Seminários REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS

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1 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental PHA PHA2537 Água em Ambientes Urbanos Seminários REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS Mª Sueli S S Agnelli Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. José Rodolfo Scarati Martins Profª. Drª. Monica Ferreira do Amaral Porto Profª. Drª. Ana Paula Zubiaurre Brites 2014

2 Sumário 1. Introdução Revitalização de Rios em áreas urbanas Definição Revitalização Áreas urbanas Planejamento Estudo de Caso Estero de Paco, Manila Replicando a experiência Áreas revitalizadas e enchentes Conclusão Referências... 7

3 1. Introdução O intenso processo de urbanização ocorrido após a Revolução Industrial, no século XVIII, gerou impactos sentidos até os dias de hoje. Esse processo de urbanização, em sua maior parte, ocorreu de forma desorganizada e predatória. Como consequência, as grandes cidades de hoje se deparam com diversos problemas concentrados. A ocupação indiscriminada de vázea de rios, a diminuição da permeabilidade do solo, o desmatamento e a poluição das águas são consequências desse crescimento desorganizado. Durante esse desenvolvimento urbano os rios foram planejados como meros canais condutores, sendo utilizado para transporte de materiais, de pessoas, ou de efluentes. A fim de se obter novas terras para a urbanização crescente e diminuir os efeitos locais das cheias, os projetos de engenharia hidráulica se constituíam na retificação dos rios, com a diminuição do perfil e o aprofundamento do leito, de forma a aumentar a velocidade de escoamento e direcionar a vazão para jusante. De modo geral, as obras planejadas até o final do século XIX não consideravam estudos de impactos ambientais e no meio antrópico. A preocupação com as consequências da interação entre o homem e a natureza é relativamente recente. A despoluição e recuperação de rios contaminados por esgotos nos grandes centros urbanos no mundo é hoje um dos principais desafios para sociedades e governos em diferentes países, frente às graves consequências ambientais geradas pela degradação dos recursos hídricos do planeta. Em países como o Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e França, há uma preocupação quanto a revitalização dos rios urbanos já há mais de 30 anos. No Brasil a preocupação é recente, sendo que a cultura tradicional ainda é de se retificar o rio para o transporte de efluentes e abertura de espaço para o transporte viário. 2. Revitalização de Rios em áreas urbanas 2.1 Definição Revitalização Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, revitalização significa ação, processo ou efeito de revitalizar, de dar nova vida a alguém ou a algo; série de ações mais ou menos planejadas, geralmente provenientes de um grupo, comunidade etc., que buscam dar novo vigor, nova vida a alguma coisa Portanto, quando se fala em revitalização de rios deve-se ter em mente: a recuperação dos cursos d água que foram modificados, buscando uma morfologia mais natural; o desassoreamento dos leitos; o retorno da biodiversidade através da mata ciliar, arborização ou estabelecimento de uma vegetação espontânea; política de ocupação das margens mais adequada; recuperação da qualidade das águas. 2.2 Áreas urbanas Nas áreas urbanas a recuperação dos rios torna-se mais complexa, pois há a necessidade de se recuperar os cursos d água sem, contudo, comprometer as zonas urbanas e as vias de transporte, e de forma a favorecer a população. Nas áreas urbanas, é muito comum os rios serem parcialmente ou totalmente retificados, tendo seu leito e margens protegidas. Nesses casos, se compromete as relações biológicas. Apesar disso, a revitalização de um rio em área urbana traz inúmeros benefícios, pois com a ampliação da cobertura vegetal tem-se uma melhoria da qualidade do ar, das águas e do solo. Há uma contribuição para a captura de carbono e amenização das temperaturas locais, além da melhora na paisagem e criação de áreas para o lazer. Além disso, minimiza-se enchentes e inundações com a redução do escoamento superficial das águas das chuvas, ampliando as áreas de infiltração, e a retenção a montante. 1

4 2.3 Planejamento Para enfrentar os desafios existentes nas áreas urbanas deve-se elaborar um plano que leve em consideração as particularidades de cada caso, necessitando de uma cooperação mútua de gestores urbanos, engenheiros, ambientalistas, arquitetos urbanistas e a sociedade civil, e que se articule ao mesmo tempo com o planejamento de urbanização e paisagismo, ao plano diretor da bacia e ao planejamento de recursos hídricos no âmbito estadual e federal, além dos programas de proteção. Na elaboração de um plano adequado, os conceitos higienistas tradicionais - como: drenagem rápida das águas pluviais, transferência para jusante; redes subterrâneas, canalização de cursos d água naturais; associação do sistema de drenagem ao sistema viário etc., não podem mais estar presentes. Além de se ter como objetivo a revitalização do rio, se faz necessário o uso de soluções técnicas e conceitos baseados na sustentabilidade, como: favorecimento à infiltração, ao armazenamento e ao aumento de percurso do escoamento; valorização da presença da água na cidade, e busca de menor interferência sobre o sistema natural de drenagem; soluções técnicas multifuncionais: sistema de drenagem associado a áreas verdes, terrenos de esporte, parques lineares etc. ; concepção e dimensionamento segundo diferentes níveis de risco de inundação, para atender a objetivos diferenciados; preocupação com a garantia de condições adequadas de saúde pública e conforto no meio urbano e de redução dos impactos da urbanização sobre os meios receptores. 1 Tanto no Brasil como no exterior vê-se exemplos de revitalização de rios urbanos com a criação de parques municipais em áreas de várzeas. A ideia é de se evitar a ocupação indevida da área, além de se oferecer para a população uma área de recreação. 3. Estudo de Caso 3.1 Estero de Paco, Manila Manila é a capital das Filipinas, e é a segunda cidade mais populosa do país com 1,6 milhões de habitantes. Ocupando uma áraea de 38,3 km 2 a cidade está situada junto a desembocadura do Rio Pasig na costa oriental da Baía de Manila. A urbanização da região se deu entorno dos rios e córregos, que se tornaram parte importante da infraestrutura econômica. Antes do aumento do uso de veículos motorizados, os córregos eram utilizados como via de transporte e comércio. Devido a um crescimento populacional desordenado a infraestrutura sanitária entrou em falência. Em 2007, cerca de 35% das residências eram informais, construídas ao longo dos córregos, descarregando efluentes domésticos diretamente nos corpos d águas. Segundo estimativas, cerca de toneladas de lixo sólido eram gerados por dia em O sistema de esgoto, ainda remanescente do período colonial Americano, atendia a cerca de 7% da área urbanizada. Em 2004, o Rio Pasig foi declarado biologicamente morto. Os córregos viraram esgotos a céu aberto, afetando o desenvolvimento urbano nas áreas do entorno. Após várias tentativas para o desenvolvimento e reabilitação da Região Metropolitana de Manila não surtirem o efeito desejado, em 2009, foi oficialmente lançado o Projeto de Reabilitação Kapit Bisig Para Sa Ilog Pasig (KBPIP), da Fundação ABS-CBN. O projeto busca revitalizar os corpos d águas da Região Metropolitana de Manila, focando-se primeiramente nos esteros (córregos), concentrando-se 1 NASCIMENTO, N.O., BAPTISTA, M.B., VON SPERLING, E. Probpelmas de Inserção Ambiente de Bacias de Detenção em Meio Urbano, In: 20º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Rio de Janeiro, - anis eletrônicos,

5 posteriormente no Rio Pasig, Baía Manila e Lago Bay. O foco primeiramente foi o projeto piloto do Estero de Paco. Estero de Paco tem 2.9km de extensão, que descarrega no Rio Pasig. Figura 1: Mapa de vizinhança do Estero de Paco (fonte: O projeto mobilizou investimentos públicos e privados. Apesar de ser governamental, o Projeto de Estero de Paco foi concebido com objetivos gerais sem estudos de viabilidade e ambiental, possuindo vários subprojetos inter-relacionados: 1. Realocação e reabilitação de habitações informais; 2. Desassoreamento e limpeza do córrego; 3. Construção de parques lineares, via para pedestres e alagados (wetlands); 4. Construção de esgotos e alagados para o sistema de tratamento de águas; 5. Campanha de informação e promoção do projeto. Os projetos não foram desenvolvidos aos mesmo tempo, mas cresceram conforme o número de investidores aumentavam. KBPIP promoveu os vários e diferentes aspectos do projeto, se utilizando de todas as mídias possíveis, desde as tradicionais como jornais e tv, quanto como blogs e mídias sociais. O intuito era de engajar o público jovem. Dentre as campanhas promocionais está o evento anual A corrida para o Rio Pasig, tendo uma cobertura nacional, em 2010 obteve 116 mil participantes. A mudança de comportamento da população em relação ao canal foi considerada a chave do sucesso do projeto. O envolvimento da comunidade com a causa foi muito importante, pois as mesmas pessoas que eram coletivamente responsáveis por negligenciá-lo e poluí-lo, agora são as mesmas que contribuem para 3

6 mantê-lo limpo. A limpeza do córrego, com a remoção de toneladas de resíduos sólidos, contou com a participação de voluntários. Como parte do programa é dado um treinamento para os voluntários da comunidade, os chamados Guerreiros do Rio. Os assentamentos ilegais, muito próximos aos corpos d água (menos de 3 metros) foram realocados. Segundo dados da Fundação ABS-CBN famílias já foram realocadas. Como uma das consequências das mudanças a incidência criminal na área reduziu em 40%. Figura 2: Estero de Pero antes e depois (fonte: Antes Figura 3: Mercado Publico, Estero Paco: antes e depois (fonte: : Figura 4 : Biomatrix water (fonte: 4

7 Para o tratamento da água foi utilizado o sistema ecológico da empresa escocesa Biomatrix Water. O sistema consiste em jardins flutuantes, que são ilhas artificiais com aproximadamente 110 m2, coberta por plantas aquáticas. Suas raízes criam um habitat para micro-organismos benéficos, que ajudam a limpar a água e a degradar poluentes. As plantas melhoram ainda a qualidade visual do lugar. O sistema conta ainda com o processo de aeração dinâmica, com o uso de um motor instalado na ilha. O processo de descontaminação também dependeu das obras de infraestrutura para se evitar o despejo de resíduos sólidos e de efluentes. Figura 5: biomatrixwater (fonte: Figura 6: Resultado do monitoramento de qualidade da água, julho/2012 (fonte: 5

8 O monitoramento na qualidade da água feito em 2012 mostra que alguns parâmetros de qualidade ainda não foram atingidos, no entanto houve significativa melhora em inúmeros parâmetros, como: total de partículas sólidas suspensas, óleos e graxas, nitratos, arsênico, cromo, etc. 3.2 Replicando a experiência Seguindo o sucesso do Projeto Estero Paco foi lançado em 2010 o programa Adote um Programa Estero, pelo Departamento de Ambiental e de Recursos Naturais. O programa encoraja o setor privado a investir na limpeza de vias navegáveis nos centros urbanos. Outro programa é o Estero Blitz para remoção de resíduos sólidos nos córregos. O programa consiste na educação da população sobre gestão de resíduos sólidos e saneamento através de seminários e missões médicas. A Comissão de Rehabilitação do Rio Pasig já reabilitou Estero de San Miguel, Estero de Valencia e Estero de Sampaloc, Estero de Aviles, Estero Santibãnez, Estero de Concordia. Figura 7: Sub-bacias do Plano de Reabilitação PRRC-KBPIP (fonte: Áreas revitalizadas e enchentes Manila tem uma estação chuvosa relativamente longa, com precipitações intensas em períodos muito curto. Além disso, a região sofre com tufões, o que causa enchentes em várias áreas da região. Em setembro de 2014 a Manila sofreu com o Tufão Mario, que causou inundações massivas afetando mais de 37 mil moradores. 6

9 No entanto, nos córregos já revitalizados não houve problemas de enchentes. Com o córrego livre de resíduos sólidos o corpo d água corre o seu curso livremente sem ocorrência de enchentes. Em 2012, após a passagem do Tufão Ondoy, o Estero de Paco também foi poupado de enchentes. Figura 8: Esteros revitalizados (fonte: 4. Conclusão O sucesso de qualquer projeto de revitalização dependerá diretamente da integração e coordenação das diversas atividades e entidades envolvidas. A sociedade possui um papel determinante, sendo a dedicação e a paciência dos envolvidos elementos fundamentais, pois se trata de um processo demorado mas que traz benefícios a longo prazo. Se faz importante salientar que os rios que são revitalizados não terão de volta as suas características originais com as quais a Natureza os fez, mas são rios que de fato possuirão nova vida, uma vida adaptada à realidade da cidade que o cerca. 5. Referências Asian Development Bank. Completion Report: Pasig River Environmental Management and Rehabilitation Sector Development Program(2010, December) Biomatrix Water < Kapit Bisig Para sa Ilog Pasig. Qualidade da Água < fromhttp://kapitbisigparasailogpasig.com/> acessado em 29/10/14 Manila < Manila Republic. Esteros in Manila remain untouched by Typhoon Mario < acessado em 29/10/14 MAUANÃ, R.R., Private Sector Initiative in the Estero de Paco Project:A Case Study on Manila Waterways UrbanRedevelopment Plan < acessado em 27/10/14 NASCIMENTO, N.O., BAPTISTA, M.B., VON SPERLING, E. Probpelmas de Inserção Ambiente de Bacias de Detenção em Meio Urbano, In: 20º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Rio de Janeiro, - anis eletrônicos,