - O Estado e outras pessoas colectivas de direito público podem celebrar

6 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março convenções de arbitragem, na medida em que para tanto estejam autorizados por lei ou se tais convenções tiverem por objecto litígios de direito privado. Artigo 2º Requisitos da convenção de arbitragem; sua revogação 1 - A convenção de arbitragem deve adoptar forma escrita. 2 - A exigência de forma escrita temse por satisfeita quando a convenção conste de documento escrito assinado pelas partes, troca de cartas, telegramas, telefaxes ou outros meios de telecomunicação de que fique prova escrita, incluindo meios electrónicos de comunicação. 3 - Considera-se que a exigência de forma escrita da convenção de arbitragem está satisfeita quando esta conste de suporte electrónico, magnético, óptico, ou de outro tipo, que ofereça as mesmas garantias de fidedignidade, inteligibilidade e conservação. 4 - Sem prejuízo do regime jurídico das cláusulas contratuais gerais, vale como convenção de arbitragem a remissão feita num contrato para documento que contenha uma cláusula compromissória, desde que tal contrato revista a forma escrita e a remissão seja feita de modo a fazer dessa cláusula parte integrante do mesmo. 5 - Considera-se também cumprido o requisito da forma escrita da convenção de arbitragem quando exista troca de uma petição e uma contestação em processo arbitral, em que a existência de tal convenção seja alegada por uma parte e não seja negada pela outra. 6 - O compromisso arbitral deve determinar o objecto do litígio; a cláusula compromissória deve especificar a relação jurídica a que os litígios respeitem. Artigo 3º Nulidade da convenção de arbitragem É nula a convenção de arbitragem celebrada em violação do disposto nos artigos 1º e 2º. Artigo 4º Modificação, revogação e caducidade da convenção 1 - A convenção de arbitragem pode ser modificada pelas partes até à aceitação do primeiro árbitro ou, com o acordo de todos os árbitros, até à prolação da sentença arbitral. 2 - A convenção de arbitragem pode ser revogada pelas partes, até à prolação da sentença arbitral. 3 - O acordo das partes previsto nos números anteriores deve revestir a forma escrita, observando-se o disposto no artigo 2º. 4 - Salvo convenção em contrário, a morte ou extinção das partes não faz caducar a convenção de arbitragem nem extingue a instância arbitral. Artigo 5º Efeito negativo da convenção de arbitragem 1 - O tribunal estadual no qual seja proposta acção relativa a uma questão abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a requerimento do réu deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre o fundo da causa, absolvê-lo da instância, a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível. 2 - No caso previsto no número anterior, o processo arbitral pode ser iniciado ou prosseguir, e pode ser nele proferida uma sentença, enquanto a questão estiver pendente no tribunal estadual. 3 - O processo arbitral cessa e a sentença nele proferida deixa de produzir efeitos, logo que um tribunal estadual considere, mediante decisão transitada em julgado, que o tribunal arbitral é incompetente para julgar o litígio que lhe foi submetido, quer tal decisão seja proferida na acção referida no nº 1 do presente artigo, quer seja proferida ao abrigo do disposto no nº 9 do artigo 18º, e nas subalíneas i) e iii) da alínea a) do nº 3 do artigo 46º. 4 - As questões da nulidade, ineficácia e inexequibilidade de uma convenção de arbitragem não podem ser discutidas autonomamente em acção de simples apreciação proposta em tribunal estadual nem em procedimento cautelar instaurado perante o mesmo tribunal, que tenha como finalidade impedir a constituição ou o funcionamento de um tribunal arbitral. Artigo 6º Remissão para regulamentos de arbitragem Todas as referências feitas na presente lei ao estipulado na convenção de arbitragem ou ao acordo entre as partes abrangem não apenas o que as partes aí regulem directamente, mas também o disposto em regulamentos de arbitragem para os quais as partes hajam remetido. Artigo 7º Convenção de arbitragem e providências cautelares decretadas por tribunal estadual Não é incompatível com uma convenção de arbitragem o requerimento de providências cautelares apresentado a um tribunal estadual, antes ou durante o processo arbitral, nem o decretamento de tais providências por aquele tribunal. CAPÍTULO II Dos árbitros e do tribunal arbitral Artigo 8º Número de árbitros 1 - O tribunal arbitral pode ser constituído por um único árbitro ou por vários, em número ímpar. 2 - Se as partes não tiverem acordado no número de membros do tribunal arbitral, é este composto por três árbitros. Artigo 9º Requisitos dos árbitros 1 - Os árbitros devem ser pessoas singulares e plenamente capazes. 2 - Ninguém pode ser preterido, na sua designação como árbitro, em razão da

7 6 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque nacionalidade, sem prejuízo do disposto no nº 6 do artigo 10º e da liberdade de escolha das partes. 3 - Os árbitros devem ser independentes e imparciais. 4 - Os árbitros não podem ser responsabilizados por danos decorrentes das decisões por eles proferidas, salvo nos casos em que os magistrados judiciais o possam ser. 5 - A responsabilidade dos árbitros prevista no número anterior só tem lugar perante as partes. Artigo 10º Designação dos árbitros 1 - As partes podem, na convenção de arbitragem ou em escrito posterior por elas assinado, designar o árbitro ou os árbitros que constituem o tribunal arbitral ou fixar o modo pelo qual estes são escolhidos, nomeadamente, cometendo a designação de todos ou de alguns dos árbitros a um terceiro. 2 - Caso o tribunal arbitral deva ser constituído por um único árbitro e não haja acordo entre as partes quanto a essa designação, tal árbitro é escolhido, a pedido de qualquer das partes, pelo tribunal estadual. 3 - No caso de o tribunal arbitral ser composto por três ou mais árbitros, cada parte deve designar igual número de árbitros e os árbitros assim designados devem escolher outro árbitro, que actua como presidente do tribunal arbitral. 4 - Salvo estipulação em contrário, se, no prazo de 30 dias a contar da recepção do pedido que a outra parte lhe faça nesse sentido, uma parte não designar o árbitro ou árbitros que lhe cabe escolher ou se os árbitros designados pelas partes não acordarem na escolha do árbitro presidente no prazo de 30 dias a contar da designação do último deles, a designação do árbitro ou árbitros em falta é feita, a pedido de qualquer das partes, pelo tribunal estadual competente. 5 - Salvo estipulação em contrário, aplica-se o disposto no número anterior se as partes tiverem cometido a designação de todos ou de alguns dos árbitros a um terceiro e este não a tiver efectuado no prazo de 30 dias a contar da solicitação que lhe tenha sido dirigida nesse sentido. 6 - Quando nomear um árbitro, o tribunal estadual competente tem em conta as qualificações exigidas pelo acordo das partes para o árbitro ou os árbitros a designar e tudo o que for relevante para garantir a nomeação de um árbitro independente e imparcial; tratando-se de arbitragem internacional, ao nomear um árbitro único ou um terceiro árbitro, o tribunal tem também em consideração a possível conveniência da nomeação de um árbitro de nacionalidade diferente da das partes. 7 - Não cabe recurso das decisões proferidas pelo tribunal estadual competente ao abrigo dos números anteriores do presente artigo. Artigo 11º Pluralidade de demandantes ou de demandados 1 - Em caso de pluralidade de demandantes ou de demandados, e devendo o tribunal arbitral ser composto por três árbitros, os primeiros designam conjuntamente um árbitro e os segundos designam conjuntamente outro. 2 - Se os demandantes ou os demandados não chegarem a acordo sobre o árbitro que lhes cabe designar, cabe ao tribunal estadual competente, a pedido de qualquer das partes, fazer a designação do árbitro em falta. 3 - No caso previsto no número anterior, pode o tribunal estadual, se se demonstrar que as partes que não conseguiram nomear conjuntamente um árbitro têm interesses conflituantes relativamente ao fundo da causa, nomear a totalidade dos árbitros e designar de entre eles quem é o presidente, ficando nesse caso sem efeito a designação do árbitro que uma das partes tiver entretanto efectuado. 4 - O disposto no presente artigo entende-se sem prejuízo do que haja sido estipulado na convenção de arbitragem para o caso de arbitragem com pluralidade de partes. Artigo 12º Aceitação do encargo 1 - Ninguém pode ser obrigado a actuar como árbitro; mas se o encargo tiver sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa superveniente que impossibilite o designado de exercer tal função ou na não conclusão do acordo a que se refere o nº 1 do artigo 17º. 2 - A menos que as partes tenham acordado de outro modo, cada árbitro designado deve, no prazo de 15 dias a contar da comunicação da sua designação, declarar por escrito a aceitação do encargo a quem o designou; se em tal prazo não declarar a sua aceitação nem por outra forma revelar a intenção de agir como árbitro, entende-se que não aceita a designação. 3 - O árbitro que, tendo aceitado o encargo, se escusar injustificadamente ao exercício da sua função responde pelos danos a que der causa. Artigo 13º Fundamentos de recusa 1 - Quem for convidado para exercer funções de árbitro deve revelar todas as circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade e independência. 2 - O árbitro deve, durante todo o processo arbitral, revelar, sem demora, às partes e aos demais árbitros as circunstâncias referidas no número anterior que sejam supervenientes ou de que só tenha tomado conhecimento depois de aceitar o encargo. 3 - Um árbitro só pode ser recusado se existirem circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade ou independência ou se não possuir as qualificações que as partes convencionaram. Uma parte só pode recusar um árbitro que haja designado ou em cuja designação haja participado com fundamento numa causa de que só tenha tido conhecimento após essa designação. Artigo 14º Processo de recusa 1 - Sem prejuízo do disposto no nº 3

8 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março do presente artigo, as partes podem livremente acordar sobre o processo de recusa de árbitro. 2 - Na falta de acordo, a parte que pretenda recusar um árbitro deve expor por escrito os motivos da recusa ao tribunal arbitral, no prazo de 15 dias a contar da data em que teve conhecimento da constituição daquele ou da data em que teve conhecimento das circunstâncias referidas no artigo 13º Se o árbitro recusado não renunciar à função que lhe foi confiada e a parte que o designou insistir em mantê-lo, o tribunal arbitral, com participação do árbitro visado, decide sobre a recusa. 3 - Se a destituição do árbitro recusado não puder ser obtida segundo o processo convencionado pelas partes ou nos termos do disposto no nº 2 do presente artigo, a parte que recusa o árbitro pode, no prazo de 15 dias após lhe ter sido comunicada a decisão que rejeita a recusa, pedir ao tribunal estadual competente que tome uma decisão sobre a recusa, sendo aquela insusceptível de recurso. Na pendência desse pedido, o tribunal arbitral, incluindo o árbitro recusado, pode prosseguir o processo arbitral e proferir sentença. Artigo 15º Incapacitação ou inacção de um árbitro 1 - Cessam as funções do árbitro que fique incapacitado, de direito ou de facto, para exercê-las, se o mesmo a elas renunciar ou as partes de comum acordo lhes puserem termo com esse fundamento. 2 - Se um árbitro, por qualquer outra razão, não se desincumbir, em tempo razoável, das funções que lhe foram cometidas, as partes podem, de comum acordo, fazê-las cessar, sem prejuízo da eventual responsabilidade do árbitro em causa. 3 - No caso de as partes não chegarem a acordo quanto ao afastamento do árbitro afectado por uma das situações referidas nos números anteriores do presente artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente que, com fundamento na situação em causa, o destitua, sendo esta decisão insusceptível de recurso. 4 - Se, nos termos dos números anteriores do presente artigo ou do nº 2 do artigo 14º, um árbitro renunciar à sua função ou as partes aceitarem que cesse a função de um árbitro que alegadamente se encontre numa das situações aí previstas, tal não implica o reconhecimento da procedência dos motivos de destituição mencionados nas disposições acima referidas. Artigo 16º Nomeação de um árbitro substituto 1 - Em todos os casos em que, por qualquer razão, cessem as funções de um árbitro, é nomeado um árbitro substituto, de acordo com as regras aplicadas à designação do árbitro substituído, sem prejuízo de as partes poderem acordar em que a substituição do árbitro se faça de outro modo ou prescindirem da sua substituição. 2 - O tribunal arbitral decide, tendo em conta o estado do processo, se algum acto processual deve ser repetido face à nova composição do tribunal. Artigo 17º Honorários e despesas dos árbitros 1 - Se as partes não tiverem regulado tal matéria na convenção de arbitragem, os honorários dos árbitros, o modo de reembolso das suas despesas e a forma de pagamento pelas partes de preparos por conta desses honorários e despesas devem ser objecto de acordo escrito entre as partes e os árbitros, concluído antes da aceitação do último dos árbitros a ser designado. 2 - Caso a matéria não haja sido regulada na convenção de arbitragem, nem sobre ela haja sido concluído um acordo entre as partes e os árbitros, cabe aos árbitros, tendo em conta a complexidade das questões decididas, o valor da causa e o tempo despendido ou a despender com o processo arbitral até à conclusão deste, fixar o montante dos seus honorários e despesas, bem como determinar o pagamento pelas partes de preparos por conta daqueles, mediante uma ou várias decisões separadas das que se pronunciem sobre questões processuais ou sobre o fundo da causa. 3 - No caso previsto no número anterior do presente artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente a redução dos montantes dos honorários ou das despesas e respectivos preparos fixados pelos árbitros, podendo esse tribunal, depois de ouvir sobre a matéria os membros do tribunal arbitral, fixar os montantes que considere adequados. 4 - No caso de falta de pagamento de preparos para honorários e despesas que hajam sido previamente acordados ou fixados pelo tribunal arbitral ou estadual, os árbitros podem suspender ou dar por concluído o processo arbitral, após ter decorrido um prazo adicional razoável que concedam para o efeito à parte ou partes faltosas, sem prejuízo do disposto no número seguinte do presente artigo. 5 - Se, dentro do prazo fixado de acordo com o número anterior, alguma das partes não tiver pago o seu preparo, os árbitros, antes de decidirem suspender ou pôr termo ao processo arbitral, comunicam-no às demais partes para que estas possam, se o desejarem, suprir a falta de pagamento daquele preparo no prazo que lhes for fixado para o efeito. CAPÍTULO III Da competência do tribunal arbitral Artigo 18º Competência do tribunal arbitral para se pronunciar sobre a sua competência 1 - O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou a eficácia da convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira, ou a aplicabilidade da referida convenção.

9 8 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque 2 - Para os efeitos do disposto no número anterior, uma cláusula compromissória que faça parte de um contrato é considerada como um acordo independente das demais cláusulas do mesmo. 3 - A decisão do tribunal arbitral que considere nulo o contrato não implica, só por si, a nulidade da cláusula compromissória. 4 - A incompetência do tribunal arbitral para conhecer da totalidade ou de parte do litígio que lhe foi submetido só pode ser arguida até à apresentação da defesa quanto ao fundo da causa, ou juntamente com esta. 5 - O facto de uma parte ter designado um árbitro ou ter participado na sua designação não a priva do direito de arguir a incompetência do tribunal arbitral para conhecer do litígio que lhe haja sido submetido. 6 - A arguição de que, no decurso do processo arbitral, o tribunal arbitral excedeu ou pode exceder a sua competência deve ser deduzida imediatamente após se suscitar a questão que alegadamente exceda essa competência. 7 - O tribunal arbitral pode, nos casos previstos nos n os 4 e 6 do presente artigo, admitir as excepções que, com os fundamentos neles referidos, sejam arguidas após os limites temporais aí estabelecidos, se considerar justificado o não cumprimento destes. 8 - O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua competência quer mediante uma decisão interlocutória quer na sentença sobre o fundo da causa. 9 - A decisão interlocutória pela qual o tribunal arbitral declare que tem competência pode, no prazo de 30 dias após a sua notificação às partes, ser impugnada por qualquer destas perante o tribunal estadual competente, ao abrigo das subalíneas i) e iii) da alínea a) do nº 3 do artigo 46º, e da alínea f) do nº 1 do artigo 59º Enquanto a impugnação referida no número anterior do presente artigo estiver pendente no tribunal estadual competente, o tribunal arbitral pode prosseguir o processo arbitral e proferir sentença sobre o fundo da causa, sem prejuízo do disposto no nº 3 do artigo 5º Artigo 19º Extensão da intervenção dos tribunais estaduais Nas matérias reguladas pela presente lei, os tribunais estaduais só podem intervir nos casos em que esta o prevê. CAPÍTULO IV Das providências cautelares e ordens preliminares SECÇÃO I Providências cautelares Artigo 20º Providências cautelares decretadas pelo tribunal arbitral 1 - Salvo estipulação em contrário, o tribunal arbitral pode, a pedido de uma parte e ouvida a parte contrária, decretar as providências cautelares que considere necessárias em relação ao objecto do litígio. 2 - Para os efeitos da presente lei, uma providência cautelar é uma medida de carácter temporário, decretada por sentença ou decisão com outra forma, pela qual, em qualquer altura antes de proferir a sentença que venha a dirimir o litígio, o tribunal arbitral ordena a uma parte que: a) Mantenha ou restaure a situação anteriormente existente enquanto o litígio não for dirimido; b) Pratique actos que previnam ou se abstenha de praticar actos que provavelmente causem dano ou prejuízo relativamente ao processo arbitral; c) Assegure a preservação de bens sobre os quais uma sentença subsequente possa ser executada; d) Preserve meios de prova que possam ser relevantes e importantes para a resolução do litígio. Artigo 21º Requisitos para o decretamento de providências cautelares 1 - Uma providência cautelar requerida ao abrigo das alíneas a), b) e c) do nº 2 do artigo 20º é decretada pelo tribunal arbitral, desde que: a) Haja probabilidade séria da existência do direito invocado pelo requerente e se mostre suficientemente fundado o receio da sua lesão; e b) O prejuízo resultante para o requerido do decretamento da providência não exceda consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar. 2 - O juízo do tribunal arbitral relativo à probabilidade referida na alínea a) do nº 1 do presente artigo não afecta a liberdade de decisão do tribunal arbitral quando, posteriormente, tiver de se pronunciar sobre qualquer matéria. 3 - Relativamente ao pedido de uma providência cautelar feito ao abrigo da alínea d) do nº 2 do artigo 20º, os requisitos estabelecidos nas alíneas a) e b) do nº 1 do presente artigo aplicam-se apenas na medida que o tribunal arbitral considerar adequada. SECÇÃO II Ordens preliminares Artigo 22º Requerimento de ordens preliminares; requisitos 1 - Salvo havendo acordo em sentido diferente, qualquer das partes pode pedir que seja decretada uma providência cautelar e, simultaneamente, requerer que seja dirigida à outra parte uma ordem preliminar, sem prévia audiência dela, para que não seja frustrada a finalidade da providência cautelar solicitada. 2 - O tribunal arbitral pode emitir a ordem preliminar requerida, desde que considere que a prévia revelação do pedido de providência cautelar à parte contra a qual ela se dirige cria o risco de a finalidade daquela providência ser frustrada. 3 - Os requisitos estabelecidos no artigo 21º são aplicáveis a qualquer ordem preliminar, considerando-se que o dano a equacionar ao abrigo da alínea b) do nº 1 do artigo 21º é, neste caso, o que pode resultar de a ordem preliminar ser ou não emitida.

10 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março Artigo 23º Regime específico das ordens preliminares 1 - Imediatamente depois de o tribunal arbitral se ter pronunciado sobre um requerimento de ordem preliminar, deve informar todas as partes sobre o pedido de providência cautelar, o requerimento de ordem preliminar, a ordem preliminar, se esta tiver sido emitida, e todas as outras comunicações, incluindo comunicações orais, havidas entre qualquer parte e o tribunal arbitral a tal respeito. 2 - Simultaneamente, o tribunal arbitral deve dar oportunidade à parte contra a qual a ordem preliminar haja sido decretada para apresentar a sua posição sobre aquela, no mais curto prazo que for praticável e que o tribunal fixa. 3 - O tribunal arbitral deve decidir prontamente sobre qualquer objecção deduzida contra a ordem preliminar. 4 - A ordem preliminar caduca 20 dias após a data em que tenha sido emitida pelo tribunal arbitral. O tribunal pode, contudo, após a parte contra a qual se dirija a ordem preliminar ter sido dela notificada e ter tido oportunidade para sobre ela apresentar a sua posição, decretar uma providência cautelar, adoptando ou modificando o conteúdo da ordem preliminar. 5 - A ordem preliminar é obrigatória para as partes, mas não é passível de execução coerciva por um tribunal estadual. SECÇÃO III Regras comuns às providências cautelares e às ordens preliminares Artigo 24º Modificação, suspensão e revogação; prestação de caução 1 - O tribunal arbitral pode modificar, suspender ou revogar uma providência cautelar ou uma ordem preliminar que haja sido decretada ou emitida, a pedido de qualquer das partes ou, em circunstâncias excepcionais e após ouvilas, por iniciativa do próprio tribunal. 2 - O tribunal arbitral pode exigir à parte que solicita o decretamento de uma providência cautelar a prestação de caução adequada. 3 - O tribunal arbitral deve exigir à parte que requeira a emissão de uma ordem preliminar a prestação de caução adequada, a menos que considere inadequado ou desnecessário fazê-lo. Artigo 25º Dever de revelação 1 - As partes devem revelar prontamente qualquer alteração significativa das circunstâncias com fundamento nas quais a providência cautelar foi solicitada ou decretada. 2 - A parte que requeira uma ordem preliminar deve revelar ao tribunal arbitral todas as circunstâncias que possam ser relevantes para a decisão sobre a sua emissão ou manutenção e tal dever continua em vigor até que a parte contra a qual haja sido dirigida tenha tido oportunidade de apresentar a sua posição, após o que se aplica o disposto no nº 1 do presente artigo. Artigo 26º Responsabilidade do requerente A parte que solicite o decretamento de uma providência cautelar ou requeira a emissão de uma ordem preliminar é responsável por quaisquer custos ou prejuízos causados à outra parte por tal providência ou ordem, caso o tribunal arbitral venha mais tarde a decidir que, nas circunstâncias anteriormente existentes, a providência ou a ordem preliminar não deveria ter sido decretada ou ordenada. O tribunal arbitral pode, neste último caso, condenar a parte requerente no pagamento da correspondente indemnização em qualquer estado do processo. SECÇÃO IV Reconhecimento ou execução coerciva de providências cautelares Artigo 27º Reconhecimento ou execução coerciva 1 - Uma providência cautelar decretada por um tribunal arbitral é obrigatória para as partes e, a menos que o tribunal arbitral tenha decidido de outro modo, pode ser coercivamente executada mediante pedido dirigido ao tribunal estadual competente, independentemente de a arbitragem em que aquela foi decretada ter lugar no estrangeiro, sem prejuízo do disposto no artigo 28º. 2 - A parte que peça ou já tenha obtido o reconhecimento ou a execução coerciva de uma providência cautelar deve informar prontamente o tribunal estadual da eventual revogação, suspensão ou modificação dessa providência pelo tribunal arbitral que a haja decretado. 3 - O tribunal estadual ao qual for pedido o reconhecimento ou a execução coerciva da providência pode, se o considerar conveniente, ordenar à parte requerente que preste caução adequada, se o tribunal arbitral não tiver já tomado uma decisão sobre essa matéria ou se tal decisão for necessária para proteger os interesses de terceiros. 4 - A sentença do tribunal arbitral que decidir sobre uma ordem preliminar ou providência cautelar e a sentença do tribunal estadual que decidir sobre o reconhecimento ou execução coerciva de uma providência cautelar de um tribunal arbitral não são susceptíveis de recurso. Artigo 28º Fundamentos de recusa do reconhecimento ou da execução coerciva 1 - O reconhecimento ou a execução coerciva de uma providência cautelar só podem ser recusados por um tribunal estadual: a) A pedido da parte contra a qual a providência seja invocada, se este tribunal considerar que: i) Tal recusa é justificada com fundamento nos motivos previstos nas subalíneas i), ii), iii) ou iv) da alínea a) do nº 1 do artigo 56º; ou ii) A decisão do tribunal arbitral respeitante à prestação de caução relacionada com a providência cautelar decretada não foi cumprida; ou

11 10 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque iii) A providência cautelar foi revogada ou suspensa pelo tribunal arbitral ou, se para isso for competente, por um tribunal estadual do país estrangeiro em que arbitragem tem lugar ou ao abrigo de cuja lei a providência tiver sido decretada; ou b) Se o tribunal estadual considerar que: i) A providência cautelar é incompatível com os poderes conferidos ao tribunal estadual pela lei que o rege, salvo se este decidir reformular a providência cautelar na medida necessária para a adaptar à sua própria competência e regime processual, em ordem a fazer executar coercivamente a providência cautelar, sem alterar a sua essência; ou ii) Alguns dos fundamentos de recusa de reconhecimento previstos nas subalíneas i) ou ii) da alínea b) do nº 1 do artigo 56º se verificam relativamente ao reconhecimento ou à execução coerciva da providência cautelar. 2 - Qualquer decisão tomada pelo tribunal estadual ao abrigo do nº 1 do presente artigo tem eficácia restrita ao pedido de reconhecimento ou de execução coerciva de providência cautelar decretada pelo tribunal arbitral. O tribunal estadual ao qual seja pedido o reconhecimento ou a execução de providência cautelar, ao pronunciarse sobre esse pedido, não deve fazer uma revisão do mérito da providência cautelar. Artigo 29º Providências cautelares decretadas por um tribunal estadual 1 - Os tribunais estaduais têm poder para decretar providências cautelares na dependência de processos arbitrais, independentemente do lugar em que estes decorram, nos mesmos termos em que o podem fazer relativamente aos processos que corram perante os tribunais estaduais. 2 - Os tribunais estaduais devem exercer esse poder de acordo com o regime processual que lhes é aplicável, tendo em consideração, se for o caso, as características específicas da arbitragem internacional. CAPÍTULO V Da condução do processo arbitral Artigo 30º Princípios e regras do processo arbitral 1 - O processo arbitral deve sempre respeitar os seguintes princípios fundamentais: a) O demandado é citado para se defender; b) As partes são tratadas com igualdade e deve ser-lhes dada uma oportunidade razoável de fazerem valer os seus direitos, por escrito ou oralmente, antes de ser proferida a sentença final; c) Em todas as fases do processo é garantida a observância do princípio do contraditório, salvas as excepções previstas na presente lei. 2 - As partes podem, até à aceitação do primeiro árbitro, acordar sobre as regras do processo a observar na arbitragem, com respeito pelos princípios fundamentais consignados no número anterior do presente artigo e pelas demais normas imperativas constantes desta lei. 3 - Não existindo tal acordo das partes e na falta de disposições aplicáveis na presente lei, o tribunal arbitral pode conduzir a arbitragem do modo que considerar apropriado, definindo as regras processuais que entender adequadas, devendo, se for esse o caso, explicitar que considera subsidiariamente aplicável o disposto na lei que rege o processo perante o tribunal estadual competente. 4 - Os poderes conferidos ao tribunal arbitral compreendem o de determinar a admissibilidade, pertinência e valor de qualquer prova produzida ou a produzir. 5 - Os árbitros, as partes e, se for o caso, as entidades que promovam, com carácter institucionalizado, a realização de arbitragens voluntárias, têm o dever de guardar sigilo sobre todas as informações que obtenham e documentos de que tomem conhecimento através do processo arbitral, sem prejuízo do direito de as partes tornarem públicos os actos processuais necessários à defesa dos seus direitos e do dever de comunicação ou revelação de actos do processo às autoridades competentes, que seja imposto por lei. 6 - O disposto no número anterior não impede a publicação de sentenças e outras decisões do tribunal arbitral, expurgadas de elementos de identificação das partes, salvo se qualquer destas a isso se opuser. Artigo 31º Lugar da arbitragem 1 - As partes podem livremente fixar o lugar da arbitragem. Na falta de acordo das partes, este lugar é fixado pelo tribunal arbitral, tendo em conta as circunstâncias do caso, incluindo a conveniência das partes. 2 - Não obstante o disposto no nº 1 do presente artigo, o tribunal arbitral pode, salvo convenção das partes em contrário, reunir em qualquer local que julgue apropriado para se realizar uma ou mais audiências, permitir a realização de qualquer diligência probatória ou tomar quaisquer deliberações. Artigo 32º Língua do processo 1 - As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral. Na falta desse acordo, o tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo. 2 - O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer documento seja acompanhado de uma tradução na língua ou línguas convencionadas pelas partes ou escolhidas pelo tribunal arbitral. Artigo 33º Início do processo; petição e contestação 1 - Salvo convenção das partes em contrário, o processo arbitral relativo a determinado litígio tem início na data

12 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março em que o pedido de submissão desse litígio a arbitragem é recebido pelo demandado. 2 - Nos prazos convencionados pelas partes ou fixados pelo tribunal arbitral, o demandante apresenta a sua petição, em que enuncia o seu pedido e os factos em que este se baseia, e o demandado apresenta a sua contestação, em que explana a sua defesa relativamente àqueles, salvo se tiver sido outra a convenção das partes quanto aos elementos a figurar naquelas peças escritas. As partes podem fazer acompanhar as referidas peças escritas de quaisquer documentos que julguem pertinentes e mencionar nelas documentos ou outros meios de prova que venham a apresentar. 3 - Salvo convenção das partes em contrário, qualquer delas pode, no decurso do processo arbitral, modificar ou completar a sua petição ou a sua contestação, a menos que o tribunal arbitral entenda não dever admitir tal alteração em razão do atraso com que é formulada, sem que para este haja justificação bastante. 4 - O demandado pode deduzir reconvenção, desde que o seu objecto seja abrangido pela convenção de arbitragem. Artigo 34º Audiências e processo escrito 1 - Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decide se serão realizadas audiências para a produção de prova ou se o processo é apenas conduzido com base em documentos e outros elementos de prova. O tribunal deve, porém, realizar uma ou mais audiências para a produção de prova sempre que uma das partes o requeira, a menos que as partes hajam previamente prescindido delas. 2 - As partes devem ser notificadas, com antecedência suficiente, de quaisquer audiências e de outras reuniões convocadas pelo tribunal arbitral para fins de produção de prova. 3 - Todas as peças escritas, documentos ou informações que uma das partes forneça ao tribunal arbitral devem ser comunicadas à outra parte. Deve igualmente ser comunicado às partes qualquer relatório pericial ou elemento de prova documental que possa servir de base à decisão do tribunal. Artigo 35º Omissões e faltas de qualquer das partes 1 - Se o demandante não apresentar a sua petição em conformidade com o nº 2 do artigo 33º, o tribunal arbitral põe termo ao processo arbitral. 2 - Se o demandado não apresentar a sua contestação, em conformidade com o nº 2 do artigo 33º, o tribunal arbitral prossegue o processo arbitral, sem considerar esta omissão, em si mesma, como uma aceitação das alegações do demandante. 3 - Se uma das partes deixar de comparecer a uma audiência ou de produzir prova documental no prazo fixado, o tribunal arbitral pode prosseguir o processo e proferir sentença com base na prova apresentada. 4 - O tribunal arbitral pode, porém, caso considere a omissão justificada, permitir a uma parte a prática do acto omitido. 5 - O disposto nos números anteriores deste artigo entende-se sem prejuízo do que as partes possam ter acordado sobre as consequências das suas omissões. Artigo 36º Intervenção de terceiros 1 - Só podem ser admitidos a intervir num processo arbitral em curso terceiros vinculados pela convenção de arbitragem em que aquele se baseia, quer o estejam desde a respectiva conclusão, quer tenham aderido a ela subsequentemente. Esta adesão carece do consentimento de todas as partes na convenção de arbitragem e pode ser feita só para os efeitos da arbitragem em causa. 2 - Encontrando-se o tribunal arbitral constituído, só pode ser admitida ou provocada a intervenção de terceiro que declare aceitar a composição actual do tribunal; em caso de intervenção espontânea, presume-se essa aceitação. 3 - A admissão da intervenção depende sempre de decisão do tribunal arbitral, após ouvir as partes iniciais na arbitragem e o terceiro em causa. O tribunal arbitral só deve admitir a intervenção se esta não perturbar indevidamente o normal andamento do processo arbitral e se houver razões de relevo que a justifiquem, considerando-se como tais, em particular, aquelas situações em que, não havendo manifesta inviabilidade do pedido: a) O terceiro tenha em relação ao objecto da causa um interesse igual ao do demandante ou do demandado, que inicialmente permitisse o litisconsórcio voluntário ou impusesse o litisconsórcio necessário entre uma das partes na arbitragem e o terceiro; ou b) O terceiro queira formular, contra o demandado, um pedido com o mesmo objecto que o do demandante, mas incompatível com o deste; ou c) O demandado, contra quem seja invocado crédito que possa, prima facie, ser caracterizado como solidário, pretenda que os demais possíveis credores solidários fiquem vinculados pela decisão final proferida na arbitragem; ou d) O demandado pretenda que sejam chamados terceiros, contra os quais o demandado possa ter direito de regresso em consequência da procedência, total ou parcial, de pedido do demandante. 4 - O que ficou estabelecido nos números anteriores para demandante e demandado vale, com as necessárias adaptações, respectivamente para demandado e demandante, se estiver em causa reconvenção. 5 - Admitida a intervenção, aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 33º 6 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a intervenção de terceiros anteriormente à constituição do tribunal arbitral só pode ter lugar em arbitragem institucionalizada e desde que o regulamento de arbitragem aplicável

13 12 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque assegure a observância do princípio da igualdade de participação de todas as partes, incluindo os membros de partes plurais, na escolha dos árbitros. 7 - A convenção de arbitragem pode regular a intervenção de terceiros em arbitragens em curso de modo diferente do estabelecido nos números anteriores, quer directamente, com observância do princípio da igualdade de participação de todas as partes na escolha dos árbitros, quer mediante remissão para um regulamento de arbitragem institucionalizada que admita essa intervenção. Artigo 37º Perito nomeado pelo tribunal arbitral 1 - Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal arbitral, por sua iniciativa ou a pedido das partes, pode nomear um ou mais peritos para elaborarem um relatório, escrito ou oral, sobre pontos específicos a determinar pelo tribunal arbitral. 2 - No caso previsto no número anterior, o tribunal arbitral pode pedir a qualquer das partes que forneça ao perito qualquer informação relevante ou que apresente ou faculte acesso a quaisquer documentos ou outros objectos relevantes para serem inspeccionados. 3 - Salvo convenção das partes em contrário, se uma destas o solicitar ou se o tribunal arbitral o julgar necessário, o perito, após a apresentação do seu relatório, participa numa audiência em que o tribunal arbitral e as partes têm a oportunidade de o interrogar. 4 - O preceituado no artigo 13º e nos n os 2 e 3 do artigo 14º, aplica-se, com as necessárias adaptações, aos peritos designados pelo tribunal arbitral. Artigo 38º Solicitação aos tribunais estaduais na obtenção de provas 1 - Quando a prova a produzir dependa da vontade de uma das partes ou de terceiros e estes recusem a sua colaboração, uma parte, com a prévia autorização do tribunal arbitral, pode solicitar ao tribunal estadual competente que a prova seja produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal arbitral. 2 - O disposto no número anterior é aplicável às solicitações de produção de prova que sejam dirigidas a um tribunal estadual português, no âmbito de arbitragens localizadas no estrangeiro. CAPÍTULO VI Da sentença arbitral e encerramento do processo Artigo 39º Direito aplicável, recurso à equidade; irrecorribilidade da decisão 1 - Os árbitros julgam segundo o direito constituído, a menos que as partes determinem, por acordo, que julguem segundo a equidade. 2 - Se o acordo das partes quanto ao julgamento segundo a equidade for posterior à aceitação do primeiro árbitro, a sua eficácia depende de aceitação por parte do tribunal arbitral. 3 - No caso de as partes lhe terem confiado essa missão, o tribunal pode decidir o litígio por apelo à composição das partes na base do equilíbrio dos interesses em jogo. 4 - A sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem conhecer deste, ponha termo ao processo arbitral, só é susceptível de recurso para o tribunal estadual competente no caso de as partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de arbitragem e desde que a causa não haja sido decidida segundo a equidade ou mediante composição amigável. Artigo 40º Decisão tomada por vários árbitros 1 - Num processo arbitral com mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal arbitral é tomada pela maioria dos seus membros. Se não puder formar-se maioria, a sentença é proferida pelo presidente do tribunal. 2 - Se um árbitro se recusar a tomar parte na votação da decisão, os outros árbitros podem proferir sentença sem ele, a menos que as partes tenham convencionado de modo diferente. As partes são subsequentemente informadas da recusa de participação desse árbitro na votação. 3 - As questões respeitantes à ordenação, à tramitação ou ao impulso processual poderão ser decididas apenas pelo árbitro presidente, se as partes ou os outros membros do tribunal arbitral lhe tiverem dado autorização para o efeito. Artigo 41º Transacção 1 - Se, no decurso do processo arbitral, as partes terminarem o litígio mediante transacção, o tribunal arbitral deve pôr fim ao processo e, se as partes lho solicitarem, dá a tal transacção a forma de sentença proferida nos termos acordados pelas partes, a menos que o conteúdo de tal transacção infrinja algum princípio de ordem pública. 2 - Uma sentença proferida nos termos acordados pelas partes deve ser elaborada em conformidade com o disposto no artigo 42º e mencionar o facto de ter a natureza de sentença, tendo os mesmos efeitos que qualquer outra sentença proferida sobre o fundo da causa. Artigo 42º Forma, conteúdo e eficácia da sentença 1 - A sentença deve ser reduzida a escrito e assinada pelo árbitro ou árbitros. Em processo arbitral com mais de um árbitro, são suficientes as assinaturas da maioria dos membros do tribunal arbitral ou só a do presidente, caso por este deva ser proferida a sentença, desde que seja mencionada na sentença a razão da omissão das restantes assinaturas. 2 - Salvo convenção das partes em contrário, os árbitros podem decidir o fundo da causa através de uma única sentença ou de tantas sentenças parciais quantas entendam necessárias. 3 - A sentença deve ser fundamentada, salvo se as partes tiverem dispensado

14 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março tal exigência ou se trate de sentença proferida com base em acordo das partes, nos termos do artigo 41º. 4 - A sentença deve mencionar a data em que foi proferida, bem como o lugar da arbitragem, determinado em conformidade com o nº 1 do artigo 31º, considerando-se, para todos os efeitos, que a sentença foi proferida nesse lugar. 5 - A menos que as partes hajam convencionado de outro modo, da sentença deve constar a repartição pelas partes dos encargos directamente resultantes do processo arbitral. Os árbitros podem ainda decidir na sentença, se o entenderem justo e adequado, que uma ou algumas das partes compense a outra ou outras pela totalidade ou parte dos custos e despesas razoáveis que demonstrem ter suportado por causa da sua intervenção na arbitragem. 6 - Proferida a sentença, a mesma é imediatamente notificada através do envio a cada uma das partes de um exemplar assinado pelo árbitro ou árbitros, nos termos do disposto nº 1 do presente artigo, produzindo efeitos na data dessa notificação, sem prejuízo do disposto no nº A sentença arbitral de que não caiba recurso e que já não seja susceptível de alteração no termos do artigo 45º tem o mesmo carácter obrigatório entre as partes que a sentença de um tribunal estadual transitada em julgado e a mesma força executiva que a sentença de um tribunal estadual. Artigo 43º Prazo para proferir sentença 1 - Salvo se as partes, até à aceitação do primeiro árbitro, tiverem acordado prazo diferente, os árbitros devem notificar às partes a sentença final proferida sobre o litígio que por elas lhes foi submetido dentro do prazo de 12 meses a contar da data de aceitação do último árbitro. 2 - Os prazos definidos de acordo com o nº 1 podem ser livremente prorrogados por acordo das partes ou, em alternativa, por decisão do tribunal arbitral, por uma ou mais vezes, por sucessivos períodos de 12 meses, devendo tais prorrogações ser devidamente fundamentadas. Fica, porém, ressalvada a possibilidade de as partes, de comum acordo, se oporem à prorrogação. 3 - A falta de notificação da sentença final dentro do prazo máximo determinado de acordo com os números anteriores do presente artigo, põe automaticamente termo ao processo arbitral, fazendo também extinguir a competência dos árbitros para julgarem o litígio que lhes fora submetido, sem prejuízo de a convenção de arbitragem manter a sua eficácia, nomeadamente para efeito de com base nela ser constituído novo tribunal arbitral e ter início nova arbitragem. 4 - Os árbitros que injustificadamente obstarem a que a decisão seja proferida dentro do prazo fixado respondem pelos danos causados. Artigo 44º Encerramento do processo 1 - O processo arbitral termina quando for proferida a sentença final ou quando for ordenado o encerramento do processo pelo tribunal arbitral, nos termos do nº 2 do presente artigo. 2 - O tribunal arbitral ordena o encerramento do processo arbitral quando: a) O demandante desista do seu pedido, a menos que o demandado a tal se oponha e o tribunal arbitral reconheça que este tem um interesse legítimo em que o litígio seja definitivamente resolvido; b) As partes concordem em encerrar o processo; c) O tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se tornou, por qualquer outra razão, inútil ou impossível. 3 - As funções do tribunal arbitral cessam com o encerramento do processo arbitral, sem prejuízo do disposto no artigo 45º e no nº 8 do artigo 46º 4 - Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, o presidente do tribunal arbitral deve conservar o original do processo arbitral durante um prazo mínimo de dois anos e o original da sentença arbitral durante um prazo mínimo de cinco anos. Artigo 45º Rectificação e esclarecimento da sentença; sentença adicional 1 - A menos que as partes tenham convencionado outro prazo para este efeito, nos 30 dias seguintes à recepção da notificação da sentença arbitral, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral, que rectifique, no texto daquela, qualquer erro de cálculo, erro material ou tipográfico ou qualquer erro de natureza idêntica. 2 - No prazo referido no número anterior, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral que esclareça alguma obscuridade ou ambiguidade da sentença ou dos seus fundamentos. 3 - Se o tribunal arbitral considerar o requerimento justificado, faz a rectificação ou o esclarecimento nos 30 dias seguintes à recepção daquele. O esclarecimento faz parte integrante da sentença. 4 - O tribunal arbitral pode também, por sua iniciativa, nos 30 dias seguintes à data da notificação da sentença, rectificar qualquer erro do tipo referido no nº 1 do presente artigo. 5 - Salvo convenção das partes em contrário, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral, nos 30 dias seguintes à data em que recebeu a notificação da sentença, que profira uma sentença adicional sobre partes do pedido ou dos pedidos apresentados no decurso do processo arbitral, que não hajam sido decididas na sentença. Se julgar justificado tal requerimento, o tribunal profere a sentença adicional nos 60 dias seguintes à sua apresentação. 6 - O tribunal arbitral pode prolongar, se necessário, o prazo de que dispõe para rectificar, esclarecer ou completar a sentença, nos termos dos n os 1, 2 ou 5 do presente artigo, sem prejuízo da observância do prazo máximo fixado de acordo com o artigo 43º. 7 - O disposto no artigo 42º aplica-se à rectificação e ao esclarecimento da sentença bem como à sentença adicional.

15 14 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque CAPÍtulo Vii Da impugnação da sentença arbitral Artigo 46º Pedido de anulação 1 - Salvo se as partes tiverem acordado em sentido diferente, ao abrigo do nº 4 do artigo 39º, a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal estadual só pode revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto no presente artigo. 2 - O pedido de anulação da sentença arbitral, que deve ser acompanhado de uma cópia certificada da mesma e, se estiver redigida em língua estrangeira, de uma tradução para português, é apresentado no tribunal estadual competente, observando-se as seguintes regras, sem prejuízo do disposto nos demais números do presente artigo: a) A prova é oferecida com o requerimento; b) É citada a parte requerida para se opor ao pedido e oferecer prova; c) É admitido um articulado de resposta do requerente às eventuais excepções; d) É em seguida produzida a prova a que houver lugar; e) Segue-se a tramitação do recurso de apelação, com as necessárias adaptações; f) A acção de anulação entra, para efeitos de distribuição, na 5ª espécie. 3 - A sentença arbitral só pode ser anulada pelo tribunal estadual competente se: a) A parte que faz o pedido demonstrar que: i) Uma das partes da convenção de arbitragem estava afectada por uma incapacidade; ou que essa convenção não é válida nos termos da lei a que as partes a sujeitaram ou, na falta de qualquer indicação a este respeito, nos termos da presente lei; ou ii) Houve no processo violação de alguns dos princípios fundamentais referidos no nº 1 do artigo 30º com influência decisiva na resolução do litígio; ou iii) A sentença se pronunciou sobre um litígio não abrangido pela convenção de arbitragem ou contém decisões que ultrapassam o âmbito desta; ou iv) A composição do tribunal arbitral ou o processo arbitral não foram conformes com a convenção das partes, a menos que esta convenção contrarie uma disposição da presente lei que as partes não possam derrogar ou, na falta de uma tal convenção, que não foram conformes com a presente lei e, em qualquer dos casos, que essa desconformidade teve influência decisiva na resolução do litígio; ou v) O tribunal arbitral condenou em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido, conheceu de questões de que não podia tomar conhecimento ou deixou de pronunciar-se sobre questões que devia apreciar; ou vi) A sentença foi proferida com violação dos requisitos estabelecidos nos n os 1 e 3 do artigo 42º; ou vii) A sentença foi notificada às partes depois de decorrido o prazo máximo para o efeito fixado de acordo com ao artigo 43º ; ou b) O tribunal verificar que: i) O objecto do litígio não é susceptível de ser decidido por arbitragem nos termos do direito português; ii) O conteúdo da sentença ofende os princípios da ordem pública internacional do Estado português. 4 - Se uma parte, sabendo que não foi respeitada uma das disposições da presente lei que as partes podem derrogar ou uma qualquer condição enunciada na convenção de arbitragem, prosseguir apesar disso a arbitragem sem deduzir oposição de imediato ou, se houver prazo para este efeito, nesse prazo, considera-se que renunciou ao direito de impugnar, com tal fundamento, a sentença arbitral. 5 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o direito de requerer a anulação da sentença arbitral é irrenunciável. 6 - O pedido de anulação só pode ser apresentado no prazo de 60 dias a contar da data em que a parte que pretenda essa anulação recebeu a notificação da sentença ou, se tiver sido feito um requerimento no termos do artigo 45º, a partir da data em que o tribunal arbitral tomou uma decisão sobre esse requerimento. 7 - Se a parte da sentença relativamente à qual se verifique existir qualquer dos fundamentos de anulação referidos no nº 3 do presente artigo puder ser dissociada do resto da mesma, é unicamente anulada a parte da sentença atingida por esse fundamento de anulação. 8 - Quando lhe for pedido que anule uma sentença arbitral, o tribunal estadual competente pode, se o considerar adequado e a pedido de uma das partes, suspender o processo de anulação durante o período de tempo que determinar, em ordem a dar ao tribunal arbitral a possibilidade de retomar o processo arbitral ou de tomar qualquer outra medida que o tribunal arbitral julgue susceptível de eliminar os fundamentos da anulação. 9 - O tribunal estadual que anule a sentença arbitral não pode conhecer do mérito da questão ou questões por aquela decididas, devendo tais questões, se alguma das partes o pretender, ser submetidas a outro tribunal arbitral para serem por este decididas Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, com a anulação da sentença a convenção de arbitragem volta a produzir efeitos relativamente ao objecto do litígio. CAPÍtulo Viii Da execução da sentença arbitral Artigo 47º Execução da sentença arbitral 1 - A parte que pedir a execução da sentença ao tribunal estadual competente deve fornecer o original daquela ou uma cópia certificada conforme e, se a mesma não estiver redigida em língua portuguesa, uma tradução certificada nesta língua. 2 - No caso de o tribunal arbitral ter proferido sentença de condenação genérica, a sua liquidação faz-se nos termos do nº 4 do artigo 805º do Código de Processo Civil, podendo no entanto ser requerida a liquidação ao tribunal arbitral nos termos do nº 5 do artigo 45º, caso em que

16 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março o tribunal arbitral, ouvida a outra parte, e produzida prova, profere decisão complementar, julgando equitativamente dentro dos limites que tiver por provados. 3 - A sentença arbitral pode servir de base à execução ainda que haja sido impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o artigo 46º, mas o impugnante pode requerer que tal impugnação tenha efeito suspensivo da execução desde que se ofereça para prestar caução, ficando a atribuição desse efeito condicionada à efectiva prestação de caução no prazo fixado pelo tribunal. Aplica-se neste caso o disposto no nº 3 do artigo 818º do Código de Processo Civil. 4 - Para efeito do disposto no número anterior, aplica-se com as necessárias adaptações o disposto nos artigos 692º- A e 693º-A do Código de Processo Civil. Artigo 48º Fundamentos de oposição à execução 1 - À execução de sentença arbitral pode o executado opor-se com qualquer dos fundamentos de anulação da sentença previstos no nº 3 do artigo 46º, desde que, na data em que a oposição for deduzida, um pedido de anulação da sentença arbitral apresentado com esse mesmo fundamento não tenha já sido rejeitado por sentença transitada em julgado. 2 - Não pode ser invocado pelo executado na oposição à execução de sentença arbitral nenhum dos fundamentos previstos na alínea a) do nº 3 do artigo 46º, se já tiver decorrido o prazo fixado no nº 6 do mesmo artigo para a apresentação do pedido de anulação da sentença, sem que nenhuma das partes haja pedido tal anulação. 3 - Não obstante ter decorrido o prazo previsto no nº 6 do artigo 46º, o juiz pode conhecer oficiosamente, nos termos do disposto do artigo 820º do Código de Processo Civil, da causa de anulação prevista na alínea b) do nº 3 do artigo 46º da presente lei, devendo, se verificar que a sentença exequenda é inválida por essa causa, rejeitar a execução com tal fundamento. 4 - O disposto no nº 2 do presente artigo não prejudica a possibilidade de serem deduzidos, na oposição à execução de sentença arbitral, quaisquer dos demais fundamentos previstos para esse efeito na lei de processo aplicável, nos termos e prazos aí previstos. CAPÍtulo IX Da arbitragem internacional Artigo 49º Conceito e regime da arbitragem internacional 1 - Entende-se por arbitragem internacional a que põe em jogo interesses do comércio internacional. 2 - Salvo o disposto no presente capítulo, são aplicáveis à arbitragem internacional, com as devidas adaptações, as disposições da presente lei relativas à arbitragem interna. Artigo 50º Inoponibilidade de excepções baseadas no direito interno de uma parte Quando a arbitragem seja internacional e uma das partes na convenção de arbitragem seja um Estado, uma organização controlada por um Estado ou uma sociedade por este dominada, essa parte não pode invocar o seu direito interno para contestar a arbitrabilidade do litígio ou a sua capacidade para ser parte na arbitragem, nem para de qualquer outro modo se subtrair às suas obrigações decorrentes daquela convenção. Artigo 51º Validade substancial da convenção de arbitragem 1 - Tratando-se de arbitragem internacional, entende-se que a convenção de arbitragem é válida quanto à substância e que o litígio a que ele respeita é susceptível de ser submetido a arbitragem se se cumprirem os requisitos estabelecidos a tal respeito ou pelo direito escolhido pelas partes para reger a convenção de arbitragem ou pelo direito aplicável ao fundo da causa ou pelo direito português. 2 - O tribunal estadual ao qual haja sido pedida a anulação de uma sentença proferida em arbitragem internacional localizada em Portugal, com o fundamento previsto na alínea b) do nº 3 do artigo 46º, da presente lei, deve ter em consideração o disposto no número anterior do presente artigo. Artigo 52º Regras de direito aplicáveis ao fundo da causa 1 - As partes podem designar as regras de direito a aplicar pelos árbitros, se os não tiverem autorizado a julgar segundo a equidade. Qualquer designação da lei ou do sistema jurídico de determinado Estado é considerada, salvo estipulação expressa em contrário, como designando directamente o direito material deste Estado e não as suas normas de conflitos de leis. 2 - Na falta de designação pelas partes, o tribunal arbitral aplica o direito do Estado com o qual o objecto do litígio apresente uma conexão mais estreita. 3 - Em ambos os casos referidos nos números anteriores, o tribunal arbitral deve tomar em consideração as estipulações contratuais das partes e os usos comerciais relevantes. Artigo 53º Irrecorribilidade da sentença Tratando-se de arbitragem internacional, a sentença do tribunal arbitral é irrecorrível, a menos que as partes tenham expressamente acordado a possibilidade de recurso para outro tribunal arbitral e regulado os seus termos. Artigo 54º Ordem pública internacional A sentença proferida em Portugal, numa arbitragem internacional em que haja sido aplicado direito não português ao fundo da causa pode ser anulada com os fundamentos previstos no artigo 46º e ainda, caso deva ser executada ou produzir outros efeitos em território nacional, se tal conduzir a um resultado manifestamente incompatível com os princípios da ordem pública internacional.

17 16 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 destaque CAPÍtulo X Do reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras Artigo 55º Necessidade do reconhecimento Sem prejuízo do que é imperativamente preceituado pela Convenção de Nova Iorque de 1958, sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras, bem como por outros tratados ou convenções que vinculem o Estado português, as sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro só têm eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes, se forem reconhecidas pelo tribunal estadual português competente, nos termos do disposto no presente capítulo desta lei. Artigo 56º Fundamentos de recusa do reconhecimento e execução 1 - O reconhecimento e a execução de uma sentença arbitral proferida numa arbitragem localizada no estrangeiro só podem ser recusados: a) A pedido da parte contra a qual a sentença for invocada, se essa parte fornecer ao tribunal competente ao qual é pedido o reconhecimento ou a execução a prova de que: i) Uma das partes da convenção de arbitragem estava afectada por uma incapacidade, ou essa convenção não é válida nos termos da lei a que as partes a sujeitaram ou, na falta de indicação a este respeito, nos termos da lei do país em que a sentença foi proferida; ou ii) A parte contra a qual a sentença é invocada não foi devidamente informada da designação de um árbitro ou do processo arbitral, ou que, por outro motivo, não lhe foi dada oportunidade de fazer valer os seus direitos; ou iii) A sentença se pronuncia sobre um litígio não abrangido pela convenção de arbitragem ou contém decisões que ultrapassam os termos desta; contudo, se as disposições da sentença relativas a questões submetidas à arbitragem puderem ser dissociadas das que não tinham sido submetidas à arbitragem, podem reconhecer-se e executar-se unicamente as primeiras; ou iv) A constituição do tribunal ou o processo arbitral não foram conformes à convenção das partes ou, na falta de tal convenção, à lei do país onde a arbitragem teve lugar; ou v) A sentença ainda não se tornou obrigatória para as partes ou foi anulada ou suspensa por um tribunal do país no qual, ou ao abrigo da lei do qual, a sentença foi proferida; ou b) Se o tribunal verificar que: i) O objecto do litígio não é susceptível de ser decidido mediante arbitragem, de acordo com o direito português; ou ii) O reconhecimento ou a execução da sentença conduz a um resultado manifestamente incompatível com a ordem pública internacional do Estado português. 2 - Se um pedido de anulação ou de suspensão de uma sentença tiver sido apresentado num tribunal do país referido na subalínea v) da alínea a) do nº 1 do presente artigo, o tribunal estadual português ao qual foi pedido o seu reconhecimento e execução pode, se o julgar apropriado, suspender a instância, podendo ainda, a requerimento da parte que pediu esse reconhecimento e execução, ordenar à outra parte que preste caução adequada. Artigo 57º Trâmites do processo de reconhecimento 1 - A parte que pretenda o reconhecimento de sentença arbitral estrangeira, nomeadamente para que esta venha a ser executada em Portugal, deve fornecer o original da sentença devidamente autenticado ou uma cópia devidamente certificada da mesma, bem como o original da convenção de arbitragem ou uma cópia devidamente autenticada da mesma. Se a sentença ou a convenção não estiverem redigidas em português, a parte requerente fornece uma tradução devidamente certificada nesta língua. 2 - Apresentada a petição de reconhecimento, acompanhada dos documentos referidos no número anterior, é a parte contrária citada para, dentro de 15 dias, deduzir a sua oposição. 3 - Findos os articulados e realizadas as diligências que o relator tenha por indispensáveis, é facultado o exame do processo, para alegações, às partes e ao Ministério Público, pelo prazo de 15 dias. 4 - O julgamento faz-se segundo as regras próprias da apelação. Artigo 58º Sentenças estrangeiras sobre litígios de direito administrativo No reconhecimento da sentença arbitral proferida em arbitragem localizada no estrangeiro e relativa a litígio que, segundo o direito português, esteja compreendido na esfera de jurisdição dos tribunais administrativos, deve observar-se, com as necessárias adaptações ao regime processual específico destes tribunais, o disposto nos artigos 56º, 57º e no nº 2 do artigo 59º da presente lei. CAPÍtulo XI Dos tribunais estaduais competentes Artigo 59º Dos tribunais estaduais competentes 1 - Relativamente a litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais judiciais, o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem ou, no caso da decisão referida na alínea h) do nº 1 do presente artigo, o domicílio da pessoa contra quem se pretenda fazer valer a sentença, é competente para decidir sobre: a) A nomeação de árbitros que não tenham sido nomeados pelas partes ou por terceiros a que aquelas hajam cometido esse encargo, de acordo com o previsto nos n os 3, 4 e 5 do artigo 10º e no nº 1 do artigo 11º; b) A recusa que haja sido deduzida, ao abrigo do nº 2 do artigo 14º, contra um árbitro que a não tenha aceitado, no

18 destaque VIDA JUDICIÁRIA - março caso de considerar justificada a recusa; c) A destituição de um árbitro, requerida ao abrigo do nº 1 do artigo 15º; d) A redução do montante dos honorários ou despesas fixadas pelos árbitros, ao abrigo do nº 3 do artigo 17º; e) O recurso da sentença arbitral, quando este tenha sido convencionado ao abrigo do nº 4 do artigo 39º; f) A impugnação da decisão interlocutória proferida pelo tribunal arbitral sobre a sua própria competência, de acordo com o nº 9 do artigo 18º; g) A impugnação da sentença final proferida pelo tribunal arbitral, de acordo com o artigo 46º; h) O reconhecimento de sentença arbitral proferida em arbitragem localizada no estrangeiro. 2 - Relativamente a litígios que, segundo o direito português, estejam compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais administrativos, a competência para decidir sobre matérias referidas nalguma das alíneas do nº 1 do presente artigo, pertence ao Tribunal Central Administrativo em cuja circunscrição se situe o local da arbitragem ou, no caso da decisão referida na alínea h) do nº 1, o domicílio da pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença. 3 - A nomeação de árbitros referida na alínea a) do nº 1 do presente artigo cabe, consoante a natureza do litígio, ao presidente do Tribunal da Relação ou ao presidente do tribunal central administrativo que for territorialmente competente. 4 - Para quaisquer questões ou matérias não abrangidas pelos n os 1, 2 e 3 do presente artigo e relativamente às quais a presente lei confira competência a um tribunal estadual, são competentes o tribunal judicial de 1ª instância ou o tribunal administrativo de círculo em cuja circunscrição se situe o local da arbitragem, consoante se trate, respectivamente, de litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais judiciais ou na dos tribunais administrativos. 5 - Relativamente a litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais judiciais, é competente para prestar assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro, ao abrigo do artigo 29º e do nº 2 do artigo 38º da presente lei, o tribunal judicial de 1ª instância em cuja circunscrição deva ser decretada a providência cautelar, segundo as regras de competência territorial contidas no artigo 83º do Código de Processo Civil, ou em que deva ter lugar a produção de prova solicitada ao abrigo do nº 2 do artigo 38º da presente lei. 6 - Tratando-se de litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais administrativos, a assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro é prestada pelo tribunal administrativo de círculo territorialmente competente de acordo com o disposto no nº 5 do presente artigo, aplicado com as adaptações necessárias ao regime dos tribunais administrativos. 7 - Nos processos conducentes às decisões referidas no nº 1 do presente artigo, o tribunal competente deve observar o disposto nos artigos 46º, 56º, 57º, 58º e 60º da presente lei. 8 - Salvo quando na presente lei se preceitue que a decisão do tribunal estadual competente é insusceptível de recurso, das decisões proferidas pelos tribunais referidos nos números anteriores deste artigo, de acordo com o que neles se dispõe, cabe recurso para o tribunal ou tribunais hierarquicamente superiores, sempre que tal recurso seja admissível segundo as normas aplicáveis à recorribilidade das decisões em causa. 9 - A execução da sentença arbitral proferida em Portugal corre no tribunal estadual de 1ª instância competente, nos termos da lei de processo aplicável Para a acção tendente a efectivar a responsabilidade civil de um árbitro, são competentes os tribunais judiciais de 1ª instância em cuja circunscrição se situe o domicílio do réu ou do lugar da arbitragem, à escolha do autor Se num processo arbitral o litígio for reconhecido por um tribunal judicial ou administrativo, ou pelo respectivo presidente, como da respectiva competência material, para efeitos de aplicação do presente artigo, tal decisão não é, nessa parte, recorrível e deve ser acatada pelos demais tribunais que vierem a ser chamados a exercer no mesmo processo qualquer das competências aqui previstas. Artigo 60º Processo aplicável 1 - Nos casos em que se pretenda que o tribunal estadual competente profira uma decisão ao abrigo de qualquer das alíneas a) a d) do nº 1 do artigo 59º, deve o interessado indicar no seu requerimento os factos que justificam o seu pedido, nele incluindo a informação que considere relevante para o efeito. 2 - Recebido o requerimento previsto no número anterior, são notificadas as demais partes na arbitragem e, se for caso disso, o tribunal arbitral para, no prazo de 10 dias, dizerem o que se lhes ofereça sobre o conteúdo do mesmo. 3 - Antes de proferir decisão, o tribunal pode, se entender necessário, colher ou solicitar as informações convenientes para a prolação da sua decisão. 4 - Os processos previstos nos números anteriores do presente artigo revestem sempre carácter urgente, precedendo os respectivos actos qualquer outro serviço judicial não urgente. CAPÍtulo Xii Disposições finais Artigo 61º Âmbito de aplicação no espaço A presente lei é aplicável a todas as arbitragens que tenham lugar em território português, bem como ao reconhecimento e à execução em Portugal de sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro. Artigo 62º Centros de arbitragem institucionalizada 1 - A criação em Portugal de centros de arbitragem institucionalizada está sujeita a autorização do Ministro da Justiça, nos termos do disposto em legislação especial. 2 - Considera-se feita para o presente artigo a remissão constante do Decreto-Lei nº 425/86, de 27 de Dezembro, para o artigo 38º da Lei nº 31/86, de 29 de Agosto. Aceder ao sítio da I.N.C.M.

19 18 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 Em foco Revisão ao Regulamento das Custas Processuais já se encontra em vigor No passado dia 29 de Março entraram em vigor as recentes alterações introduzidas ao Regulamento das Custas Processuais (RCP), pela Lei n.º 7/2012, de A finalidade desta revisão passa pela imposição de custas e sanções adicionais aos devedores não cooperantes nos processos executivos; pela introdução de uma estrutura de custas judiciais extraordinárias para litígios prolongados desencadeados pelas partes litigantes sem justificação manifesta; pela padronização das custas judiciais; e pela introdução de custas judiciais especiais para determinadas categorias de processos e procedimentos com o objetivo de aumentar as receitas e desincentivar a litigância de má-fé. Recordamos, todavia, que o objectivo primordial de tais alterações é a uniformização das custas, sendo aplicável o mesmo regime de custas a todos os processos pendentes, independentemente do momento em que os mesmos se iniciaram. De acordo com o regime de aplicação no tempo das normas que sofreram alterações, a nova versão do diploma é aplicada a todos os processos iniciados após , sendo que aos pendentes nessa data ( ) são aplicáveis as seguintes regras: 1 - As alterações só se aplicam aos atos praticados a partir de , considerando-se válidos e eficazes todos os pagamentos e demais atos regularmente efectuados ao abrigo da legislação aplicável no momento da prática do ato, ainda que a aplicação do Regulamento das Custas Processuais, na nova versão, determine solução diferente; 2 - Todos os montantes cuja constituição da obrigação de pagamento ocorra após , nomeadamente os relativos a taxas de justiça, a encargos, a multas ou a outras penalidades, são calculados nos termos previstos na nova versão do Regulamento das Custas Processuais. 3 - Nos processos em que as partes se encontravam isentas de custas, ou em que não havia lugar ao pagamento de custas em virtude das características do processo, e a isenção aplicada não encontre correspondência na nova versão do Regulamento das Custas Processuais, mantém-se em vigor, no respectivo processo, a isenção de custas. 4 - Nos processos em que, de acordo com a nova versão do Regulamento das Custas Processuais, as partes ou o processo passam a estar isentos de custas, a isenção aplica-se, não havendo no entanto lugar à restituição do que já tiver sido pago a título de custas. 5 - O valor da causa, para efeitos de custas, é sempre fixado de acordo com as regras que vigoravam na data da entrada do processo. 6 - Nos processos em que há lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça e o mesmo ainda não se tenha tornado exigível, o montante da prestação é fixado nos termos da nova versão do Regulamento das Custas Processuais, ainda que tal determine um montante diverso do da primeira prestação. 7 - Nos processos em que o pagamento da taxa de justiça devida por cada uma das partes foi regularmente efetuado num único momento não há lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça ora previsto na nova redação do Regulamento das Custas Processuais. 8 - Nos processos em que, em virtude da legislação aplicável, houve lugar à dispensa do pagamento prévio da taxa de justiça, essa dispensa mantém-se, sendo o pagamento dos montantes que a parte teria de ter pago caso não estivesse dispensada devidos apenas a final, ainda que a nova redação dada ao Regulamento das Custas Processuais determinasse solução diferente. 9 - Nos processos em que a nova redação do Regulamento das Custas Processuais passa a prever a dispensa do pagamento prévio da taxa de justiça, não há lugar à sua dispensa, exceto se ainda não tiver sido paga a segunda prestação da taxa de justiça, caso em que a dispensa de pagamento prévio se aplica apenas a esta prestação Para efeitos de aplicação do Regula-

20 Em foco VIDA JUDICIÁRIA - março mento das Custas Processuais, na nova redação, aos processos iniciados antes de 20 de Abril de 2009, a taxa de justiça inicial é equiparada à primeira prestação da taxa de justiça e a taxa de justiça subsequente é equiparada à segunda prestação da taxa de justiça São aplicáveis a todos os processos pendentes as normas do Regulamento das Custas Processuais, na nova versão, respeitantes às custas de parte, incluindo as relativas aos honorários dos mandatários, salvo se a respetiva nota discriminativa e justificativa tiver sido remetida à parte responsável em data anterior a Todos os pagamentos decorrentes do regime de custas processuais devem ser efetuados pelos meios previstos na nova versão do Regulamento das Custas Processuais. Relembramos, ainda, que o pagamento da taxa de justiça volta a ser feito em duas prestações, sendo a primeira paga até ao momento da prática do ato processual a ela sujeito, e a segunda prestação no prazo de 10 dias a contar da notificação da audiência final. Em matéria de pagamento das custas em prestações, prevê-se agora que sempre que o valor a pagar seja igual ou superior a 3 UC ( UC equivale de 102), o responsável pode requerer, fundamentadamente, o pagamento das custas em prestações, agravadas de 5 %, de acordo com as seguintes regras: - O pagamento é feito em até seis prestações mensais sucessivas, não inferiores a 0,5 UC, se o valor total não ultrapassar a quantia de 12 UC, quando se trate de pessoa singular, ou a quantia de 20 UC, tratando-se de pessoa coletiva; - O pagamento é feito em até 12 prestações mensais sucessivas, não inferiores a 1 UC, quando sejam ultrapassados os valores acima referidos. A nova versão do RCP prevê condições de dispensa do pagamento da segunda prestação da taxa de justiça devida. De acordo com o art.º 14.º-A, não há lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça, nos seguintes casos: - Ações de processo civil simplificado; - Ações que não comportem citação do réu, oposição ou audiência de julgamento; - Ações que terminem antes de oferecida a oposição ou em que, devido à sua falta, seja proferida sentença, ainda que precedida de alegações; - Ações que terminem antes da designação da data da audiência final; - Ações administrativas especiais em que não haja lugar a audiência pública; - Ações administrativas especiais em massa suspensas, salvo se o autor requerer a continuação do seu próprio processo; - Processos de jurisdição de menores; - Processos de jurisdição voluntária, em matéria de direito da família; - Processos emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional terminados na fase contenciosa por decisão condenatória imediata ao exame médico; - Processos tributários, no que respeita à taxa paga pelo impugnante, em caso de desistência no prazo legal após a revogação parcial do ato tributário impugnado. Em matéria de incentivos à extinção de processos, prevê-se que nos processos que tenham dado entrada no tribunal até , ou que resultem da apresentação à distribuição de providências de injunção requeridas até à mesma data, e venham a terminar por extinção da instância em razão de desistência do pedido, desistência da instância, confissão do pedido ou transacção apresentadas até , há dispensa do pagamento das taxas de justiça e dos encargos devidos pela parte ou partes que praticaram o ato que conduziu à extinção da instância, não havendo lugar à restituição do que já tiver sido pago a título de custas nem sequer, salvo motivo justificado, à elaboração da respectiva conta. Todavia, esta dispensa de pagamento não abrange o direito ao pagamento da remuneração devida às entidades que intervenham nos processos ou que coadjuvem em quaisquer diligências e aos agentes de execução a título de despesas e honorários, cujo pagamento se mantém a ser devido. Na sequência da aprovação desta revisão, em matéria de custas processuais, foi entretanto publicada a Port. n.º 82/2012, de 29.3, também em vigor desde o passado dia 29 de Março, que introduz alterações à regulamentação do RCP, a respeito do modo de elaboração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino das custas processuais, multas e outras penalidades A maioria das alterações agora introduzidas decorre de duas situações: o fato de a conta deixar de ser feita de modo contínuo durante todo o processo, sendo efectuada apenas no final do processo, e o fato de ter sido revogado o mecanismo de conversão da taxa de justiça em pagamento de encargos previsto no artigo 22.º do Regime das Custas Processuais. Passa a prever-se o meio de pagamento da taxa de justiça nas injunções europeias. De referir que constituem receita do conselho geral da Ordem dos Advogados cinco em cada mil das quantias cobradas a título de taxa de justiça em processos cíveis. Estas verbas apenas podem ser utilizadas para, no âmbito das respetivas competências, acorrer às despesas necessárias à regulamentação e organização da formação inicial e contínua de advogados e advogados estagiários, bem como à promoção do aperfeiçoamento profissional daqueles. Dois em cada mil das quantias cobradas a título de taxa de justiça em processos cíveis são receita do conselho geral da Câmara dos Solicitadores.

21 20 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 atualidades Códigos Penal e Processo Penal Propostas de alteração SECTOR DAS PESCAS, AGRíCOLA e FLORESTAL Moratória nas operações de crédito De acordo com o diploma aprovado no Conselho de Ministros de , foi criada uma moratória no reembolso das operações de crédito contratadas ao abrigo das linhas de crédito de apoio às empresas do sector das pescas e empresas dos sectores agrícola, pecuário, agroindustrial, florestal e ainda ao sector da pecuária intensiva. Desta forma permite-se o alargamento do prazo de reembolso dos empréstimos concedidos no âmbito das linhas de crédito referidas, possibilitando às empresas a obtenção de uma folga financeira e a melhoria das suas condições de liquidez. O regime que estabelece as regras de utilização das câmaras de vídeo pelas forças e serviços de segurança em locais públicos de utilização comum foi alvo de recentes alterações. Estas alterações vêm reforçar a videovigilância em espaços públicos e eliminar o parecer vinculativo da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD). De acordo com a nova lei, a autorização da instalação de câmaras fixas está apenas sujeita a autorização do membro do Governo que tutela a força ou As propostas de alteração ao Código Penal e ao Código de Processo Penal já estão na posse da Ministra da Justiça, sendo posteriormente levadas à aprovação do governo. A Ministra pretende colocar a justiça ao serviço do combate à fraude e à evasão fiscais. Prevê-se, por isso, que as falsas declarações prestadas aos serviços de finanças, às conservatórias, aos notários e aos agentes da polícia, passem a ser considerados crimes, e não como actualmente apenas contra-ordenações. Assim, quem mentir perante as referidas entidades, sobre o estado civil, a actividade profissional, a paternidade, filiação, a residência, quer para usufruir de benefícios fiscais, quer para dificultar notificações do tribunal ou das finanças, incorrerá na prática de um ilícito criminal, punível com pena de multa ou pena de prisão até dois anos. Das alterações previstas salientamos as que dizem respeito às prescrições. O prazo de prescrição passará a ficar suspenso logo que haja uma decisão condenatória na primeira instância. O Juiz de instrução vai deixar de estar obrigado a aplicar a medida de coação promovida pelo Ministério Público (M.º P.º), podendo aplicar aquela que entender adequada, independentemente daquela que o M.º P.º tiver promovido. As declarações prestadas no inquérito e na instrução vão passar a valer para efeitos de prova, em sede de julgamento. As agressões a agentes de autoridades vêm as penas agravadas e a extradição de cidadãos estrangeiros condenados em Portugal será agora facilitada. Locais públicos utilização de câmaras de vídeo serviço de segurança requerente, isto é, do ministro da Administração Interna. O parecer prévio da CNPD mantém-se, mas esta apenas se pronuncia sobre a conformidade do pedido, tendo sido retirada a disposição que determinava que no caso de parecer negativo da CNPD, a autorização não pode ser concedida. Foi aditado um novo artigo em matéria de sistemas de proteção florestal e deteção de incêndios florestais (Artigo 15º). De acordo com esta disposição, a instalação de sistemas de vigilância eletrónica em florestas visa a deteção, em tempo real ou através de registo, de incêndios florestais e a aplicação das correspondentes normas sancionatórias; o accionamento de mecanismos de protecção civil e socorro no mesmo âmbito; a utilização dos registos vídeo para efeitos de prova em processo penal ou contra-ordenacional Estas alterações entram em vigor no dia 24 de março do corrente ano.

22 atualidades VIDA JUDICIÁRIA - março aprovada a instalação dos tribunais da propriedade intelectual e da concorrência No Conselho de Ministros de 1 de março último foi aprovado o diploma que procede à instalação do Tribunal da Propriedade Intelectual e do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão. Recordamos que a criação destes novos tribunais ocorreu em junho de Ao tribunal da propriedade intelectual compete conhecer, entre outras, das questões relativas a: - Ações em que a causa de pedir verse sobre direito de autor e direitos conexos; - Ações em que a causa de pedir verse sobre propriedade industrial, em qualquer das modalidades previstas na lei; - Ações de nulidade e de anulação previstas no Código da Propriedade Industrial; - Recursos de decisões do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que concedam ou recusem qualquer direito de propriedade industrial ou sejam relativas a transmissões, licenças, declarações de caducidade ou a quaisquer outros actos que afectem, modifiquem ou extingam direitos de propriedade industrial; - Recurso e revisão das decisões ou de quaisquer outras medidas legalmente susceptíveis de impugnação tomadas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em processo de contra-ordenação; - Ações de declaração em que a causa de pedir verse sobre nomes de domínio na Internet; A competência do Tribunal nestas matérias abrange respectivos incidentes e apensos, bem como a execução das decisões. Já ao tribunal da concorrência regulação e supervisão compete conhecer das questões relativas a recurso, revisão e execução das decisões, despachos e demais medidas em processo de contra-ordenação legalmente susceptíveis de impugnação: - Da Autoridade da Concorrência (AdC); - Da Autoridade Nacional de Comunicações (ICP-ANACOM); - Do Banco de Portugal (BP); - Da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM); - Da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC); - Do Instituto de Seguros de Portugal (ISP); - Das demais entidades administrativas independentes com funções de regulação e supervisão. Compete, ainda, a este tribunal conhecer das questões relativas a recurso, revisão e execução: -Das decisões da AdC proferidas em procedimentos administrativos a que se refere o regime jurídico da concorrência, bem como da decisão ministerial; - Das demais decisões da AdC que admitam recurso, nos termos previstos no regime jurídico da concorrência. Estas competência abrangem os respectivos incidentes e apensos. PRODUTOS VíNICOS ações de promoção Foi recentemente aprovada em Conselho de Ministros, a revisão do regime das taxas incidentes sobre os vinhos e produtos vínicos, com vista à sua clarificação. Por forma a difundir a qualidade dos vinhos nacionais e promover a sua imagem, foi igulamente aprovada a reformulação do regime de apoio a ações de promoção e informação sobre aqueles produtos. aprovado o regime jurídico da instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos nos açores No passado dia 1 do corrente mês de março foi aprovado o regime que vem regular e disciplinar a oferta de alojamento turístico na Região dos Açores. O diploma ora aprovado vai ao encontro das especificidades regionais, destacando-se como principais preocupações as características dos empreendimentos de turismo no espaço rural e empreendimentos de turismo de natureza, bem como o nível de intervenção da administração regional nos procedimentos relativos às operações urbanísticas dos empreendimentos de turismo e a respetiva tutela para determinar a classificação oficial dos empreendimentos turísticos e gerir o sistema de gestão das capacidades máximas da oferta de alojamento turístico nos Açores. De referir que os requisitos específicos da instalação, classificação e funcionamento de cada tipo de empreendimento turístico serão definidos por portaria do membro do Governo Regional responsável pela área do turismo. O regime ora aprovado entrará em vigor no dia seguinte à publicação da regulamentação a aprovar.

23 22 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 atualidades Trabalhadores independentes Proteção no desemprego em vigor a 1 de julho MADEIRA Alterações ao IVA e aos Impostos Especiais de Consumo De acordo com o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro acordado entre o Governo da República Portuguesa e a Região Autónoma da Madeira, foi aprovada no Conselho de Ministros de 7 de março a proposta de lei que introduz alterações ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) e aos Impostos Especiais de Consumo em vigor naquela Região Autónoma. Assim, a partir de 1 de abril de 2012, as taxas de IVA em vigor na Madeira passam as seguintes: Taxa reduzida: passa de 4% para 5% Taxa Intermédia: passa de 9% para 12% Taxa Normal: passa de 16% para 22% Por outro lado, a partir da mesma data, os serviços de Restauração e Bebidas passam a estar sujeitos à taxa de 22%, e os serviços de Alojamento à taxa de 5%. Relativamente à Região Autónoma dos Açores, não existe alteração de taxas, mantendo-se as atuais, que são: Taxa reduzida: 4% Taxa Intermédia: 9% Taxa Normal: 16% Ficam abrangidos pelo novo regime de atribuição de subsídio de desemprego os trabalhadores independentes que, no mesmo ano civil, obtenham da mesma empresa, quer seja pessoa coletiva ou pessoa singular com atividade empresarial, independentemente da sua natureza e das finalidades que prossigam, 80% ou mais do valor total anual dos rendimentos obtidos na atividade independente. Para efeitos de concessão do subsídio, é obrigatório o pagamento das contribuições à Segurança Social pelas empresas (entidades contratantes) de 5% do valor total dos serviços prestados às mesmas pelo trabalhador, em pelo menos dois anos civis, sendo um deles o ano imediatamente anterior ao da cessação do contrato de prestação de serviços. São contemplados os beneficiários enquadrados no regime dos trabalhadores independentes que sejam economicamente dependentes de uma única entidade contratante. Consideram-se economicamente dependentes os trabalhadores independentes que obtenham de uma única entidade contratante 80% ou mais do valor total dos seus rendimentos anuais resultantes da atividade independente que determinem a constituição de obrigação contributiva por aquela entidade (taxa de 5%). A proteção social concretiza-se através da atribuição do subsídio por cessação de atividade e do subsídio parcial por cessação de atividade: - subsídio por cessação de atividade - destina-se a compensar a perda de rendimentos dos trabalhadores independentes em consequência da cessação involuntária da atividade independente resultante da cessação de contrato de prestação de serviços com entidade contratante; - subsídio parcial por cessação de atividade - é atribuído nas situações em que o trabalhador independente, após cessar o contrato de prestação de serviços com a entidade contratante, mantenha uma atividade profissional correspondente aos restantes 20% ou menos do valor total anual dos seus rendimentos de trabalho. O reconhecimento do direito ao subsídio por cessação de atividade ao trabalhador independente depende da verificação das seguintes condições: - cessação involuntária do contrato de prestação de serviços celebrado com a entidade contratante; - cumprimento do prazo de garantia: 720 dias de exercício de atividade independente, economicamente dependente, com o correspondente pagamento efetivo de contribuições (à taxa de 5%), num período de 48 meses imediatamente anterior à data da cessação involuntária do contrato de prestação de serviços; - cumprimento da obrigação contributiva das entidades contratantes do trabalhador independente, nessa qualidade, em pelo menos dois anos civis, sendo um deles o ano imediatamente anterior ao da cessação do contrato de prestação de serviços; - o trabalhador independente ser considerado economicamente dependente à data da cessação do contrato de prestação de serviços; - inscrição no centro de emprego da área de residência, para efeitos de emprego. O requerimento para atribuição do subsídio de desemprego deve ser apresentado no prazo de 90 dias consecutivos a contar da data do desemprego por cessação do contrato de prestação de serviços e precedido de inscrição para emprego no centro de emprego. O requerimento, de modelo próprio (a publicar brevemente na 2ª série do DR), é apresentado no centro de emprego da área da residência do beneficiário ou online no site da Segurança Social (

24 atualidades VIDA JUDICIÁRIA - março Medidas contra o endividamento das famílias Instituições bancárias obrigadas a negociar com devedores Com vista a apoiar os consumidores e a reduzir os atuais níveis de endividamento das famílias, o executivo apresentou recentemente um conjunto de medidas legislativas, a implementar até ao próximo Verão. Estas medidas passam pela aprovação de um novo regime jurídico que disciplinará a gestão do risco e da ocorrência de incumprimento de contratos de crédito celebrados com os consumidores, de modo a viabilizar a recuperação extrajudicial dos créditos. Está previsto que os bancos sejam obrigados a encetar um processo de negociações com os clientes incumpridores, durante um período de 90 dias, antes de exigirem a dívida em tribunal ou de resolverem os contratos de crédito. Perante uma situação de risco de sobreendividamento e incumprimento do consumidor, todas as instituições de crédito serão obrigadas a contactar e a acompanhar o cliente, com fins preventivos. Uma das medidas passa pela elaboração do Plano de Acção para o Risco de Incumprimento, alertando o consumidor para a sua situação de risco e apresentando propostas adequadas à sua situação financeira, características pessoais e necessidades. Uma outra medida pretende flexibilizar as negociações entre as instituições de crédito e os consumidores que se encontrem já em situação de incumprimento contratual de reembolso de créditos. O início deste procedimento dá-se com o registo do incumprimento, a que todas as instituições de crédito passarão a estar obrigadas, no trigésimo primeiro dia após a sua ocorrência ou assim que o cliente o solicite. Durante este processo de negociação, o consumidor, sempre que o deseje, será aconselhado e acompanhado pelas entidades qualificadas e credenciadas públicas ou privadas que participam numa rede nacional de apoio aos consumidores endividados. Nas situações em que não seja possível chegar a acordo com o banco, o consumidor poderá solicitar um procedimento adicional de mediação conduzido pelo Mediador de Crédito. Está ainda prevista a criação de uma rede nacional de informação e apoio ao consumidor endividado, na qual participam os Centros de Informação Autárquicos ao Consumidor, bem como todas as associações de defesa dos consumidores e centros de arbitragem de conflitos de consumo. Fundo de Socorro Social Com a vista a unificar e a actualizar a legislação existente em matéria de socorro social, no Conselho de Ministros do passado dia 15 de março, foi aprovado o novo regime do Fundo de Socorro Social. O diploma ora aprovado clarifica as finalidades deste Fundo, identifica as suas receitas, bem como as situações passíveis de apoio e respetivo enquadramento procedimental, numa ótica de consolidação legislativa, transparência, certeza e segurança jurídicas. As finalidades do Fundo de Socorro Social são as seguintes: prestar auxílio em situações de alerta, contingência ou calamidade conforme tipificadas na Lei de Bases da Proteção Civil; prestar apoio às instituições particulares de solidariedade social, ou outras de fins idênticos e de reconhecido interesse público; apoiar pessoas e famílias que se encontrem em situação de emergência social e responder à despesa decorrente do diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação. Governo pretende eliminar feriados ainda este ano De acordo com o secretário de Estado do Emprego, deverão ser abolidos ainda este ano os feriados civis de 5 de outubro e 1 de dezembro. Segundo o mesmo responsável, a abolição destes dois feriados vai, com certeza, depender da altura em que a proposta de lei entrar em vigor, mas esperamos que entre em junho ou julho, o que implicará a eliminação destes dois feriados já este ano. O Governo pretende eliminar quatro feriados do calendário: dois civis e dois religiosos. A decisão quanto aos feriados religiosos, que será emitida pela Igreja, poderá ser mais demorada. Ainda não é certo que tal abolição seja aplicada em Recentemente, o presidente da delegação da Santa Sé na comissão paritária que negoceia a questão dos feriados com o Estado português admitiu que não está garantido que seja o 15 de agosto, não tendo excluído a hipótese de ser o 1 de novembro, dia de todos os santos. No que diz respeito ao segundo feriado católico que será eliminado, não parece haver dúvidas: em relação ao Corpo de Deus, não há dificuldade, porque já em muitos países se celebra no domingo, não é preciso fazer nenhuma alteração especial. Refira-se que o feriado do Corpo de Deus é móvel e ocorre sempre 60 dias após a Páscoa, sendo no corrente ano a 7 de junho.

25 24 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 atualidades Subsídio de desemprego com novas regras a partir de abril Entram em vigor no dia 1 de abril as novas alterações ao regime de proteção no desemprego dos trabalhadores por conta de outrem, beneficiários do regime geral de segurança social. Foi ainda publicado um novo regime de proteção no desemprego para os trabalhadores independentes que prestam serviços maioritariamente a uma entidade contratante. Relativamente aos trabalhadores por conta de outrem, destacam-se as seguintes novidades: - majoração temporária (até 31 de dezembro de 2012) de 10% do montante do subsídio de desemprego nas situações em que ambos os membros do casal sejam titulares de subsídio de desemprego e tenham filhos a cargo, abrangendo esta medida igualmente as famílias monoparentais; - redução de 450 para 360 dias do prazo de garantia para a obtenção de subsídio de desemprego; - quanto ao valor do subsídio de desemprego foi introduzida uma redução de 10% a aplicar após 6 meses de concessão, como forma de incentivar a procura ativa de emprego por parte dos beneficiários; - o limite máximo do montante mensal do subsídio de desemprego foi reduzido, mantendo-se os valores mínimos de modo a salvaguardar os beneficiários com menores salários; - os períodos de concessão do subsídio de desemprego são reduzidos, passando o prazo máximo de atribuição para 540 dias (18 meses), ficando salvaguardados, contudo, os direitos em formação dos beneficiários, mantendo-se o direito aos acréscimos em função da idade do beneficiário e do número de meses com registo de remunerações no período imediatamente anterior à data do desemprego. No entanto, para trabalhadores com carreira contributiva mais longa é garantida a possibilidade de ultrapassar esse limite, especialmente acima dos 50 anos; - com o objetivo de dinamizar e inserir no mercado de trabalho os trabalhadores desempregados, criou-se a possibilidade do pagamento parcial do montante único das prestações de desemprego em acumulação com a continuação do pagamento das prestações de desemprego. Procedimento pré-judicial de liquidação das instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal No passado dia 10 de Fevereiro foi aprovado DL n.º 31-A/2012, que confere poderes ao Banco de Portugal para intervir em instituições sujeitas à sua supervisão em situações de desequilíbrio financeiro, procede à criação de um Fundo de Resolução e cria m procedimento pré-judicial de liquidação para as instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal. Têm vindo a constatar-se insuficiências dos mecanismos jurídicos e poderes de intervenção dos supervisores em instituições de crédito cuja situação financeira dá sinais de deterioração. Na verdade, os mecanismos existentes não permitem a adoção de medidas conducentes à recuperação financeira da instituição em causa, por forma a evitar o risco de contágio a outras instituições. Torna-se necessário em situação de grave desequilíbrio financeiro, recuperar a instituição de crédito ou preparar a sua liquidação ordenada, de modo a salvaguardar o interesse essencial da estabilidade financeira. No âmbito do Programa de Assistência Financeira a Portugal entre o Estado Português, a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu, aprovaram-se medidas de promoção da estabilidade do sector financeiro e a maior proteção dos depositantes. Nesta matéria, Portugal assumiu o compromisso de reforçar os regimes de intervenção em situações de potencial ou efetivo desequilíbrio financeiro de instituições de crédito. O diploma ora aprovado vem concretizar esses propósitos, substituindo o regime de saneamento actualmente previsto em sede de Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF) por uma nova disciplina legal, caracterizada pela existência de três fases de intervenção distintas intervenção corretiva, administração provisória e resolução. A aplicação do diploma ora aprovado não afeta as providências de saneamento adotadas pelo Banco de Portugal ao abrigo do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, que ainda se encontrem em fase de execução a 15 de Fevereiro de 2012.

26 registos e Notariado VIDA JUDICIÁRIA - março CedêNCia ocasional de trabalhador A cedência ocasional consiste na disponibilização temporária de trabalhador, pelo empregador, para prestar trabalho a outra entidade, a cujo poder de direção aquele fica sujeito, mantendo-se o vínculo contratual inicial. A minuta que seguir publicamos traduz um exemplo de contrato de cedência ocasional de trabalhador. MiNuta de CoNtrato de CedêNCia ocasional de trabalhador Entre, Empresa, com sede na Av., nº,, em, capital social no montante de Euros, pessoa coletiva nº, matriculada na C.R.C. de, sob o nº, neste acto representada pelo(s) seu (s) administrador (es), como Primeira Outorgante, E Empresa, com sede na Av., nº,, em, capital social no montante de Euros, pessoa colectiva nº, matriculada na C.R.C. de, sob o nº, neste ato representada pelo(s) seu (s) administrador (es), como Segunda Outorgante, E (nome completo do trabalhador), (estado civil), residente (morada), titular do B.I. nº, de (Data), emitido pelos S.I.C. de, e do cartão de contribuinte nº, como Terceiro Outorgante, é livremente e de boa fé firmado e reduzido a escrito o presente contrato de cedência ocasional de trabalhador, que se regerá segundo as cláusulas seguintes: Cláusula primeira: A Primeira e Segunda Outorgantes detem, cada uma delas, no capital social da outra, participações recíprocas, existindo entre ambas um protocolo de colaboração que inclui a cedência de pessoal, segundo o qual a Primeira cederá trabalhadores seus à Segunda, nos termos dos artigos 288º e seguintes do Código do Trabalho. Cláusula segunda: No âmbito do referido protocolo, a Primeira Outorgante cede à Segunda, temporariamente, o seu trabalhador (nome), de ora em diante designado como Terceiro Outorgante, e como tal acima identificado, que nesta data exerce na Primeira Outorgante a actividade/funções correspondentes à categoria de, mediante contrato sem termo, para executar a actividade de. Cláusula terceira: A cedência ajustada entre a Primeira e a Segunda Outorgantes, é feita pelo período de um ano, com início em, e termo em, sendo renovável por iguais períodos até ao limite de 5 anos. Cláusula quarta: Um - O Terceiro Outorgante auferirá, durante o período da cedência, a remuneração mensal de Euros (indicar por extenso) ilíquida, acrescida de um subsídio de almoço no valor de euros (indicar por extenso), por cada dia útil de trabalho, e ainda os subsídios de férias e Natal, sendo todos eles pagos pela Primeira Outorgante. Dois A Segunda Outorgante reembolsará a Primeira de todos os encargos suportados com o trabalhador durante o período da cedência. Três Ressalvam-se quaisquer despesas com deslocações, estadias, ou outras semelhantes, realizadas ao serviço da Segunda Outorgante, as quais serão directamente reembolsadas por esta ao Terceiro Outorgante. Cláusula quinta: Durante o período da cedência o Terceiro Outorgante manterá todos os seus direitos e obrigações para com a Primeira Outorgante, a qual continuará também a exercer sobre ele o poder disciplinar, e não será incluído no efetivo do pessoal da entidade cessionária Segunda Outorgante para determinação das obrigações relativas ao número de trabalhadores empregados, excepto no que respeita à organização dos serviços de saúde, higiene e segurança no trabalho. Cláusula sexta: Durante o período da cedência, o Terceiro Outorgante fica sujeito ao regime de trabalho aplicável à Segunda Outorgante no que respeita aov modo, lugar, duração do trabalho e suspensão da prestação de trabalho, segurança, higiene e saúde no trabalho e acesso aos seus equipamentos sociais, devendo a Segunda Outorgante informá-lo sobre os riscos para a sua segurança e saúde inerentes ao posto de trabalho a que é afecto. Cláusula sétima: O presente contrato de cedência cessará automaticamente e sem necessidade de aviso prévio pelo decurso do respectivo prazo, acordo das partes ou perda, por qualquer causa, do vínculo laboral entre a Primeira e a Terceira Outorgantes. Cláusula oitava: O Terceiro Outorgante aceita a cedência, nos termos convencionados. Cláusula nona: Quanto aos aspectos omissos, em virtude de a mesma não se encontrar regulada na legislação coletiva aplicável, aplicar-se-á o regime decorrente dos artigos 288º e seguintes do Código do Trabalho. Cláusula décima: Em caso de litígio emergente do presente contrato, fica desde já designado pelas partes como competente o foro da Comarca de, com expressa renúncia a qualquer outro. Cláusula décima primeira: Este contrato é feito em três vias, destinando-se uma a cada um dos Outorgantes. (Data de celebração) Primeira Outorgante (assinatura) Segunda Outorgante (assinatura) Terceiro Outorgante (assinatura)

27 26 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 Análise Atos societários Obrigações decorrentes do Código das Sociedades Comerciais Os órgãos societários, anualmente, têm o dever de prestarem contas do exercício, efetuarem o respetivo relatório e procederem ao depósito das contas anuais. Aproveitamos para relembrar alguns desses atos societários, com indicação do prazo para a prática dos mesmos. 1. Relatório de gestão e documentos de prestação de contas O relatório de gestão, as contas do exercício e demais documentos de prestação de contas devem ser apresentados, salvo casos particulares previstos na lei, no prazo de três meses a contar da data de encerramento de cada exercício anual, ou no prazo de cinco meses a contar da mesma data quando se trate de sociedades que devam apresentar contas consolidadas ou que apliquem o método de equivalência patrimonial. Os liquidatários devem prestar, nos três primeiros meses de cada ano civil, contas da liquidação, as quais devem ser acompanhadas por um relatório pormenorizado do estado da mesma. A assembleia geral dos acionistas deve reunir nos três meses a contar da data do encerramento do exercício ou no prazo de cinco meses a contar da mesma data quando se tratar de sociedades que devam apresentar contas consolidadas ou apliquem o método da equivalência patrimonial para: Deliberar sobre o relatório de gestão e as contas do exercício, quando a assembleia seja o órgão competente para isso; Deliberar sobre a proposta de aplicação de resultados; Proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade e, se disso for o caso e embora esses assuntos não constem da ordem do dia, proceder à destituição, dentro da sua competência, ou manifestar a sua desconfiança quanto aos administradores ou diretores; Proceder às eleições que sejam da sua competência; Até 30 dias antes da data da assembleia geral convocada para apreciar os documentos de prestação de contas, o conselho de administração deve apresentar ao conselho fiscal o relatório de gestão e as contas de exercício. Até 30 dias da data da assembleia geral convocada para apreciação geral da administração e fiscalização, a direção deve apresentar ao revisor oficial de contas o relatório de gestão e as contas de exercício. Os gerentes, administradores ou diretores de uma sociedade obrigada por lei à consolidação de contas devem elaborar e submeter aos órgãos competentes o relatório consolidado de gestão, as contas consolidadas do exercício e os demais documentos de prestação de contas consolidadas. Os documentos de prestação de contas atrás referidos devem ser apresentados e apreciados pelos órgãos competentes no prazo de cinco meses a contar da data de encerramento do exercício. Os gerentes, administradores ou diretores de cada sociedade a incluir na consolidação que seja empresa filial ou associada devem, em tempo útil, enviar à sociedade consolidante o seu relatório e contas e respetiva certificação legal ou declaração de impossibilidade de certificação, a submeter à respetiva assembleia geral, bem como prestar as demais informações necessárias à consolidação de contas. 2. Documentos de prestação de contas da sociedade - registo O pedido de registo de prestação de contas de sociedades e de estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada deve ser efetuado até ao 15.º dia do 7.º mês posterior à data do termo do exercício económico. O registo da prestação de contas consiste no depósito, por transmissão eletrónica de dados da informação constante dos seguintes documentos: a) Ata de aprovação das contas do exercício e da aplicação dos resultados; b) Balanço, demonstração de resultados e anexo ao balanço e demonstração de resultados; c) Certificação legal das contas; d) Parecer do órgão de fiscalização, quando exista. O registo da prestação de contas consolidadas consiste no depósito, por transmissão eletrónica de dados da informação constante dos seguintes documentos: a) Ata da deliberação de aprovação das contas consolidadas do exercício, de onde conste o montante dos resultados consolidados; b) Balanço consolidado, demonstração consolidada dos resultados e anexo; c) Certificação legal das contas consolidadas; d) Parecer do órgão de fiscalização, quando exista. 3. Publicidade de Atos sociais Regra geral, os atos relativos à sociedade estão sujeitos publicação e registo. Assim, está sujeita a registo, sendo obrigatória a sua publicação, nomeadamente a prestação de contas das sociedades anónimas, por quotas e em comandita por ações, bem como das sociedades em nome coletivo e em comandita simples quando houver lugar a depósito, e de contas consolidadas de sociedades obrigadas a prestá-las. As publicações obrigatórias devem ser feitas, a expensas da sociedade, em sítio na Internet de acesso público, no qual a informação objeto de publicidade possa ser acedida, designadamente por ordem cronológica. Os atos societários cuja publicação seja obrigatória não são oponíveis a terceiros enquanto essa publicação não se encontrar efetuada, exceto se a sociedade provar que o ato está registado e que o terceiro tem conhecimento dele.

28 marcas VIDA JUDICIÁRIA - março IMITAÇÃO DE MARCA (Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 13/03/2012) SUMÁRIO: 1) Existe o risco de confusão quando um consumidor médio toma uma marca por outra e, consequentemente, um produto por outro ou então associá-la a uma já existente. 2) Este risco não se verifica quanto às marcas Porca de Murça e Quinta do Vale da Porca, atento o número de palavras que as compõem. Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa: A Apelante A (. S.A), também denominada Real. interpôs recurso do despacho do Senhor Diretor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, que concedeu o registo da marca nacional nº... QUINTA DO VALE DA PORCA, requerido pelo apelado B, pedindo que se revogue o despacho recorrido e se ordene a recusa do registo daquela. Fundamenta a sua pretensão, em síntese, no fato de ser titular do registo prioritário de marcas nacionais e comunitárias, verificando-se, relativamente às mesmas, todos os requisitos de imitação. Acrescenta que as marcas de que é titular têm elevadíssima notoriedade e que a coexistência no mercado das marcas da titularidade da recorrente e concedida potencia a possibilidade da prática de atos de concorrência desleal. Respondeu o recorrido, dizendo, em síntese, que não se verificam os invocados requisitos de imitação e a possibilidade da prática de atos de concorrência desleal, até porque a palavra porca já faz parte de outras marcas registadas tais como Caves da Porca, Vinho da Porca e Adega da Porca. Conclui pela improcedência do recurso. Foi proferida sentença julgando improcedente o recurso. A apelante, inconformada, recorre agora para este Tribunal, rematando as suas alegações com as seguintes conclusões: A) A marca registanda QUINTA DO VALE DA PORCA constitui imitação das marcas PORCA DE MURÇA da Recorrente, as quais gozam de prioridade relativamente àquela, destinando-se todos os sinais em confronto a assinalar vinhos. B) Embora não haja uma semelhança total entre estas marcas, constata-se que o elemento dominante e mais caraterístico da marca da Recorrente ( PORCA ) é reproduzido na íntegra pela marca do Recorrido, constituindo também o elemento nuclear desta última. C) Isto porque, estando em causa marcas nominativas complexas, o elemento individualizante o que melhor capta a atenção do consumidor médio e de que este conserva memória é a palavra mais sonante, que é o núcleo ou coração das mesmas. D) Neste caso, a palavra PORCA constitui o núcleo essencial, quer da marca registada, quer da marca registanda, E) O que torna evidente o risco de confusão do público e inevitável a associação dos dois sinais, por parte dos consumidores. F) Esta conclusão sai ainda mais reforçada devido à elevada notoriedade de que gozam as marcas prioritárias da Recorrente, visto que como declarou o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, no seu acórdão SABEL.PUMA,de o risco de confusão é tanto mais elevado quanto o caráter distintivo da marca anterior se reconhece como importante. G) Uma marca que goza de uma notoriedade de 88,8% junto do universo dos consumidores de vinho portugueses, e que é conhecida de 62,5% do público em geral (incluindo consumidores e não consumidores de vinho), tem, inquestionavelmente, uma elevada notoriedade. H) Em Portugal, qualquer vinho cuja marca inclua a palavra Porca será imediatamente associado pelos consumidores à Apelante, em prejuízo desta, desses consumidores e da lealdade das transacções comerciais. I) Ao contrário do que refere a sentença recorrida, a palavra PORCA só seria uma palavra descritiva e genérica em relação a porcos ou a produtos pecuários. Em relação a vinhos, esta palavra é totalmente arbitrária, revestindo um caráter distintivo muito intenso, com grande facilidade de reconhecimento imediato por parte do consumidor. J) Por isso, seria fácil, para o titular da marca (atual ou futuro), tirar partido indevido do esforço realizado pela Apelante, durante 80 anos, na promoção e divulgação dos seus produtos. K) Pelo que a concessão do registo daria lugar a riscos acrescidos de concorrência desleal, resultante da confusão no espírito dos consumidores quanto à proveniência empresarial dos produtos, o que representa motivo suplementar de recusa do registo, ao abrigo da alínea e) do nº 1 do art. 239º do CPI. EM SÍNTESE (art. 690º/2 do CPC): - O douto despacho recorrido recorrida não fez, pois, adequada interpretação e aplicação do disposto nos artigos 239º/1/a) e e), 245º/1 e 317º, alíneas a), c) e e),todos do CPI de As citadas normas foram assim erradamente interpretadas e aplicadas pelo Tribunal a quo, que deveria tê-las interpretado e aplicado do modo indicado nas precedentes conclusões.

29 28 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 marcas Em contra-alegações o apelado pugnando pela manutenção do julgado conclui que : 1. A douta sentença recorrida fez boa aplicação da lei; 2. As marcas Quinta do Vale da Porca e Porca de Murça são gráfica e foneticamente distintas uma da outra; 3. Pelo que o público consumidor não as toma uma pela outra; 4. A coincidência da palavra PORCA não funda a imitação, já que coexistem pacificamente, com a marca PORCA DE MURÇA as marcas nacionais nº... CAVES DA PORCA,... VINHO DA PORCA e... ADEGA DA PORCA ; 5. Sendo que a diversidade de fontes produtivas inerente à coexistência determina que o público consumidor esteja habituado a ver a palavra POR- CA associada a vinhos de mais de uma proveniência; 6. Para além do que a marca obstativa PORCA DE MURÇA não tem um elemento prevalente valendo pelo seu todo e sendo pelo seu todo conhecida; 7. Pelo que a douta sentença recorrida fez boa aplicação artigos 25º,nº 1, alínea d), 239º, alínea m) e 245º do CPI; II O objeto do presente recurso resumese a saber se a denominação da marca Quinta do Vale da Porca é susceptível de ser confundida com a denominação marca da apelante Porca de Murça. III A primeira instância considerou provada a seguinte matéria : 1 - Por despacho datado de , o Sr. Diretor do Serviço de Marcas do Instituto Nacional de Propriedade Industrial concedeu o registo da marca nacional nº... QUINTA DO VALE DA PORCA, pedida em , por B. 2 - A referida marca destina-se a assinalar produtos da classe 33ª Vinhos, incluindo o vinho do Porto 3 - A referida marca é constituída pelo nome QUINTA DO VALE DA PORCA em letras de imprensa maiúsculas A recorrente é titular da marca nacional nº... PORCA DE MURÇA, concedida em 14 de Junho de A referida marca destina-se a assinalar, na classe 33ª Vinhos. 6 - A mencionada marca é constituída pelo nome PORCA DE MURÇA. 7 - A recorrente é titular da marca comunitária nº... registada em 13 de outubro de A mencionada marca destina-se assinalar, na classe 33ª Vinhos, vinhos do Porto, vinhos de mesa, aguardentes e licores. 9 - A mencionada marca é constituída pelas palavras PORCA DE MURÇA em letras de imprensa maiúsculas A recorrente é titular da marca nacional nº... registada em 13 de outubro de A mencionada marca destina-se assinalar, na classe 33ª Bebidas alcoólicas com excepção de cervejas A referida marca é constituída pela figura de um retângulo com aposição dentro do mesmo, entre outras de um animal e das palavras PORCA DE MURÇA, VINHO BRANCO DE MESA, nos termos constantes do documento nº 3, junto com o requerimento de recurso, cujo teor se dá por integralmente reproduzido A recorrente é titular da marca comunitária nº... registada em A mencionada marca destina-se a assinalar, na classe 33ª Vinhos provenientes da região do Douro A referida marca é constituída pela figura de um retângulo com aposição dentro do mesmo de uma moldura e dentro desta, designadamente de elementos figurativos e das palavras PORCA DE MURÇA e Douro, nos termos constantes do documento nº 4 junto com o requerimento de recurso, cujo teor se dá por integralmente reproduzido Foi elaborado pelo IPOM Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado em dezembro de 2005 e janeiro de 2006, um Estudo de Notoriedade sobre o Vinho Porca de Murça, nos termos constantes do documento junto como nº 7 com o requerimento de recurso, cujo teor se dá por integralmente reproduzido As vendas do vinho assinalado com a marca Porca de Murça foram de litros, o que representa 6,7% do total das vendas de VQPRD no ano de litros de vinho correspondem a cerca de garrafas de Aos vinhos comercializados sob o sinal PORCA DE MURÇA foram atribuídos diversos prémios, diplomas e distinções, concedidos por entidades oficiais e privadas, dentro de fora do país Foram concedidos os registos das marcas nacionais nº... CAVES DA POR- CA,... VINHO DA PORCA e... ADEGA DA PORCA, destinadas a assinalar vinhos. IV Antes do mais há que averiguar qual a lei aplicável ao caos concreto, tendo em conta as sucessivas alterações a que o Código da Propriedade Industrial (CPI) foi sujeito. O atual CPI foi aprovado pelo DL nº 36/ 2003, de 05/03, que revogou o anterior aprovado, pelo DL nº16/95 de 24/01. Este DL nº 36/2003 foi alterado pelos seguintes diplomas: DL nº318/2007 de 26/09 ; DL nº360/2007 de 02/11 ; Lei nº16/2008 de 01/04 ; DL nº 143/2008 de 25/07; Lei nº52/2008 de 28/08 e; Lei nº46/2011de 24/06. O DL nº 36/2003, consagra no seu art. 10º que o CPI se aplica aos pedidos de registo de marca efetuados antes da sua entrada em vigor que ainda não tivessem sido objeto de despacho. O despacho do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) foi proferido em 16/07/2008, sendo que o pedido de registo efetuado em 16/12/ facto nº 1. Ora, tendo em atenção o princípio geral da não retroatividade da lei, consagrado no art. 12º, nº1 do Código Civil (C Civ), o regime legal aplicável é o constante do DL nº36/2003 na sua versão original sendo a data de pedido de registo a relevante. [1] O presente recurso respeita à concessão de uma marca. A marca é um sinal distintivo de produtos ou serviços, visando individualizá-los, não só para assegurar clientela como 1.Ac STJ de 13/01/2000, proc nº00a1504(lemos Triunfante) in

30 marcas VIDA JUDICIÁRIA - março para proteger o consumidor do risco de confusão ou associação com as marcas concorrentes. Preceitua o nº 1 do art. 222º do CPI que a marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respetiva embalagem, que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas. A primeira exigência legal é a de que a marca seja composta por um sinal susceptível de representação gráfica. Logo a seguir, aponta a lei, como requisito da marca, a capacidade distintiva: a marca deve ser apta, por si mesma, a individualizar uma espécie de produtos ou serviços ela serve para distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas. Por outro lado, como decorre do preceituado pelos artigos 258º e 4º, nº 4, do CPI, o registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de atividades económicas, qualquer sinal igual, ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos ou serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação, no espírito do consumidor e constitui fundamento de recusa ou de anulação de denominações sociais ou firmas com eles confundíveis, se os pedidos de autorização ou de alteração forem posteriores aos pedidos de registo. Nos termos do art. 239º, alª m), do CPI é recusado o registo de marcas que contenham, em todos ou alguns dos seus elementos, Reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada por outrem para produtos ou serviços idênticos ou afins que possa induzir em erro o consumidor ou que compreenda o risco de associação com a marca registada. Uma marca registada considera-se imitada por outra quando, cumulativamente, tiver prioridade, sejam ambas destinadas a assinalar produtos idênticos ou afins e tenham ambas tal semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em erro o confusão, ou que compreenda um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir senão depois de exame atento ou confronto. - art.245º do CPC. Há risco de erro ou confusão sempre que a semelhança possa dar origem a que um sinal seja tomado por outro, ou a que o público considere que há identidade de origem ou proveniência dos produtos ou serviços a que os sinais se destinam [2] Como diz Coutinho de Abreu [3] ( ) o risco de confusão deve ser entendido em sentido lato, de modo a abarcar tanto o risco de confusão em sentido estrito ou próprio como risco de associação. Verifica-se o primeiro quando os consumidores podem ser induzidos a tomar uma marca por outra e, consequentemente, um produto por outro (os consumidores crêem erroneamente tratar-se da mesma marca e produto). Verifica-se o segundo quando os consumidores, distinguindo embora os sinais, ligam um ao outro e, em consequência, um produto ao outro (crêem erroneamente tratar-se de marcas e produtos imputáveis a sujeitos com relação de coligação ou licença, ou tratar-se de marcas comunicando análogas qualidades dos produtos). Acerca do critério para determinar a confundibilidade entre as marcas o Ac. STJ de 13/07/2010 (Fonseca Ramos) [4] tirou o seguinte sumário que, aqui, se transcreve: I-A imitação ou confundibilidade entre as marcas pressupõem, um confronto de modo a que se possa concluir, ou não, sobre se os produtos que as marcas assinalam são idênticos ou afins, ou despertam, pela semelhança dos seus elementos, a possibilidade de associação a outros produtos ou marcas já existentes no mercado. II- Esse confronto não demanda, da parte do consumidor, especiais qualidades de perspicácia, subtileza ou atenção, já que, no frenético universo do consumo, o padrão é o consumidor médio, razoavelmente informado, mas não particularmente atento às especificidades próprias das marcas. III. Daí que, no juízo a fazer acerca da imitação, se deva ter em conta uma impressão de conjunto e não de pormenor das marcas ou produtos, sendo relevantes os elementos que essencialmente, as distinguem por serem os dominantes. IV. É assim o critério do consumidor médio, o relevante, para diante dos elementos gráficos, fonéticos ou figurativos (sobretudo nas marcas mistas) de certo produto de uma marca, poder ou não, ter a perceção de que pode confundir essa com aquela outra, ou associá-la a uma já existente, não sendo de exigir que, se tivesse a possibilitar de as confrontar, logo as suas dúvidas pudessem ser dissipadas. Também Carlos Olavo [5] adverte que a apreciação do caráter distintivo da marca deve ter em conta por um lado os produtos e serviços a que se destina e por outro, em relação a perceção que dela tem o público relevante normalmente informado e razoavelmente advertido. Analisando o caso concreto, diz-se o seguinte. A apelante é titular das marcas nacionais nº... de 14/07/1929 e, nº de 13/10/1931 Porca de Murça. E é titular das marcas comunitárias nº... de 13/10/2001 e, nº... de 10/08/2005 Porca de Murça. As marcas nacional nº... e comunitária [2] Carlos Olavo, Violação do Direito à Marca, ROA, ano 127, Jan./Jun. 1995, 56, e Propriedade Industrial, Coimbra,1997, 53. [3] Boletim da Faculdade de Direito, Vol. LXXIII, 1997 pag. 145, em estudo sobre as Marcas, cit no AC STJ de 15/12/2011, proc nº 478/09.7TBCBR.C1.S1 in [4] Proc nº 806/03.TBMRG.C1.S1 in [5] Propriedade Industrial, 2005, pag. 82

31 30 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 marcas nº...,destinam-se a assinalar, respetivamente produtos da classe 33(vinho, incluindo o do Porto) e, produtos da classe 33 (vinhos, vinhos do Porto, vinhos de mesa, aguardentes e licores). Ambas são constituídas pelas palavras Porca de Murça. A marca nacional nº assinala produtos da classe 33 (bebidas alcoólicas com excepção de cervejas) A marca comunitária nº...assinala produtos da classe 33 (vinhos provenientes da região do Douro). Ambas são constituídas pela figura de um retângulo, com aposição dentro do mesmo de um animal e das palavras Porca de Murça e Vinho Branco de Mesa no caso da marca nacional e Porca de Murça Douro no caso da comunitária. A marca nº... de 16/07/2008 e constituída pelo nome Quinta do Vale da Porca em letras de imprensa maiúsculas. Argumente a recorrente que a utilização da palavra Porca é o elemento individualizante das marcas, o que mais capta a atenção do público uma vez que a sua utilização para designar vinhos é totalmente arbitrária. Mas a ser assim as marcas nacionais nº... CAVES DA PORCA,... VINHO DA PORCA e... ADEGA DA PORCA, destinadas a assinalar vinhos, todas posteriores às da apelante (os números assim o confirmam) suscitariam confusão e o registo foi concedido. Ora qualquer das marcas da apelante é constituída por 3 palavras. A marca do apelado é constituída por 5. Enquanto que nas marcas da apelante as palavras que sobressaem são porca e Murça, já na marca do apelado as palavras são vale e porca. Por outro lado também as marcas da apelante no que respeita a bebidas alcoólica e vinhos do Douro são assinaladas, ainda, pela figura do animal dentro de um retângulo. Assim quando se pensa em Porca de Murça, tem-se presente a denominação geográfica(concelho de Murça) enquanto que com a Quinta do Vale da Porca, a ideia que permanece é que o Vale da Porca será a proveniência geográfica, ou seja, a Quinta situa-se num lugar com aquele nome. No confronto das designações na totalidade entende-se que um consumidor médio, quando colocado na presença de bebidas alcoólicas com a designação Porca de Murça e Quinta do Vale da Porca, não confundirá uma com a outra. Não se vê assim que se verifique o risco de confusão em qualquer dos seus sentidos. As conclusões da recorrente improcedem pois. Em síntese 1) Existe o risco de confusão quando um consumidor médio toma uma marca por outra e, consequentemente, um produto por outro ou então associá-la a uma já existente. 2) Este risco não se verifica quanto às marcas Porca de Murça e Quinta do Vale da Porca, atento o número de palavras que as compõem. V Considerando o que se acaba de expor, julga-se improcedente a apelação confirmando-se a douta sentença recorrida. Custas pela apelante. Lisboa, 13 de Março de 2012 Teresa Henriques Isabel Brás Fonseca António Santos COMENtário: No âmbito do presente recurso coloca-se a seguinte questão: - saber se a denominação da marca Quinta do Vale da Porca é susceptível de ser confundida com a denominação marca da apelante Porca de Murça. Tendo em conta o princípio geral da não retroatividade da lei, consagrado no art. 12º, nº1 do Código Civil, o regime legal aplicável ao caso em apreço é o constante do DL nº36/2003 na sua versão original sendo a data de pedido de registo a relevante. A marca é um sinal distintivo de produtos ou serviços, visando individualizá-los, não só para assegurar clientela, como para proteger o consumidor do risco de confusão ou associação com as marcas concorrentes. De acordo com o art. 222º do CPI a marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respetiva embalagem, que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas. A primeira exigência legal é a de que a marca seja composta por um sinal susceptível de representação gráfica. Outro requisito da marca é a capacidade distintiva: a marca deve ser apta, por si mesma, a individualizar uma espécie de produtos ou serviços ela serve para distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas. Por outro lado, como decorre do preceituado pelos artigos 258º e 4º, nº 4, do CPI o registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de atividades económicas, qualquer sinal igual, ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos ou serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação, no espírito do consumidor e constitui fundamento de recusa ou de anulação de denominações sociais ou firmas com eles confundíveis, se os pedidos de autorização ou de alteração forem posteriores aos pedidos de registo. Nos termos do art. 239º, alª m), do CPI, é recusado o registo de marcas que contenham, em todos ou alguns

32 marcas VIDA JUDICIÁRIA - março dos seus elementos, Reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada por outrem para produtos ou serviços idênticos ou afins que possa induzir em erro o consumidor ou que compreenda o risco de associação com a marca registada. Uma marca registada considera-se imitada por outra quando, cumulativamente, tiver prioridade, sejam ambas destinadas a assinalar produtos idênticos ou afins e tenham ambas tal semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em erro o confusão, ou que compreenda um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir senão depois de exame atento ou confronto art. 245º do CPC. Há risco de erro ou confusão sempre que a semelhança possa dar origem a que um sinal seja tomado por outro, ou a que o público considere que há identidade de origem ou proveniência dos produtos ou serviços a que os sinais se destinam. A apelante é titular das marcas nacionais Porca de Murça. E é titular das marcas comunitárias Porca de Murça. As marcas nacional nº... e comunitária nº..., destinam-se a assinalar, respetivamente, produtos da classe 33 (vinho, incluindo o do Porto) e, produtos da classe 33 (vinhos, vinhos do Porto, vinhos de mesa, aguardentes e licores). Ambas são constituídas pelas palavras Porca de Murça. A marca nacional nº assinala produtos da classe 33 (bebidas alcoólicas com excepção de cervejas) A marca comunitária nº...assinala produtos da classe 33 (vinhos provenientes da região do Douro). Ambas são constituídas pela figura de um retângulo, com aposição dentro do mesmo de um animal e das palavras Porca de Murça e Vinho Branco de Mesa no caso da marca nacional e Porca de Murça Douro no caso da comunitária. A marca nº... de 16/07/2008 e constituída pelo nome Quinta do Vale da Porca em letras de imprensa maiúsculas. Argumente a recorrente que a utilização da palavra Porca é o elemento individualizante das marcas, o que mais capta a atenção do público uma vez que a sua utilização para designar vinhos é totalmente arbitrária. Mas a ser assim as marcas nacionais nº... CAVES DA PORCA,... VINHO DA PORCA e... ADEGA DA PORCA, destinadas a assinalar vinhos, todas posteriores às da apelante (os números assim o confirmam) suscitariam confusão e o registo foi concedido. Ora qualquer das marcas da apelante é constituído por 3 palavras. A marca do apelado é constituída por 5. Enquanto que nas marcas da apelante as palavras que sobressaem são porca e Murça, já na marca do apelado as palavras são vale e porca. Por outro lado também as marcas da apelante no que respeita a bebidas alcoólica e vinhos do Douro são assinaladas, ainda, pela figura do animal dentro de um retângulo. Assim quando se pensa em Porca de Murça, tem-se presente a denominação geográfica (concelho de Murça), enquanto com a Quinta do Vale da Porca, a ideia que permanece é que o Vale da Porca será a proveniência geográfica, ou seja, a Quinta situa-se num lugar com aquele nome. No confronto das designações na totalidade entende-se que um consumidor médio, quando colocado na presença de bebidas alcoólicas com a designação Porca de Murça e Quinta do Vale da Porca não confundirá uma com a outra. Não se vê assim que se verifique o risco de confusão em qualquer dos seus sentidos. Face ao exposto, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu em julgar improcedente o recurso de apelação, mantendo na íntegra a sentença recorrida. CONHEÇA A LIVRARIA ONLINE DA VIDA ECONÓMICA Visite-nos em: livraria.vidaeconomica.pt Publicações especializadas Edições técnicas Formação

33 32 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Resumos RESPONSABILIDADES PARENTAIS - Direito a alimentos Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de Fonte: site do STJ A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 29 de março de 2012, foi sumariada do seguinte modo: I - O tribunal deve proceder à fixação de alimentos a favor do menor, ainda que desconheça a concreta situação de vida de um dos progenitores obrigado a alimentos. II - O interesse do menor sobreleva a indeterminação ou não conhecimento dos meios de subsistência do obrigado a alimentos, cabendo a este o ónus da prova da impossibilidade total ou parcial da prestação de alimentos.. Neste recurso interposto junto do Tribunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte matéria: - Fixação de alimentos a menor no caso de desconhecimento do paradeiro e situação económica e social do obrigado. Para uma corrente jurisprudencial, a fixação da pensão de alimentos não é obrigatória nas decisões que regulam o exercício das responsabilidades parentais, sempre que o obrigado não tiver quaisquer meios para cumprir esse dever de prestar alimentos. E, nestas circunstâncias, o Tribunal deverá abster-se de fixar qualquer pensão de alimentos, por forma a dar cumprimento ao critério da proporcionalidade plasmado no artigo 2004º, nº 1, do Código Civil. Para outra corrente jurisprudencial, o Tribunal deve sempre proceder à fixação de alimentos a favor do menor, ainda que desconheça a concreta situação da vida do obrigado a alimentos, visto que o interesse do menor sobreleva a questão da indeterminação ou do não conhecimento dos meios de subsistência do obrigado a alimentos, cabendo a este o ónus de prova da impossibilidade total ou parcial de prestação de alimentos. Sublinhada a importância da proteção dos menores, sobretudo dos mais desfavorecidos, como é o caso quando um dos progenitores os vota ao abandono, importa desencadear os mecanismos de substituição que o legislador em boa hora previu. Deste modo surge a intervenção do Fundo cuja obrigação tem o caráter de prestação social. A sua responsabilidade apenas se constitui com a decisão que aprecia os pressupostos para sua intervenção e o condena no pagamento de certa prestação. O Fundo, quando assegura o pagamento de prestações alimentícias, fá-lo no cumprimento de uma obrigação própria e não alheia. O montante dos alimentos imposto ao Fundo é fixado no incidente de incumprimento e só então se torna líquido e exigível, como direito social do alimentando. A obrigação do Fundo não existe enquanto não for apurado o incumprimento do originário devedor e demais pressupostos legais, de tal modo que tal obrigação só é criada com a decisão do respetivo incidente. Nos termos do artigo 1º da Lei 75/98, de 19/11, quando a pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos a menor residente em território nacional não satisfizer as quantias em dívida pelas formas previstas no artigo 189º do Decreto-Lei 314/78, de 27/10, e o alimentado não tenha rendimento líquido superior ao salário mínimo nacional nem beneficie nessa medida de rendimentos de outrem a cuja guarda se encontre, o Estado assegura as prestações previstas naquela lei até ao início do efetivo cumprimento da obrigação. Esta prestação social, a cargo do Estado, encontra fundamento no direito das crianças à proteção, consagrado constitucionalmente (artigo 69º) que, como se explicita no preâmbulo do Decreto- Lei 164/99, de 13/5, não pode deixar de comportar a faculdade de requerer à sociedade e ao próprio Estado as prestações que proporcionem as condições essenciais ao seu desenvolvimento e a uma vida digna. Resultando da interpretação conjugada dos arts. 1º da Lei 75/98, 2º e 4º, nº 5, do DL 164/99, conjugados com o nº 2 do art. 3º da citada Lei, que a obrigação a cargo do FGADM só se constitui com a decisão do tribunal, estando em causa a subsistência do menor, obviamente que, verificados os pressupostos da obrigação de prestar alimentos por parte do ausente progenitor, tal como impõe o preceituado pelo artº 2009, nº 1, al. c), do Código Civil, importa que se ultrapassem os formalismos processuais ou mesmos alguns princípios secundários que impedem a fixação desses alimentos. O STJ, no caso em apreço, subscreveu a posição defendida neste tribunal no Acórdão proferido no processo 4.231/09.0TBGMR.G1.S1, de , segundo o qual a natureza constitucional da obrigação de prestação de alimentos encontra expressão ordinária, ao nível da tutela penal da violação da obrigação do credor de alimentos menor, com consagração no artigo 250º do Código Penal, e na específica compressão, em sede executiva, do próprio direito à sobrevivência condigna do progenitor vinculado ao dever de prestar alimentos, desanexado, atento o referencial básico das necessidades fundamentais dos filhos menores, do

34 Resumos - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março valor do salário mínimo nacional, como reduto inexpugnável do devedor, mas que, inversamente, não releva como pressuposto negativo da intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, ou seja, o requisito da inexistência de rendimentos líquidos do alimentando superiores ao salário mínimo nacional. Efetivamente, uma das concretizações mais marcantes deste direito fundamental dos filhos menores à prestação alimentar, por parte dos seus progenitores, encontra-se na instituição pelo Estado de uma prestação social substitutiva, com vista ao reforço da proteção social dos menores carenciados, expressa no regime do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, constante da Lei nº 75/98, de 19 de novembro, regulamentada pelo DL nº 164/99, de 13 de maio. Face ao exposto, o STJ julgou procedente o recurso do Ministério Público em representação da menor fixando em 100,00 (cem euros) a prestação mensal a título de alimentos devidos pelo pai, revogando-se o acórdão recorrido. CONTRATO DE trabalho - Justa causa de despedimento Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de Fonte: site do STJ A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 29 de março de 2012, foi sumariada do seguinte modo: I - No âmbito do CT/2003, do elenco gradativo das sanções disciplinares aí previstas, o despedimento sem qualquer indemnização ou compensação surge como a ultima ratio, reservada às situações de crise irreparável da relação jurídica de trabalho. Estes são os casos de justa causa de despedimento, com os contornos delimitados pela noção/cláusula geral estabelecida no art. 396º, nº 1, preenchida por um comportamento culposo do trabalhador, violador de deveres estruturantes da relação, que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência do vínculo juslaboral, impossibilidade perspetivada enquanto inexigibilidade da sua manutenção. II - Na apreciação da inexigibilidade da manutenção do vínculo laboral, para além das circunstâncias que se mostrem particularmente relevantes no caso, ponderam-se, com objetividade e razoabilidade, os fatores a que alude o nº 2 do art. 396º, aferindo-se a final a gravidade do comportamento em função do grau de culpa e da ilicitude, como é regra do direito sancionatório, nela incluído necessariamente o princípio da proporcionalidade, convocado aquando da opção pela adequada sanção disciplinar art. 367º. III - O despedimento-sanção é a solução postulada sempre que, na análise diferencial concreta dos interesses em presença, se conclua num juízo de probabilidade/prognose sobre a viabilidade do vínculo, basicamente dirigido ao suporte psicológico e fiduciário que a interação relacional pressupõe que a permanência do contrato constitui objetivamente uma insuportável e injusta imposição ao empregador, ferindo, desmesurada e violentamente, a sensibilidade e liberdade psicológica de uma pessoa normal colocada na posição do real empregador. IV - No âmbito da relação laboral, trabalhador e empregador têm de sedimentar a sua conduta no postulado ínsito no princípio geral da boa-fé e da mútua e leal colaboração na execução do contrato, expressamente plasmado no art. 119º, em cujos termos as partes, no cumprimento das respetivas obrigações, assim como no exercício dos correspondentes direitos, devem proceder de boa fé, devendo colaborar, na execução do contrato, no sentido da obtenção da maior produtividade e bem assim da promoção humana, profissional e social do trabalhador. V - A ideia de mútua colaboração não obstante a coexistência latente de uma conflitualidade ôntica nas relações de trabalho elaborada embora em contexto histórico coevo do sistema corporativo (vide art. 18º da LCT), continua a ser o suporte matricial dos deveres de zelo e diligência na realização do trabalho, que impendem sobre o trabalhador, e que concretamente integram a panóplia elencada no art. 121º [cfr. alíneas c) e g) do seu nº 1]. VI - O contrato de trabalho, sendo intuitu personae, pressupõe uma particular relação de confiança e de colaboração estreita, estando nele subjacente o credo nas qualidades de honestidade, lealdade e confidencialidade, fundamentais para a consecução da finalidade contratual, sendo que essa confiança nas qualidades da outra parte embora de maior ou menor grau/ intensidade consoante a correspetiva exigência fiduciária das funções confiadas constitui sempre a raiz indefetível e o pressuposto essencial e constante da relação, pela óbvia razão de que a permanente proximidade e interação entre os dois protagonistas da relação implica consideráveis riscos de lesão recíproca: o trabalhador vê-se inserido numa organização dominada pelo empregador, ficando, por isso, exposto à potencial violação dos seus direitos; o empregador insere na sua organização

35 34 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Resumos produtiva alguém que pode causar-lhe prejuízos significativos. VII - É de afirmar a justa causa do despedimento quando está demonstrado que a trabalhadora única pessoa, ao serviço da R., a exercer funções de controle de qualidade da atividade dos clientes desta após realizar as respetivas visitas inspetivas aos mesmos, não elaborou, em tempo oportuno, os correspondentes relatórios, imprescindíveis à apreciação a efetuar pelas entidades estatais competentes para o efeito; nessa situação, no âmbito de uma reunião com a gerente da R., solicitou autorização para frequentar uma acção de formação e, perante o indeferimento dessa autorização, fundamentada na não elaboração dos referidos relatórios, saiu da referida reunião a cantarolar, entrando em situação de baixa médica no dia seguinte baixa essa que se prolongou por mais de dois meses e, ainda, face às solicitações da R. para disponibilizar os elementos necessários à elaboração dos respetivos relatórios por outro técnico, manteve uma conduta de indiferença. VIII - Este circunstancialismo afronta os deveres previstos nas alíneas a), c), d) e g) do nº 1 do art. 121º do CT/2003 e preenche a previsão constante do art. 396º, nºs 1 e 3, alíneas a), d) e m), do mesmo diploma legal, configurando inequivocamente um comportamento culposo e grave da A. que, em si e nas suas consequências, atingiu fatalmente o suporte psicológico da relação, não sendo justo nem suportável, no balanço dos interesses em presença, impor à R. empregadora a manutenção do vínculo juslaboral. Neste recurso interposto junto do Tribunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte matéria: - Aferir da (i)licitude do despedimento cominado enquanto fundado ou não em justa causa. No Acórdão recorrido considerouse que ante a situação objetiva de absoluta quebra de confiança na trabalhadora/a., única Técnica Superior de Higiene e Segurança de que a R. dispunha para o exercício das funções que lhe estavam cometidas se tornou inexigível à empregadora a permanência do contrato. A recorrente insurge-se tão-somente quanto à solução alcançada, a de que, afinal, não se verifica qualquer ilicitude de comportamentos e, por isso, nenhum dos fundamentos da ajuizada justa causa de despedimento. Sob a epígrafe Segurança no emprego, a C.R.P. consagrou no seu art. 53º a garantia aos trabalhadores de que são proibidos os despedimentos sem justa causa, proibição que ora o art. 338º do revisto Código do Trabalho/2009 igualmente proclama. Dispõe-se no 396º/1 do CT/2003 em termos praticamente coincidentes com a noção antes constante do art. 9º/1 da LCCT e atualmente mantida no art. 351º/1 do CT/2009 que constitui justa causa de despedimento o comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho. A relação juslaboral é tendencialmente duradoura ou de execução duradoura. A posição jurídica do empregador confere-lhe, enquanto titular da empresa um conjunto de poderes, incluído o disciplinar, que se manifesta na possibilidade de aplicação de sanções internas aos trabalhadores, seus subordinados, cuja conduta se revele desconforme com as ordens, instruções e regras de funcionamento da estrutura produtiva. Do elenco das previstas sanções disciplinares (art. 366º/CT/2003), o despedimento sem qualquer indemnização ou compensação surge como a ultima ratio, reservada às situações de crise irreparável da relação jurídica de trabalho. Estes são os casos de justa causa de despedimento, com os contornos delimitados pela referida noção/cláusula geral, preenchida por um comportamento culposo do trabalhador, violador de deveres estruturantes da relação, que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência do vínculo juslaboral, impossibilidade perspetivada enquanto inexigibilidade da sua manutenção, como é entendimento doutrinal e jurisprudencial unânime, pacífico e reiterado. Na respetiva apreciação, para além das circunstâncias que se mostrem particularmente relevantes no caso, ponderam-se, com objetividade e razoabilidade, os fatores a que alude o nº 2 do art. 396º, aferindo-se a final a gravidade do comportamento em função do grau de culpa e da ilicitude, como é regra do direito sancionatório, nela incluído necessariamente o princípio da proporcionalidade, convocado aquando da opção pela adequada sanção disciplinar art. 367º. O despedimento-sanção é a solução postulada sempre que, na análise diferencial concreta dos interesses em presença, se conclua que a permanência do contrato constitui objetivamente uma insuportável e injusta imposição ao empregador, ferindo, desmesurada e violentamente, a sensibilidade e liberdade psicológica de uma pessoa normal colocada na posição do real empregador. A conduta da A. assumiu claramente contornos de uma abordagem perversa do postulado ínsito no princípio geral da boa-fé e da mútua e leal colaboração na execução do contrato, expressamente plasmado no art. 119º (igualmente mantido no art. 126º do CT/2009), em cujos termos as partes, no cumprimento das respetivas obrigações, assim como no exercício dos correspondentes direitos, devem proceder de boa fé, devendo colaborar, na execução do contrato, no sentido da obtenção da maior produtividade e bem assim da promoção humana, profissional e social do trabalhador. No vínculo juslaboral a confiança nas faladas qualidades da outra parte constitui sempre a raiz indefetível e o pressuposto essencial e constante da relação, pela óbvia razão de que a permanente proximidade e interação entre os dois protagonistas da relação implica consideráveis riscos de lesão recíproca. Ora, no caso em apreço, a A., tendo efetuado várias vistorias a empresas clientes da R. nos dias 21 a 23 e 26 de

36 Resumos - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março Fevereiro e nos dias 6 e 13 de Março, ambos de 2007, não se empenhou na elaboração subsequente dos correspondentes relatórios, que deveriam ser encaminhados logo de seguida, (tão rapidamente quanto possível) para as empresas vistoriadas. Sabendo que as empresas destinatárias devem apresentar no ISHST, impreterivelmente até 30 de Abril de cada ano, os relatórios respetivos, cuja elaboração era também da responsabilidade da A., esta, não obstante, tinha acumulados (e ainda por elaborar, ao tempo) cerca de cem (100) desses relatórios. E apesar dessa relevante limitação a A., no dia 14 de Março de 2007, solicitou, ainda assim, autorização à gerente da R., na reunião havida nesse dia, para frequentar uma ação de formação sobre Ruído. Essa pretensão foi indeferida em virtude de ainda não terem sido efetuados os relatórios das recentes vistorias, como sobredito, e também porque se estava em período de realização de relatórios anuais da atividade dos serviços de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, que as empresas têm que apresentar, como se disse, impreterivelmente até ao dia 30 de Abril, relatórios cuja elaboração era igualmente da sua responsabilidade, encontrando-se então cerca de cem (100) por elaborar. Perante isto e certamente por não ter aceitado bem o indeferimento da pretendida autorização para a frequência da dita ação de formação/workshop a A. saiu a cantarolar da referida reunião, havida com a gerente da R., E entrou de baixa médica no dia seguinte. Baixa que, inicialmente por dez dias, foi prorrogada por mais 30 dias e depois de novo prolongada até , inclusive. A A., que era a única Técnica de que a R. dispunha e sabia que trabalho tinha que fazer, apresentou-se ao serviço a 24 de Maio de Face a este súbito e inesperado cenário, a R., em 28 desse mês de Março, embora durante a baixa da sua trabalhadora, enviou à A. uma carta, a que a A. não respondeu. No cumprimento zeloso e diligente das suas funções era-lhe exigível, nas descritas circunstâncias, outra conduta, não sendo preciso ir mais longe para significar que, num quadro de normalidade, aferível pelo padrão ou critério geral do bom pai de família, deveria ter cumprido adequadamente os seus deveres funcionais, elaborando em tempo próprio os relatórios sequentes às vistorias realizadas, aceitando, com urbanidade e sem retaliação, a negação de autorização para frequência do referido workshop, colaborando, com normal disponibilidade, na realização alternativa dos relatórios que a sua ausência, sem mais, inviabilizou. À luz do que acima se deixou dito aquando da análise da dimensão normativa da noção constante do art. 396º/1, o cominado despedimento mostra-se proporcionado à gravidade do comportamento assumido pela A. É lícita, por isso, a sanção escolhida e aplicada pela R. Em conformidade com o exposto STJ negou a Revista e confirmar o Acórdão impugnado. 14ª Edição DIREITO TRIBUTÁRIO Todos os Códigos Fiscais e extensa legislação complementar Versão Papel + ebook PACK ESPECIAL AUTOR: Joaquim Fernando Ricardo (Consultor de Empresas) Páginas: 1440 PVP (Papel): 45 PVP (ebook): 30

37 36 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações DIREITOS DE PERSONALIDADE - Direito à voz direitos de autor ASSUNto: Enriquecimento sem causa Referências: Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de Fonte: site do TRL Sumário: Findo um contrato que continha o consentimento da autora para a utilização comercial das gravações da sua voz bem de personalidade patrimonial que tinha feito para a ré, esta não pode continuar a fazer o aproveitamento económico dessas gravações, sob pena de enriquecimento injustificado no valor igual do da retribuição habitual. Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa A intentou em 16/04/2009 a presente ação contra a B Portugal Comunicações Pessoais, SA, pedindo que esta seja condenada a retirar do voice mail da rede BBB quaisquer gravações e locuções contendo registos de voz da autora, bem como a não utilizar, reproduzir ou divulgar as gravações e locuções contendo os registos de voz da autora sem prévio consentimento escrito desta, seja qual for o suporte, meio ou fim em causa; e ainda a pagar-lhe uma compensação em dinheiro, contabilizada à data da propositura da ação em ,45, a que devem acrescer as quantias proporcionais vincendas à razão anual de 8.113,80, até que efetivamente sejam retiradas do voice mail da rede BBB quaisquer gravações ou locuções contendo registos de voz da autora, e respetivos juros legais; por fim, a condenação da ré a pagar uma sanção pecuniária compulsória, a ser fixada pelo tribunal, em termos significativos, por cada dia de atraso no cumprimento da sentença condenatória que vier a ser proferida, quando aos dois primeiros pedidos. Alega para o efeito que no exercício da sua profissão de atriz celebrou com a ré, em 25/09/2000, um contrato de prestação de serviços nos termos do qual se comprometeu a prestar serviços de locução e gravação em ações de informação sobre os produtos/serviços BB / B ; o contrato tinha a duração de um ano e foi estipulada uma retribuição anual de $, acrescida de oferta de chamadas telefónicas; o contrato foi renovado por iguais períodos de 1 ano, por quatro vezes consecutivas, até 2005, tendo cessado a relação contratual, por mútuo acordo, em 05/09/2005; sucede que a ré, após a data da cessação do contrato, continuou a utilizar e a divulgar publicamente as locuções e gravações de voz efetuadas pela autora, mas sem lhe pagar qualquer contrapartida; a autora, em 22/08/2007, enviou uma carta registada com aviso de receção, em que considerava abusiva essa utilização e pretendia que a ré, num prazo máximo de 30 dias, retirasse os registos da sua voz do voice mail da rede BBB ; a ré recusou, invocando que as cláusulas 3ª e 4ª do contrato legitimavam-na a utilizar e a reutilizar as locuções e gravações feitas nesse âmbito; a autora entende que, de acordo com os usos da profissão, todas as locuções têm um prazo de validade de um ano a partir da data da 1ª exibição ou 15 dias após a gravação e que, uma vez terminado tal prazo de validade, há lugar ao pagamento integral das peças (renovação dos direitos), sendo obrigatória a autorização antecipada do locutor em causa; entende, por isso, que a ré tem feito, com fins comerciais, uma utilização abusiva da sua voz, por não ter o seu consentimento para o efeito, tendo enriquecido à sua custa, uma vez que não lhe paga qualquer contrapartida monetária. A ré, citada a 20/04/2009, contestou alegando, em síntese, que efetivamente foi celebrado com a autora o referido contrato que foi renovado por forma expressa por 3 vezes e que o mesmo não foi de novo renovado porque a autora rejeitou a proposta de aumento da remuneração; pagou à autora todos os serviços contratados; as renovações do contrato foram realizadas para permitir novas locuções e gravações e não para garantir a vigência de um consentimento; nos termos do contrato resulta claramente que o resultado das prestações da autora é da exclusiva titularidade da ré, pelo que a utilização das gravações efetuadas é absolutamente legítima, não havendo lugar a qualquer enriquecimento ilícito, nem ao pagamento de qualquer indemnização; no que respeita à declaração junta pela autora relativa aos pagamentos dos serviços de locução, refere que o mesmo não é parte integrante do contrato, além de ser uma declaração unilateral subscrita por várias pessoas, em que a autora não é uma delas, não podendo sequer ser considerado um indício de existência de usos ou da existência de uma profissão de locução, sendo certo que a autora afirma que a sua profissão é atriz; entende assim que a ação deve ser julgada improcedente. Depois do julgamento, foi proferida sentença, julgando a ação improcedente e absolvendo a ré do pedido. A autora recorre desta sentença para que seja revogada e substituída por outra que condene a ré no pedido terminando as suas alegações com as seguintes conclusões (que são sintetizadas neste acórdão):

38 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março i) O contrato dos autos não respeita a uma prestação de serviços qualquer, porque envolve a limitação voluntária de direito de personalidade, designadamente a autorização para uso da voz, que integra o núcleo do direito geral de personalidade, previsto no art. 70 do CC, constituindo manifestação do direito à palavra, constitucionalmente consagrado no art. 26/1 da Constituição da República (= CRP); ii) tal limitação pode ser revogada a todo o momento (art. 81/2 do CC), pelo que é errado e inconstitucional o juízo da sentença recorrida de que as gravações efetuadas no âmbito do contrato são propriedade da ré, conforme resulta do contrato. iii) Todos os contratos dos autos têm a duração de apenas um ano e por isso a limitação ao direito de personalidade não podia ultrapassar este prazo de duração: iv) os contratos e os factos provados nada dizem sobre o prazo de validade da utilização da voz; v) a renovação de direitos 100% por cada ano de utilização - é uma componente da retribuição que não foi prevista nem afastada no contrato; vi) os contratos não estipulam, nem se provou, qualquer cláusula ou acordo prévio que afastasse ou derrogasse os usos da profissão (facto 18 do probatório), segundo os quais a validade da utilização da voz é de 1 ano, e, findo esse prazo, há lugar ao pagamento integral das peças em causa, de 100% por cada ano, sendo obrigatória a autorização antecipada do locutor em causa; daí que os contratos tenham sido renovados anualmente; vii) Estando comprovado que a ré continuou a utilizar e a reutilizar as locuções e gravações efetuadas pela autora além da vigência do contrato, apesar de ter conhecimento da expressa oposição da autora, é evidente que a ré agiu ilicitamente, pelo que impende sobre a ré o dever de indemnizar a autora. viii) A controvérsia da lide nada tem a ver com direitos autorais, desde logo porque a autora não se arroga autora, não invoca criação inteletual nem está em causa qualquer obra, na aceção dos arts 1 e seguintes do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, pelo que a sentença não tem razão em relevar o facto de que quando a autora assinou o contrato com a ré acordou que a propriedade do direito de autor das obras criadas ao abrigo desse contrato ficasse propriedade da ré. ix) A indemnização não decorre das regras da responsabilidade civil extracontratual, mas do enriquecimento sem causa por intervenção (art. 473 do CC): verifica-se locupletamento indevido obtido pela ré, à custa do aproveitamento comercial das vantagens económicas decorrentes da utilização e exposição pública da voz da autora, no voice mail da rede BBB, sem qualquer contrapartida ou título legítimo, a partir de 05/09/2005 (data da cessação do contrato por mútuo acordo) ou pelo menos desde de 22/08/207 (data da oposição da autora), o que se traduz numa ingerência ilícita e injustificada nos direitos de personalidade da autora. x) A ré deve ser condenada a pagar à autora o valor correspondente à utilização e reutilização da voz da autora de que ilegitimamente beneficiou. Para efeitos do cálculo do enriquecimento e correspetiva indemnização, deverá ter-se em conta a matéria provada sobre os usos da profissão, de acordo com o art. 1158/2 do CC, bem como o valor da soma da retribuição anual acordada, em dinheiro e em espécie, perfazendo 8113,80 /ano. A ré contra-alegou, defendendo a improcedência do recurso, dizendo, em síntese, o seguinte: a) não existe qualquer ofensa a um direito de personalidade da autora, já que o que esta pretende é o reconhecimento de um direito com natureza patrimonial (regular e perpétuo); b) a autora consentiu a fixação da voz pelo que não há violação do seu direito de personalidade; c) aliás, ninguém sabe que é a voz da autora nas gravações em causa; d) o contrato celebrado pela autora não limita a sua capacidade de utilizar a sua voz, pelo que não é aplicável a possibilidade de revogação do art. 81/2 do CC; e) se estivesse em questão um filme publicitário onde a autora tivesse consentido na utilização da sua voz e imagem, a autora poderia interromper a sua utilização pela ré?; f ) o contrato encerra um consentimento vinculante, irrevogável unilateralmente (cita neste sentido Capelo de Sousa, O direito geral de personalidade, Coimbra, 1995, págs. 244, 410 e 220, nota 446), sob pena de incumprimento contratual (com direito de indemnização); g) as gravações de voz, que se distinguem da voz da autora, são propriedade da ré; h) a voz da autora não é objeto do contrato, o que é objeto é a gravação da voz; i) as gravações da voz não são obras, mas a proteção que a autora pretende é superior à que as obras teriam, pois que pretende uma remuneração adicional à remuneração prevista no contrato; j) não é aplicável o regime dos publicity rights porque os serviços prestados pela autora em momento algum tiveram como pressuposto a sua (hipotética) celebridade; k) as sucessivas renovações do contrato foram realizadas para permitir novas locuções e gravações; l) nada no contrato indicia que a utilização pela ré está limitada pela vigência do contrato; a clª 4ª indicia que a utilização não está sujeita a qualquer prazo; m) a referência aos usos não é relevante para o caso concreto porque existe contrato; n) não existe enriquecimento sem causa porque existe uma causa que é o contrato e porque o serviço prestado pela autora já foi remunerado. Questões que importa resolver: se, depois de findo o contrato celebrado entre ambas, a ré podia ter continuado a utilizar para os seus fins lucrativos as gravações de voz feitas no decurso do mesmo; e se se concluir que não o podia fazer, fica por saber quais as consequências desse aproveitamento. Factos provados: 1. A autora é atriz de teatro, cinema e televisão. 2. No exercício da sua profissão, a autora tem participado em diversos tra-

39 38 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações balhos de interpretação, representando, recitando e fazendo locuções de textos. 3. A ré é uma operadora de telefonia móvel, incluindo as redes de telemóvel B e BBB. 4. No dia 25/09/2000, por contrato escrito, a autora e a ré celebraram reciprocamente, pelo prazo de um ano, um contrato de prestação de serviços, pelo qual aquela se comprometia a prestar serviços de locução e gravação em ações de informação sobre os produtos/serviços BB / B. 5. Na cláusula 8º desse contrato foi estipulado que o presente contrato tem a duração de um ano. 6. Em execução do contrato, a autora fez diversas locuções e gravações que integram o acervo de voz difundido no voice mail da rede BBB. 7. Tais locuções e gravações consistiam na fixação em suporte áudio da leitura de algarismos e de diversas frases padronizadas, tais como frases para telemóvel, atendimento telefónico, spots para telefone e gravações de voice mail em geral. 8. Em contrapartida dos serviços previstos no contrato, foi estipulada uma retribuição anual em dinheiro no valor de $, pagável em três prestações, acrescida da oferta de chamadas ilimitadas para a rede B e de 100 minutos por mês para outras redes. 9. A componente da retribuição em oferta de chamadas tem, atualmente, o valor mensal de 51,15, a que corresponde uma retribuição anual em espécie, no valor de 613, O mesmo contrato foi renovado por iguais períodos de 1 ano, de Outubro de 2001 a Setembro de 2002, mediante o pagamento da remuneração anual de $; de Outubro de 2002 a Setembro de 2003, mediante o pagamento da remuneração anual de ; de Outubro de 2003 a Setembro de 2004, mediante o pagamento da remuneração anual de ; de Outubro de 2004 a Setembro de 2005, mediante o pagamento da remuneração anual de As renovações do contrato foram realizadas para permitir novas locuções e gravações. 12. No início de Setembro de 2005, foi comunicado pela ré à autora que deixara de existir interesse na renovação do contrato e neste contexto as partes decidiram reciprocamente cessar o contrato. 13. A relação contratual entre as partes extinguiu-se por mútuo acordo em 05/09/2005, data do último recibo verde passado pela autora, o qual foi enviado à ré por carta registada com aviso de receção. 14. Para além da cessação do contrato, a ré continuou a utilizar e a divulgar as locuções e gravações de voz efetuadas pela autora, constantes do acervo de voz do voice mail da rede BBB, o que fez e continua a fazer no âmbito da sua atividade comercial, com fins lucrativos, não pagando à autora qualquer contrapartida por essa utilização e divulgação. 15. Inconformada com esta situação, a autora enviou à ré carta registada, com aviso de receção de 22/08/2007 em que lhe comunicou que considerava aquela utilização abusiva e para no prazo máximo de 30 dias retirar os registos da sua voz do voice mail da rede BBB. 16. Por carta de 29/11/2007, a ré recusou o pedido da autora, com o fundamento que procedemos à análise cuidada de ambos os contratos de prestação de serviços acima referidos, tendo concluído que os mesmos, nomeadamente nas suas cláusulas terceira e quarta, legitimam a B a utilizar as locuções e gravações efetuadas nesse âmbito. 17. Apesar de ter conhecimento da expressa oposição da autora, a ré, até à presente data, continua a utilizar e a reutilizar as locuções e as gravações efetuadas por aquela. 18. De acordo com os usos da profissões, as locuções em que não exista uma negociação/contrato prévios têm o prazo de validade de um ano a partir da data da primeira exibição ou 15 dias após a gravação e, findo esse prazo, há lugar ao pagamento integral das peças em causa, de 100% por cada ano, de acordo com a tabela de locuções, sendo obrigatória a autorização antecipada do locutor em causa. Ao abrigo dos arts. 659/3 e 713/2, ambos do CPC, transcrevem-se ainda algumas das cláusulas do contrato em causa nos autos (a 1ª por ter interesse para a decisão das questões postas, as duas últimas por lhe serem referidas nos factos e nas alegações): Clª 2ª (Exclusividade temporária e parcial) A autora desde já se obriga a não prestar, a entidades direta [ou indiretamente] concorrentes da ré (telecomunicações e afins/móveis), e pelo período de duração do presente contrato (um ano), serviços de locução e gravação em ações de publicidade ou informação sobre [de] produtos/serviços [concorrentes] que envolvam a audição da sua voz e/ou visualização da sua imagem pelo público em geral. Clª 3ª (Locuções e gravações) 1. A forma e respetivo conteúdo a dar às ações em que intervenha a autora ao abrigo do presente contrato serão da exclusiva escolha e responsabilidade da ré. 2. A autora manter-se-á à disposição da ré, nos locais e datas por esta indicados, mediante planeamento prévio para efetuar as locuções / gravações que lhe forem solicitadas no âmbito do presente contrato. 3. A autora desde já se obriga a prestar, por um preço fixo mencionado na clª 5ª infra, até 10 horas de gravação por mês. 4. As horas de gravação mensais que, por qualquer motivo não sejam utilizadas, poderão sê-lo no(s) mês(es) seguinte(s), a critério da ré, nunca excedendo o termo do presente contrato. Clª. 4ª (Direitos de Autor) A titularidade do direito de autor relativo às obras eventualmente criadas ao abrigo do presente contrato pertence exclusivamente à ré. A construção da sentença é a seguinte: Dúvidas não existem, quer na doutrina, quer na jurisprudência, que o direito à voz integra o núcleo do direito geral da personalidade que tem acolhimento no art. 70 do CC e art. 26/1 da CRP. Tal como é referido no ac. do TRP de 12/11/2008, com o nº convencional JTRP , in ( ) Os direitos de personalidade são direitos absolutos, prevalecendo, por serem de espécie dominante, sobre os demais direitos, em caso de

40 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março conflito, nomeadamente sobre o direito de propriedade e o direito ao exercício de uma atividade comercial. Aqueles direitos (de personalidade) pela sua própria natureza, sobrelevam os direitos de conteúdo económico, social e cultural (P. Lima A. Varela, CC Anot, 4ª ed, pág. 104, Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, IV, págs , J. Gomes Canotilho, RLJ, 125, 538, acs. do STJ, BMJ, 406/623, 435/816, 450/403, CJ, Ano II, II/54, Ano III, I/55, Ano VI, II/76 e III/77)( ). Por outro lado, à responsabilidade por ofensas à personalidade é aplicável, em termos gerais, o disposto nos arts 483 e seguintes do CC (nesse sentido, vide ac. do TRL de 01/06/2006, [10554/2005-6] in e ac do TRP de 15/10/2007, com o nº convencional JTRP , in [ ] a conduta da ré ao utilizar as gravações já efetuadas não constituem qualquer conduta ilícita, pois está a utilizar as gravações efetuadas no âmbito do contrato e que são sua propriedade, conforme resulta desse mesmo contrato. Por outro lado, ao celebrar este contrato, a própria autora comprometeu-se a prestar um serviço em que utilizou a sua voz, dispondo assim desse seu direito. Estamos no âmbito contratual em que há coincidência entre a prestação a que a autora se obrigou e um seu direito de personalidade, neste caso, a utilização da sua voz. E como contrapartida dessa prestação, a autora foi remunerada. Também quando a autora assinou o contrato com a ré e acordou que a propriedade do direito de autor das obras que criadas ao abrigo desse mesmo contrato ficasse propriedade da ré, aceitou que o respetivo direito de personalidade fosse limitado, mediante uma contrapartida em dinheiro. Questão diferente seria a utilização da voz da autora em gravações que tivessem sido efetuadas fora do âmbito deste contrato, pois aí não haveria qualquer dúvida que [a ré] não poderia utilizar as mesmas sem que a tal utilização correspondesse uma remuneração e desde que obtivesse o consentimento da autora. Aí sim, serviria de referência a tabela de preços elaborada para este setor da comunicação e nos termos aí descritos. I - Do objeto do contrato da voz Sugere a ré que a questão se reduz ao facto de a autora querer mais dinheiro, querer receber uma remuneração perpétua ou ad eternum. Poderia dizer-se que, pelo contrário, a questão se reduz ao facto de a ré querer utilizar perpetuamente a voz da autora sem pagar mais nada A fundamentação da ré, seguida pela sentença, resume-se, no essencial, à afirmação de que, pagando por elas, ficou proprietária das gravações efetuadas pela autora durante a duração do contrato. Tal como se se tratasse de uma das modalidades dos contratos de prestação de serviço, a empreitada: aquilo que foi produzido pela autora passou a ser da ré, que poderia fazer do bem o que quisesse (arts e 1212, ambos do Código Civil). A autora chama a atenção para a particularidade do objeto do contrato: a sua voz, um bem da sua personalidade. Não é uma coisa que possa ser transmitida. II- não só a voz De resto, em relação a algumas das objeções postas pela ré, diga-se que não era só a voz da autora que estava em causa nos contratos. Note-se o teor da cláusula 2ª dos contratos: dela resulta que não está só em causa a voz da autora, porque, para além disso, a autora se obrigou a não prestar, a entidades direta [ou indiretamente] concorrentes da ré e pelo período de duração do presente contrato (um ano), serviços de locução e gravação em ações de publicidade ou informação sobre produtos/serviços concorrentes que envolvessem a audição da sua voz e/ou visualização da sua imagem pelo público em geral. Perante isto não pode deixar de se entender que a voz da autora não foi contratada só como voz e como uma qualquer voz, mas por ser uma voz que seria reconhecível como a voz de uma concreta pessoa, pessoa de cuja imagem a ré também pretendia ter o exclusivo. Dito de outro modo: no caso bem se pode admitir a ideia da imagem sonora de que fala Maria Dolores Palacios González, La cesión de derechos de imagem, AC (2004), págs (471), citada por David de Oliveira Festas (Do conteúdo patrimonial do direito à imagem. Contributo para um estudo do seu aproveitamento consentido e inter vivos, Coimbra Editora, 2009, pág. 50, nota 129, embora em discordância com a ideia da autora, que também será da jurisprudência do Tribunal Constitucional Espanhol, de ampliar o conceito de imagem de modo a abranger todos os atributos que permitam a identificação da pessoa). Como diz Francisco de P. Blasco Gascó, Catedrático de Derecho Civil Universitat de València: De hecho, alguna sentencia y el propio art. 7-6 LO 1/1982, enumera, junto con la imagen [ ], la voz y el nombre. Esto es así porque, al final, lo que se protege es la individualidad de cada una de las personas y dicha individualidad normalmente se corresponde con la imagen, pero también con la voz (como sucedía con el famoso y fallecido ator y cantante italo-americano, conocido precisamente como the voice ) Algunas cuestiones del derecho a la propia imagen (pág. 27, consultado em ALGUNAS%20CUESTIONES%20DEL%20 DERECHO%20A%20LA%20PROPIA%20 IMAGEN.pdf, a 27/02/2012). O que, diga-se, permitiria a aplicação do art. 79/1 do CC (referido abaixo) de forma direta e já não apenas por analogia. III - Da pretensão da autora Não está em causa, nestes autos, a utilização que a ré fez, durante o período do contrato, das gravações efetuadas pela autora durante esse período. A autora não põe em causa a licitude dessa utilização, nem quer mais dinheiro por essa utilização, nem diz que se verificou qualquer violação dos seus direitos durante esse período. O que está em causa é saber se a ré, depois de findo o contrato, pode continuar a utilizar aproveitandose para os seus fins lucrativos (facto 14) - as gravações da voz da autora, efetuadas durante o período do contrato.

41 40 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações IV- Da propriedade das gravações A ré, para concluir por essa possibilidade, defende que com o contrato adquiriu a propriedade dessas gravações e por isso pode fazer delas o que bem entender. E o mesmo defende a sentença recorrida. Com esta argumentação, por um lado, confunde-se o direito de propriedade das coisas que incorporaram a voz da autora os registos dessas, voz eventualmente em CD, com o direito ao aproveitamento económico da voz da autora. Se é verdade que a ré é proprietária daqueles suportes e pode fazer deles o que quer, já não é assim quanto ao aproveitamento económico do que neles foi fixado: a voz da gravação. Se alguém compra um CD com uma gravação sonora, pode-o ouvir quando quiser, ou pode-o deitar fora. Mas ninguém se lembraria de dizer que esse alguém pode (licitamente) reproduzir esse CD e vender os CD que obtiver com essa reprodução. Como lembra Paulo Mota Pinto, A limitação voluntária do direito à reserva sobre a intimidade da vida privada, em Estudos em Homenagem a Cunha Rodrigues, Coimbra Editora, vol. II, 2001, pág. 555, nota 60: [ ] não se deve confundir o direito (de personalidade) à imagem com os direitos incidentes sobre a sua corporização num determinado suporte (filme, negativo fotográfico, impressão ou suporte informático) [ ]. No mesmo sentido, veja-se David de Oliveira Festas, obra citada, nota 1258, pág Parafraseando esta nota, dir-se-ia que uma coisa é a voz, outra é a gravação da voz e ainda outra o suporte dessa gravação; objeto do direito à voz é a voz e a gravação da voz e não o suporte em si; o negócio que incida sobre o suporte não é um negócio sobre a voz nem sobre a gravação da voz. Tal como se um desportista celebra um contrato com uma sociedade nos termos do qual esta é autorizada a utilizar um seu retrato em cromos que serão colocados em cadernetas alusivas a determinados eventos desportivos (v. g. campeonatos), não se exige o consentimento do atleta para todo e qualquer ato de disposição sobre os cromos em que venha retratado (David de Oliveira Festas, obra citada, nota 994, pág. 276). A verdade, no entanto, é que os factos provados não permitem, seja de que modo for, concluir que a ré tenha adquirido a propriedade das gravações da voz da autora. Designadamente que o tenha feito por força da cláusula 4ª do contrato. V - Da cláusula 4ª do contrato Diz a ré que a construção da autora baralha direitos de personalidade, direitos de autor / conexos e publicity rights para sustentar um pedido que não tem qualquer sustentação legal. A verdade é que é a ré que, ao invocar a cláusula 4ª dos contratos, traz à liça a questão dos direitos de autor e da propriedade das gravações sem qualquer razão. A cláusula 4ª do contrato não tem nada a ver com as questões que os autos colocam, pois que apenas se reporta à eventualidade de virem a ser criadas, ao abrigo dos contratos, obras (no sentido de obras de direito de autor) e, para essa eventualidade, consigna-se que a titularidade do direito de autor relativo a essas obras pertencerá exclusivamente à ré. Como não está em causa a criação de qualquer obra, ou a titularidade de qualquer obra, a questão não se coloca. Mas a invocação desta cláusula serviu à ré para estabelecer a confusão com a questão da propriedade das gravações, levando a que a própria sentença se sirva do teor desta cláusula para falar, tal como a ré, na propriedade das gravações. Sem qualquer razão como se vê. Aliás, esta cláusula pode ser invocada em sentido contrário: a eventualidade da criação de obra, também revela a especialidade do objeto deste contrato de prestação de serviços. Dado o particular objeto deste contrato a imagem sonora da autora, era possível que da atividade da autora pudesse resultar uma obra VI - Do contrato não podia ter resultado a transmissão da propriedade da voz ou das gravações da voz: Dada a especial natureza do objeto do contrato, do consentimento para o aproveitamento económico da voz decorre [apenas] uma situação creditícia, independentemente de a autorização concedida ser exclusiva [ ] (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 364, ou conclusão 49, na pág. 431). A voz é um atributo ou bem de personalidade, como o disse a sentença e a ré o reconhece. Bem de personalidade que, desde logo, não é uma coisa (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 66: A literatura portuguesa viria, salvo raras exceções, a excluir os bens de personalidade do universo das coisas ; ver ainda págs. seguintes e especialmente pág. 72). Sendo um bem de personalidade e por isso também objeto de um direito fundamental (art. 26/1 da CRP) não pode ser transmitido, nem renunciado. Apenas pode ser limitado no seu exercício (art. 81/1 do CC) (neste sentido, Paulo Mota Pinto, A limitação, págs. 527 e segs, espec. pág. 527 e 554/555: não existindo uma verdadeira transmissão do direito, ou de faculdades jurídicas que o integram, para o beneficiário da autorização pois o consentimento não tem eficácia real translativa desse direito, o qual é, aliás, como começamos por referir, intransmissível ). Como diz David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 69, 71, 290 a 298, 352 a 364 e 411 (: devem considerar-se nulos os atos de renúncia ou de transmissão do direito à imagem por contrariedade à dignidade humana e aos princípios da ordem pública [art. 26 da CRP e 81/1]). Aliás, é esta intransmissibilidade do direito que levou a que o STJ, no famoso caso dos cromos da Panini considerasse que esta não tinha qualquer direito à imagem dos jogadores, ou melhor, na lógica da argumentação do STJ, ao retrato deles (págs. 343 a 350, da obra de David Oliveira Festas; o acórdão é de 08/11/2001 e está publicado na CJ.STJ.2001.III, págs. 113 a 115 e na base de dados do ITIJ sob o nº. 01B2853; o ac. do TRL de 18/12/2007 (7379/2007-2) discute, com um voto de vencido não publicado, a questão da aplicação da fundamentação deste acórdão, mas no caso deste último acórdão [da relação de Lisboa] os autores eram os próprios jogadores/titulares do direito à imagem).

42 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março Vii - Do conteúdo patrimonial do direito à voz Para além de um bem de personalidade, a voz, tal como a imagem, é objeto de um direito de personalidade que tem conteúdo patrimonial {David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 55, 60/61, nota 167, págs. 71, 74, 75, nota 215, págs 85 a 139 e 416 a 421); embora este autor se esteja a referir ao direito à imagem, logo adverte (nota 10, pág. 20) que as reflexões expostas relativamente ao direito à imagem podem ser, em determinados aspetos, transpostas para outros direitos de personalidade (nome e voz) e antes tinha reconhecido a natureza semelhante destes bens de personalidade (vejam-se também as págs. 116, 203 e 204). Este mesmo autor, mais à frente, pág. 62, refere que não é possível separar o aproveitamento económico da imagem dos valores pessoais associados à imagem, e em nota, 170, completa: trata-se de um aspeto central e que tem sido defendido por diversos autores relativamente ao direito à imagem, mas também a outros direitos de personalidade patrimoniais [sendo que estes são sempre exemplificados apenas com a imagem, voz e nome, que são os direitos de personalidade que dizem respeito à identificação da pessoa na comunidade, tendo um conteúdo patrimonial elevado: págs. 77 e 116]}. Reconhecendo o conteúdo patrimonial de alguns direitos de personalidade, veja-se: Paulo Mota Pinto, A limitação, págs. 551 e segs; e também Interesse contratual negativo e interesse contratual positivo, Coimbra Editora, Dez2008, págs a 1603, especialmente pág. 1595, nota 4584: Cumpre notar, aliás, que se verifica um crescente reconhecimento de uma dimensão patrimonial em muitos destes direitos de personalidade [ ] em correspondência com uma prática social corrente. E não cabe, a nosso ver, argumentar contra esta comercialização com a natureza pessoal dos interesses protegidos pelos direitos de personalidade, pois tal não exclui uma concomitante vertente patrimonial. Antes pelo contrário [ ].). Menezes Leitão, O enriquecimento sem causa no direito civil, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1996, págs. 748/749: não pode deixar de se considerar que se verificou uma evolução das conceções da sociedade no sentido da função económica dos direitos de personalidade e do valor representado pela sua comercialização [...] Não parece [ ] que se justifique negar a aplicação do enriquecimento sem causa nestes domínios, uma vez que esta pode aparecer como o único meio adequado de reagir contra a intervenção nesses direitos de personalidade, que se reconduza a um seu aproveitamento económico por parte do seu interventor. Júlio Gomes, O conceito de enriquecimento, o enriquecimento forçado e os vários paradigmas do enriquecimento sem causa, Porto, 1998, pág. 220: Na sociedade moderna, parece evidente que certos direitos de personalidade, por exemplo, o direito à imagem, têm conteúdo económico. Para além destes autores, David de Oliveira Festas refere ainda (obra citada, págs. 125 a 127, notas 410 a 412 e págs. 416 a 421): Morais de Carvalho, Merchandising de marcas, págs. 57 e segs e 66 segs; Cláudia Trabuco, Dos contratos relativos ao direito à imagem, págs. 458: aspetos patrimoniais e não patrimoniais que o compõem ; Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil português, I, tomo III, págs. 97/98 [também 106], de quem terá sido tirada a expressão direito de personalidade patrimonial ; e Carlos Olavo, Propriedade industrial, vol. I, pág. 235: a relevância patrimonial não é [ ] incompatível com os direitos de personalidade. Viii - Do exclusividade do conteúdo patrimonial Conteúdo patrimonial que pertence em exclusivo ao seu titular. É o que decorre do art. 79/1 do CC (David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 54, 61, 115, 124 a 137 e 289 a 291), norma que, embora se refira apenas a um dos direitos de personalidade patrimoniais (imagem), é aplicável, por analogia, a todos eles (ou seja, também à voz e nome). Assim, David de Oliveira Festas, obra citada, nota 223 da pág. 78, admite expressamente a aplicação analógica do art. 79 (ver também págs. 85 e 128). O artigo 79 só fala do direito à imagem porque, à data da sua elaboração, os problemas do tipo que estão em causa nestes autos só se colocavam quanto ao direito à imagem e não porque entre a voz e a imagem exista uma diferença substancial que justificasse que a solução normativa em causa não se aplicasse àquela. David de Oliveira Festas (obra citada, pág. 204) lembra que, mesmo nos EUA, o âmbito de protecção do right of publicity referido pela ré apenas será estendido à voz por um acórdão de Veja-se também Rabindranath V. A. Capelo de Sousa, O direito geral de personalidade, Coimbra Editora, 1995, nota 562 da pág. 247, que diz: A voz é não apenas um dos atributos extrínsecos de qualquer pessoa, que a identifica e individualiza, mas também um elemento intrínseco da personalidade, uma qualidade físicoespiritual, dotada de criatividade e de originalidade. E logo a seguir acrescenta, num evidente paralelo com o que consta do art. 79/1 do CC: Assim, ninguém pode, sem motivo justificado, fixar, difundir ou dispor da voz de outrem, cantada ou falada (ver também nota 818, págs. 324/325). No mesmo sentido, veja-se Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I, tomo III, 2007, 2ª edição, pág. 236: a palavra humana também pode ser gravada e reproduzida. Ela tem caraterísticas que permitem reportá-la a uma determinada pessoa e, apenas, a ela [ ] A utilização da gravação pode [ ] afrontar direitos patrimoniais legítimos. [ ] Nenhuma dificuldade existe em extrapolar, com base no art. 70 ou, se necessário, do art. 79, por analogia, um direito à palavra E ainda Maria do Rosário Palma Ramalho, O direito à imagem do desportista, notas breves, publicado nos Estudos em homenagem no centenário do nascimento do Prof. Doutor Paulo Cunha, Almedina, 2012, pág. 792, nota 3, cita esta passagem da obra de Menezes Cordeiro, numa clara aceitação da ideia [da aplicação, pelo menos por analogia, das regras do art. 79]. No Código Civil de Macau, que tem sido objeto de tratamento frequente pela doutrina portuguesa (veja-se por exemplo Paulo Mota Pinto, Os Direitos de

43 42 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações Personalidade no Código Civil de Macau, BFDUC 2000, págs. 205 a 250, especialmente págs. 246 a 248), o art. 80/5 diz que o disposto relativamente ao direito à imagem é aplicável, com as necessárias adaptações, à captação, reprodução e divulgação da palavra de uma pessoa (citado através da nota 223 da obra de Pedro de Oliveira Festas). Por sua vez, o art. 7/2e) do Código da Publicidade, aprovado pelo Dec.-Lei 330/90, de 23/10 (já com 13 alterações, de que o sítio da PGD de Lisboa dá conta), proíbe, nomeadamente, a publicidade que utilize, sem autorização da própria, a imagem ou as palavras de alguma pessoa. IX - Da situação creditícia resultante do contrato Assim, dada a natureza de bem de personalidade intransmissível, com um conteúdo patrimonial pertença exclusiva do seu titular, do contrato em causa não pode ter resultado a transmissão do direito à voz, mas apenas um consentimento para o aproveitamento económico, pela ré, do direito à voz da autora. Esse consentimento, através do contrato, traduz-se na limitação do exercício do direito à voz, limitação prevista no art. 81/1 do CC. Ou seja, a limitação ao exercício do direito à imagem [no caso, à voz] e o seu aproveitamento económico são efetuados através de um instrumento jusprivatista vocacionado para a negociação relativa a bens intransmissíveis e irrenunciáveis: o consentimento (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 411). Dito de outra perspetiva, tendo em vista o que é dito na 1ª parte da conclusão d) das contra-alegações da ré, qualquer disposição relativa ao retrato [no caso: à voz] de uma pessoa surge, efetivamente, como uma limitação ao direito à imagem [no caso: à voz]. O art. 81 será, assim, aplicável (Menezes Cordeiro, obra citada, pág. 238] X - Necessidade de o consentimento ter um âmbito estritamente delimitado Por isso, num contrato que o tenha por objeto, a concessão de poderes (através do consentimento vinculante, que a ré refere através de Capelo de Sousa, mas que virá de Orlando de Carvalho, Teoria Geral de Direito Civil, Sumários desenvolvidos, Coimbra 1981, pág. 183, Paulo Mota Pinto, A limitação, págs. 537/539, nota 52, e págs. 551/553, ou em Interesse contratual negativo e interesse contratual positivo, Coimbra Editora, Dez2008, págs a 1603, em que já discute a crítica desta classificação na obra de David de Oliveira Festas, págs. 323 a 325 e nota 1312, págs. 374/375, e nota 1346, págs. 385/386) para o aproveitamento económico da voz tem de ser delimitada rigorosamente, designadamente através de limites temporais e do fim para que a concessão foi feita Como diz David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 289 a 298 e 318 a 328, especialmente págs. 326/327: Como princípio geral, pode dar-se por assente que o objeto do consentimento, considerado nas suas diferentes perspetivas, deve ser determinado ou ser, pelo menos, determinável (art. 280/1). Parece-nos inadmissível um consentimento ilimitado, equivalente, em termos práticos, a uma renúncia ao direito à imagem.. Como exemplos, veja-se o que este autor escreve mais à frente (nota 1092, pág. 307): qualquer negócio jurídico que tenha por objeto o aproveitamento económico da imagem de um recémnascido que contenha uma obrigação que o vincule depois da maioridade (e mesmo durante um largo período de tempo), deve ter-se por nulo por ofensa à ordem pública ou aos bons costumes (arts. 81/1 e 280/2). Pense-se nomeadamente num negócio jurídico nos termos do qual os pais acordem que a imagem do seu filho de um ano estará pelo período de 16 anos associada à comercialização de uma determinada marca de equipamento desportivo. Um contrato em que essa determinação temporal não constasse, ou não pudesse ser feita, seria nulo (arts. 81/1 e 280/1, ambos do CC). Assim, Paulo Mota Pinto, A limitação, pág. 546, julga que o acordo ou o consentimento deve ter um âmbito estritamente delimitado, isto é, referido apenas a certos factos, delimitáveis material, temporalmente e espacialmente ). Ou, dito de outro modo, um contrato que se traduzisse no direito de a ré utilizar economicamente a voz da autora, perpetuamente, seria o equivalente à renúncia, parcial, da autora, ao mesmo direito, e por isso nulo (David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 320/321 e 326; este autor admite um negócio sem termo, desde que esteja salvaguardada a possibilidade de denúncia a todo o tempo, para qualquer uma das partes [nos termos gerais que valem para qualquer negócio jurídico de duração indeterminada] nota 1146, pág. 326 note-se que não é o caso dos autos, em que o contrato tinha termo e de qualquer modo foi entretanto revogado por mútuo acordo). XI - A determinação resulta ainda da finalidade da utilização. David de Oliveira Festas (obra citada, pág. 327, nota 1151), referindo-se à finalidade da utilização, diz: trata-se de um aspeto particularmente importante. O consentimento está associado a um determinado fim, e a utilização económica do retrato para um fim diverso daquele que (expressa ou tacitamente) resulta do consentimento do titular configura um ato ilícito e inadmissível. Neste contexto são diversos os autores germânicos que defendem, com bons resultados, uma aplicação analógica da teoria oriunda do direito de autor da Zweckübertragung, no sentido de que o titular do direito só dispõe da sua imagem na medida em que tal seja exigido pela finalidade do contrato que lhe subjaz ou no qual se enquadra. No caso paralelo das fotografias, tem-se entendido, corretamente, que o consentimento prestado para um dado fim não pode ser utilizado para outros fins. Se A consente em posar numa sessão fotográfica para a ilustração da capa de um álbum, esse consentimento não pode ser utilizado para a divulgação da imagem do A em cartazes com outros fins. É o caso tratado no ac. do TRL de 28/09/2004 (1086/ da base de dados do ITIJ), citado por David de Oliveira Festas, obra citada, nota 1152 da pág O mesmo vale para o consentimento contido num contrato. Vale para os fins desse contrato e não para nenhuns outros e enquanto o mesmo vigorar.

44 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março Xii - Aquilo que a ré não pode ter adquirido pelo contrato Serviu isto tudo para estabelecer o seguinte: o consentimento constante do contrato em causa nos autos nunca poderia ser um consentimento para a utilização perpétua ou ad eternum de que fala a ré. Assim, conclui-se que, por um lado, a ré não pode ter adquirido a propriedade da gravação da voz da autora, e, por outro, também não poderia ter adquirido um direito creditício ao aproveitamento económico da gravação da voz da autora para todo o sempre. Aliás, estas duas argumentações da ré tenho a propriedade da gravação e tenho autorização para a utilizar perpetuamente, que não são apresentadas como subsidiárias, são contraditórias: quem tem a propriedade de uma coisa não precisa de autorização para a usar. Um proprietário não diz que pode utilizar as suas coisas porque tem consentimento de alguém Xiii - O right of publicity e o direito à imagem ou à voz É aqui relevante a diferença entre o right of publicity invocado pela ré e o direito à imagem ou voz. Enquanto no direito americano, o right of publicity pode ser transmitido e por isso se adquire um property right, no direito de matriz continental o direito à imagem ou à voz não pode ser transmitido e por isso não se adquire qualquer direito de propriedade sobre a imagem ou voz. Assim, se nos EUA se pode dizer que o adquirente do retrato da Broke Shields pode aproveitá-lo como e quando quiser (como se decidiu no caso Shields v. Gross), em Portugal a retratada poderia revogar o consentimento prestado, para além de que a concessão de poderes sobre o retrato teria de ter sido delimitada e só vigoraria no período de duração do contrato (veja-se sobre isto, as págs 217 a 234 da obra citada de David de Oliveira Festas, de onde foi retirada a ideia da construção, sem que com isto se queira dizer que este autor concorde com esta construção). XIV - Da cessação do contrato E, por tudo isto, os poderes que a ré recebeu da autora através do contrato, que se traduzem numa situação creditícia, não podem ter subsistido à cessação do contrato (factos 12 e 13). Um consentimento vinculante prestado num contrato que subsistisse depois deste ter sido revogado por mútuo acordo corresponderia afinal à transmissão do direito ao aproveitamento da voz, o que já se viu não ser possível. E que, aliás, por ser perpétuo ou ad eternum, como é caraterizado pela ré, seria nulo ainda por indeterminação temporal. XV - Do que a ré obteve com o contrato De qualquer modo, os factos provados apontam no sentido de que o aproveitamento económico das gravações da autora apenas poderia ocorrer durante o período de validade do contrato. O contrato dos autos deve ser interpretado nos termos das regras gerais de qualquer outro contrato (arts. 236 a 238 do CC; David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 325/326: a extensão do consentimento para o aproveitamento económico da imagem (designadamente os poderes dele resultantes) deve ser aferida interpretando-se, nos termos gerais (arts. 236 e segs), a declaração de consentimento e pág. 296: o consentimento para o aproveitamento da imagem (arts. 79 e 81) surge, em regra, como um verdadeiro e próprio negócio jurídico ). No mesmo sentido, Paulo Mota Pinto, A limitação, pág. 537: julgamos que a autorização para a limitação voluntária do direito à reserva, emitida no confronto de outrem, deve ser considerada um negócio jurídico, seja quando integrada num verdadeiro contrato de autorização [ ], seja como negócio jurídico unilateral (previsto justamente no art. 81) (ver também pág. 539). Ora, estamos perante um contrato, oneroso, que concedeu à ré poderes para se aproveitar economicamente de um direito cujo exclusivo de aproveitamento está destinado ao seu titular e que não pode ser transmitido para outrem. Por isso, se nesse contrato se diz que o presente contrato tem a duração de um ano, não há qualquer razão para entender que esse prazo vale só para a obrigação de uma das partes, em vez de se entender que vale para todo o contrato, como o diz expressamente, ou seja, para todas as obrigações. É esse o sentido que um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, tiraria das declarações negociais emitidas (art. 236/1 do CC). E se houvesse alguma dúvida, era esse o sentido que conduziria ao maior equilíbrio das prestações (art. 237 do CC), pois que de outro modo a ré teria adquirido, para todo o sempre, um direito de aproveitamento económico de que só tinha pago o aproveitamento inicial. XVI - Do ónus da prova Para além disso, o ónus da prova dos factos constitutivos do direito de a ré continuar a aproveitar economicamente a voz da autora cabia à ré (art. 342/1 do CC). Como diz Paulo Mota Pinto, A Limitação, pág. 539, nota 28: [ ] O ónus da prova da existência de um consentimento ou acordo, quer este seja concebido como causa de justificação ou como limitação voluntária do direito, compete ao respetivo beneficiário e não ao titular do direito [ ]. Assim, não era à autora que cabia provar os factos tendentes a demonstrar que o consentimento só vigorava aliás, natural e logicamente, como já se disse durante o período de vigência do contrato, mas era à ré que cabia demonstrar o contrário, isto é, que a titular do exclusivo lhe tinha concedido os poderes para sempre, ad eternum, perpetuamente e que apesar de o contrato ter sido revogado por mútuo acordo, tais poderes subsistiam. Ou seja, teria que ser a ré a alegar e a provar que do contrato resultava o direito de, findo o mesmo, a ré continuar a aproveitar economicamente as gravações feitas pela autora. O que a ré não fez, como aliás resulta do teor das suas próprias contra-alegações: dizer-se que nada indicia que a utilização estivesse limitada pela vigência do contrato, é o mesmo que reconhecer que não se provou que a utilização não estava limitada pelo contrato, pois que, caso contrário, se diria que estava provado e não se falaria em indícios.

45 44 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações Não o tendo feito, teria que invocar um outro título para poder continuar a aproveitar a voz da autora o outro tinha cessado o que a ré não fez. XVii - Em suma, poder-se-ia desde já concluir que a ré não provou ter poderes para, findo o contrato que lhos dava, continuar a aproveitar economicamente as gravações da voz da autora. No entanto, vejam-se ainda outras objecções da ré: Dos publicity rights É também a ré, e não a autora, a trazer à liça a questão dos publicity rights. O right of publicity é um modo de ver as questões do direito ao aproveitamento económico dos bens de personalidade no Direito dos Estados Unidos da América: [ ] configura um tort autónomo destinado a proteger uma pessoa do aproveitamento económico não consentido de indícios da sua identidade (personalidade) (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 150). Note-se que estes indícios de identidade englobam todas as formas de identificação da pessoa, nomeadamente coisas, e não apenas bens de personalidade de matriz continental, como a imagem, nome ou voz nota 547 da pág. 166) Ou seja, o right of publicity não é uma figura do Direito dos EUA que se possa dizer, como o faz a ré, que só existe no nosso país no regime do contrato de trabalho do praticante desportivo (art. 10 da Lei 28/98, de 26/07), mas sim um modelo (aliás considerado insatisfatório) de tutela dos valores patrimoniais dos direitos de personalidade (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 427, conclusões 23 e 24), que tem um modelo alternativo no direito de matriz continental, baseado nos direitos à imagem, voz e nome, com lugar próprios nos arts. 79 a 81 do CC. Seja como for Diz a ré que não é aplicável o regime dos publicity rights porque os serviços prestados pela autora em momento algum tiveram como pressuposto a sua (hipotética) celebridade. Diga-se desde logo que a transcrição da cláusula 2ª dos contratos e o que já se disse acima quanto a ela (parte II) de algum modo logo sugere que não é assim (isto é, quanto à alegada inexistência deste pressuposto). De qualquer modo, está muito longo de ser verdade que os publicity rights tenham como pressuposto a celebridade do seu titular. David de Oliveira Festas, obra citada, págs. 86, nota 256, 89, nota 263, demonstra que é o contrário o que se entende nos EUA quanto a tal questão: o aproveitamento económico de direitos de personalidade não se limita a pessoas com notoriedade pública ou figuras públicas ou celebridades ou a um determinado grupo de pessoas ou classe social; e especialmente nas págs. 190 a 195, que termina referindo que o 46, comment b, do Restatement (Third) of Unfair Competition, considera que tanto as figuras públicas como as pessoas sem notoriedade pública podem intentar uma ação com base em lesão do seu right of publicity). Por outro lado, relativamente ao direito civil português, não há ninguém ou não se conhece ninguém que defenda que o conteúdo patrimonial dos direitos de personalidade dependa da celebridade do seu titular (vejam-se, por exemplo, os dois autores citados na nota 256 da pág. 86). XViii - Da recognoscibilidade Diz a ré que ninguém sabe que é a voz da autora nas gravações em causa. Trata-se, desde logo, de um facto que não consta dos factos provados De qualquer modo e parafraseando David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 242, poderia dizer-se que a recognoscibilidade é um dos componentes da fixação da voz enquanto objeto da proteção patrimonial. E esse elemento tem sido exigido para que seja concedida proteção do direito à imagem (ou da voz, no caso) (também no right of publicity págs. 197/198). Mas essa recognosciblidade tem apenas a ver com a suscetibilidade de identificação da pessoa através da imagem (no caso, da voz) por pessoas que conheçam o titular, nomeadamente por familiares (págs. 246 a 250: O possível reconhecimento pelas pessoas do círculo íntimo é quanto basta para que a personalidade da pessoa e a sua identidade estejam em causa). Para além disso, e quanto ainda a esta objeção, vale ainda o que se disse acima na parte II. XIX - Da (ir)revogablidade do consentimento A posição de Capelo de Sousa quanto à irrevogabilidade do consentimento não tem, no caso, interesse, pois que acaba por não estar em causa a revogação unilateral de qualquer consentimento. A posição assumida neste acórdão é que o consentimento deixou de existir com a revogação, por mútuo acordo, do contrato. XX - Outras objeções da ré A pergunta formulada pela ré em e) esquece duas coisas: primeiro, que o alcance do consentimento depende do seu conteúdo e, segundo, que no caso dos autos não se trata de interromper um contrato em vigor ou um consentimento que se tenha provado vigorar para além do contrato. O que consta em f) esquece, de novo, que não se trata de a autora estar a revogar um consentimento prestado, mas sim de a ré estar a fazer um aproveitamento económico da voz da autora, depois de findo o contrato, sem provar ter consentimento para o efeito. O que consta do facto 11 ( as sucessivas renovações do contrato foram realizadas para permitir novas locuções e gravações ), referido pela ré em k), não pode implicar o contrário das soluções encontradas, desde logo porque nele não se diz que tenha sido esse o único fim (note-se que a ré alegava ainda: e não para garantir a vigência de um consentimento, sendo que esta parte não foi dada como provada, nem se acrescentou apenas ou só ao dado como provado, sem que a ré tenha interposto recurso da decisão de facto), nem, por outro lado, se sabe se as gravações utilizadas dizem respeito a gravações dos anteriores contratos e não do último (e tendo sido do último, a questão já não se punha porque este contrato já não foi renovado). De resto, mesmo que se tivesse

46 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março provado tudo o que a ré alegava, o facto não passaria de uma interpretação subjetiva dos fins das partes, que não se poderia sobrepor à correta aplicação da lei aos restantes factos provados. Com as duas afirmações feitas (no art. 40 da contestação), a ré tentava resumir a posição das partes nos autos e pretendia que se optasse por uma delas. Ou seja, aquelas duas afirmações representavam uma conclusão que se pretendia obter logo na decisão da matéria de facto. Ora, como matéria conclusiva, a mesma teria de se ter por não escrita [ o questionário não pode incluir um quesito que a priori contenha a resolução da questão concreta do direito que é objeto da ação, limitando-lhe ou traçando-lhe o destino. Formulado ele, a respetiva resposta não pode deixar de ser tida por não escrita art. 646/3 do CPC, aplicado por analogia. (ac. RL, de 28/05/1987, CJ, 1987, III, pág. 99, citado por Abílio Neto em CPC Anotado, Ediforum, 16ª ed, pág. 819]. Acrescenta o acórdão: [ A]través da resposta direta ao quesito em causa estava achada a solução definitiva do problema que opõe autor e réu [ ] Porque é um juízo que há-de fluir de um somatório de factos, constituindo, assim, matéria conclusiva, não pode ser levado ao questionário [ ]. XXI - Do enriquecimento sem causa Tendo-se concluído que a ré não demonstrou que tivesse, depois de findo o contrato, o direito de aproveitar economicamente as gravações efetuadas pela autora durante a vigência do contrato, ficam por decidir quais as consequências de tal aproveitamento. Se estivesse em causa a ofensa ilícita, culposa e danosa dos direitos de personalidade da autora, e principalmente dos valores pessoais de tais direitos, tal daria lugar à responsabilidade aquiliana (arts. 483 do CC). Mas no caso não é isso que está em causa. O que se discute é antes, como se disse, as consequências do aproveitamento económico pela ré, depois de findo o contrato, das gravações efetuadas pela autora durante a vigência do contrato. Já se viu que, por força do art. 79/1 do CC, o direito ao aproveitamento económico das gravações da voz da autora é um direito exclusivo do seu titular. Pode-se ver nisto a destinação do conteúdo patrimonial desse direito à autora (David de Oliveira Festas, obra citada, pág. 117 e notas 374 a 376 e págs ; Menezes Leitão, obra citada, págs. 741 e segs, especialmente págs. 743 e 749: protecção da personalidade contra intervenções não autorizadas no direito à imagem, que redundam em lucro para o interventor, incluindo a expressão oral; Paulo Mota Pinto, O direito à reserva, BFDUC 1993, pág. 582: restará ao titular do direito, nestes casos, a via da pretensão restitutória fundada no enriquecimento sem causa, nos termos do art. 473 do CC, já que o locupletamento não deixará nestes casos de ser à custa de outrem ; Menezes Cordeiro, obra citada, pág. 235: Tais lucros deveriam reverter para o próprio retratado: seja para evitar o enriquecimento alheio, seja porque o Direito positivo em jogo reconhece tal faculdade lucrativa ao dono originário da imagem ; Leite Campos, A subsidiariedade da Obrigação de restituir o enriquecimento, págs , nota 2, reconhecendo a existência de um conteúdo de destinação, citado através de David de Oliveira Festas, nota 412 da pág. 126). A apropriação desse conteúdo por outrem traduz-se num enriquecimento sem causa por parte desse outrem à custa do titular do direito. Assim, a autora tem o direito à restituição desse enriquecimento por parte da ré, ao abrigo da cláusula geral do nº. 1 do art. 473/1 do CC. XXii - Qual a medida dessa indemnização/restituição? David de Oliveira Festas lembra que na jurisprudência francesa é atribuída uma indemnização em função da remuneração habitual para aquelas situações (obra citada, nota, 350 da pág. 110). Menezes Leitão, obra citada, pág. 744, diz que no caso Paul Dahlke o tribunal alemão considerou que o enriquecimento seria determinado pela remuneração habitual da utilização da imagem no caso e mais à frente (750/751) diz que face ao art. 479/1 do CC a não restituição não pode abranger mais do que o valor que representa o aproveitamento do direito da personalidade, não havendo lugar à restituição de todos os ganhos obtidos pelo interventor. A boa ou má fé do interventor é valorada depois para outras questões que no caso não têm importância. Em termos mais genéricos, Júlio Gomes, obra citada, pág. 227, diz que quem, como nós, entenda que o objeto da obrigação de restituir consiste antes no enriquecimento real (sendo o enriquecimento patrimonial apenas um limite que se destina a proteger o enriquecido de boa fé) hesitará em trilhar esta via [a de eliminar todo o enriquecimento patrimonial que se regista na esfera do enriquecido e, portanto, também todo o lucro causalmente resultante de uma sua ingerência na esfera jurídica alheia]. O objeto da obrigação de restituir fundado no enriquecimento sem causa é, para nós, sempre o valor da coisa, do bem, do serviço, da competência alheia, indevidamente recebido ou apropriado e não as consequências, os reflexos do que se obteve no património do enriquecido. No casos destes autos, ficou provado que (facto 18), de acordo com os usos da profissões, as locuções em que não exista uma negociação/contrato prévios têm o prazo de validade de um ano a partir da data da primeira exibição ou 15 dias após a gravação e findo esse prazo há lugar ao pagamento integral das peças em causa, de 100% por cada ano, de acordo com a tabela de locuções, sendo obrigatória a autorização antecipada do locutor em causa. Tudo isto conduz à restituição nos termos pedidos pela autora a remuneração habitual. Note-se que a autora não pediu corretamente qualquer lucro que a ré tivesse obtido com as gravações da sua voz. Aquilo que a autora vinha recebendo em cada ano era (factos 8 a 9) a retribuição de 7500, acrescida da oferta de chamadas ilimitadas para a rede B e de 100 minutos por mês para outras redes, com o valor anual de 613,80.

47 46 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações O contrato e com ele os poderes concedidos à ré - cessou em 05/09/2005 (facto 13) XXiii - Da sanção pecuniária compulsória Por força do art. 829-A do CPC, 1. Nas obrigações de prestação de facto infungível, positivo ou negativo, [ ], o tribunal deve, a requerimento do credor, condenar o devedor ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada infração, conforme for mais conveniente às circunstâncias do caso. 2. A sanção pecuniária compulsória prevista no número anterior será fixada segundo critérios de razoabilidade, sem prejuízo da indemnização a que houver lugar. 3. O montante da sanção pecuniária compulsória destina-se, em partes iguais, ao credor e ao Estado. O valor anual da licença da autora era de 8113,80, o que corresponde ao valor diário de 22,23, a que a autora continuará a ter direito enquanto a ré se continuar a aproveitar das gravações da sua voz. Assim, julga-se suficiente que, para além disso, a ré seja condenada a pagar, por cada dia em que se mantiver tal aproveitamento ou a possibilidade dele, metade desse valor, destinado em partes iguais à autora e ao Estado. Isto sem prejuízo dos juros de 5% previstos automaticamente no nº. 4 do art. 829-A. XXIV - Juros Como a obrigação de restituição decorre de um aproveitamento ilícito do direito da autora, mas a obrigação da ré só se liquida com este acórdão, a mora só existe a partir da citação da ré para a ação (arts. 804 e 805/3 do CC). Desde tal data são devidos juros de mora legais (arts. 806 e 559 do CC), de 4% ao ano até eventual alteração legal (Portaria 291/2003, de 8/4).( ) Pelo exposto, julga-se procedente o recurso e condena-se a ré a: a) a retirar do voice mail da rede BBB quaisquer gravações e locuções contendo registos de voz da autora, bem como a não utilizar, reproduzir ou divulgar as gravações e locuções contendo os registos de voz da autora, seja qual for o suporte, meio ou fim em causa; b) a pagar-lhe 8113,80 por cada ano a contar de 05/09/2005 e o proporcional por ano incompleto, até que seja feita a retirada referida em a), acrescidos dos juros anuais de 4% vencidos a partir de 21/04/2009 e vincendos a partir deste acórdão; c) e a pagar-lhe uma sanção pecuniária compulsória, de 11 por dia, por cada dia de atraso no cumprimento da condenação referida em a), destinados em partes iguais à autora e ao Estado. Custas pela ré quer na ação quer no recurso. Lisboa, 21 de Março de Os Desembargadores, Pedro Martins Sérgio Silva Almeida Lúcia Sousa ANOTAÇÃO Questão decidenda: O Tribunal da Relação de Lisboa, no dia 21 de Março de 2012, procurou dar solução definitiva às seguintes questões: - saber se depois de findo o contrato celebrado entre as partes, a ré podia ter continuado a utilizar para os seus fins lucrativos as gravações de voz da autora feitas no decurso do mesmo; e se se concluir que não o podia fazer, saber quais as consequências desse aproveitamento. Solução jurídica: No caso em apreço não está em causa a utilização que a ré fez, durante o período do contrato, das gravações efetuadas pela autora durante esse período. A autora não põe em causa a licitude dessa utilização, nem quer mais dinheiro por essa utilização, nem diz que se verificou qualquer violação dos seus direitos durante esse período. O que está em causa é saber se a ré, depois de findo o contrato, pode continuar a utilizar aproveitando-se para os seus fins lucrativos as gravações da voz da autora, efetuadas durante o período do contrato. Assim, dada a natureza de bem de personalidade intransmissível, com um conteúdo patrimonial pertença exclusiva do seu titular, do contrato em causa não pode ter resultado a transmissão do direito à voz, mas apenas um consentimento para o aproveitamento económico, pela ré, do direito à voz da autora. Esse consentimento, através do contrato, traduz-se na limitação do exercício do direito à voz, limitação prevista no art. 81/1 do C. Civil. Ou seja, a limitação ao exercício do direito à imagem, no caso, à voz, e o seu aproveitamento económico são efetuados através de um instrumento jusprivatista vocacionado para a negociação relativa a bens intransmissíveis e irrenunciáveis: o consentimento. Por isso, num contrato que o tenha por objeto a concessão de poderes, ou em interesse contratual negativo e interesse contratual positivo, para o aproveitamento económico da voz tem de ser delimitada rigorosamente, designadamente através de limites temporais e do fim para que a concessão foi feita Ou, um contrato que se traduzisse no direito de a ré utilizar economicamente a voz da autora, perpetuamente, seria o equivalente à renúncia, parcial, da autora, ao mesmo direito, e por isso nulo. O consentimento constante do contrato em causa nos autos, nunca poderia ser um consentimento para a utilização perpétua ou ad eternum de que fala a ré. Assim, conclui-se que, por um lado, a ré não pode ter adquirido a propriedade da gravação da voz da autora, e, por outro, também não poderia ter adquirido um direito creditício ao aproveitamento económico

48 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março da gravação da voz da autora para todo o sempre. E, por tudo isto, os poderes que a ré recebeu da autora através do contrato, que se traduzem numa situação creditícia, não podem ter subsistido à cessação do contrato. Um consentimento vinculante prestado num contrato que subsistisse depois deste ter sido revogado por mútuo acordo, corresponderia afinal à transmissão do direito ao aproveitamento da voz, o que se viu não ser possível. E que, aliás, por ser perpétuo ou ad eternum, como é caraterizado pela ré, seria nulo ainda por indeterminação temporal. De qualquer modo, os factos provados apontam no sentido de que o aproveitamento económico das gravações da autora apenas poderia ocorrer durante o período de validade do contrato. Estamos, pois, perante um contrato, oneroso, que concedeu à ré poderes para se aproveitar economicamente de um direito cujo exclusivo de aproveitamento está destinado ao seu titular e que não pode ser transmitido para outrem. Por isso, se nesse contrato se diz que o presente contrato tem a duração de um ano, não há qualquer razão para entender que esse prazo vale só para a obrigação de uma das partes, em vez de se entender que vale para todo o contrato, como o diz expressamente, ou seja, para todas as obrigações. É esse o sentido que um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, tiraria das declarações negociais emitidas (art. 236/1 do CCivil). Ou seja, teria que ser a ré a alegar e a provar que do contrato resultava o direito de, findo o mesmo, a ré continuar a aproveitar economicamente as gravações feitas pela autora. O que a ré não fez. Não o tendo feito, teria que invocar um outro título para poder continuar a aproveitar a voz da autora o outro tinha cessado o que a ré não fez. Tendo-se concluído que a ré não demonstrou que tivesse, depois de findo o contrato, o direito de aproveitar economicamente as gravações efetuadas pela autora durante a vigência do contrato, fica por decidir quais as consequências de tal aproveitamento. Se estivesse em causa a ofensa ilícita, culposa e danosa dos direitos de personalidade da autora, e principalmente dos valores pessoais de tais direitos, tal daria lugar à responsabilidade aquiliana (arts. 483 do CCivil). A apropriação desse conteúdo por outrem traduz-se num enriquecimento sem causa por parte desse outrem à custa do titular do direito. Assim, a autora tem o direito à restituição desse enriquecimento por parte da ré, ao abrigo da cláusula geral do nº. 1 do art. 473/1 do CCivil. Pelo exposto, entendeu a Relação de Lisboa em julgar o recurso procedente. Decisão do Acórdão: A decisão tomada pelos Juízes Desembargadores acabou por ser sumariada, no Acórdão, do seguinte modo: Findo um contrato que continha o consentimento da autora para a utilização comercial das gravações da sua voz bem de personalidade patrimonial que tinha feito para a ré, esta não pode continuar a fazer o aproveitamento económico dessas gravações, sob pena de enriquecimento injustificado no valor igual do da retribuição habitual. O QUE DIZ A LEI Código Civil Artigo 81.º Limitação voluntária dos direitos de personalidade 1- Toda a limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade é nula, se for contrária aos princípios da ordem pública. 2- A limitação voluntária quando legal, é sempre revogável, ainda que com obrigação de indemnizar os prejuízos causados às legítimas expetativas da outra parte. Artigo 236.º Sentido normal da declaração 1- A declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante, salvo se este não puder razoavelmente contar com ele. 2- Sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de acordo com ela que vale a declaração emitida. Artigo 473.º Princípio geral 1- Aquele que, sem causa justificativa, enriquecer à custa de outrem é obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupletou. 2- A obrigação de restituir, por enriquecimento sem causa, tem de modo especial por objeto o que for indevidamente recebido, ou o que for recebido por virtude de uma causa que deixou de existir ou em vista de um efeito que não se verificou. Artigo 483.º Princípio geral 1- Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação. 2- Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei.

49 48 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS - Prestações a cargo do Fundo de Garantia dos Alimentos a Menores ASSUNto: Pagamento das prestações a cargo do Fundo Referências: Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de Fonte: site do TRP Sumário: A prestação a cargo do Fundo de Garantia dos Alimentos Devidos a Menores é devida apenas a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão que a fixou. Acordam no Tribunal da Relação do Porto O Ministério Público requereu a regulação das responsabilidades parentais do menor B, filho de C e D. Na conferência de pais (art. 175º da OTM), realizada em , foi fixado, ao abrigo do disposto no artigo 157º da OTM, um regime provisório. Na parte que aos presentes autos interessa, foi decidido: que o menor residirá com a irmã E, a cuja guarda fica confiado, que fica incumbida de zelar e acautelar pelo respetivo bem estar, a ela cabendo o exercício das responsabilidades parentais relativas aos atos da vida corrente do jovem. ; que o Pai e a Mãe pagarão ao jovem, a título de alimentos, a quantia de 100,00 (cem Euros) mensais cada um, actualizável anualmente em 2,5%, a entregar à irmã E, até ao dia 8 (oito) de cada mês. Em E informou nos autos que os pais do menor não contribuíam com qualquer prestação para o sustento do B. Notificados para se pronunciarem sobre o alegado incumprimento, os progenitores nada disseram. Após informação da GNR sobre as condições sócio económicas daqueles, em foi proferido despacho (fls. 63/71, cuja parte decisória se reproduz: Pelo exposto, julgo procedente o presente incidente de incumprimento e declaro verificado o incumprimento pelos requeridos C e D das prestações de alimentos supra referidas. Em consequência, ao abrigo do preceituado nos artigos 157º e 189.º, n.º 1, alínea c) da OTM e 3º, nº 2 da Lei nº 75/98, de 19 de novembro, determino a título provisório que: a) A Segurança Social proceda ao desconto no subsídio de desemprego do requerido C da quantia de 1.100,00 (mil e cem euros), relativa a prestações vencidas, em 18 (dezoito) prestações mensais e sucessivas de 61,11 (sessenta e um euros e onze cêntimos) cada, assim como das prestações de alimentos vincendas no valor de 100,00 (cem euros) mensais, devendo entregar as referidas quantias diretamente à irmã do jovem B, E, mediante depósito em conta bancária ou transferência em conta bancária a indicar por esta, até ao dia 8 de cada mês, devendo a referida prestação ser atualizada anualmente à taxa de 2,5%; b) O Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores assegure o pagamento da prestação mensal de alimentos atribuída ao jovem, em substituição da requerida D, no montante de 100,00 (cem euros) mensais, assim como das prestações vencidas no valor de 1.100,00 (mil e cem euros), até ao início do efetivo cumprimento por parte da mesma, devendo entregar as referidas quantias diretamente à irmã do jovem B, E, mediante depósito em conta bancária ou transferência em conta bancária a indicar por esta, até ao dia 8 de cada mês, devendo a referida prestação ser atualizada anualmente à taxa de 2,5%. O Ministério Público e o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social interpuseram recurso. O Ministério Público finalizava as alegações com as seguintes conclusões: 1. Recorre-se da sentença proferida na parte em que a mesma condenou o Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores a assegurar o pagamento da prestação mensal de alimentos devida ao menor B em substituição da sua progenitora D, no montante das prestações vencidas (no valor de 1.100,00) até ao início do efetivo cumprimento por parte daquela (alínea b) da decisão proferida). 2. Na parte em que a decisão recorrida condena o Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores no pagamento das prestações alimentares vincendas em substituição da progenitora devedora, a mesma não merece qualquer censura e deverá, assim, manter-se. 3. A decisão recorrida, contudo, quando condena o Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores no pagamento das prestações vencidas (no valor de 1.100,00), entra frontalmente em oposição com o Acórdão Uniformizador de Jurisprudência nº 12/2009, publicado no Diário da Republica nº 150, 1.ª Serie, de Ora, a decisão recorrida violou frontalmente a jurisprudência uniforme, na esteira do entendimento firmando no Acórdão do Tribunal Constitucional nº 54/2011, de 23 de fevereiro. 5. Todavia, mantém-se ainda plenamente em vigor a jurisprudência fixada no Acórdão Uniformizador de Jurisprudência nº 12/2009, pelo que a decisão proferida deverá ser revogada na parte em que condenou o Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores no pagamento das prestações vencidas em

50 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março substituição da requerida D, no valor de 1.100,00, O I.G.F.S.S, IP, rematava as alegações com as seguintes conclusões: lº A douta sentença recorrida interpretou e aplicou de forma errónea, ao caso sub judice, o art.º 1º da Lei 75/98 de 19/11 e o art 4º nºs 4 e 5 do Dec-Lei n 164/99 de 13 de maio; 2 Com efeito, o entendimento do douto Tribunal a quo, de que no montante a suportar pelo FGADM devem ser abrangidas as prestações já vencidas e não pagas pelo progenitor (judicialmente obrigado a prestar alimentos) não tem, salvo o devido respeito, suporte legal; 3º O Dec-Lei n 164/99 de 13 de maio é taxativo quanto ao início da responsabilidade do Fundo pelo pagamento das prestações 4 No n 5 do art 4 do citado diploma, é explicitamente estipulado que o centro regional de segurança social inicia o pagamento das prestações, por conta do Fundo, no mês seguinte ao da notificação da decisão do Tribunal, nada sendo dito quanto às prestações em dívida pelo obrigado a prestar alimentos; 5 Existe uma delimitação temporal expressa que estabelece o momento a partir do qual o Fundo deve prestar alimentos ao menor necessitado 6 Não foi intenção do legislador dos supramencionados diplomais legais, impor ao Estado, o pagamento do débito acumulado pelo obrigado a prestar alimentos; 7 Tendo presente o preceituado no art 9º do Código Civil, ressalta ter sido intenção do legislador, expressamente consagrada, ficar a cargo do Estado, apenas o pagamento de uma nova prestação de alimentos a fixar pelo Tribunal dentro de determinados parâmetros art 3 n 3 e art 4 n 1 do Dec-Lei 164/99 de 13/5 e art 2 da Lei 75/98 de 19/11; 8 A prestação que recai sobre o Estado é, pois, uma prestação autónoma, que não visa substituir definitivamente a obrigação de alimentos do devedor, mas, antes, proporcionar aos menores a satisfação de uma necessidade atual de alimentos, que pode ser diversa da que determinou a primitiva prestação; 9º FGADM não garante o pagamento da prestação de alimentos não satisfeita pela pessoa judicialmente obrigada a prestá-los, antes assegurando, face à verificação cumulativa de vários requisitos, o pagamento de uma prestação a forfait de um montante por regra equivalente - ou menor - ao que fora judicialmente fixado. 10º Só ao devedor originário é possível exigir o pagamento das prestações já fixadas, como decorre do disposto no art 2006 do CC, constatação que é reforçada pelo disposto no art 7 do Dec-Lei 164/99 ao estabelecer que a obrigação principal se mantém, mesmo que reembolso haja a favor do Fundo. 11º Não há qualquer semelhança entre a razão de ser da prestação de alimentos fixada ao abrigo das disposições do Código Civil e a fixada no âmbito do Fundo. A primeira consubstancia a forma de concretização de um dos deveres em que se desdobra o exercício do poder paternal; a última visa assegurar, no desenvolvimento da política social do Estado, a proteção do menor, proporcionando-lhe as necessárias condições de subsistência; 11º Enquanto o art 2006 do Código Civil está intimamente ligado ao vínculo familiar - art 2009 do CC e daí que quando a ação é proposta, já os alimentos seriam devidos, por um princípio de Direito Natural, o Dec-lei 164/99 cria uma obrigação nova, imposta a uma entidade que antes da sentença., não tinha qualquer obrigação de os prestar. 12 A obrigação de prestação de alimentos pelo FGADM (autónoma da prestação alimentícia decorrente do poder paternal) não decorre automaticamente da Lei, sendo necessária uma decisão judicial que a imponha, ou seja, até essa decisão não existe qualquer obrigação. 13º Se é diferente a natureza das duas prestações, diferente é também o momento a partir do qual se começam a vencer: 14º A prestação de alimentos, visto haver norma substantiva que o prevê, começa a vencer-se a partir da propositura da ação que fixou o quantitativo a satisfazer pelos progenitores do menor, 15º já a prestação a satisfazer pelo FGADM, tendo em conta o regime geral aplicável à generalidade das ações, começa a vencer-se após o trânsito em julgado da decisão judicial que fixa o seu montante. 16 Muito bem decidiu o douto Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra agravo n 1386/01 de no sentido de o Estado não responder pelo débito acumulado do obrigado a alimentos, tratando-se de prestações de diversa natureza. No mesmo sentido, entre outros, os Acórdãos citados no ponto 63 das presentes alegações. 17º Não colhe o argumento de que o menor não pode ficar à mercê das contingências do processo e seu arrastamento pelos Tribunais, porquanto, como é do conhecimento geral, no entretanto, e enquanto o processo se encontra pendente do Tribunal, a verdade é que alguém tem de alimentar o menor, sob pena de este não sobreviver. 18 O pagamento das prestações relativas ao período anterior não visaria propriamente satisfazer as necessidades presentes de alimentos a menor, constituindo, antes, um crédito de quem, na ausência do requerido, custeou unilateralmente (ao longo do anos) a satisfação dessas necessidades. 19 O Estado substituiu-se ao devedor, não para pagar as prestações em dívida por este, mas p assegurar os alimentos de que o menor necessita para que este não volte a ter frio, não volte a ter fome (e não, para evitar que ele tivesse frio ou fome, pois tal é impossível. Já passou. É tarde de mais). 20 Daí a necessidade de produção de prova sobre os elementos constantes da lei n 75/98 de 19 de novembro e do Dec-Lei n 164/99 de 13 de maio, que o Tribunal deve considerar na fixação da prestação a efetuar pelo estado, prestação essa que não é necessariamente equivalente à que estava em dívida pelo progenitor. 21 A intervenção do FGADM está dependente de pressupostos cumulativos acima elencados tendo a natureza de prestação social, não podendo recorrer- se à analogia com o art 2006 do

51 50 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações CC, por não se tratar de caso omisso, o que legitima arredar o disposto no art 10º do CC. 22 Se tivesse havido o propósito de estabelecer uma qualquer responsabilidade do Estado por prestações vencidas e não pagas pelo obrigado, o legislador não teria deixado de a prever e até de cominar a modalidade e prazo de pagamento, tal como, aliás, o fez no citado art 4 n 5 do DL n 164/ O FGADM somente deverá ser responsabilizado pelo pagamento das prestações fixadas e devidas a partir da prolação da sentença judicial, e não pelo pagamento do débito acumulado dos obrigados. 24 O que se entende facilmente se atentarmos na finalidade da criação do regime instituído pelos supra citados diplomas legais, que é o de assegurar (garantir) os alimentos devidos a menores e não o de substituir a obrigação alimentícia que recai sobre o obrigado a alimentos. 25 A obrigação do FGADM só nasce com a decisão judicial que verifica os pressupostos da sua intervenção, ordena o pagamento e determina o seu montante, diferentemente da obrigação dos pais em prover o sustento dos filhos, que decorre do próprio vínculo da filiação 26 O FGADM não tem intervenção na lide incidental de incumprimento, não lhe sendo assegurado qualquer contraditório, não podendo ser condenado no pagamento de prestações antes vencidas, sob pena de grosseira violação dos princípios firmados nos art s 3º e 3 A do CPC, 2 e 20 da CRP vide Acórdão do Tribunal Constitucional n s 249/97, 259/2000 e 209/ Por fim, e de acordo com o recente Acórdão de Uniformização de Jurisprudência do STJ, sempre se dirá que A obrigação de prestação de alimentos a menor, assegurada pelo FGADM, em substituição do devedor, nos termos previstos nos artigos 1º da Lei n 75/98, de 19 de novembro, e 2 e 4 n 5 do Dec-Lei n 164/99 de 13 de maio, só nasce com s decisão que julgue o incidente de incumprimento do devedor originário e a respetiva exigibilidade só ocorre no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal, não abrangendo quaisquer prestações anteriores - Acórdão do STJ n 12/2009 de 5 de agosto. 28 De salientar que a douta sentença recorrida refere, que de acordo com a jurisprudência fixada no Acórdão Uniformizador de Jurisprudência de 12/2009 de 07/07/2009, o FGADM deve proceder ao pagamento das prestações de alimentos apenas desde o mês subsequente à data em que foi proferida a decisão de incumprimento, não abrangendo quaisquer prestações anteriores. 29 Mas, de seguida invoca o Acórdão n 54/2011 de 23 de fevereiro do Tribunal Constitucional. 30 Ora, a recusa da aplicação da doutrina uniformizada deverá surgir apenas em casos excecionais, em que surjam circunstâncias supervenientes e capazes de imporem uma nova interpretação, justificando a sua revisibilidade Ac. Trib. Rel. Guimarães de 06/03/ º Por último, dir-se-á que o Acórdão n 400/2011 proferido em Plenário pelo Tribunal Constitucional (vide in constitucional.pt/ tc//tc/acordaos/ html), pôs termo à questão controversa da constitucionalidade da norma constante do art. ºart.º 4 n 5 do Dec-Lei n 164/99 de 13 de maio, ao decidir não julgar inconstitucional a referida norma, pelo que inútil será qualquer discussão sobre a matéria. Termos em que deve ser considerado procedente o presente recurso de apelação e, consequentemente, revogada a douta sentença recorrida, devendo ser substituída por outra decisão, na qual o FGADM do IGFSS seja obrigado a efetuar o pagamento das prestação apenas a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão do Tribunal, pois, só assim se fará INTEIRA JUSTIÇA Os factos Na decisão recorrida foram considerados provados os seguintes factos: 1) O jovem B nasceu a 16 de novembro de 1994, em, Marco de Canaveses; 2) É filho dos requeridos C e D, nascidos em e , respetivamente, e casados entre si; 3) Devido aos conflitos existentes entre os seus progenitores, o jovem passou a viver na companhia da sua irmã E e do seu marido F, em finais do ano de 2007; 4) Por decisão provisória deste Tribunal, datada de , foi atribuída a guarda e cuidados do jovem B à sua irmã E ; 5) Foi fixado um regime de visitas livre; 6) Pela mesma decisão foi fixada uma pensão de alimentos de 100,00 (cem euros) mensais a ser paga ao jovem por cada um dos progenitores, actualizável anualmente em 2,5%, a entregar à irmã E, até ao dia 8 (oito) de cada mês; 7) Até à presente data, os requeridos não efetuaram o pagamento da pensão de alimentos a que estavam obrigados; 8) Em o vencimento líquido de F, cônjuge de E, era de 626,00 (seiscentos e vinte e seis euros); 9) A E auferia 395,00 (trezentos e noventa e cinco euros), a título de subsídio de desemprego; 10) O agregado familiar de E tinha encargos mensais no valor de 623,74 (seiscentos e vinte e três euros e setenta e quatro cêntimos); 11) Os requeridos C e D não têm quaisquer bens imóveis; 12) O requerido possui um ciclomotor, marca, matrícula..-ds..; 13) A requerida é doméstica, não possuindo quaisquer rendimentos, e o requerido está desempregado, auferindo um subsídio de desemprego no valor diário de 13,97 (treze euros e noventa e sete cêntimos), cerca de 415,00 (quatrocentos e quinze euros) por mês; 14) Os requeridos vivem em casa arrendada da qual pagam 100,00 (cem) euros a título de renda. Com interesse para a decisão, encontra-se ainda provado (Relatório Social, fls. 50/51): 15) O menor B frequenta a Escola O direito Questão a decidir: Desde quando são devidas as prestações a pagar pelo FGADM. A mãe do menor não pagou à filha

52 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março as importâncias a que se encontrava obrigado, a título de alimentos. Devido à situação de carência, não foi possível obter o cumprimento coercivo da obrigação, com recurso aos meios previstos no artigo 189º da OTM. E a execução também não se mostra viável, atenta essa situação de carência. Para o caso importa atender no teor do artigo 1º da Lei nº 75/98, de 19/11: Quando a pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos a menor residente em território nacional não satisfizer as quantias em dívida pelas formas previstas no artigo 189º do Decreto-Lei nº 314/78, de 27 de outubro, e o alimentado não tenha rendimento líquido superior ao salário mínimo nacional nem beneficie nessa medida de rendimentos de outrem a cuja guarda se encontra, o Estado assegura as prestações previstas na presente lei até ao início do efetivo cumprimento da obrigação. O menor não tem qualquer rendimento e a capitação de rendimentos do agregado onde o menor se insere é inferior ao salário mínimo nacional. Estão assim reunidos os requisitos para que o FGADM assegure o pagamento das prestações de alimentos a cargo da mãe do menor (arts. 1º da Lei nº 75/98, de e 2º, nº 1 e 2, e 3º, nº 1 e 2, do DL nº 164/99, de 13-5). Mas, coloca-se a questão de saber a partir de quando são devidas as prestações alimentares a cargo daquele Fundo. O nº 5 do artigo 4º do DL 164/99 estabelece: O centro regional de segurança social inicia o pagamento das prestações, por conta do Fundo, no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal. Esta norma não responde à suscitada questão, uma vez que apenas indica quando se iniciam os pagamentos; quando a dúvida é saber que pagamentos, ou seja, desde quando são devidas as prestações. A dúvida foi solucionada através do acórdão do STJ, de , que uniformizou a jurisprudência nos seguintes termos: A obrigação de prestação de alimentos a menor, assegurada pelo FGADM, em substituição do devedor, nos termos previstos nos artigos 1.º, da Lei n.º 75/98, de 19 de novembro, e 2.º e 4.º, n.º 5, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13 de maio, só nasce com a decisão que julgue o incidente de incumprimento do devedor originário e a respetiva exigibilidade só ocorre no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal, não abrangendo quaisquer prestações anteriores. (Diário da República, 1.ª série, de 5 de agosto de 2009). Na decisão recorrida foi recusada a aplicação daquela jurisprudência, com fundamento em inconstitucionalidade, invocando-se para tanto o acórdão do Tribunal Constitucional, nº 54/2011, de 23 de fevereiro, no qual se decidiu Julgar inconstitucional, por violação do disposto nos artigos 69.º, n.º 1, e 63.º, n.º 1 e 3, da Constituição, a norma constante do artigo 4.º, n.º 5, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13 de maio, na interpretação de que a obrigação do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores assegurar as pensões de alimentos a menor judicialmente fixadas, em substituição do devedor, só se constitui com a decisão do tribunal que determine o montante da prestação a pagar por este Fundo, não sendo exigível o pagamento de prestações respeitantes a períodos anteriores a essa decisão. Aquele juízo de inconstitucionalidade mereceu críticas do Prof. Remédio Marques, que considerou que é temerário ver neste regime um labéu de inconstitucionalidade material por violação do preceituado nos artigos 13º, 63º, nº 1 e 3, e 69º, nº 1, todos da Constituição (Cadernos de Direito Privado, nº 34, pp. 26/36). Posteriormente, no acórdão nº 400/2011, de , em plenário, decidiu o Tribunal Constitucional, não julgar inconstitucional a norma constante do artigo 4.º, n.º 5, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13 de maio, na interpretação de que a obrigação de o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores assegurar as prestações a menor judicialmente fixadas, em substituição do devedor de alimentos, só se constitui com a decisão do tribunal que determine o montante da prestação a pagar por este Fundo, não sendo exigível o pagamento de prestações respeitantes a períodos anteriores a essa decisão. Sintetizam-se os argumentos utilizados neste acórdão, transcrevendo alguns excertos do mesmo: Em primeiro lugar, deve notar-se que a retroação da condenação, impondo ao Fundo o pagamento das prestações correspondentes ao período decorrido entre a formulação do pedido e a decisão final, não seria meio idóneo para satisfazer, por si mesma, as necessidades de manutenção do menor no momento a que tais prestações se referem (nemo alitur in praeteritum). As necessidades vitais do menor tiveram de ser satisfeitas com outros recursos, normalmente mediante esforço acrescido do progenitor (ou da pessoa) que o tem à sua guarda, porventura com privações na satisfação das necessidades próprias. Mas, a cobertura, mediante as prestações do Fundo, do tempo entretanto passado só pode servir como mecanismo jurídico de compensação, não como meio efetivo de acorrer àquelas necessidades próprias do menor no período a que respeitam cuja insatisfação pode tornar-se incompatível com a dignidade da pessoa humana. Se o menor, em consequência do incumprimento do dever de alimentos por parte do progenitor, sofreu privações dessa natureza já não será a retroação das prestações a cargo do Fundo que pode remediá-las. ( ) afigura-se que a possibilidade de fixação provisória de uma prestação pública é um meio adequado um dos meios adequados, não competindo ao Tribunal ir mais além para ocorrer em tempo real a necessidades imperiosas, àquelas necessidades cuja não satisfação pelo incumprimento do progenitor do dever de alimentos pode pôr em risco ou, pelo menos, comprometer o seu desenvolvimento integral. Mais do que uma medida que cubra a posteriori todo o tempo de carência, a adoção de medidas provisórias, contemporâneas da necessidade de sustento permitirá ocorrer num curto espaço de tempo a situações de especial urgência, proporcionando-

53 52 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações lhes remédio ou alívio à medida que elas surgem. É certo que uma medida dessa natureza não cobre todo o tempo do incumprimento por parte do progenitor, nem se aplica a todas as situações de incumprimento do obrigado a alimentos. Aliás, mesmo com a retroação das prestações ao momento da formulação do pedido de condenação do Fundo também haveria um período que, em regra, ficaria a descoberto, por não haver coincidência entre o vencimento da prestação não satisfeita e a dedução do incidente de condenação do Fundo. Mas não é possível conferir à incumbência constitucional de proteção da infância por parte do Estado uma tal extensão de cobertura temporal, cuja exigência parece pressupor uma lógica de intervenção substitutiva das responsabilidades parentais que se não retira por interpretação do artigo 69.º, n.º 1 e 68.º, nº 1 da Constituição. A Constituição não investe o Estado na posição jurídica de garante das concretas obrigações alimentares dos progenitores. O Estado não intervém como prestador por causa do incumprimento da obrigação alimentar judicialmente fixada, mas por causa da situação de carência para que esse incumprimento contribui. Daí a condição de recursos de que a prestação social em causa está dependente. Em segundo lugar, a circunstância de a fixação provisória da prestação pública poder ser precedida de diligências de prova não é de molde a comprometer-lhe intoleravelmente a aptidão para, em termos de razoável praticabilidade e normal atuação dos diversos protagonistas, permitir resposta pública temporalmente adequada às situações carecidas de providências urgentes. As diligências de prova devem ser reduzidas ao mínimo compatível com um juízo prima facie acerca dos pressupostos da decretação provisória da prestação, devendo o n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 75/98 ser aplicado com a flexibilidade inerente ao facto de prover a uma situação de urgência qualificada num processo que já tem natureza urgente (princípio da adequação formal). Aliás, uma das entidades legitimadas para pedir a atribuição da prestação pública a favor do menor é o Ministério Público, magistratura sobre a qual impende o dever funcional de impulsionar a decisão provisória quando tal se justifique, por essa via cumprindo também o Estado (por instrumentos legislativos e organizacionais) os deveres de proteção que lhe incumbem. O eventual não uso ou a aplicação prática deficiente dos meios processuais existentes não justifica o recurso sucedâneo ao juízo de inconstitucionalidade da norma agora em causa. Tanto basta para julgar improcedente a crítica de que o diferimento da prestação (definitiva) a cargo do Fundo para o momento em que é proferida a decisão judicial, não sendo devidas prestações correspondentes ao período decorrido entre o momento da formulação do pedido e essa decisão, priva o menor de proteção temporalmente adequada por parte do Estado, violando o disposto no n.º 1 do artigo 69.º e nos n.ºs 1 e 3 do artigo 63.º da Constituição. * Estes argumentos apresentam-se com solidez que se afigura bastante para afastar o juízo de inconstitucionalidade sobre a interpretação fixada pelo acórdão uniformizador. No caso dos autos, a obrigação do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores apenas é devida a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão que a fixou. Decisão Pelos fundamentos expostos, na procedência da apelação revoga-se a decisão recorrida, na parte em que ordenou o pagamento pelo FGADM das prestações vencidas e decide-se que a prestação mensal de 100 a cargo daquele Fundo é devida a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão, não abrangendo qualquer prestação anterior. Não são devidas custas Porto, Os Desembargadores, José Bernardino de Carvalho Eduardo Manuel B. Martins Rodrigues Pires Márcia Portela ANOTAÇÃO Questão decidenda: O Tribunal da Relação do Porto, no dia 28 de março de 2012, procurou dar solução definitiva à seguinte questão: - saber desde quando são devidas as prestações a pagar pelo FGADM. Solução jurídica: No caso dos autos, a mãe do menor não pagou as importâncias a que se encontrava obrigada, a título de alimentos. Não foi possível obter o cumprimento coercivo da obrigação, com recurso aos meios previstos no artigo 189º da OTM., sendo que não se mostrou a execução viável, atenta essa situação de carência. Dispõe o artigo 1º da Lei nº 75/98, de 19/11 que: Quando a pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos a menor residente em território nacional não satisfizer as quantias em dívida pelas formas previstas no artigo 189º do Decreto-Lei nº 314/78, de 27 de outubro, e o alimentado não tenha rendimento líquido superior ao salário mínimo nacional nem beneficie nessa medida de rendimentos de outrem a cuja guarda se encontra, o Estado assegura as prestações previstas na presente lei até ao início do efetivo cumprimento da obrigação. Ora, no caso concreto, o menor não tem qualquer rendimento e a capitação de rendimentos do agregado onde o menor se insere é inferior ao salário mínimo nacional. Estavam, por

54 jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - março isso, reunidos os requisitos para que o FGADM deva assegurar o pagamento das prestações de alimentos a cargo da mãe do menor (arts. 1º da Lei nº 75/98, de e 2º, nº 1 e 2, e 3º, nº 1 e 2, do DL nº 164/99, de 13.5). Todavia, a questão é saber a partir de quando são devidas as prestações alimentares a cargo daquele Fundo. O nº 5 do artigo 4º do DL 164/99 determina que: O centro regional de segurança social inicia o pagamento das prestações, por conta do Fundo, no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal. Esta norma apenas indica quando se iniciam os pagamentos, sendo que a dúvida no caso em apreço é saber que pagamentos, ou seja, desde quando são devidas as prestações. O Tribunal da Relação do Porto, neste caso, acolheu os fundamentos do Tribunal Constitucional, de acordo com os quais a obrigação de o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores assegurar as prestações a menor judicialmente fixadas, em substituição do devedor de alimentos, só se constitui com a decisão do tribunal que determine o montante da prestação a pagar por este Fundo, não sendo exigível o pagamento de prestações respeitantes a períodos anteriores a essa decisão. Aproveitamos para transcrever alguns excertos desse acórdão, também acolhidos pela Relação do Porto: Em primeiro lugar, deve notarse que a retroação da condenação, impondo ao Fundo o pagamento das prestações correspondentes ao período decorrido entre a formulação do pedido e a decisão final, não seria meio idóneo para satisfazer, por si mesma, as necessidades de manutenção do menor no momento a que tais prestações se referem (nemo alitur in praeteritum). As necessidades vitais do menor tiveram de ser satisfeitas com outros recursos, normalmente mediante esforço acrescido do progenitor (ou da pessoa) que o tem à sua guarda, porventura com privações na satisfação das necessidades próprias. Mas, a cobertura, mediante as prestações do Fundo, do tempo entretanto passado só pode servir como mecanismo jurídico de compensação, não como meio efetivo de acorrer àquelas necessidades próprias do menor no período a que respeitam cuja insatisfação pode tornar-se incompatível com a dignidade da pessoa humana. Se o menor, em consequência do incumprimento do dever de alimentos por parte do progenitor, sofreu privações dessa natureza já não será a retroação das prestações a cargo do Fundo que pode remediá-las. ( ) afigura-se que a possibilidade de fixação provisória de uma prestação pública é um meio adequado um dos meios adequados, não competindo ao Tribunal ir mais além para ocorrer em tempo real a necessidades imperiosas, àquelas necessidades cuja não satisfação pelo incumprimento do progenitor do dever de alimentos pode pôr em risco ou, pelo menos, comprometer o seu desenvolvimento integral. Mais do que uma medida que cubra a posteriori todo o tempo de carência, a adoção de medidas provisórias, contemporâneas da necessidade de sustento permitirá ocorrer num curto espaço de tempo a situações de especial urgência, proporcionandolhes remédio ou alívio à medida que elas surgem. É certo que uma medida dessa natureza não cobre todo o tempo do incumprimento por parte do progenitor, nem se aplica a todas as situações de incumprimento do obrigado a alimentos. Aliás, mesmo com a retroação das prestações ao momento da formulação do pedido de condenação do Fundo também haveria um período que, em regra, ficaria a descoberto, por não haver coincidência entre o vencimento da prestação não satisfeita e a dedução do incidente de condenação do Fundo. Mas não é possível conferir à incumbência constitucional de proteção da infância por parte do Estado uma tal extensão de cobertura temporal, cuja exigência parece pressupor uma lógica de intervenção substitutiva das responsabilidades parentais que se não retira por interpretação do artigo 69.º, n.º 1 e 68.º, nº 1 da Constituição. A Constituição não investe o Estado na posição jurídica de garante das concretas obrigações alimentares dos progenitores. O Estado não intervém como prestador por causa do incumprimento da obrigação alimentar judicialmente fixada, mas por causa da situação de carência para que esse incumprimento contribui. Daí a condição de recursos de que a prestação social em causa está dependente. Em segundo lugar, a circunstância de a fixação provisória da prestação pública poder ser precedida de diligências de prova não é de molde a comprometer-lhe intoleravelmente a aptidão para, em termos de razoável praticabilidade e normal atuação dos diversos protagonistas, permitir resposta pública temporalmente adequada às situações carecidas de providências urgentes. As diligências de prova devem ser reduzidas ao mínimo compatível com um juízo prima facie acerca dos pressupostos da decretação provisória da prestação, devendo o n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 75/98 ser aplicado com a flexibilidade inerente ao facto de prover a uma situação de urgência qualificada num processo que já tem natureza urgente (princípio da adequação formal). Aliás, uma das entidades legitimadas para pedir a atribuição da prestação pública a favor do menor é o Ministério Público, magistratura sobre a qual impende o dever funcional de impulsionar a decisão provisória quando tal se justifique, por essa via cumprindo também o Estado (por instrumentos legislativos e organizacionais) os deveres de proteção

55 54 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência do STJ e das Relações que lhe incumbem. O eventual não uso ou a aplicação prática deficiente dos meios processuais existentes não justifica o recurso sucedâneo ao juízo de inconstitucionalidade da norma agora em causa. Tanto basta para julgar improcedente a crítica de que o diferimento da prestação (definitiva) a cargo do Fundo para o momento em que é proferida a decisão judicial, não sendo devidas prestações correspondentes ao período decorrido entre o momento da formulação do pedido e essa decisão, priva o menor de proteção temporalmente adequada por parte do Estado, violando o disposto no n.º 1 do artigo 69.º e nos n.ºs 1 e 3 do artigo 63.º da Constituição. Por todos estes fundamentos, a Relação do Porto entendeu julgar procedente o recurso em questão, decidindo que a prestação mensal a cargo daquele Fundo é devida a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão, não abrangendo qualquer prestação anterior. Decisão do Acórdão: A decisão tomada pelos Juízes Desembargadores acabou por ser sumariada, no Acórdão, do seguinte modo: A prestação a cargo do Fundo de Garantia dos Alimentos Devidos a Menores é devida apenas a partir do mês seguinte ao da notificação da decisão que a fixou. O QUE DIZ A LEI Lei n.º 75/98, de 19 de novembro Garantia dos Alimentos Devidos a Menores Artigo 1.º Garantia de alimentos devidos a menores Quando a pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos a menor residente em território nacional não satisfizer as quantias em dívida pelas formas previstas no artigo 189.º do Decreto-Lei n.º 314/78, de 27 de outubro, e o alimentado não tenha rendimento líquido superior ao salário mínimo nacional nem beneficie nessa medida de rendimentos de outrem a cuja guarda se encontre, o Estado assegura as prestações previstas na presente lei até ao início do efetivo cumprimento da obrigação. Artigo 2.º Fixação e montante das prestações 1 - As prestações atribuídas nos termos da presente lei são fixadas pelo tribunal e não podem exceder, mensalmente, por cada devedor, o montante de 4 UC. 2 - Para a determinação do montante referido no número anterior, o tribunal atenderá à capacidade económica do agregado familiar, ao montante da prestação de alimentos fixada e às necessidades específicas do menor. Artigo 3.º Disposições processuais 1 - Compete ao Ministério Público ou àqueles a quem a prestação de alimentos deveria ser entregue requerer nos respetivos autos de incumprimento que o tribunal fixe o montante que o Estado, em substituição do devedor, deve prestar. 2 - Se for considerada justificada e urgente a pretensão do requerente, o juiz, após diligências de prova, proferirá decisão provisória. 3 - Seguidamente, o juiz mandará proceder às restantes diligências que entenda indispensáveis e a inquérito sobre as necessidades do menor, posto o que decidirá. 4 - O montante fixado pelo tribunal perdura enquanto se verificarem as circunstâncias subjacentes à sua concessão e até que cesse a obrigação a que o devedor está obrigado. 5 - Da decisão cabe recurso de agravo com efeito devolutivo para o tribunal da relação. 6 - Compete a quem receber a prestação a renovação anual da prova de que se mantêm os pressupostos subjacentes à sua atribuição, sem o que a mesma cessa. dl n.º 164/99, de 13 de maio Regula a Garantia de Alimentos Devidos a Menores Artigo 4.º Atribuição das prestações de alimentos 1 - A decisão de fixação das prestações a pagar pelo Fundo é precedida da realização das diligências de prova que o tribunal considere indispensáveis e de inquérito sobre as necessidades do menor, oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público. 2 - Para os efeitos do disposto no número anterior, o tribunal pode solicitar a colaboração dos centros regionais de segurança social e informações de outros serviços e de entidades públicas ou privadas que conheçam as necessidades e a situação sócioeconómica do alimentado e da sua família. 3 - A decisão a que se refere o n.º 1 é notificada ao Ministério Público, ao representante legal do menor ou à pessoa a cuja guarda se encontre e respetivos advogados e ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. 4 - O Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social deve de imediato, após a notificação, comunicar a decisão do tribunal competente ao centro regional de segurança social da área de residência do alimentado. 5 - O centro regional de segurança social inicia o pagamento das prestações, por conta do Fundo, no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal.

56 Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ARRENdaMENto Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012 Revista nº 649/09.6TVLSB.S1-2.ª Secção Assunto: Arrendamento - Demolição de obras I - As obras realizadas no locado que, sem autorização do senhorio, alteraram a divisão interna das suas divisões e por isso fundamentaram a resolução do contrato de arrendamento configuram-se como deteriorações incompatíveis com uma utilização prudente do mesmo e cuja eliminação compete ao locatário, como típica obrigação de indemnização na forma de reconstituição natural. II - Os danos constituídos por essas alterações não se confundem com os danos causados pela reposição do locado no estado em que o locatário o recebeu, mas sobre este impende a obrigação de indemnizar uns e outros. III - Formulando-se um pedido de «relativamente ao valor dos danos causados para reposição do locado no estado em que o mesmo se encontrava, caso venha a ser necessário, se condenassem os Réus, solidariamente, no pagamento do valor que os autores venham a despender, a liquidar em execução de sentença», tratando-se de um dano futuro, o mesmo deve improceder se não foram alegados e concretizados os danos que previsivelmente serão causados pelos trabalhos de reposição do locado. V - A condenação na reposição do locado no estado anterior aquele em que se encontrava, aquando da celebração do contrato ou no pagamento, no regime de solidariedade, do valor que os apelantes venham a ter que despender para tal efeito, relegandose para execução de sentença tal valor, configuraria perante aquele pedido nos termos em que foi formulado, condenação em objeto diverso do pedido, determinativa da nulidade da sentença nessa parte. CIVil Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 10/01/2012, Revista nº 817/07. 5TBSCR.L1.S1-6.ª Secção Assunto: Ação de reivindicação I - Tem-se entendido que prevalece, no nosso direito, a concepção subjetiva da posse. Nesta concepção a posse é integrada por dois elementos (art. 1251º do CC): a) o corpus, que consiste no domínio de facto sobre a coisa; b) o animus, que é a intenção de exercer sobre a coisa, como seu titular, o direito real correspondente àquele domínio de facto. II - Traduzindo-se o animus possidendi num elemento de natureza psicológica, a respetiva prova reveste-se de grande dificuldade. Por isso, para facilitar a prova do animus, a lei estabeleceu no citado art. 1252º, nº 2, do CC, uma importante presunção de posse a favor de quem tem o poder de facto. III - A posse distingue-se da mera detenção; os meros detentores ou possuidores precários não podem adquirir por usucapião art. 1253º do CC. IV - In casu, como a posse (com corpus e animus) para efeito da aquisição do solo, por usucapião, por parte dos réus/recorrentes, só se iniciou em , e o respetivo prazo em curso de interrompeu em , com a citação para a presente ação (arts. 1292º e 323º, nº 1, do CC), quando apenas tinham decorrido 14 anos e 2 dias, é manifesto que os réus não podem ter adquirido o solo por usucapião cf. art. 1296º do CC. COMerCial Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/01/2012 Revista nº 117/07.0TYVNG.P1.S1-6.ª Secção Assunto: Deliberação social I - O direito que todo o sócio tem a ser designado para os órgãos de administração e de fiscalização da sociedade, nos termos da lei e do contrato, previsto no art. 21º, nº 1, al. d), do CSC, não é um bem social suscetível de repartição pelos sócios, do mesmo modo que o não é o direito de quinhoar nos lucros, o direito de informação e o direito a participar nas deliberações dos sócios (previstos nas restantes alíneas do mesmo preceito). II - Em todos estes casos, trata-se de direitos em abstrato dos sócios, que só se transformam em direitos em concreto quando se verifiquem os pressupostos do seu nascimento. Assim, o direito do sócio exigir fazer parte dos órgãos sociais há-de resultar das regras estatutárias e legais que regulam o seu exercício, não sendo direta e imediatamente atribuído pela norma do CSC supra referida. III - Não existe justificação para, em concreto, chamando à colação os princípios da paridade e da proporcionalidade, bloquear o normal funcionamento do princípio da maioria e conseguir, contra a vontade que esta expressou, a designação de pessoa diversa da indigitada pelos sócios maioritários como representante da 1.ª ré na assembleia geral da 2.ª ré em que se delibere a eleição dos órgãos sociais. IV - O facto de os sócios terem direito a

57 56 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Sumários um tratamento paritário não significa que o tribunal possa sobrepor-se às respetivas deliberações, transformando as minorias em maiorias. V - O direito à remuneração não pode ser encarado como algo que tenha de ser usufruído, rotativa e rateadamente, pelos sócios (quer os maioritários, quer os minoritários), como se estivéssemos em presença de um dividendo do exercício da atividade, ou de um bem social de natureza semelhante. CONtratoS Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012 Revista nº 1472/06.5TVLSB.L1.S1-2.ª Secção Assunto: Contrato de locação financeira I - Com a responsabilização do requerente da providência cautelar considerada injustificada (art. 390º, nº 1, do CPC) visa-se penalizar civilmente o mesmo por, havendo que ter em conta a maior suscetibilidade de virem a ser decretadas medidas cautelares, quer baseadas em circunstancialismo fáctico inverídico, quer baseadas numa versão unilateralizada dos factos e meios de prova apresentados, ter tido uma atuação censurável. Podendo chegar-se à conclusão que a medida cautelar decretada se fundou em factos inverídicos ou deturpados ou em meios de prova falseados. II - Tornando-se necessário, para que o lesado seja garantido dos prejuízos, que estejam alegados e provados factos geradores da responsabilidade civil: (i) injustificação (ou caducidade) da providência; (ii) imputação ao requerente; (iii) atuação dolosa do requerente ou fora das regras da prudência normal; (iv) danos determinados pela providência requerida; e (v) nexo de causalidade entre a conduta do requerente e tais danos. III - Não bastando, para a responsabilização do requerente o facto de a mesma vir a ser julgada injustificada, sendo, ainda, necessário a prova da sua culpa, que caberá ao lesado. IV - A locação financeira, muitas vezes designada de leasing, é um contrato de financiamento, conjugando os contratos de locação e de compra e venda, embora constitua um tipo contratual autónomo deste. V - Não tendo ficado demonstrada a impossibilidade da prestação ou a perda do interesse do credor no respetivo cumprimento, tendo-se o devedor constituído em mora, porque não cumpriu no tempo devido, transformou-se a mesma em incumprimento definitivo, após ter sido efetuada, sem sucesso, interpelação ao devedor, in casu, em conformidade com o clausulado no contrato. Sendo ao devedor que incumbe provar o cumprimento, o qual, em princípio, não se presume. VI - Feita a interpelação do devedor, sem cumprimento por banda do mesmo, pode o contrato ser resolvido pela contraparte. FAMÍlia Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 31/01/2012 Revista nº 6014/09.8TBVLSB.L1.S1-7.ª Secção Assunto: Alimentos união de facto I - As pensões de sobrevivência surgem na sua atual configuração com o DL nº 322/90, de II - Pretende-se, como vem referido no preâmbulo do mencionado Decreto- -Lei, compensar, mediante a concessão de prestações continuadas, o desequilíbrio provocado pela morte de um dos membros do casal. III - Este desiderato legal tem ínsita a ideia de que o casamento, e também uma comunhão de facto consistente, denotam uma comunhão de vida em que cada um dos seus membros contribuía com parte substancial dos seus proventos para a comunidade familiar. Essa situação criou expetativas e serviu de base a encargos que o casal assumiu. IV - A Lei nº 23/2010, de 30-08, veio, entre outras alterações à Lei 7/2001, de 11-05, dispensar a prova da necessidade de alimentos para ter direito a uma pensão como membro sobrevivo de uma união de facto e impossibilidade da sua prestação por parte dos familiares do requerente e por parte da herança do falecido. V - As alterações em causa aplicam-se às uniões dissolvidas antes da entrada em vigor da nova lei já que aquelas configuram verdadeiros estados de facto que se prolongam no tempo independentemente da sua origem, sendo que esta solução se impõe até por força do princípio da igualdade consagrado no art. 13º da CRP. VI - A atribuição da pensão de sobrevivência, de harmonia com o art. 11º da Lei supra referida, que alterou a Lei 7/2001, de 11-05, tem efeito a partir da LOE posterior à sua entrada em vigor. PENal Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012 Proc. nº 1928/11.8JAPRT-A.S1-3.ª Secção Assunto: Juiz natural - Prisão ilegal I - A providência de habeas corpus constitui um incidente que se destina a assegurar o direito à liberdade constitucionalmente garantido arts. 27º, nº 1, e 31º, nº 1, da CRP, sendo que visa pôr termo às situações de prisão ilegal, efetuada ou determinada por entidade incompetente, motivada por facto pelo qual a lei a não permite ou mantida para além dos prazos fixados na lei ou por decisão judicial art. 222º, nºs 1 e 2, als. a) a c), do CPP. II - No caso vem alegado que a medida de coação de prisão preventiva em consequência do qual o peticionante se encontra preso foi determinada com violação das regras de competência (em razão do território), violação que constitui nulidade insanável nos termos da al. e) do art. 119º do CPP, por violação do princípio do Juiz natural. III - Sendo taxativos os fundamentos de habeas corpus previstos na lei, esta providência não pode ser utilizada para sindicação de outros motivos ou fundamentos suscetíveis de pôr em causa a regularidade e a legalidade da prisão, designadamente a sindicação

58 Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março de eventuais anomias processuais situadas a montante ou a jusante da prisão ou a verificação da legalidade da prisão reportada a momentos anteriores, sindicação que só é admissível através do meio normal de impugnação das decisões judiciais, ou seja o recurso ordinário. IV - A lei ao aludir no art. 222º, nº 2, al. a), do CPP, à ilegalidade da prisão efetuada ou ordenada por entidade incompetente, apenas contempla situações em que a prisão é decretada por outra autoridade que não um juiz, apelidada a prisão de non judice, não abrangendo situações em que a prisão é determinada por juiz incompetente, tanto mais que, de acordo com o nº 3 do art. 33º daquele diploma, as medidas de coação ordenadas por tribunal declarado incompetente conservam eficácia mesmo após a declaração de incompetência V - Como se refere no Ac. do STJ de , Proc. nº 3777/07, a «incompetência» a que se refere a al. a) do nº 2 do art. 222º do CPP é essencialmente a falta de jurisdição, ou seja, a situação em que a entidade que decidiu a prisão é alguém que não detém poder jurisdicional para intervir e decidir no caso concreto. A intervenção de juiz diferente do competente segundo as regras da repartição funcional de competências não envolve nenhuma diminuição de garantias para o arguido e, por isso, não é fundamento de habeas corpus. VI - Carece, igualmente, de fundamento, no âmbito da presente providência, o pedido efetuado pelo requerente de reapreciação das medidas de coação que lhe foram aplicadas pelo tribunal a seu ver incompetente. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012 Proc. nº 522/11.8GCBNV-A.S1-3.ª Secção Assunto: habeas corpus I - A providência de habeas corpus é uma providência urgente e expedita, com uma celeridade incompatível com a prévia exaustão dos recursos ordinários e com a sua própria tramitação, destinada a responder a situações de gravidade extrema, visando reagir, de modo imediato, contra a privação arbitrária da liberdade ou contra a manutenção de uma prisão manifestamente ilegal, ilegalidade essa que se deve configurar como uma violação direta, imediata, patente e grosseira dos seus pressupostos e das condições da sua aplicação. II - Resulta do art. 219º, nº 2, do CPP, que mesmo em caso de recurso de decisão que aplicar, mantiver ou substituir medidas de coação legalmente previstas, inexiste relação de dependência ou de caso julgado entre esse recurso e a providência de habeas corpus, independente dos respetivos fundamentos. Com efeito, a excepcionalidade da providência não se refere à sua subsidiariedade em relação aos meios de impugnação ordinários das decisões judiciais, mas antes e apenas à circunstância de se tratar de providência vocacionada a responder a situações de gravidade estrema, com uma celeridade incompatível com a prévia exaustação dos recursos ordinários e com a sua própria tramitação. III - O peticionante solicita a sua imediata restituição à liberdade alegando a ilegalidade da sua detenção e subsequente prisão por excesso de prazo de apresentação ao juiz, considerando que a mesma foi decretada sem que previamente tivesse sido constituído arguido, e sem que tivesse sido previamente ouvido, não tendo a respetiva defensora legitimidade para, em nome do arguido, prescindir do que quer que fosse, uma vez que nem sequer conheceu o arguido ou falou com ele. IV - Conforme se extrai do art. 194º, nº 2, do CPP, a aplicação de medida de coação não implica necessária ou obrigatoriamente a audição prévia do arguido, ressalvando-se no nº 3 os casos de «impossibilidade devidamente fundamentada, e que pode ter lugar no ato de primeiro interrogatório judicial, aplicando-se sempre à audição o disto do nº 4 do art. 141º». V - Embora o nº 1 do art. 192º do CPP refira que a aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial depende de prévia constituição como arguido após referir que «desde o momento em que uma pessoa adquirir a qualidade de arguido é-lhe assegurado o exercício de direitos e de deveres processuais», acrescenta: «sem prejuízo da aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial e de efetivação de diligências probatórias, nos termos da lei». Por outro lado, e relativamente à representação do arguido por defensor, há que ter em conta que o art. 63º, nº 1, do CPP, que o defensor exerce os direitos que a lei reconhece ao arguido, salvo os que ela reservar pessoalmente a este. VI - Dos elementos constantes dos autos, resulta que a prisão do arguido foi decretada por despacho datado de e, na sequência de interrogatório judicial, foi reexaminada em , e revista pelo despacho de Além disso, aquando do despacho de , em que se decidiu pela aplicação de medida de coação, sem a sua audição prévia face às razões de saúde atestadas no processo, e sem prejuízo de o mesmo vir a ser ouvido logo que o seu estado o permitisse, o arguido estava representado pela sua defensora. VII - Não se verificou situação de abuso de poder ou de erro grosseiro e rapidamente verificável no decretamento da prisão preventiva. Não consta que o arguido impugnasse, em recurso, o despacho que lhe aplicou a prisão preventiva. VIII - Uma vez que o arguido se encontra em prisão preventiva à ordem dos autos desde , determinada por decisão judicial, por indícios da prática de crime de homicídio qualificado, o seu prazo máximo de duração de duração só terminará em , se até lá não for deduzida acusação. IX - Desta forma, não ocorre qualquer fundamento previsto no art. 222º, nº 2, do CPP para o decretamento da providência de habeas corpus.

59 58 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Sumários Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012 Proc. nº 1111/11.7YFLSB - 3.ª Secção Assunto: Extradição I - Nos termos do art. 58º, nº 1, da Lei 144/99, de 31-08, estipula-se que o MP e o extraditado podem recorrer da decisão final no prazo de dez dias, cabendo o julgamento do recurso à secção criminal do STJ (art. 49º, nº 3). Por sua vez, no art. 47º, nº 1, do citado diploma, a intervenção do Estado requerente da extradição é a de mero «participante» e «tem em vista possibilitar ( ) o contato direto com o processo ( ), bem como a fornecer ao tribunal os elementos que entenda solicitar». II - Assim, a posição do Estado requerente à luz do preceito em causa é a de cooperar e não dificultar o andamento dos autos, restringindo a sua esfera interventiva à de trazer ao tribunal os elementos de que careça dentro desse espírito de colaboração. Tem, pois, uma posição de subalternidade em requerido e ao Estado requerido. III - A norma do art. 58º da Lei 144/99, de 31-08, rege, apenas, para o recurso da decisão final ordenando a extradição é omissa quanto à admissibilidade dos recursos interpostos após essa fase processual, mas se a lei é bem expressa em vedar a legitimidade do Estado requerente da decisão que ordena a extradição, por maioria de razão, enquanto elemento lógico interpretativo da lei (art. 9º do CC), que essa proibição se imponha quanto a decisões da Relação proferidas após aquela fase. IV - O processo de extradição comporta uma fase administrativa e uma fase judicial, nos termos dos arts. 47º e 49º ss., respetivamente, iniciando-se a última mediante a apresentação do pedido de elementos documentais que o acompanharam ao MP junto do Tribunal da Relação competente. A questão da violação pelo Estado requerente do princípio da especialidade é um incidente da entrega, regulada no art. 60º da Lei 144/99, de 31-08, e em conexão com a extradição decretada, ainda dentro da fase judicial, tanto assim que a sua resolução é desencadeada ante a entidade judiciária. V - Não pode fundamentar a atribuição de legitimidade ao Estado requerente para recorrer a afetação de direitos nos termos do art. 401º, nº 1, do CPP. Efetivamente, o Estado requerente não é detentor de quaisquer direitos fundamentais ou parcela de liberdade individual afetados, decorrentes de tratado internacional, desrespeitados por Portugal, demandando, por isso mesmo, a utilização de correspondentes instrumentos para realização, em forma célere e ajustada, pela via do recurso. VI - A interpretação que veda o recurso ao Estado requerente não atropela qualquer direito constitucional, designadamente por ofensa aos arts. 2º, 7º, nº 1, 20º, nº 4, e 32º, da CRP. VII - A cooperação internacional regulada em matéria penal releva do princípio da reciprocidade, princípio que extravasa transversalmente todo o processo, impregnado de um sentido de moral geral e ética próprios, com o alcance de permitir-se a aplicação dos efeitos jurídicos em determinadas relações de direito sempre que esses mesmos efeitos são aceites por Estados estrangeiros. VIII - O princípio da especialidade é um dos princípios estruturantes de todo o processo de cooperação internacional e que não se limita, apenas, à extradição, nos termos da abrangência alargarda a outras formas de cooperação definidas no art. 1 da Lei 144/99, de Esse princípio faz parte daquele conjunto de axiomas impostos pela simples coexistência relevante da comunidade internacional no sentido de que a entrega por extradição de u, delinquente obriga o Estado requerente a conter o seu procedimento, a sua perseguição penal, nos precisos limites da acusação específica pelo crime predefinido e não por qualquer outro. IX - A especialidade desempenha uma função de garantia sucessiva, ou seja, garantia da extradição efetuada, destinada a assegurar o cumprimento das obrigações que os Estados, com o pedido de extradição, de modo implícito mas inequívoco, se comprometem a observar (o Estado para o qual uma pessoa tenha sido extraditada não pode ser julgada, salvo consentimento do Estado requerido, senão pelo crime pelo qual tenha sido extraditado). X - A violação da clausula da especialidade por parte do Estado que viu a sua pretensão satisfeita integrará um ilícito, como tal censurável ao nível das relações entre os Estados. XI - No caso concreto, a extradição foi requerida não com base em convénio bilateral entre os Estados, mas pelo facto de existir uma convenção internacional a Convenção Internacional para a Repressão de Atentados Terroristas à Bomba e se mostrarem reunidos os pressupostos enunciados no art. 6º da Lei 144/99, de O pedido de extradição foi instruído, ainda, com base numa declaração de garantia formal de que a pessoa reclamada não será julgada por factos diversos dos que fundamentam o pedido e lhe sejam anteriores ou contemporâneos. XII - Assim, se o Estado requerente, após investigação dirigida contra o extraditado, alargou o âmbito da acusação, imputando-lhe novos factos anteriores aos que integram o ato de extradição, ocorreu uma violação do princípio da especialidade. Com efeito, o alcance do princípio da especialidade de forma alguma se pode conformar à luz da sua formulação, extensão e conformação jurídicas com o julgamento por crimes distintos daqueles por que foi autorizada a extradição. XIII - A nossa lei de cooperação internacional não prevê a hipótese de infração à regra da especialidade, assumida pelo Estado requerente em compromisso internacional casuisticamente ajustado. Contudo, o Estado Português, como estado soberano, não pode ficar imune ao incumprimento evidente e frontal de uma sua

60 Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março decisão, emanada da sua mais Alta Instância. XIV - Nestes termos, encontrandose a extradição concedida sujeita a condição resolutiva, que o Estado requerente incumpriu, declara-se a sua resolução. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/01/2012 Proc. nº 4/10.5PATNV.C1.S1-3.ª Secção Assunto: Dupla conforme I - O art. 400º, nº, al. f ), do CPP, na sua versão atual, introduzida pela Lei 48/07, de 29-08, veio vedar o recurso para o STJ das decisões condenatórias da Relação, que confirmando o decidido em l.ª instância, apliquem pena não superior a 8 anos de prisão. A dupla conforme mostra-se válido instrumento de realização de celeridade processual sobretudo na zona de pequena e média criminalidade além de exprimir a crença de que a coincidência do decidido pelo acerto decisório ostentado não justifica mais do que um grau de jurisdição, ou seja um terceiro e um segundo de recurso, sendo suficiente um. II - O TC, em constância jurisprudencial, tem vindo a afirmar que o recurso em triplo grau para o STJ, deve ser reservado aos casos de maior merecimento penal (cf. o Ac. do TC nº 640/2004), não sendo irrazoável, desproporcionado ou arbitrário restringir o recurso a um único grau; o acesso à Relação constitui já garantia constitucional de defesa (cf. Acs. do TC nºs 32/2006, 20/2007, 424/2009, 49/2003, 255/2005, 487/2006 e 682/2006). III - A dupla conforme é tanto a total como a parcial, in mellius, ou seja nos casos em que o tribunal de recurso reduz a pena, dizendo o STJ, quase una voce, que não deixa de haver confirmação nos casos em que, in mellius, a Relação reduz a pena: até ao ponto em que a condenação posterior elimina o excesso resulta a confirmação da anterior. IV - O TC, por decisão sumária sua, nº 600/2011, no Proc. 800/2011, declarou e fez questão de sublinhar, expressamente, ser jurisprudência uniforme sua que não é inconstitucional a interpretação da norma do art. 400º, nº 1, al. f ), do CPP, no sentido de não admitir recurso para o STJ da decisão da Relação, que aplicando pena de prisão não superior a 8 anos, reduz a pena aplicada em 1.ª instância, precisamente porque o direito de defesa do arguido se mostra salvaguardado. ProCESSO CIVil Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012 Revista nº 4674/04.5TBSTS.S1-2.ª Secção Assunto: Renovação da prova I - Constando do acórdão recorrido que o conhecimento de uma determinada questão fica prejudicado pelo entendimento nele vertido, não existe omissão de pronúncia; o que há é o entendimento de que tal questão não pode ser conhecida, entendimento esse cuja bondade não pode dar origem a uma nulidade, mas antes ao conhecimento do seu mérito. II - Não sendo a Relação um segundo tribunal de 1.ª instância, mas sim um primeiro tribunal de 2.ª instância e não sendo caso, por isso, de se realizar um novo julgamento integral a reapreciação da matéria de facto que aí é feita incidirá fundamentalmente sobre a apreciação dos meios de prova que o tribunal de 1.ª instância utilizou para fundamentar as respostas, servindose, não só dos elementos fornecidos pelas partes, mas também de todos os elementos em que aquele tribunal se tenha fundado cf. art. 712º, nº 2, do CPC. III - Não obstante as respostas aos concretos pontos impugnados não terem assentado no depoimento da testemunha cuja depoimento não ficou gravado, acaso a Relação entendesse que o mesmo era absolutamente indispensável para o apuramento da verdade (e perante a impossibilidade de o apreciar em gravação) poderia determinar a renovação do mesmo na própria Relação, conforme o permite o art. 712º, nº 3, do CPC. ProPriedade HoriZONtal Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012 Revista nº 149/2002.L2.S1-7.ª Secção Assunto: Partes comuns I - O art. 483º do CC vem estabelecer uma cláusula geral de responsabilidade civil subjetiva, fazendo depender a constituição da obrigação de indemnização da existência de uma conduta do agente (facto voluntário), a qual represente a violação de um dever imposto pela ordem jurídica (ilicitude), sendo o agente censurável (culpa), a qual tenha provocado danos (dano), que sejam consequência dessa conduta (nexo de causalidade entre o facto e o dano). II - O juízo de censura ao agente apreciação da culpa pode ser estabelecido por duas formas: um primeiro critério aponta para a apreciação da culpa em concreto, exigindo ao agente a diligência que ele põe habitualmente nos seus próprios negócios ou de que é capaz; um segundo critério aponta para a apreciação da culpa em abstrato, exigindo a lei ao agente a diligência padrão dos membros da sociedade, a qual é naturalmente a diligência do homem médio, do bonus pater famílias. III - O critério adotado no CC, no art. 799º, nº 2, onde se prevê que «a culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de família, segundo as circunstâncias do caso», aponta para o critério tradicional da apreciação em abstrato segundo a diligência do homem médio, que continua a ser definido através da fórmula tradicional do bom pai de família, significando a referência a «circunstâncias de cada caso» que o próprio padrão a ter em conta varia em função do condicionalismo da hipótese e, designadamente, do tipo de atividade em causa. IV - Este juízo de censura pode resultar de infração de uma norma destinada a proteger interesses alheios produzindo um dano, incluindo-se aqui a

61 60 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Sumários violação das normas que visam prevenir, não a produção de um dano em concreto, mas sim o simples perigo do dano em abstrato. V - A relevância jurídica da omissão está ligada ao «dever genérico de prevenção de perigo», querendo-se com isto significar que o criador ou o mantenedor da situação especial de perigo tem o dever jurídico de o remover, sob pena de responder pelos danos provenientes da omissão. VI - Tendo resultado provado que devido ao facto de as escadas do prédio onde vivia em fração arrendada a autora caiu no último lance de escadas entre a fração da porteira e a porta do prédio, e que esse mesmo prédio está constituído em propriedade horizontal, encontrando-se as mesmas inscritas a favor do réu e dos intervenientes, são os mesmos responsáveis (enquanto comproprietários dessa parte comum), pela omissão de reparação da instalação geral de água, posto que não só não acautelaram a rutura da canalização, como não procederam à sua reparação imediata. VII - Significa isto que os condóminos poderiam ter evitado a queda da autora caso tivessem agido com o dever geral de cuidado, observando as mais básicas regras de segurança, que se limitariam a uma reparação imediata da rutura ou, pelo menos, a alertar a EPAL para fechar a água, sem omitir a necessária limpeza das escadas. VIII - Tanto os condóminos cujas frações dão acesso às aludidas escadas, quanto os condóminos cujas frações dão acesso imediato à rua são comproprietários não só das escadas como das instalações gerais da água, pelo que todos eles são coresponsáveis pela queda da autora, sendo a sua obrigação de indemnizar solidária. IX - Inexiste culpa da autora ao, vendo as escadas inundadas, ainda assim resolver atravessá-las, posto que não só era inexigível que a lesada ficasse retida em casa até que a água fosse cortada pela EPAL (o que só aconteceu 10 dias depois), como ainda não resultou provado que as escadas estivessem intransitáveis e que, por via disso, ninguém pudesse sair de casa. RESPONSABilidade CIVil Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012 Revista nº 81/06.3TCGMR.G1.S1-7.ª Secção Assunto: Acidente de trabalho danos não patrimoniais I - Dano é, na esteira do Prof. Antunes Varela, o prejuízo in natura que o lesado sofreu nos interesses materiais, espirituais ou morais que o direito violado ou a norma infringida visam tutelar. II - A ressarcibilidade dos danos não patrimoniais através de uma prestação pecuniária pode contribuir para atenuar, minorar ou de alguma forma compensar os danos sofridos pelo lesado servindo de compensação pecuniária para a satisfação das mais variadas necessidades desde as mais elementares às da mais elevada espiritualidade, tendo a lei reservado tal ressarcibilidade para aqueles danos que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito. III - Tendo resultado provado que (i) à data do acidente o Autor tinha 39 anos, (ii) o acidente ocorreu em fevereiro de 2004 e apenas teve alta em novembro de 2006, (iii) teve um prolongado período de doença e sofreu vários internamentos, (iv) sofreu fratura exposta na perna direita e após 6 meses da intervenção a que foi submetido teve atraso na consolidação das fraturas do fémur e da tíbia, razão pela qual teve um atraso na consolidação das fraturas do fémur e da tíbia e teve de se proceder a manutenção da perda da substância cutânea na perna direita o que motivou que tivesse sido submetido a dinamização da vareta VFN, a enxerto livre da pele da perna e a osteotomia do peróneo direito, (v) foi novamente operado e durante 90 dias necessitou do auxílio de terceira pessoa para executar as tarefas da vida diária, (vi) ficou afetado com uma IPP de 15%, (vii) sofreu dores intensas, quer no momento do acidente, quer no decurso dos tratamentos a que foi sujeito fixáveis em grau 5 (numa escala de 1 a 7), (viii) apresenta dano estético, designadamente cicatrizes extensas na perna direita, (ix) era uma pessoa saudável e alegre e agora encontra-se afetado física e psiquicamente, afigura-se adequado o montante indemnizatório encontrado pelas instâncias de TRABalHO Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 4820/04.9TTLSB.L1.S1-4.ª Secção Assunto: Isenção de horário de trabalho I - Não se extraindo do acervo fatual provado a alegada degradação das condições de trabalho do autor, a injustificada contestação do mesmo por parte da respetiva Diretora e a sua crescente inatividade profissional, mas antes que ocorreram três situações de dissensão entre o autor e aquela Diretora, que não extravasaram o âmbito do legalmente admissível no quadro de relações laborais hierarquicamente estruturadas, não ocorre a invocada violação de deveres por parte do empregador. II - A matéria de facto coligida não demonstra, nem sequer indicia, que a avaliação de desempenho do autor, em 2003, se tenha ficado a dever à manipulação/alteração de critérios utilizados para o efeito, pelo que carece de suporte fáctico a alegação de que o Banco réu não o avaliou com a objetividade e rigor devidos. III - Embora de natureza retributiva, a remuneração especial por isenção do horário de trabalho não se encontra submetida ao princípio da irredutibilidade da retribuição, pelo que só será devida enquanto perdurar a situação em que assenta o seu fundamento, podendo o empregador suprimila quando cesse a situação específica que esteve na base da sua atribuição. IV - Não se provando o nexo de causalidade entre o facto de o autor sofrer de síndrome depressivo e qualquer

62 Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - março atuação ilícita do Banco réu, não existe obrigação, por parte deste, de indemnizar o autor pelo danos não patrimoniais invocados. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 3301/05.8TTLSB.L1.S1-4.ª Secção Assunto: Extinção de posto de trabalho I - O artigo 38º, nº 1, da LCT, contempla um prazo especial de prescrição de créditos e uma regra específica quanto à sua contagem, sendo que, no mais, é aplicável o regime geral prescrição previsto no Código Civil, designadamente no que à sua suspensão e interrupção respeita. II - Do disposto no artigo 389º, nº 1, al. a), do Código de Processo Civil, decorre que o prazo de propositura da ação de que a eficácia da providência depende e apenas no que a esta respeita/importa conta-se, expressamente, não a partir do seu trânsito em julgado ou do trânsito da decisão emergente de eventual recurso que dela tenha sido interposto, mas sim a partir da data em que lhe tiver sido notificada a decisão. III - A falta de autonomia do procedimento cautelar impõe que o requerente seja lesto em intentar a ação de reconhecimento ou de exercício do direito provisoriamente assegurado por aquele meio de tutela; de todo o modo, a demora no exercício dos direitos subjetivos não produzem, necessariamente, efeitos no próprio direito subjetivo. IV - O despacho que proclame a caducidade do procedimento cautelar é meramente declarativo, o que significa que os efeitos da sua prolação se reportam ao momento da verificação dos pressupostos da caducidade. V - Todavia, atento o disposto no artigo 327º, nº 1, do Código Civil, esse despacho só releva para reinício da contagem do prazo de prescrição de créditos que entretanto haja sido interrompido com a citação promovida no procedimento cautelar caso tenha colocado termo ao processo e tenha transitado em julgado. VI - Já assim não sucederá quando esse despacho não haja sido oportunamente proferido e quando, no procedimento cautelar, haja sido proferida decisão que, essa sim, tenha colocado termo ao processo e tenha transitado em julgado, sendo, pois, a partir desta data que se reinicia a contagem do prazo de prescrição dos créditos. VII - Não se mostram extintos, por efeito da prescrição, os créditos reclamados pelo autor em ação intentada em 29 de Julho de 2005, se a decisão que colocou termo ao procedimento cautelar apenas foi proferida em 23 de Fevereiro de 2005 e transitou em julgado, sendo, assim, irrelevante, para o dito efeito, que a caducidade do procedimento cautelar haja produzido efeitos em 15 de Setembro de 2003, se o despacho que a declarou apenas foi proferido em 7 de Abril de VIII - O despedimento com fundamento na extinção de posto de trabalho apresenta, quanto às suas causas, uma fisionomia híbrida: colhe, do despedimento com fundamento em justa causa subjetiva, o critério de aferição da legitimidade do motivo da rutura, exigindo que seja praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho; pressupõe, em comum com o despedimento coletivo, quanto à natureza dos seus fundamentos, causas objetivas de ordem estrutural, tecnológica ou conjuntural relativas à empresa ou motivos económicos, tecnológicos ou estruturais, relativos à empresa. IX - Quando o artigo 32º, nº 1, al. a), da LCCT, comina com o vício da nulidade a cessação do contrato de trabalho com fundamento na extinção do posto de trabalho nos casos em que faltem as comunicações previstas no artigo 28º, não está a referir-se, única e exclusivamente, às situações em que essa fase seja, em absoluto, suprimida ou inexistente: está, sem dúvida, a referir-se também àquelas situações em que essa fase, embora formalmente existente, não cumpra o desiderato a que está vocacionada. X - É nulo o procedimento conducente à extinção do posto de trabalho quando a comunicação efetuada ao trabalhador adote, na sua fundamentação, expressões vagas e conclusivas, desprovidas de enquadramento fáctico, e quando da mesma não seja possível extrair um nexo causal mínimo entre os fundamentos invocados e a extinção do posto de trabalho. XI - Os pressupostos da responsabilidade civil por facto ilícito cifram-se, conforme emerge do disposto no artigo 483º, nº 1, do Código Civil, na violação de um direito ou interesse alheios, na ilicitude ou antijuridicidade dessa violação, no vínculo de imputação ao agente do facto lesante desses direitos ou interesses, no dano sofrido e no nexo de causalidade entre o facto lesante e o dano. XII - No que respeita aos danos não patrimoniais, são ressarcíveis, por imperativo legal artigo 496º, nº 1, do Código Civil apenas aqueles que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito. XIII - Não é de conferir o direito a indemnização por danos não patrimoniais quando apenas se prova que, em consequência do despedimento promovido pela entidade empregadora, o trabalhador foi acometido de angústia, insónias e receios, mas se não apura que essas emoções tenham atingido uma gravidade, profundidade, danosidade ou acentuação tais que tenham causado na sua personalidade moral um prejuízo assinalável e, por isso, digno de ressarcimento. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 485/07.4TTLMG.P1.S1-4.ª Secção Assunto: Descaraterização de acidente de trabalho I - A descaraterização do acidente de trabalho prevista na alínea b) do nº 1 do art. 7º da LAT exige a adopção, pelo sinistrado, de um comportamento temerário em alto e relevante grau, que não se consubstancie em ato ou omissão resultante da habitualidade ao perigo do trabalho executado, da

63 62 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 jurisprudência - Sumários confiança na experiência profissional ou nos usos e costumes da profissão, considerando-se temerário o comportamento perigoso, arriscado, audacioso, arrojado, intrépido, que não tem fundamento exigindo, ainda, a exclusividade desse comportamento para a ocorrência do evento. II - É de considerar descaraterizado o acidente quando está demonstrado que o mesmo ocorreu, exclusivamente, por o sinistrado ousar seguir, por sua livre opção contrariando o aviso dos circunstantes por um terreno onde não existia qualquer caminho que ligasse o prédio do R. à via pública, o que fez percepcionando claramente o risco que corria, por se tratar de um terreno acidentado, com declive acentuado tendo acoplado ao trator que conduzia um bombo com 400 litros de água, o que determinaria como determinou que o trator empinasse, situação que tentou, aliás, contornar, impondo a um dos seus trabalhadores que se colocasse na frente do trator a fazer peso e aos demais que se equilibrassem nos lados, porquanto o sinistrado teimosa, ousada, desnecessária e inutilmente seguiu por um caminho que não existia, avançando num contexto morfológico de patente risco, desafiando as limitações da máquina e as leis da Física. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 486/07.2TTSTS.P1.S1-4.ª Secção Assunto: Acidente de trabalho - Violação de regras de segurança I - No âmbito da LAT a responsabilidade agravada tipificada no art. 18º, nº 1 está dependente da alegação e prova, de um comportamento culposo da entidade empregadora ou seu representante, ou a violação das regras de segurança e o nexo de causalidade entre a violação e o acidente. II - O estabelecimento do nexo de causalidade, juridicamente relevante para o efeito da imputação de responsabilidade, pressupõe que o facto ilícito (ação ou omissão) praticado pelo agente tenha atuado como condição da verificação de certo dano, apresentando-se este como consequência normal, típica ou provável daquele. III - Não se retirando da matéria de facto apurada nos autos que o acidente tenha resultado da falta de observação das regras de segurança no trabalho, não se mostram preenchidos os pressupostos da responsabilidade agravada da empregadora. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 164/07.2TTCBR.C1.S1-4.ª Secção Assunto: Justa causa de despedimento I - O erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não é suscetível de ser objeto de recurso de revista para o Supremo Tribunal de Justiça, a menos que decorra da violação expressa de lei, que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova. II - Exige-se para a justa causa de despedimento que exista um violação culposa, pelo trabalhador, dos seus deveres contratuais, que essa violação seja grave em si mesma e nas suas consequências e que, por via dessa gravidade, seja imediata e praticamente impossível manter o contrato, sendo de apreciar esta impossibilidade no campo da inexigibilidade, a determinar perante os interesses em presença, por forma a que a subsistência do contrato represente uma insuportável e injusta imposição ao empregador. III - Verificar-se-á a impossibilidade prática da subsistência da relação laboral quando se esteja perante uma situação de quebra de confiança entre trabalhador e empregador, que seja suscetível de criar no espírito deste a dúvida sobre idoneidade futura da conduta daquele, estando, portanto, o conceito de justa causa ligado à ideia de inviabilidade do vínculo contratual, correspondendo a uma crise extrema e irreversível do contrato. IV - Apurando-se que o trabalhador, ao ser questionado acerca do atraso no abastecimento de combustível de um cliente da entidade empregadora, respondeu, ao seu superior hierárquico, que se quisesse saber poderia ter ligado para a cliente, sendo certo que lhe competia, no âmbito das suas funções, prestar as informações que fossem suscetíveis de complicar a atempada execução do serviço, conclui-se pela violação do dever de colaboração e obediência. V - Apurando-se, igualmente, que o trabalhador recusou, indevidamente, a realização de um abastecimento a uma cliente da ré, sabendo que esse serviço apenas demoraria duas horas, que, se esse abastecimento não fosse realizado, a fábrica dessa cliente poderia parar e que a entidade empregadora poderia perder a cliente e ter que a indemnizar pelos prejuízos causados, conclui-se pela violação do apontado dever, mostrando-se adequada a sanção do despedimento com justa causa. Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 5/1/2012 Recurso nº 715/09.4T4AVR.C1.S1-4.ª Secção Assunto: Novo contrato de trabalho I - Tendo as partes acordado, por escrito, que a partir de 1 de Maio de 2005 e até 31 de Julho de 2007 se quiseram vincular através dum novo contrato de trabalho, agora celebrado a termo, e cuja validade não foi questionada pelo autor, temos de concluir que o contrato de trabalho que vigorava desde Dezembro de 1997 cessou efetivamente com a celebração deste contrato a termo, pois a subsistência deste novo contrato era absolutamente incompatível com a vigência do contrato anterior, gerando assim a sua caducidade. II - Assim, e considerando que o contrato cessou em data anterior a 1 de Maio de 2005, e tendo a ação sido ajuizada já em 2009, há muito que se esgotara o prazo de prescrição dos créditos emergentes do primeiro contrato de trabalho, e que é de um ano contado da cessação do contrato, conforme prescreve o artigo 381º, do Código do Trabalho de 2003.

64 LegislaÇÃo - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - março PRINCIPAL LEGISLAÇÃO PUBLICada 1ª e 2ª Séries do Diário da República de 17 A 31 de Março de 2012 Agentes de execução - estágio Declaração de retificação n.º 449/2012, de 28.3 (II série) - Retifica o Regulamento de Estágio de Agentes de Execução, publicado com o n.º 275/2011 no Diário da República, 2.ª série, n.º 86, de 4 de maio de 2011 Comércio à distância de serviços financeiros Lei n.º 14/2012, de Procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 95/2006, de 29 de maio, no que respeita à resolução dos contratos relativos a serviços financeiros prestados a consumidores celebrados através de meios de comunicação à distância e transpõe parcialmente para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2002/65/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de setembro, relativa à comercialização à distância de serviços financeiros prestados a consumidores Custas processuais Port. n.º 82/2012, de Quarta alteração à Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de abril, que regula o modo de elaboração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino das custas processuais, multas e outras penalidades Estruturas residenciais para idosos Port. n.º 67/2012, de Define as condições de organização, funcionamento e instalação das estruturas residenciais para pessoas idosas Impostos Lei nº 14-A/2012, de 30.3 (Supl.) - Aprova alterações ao Código do IVA, ao Código dos Impostos Especiais de Consumo e procede à décima alteração ao Decreto-Lei nº347/85, de 23 de agosto, no âmbito do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro da Região Autónoma da Madeira. Iniciativa Projeto limpar Portugal Port. n.º 63/2012, de Estabelece um regime excecional aplicável à iniciativa «Projeto limpar Portugal» Máquinas de diversão DLR n.º 12/2012/A, de Quarta alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 28/2000/A, de 10 de agosto, que estabelece o regime de licenciamento, de exploração e registo de máquinas de diversão Preço da habitação por m2 Port. n.º 64/2012, de Fixa, para vigorar em 2012, o preço da habitação por metro quadrado de área útil e o preço de venda dos terrenos destinados a programas de habitação de custos controlados REGIÕES AUTÓNOMAS Açores - Sistema científico Incentivos financeiros DLR n.º 10/2012/A, de Estabelece o regime jurídico do Sistema Científico e Tecnológico dos Açores (SCTA) e cria o respetivo sistema de atribuição de incentivos financeiros Açores - Apoio ao microcrédito bancário DLR n.º 11/2012/A, de Define as regras para execução do Regime de Apoio ao Microcrédito Bancário nos Açores. Madeira - Subsídio de mobilidade social RALRA Açores n.º 19/2012/M, de Procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 66/2008, de 9 de abril, alterado pelas Leis n.os 50/2008, de 27 de agosto, e 21/2011, de 20 de maio, que regula a atribuição de um subsídio de mobilidade social aos cidadãos beneficiários, no âmbito dos serviços aéreos e entre o continente e a Região Autónoma da Madeira. Madeira - Orçamento 2012 Madeira Decreto Legislativo Regional n.º 5/2012/M, de Aprova o Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2012 Sistema financeiro - garantias Port. n.º 80/2012, de Segunda alteração à Portaria n.º 1219-A/2008, de 23 de outubro, que regulamenta a concessão extraordinária de garantias pessoais pelo Estado, no âmbito do sistema financeiro TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL Vencimento dos gestores RCM n.º 36/2012, de Aprova a classificação das empresas públicas e das entidades públicas integradas no Serviço Nacional de Saúde para efeitos da determinação do vencimento dos respetivos gestores. Igualdade no trabalho DL n.º 76/2012, de Aprova a orgânica da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego Qualificações profissionais Portaria n.º 88/2012, de Especifica as profissões regulamentadas abrangidas no setor da defesa nacional e designa a respetiva autoridade competente para proceder ao reconhecimento das qualificações profissionais Portaria n.º 89/2012, de Determina as profissões regulamentadas na área da justiça e as autoridades nacionais competentes para o reconhecimento das qualificações profissionais para o exercício dessas profissões por cidadãos de Estado-membro da União Europeia ou de Estado signatário do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu Portaria n.º 90/2012, de Especifica as profissões regulamentadas abrangidas nas áreas da agricultura, das florestas, do mar, do ambiente e do ordenamento do território e designa as autoridades nacionais que, para cada profissão, são competentes para proceder ao reconhecimento das qualificações profissionais, nos termos da Lei n.º 9/2009, de 4 de março Portaria nº 91-A/2012, de 30.3 (Supl.) - Especifica as profissões regulamentadas no âmbito do ensino superior e designa as autoridades competentes para procederem ao reconhecimento das respetivas qualificações profissionais, nos termos da Lei nº 9/2009, de 4 de março. Ensino recorrente Portaria n.º 91/2012, de Segunda alteração à Portaria n.º 550-E/2004, de 21 de maio, que cria diversos cursos do ensino recorrente de nível secundário, aprova os respetivos planos de estudos e aprova o regime de organização administrativa e pedagógica e de avaliação aplicável aos cursos científicohumanísticos, aos cursos tecnológicos e aos cursos artísticos especializados, nos domínios das partes visuais e dos audiovisuais, de ensino recorrente de nível secundário Tráfico de estupefacientes Lei n.º 13/2012, de Altera pela décima nona vez o Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, que aprova o regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, acrescentando a mefedrona e o tapentadol às tabelas que lhe são anexas Tribunal da Propriedade e Tribunal da Concorrência DL n.º 67/2012, de Procede à instituição do tribunal da propriedade intelectual e do tribunal da concorrência, regulação e supervisão, tribunais com competência territorial de âmbito nacional para o tratamento das questões relativas à propriedade intelectual e à concorrência, regulação e supervisão Tribunais Port. n.º 83/2012, de Quinta alteração aos quadros das secretarias judiciais e dos serviços do Ministério Público, constantes do mapa anexo à Portaria n.º 721- A/2000, de 5 de setembro Port. n.º 84/2012, de Declara instalados o 1.º Juízo do Tribunal da

65 64 VIDA JUDICIÁRIA - março 2012 LegislaÇÃo - Síntese Propriedade Intelectual e o 1.º Juízo do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão ACÓRDÃOS - Tribunal Constitucional Regulamento de Estágio da Ordem dos Advogados Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 89/2012, de Declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, das normas constantes do artigo 24.º, n.os 3 e 4; do artigo 36.º, n.º 2, 2.ª parte; do artigo 42.º, n.º 5, 2.ª parte, todos do Regulamento Nacional de Estágio da Ordem dos Advogados (Regulamento n.º 52-A/2005, de 1 de agosto), na redação que lhes foi conferida pela Deliberação n.º 3333-A/2009, de 16 de dezembro, do Conselho Geral da Ordem dos Advogados RECTIFICAÇÕES Custas processuais Decl. de Retif. n.º 16/2012, de Declaração de retificação à Lei n.º 7/2012, de 13 de fevereiro, que procede à sexta alteração ao Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro, publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 31, de 13 de fevereiro de 2012 Acórdãos do Stj disponíveis em ExtiNÇÃo do posto de trabalho Sumário: I - No âmbito do CT/2003, a extinção do posto de trabalho determina o despedimento justificado por motivos económicos, que tanto podem ser de mercado, como estruturais ou tecnológicos, relativos à empresa, nos termos previstos para o despedimento colectivo. E será a alternativa a seguir quando se não verifique o regime definido para aplicação deste, sendo ilícito nas situações previstas nos arts. 429.º e 432.º, nomeadamente se forem declarados improcedentes os motivos justificativos invocados para o despedimento e se não tiverem sido respeitados os requisitos do n.º 1 do art. 403.º. ii - A sindicabilidade jurisdicional da actuação do empregador está limitada, porquanto, na apreciação da verificação ou não do motivo justificativo invocado para a extinção do posto de trabalho, as decisões técnico-económicas ou gestionárias a montante da extinção do posto de trabalho estão cobertas pela liberdade de iniciativa dos órgãos dirigentes da empresa, colocando-se, por isso, a verificação judicial ao nível do nexo sequencial entre a opção de extinção do (daquele) posto de trabalho e a decisão de pôr termo àquele contrato. iii - A impossibilidade prática da subsistência da relação de trabalho tem de decorrer da demonstração de factualidade que revele que, extinto o posto de trabalho em apreço, inexistia outro compatível com a categoria do trabalhador, competindo a prova dessa circunstância ao empregador. IV - É de considerar ilícito o despedimento quando está demonstrado que a R., após a cessação do contrato da A. para além de não ter, sequer, tentado recolocá-la a exercer quaisquer outras funções compatíveis com a sua categoria profissional contratou outra pessoa para desenvolver parte das funções que até então aquela desenvolvia e atribuiu algumas outras dessas funções a pessoas que já trabalhavam para a R., mas com menor antiguidade que a A. IV - O escopo da sanção pecuniária compulsória é o de forçar o devedor a cumprir, a vencer a provável resistência da sua oposição ou indiferença. Consistindo num meio coercivo, intimidatório, não visa primacialmente, por isso, o objectivo de indemnizar os danos sofridos pelo credor com a mora, sabido que, neste contexto, mais que o montante da retribuição do trabalhador, releva, na ponderação dos postulados equilíbrio e sentido da proporção, o valor maior da urgente recuperação do posto de trabalho, com todos os reflexos inerentes. Assim, no caso, revela-se adequada a fixação dessa sanção em 500,00 diários. V - Tendo as partes acordado, expressamente, um horário de trabalho fixo, impendia sobre a R. a obrigação de obter o acordo prévio da A. para proceder à alteração do seu horário de trabalho, pelo que, não tendo a R. logrado demonstrá-lo, é de concluir que o trabalho prestado pela A. aos fins-de-semana e feriados, no âmbito das escalas de permanência extraordinárias designadas pela R., tem de ser considerado, para efeitos de remuneração, como trabalho suplementar, prestado em dia de descanso semanal, obrigatório e complementar, e em dia feriado. VI - Até ao CT/2003, em caso de violação do princípio de para trabalho igual, salário igual, cabia ao trabalhador o ónus da alegação e prova da igualdade do trabalho (em natureza, quantidade e qualidade); Porém, o art. 23.º, n.º 3, do referido Código veio, no caso de existência de algum factor discriminatório, inverter o mencionado ónus da prova, atribuindo ao empregador o encargo de provar que a diferença salarial não assenta em algum desses factores, ou seja, que essa diferença é justificada. Vii - Não tendo a R. logrado demonstrar, relativamente aos anos de 2003 a 2006, que procedeu à avaliação do desempenho da A., e que o não pagamento dos prémios respectivos se ficou a dever a desempenho profissional insuficiente por parte desta, justificativo desse não pagamento, tem a A. direito ao pagamento dos reclamados prémios.. (Proc. nº. 554/07.0TTMTS.P1.S1, de 15/3/2012). Direito ao bom nome Sumário: I - Impondo-se ao director da publicação o dever especial de conhecer e decidir, antecipadamente, sobre a determinação do seu conteúdo, em ordem a impedir a divulgação de escritos ou imagens susceptíveis de constituir um facto ilícito gerador de responsabilidade civil, a imputação ao mesmo do conteúdo que resulta da própria titularidade e exercício da função e dos inerentes deveres de conhecimento integra uma presunção legal. II - Trata-se de uma presunção legal que dispensa o lesado do ónus da prova do facto a que a presunção conduz, isto é, a demonstração da culpa do agente, admitindo-se, porém, que o onerado a ilida, mediante prova em contrário, dada a sua natureza de presunção tantum iuris. iii - Tendo o lesado invocado os factos constitutivos do ilícito, isto é, no caso concreto, a publicação do «escrito» e a qualidade de director do agente, o qual, por seu turno, não alegou e provou que ignorava, de forma não culposa, o teor do escrito causador da lesão ou que este foi publicado sem o seu conhecimento ou com a sua oposição, não ilidiu, consequentemente, a base da presunção, tornando-se, assim, civilmente, responsável pelos danos causados. IV - Em matéria de responsabilidade civil, no âmbito da comunicação social, está consagrado um regime de solidariedade passiva dos titulares das empresas jornalísticas com o autor da publicação, mas não de litisconsórcio necessário, relativamente ao director da publicação. V - A gravidade do dano não patrimonial depende, por um lado, da intensidade das afirmações feitas e da divulgação que lhes foi dada, e, por outro, da personalidade e funções do visado, assumindo particular acuidade no caso de alguém que foi futebolista de eleição e exercia, na ocasião, funções de responsabilidade na Federação Portuguesa de Futebol. VI - De acordo com a doutrina da causalidade adequada, na sua vertente negativa, um facto é causal de um dano quando é um de entre várias condições sem as quais aquele se não teria produzido, exigindo-se entre o facto e o dano indemnizável um nexo mais apertado do que a simples sucessão cronológica, de modo que nem todos os danos sobrevindos ao facto ilícito estão incluídos na responsabilidade do agente. Vii - Muito embora os réus, na contestação, não tenham invocado a insolvência de terceiro como circunstância obstativa do cumprimento do contrato que o lesado celebrou com o mesmo, mas apenas com a junção de documentos que efectuaram antes da audiência de discussão e julgamento, não se tratando de defesa por excepção, mas antes de factos que compõem a negação motivada, era ao autor que competia a prova dos mesmos, como factos constitutivos do seu alegado direito à indemnização, e não aos réus. (Proc. n.º 3976/06.0TBCSC.L1.S1, de 15/3/2012).

66 BD JURÍDICA base de dados on-line Atualizada e tratada diariamente por uma equipa de juristas experientes Cobertura integral das áreas jurídicas mais relevantes Na BD Jurídica encontra legislação, doutrina fiscal e da Segurança Social, jurisprudência, textos de análise e minutas, tudo sistematizado por áreas jurídicas. Também disponível a edição da 1.ª série DR (desde 2003) e os diplomas mais importantes da 2.ª série. Áreas Temáticas Constituição Contabilidade Direito Administrativo Direito Civil Direito do Ambiente e Ordenamento do Território Direito do Consumo Direito Fiscal Direito Laboral Direito Penal Direito Rodoviário Incentivos e Apoios a Empresas Organização Político-Administrativa Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho Segurança Social Sociedades e Direito Comercial Turismo PREÇOS Destinatários Advogados Solicitadores Notários Revisores Oficiais de Contas Técnicos Oficiais de Contas Empresas (Departamentos Jurídicos) Responsáveis de Recursos Humanos Directores Financeiros Organismos Públicos Gabinetes de Contabilidade Autarquias Associações Empresariais Associações Comerciais Sindicatos Mensal: 30 Anual: 350 Bienal: 630 Assine já em tp: assinaturas@vidaeconomica.pt

67 Nº 1440 / 13 de abril 2012 / Semanal / Portugal Continental J 2,20 ISBN PUB Pág. 29 NESTA EDIÇÃO DIRETOR João Peixoto de Sousa PUB PUB DE GRC CEM NORTE ISBN FISCALIDADE Orçamento retificativo altera regras de IRS e IRC JOSÉ AZEVEDO RODRIGUES, BASTONÁRIO DA OROC, CONSIDERA Continuamos a conviver com inúmeros POC setoriais Págs. 4 e 5 FINANCIAMENTO A 100% E SPREADS A PARTIR DE 1,5% SÃO AS CONDIÇÕES OFERECIDAS Bancos têm milhares de imóveis para vender Pág. 41 MERCADOS Ouro ganha importância nas carteiras de investimento Pág. 42 Agricultura tem nova linha de crédito de 50 milhões de euros Pág. 8 Suplemento Frotas Suplemento Portos Especial Aeroportos Implemente uma solução de Contact Center em menos de 5 dias Atendimento de excelência Multicanal (Voz, , Chat) Reduz Custos Desde 110 mês ABRIL 1ª QUINZENA ANO 80º 2012 N º 7 4,00 euros (IVA incl.) Subsídio de desemprego tem novas regras Entraram em vigor no dia 1 de Abril as novas regras relativas à proteção no desemprego dos trabalhadores por conta de outrem, constantes do Decreto-Lei nº 220/2006, de 3.11 (Bol. do Contribuinte, 2006, pág. 487). Principais alterações Das novidades introduzidas pelo Decreto-Lei nº SUMÁRIO Legislação Lei n.º 14-A/2012, de 30.3 (IVA e Impostos Especiais de Consumo - alterações aos Códigos - alteração ao Dec.-Lei n.º 347/85, de 23.8) Dec. Leg. Reg. n.º 5/2012/M, de 30.3 (Orçamento da Madeira para adaptação do sistema fiscal nacional) Port. n.º 77/2012, de 26.3 (Contribuição sobre o setor bancário - Alteração à Port.nº 121/2011, de 3.3) 263 Proposta de Lei n.º 51/XII (Orçamento Retificativo - IRS, IRC, EBF, LGT, CPPT e Código Contributivo - alterações - Lei nº 64-B/2011, que aprova o Orçamento do Estado para legislação complementar alterações) DL n.º 65/2012, de 15.2 (Trabalhadores Independentes - proteção social na eventualidade de desemprego) 272 Resoluções administrativas e Informações vinculativas IMI: regime de avaliação geral de prédios urbanos para efeitos fiscais - Alteração do nº 6 da Circ. nº 25/ IVA: destruição de resíduos das indústrias alimentares; regras especiais de tributação - desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis - Anexo E ao Código do IVA (cavilha de latão); subsídios e comparticipações para a realização de feiras, congressos e outros eventos a 257 Obrigações fiscais do mês e informações diversas. 242 a 246 IRS - benefícios e deduções fiscais aplicáveis a Sistemas de incentivos e apoios Trabalho e Segurança Social Legislação, Informações Diversas a 277 Sumários do Diário da República /2012, de 15.3, destacam-se as seguintes: majoração temporária (até 31 de dezembro de 2012) de 10% do montante do subsídio de desemprego quando no mesmo agregado familiar ambos os cônjuges ou pessoas que vivam em união de facto sejam titulares do subsídio de desemprego e tenham filhos ou equiparados a cargo, ou quando no agregado monoparental o parente único seja titular do subsídio de desemprego e não aufira pensão de alimentos decretada ou homologada pelo tribunal (*). Refira-se que os beneficiários das prestações de desemprego já começaram a ser notificados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional da majoração de 10% sobre tais montantes. De acordo com o Governo, a eventual manutenção da majoração para além da data referida resultará da avaliação que o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social realizar nessa altura; redução de 450 para 360 dias do prazo de garantia para a obtenção de subsídio de desemprego; (Continua na pág. 275) NESTE NÚMERO: Orçamento retificativo proposta de lei IRS declaração modelo 3 - deduções e benefícios aplicáveis ao exercício de 2011 IMI regras de pagamento taxas CONTABILIDADE & EMPRESAS MARÇO E ABRIL 2012 N.º 14 2ª SÉRIE EDITORIAL Crescimento, Competitividade e Emprego ENTREVISTA Leopoldo Assunção Alves, Professor Universitário, ROC, TOC e membro da CNC Rui Almeida, Administrador do Grupo Moneris ARTIGOS Aplicação de resultados Património???? Macro enquadramento das diferenças de expectativas em auditoria: sociedade, economia, governo das sociedades e regulamentação Paulo Castro????? OUTROS DESTAQUES Falecimento do Presidente da CNC, Prof. Dr. Domingos José da Silva Cravo Caso Prático n.º 16 Dívidas a receber Nº fevereiro ,50 ARReNDAmeNTo URBANo Proposta de alteração Vida Judiciária fevereiro/2012 entrevista Paula Meira Lourenço comissão para a eficácia das execuções não é inconstitucional Exclusivo para compras online Regulamento em livraria.vidaeconomica.pt em foco Ordem dos Advogados de Angola quebra protocolo com advogados portugueses marcas Confundibilidade entre marcas Nos negócios, como na alta competição, é necessário estar bem preparado. Compre já em Vida Económica - R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c PORTO Tel Fax encomendas@vidaeconomica.pt

Lei n.º 63/2011 de 14 de Dezembro Aprova a Lei da Arbitragem Voluntária

Lei n.º 63/2011 de 14 de Dezembro Aprova a Lei da Arbitragem Voluntária Lei n.º 63/2011 de 14 de Dezembro Aprova a Lei da Arbitragem Voluntária A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.º Objecto 1 É aprovada

Leia mais

DR nº 238/2011 Ser. I. Lei nº 63/2011 de Artigo 1.º - Objecto. Artigo 2.º - Alteração ao Código de Processo Civil. Artigo 812.º-D - [...

DR nº 238/2011 Ser. I. Lei nº 63/2011 de Artigo 1.º - Objecto. Artigo 2.º - Alteração ao Código de Processo Civil. Artigo 812.º-D - [... DR nº 238/2011 Ser. I Lei nº 63/2011 de 14-12-2011 Aprova a Lei da Arbitragem Voluntária A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.º

Leia mais

REGIME JURÍDICO DA ARBITRAGEM SOCIETÁRIA. Artigo 1.º. (Objeto)

REGIME JURÍDICO DA ARBITRAGEM SOCIETÁRIA. Artigo 1.º. (Objeto) REGIME JURÍDICO DA ARBITRAGEM SOCIETÁRIA Artigo 1.º (Objeto) 1 O presente diploma estabelece o regime aplicável à resolução de litígios em matéria societária com recurso à arbitragem. 2 Podem ser submetidos

Leia mais

Direito da Arbitragem

Direito da Arbitragem Direito da Arbitragem ENSAIOS 2017 António Sampaio Caramelo NOTA INTRODUTÓRIA Reúnem-se no presente volume cinco estudos que versam sobre temas regidos pela nova Lei da Arbitragem Voluntária (LAV) e foram

Leia mais

JURISTEP

JURISTEP Lei n.º 9/2006, de 2 de Novembro Lei de Arbitragem Voluntária Este texto tem carácter meramente informativo e não dispensa a consulta do diploma original, conforme publicado no Diário da República. Quanto

Leia mais

Título de injunção europeu

Título de injunção europeu PATRÍCIA PINTO ALVES Título de injunção europeu VERBO jurídico VERBO jurídico Título de injunção europeu: 2 Título de injunção europeu PATRÍCIA PINTO ALVES Mestre em Direito pela Escola de Direito da Universidade

Leia mais

CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO REGULAMENTO DE ARBITRAGEM. Artigo 1º (Objecto) Artigo 2º (Convenção arbitral)

CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO REGULAMENTO DE ARBITRAGEM. Artigo 1º (Objecto) Artigo 2º (Convenção arbitral) CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO REGULAMENTO DE ARBITRAGEM Artigo 1º (Objecto) 1. Qualquer litígio em matéria comercial, que por lei especial não esteja submetido exclusivamente a tribunal

Leia mais

CENTRO DE ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO DE LISBOA

CENTRO DE ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO DE LISBOA REGULAMENTO DO TRIBUNAL ARBITRAL DO CENTRO DE ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO DE LISBOA No quadro da Lei nº 31/86, de 29 de Agosto * e do Decreto-Lei nº425/86, de 27 de Dezembro, a Câmara Municipal

Leia mais

CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA PORTUGUESA / ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE LISBOA CENTRO DE ARBITRAGEM COMERCIAL. Regulamento de Arbitragem 1

CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA PORTUGUESA / ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE LISBOA CENTRO DE ARBITRAGEM COMERCIAL. Regulamento de Arbitragem 1 1 Regulamento de Arbitragem 1 ARTIGO 1.º 1 Qualquer litígio de carácter económico, público ou privado, interno ou internacional, que por lei especial não esteja submetido exclusivamente a tribunal judicial

Leia mais

CONVENÇÃO SOBRE O RECONHECIMENTO E A EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGEIRAS, CELEBRADA EM NOVA IORQUE AOS 10 DE JUNHO DE 1958

CONVENÇÃO SOBRE O RECONHECIMENTO E A EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGEIRAS, CELEBRADA EM NOVA IORQUE AOS 10 DE JUNHO DE 1958 CONVENÇÃO SOBRE O RECONHECIMENTO E A EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGEIRAS, CELEBRADA EM NOVA IORQUE AOS 10 DE JUNHO DE 1958 Artigo I 1 A presente Convenção aplica-se ao reconhecimento e à execução

Leia mais

A Tutela Cautelar no Procedimento e no Processo Administrativo. Conselho Regional de Lisboa da Ordem dos Advogados Lisboa, 31/01/2016

A Tutela Cautelar no Procedimento e no Processo Administrativo. Conselho Regional de Lisboa da Ordem dos Advogados Lisboa, 31/01/2016 A Tutela Cautelar no Procedimento e no Processo Administrativo Conselho Regional de Lisboa da Ordem dos Advogados Lisboa, 31/01/2016 Código do Procedimento Administrativo Medidas Provisórias CPA 1991 Artigo

Leia mais

UNIVERSIDADE CATÓLICA, LISBOA 27 DE NOVEMBRO DE 2015 Ana Celeste Carvalho

UNIVERSIDADE CATÓLICA, LISBOA 27 DE NOVEMBRO DE 2015 Ana Celeste Carvalho UNIVERSIDADE CATÓLICA, LISBOA 27 DE NOVEMBRO DE 2015 Ana Celeste Carvalho O Artigo 45.º sofre alterações (exercício de clarificação): - pressuposto material da norma: que a pretensão do autor seja fundada

Leia mais

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM REGULAMENTO DE ARBITRAGEM (Centro de Arbitragem da U.A.L.) CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 1º (Âmbito de aplicação) O Centro de Arbitragem da U.A.L, doravante designado por Centro de Arbitragem, tem

Leia mais

DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM

DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM Página 1 de 46 PROPOSTA DE LEI Nº Arbitragem Voluntária O Governo, usando da faculdade conferida no nº 1 do artigo 170º da Constituição, apresenta à Assembleia da República, com o pedido de prioridade

Leia mais

Protecção dos Utentes de Serviços Públicos Essenciais (Lei nº 23/96, de 23.7)

Protecção dos Utentes de Serviços Públicos Essenciais (Lei nº 23/96, de 23.7) Protecção dos Utentes de Serviços Públicos Essenciais (Lei nº 23/96, de 23.7) ÍNDICE Artigo 1.º Objecto e âmbito Artigo 2.º Direito de participação Artigo 3.º Princípio geral Artigo 4.º Dever de informação

Leia mais

Regulamento de Arbitragem. Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Algarve

Regulamento de Arbitragem. Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Algarve Regulamento de Arbitragem Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Algarve Capítulo 1 Objeto, natureza e âmbito geográfico Artigo 1.º Objeto O Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de Conflitos

Leia mais

ANEXO I TABELA DE CUSTAS E HONORÁRIOS DOS ÁRBITROS

ANEXO I TABELA DE CUSTAS E HONORÁRIOS DOS ÁRBITROS ANEXO I TABELA DE CUSTAS E HONORÁRIOS DOS ÁRBITROS Consoante dispõe o Regulamento de Arbitragem, doravante denominado simplesmente Regulamento, os custos dos procedimentos arbitrais comportam 1 : 1. TAXA

Leia mais

Jornal Oficial da União Europeia L 331/19

Jornal Oficial da União Europeia L 331/19 16.12.2009 Jornal Oficial da União Europeia L 331/19 ANEXO TRADUÇÃO PROTOCOLO sobre a lei aplicável às obrigações de alimentos Os Estados signatários do presente protocolo, Desejando estabelecer disposições

Leia mais

Sistema Fiscal Moçambicano GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE PAGAMENTO DE DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS A PRESTAÇÕES COMPENSAÇÃO DAS DÍVIDAS

Sistema Fiscal Moçambicano GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE PAGAMENTO DE DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS A PRESTAÇÕES COMPENSAÇÃO DAS DÍVIDAS Sistema Fiscal Moçambicano GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE PAGAMENTO DE DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS A PRESTAÇÕES COMPENSAÇÃO DAS DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE

Leia mais

Regulamento de Arbitragem

Regulamento de Arbitragem Regulamento de Arbitragem (Centro de Arbitragem da Universidade Autónoma de Lisboa) Capítulo I Disposições Gerais Artigo 1º (Âmbito de aplicação) O Centro de Arbitragem da Universidade Autónoma de Lisboa,

Leia mais

Centro de Arbitragem da P ropriedade e do Imobiliário da ESAI. Regulamento do P rocesso de Arbitragem

Centro de Arbitragem da P ropriedade e do Imobiliário da ESAI. Regulamento do P rocesso de Arbitragem Centro de Arbitragem da P ropriedade e do Imobiliário da ESAI Regulamento do P rocesso de Arbitragem CAP Í TULO I Disposições preliminares Artigo 1º. 1. Qualquer litígio em matéria de Direitos Reais, nomeadamente

Leia mais

Minuta de Ata de Missão que Esta Sociedade Segue nos Processos Arbitrais

Minuta de Ata de Missão que Esta Sociedade Segue nos Processos Arbitrais Minuta de Ata de Missão que Esta Sociedade Segue nos Processos Arbitrais.... (nome da instituição de arbitragem e nº. do processo). Demandante (nome) vs.. Demandada (nome) ATA DE MISSÃO e ANEXOS O TRIBUNAL

Leia mais

Código de Processo Penal Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social

Código de Processo Penal Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social Código de Processo Penal Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social Artigo 86. o Publicidade do processo e segredo de justiça 1. O processo penal é, sob pena de nulidade, público a partir

Leia mais

REGULAMENTO DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO DE CONFLITOS DA ERSE

REGULAMENTO DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO DE CONFLITOS DA ERSE REGULAMENTO DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO DE CONFLITOS DA ERSE Outubro de 2002 Recentes Recomendações da Comissão Europeia interpelam as várias entidades com competências em matéria de resolução de conflitos

Leia mais

A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO

A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO Balanço sobre o Novo Processo Civil Jorge Morais Carvalho 10 de março de 2016 ESQUEMA DA APRESENTAÇÃO Introdução Distinção entre mediação e conciliação. Problemas jurídicos da

Leia mais

LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÃO DOS PROCESSOS EXECUTIVOS

LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÃO DOS PROCESSOS EXECUTIVOS LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÃO DOS PROCESSOS EXECUTIVOS DADOS GERAIS PROCESSO N.º TRIBUNAL: JUÍZO: SECÇÃO: DATA DE ENTRADA: _ TÍTULO EXECUTIVO: TIPO DE EXECUÇÃO: EXECUÇÃO INICIADA ANTES DE 15/09/2003: FORMA

Leia mais

Lei n.º 46/2011 de 24 de Junho

Lei n.º 46/2011 de 24 de Junho Não dispensa a consulta do diploma publicado em Diário da República. Lei n.º 46/2011 de 24 de Junho Cria o tribunal de competência especializada para propriedade intelectual e o tribunal de competência

Leia mais

REGULAMENTO DO CENTRO NACIONAL DE INFORMAÇÃO E ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO

REGULAMENTO DO CENTRO NACIONAL DE INFORMAÇÃO E ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO REGULAMENTO DO CENTRO NACIONAL DE INFORMAÇÃO E ARBITRAGEM DE CONFLITOS DE CONSUMO CAPÍTULO I Objeto, natureza e atuação supletiva Artigo 1.º Objeto O Centro Nacional de Informação e Arbitragem de Conflitos

Leia mais

CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO CACM REGULAMENTO DE CUSTAS DE ARBITRAGEM. Artigo 1º (Definições)

CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO CACM REGULAMENTO DE CUSTAS DE ARBITRAGEM. Artigo 1º (Definições) CENTRO DE ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO CACM REGULAMENTO DE CUSTAS DE ARBITRAGEM Artigo 1º (Definições) Para efeitos do presente regulamento entende-se por: a) Encargos administrativos os que resultam

Leia mais

Grupo Parlamentar PROJECTO DE LEI N.º 264/XI. Segunda alteração à Lei nº 31/86, de 29 de Agosto (Lei de Arbitragem Voluntária)

Grupo Parlamentar PROJECTO DE LEI N.º 264/XI. Segunda alteração à Lei nº 31/86, de 29 de Agosto (Lei de Arbitragem Voluntária) Grupo Parlamentar PROJECTO DE LEI N.º 264/XI Segunda alteração à Lei nº 31/86, de 29 de Agosto (Lei de Arbitragem Voluntária) 1 A arbitragem voluntária que em Portugal se rege pela Lei nº 31/86, de 29

Leia mais

Tribunal de Contas. Acórdão 4/2008 (vd. Acórdão 2/06 3ª S de 30 de Janeiro) Sumário

Tribunal de Contas. Acórdão 4/2008 (vd. Acórdão 2/06 3ª S de 30 de Janeiro) Sumário Acórdão 4/2008 (vd. Acórdão 2/06 3ª S de 30 de Janeiro) Sumário 1. São duas as questões suscitadas pelo Demandado: - uma que respeita a competência do relator para a decisão tomada e a eventual nulidade

Leia mais

REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO METROPOLITANO DE LISBOA

REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO METROPOLITANO DE LISBOA REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO METROPOLITANO DE LISBOA Artigo 1º. O presente documento tem por objeto definir o estatuto do Provedor do Cliente do METROPOLITANO DE LISBOA, EPE (ML) e estabelecer

Leia mais

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Page 1 of 6 Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 373/09.0TTLSB.L1-4 Relator: PAULA SÁ FERNANDES Descritores: ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA CONVENÇÃO ARBITRAL PRETERIÇÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL

Leia mais

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM DO CENTRO DE INFORMAÇÃO, MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM DA ORDEM DOS NOTÁRIOS. Capitulo I Princípios Gerais

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM DO CENTRO DE INFORMAÇÃO, MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM DA ORDEM DOS NOTÁRIOS. Capitulo I Princípios Gerais Capitulo I Princípios Gerais Artigo 1.º (Objecto da arbitragem) Qualquer litígio, público ou privado, que por lei seja susceptível de ser resolvido por meio de arbitragem voluntária, pode ser submetido

Leia mais

REGULAMENTO DE CUSTAS CENTRO DE ARBITRAGEM DA UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA

REGULAMENTO DE CUSTAS CENTRO DE ARBITRAGEM DA UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA REGULAMENTO DE CUSTAS CENTRO DE ARBITRAGEM DA UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA Artigo 1º (Encargos da arbitragem) 1. No processo arbitral haverá lugar ao pagamento de encargos. 2. Os encargos referidos

Leia mais

Rui Duarte Morais QUANDO A ADMINISTRAÇÃO FISCAL INCUMPRE QUINTAS-FEIRAS DE DIREITO 7 DE JULHO DE 2011

Rui Duarte Morais QUANDO A ADMINISTRAÇÃO FISCAL INCUMPRE QUINTAS-FEIRAS DE DIREITO 7 DE JULHO DE 2011 Rui Duarte Morais 1 QUANDO A ADMINISTRAÇÃO FISCAL INCUMPRE QUINTAS-FEIRAS DE DIREITO 7 DE JULHO DE 2011 Compensação por Iniciativa do Contribuinte 2 Artigo 90º n.º 1 C.P.P.T. A compensação com créditos

Leia mais

CÓDIGO CIVIL - EXTRATO

CÓDIGO CIVIL - EXTRATO CÓDIGO CIVIL - EXTRATO Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344, de 25 de novembro de 1966. Entrada em vigor: 01-06-1967. Alterações aos artigos deste extrato: Decreto-Lei n.º 236/80, de 18 de julho, retificado

Leia mais

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE DE SEGUROS DA CARAVELA - COMPANHIA DE SEGUROS, S.A. ARTIGO 1º PROVEDOR DO CLIENTE

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE DE SEGUROS DA CARAVELA - COMPANHIA DE SEGUROS, S.A. ARTIGO 1º PROVEDOR DO CLIENTE ARTIGO 1º PROVEDOR DO CLIENTE 1. O Provedor do Cliente é uma pessoa singular de reconhecido prestígio, qualificação, idoneidade e independência, à qual os tomadores de seguros, segurados, beneficiários

Leia mais

COMISSÃO NACIONAL DE ESTÁGIO E FORMAÇÃO

COMISSÃO NACIONAL DE ESTÁGIO E FORMAÇÃO COMISSÃO NACIONAL DE ESTÁGIO E FORMAÇÃO Prática Processual Civil Programa I CONSULTA JURÍDICA 1.1 Consulta jurídica 1.2 Tentativa de resolução amigável 1.3 Gestão do cliente e seu processo II PATROCÍNIO

Leia mais

24. Convenção sobre a Lei Aplicável às Obrigações Alimentares

24. Convenção sobre a Lei Aplicável às Obrigações Alimentares 24. Convenção sobre a Lei Aplicável às Obrigações Alimentares Os Estados signatários da presente Convenção, desejando estabelecer disposições comuns relativas à lei aplicável às obrigações alimentares

Leia mais

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL LEI 41/2013, DE 26/6

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL LEI 41/2013, DE 26/6 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL LEI 41/2013, DE 26/6 * Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto (Lei da Organização do Sistema Judiciário) * Declaração de Retificação nº 36/2013, de 12 de Agosto * Portaria nº 280/2013,

Leia mais

sobre o papel do Ministério Público fora do sistema de justiça penal

sobre o papel do Ministério Público fora do sistema de justiça penal TRADUÇÃO da versão em francês CONSELHO DA EUROPA Recomendação CM/Rec(2012)11 do Comité de Ministros aos Estados Membros sobre o papel do Ministério Público fora do sistema de justiça penal (adoptada pelo

Leia mais

ASPECTOS RELEVANTES DO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA. 35 PERGUNTAS E RESPOSTAS

ASPECTOS RELEVANTES DO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA. 35 PERGUNTAS E RESPOSTAS ASPECTOS RELEVANTES DO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA. 35 PERGUNTAS E RESPOSTAS 1. Como se processa a liquidação do património do devedor na insolvência? Através da venda do património do devedor; Outra forma,

Leia mais

REGULAMENTO DO PROCESSO DE ARBITRAGEM

REGULAMENTO DO PROCESSO DE ARBITRAGEM REGULAMENTO DO PROCESSO DE ARBITRAGEM CAPÍTULO I DO INÍCIO DO PROCESSO Art. 1º As partes poderão submeter à arbitragem da Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada CAMES os conflitos sobre direitos

Leia mais

Regulamento de funcionamento do Provedor do Cliente

Regulamento de funcionamento do Provedor do Cliente Regulamento de funcionamento do Provedor do Cliente ARTIGO 1º - Provedor do Cliente da INTER PARTNER ASSISTANCE 1. A Inter Partner Assistance S.A.- Sucursal Portugal, designa pelo prazo de um ano, renovável,

Leia mais

s. R. TRIBUNAL DA COMARCA DE LISBOA Rua Marquês de Fronteira - Palácio da Justiça de Lisboa - Edifício Norte (Piso 4) Lisboa

s. R. TRIBUNAL DA COMARCA DE LISBOA Rua Marquês de Fronteira - Palácio da Justiça de Lisboa - Edifício Norte (Piso 4) Lisboa s. R. Regulamento do Conselho de Gestão da Comarca de Lisboa \0~ I'~, - ~.... J.. a->: Preâmbulo A Lei 62/2013, de 26 de Agosto, que estabelece as normas de enquadramento e de organização do sistema judiciário,

Leia mais

DECRETO N.º 156/XIII

DECRETO N.º 156/XIII DECRETO N.º 156/XIII Altera o Decreto-Lei n.º 433/99, de 26 de outubro, o Código de Procedimento e de Processo Tributário, e o Decreto-Lei n.º 6/2013, de 17 de janeiro A Assembleia da República decreta,

Leia mais

Processo de arbitragem n.º 23/2015. Sentença

Processo de arbitragem n.º 23/2015. Sentença Processo de arbitragem n.º 23/2015 Demandante: A Demandada: B Árbitro único: Jorge Morais Carvalho Sentença I Processo 1. O processo correu os seus termos em conformidade com o Regulamento do Centro Nacional

Leia mais

Associação de Futebol de Lisboa

Associação de Futebol de Lisboa Associação de Futebol de Lisboa Conselho de Arbitragem FUTSAL NORMAS REGULAMENTARES PARA CRONOMETRISTAS EDIÇÃO - 2010 INDICE 5 / 00. TEMAS NOMEAÇÃO PARA JOGOS 01 TESTES ESCRITOS 02 ASSIDUIDADE E COLABORAÇÃO

Leia mais

RECOMENDAÇÃO. R. nº 2

RECOMENDAÇÃO. R. nº 2 RECOMENDAÇÃO R. nº 2 Objecto da queixa: O cidadão apresentou queixa escrita ao Provedor Municipal alegando ter requerido em 04/04/03 a renovação/prorrogação da licença nº 573/02, que caducava em 19/05/03,

Leia mais

Breviário de funções do secretário de justiça

Breviário de funções do secretário de justiça Breviário de funções do secretário de justiça Centro de Formação de Funcionários de Justiça Direção-geral da Administração da Justiça Breviário PADRONIZAÇÃO de funções DAS do CUSTAS secretário JUDICIAIS

Leia mais

Descritores doença profissional; requerimento; junta médica; incapacidade; caixa nacional de pensões;

Descritores doença profissional; requerimento; junta médica; incapacidade; caixa nacional de pensões; ECLI:PT:TRE:2003:2348.03.3 http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ecli:pt:tre:2003:2348.03.3 Relator Nº do Documento Apenso Data do Acordão 18/11/2003 Data de decisão sumária Votação unanimidade Tribunal

Leia mais

Regulamento sobre Prestação de Serviço Técnico de Revisão de Rotulagens em Suplementos Alimentares

Regulamento sobre Prestação de Serviço Técnico de Revisão de Rotulagens em Suplementos Alimentares Regulamento sobre Prestação de Serviço Técnico de Revisão de Rotulagens em Suplementos Alimentares 1.º Âmbito A Associação Portuguesa de Suplementos Alimentares(APARD), através do seu Gabinete Técnico

Leia mais

Anexo 11. Garantia Bancária referente à Caução

Anexo 11. Garantia Bancária referente à Caução Anexo 11 Garantia Bancária referente à Caução O Banco [ ], com sede em [ ], NIPC [ ], com o capital social [integralmente realizado] de [ ], representado por [ ], na qualidade de [ ], com poderes para

Leia mais

CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARECER DO C.S.M.P. Projectos de proposta de Lei que procedem à criação do Tribunal Arbitral do Desporto I. INTRODUÇÃO Solicitou a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias

Leia mais

ORGANIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO E PROCESSO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL Lei n.o 28/82, (*) de 15 de Novembro (Excertos)

ORGANIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO E PROCESSO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL Lei n.o 28/82, (*) de 15 de Novembro (Excertos) ORGANIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO E PROCESSO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL Lei n.o 28/82, (*) de 15 de Novembro (Excertos) A Assembleia da República decreta, nos termos do artigo 244.o da Lei Constitucional n.o

Leia mais

UNIÃO EUROPEIA Instituto Comunitário das Variedades Vegetais

UNIÃO EUROPEIA Instituto Comunitário das Variedades Vegetais UNIÃO EUROPEIA Instituto Comunitário das Variedades Vegetais DECISÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO INSTITUTO COMUNITÁRIO DAS VARIEDADES VEGETAIS de 25 de Março de 2004 sobre a execução do Regulamento

Leia mais

Provedoria do Cliente. Regulamento de Funcionamento

Provedoria do Cliente. Regulamento de Funcionamento Provedoria do Cliente Regulamento de Funcionamento Provedoria do Cliente da Abarca - Companhia de Seguros, SA Regulamento de Funcionamento Artigo 1.º - Objecto 1. O presente documento tem por objecto definir

Leia mais

REGULAMENTO INTERNO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO BCN CAPÍTULO I. Princípios Gerais

REGULAMENTO INTERNO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO BCN CAPÍTULO I. Princípios Gerais REGULAMENTO INTERNO DO PROVEDOR DO CLIENTE DO BCN CAPÍTULO I Princípios Gerais Artigo 1.º Funções 1. O Provedor do Cliente do BCN tem por função principal a defesa e promoção dos direitos, garantias e

Leia mais

PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL

PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL 25ª Sessão DA REFORMA DOS RECURSOS EM PROCESSO CIVIL Carla de Sousa Advogada 1º Curso de Estágio 2011 1 Enquadramento legal DL nº 303/2007 de 24 de Agosto Rectificado pela: Declaração

Leia mais

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS. FACULDADE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE NOVA POST-GRADUAÇÃO DE GESTÃO PARA JURISTAS José Miguel Júdice

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS. FACULDADE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE NOVA POST-GRADUAÇÃO DE GESTÃO PARA JURISTAS José Miguel Júdice RESOLUÇÃO DE CONFLITOS FACULDADE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE NOVA POST-GRADUAÇÃO DE GESTÃO PARA JURISTAS José Miguel Júdice A litigiosidade nas empresas. Suas características: a) o contencioso de cobranças

Leia mais

PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO (RNE)

PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO (RNE) ORDEM DOS ADVOGADOS CNEF / CNA Comissão Nacional de Estágio e Formação / Comissão Nacional de Avaliação PROVA ESCRTA NACONAL DO EXAME FNAL DE AVALAÇÃO E AGREGAÇÃO (RNE) GRELHAS DE CORRECÇÃO ÁREAS OPCONAS

Leia mais

PARECER Nº 68/PP/2013-P CONCLUSÕES:

PARECER Nº 68/PP/2013-P CONCLUSÕES: 1 PARECER Nº 68/PP/2013-P CONCLUSÕES: 1. Um Advogado que tenha sido nomeado patrono oficioso de um menor num processo judicial de promoção e protecção de crianças e jovens em perigo, requerido pelo Ministério

Leia mais

REGULAMENTO MUNICIPAL DOS EQUIPAMENTOS DESPORTIVOS, CULTURAIS E DE LAZER

REGULAMENTO MUNICIPAL DOS EQUIPAMENTOS DESPORTIVOS, CULTURAIS E DE LAZER REGULAMENTO MUNICIPAL DOS EQUIPAMENTOS DESPORTIVOS, CULTURAIS E DE LAZER CAPÍTULO II Dos Equipamentos Desportivos Secção I Objecto Artigo 6º (Objecto) As normas gerais, as condições de cedência e as condições

Leia mais

CONTRATO EMPREGO-INSERÇÃO

CONTRATO EMPREGO-INSERÇÃO CONTRATO EMPREGO-INSERÇÃO Celebrado no âmbito da Medida Contrato Emprego-Inserção Desempregados Beneficiários das Prestações de Desemprego Entre (Denominação, forma jurídica e actividade da entidade),

Leia mais

REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS. Decreto n.º 42/08. de 3 de Julho

REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS. Decreto n.º 42/08. de 3 de Julho REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS Decreto n.º 42/08 de 3 de Julho Considerando que a protecção social obrigatória compreende, além do regime dos trabalhadores por conta de outrem, o regime dos

Leia mais

A LGT no Orçamento do Estado para Audit Tax Advisory Consulting

A LGT no Orçamento do Estado para Audit Tax Advisory Consulting Audit Tax Advisory Consulting Domicílio fiscal O domicílio fiscal integra a caixa postal eletrónica, nos termos do serviço público de caixa postal eletrónica (Decreto-Lei n.º 112/2006, de 9 de Junho, e

Leia mais

Anexo IV -Modelo de Declaração de Inexistência de Impedimentos para a participação em procedimentos de contratação pública

Anexo IV -Modelo de Declaração de Inexistência de Impedimentos para a participação em procedimentos de contratação pública Anexo IV -Modelo de Declaração de Inexistência de Impedimentos para a participação em procedimentos de contratação pública Declaração de inexistência de impedimentos a que se refere a alínea 4) nº 1.2

Leia mais

Regulamento das Cus stas Processuais A Conta de Custas no Regulamento das Custas Processuais

Regulamento das Cus stas Processuais A Conta de Custas no Regulamento das Custas Processuais A Conta de Custas no Regulamento das Custas Processuais 1 Conceito de taxa de justiça no C.C.J. A taxa de justiça do processo corresponde ao somatório das taxas de justiça inicial e subsequente de cada

Leia mais

PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM ENFERMAGEM

PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM ENFERMAGEM PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM ENFERMAGEM REGULAMENTO 1 - Justificação As Ciências da Saúde têm registado nos últimos anos um progresso assinalável em múltiplos domínios. Este progresso assenta, em grande

Leia mais

Decreto-Lei n.º140/2009, de 15 de Junho

Decreto-Lei n.º140/2009, de 15 de Junho Decreto-Lei n.º140/2009, de 15 de Junho 1. Que intervenções ou obras estão sujeitos à obrigatoriedade de elaboração de relatórios? O presente diploma abrange os bens culturais móveis e imóveis, assim como

Leia mais

OS DIREITOS E AS GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES E AS PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO FISCAL CADUCIDADE E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

OS DIREITOS E AS GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES E AS PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO FISCAL CADUCIDADE E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA CADUCIDADE E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA Manuel Faustino Lisboa, 13/07/2007 1 A caducidade como limite temporal do direito à liquidação do imposto - art.ºs 45.º/46.º da LGT: Prazo geral e supletivo:

Leia mais

Regulamento do Provedor Académico da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Regulamento do Provedor Académico da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Regulamento do Provedor Académico da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Nos termos do artigo 51.º dos Estatutos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,

Leia mais

AS CONTAS NAS CUSTAS PROCESSUAIS

AS CONTAS NAS CUSTAS PROCESSUAIS Conferência 10.MAR.2016 pelas 17:30h AS CONTAS NAS CUSTAS PROCESSUAIS Tema específico: Custas de parte e contas finais. Diamantino Pereira Dispositivos importantes processo civil: Art.º 48.º (Falta insuficiência

Leia mais

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE REGULAMENTO DO CONSELHO CONSULTIVO 10 DE SETEMBRO DE 2014 R u a S. J o ã o d e B r i t o, 6 2 1 L 3 2, 4 1 0 0-4 5 5 P O R T O e-mail: g e r a l @ e r s. p t telef.: 222 092

Leia mais

Regras de Arbitragem aplicáveis à Divisão Antidoping do CAS

Regras de Arbitragem aplicáveis à Divisão Antidoping do CAS Regras de Arbitragem aplicáveis à Divisão Antidoping do CAS Preâmbulo CONSIDERANDO que o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional (doravante COI ) delegou seu poder de decisão quanto a qualquer

Leia mais

Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização Serviço de Estrangeiros e Fronteiras Regulamento de Assistência Jurídica Capítulo I Disposições gerais e preliminares Artigo 1.º 1. O presente Regulamento visa regular o direito à assistência jurídica dos Associados do SCIF. 2. O SCIF garante,

Leia mais

DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL CAPÍTULO I DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL

DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL CAPÍTULO I DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL Em virtude do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105, de 16.3.15, que entrará em vigor em 17.3.16, passará a vigorar as novas disposições sobre a Competência Internacional, conforme os artigos abaixo

Leia mais

CONTRATO DE ADESÃO PVE. (Artigo 2.º n.º2, do Decreto-Lei n. 170/2008, de 26 de agosto)

CONTRATO DE ADESÃO PVE. (Artigo 2.º n.º2, do Decreto-Lei n. 170/2008, de 26 de agosto) CONTRATO DE ADESÃO PVE (Artigo 2.º n.º2, do Decreto-Lei n. 170/2008, de 26 de agosto) Entre: Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P. com sede em Alfragide, na Av. Leite de Vasconcelos,

Leia mais

LEI DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS

LEI DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS Lei n.º 23/96, de 26 de Julho (versão atualizada fev. 2016) LEI DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS Artigo 1.º Objecto e âmbito 1 - A presente lei consagra regras a que deve obedecer a prestação de serviços

Leia mais

A arbitragem administrativa institucionalizada: aspetos constitucionais

A arbitragem administrativa institucionalizada: aspetos constitucionais A arbitragem administrativa institucionalizada: aspetos constitucionais João Tiago Silveira CAAD e ICJP 13 de novembro de 2016 Sumário 1. A arbitragem administrativa institucionalizada e o Centro de Arbitragem

Leia mais

Unificação das formas de processo tramitação da ação administrativa. Dinamene de Freitas Assistente da FDUL

Unificação das formas de processo tramitação da ação administrativa. Dinamene de Freitas Assistente da FDUL Unificação das formas de processo tramitação da ação administrativa Dinamene de Freitas Assistente da FDUL Tópicos da apresentação Alguns aspetos da tramitação da ação administrativa (AA) na aproximação

Leia mais

14. Convenção Relativa à Citação e à Notificação no Estrangeiro dos Actos Judiciais e Extrajudiciais em Matéria Civil e Comercial

14. Convenção Relativa à Citação e à Notificação no Estrangeiro dos Actos Judiciais e Extrajudiciais em Matéria Civil e Comercial 14. Convenção Relativa à Citação e à Notificação no Estrangeiro dos Actos Judiciais e Extrajudiciais em Matéria Civil e Comercial Os Estados signatários da presente Convenção, desejando criar os meios

Leia mais

Decreto n.º 6/01 de 19 de Janeiro - Regulamento sobre o Exercício da Actividade Profissional do Trabalhador Estrangeiro Não Residente

Decreto n.º 6/01 de 19 de Janeiro - Regulamento sobre o Exercício da Actividade Profissional do Trabalhador Estrangeiro Não Residente Decreto n.º 6/01 de 19 de Janeiro - Regulamento sobre o Exercício da Actividade Profissional do Trabalhador Estrangeiro Não Residente e-mail: geral@info-angola.com portal: www.info-angola.com Página 1

Leia mais

Portaria nº 536/95, de 3 de Junho

Portaria nº 536/95, de 3 de Junho Portaria nº 536/95, de 3 de Junho Prevê-se no nº 2 do artigo 56.º do Regulamento do Serviço Público de Correios, aprovado pelo Decreto-Lei nº 176/88, de 18 de Maio, que as disposições respeitantes ao serviço

Leia mais

Código de Processo Civil

Código de Processo Civil Lei nº 7/2009, de 12 de Fevereiro [1] Código de Processo Civil 2011 22ª Edição Actualização nº 2 1 [1] Código do Trabalho CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Actualização nº 2 ORGANIZAÇÃO BDJUR BASE DE DADOS JURÍDICA

Leia mais

Correspondência entre articulados: CPA'91/CPA'15. Princípios gerais CAPÍTULO II

Correspondência entre articulados: CPA'91/CPA'15. Princípios gerais CAPÍTULO II Correspondência entre articulados: / Princípios gerais PARTE I Disposições preliminares CAPÍTULO I Definição Artigo 1.º Âmbito de aplicação Artigo 2.º Princípios gerais CAPÍTULO II Princípio da legalidade

Leia mais

De destacar, a obrigatoriedade de igualdade de tratamento, pelo Empregador, entre o Trabalhador Nacional e o Trabalhador Estrangeiro.

De destacar, a obrigatoriedade de igualdade de tratamento, pelo Empregador, entre o Trabalhador Nacional e o Trabalhador Estrangeiro. O Decreto n.º 6/01, de 19 de Janeiro aprova o Regulamento Sobre o Exercício da Actividade Profissional do Trabalhador Estrangeiro Não Residente, quer no sector público, quer no sector privado, tendo entrado

Leia mais

As suas questões. sobre o Tribunal de Justiça da União Europeia

As suas questões. sobre o Tribunal de Justiça da União Europeia As suas questões sobre o Tribunal de Justiça da União Europeia PORQUÊ UM TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (TJUE)? Para construir a Europa, os Estados (actualmente 27) celebraram entre si Tratados

Leia mais

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM

REGULAMENTO DE ARBITRAGEM REGULAMENTO DE ARBITRAGEM CAPÍTULO I Disposições gerais Artigo 1.º Âmbito de aplicação O presente Regulamento aplica-se às arbitragens que decorram sob a égide do ARBITRARE - Centro de Arbitragem para

Leia mais

1 JO no C 24 de , p JO no C 240 de , p JO no C 159 de , p. 32.

1 JO no C 24 de , p JO no C 240 de , p JO no C 159 de , p. 32. Directiva 91/533/CEE do Conselho, de 14 de Outubro de 1991, relativa à obrigação de a entidade patronal informar o trabalhador sobre as condições aplicáveis ao contrato ou à relação de trabalho Jornal

Leia mais