CASTRAÇÃO QUÍMICA: COMO MEDIDA PUNITIVA
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- Maria Clara Garrido Maranhão
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1 CASTRAÇÃO QUÍMICA: COMO MEDIDA PUNITIVA Iwerton Porto Silveira Eliane Guilhermino Barbosa Orientador: Bruno Cézar Cadé RESUMO: Este resumo expandido tem o objetivo de estudar a castração química como forma de punição, sua inconstitucionalidade, seu procedimento e sua eficácia. Palavras-chave: castração química, inconstitucionalidade, lei. INTRODUÇÃO O presente resumo expandido abordará o tema castração química, atualmente no Brasil tramitam vários projetos de lei prevendo o uso deste procedimento como pena a ser aplicada aos criminosos sexuais, através de supressão hormonal, com a finalidade de prevenir a reincidência de criminoso. Esse projeto de lei tem levantado diversas críticas principalmente no tocante à sua constitucionalidade. Recentemente a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal considerou o projeto de Lei 522/2007 inconstitucional. É inevitável não observar essa discussão do ponto de vista Constitucional, pois esse projeto afronta vários princípios basilares da nossa Constituição. Com base na Constituição Federal, em seu artigo 5.º, XLVII, proíbe terminantemente a imposição de penas consideradas cruéis. No seu artigo 1º, inciso III a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental. Tal princípio não é um direito concedido pelo ordenamento jurídico, mas um atributo inerente a todos os seres humanos, independentemente de sua origem, raça, sexo, cor ou quaisquer outros requisitos. [1]
2 METODOLOGIA: Pesquisa acadêmica através de artigos jurídicos e textos publicados na internet, trazendo uma abordagem clara e informativa sobre a utilização da castração química como meio de punição para crimes sexuais. DESENVOLVIMENTO A castração química não é um assunto novo, ele vem sendo amplamente discutido no mundo jurídico, após a década de 90 e depois de inúmeras notícias de casos de abusos praticados contra crianças e adolescentes, se iniciou tanto no Brasil como no mundo um movimento a favor de penas mais severas para os crimes praticados por agressores sexuais, como estupradores e pedófilos, que são classificados entre os casos de maior reincidência penal em todos os países. Em 2002 foi proposto no Brasil um projeto de Lei nº de 2002, para alteração do preceito secundário dos art. 213 e 214 do Código Penal à época, rejeitado no meio jurídico e considerado inconstitucional. No mesmo ano o Senador Gerson Camata (PMDB-ES) propôs o Projeto de Lei do Senado Federal n. 552/07, com relatoria do senador Marcelo Crivella (PRB), que acresce ao art. 216-B ao Código Penal a pena de castração química ao autor dos crimes tipificados nos artigos 213, 214 (revogado pela Lei /2009), 218 e 224 (revogado pela Lei /2009) do Código Penal brasileiro. A castração química é diferente da castração cirúrgica masculina, onde os testículos são e removidos no procedimento, já na castração química é aplicado mensalmente uma quantidade de hormônio feminino que atuara sobre os neurotransmissores cerebrais que controlam a produção de esperma e testosterona ou o consumo diário de uma pílula que inibira o desejo sexual, esse tratamento também pode incluir sessões de terapia. Trindade apud WUNDERLICH e FERNANDES (2007 p. 47) a respeito desse procedimento assevera e conceitua: [...] alguns países têm recorrido à denominada castração química. É o uso de fármacos inibidores dos impulsos sexuais e bloqueadores do desejo, utilizando drogas que neutralizam o hormônio que os testículos produzem. O anitato de cyproterona e medroxyprogesterona (Depo-Provera), dois derivativos do hormônio progesterona, são os anti-andrógenos mais pesquisados. Eles reduzem o nível de testosterona. Também, a Triptorelina, uma droga liberadora de gonadropina, reduz os níveis de testosterona. De acordo com um estudo feito pela Universidade de São Paulo, a castração química é um tratamento reversível, temporário, que utiliza procedimentos químicos
3 que visa à redução da libido, tem os seus efeitos esperados e colaterais como diabetes, aumento da pressão arterial, perda de massa muscular, rearranjo da gordura corporal, feminização, atrofia da genitália masculina e câncer hepático (JUNIOR, 2013). A utilização da castração química é incompatível com a constituição vigente no nosso País. Isso porque, ao ser usada como medida punitiva para quem comete crimes sexuais fere não só princípios fundamentais, mas também diversos dispositivos constitucionais. Desta forma, não se pode determinar coercitivamente em uma sentença que o infrator se submeta ao tratamento de supressão hormonal, consistente na utilização de medicamentos inibidores do apetite sexual, pela afronta direta aos dispositivos constitucionais. O Código Penal traz no artigo 38 outros direitos atribuídos aos detentos, prescrevendo: O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal, em parecer sobre o projeto de lei 522 de 2007, descreveu: A questão da possibilidade de tratamento químico de condenado por pedofilia em nosso sistema jurídico não é simples. Numa leitura apressada de nossas normas, poder-se-ia fugir do âmago do problema apenas relatando que o nosso sistema jurídico não autoriza violação à integridade física do condenado por parte do Estado. (...) o indivíduo tem um direito que pode arguir contra o Estado. Tal direito individual consubstancia-se na idéia política de liberdade negativa: há fronteiras dentro das quais os homens são invioláveis, que impedem a imposição da vontade do Estado ou da de um homem sobre outro.[2] Países como Argentina (Mendonza), Colômbia, Canadá, Coréia do Sul, Indonésia, Macedônia e México já adotaram esse procedimento, outros países como Alemanha, Estados Unidos, reino unido e Espanha fazem uso em outras situações. Mundialmente falando existe eficácia quanto ao procedimento, existem pesquisas que comprovam seu lado positivo, como por exemplo na Alemanha as violações diminuíram de 84% para 3%"(FOLHA/UOL, 2012), nos EUA a reincidência de criminosos sexuais cai de 75% para 2%(SILVA, 2010), tanto as pesquisas como o tratamento recebem duras críticas, pois encerrada a fase do tratamento o indivíduo volta a sua condição anterior, por isso, os defensores mais ferrenhos dizem que a falta de ereção não evitaria que esses agressores deixem de praticar outros atos libidinosos ; que não se resolve uma violência com outra. Assim como em outros países no Brasil as opiniões também divergem, pois não está em pauta somente o método e sim a eficácia do procedimento, enquanto uns
4 defendem por se tratarem de crime de grande comoção popular, outros são contrários pois fere os direitos amparados pela nossa constituição. O presidente da Associação Brasileira dos Advogados criminais (ABRACRIM), Elias Mattar Assad, considera a castração inconstitucional, que amparada por diferentes artigos estão blindados por cláusulas pétreas na Constituição. Com uma opinião também contraria, o advogado e professor de Direito Penal da PUC-MG e da UFMG, Leonardo Marinho diz que a pena não elimina e nem eliminou o crime, ele propõe um trabalho voltado para formação mais humanista e de respeito à mulher, desde a formação básica quando criança, segundo Leonardo o estado não tem o direito de tocar ou modificar o corpo. Ao se indagar sobre a adoção do método de castração química, deve-se refletir quanto ao processo de monitoramento da evolução prognóstica do indivíduo pedofílico, assim como a inserção social deste indivíduo, consoante àquilo que a lei determina legalmente em termos de reclusão ou não (BALTIERI apud STETNER, 2010) Já a sociedade deseja que o Estado deve adotar medidas penais alternativas, mais severas, com a intenção de reduzir ou controlar a criminalidade. Aqueles que defendem a castração química afirmam que as agressões se dão pelo excesso de testosterona presente no organismo, considerando um fato patológico, mas ao analisar condutas de delinquentes sexuais se averigua que nem sempre essas ações se dão por esse excesso e sim por vários fatores que puderam ser comprovados a partir de textos jurídicos e médicos-psicológicos como as agressões sexuais ocorrem por motivos diversos, como patologias sexuais, distúrbios hormonais, abuso de álcool, drogas, raiva, poder, ódio, etc. CONCLUSÃO As propostas de castração química oferecidas pelos Projetos de Leis tornaram-se incompatíveis com o texto normativo da Constituição Federal. Isso porque, a castração como medida de punição, para quem cometem crimes contra a dignidade sexual, fere não somente os princípios fundamentais, mas também diversos dispositivos constitucionais, como: a vedação de penas perpétuas e cruéis e violadoras da integridade física e moral do condenado. É cristalina a impossibilidade de se encaixar no ordenamento jurídico qualquer medida punitiva capaz de lesionar os princípios que temos como nossos pilares. Algo intrínseco à condição de ser humano, qual seja, sua dignidade. Desse modo, impõe-se a
5 norma constitucional, mostrando ser incompatível com ordenamento jurídico brasileiro os projetos de lei que propõem a castração química. REFERÊNCIAS [1] NOVELINO, Marcelo. Da dignidade da pessoa humana. Prática Jurídica. Ano VII, n.º 77, agos 2008.p.26 [2] Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Parecer sobre o projeto de lei 52/ Disponível em: < Disponível em: ista_caderno. Acessado em: 27/09/2016. Disponivel em: Acessado em: 27/09/2016. Disponível em: Acessado em 28/09/2016. Disponivel em: arbara_paz.pdf. Acessado em: 28/09/2016.
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