OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL DO SANTO PADRE FRANCISCO E SÍNODO DOS BISPOS

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1 OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL DO SANTO PADRE FRANCISCO E SÍNODO DOS BISPOS

2 Coleção Magistério Carta apostólica Misericordia et misera, papa Francisco Exortação apostólica Amoris Lætitia, papa Francisco Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, papa Francisco; Sínodo dos bispos

3 OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL DO SANTO PADRE FRANCISCO E SÍNODO DOS BISPOS DOCUMENTO PREPARATÓRIO DA XV ASSEMBLEIA DO SÍNODO DOS BISPOS

4 Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Coordenação de revisão: Tiago José Risi Leme Capa: Marcelo Campanhã Editoração, impressão e acabamento: PAULUS As citações bíblicas são retiradas da Bíblia Sagrada, Edições CNBB, 13ª edição, como também dos Lecionários. Seja um leitor preferencial PAULUS. Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções: paulus.com.br/cadastro Televendas: (11) / ª edição, 2017 PAULUS 2017 Rua Francisco Cruz, São Paulo (Brasil) Tel.: (11) Fax: (11) paulus.com.br editorial@paulus.com.br ISBN

5 SUMÁRIO Carta do Papa aos jovens, por ocasião da apresentação do Documento Preparatório da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 7 Introdução 11 I. Os jovens no mundo de hoje Um mundo que muda rapidamente As novas gerações Os jovens e as escolhas 28 II. Fé, discernimento, vocação Fé e vocação O dom do discernimento Percursos de vocação e missão O acompanhamento 46 III. A ação pastoral Caminhar com os jovens Sujeitos Lugares Instrumentos Maria de Nazaré 65 Questionário Recolher os dados Ler a situação Partilhar as práticas 72 5

6 LISTA DE SIGLAS AL EG GS LF LS MeM Amoris Laetitia, Exortação Apostólica pós- -sinodal sobre o amor na família, Papa Francisco Evangelii Gaudium, Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, Papa Francisco Gaudium et Spes, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual, Concílio Vaticano II Lumen Fidei, Carta Encíclica sobre a fé, Papa Francisco Laudato Si, Carta Encíclica sobre o cuidado da Casa Comum, Papa Francisco Misericordia et Misera, Carta Apostólica no término do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Papa Francisco

7 CARTA DO PAPA AOS JOVENS POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO PREPARATÓRIO DA XV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS Caríssimos jovens, Tenho a alegria de anunciar-vos que, em outubro de 2018, celebrar-se-á o Sínodo dos Bispos com o tema: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Quis que estivésseis no centro da atenção, porque trago-vos no coração. Exatamente hoje é apresentado o Documento Preparatório, que confio também a vós como bússola ao longo deste caminho. Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar (Gn 12,1). Essas palavras são hoje direcionadas também a vós: são palavras de um Pai que vos convida a sair para lançar-vos na direção de um futuro não conhecido, mas portador de realizações seguras, ao encontro do qual Ele mesmo vos acompanha. Convido-vos a escutar a voz de Deus que ressoa nos vossos corações através do sopro do Espírito Santo. 7

8 Quando Deus disse a Abraão sai, o que queria dizer-lhe? Não certamente para fugir dos seus ou do mundo. O seu foi um forte convite, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e fosse em direção a uma terra nova. Qual é para nós hoje essa terra nova, senão uma sociedade mais justa e fraterna, que vós desejais profundamente e que quereis construir até as periferias do mundo? Mas hoje, infelizmente, o sai assume também um significado diverso. O da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos entre vós, jovens, são submetidos à chantagem da violência e obrigados a fugir do seu país natal. O grito deles sobe a Deus, como o de Israel escravo pela opressão do Faraó (Ex 2,23). Desejo também recordar-vos as palavras que Jesus disse um dia aos discípulos que lhe perguntavam: Rabi (...), onde moras?. Ele respondeu: Vinde e vede! (Jo 1,38-39). Também a vós Jesus dirige o seu olhar e vos convida a ir consigo. Caríssimos jovens, encontrastes esse olhar? Ouvistes essa voz? Sentistes este impulso para colocar-vos a caminho? Estou seguro de que, embora o barulho e o deslumbrante pareçam reinar no mundo, esse chamado continua a ressoar na vossa mente, para abri-la à alegria plena. 8

9 Isso será possível à medida que, também por meio do acompanhamento de guias especializados, souberdes empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus sobre a vossa vida. Mesmo quando o vosso caminho for marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico em misericórdia estende a sua mão para levantar-vos. Em Cracóvia, na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, pedi-vos muitas vezes: As coisas podem mudar?. E vós gritastes juntos um barulhento sim. Aquele grito nasce do vosso coração jovem, que não suporta a injustiça e não pode inclinar-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença. Escutai aquele grito que sobe do vosso íntimo! Mesmo quando percebeis, como o profeta Jeremias, a inexperiência da vossa jovem idade, Deus vos encoraja para ir aonde Ele vos envia: Não tenhas medo (...), pois estou contigo para defender-te (Jr 1,8). Um mundo melhor se constrói também graças a vós, à vossa vontade de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de escutar o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não demoreis quando a consciência vos pede para arriscar e seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa 9

10 voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até mesmo das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades consultar também os jovens antes de toda escolha importante, porque muitas vezes é exatamente aos mais jovens que o Senhor revela a melhor solução (Regra de São Bento, 3,3). Assim, também por meio do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos bispos queremos nos tornar ainda mais colaboradores da vossa alegria (2Cor 1,24). Confio-vos a Maria de Nazaré, uma jovem como vós, a quem Deus dirigiu o seu olhar amoroso, para que vos tome pela mão e vos guie para a alegria de um Eis-me aqui pleno e generoso (Lc 1,38). Com paternal afeto, Do Vaticano, 13 de janeiro de

11 INTRODUÇÃO Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa : eis o projeto de Deus para os homens e as mulheres de todos os tempos e, portanto, também para todos os jovens do terceiro milênio, sem exceção. Anunciar a alegria do Evangelho é a missão que o Senhor confiou à sua Igreja. O Sínodo sobre a nova evangelização e a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium demonstraram como cumprir essa missão no mundo de hoje; ao acompanhamento das famílias de encontro a essa alegria foram dedicados os dois Sínodos sobre a família e a Exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia. Em continuidade com esse caminho, por meio de um novo percurso sinodal com o tema: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, a Igreja decidiu perguntar-se sobre como acompanhar os jovens para reconhecer e acolher o chamado ao amor e à vida em plenitude, e também para pedir aos próprios jovens para ajudá-la a identificar as modalidades hoje mais eficazes para anunciar a Boa-Nova. Por meio dos jovens, a Igreja poderá perceber a voz do Senhor que 11

12 ressoa também hoje. Como uma vez para Samuel (1Sm 3,1-21) e Jeremias (Jr 1,4-10), existem jovens que sabem discernir os sinais do nosso tempo que o Espírito aponta. Ouvindo as suas aspirações, podemos vislumbrar o mundo de amanhã que vem ao nosso encontro e os caminhos que a Igreja é chamada a percorrer. A vocação ao amor assume, para cada um, uma forma concreta na vida cotidiana, por meio de uma série de escolhas, que articulam estado de vida (matrimônio, ministério ordenado, vida consagrada etc.), profissão, modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e do dinheiro etc. Assumidas ou experimentadas, conscientes ou inconscientes, trata-se de escolhas das quais ninguém pode eximir-se. O objetivo do discernimento vocacional é descobrir como transformá-la, à luz da fé, em passos rumo à plenitude de alegria a que todos somos chamados. A Igreja está consciente de possuir aquilo que faz a força e a beleza dos jovens: a capacidade de alegrar-se por aquilo que começa, de doar-se sem reservas, de renovar-se e de novamente partir para 12

13 novas conquistas ; * as riquezas da sua tradição espiritual oferecem muitos instrumentos com os quais acompanhar a maturidade da consciência e de uma autêntica liberdade. Nessa prospectiva, com o presente Documento Preparatório, dá-se início à fase de consulta de todo o povo de Deus. O Documento dirigido aos Sínodos dos Bispos e aos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Orientais Católicas, às Conferências Episcopais, aos Dicastérios da Cúria romana e à União dos Superiores Gerais termina com um questionário. É prevista, além disso, uma consulta a todos os jovens por meio de um site da internet, com um questionário sobre as suas expectativas e suas vidas. As respostas aos dois questionários constituirão a base para a redação do Documento de trabalho ou Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para a discussão dos Padres sinodais. Este Documento Preparatório propõe uma reflexão articulada em três passos. Começa-se delineando sumariamente algumas dinâmicas sociais * Mensagem do Concílio Ecumênico Vaticano II aos jovens, 8 de dezembro de

14 e culturais do mundo nas quais os jovens crescem e tomam as suas decisões, para propor uma leitura de fé delas. Percorrem-se novamente, pois, os passos fundamentais do processo de discernimento, que é o instrumento principal que a Igreja considera oferecer aos jovens para descobrir, à luz da fé, a própria vocação. Enfim, colocam-se em tema as articulações fundamentais de uma pastoral juvenil vocacional. Trata-se, portanto, não de um Documento completo, mas de uma espécie de mapa que pretende favorecer uma busca, cujos frutos estarão disponíveis apenas no final do caminho sinodal. Nos passos do discípulo amado Oferecemos como inspiração ao percurso que inicia um ícone evangélico: o apóstolo João. Na leitura tradicional do Quarto Evangelho, ele é a figura exemplar do jovem que escolhe seguir Jesus, e o discípulo que Jesus amava (Jo 13,23; 19,26; 21,7). Vendo Jesus caminhando, [João Batista] disse: Eis o Cordeiro de Deus!. Os dois discípulos ouviram essa declaração de João e passaram a seguir Jesus. Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais?. Eles 14

15 responderam: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?. Ele respondeu: Vinde e vede!. Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde (Jo 1,36-39). Na busca de sentido para dar à própria vida, dois discípulos do Batista ouvem Jesus dirigir-se a eles com a pergunta: Que procurais?. À resposta deles: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? (v. 38), segue a resposta-convite do Senhor: Vinde e vede (v. 39). Jesus, ao mesmo tempo, os chama a um percurso interior e a uma disponibilidade a colocar-se concretamente em movimento, sem bem saber aonde este os conduzirá. Será um encontro memorável, a ponto de recordar-se até mesmo da hora (v. 39). Graças à coragem de ir e ver, os discípulos experimentaram a amizade fiel de Cristo e poderão viver cotidianamente com Ele, fazer-se interrogar e inspirar pelas suas palavras, fazer-se atingir e comover pelos seus gestos. João, em particular, será chamado a ser testemunha da Paixão e Ressurreição do seu Mestre. Na última ceia (Jo 13,21-29), a sua intimidade com Ele o conduzirá a reclinar a cabeça sobre o peito de Jesus 15

16 e a confiar em sua palavra. Ao conduzir Simão Pedro para a casa do sumo sacerdote, afrontará a noite da provação e da solidão (Jo 18,13-27). Junto da cruz acolherá a dor profunda da Mãe, a qual lhe foi confiada, assumindo a responsabilidade de tomar conta dela (Jo 19,25-27). Na manhã de Páscoa, ele partilhará com Pedro a corrida tumultuada e plena de esperança para o sepulcro vazio (Jo 10,1-10). Enfim, no decurso da pesca milagrosa junto ao lago de Tiberíades (Jo 21,1-14), ele reconhecerá o Ressuscitado e disso dará testemunho à comunidade. A figura de João nos pode ajudar a compreender a expe riência vocacional como um processo progressivo de discernimento interior e da maturação da fé, que conduz a descobrir a alegria do amor e a vida em plenitude no dom de si e na participação no anúncio da Boa-Nova. 16