PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Campinas, em que é apelante EURIDECE CANDIDA NOGUEIRA ANTOLINE (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado OLIS TEIXEIRA FELIPE (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 20ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente sem voto), LUIS MARIO GALBETTI E MARCIA DALLA DÉA BARONE. São Paulo, 10 de novembro de Moreira Viegas RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação: Comarca: Campinas Apelante: EURIDECE CANDIDA NOGUEIRA ANTOLINE Apelado: OLIS TEIXEIRA FELIPE SUCESSÕES - HERANÇA JACENTE Arrecadação de bens - Pedido de habilitação de herdeiro - Parente colateral Indeferimento mantido Pleito formulado pela irmã da cunhada Falecimento da irmã anterior ao óbito de seu cônjuge - Sucessor legitimo e que incorpora ao seu patrimônio todos os bens deixados pela viúva Doação de imóvel sem cláusula de incomunicabilidade Valor relativo ao VGBL que em caso de óbito se destina aos beneficiários indicados ou herdeiros legítimos - Inteligência do art do Código Civil Honorários advocatícios arbitrados com equidade e razoabilidade -Sentença mantida - Recurso desprovido. VOTO Nº Apelação interposta contra a r. sentença de fls. 221/225, relatório adotado, que em ação de arrecadação de herança jacente, indeferiu o pedido de habilitação de EURÍDICE CANDIDA NOGUEIRA ANTOLINI, adjudicou a FRANCISCO GAVIOLI os bens deixados por falecimento de EUNICE APARECIDA NOGUEIRA GAVIOLI e declarou vacante a herança deixada por FRANCISCO GAVIOLI, na forma do art , caput, do Código de Processo Civil, com a adjudicação à Municipalidade de Campinas dos bens arrecadados, bem como a responsabilidade pelo débitos remanescente. Alega a apelante, em breve síntese, que faz jus a ser habilitada nos autos por não ter o marido de sua irmão direito ao imóvel doado pelos seus genitores a ela e a irmã, ainda que fossem casados pelo regime de comunhão universal. Salienta que deve ser regularizada a partilha do imóvel referente ao quinhão de sua irmã. Aduz que o plano de previdência privada também não poderia ser incluído na partilha, uma vez Apelação nº

3 que se assemelharia a plano previdenciário e mesmo com o regime de comunhão universal não se transmitiria. Sustenta que os honorários advocatícios deveriam ser minorados em observância ao art. 20, caput, do Código de Processo Civil ou reduzido de modo a serem arbitrados de forma equitativa. Requer ainda, os benefícios da justiça gratuita (fls. 254/258 e 262). regulares efeitos. Recurso processado, recebido em seus Contrarrazões às fls. 267/273. às fls. 302/306, é pelo desprovimento do recurso. Parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça É o relatório. Inicialmente, em relação ao pedido de concessão da Justiça Gratuita, a Lei de Assistência Judiciária (Lei 1.060, de 1950) é clara ao dispor que "a parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família" (grifei). Nesse sentido, o Egrégio Supremo Tribunal Federal, examinando a recepção, ou não, da referida lei pela Constituição Federal de 1988 respondeu positivamente a tal indagação, como se observa da seguinte ementa (RE , Rel. Min. Carlos Velloso, DJ ): A garantia do art. 5º, LXXIV, assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, não Apelação nº

4 revogou a de assistência judiciária gratuita da Lei 1.060, de 1950, aos necessitados, certo que, para obtenção desta, basta a declaração, feita pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a Juízo sem prejuízo da sua manutenção ou de sua família. Essa norma infraconstitucional põe-se, ademais, dentro no espírito da Constituição, que deseja que seja facilitado o acesso de todos à Justiça. Atento a tal evolução, em artigo publicado sob o título "A assistência judiciária e a assistência jurídica: uma confusão a ser solvida", JULIO CÉSAR SOUZA RODRIGUES pondera o seguinte: " (...) O legislador fez exigência bastante singela: basta a mera afirmação na própria peça processual (a norma fala em petição inicial, mas a interpretação extensiva consensual e pacífica oferecida pela doutrina e jurisprudência deixa patente que o pleito pode ser feito na contestação, nos embargos etc.). O texto legal é de clareza solar, exigindo a mera interpretação gramatical. Aliás, a questão é induvidosa, inclusive, no E. STJ: 'Processual - Pedido de Assistência Judiciária gratuita - Requisito - Prazo - É suficiente a simples afirmação do estado de pobreza para a obtenção do benefício da justiça gratuita - Recurso provido'. E isso porque a garantia que está em jogo é a do acesso à Justiça e não a do direito do Estado arrecadar taxas. Mas, para aquele que duvide que a pessoa que vai ao Judiciário sem pagar taxas e com isso lesa o erário público, o Iº do referido art. 4º resolve a pendência: 'Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos desta Lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais'". O deferimento dos benefícios da justiça gratuita é ainda disciplinado pelo art. 98, caput, do Novo Código de Processo Civil, o qual também dispõe que "A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, Apelação nº

5 na forma da lei." (grifei). Desse modo, preenchido o requisito exigido por lei, não há motivos suficientes para negar à apelante os benefícios da assistência judiciária gratuita, de rigor, portanto a sua concessão. Além disso, caso seja demonstrado que alguma das partes falseou com a verdade ao declarar seu estado de pobreza, poderão ser processadas criminalmente, sem prejuízo da condenação no pagamento de até o décuplo das custas judiciais, nos termos da lei. de fundo. Feita a ressalva, passa-se à análise da questão Nos autos da arrecadação de herança jacente deixados por FRANCISCO GAVIOLI, falecido em , sem descendentes ou ascendentes, o juízo julgou procedente de arrecadação e indeferiu o pedido de habilitação formulado pela irmã da falecida esposa do de cujus, sob o argumento de que parentesco colateral não pode ser considerado herdeiro para fins de sucessão, uma vez que sua irmã era casada e mesmo por via reflexa não poderia ser admitida, já que a irmã faleceu antes do marido e era casada pelo regime de comunhão universal de bens. É incontroverso que a apelante possui grau de parentesco com a falecida. No entanto, esse parentesco não é considerado pelo Código Civil vigente para garantir o direito à herança. Isto porque pela linha sucessória o cônjuge tem de fato a preferência sobre o herdeiro colateral e com o falecimento de Eunice todos os seus bens foram destinado ao seu marido, o qual por não ter herdeiros ensejou a propositura da presente ação. Apelação nº

6 A propósito cumpre mencionar que o imóvel objeto da doação dos genitores da apelante e de sua irmã não lhe confere o direito de se habilitar nos autos, pois inexistente cláusula de incomunicabilidade. Nem mesmo pode se dizer que o mesmo não deveria entrar na partilha por conta do regime de bens em que eram casados as partes, porquanto não se trata de hipótese de separação do casal, mas sim do óbito da esposa que faz com que todo seu patrimônio seja incorporadora ao deu seu legítimo sucessor, nos termos do art e seguintes do Código Civil. No mesmo sentido, temos a questão do plano de previdência privado contratado, o qual nada mais é que a multiplicação dos recursos aplicados pela falecida esposa do de cujus, administrados por uma instituição financeira e que de acordo com o regulamento da SUSEP, em seu art. 20 da circular 339/2007, estabelecia a transmissão em caso de falecimento do titular aos beneficiários indicados ou aos herdeiros legítimos, assim passou a integrar a quantia ali depositada ao patrimônio de seu esposo devido a este figurar como o primeiro na linha sucessória. Por fim, quanto a insatisfação da recorrente quanto aos honorários arbitrados, observa-se primeiramente que inexiste interesse recursal já que sequer é herdeira ou foi habilitada nos autos, ainda sim deixou de se insurgir na primeira oportunidade em que houve o estabelecimentos dos critério adotados, tornado preclusa a matéria. No entanto, mesmo que conhecida a matéria, é certo que os valores foram arbitrados com equidade e razoabilidade tomando por base a tabela de honorários da respectiva entidade de classe. Portanto, a r. sentença coaduna-se com a previsão legal dos art e do Código Civil, razão pela qual deve ser mantida. Apelação nº

7 RECURSO. Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO AO JOÃO FRANCISCO MOREIRA VIEGAS Relator Apelação nº