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1 Acórdão 10a Turma RECURSO ORDINÁRIO. VALE- TRANSPORTE. TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO. A atual Carta Política atribuiu ao trabalhador avulso os mesmos direitos concedidos aos trabalhadores com vínculo empregatício dentre os quais está incluído o vale-transporte. É certo que a lei e o decreto que versam sobre o benefício não preveem sua concessão aos avulsos. Contudo, com a promulgação da nova Constituição da República, o critério original de concessão foi modificado. Entendimento contrário implicaria violação direta ao artigo 5º, inciso XXXIV, da Lei Maior. Vistos, relatados e discutidos os autos do Recurso Ordinário em que são partes: ÓRGÃO GESTOR DE MÃO DE OBRA DO TRABALHO PORTUÁRIO AVULSO DOS PORTOR ORGANIZADOS DO RIO DE JANEIRO, SEPETIBA, FORNO E NITERÓI OGMO, como recorrente, e SÉRGIO RICARDO DOS SANTOS EDUARDO, como recorrido. RELATÓRIO: O reclamado interpõe recurso ordinário contra a sentença de fls. 225/227, complementada pela decisão de embargos de declaração de fls. 240/241, prolatada pelo I. Juiz Airton da Silva Vargas, em exercício na 29ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedentes, em parte, os pedidos formulados na exordial. O recorrente argui preliminar de julgamento extra petita e de ilegitimidade passiva ad causam. No mérito, insurge-se contra o pagamento do valetransporte ao trabalhador avulso, alegando, em síntese, que não há lei específica prevendo tal benefício para a categoria, limitando-se o mesmo ao trabalhador com vínculo empregatício. Aduz que o autor não comprovou preencher os requisitos krtm/fhmt
2 necessários à obtenção do benefício. Pede a limitação da condenação aos dias efetivamente trabalhados no porto da cidade do Rio de Janeiro e a incidência do desconto legal de 6% no custeio do vale-transporte. Requer a dedução dos valores pagos sob a mesma rubrica. Pede seja observado o parágrafo 3º do artigo 7º do Decreto nº /87. Opõe-se à gratuidade de justiça e aos honorários advocatícios. Requer a revogação da tutela antecipada deferida e a exclusão da multa pelo seu descumprimento. Pede a fixação de termo final para a concessão do vale-transporte. Depósito recursal e custas, às fls. 269/270. Contrarrazões do reclamante, às fls. 274/278. Manifestação do Douto Ministério Público do Trabalho, à fl. 282, da lavra da I. Procuradora Inês Pedrosa de Andrade Figueira, que não vislumbrou interesse público nesta ação a ensejar parecer pormenorizado. É o relatório. VOTO: CONHECIMENTO sua admissibilidade. Conheço do recurso por presentes todos os pressupostos legais para a Da Preliminar de Ilegitimidade Passiva Ad Causam REJEITO. A pertinência subjetiva no polo passivo é ditada pela pretensão deduzida na peça vestibular. Visando o reclamante à obtenção de provimento de natureza condenatória, a ser suportado pela parte por ele identificada como devedora da obrigação, inquestionável a legitimidade ad causam. A procedência da postulação autoral, inclusive no que se refere aos responsáveis pela satisfação do crédito reconhecido judicialmente, não se confunde com as condições para o exercício do direito público, subjetivo e abstrato de exigir a tutela jurisdicional do krtm/fhmt
3 Estado. Da Preliminar de Julgamento Extra Petita REJEITO. Da leitura da exordial, constata-se que o reclamante postula a concessão do vale-transporte para deslocamento da sua residência ao trabalho e vice-versa. Como o obreiro, à época, deslocava-se do bairro de Curicica até a Rodoviária Novo Rio, porque laborava no porto do Rio de Janeiro, o pedido foi veiculado nesse sentido. A interpretação que se extrai do petitório é de que, caso o autor se deslocasse para outra área de trabalho onde atua o réu, o benefício seria postulado a fim de atender a essa realidade, haja vista que a finalidade do vale-transporte é garantir o percurso residência-trabalho, nos termos da Lei nº 7.418/85 e do Decreto nº /87. Logo, não configura julgamento extra petita o fato de o juízo de origem ter determinado que a sentença tenha eficácia em toda área de atuação do demandado. MÉRITO Do Vale-Transporte Trabalhador Portuário Avulso DOU PROVIMENTO PARCIAL. Insurge-se o recorrente contra o pagamento do vale-transporte ao trabalhador avulso, alegando, em síntese, que não há lei específica prevendo tal benefício para a categoria e que este se limita ao empregado. Com efeito, sabemos que a atual Carta Política atribuiu ao trabalhador avulso os mesmos direitos concedidos aos trabalhadores com vínculo empregatício, conforme preconiza seu artigo 7º, inciso XXXIV, in verbis: krtm/fhmt
4 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - (...) XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. É certo que a lei e o decreto que versam sobre o benefício do valetransporte não prevêem sua concessão aos avulsos. Contudo, com a promulgação da nova Constituição da República, o critério original de concessão foi modificado. Entendimento contrário implicaria violação direta ao aludido dispositivo constitucional. Ressalta-se que as peculiaridades da prestação do trabalho avulso portuário, que se dá por meio da intermediação de mão de obra, não são fundamentos que justifiquem a exclusão do vale-transporte, cujo objetivo é beneficiar o trabalhador, assegurando-lhe a cobertura das despesas necessárias ao deslocamento residência-trabalho e vice-versa. Vale destacar que a Lei nº 8.630/93, em seu artigo 18, ao estatuir a finalidade do órgão gestor de mão de obra do trabalho portuário, incluiu a arrecadação e o repasse, aos respectivos beneficiários, dos valores devidos pelos operadores portuários, relativos à remuneração do trabalhador portuário avulso e aos correspondentes encargos fiscais, sociais e previdenciários. Prevê o parágrafo único do citado artigo que apenas no caso de vir a ser celebrado contrato, acordo, ou convenção coletiva de trabalho entre trabalhadores e tomadores de serviços, este precederá o órgão gestor a que se refere o caput deste artigo e dispensará a sua intervenção nas relações entre capital e trabalho no porto. Assim, considerando que o reclamado era o responsável pelo pagamento da remuneração e de todas as demais verbas devidas ao reclamante, legítima se afigura sua penalização com o custeio do vale-transporte não pago. Todavia, nada impede que o órgão gestor pleiteie, em via própria, a reparação de eventual prejuízo que entenda ter sofrido em face do operador krtm/fhmt
5 portuário, pois responde solidariamente ao lado deste, conforme preceitua o parágrafo segundo, artigo 19 da citada Lei nº 8.630/93, abaixo transcrito: Art. 19. Compete ao órgão de gestão de mão-de-obra do trabalho portuário avulso: (...) 2º. O órgão responde, solidariamente com os operadores portuários, pela remuneração devida ao trabalhador portuário avulso. Note-se, ainda, que não há nenhuma incompatibilidade prática ou teórica entre o trabalho dos avulsos e a concessão do vale-transporte, tendo em vista que tais trabalhadores precisam se locomover de casa para o trabalho (e viceversa), da mesma forma que todos os profissionais com vínculo. Veja-se a jurisprudência do Colendo TST, verbis: Nesse contexto, não há falar em ofensa literal ao artigo 1º da Lei de nº 7.418/85, até porque aludido dispositivo não exclui do trabalhador avulso o direito de receber vale-transporte para o deslocamento residência-trabalho e vice-versa. No mesmo sentido, verificam-se os seguintes precedentes, sendo um deles da lavra deste Relator: VALE-TRANSPORTE. TRABALHADOR AVULSO. O direito ao valetransporte está assegurado ao trabalhador avulso, por força do inciso XXXIV do art. 7º da Constituição Federal, que garante a igualdade de direitos entre este e aquele com vínculo empregatício permanente, não se configurando nenhuma razão para que o primeiro não faça jus ao vale-transporte. (RR 329/2004, Ac. 3ªT., Relator Ministro Carlos Alberto Reis de Paula, in DJU de 04/8/2006). VALE-TRANSPORTE. O direito ao vale-transporte está assegurado ao trabalhador avulso por força do artigo 7, XXXIV da CF/88. (AIRR 1472/1998, Ac. 3ªT., Relator Juiz Luiz Ronan Koury, in DJU de 20/4/2006). (AIRR - 800/ PUBLICAÇÃO: DJ - 04/04/ Min. krtm/fhmt
6 Carlos Alberto Reis de Paula) Não se verifica a apontada violação do artigo 1º da Lei nº 7.418/85, uma vez que referido artigo não exclui o trabalhador avulso do direito ao vale-transporte. O recurso de revista também não ultrapassa a fase de conhecimento por violação ao artigo 2º do Decreto /87, ante os termos do artigo 896 da CLT. Quanto à argüição de que o art. 7º, XXXIV, da Constituição Federal, não se aplica ao valetransporte, equivoca-se o reclamado, uma vez que referido dispositivo, como já dito, assegura a igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício e o trabalhador avulso. (RR / PUBLICAÇÃO: DJ - 16/05/2008 Min. Aloysio Corrêa da Veiga) É descabido argumentar que o autor não requereu o benefício, já que eventual requerimento teria sido indeferido pelo réu, cuja tese é de que os avulsos não fazem jus à vantagem em exame. Ademais, salienta-se que o fato constitutivo do direito é o deslocamento do empregado de sua residência até o local de trabalho - o que se presume, na medida em que o trabalho não é realizado a domicílio (artigo 6º da CLT). Portanto, cabia ao réu provar o fato impeditivo de sua oferta requerimento de desistência ou proximidade do estabelecimento, exemplificativamente ônus do qual não se desvencilhou. Embora a Orientação Jurisprudencial nº. 215, da SDI-I do C. TST disponha que é do empregado o ônus de comprovar os requisitos indispensáveis à obtenção do vale-transporte, é certo, também, que compete ao empregador colher do empregado, quando de sua admissão, a declaração acerca da necessidade, ou não, do uso do transporte público. Portanto, faz jus o trabalhador portuário avulso ao benefício do valetransporte nos dias em que houver necessidade do seu deslocamento residênciatrabalho, conforme deferido na sentença. krtm/fhmt
7 Nesse sentido, a recente Súmula nº 8 deste Regional, publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 5, 6 e 7 de julho de 2010, Parte III, Seção II, verbis: TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO - VALE-TRANSPORTE. É assegurado ao trabalhador portuário avulso o direito aos valestransporte relativos aos dias efetivamente laborados. O fato de o autor fazer jus ao vale-transporte não autoriza a interpretação extensiva do parágrafo 3º, artigo 7º, do Decreto nº /87, de modo a ensejar a perda do registro do reclamante junto ao OGMO, caso este faça declaração falsa ou use indevidamente o vale-transporte. Ademais, é impertinente a discussão sobre fato inexistente. Não há de se falar em dedução quando não comprovado nos autos o pagamento de valores a idêntico título. Falta interesse ao recorrente para discutir pagamentos que, no futuro, possam vir a ocasionar o bis in idem. Outrossim, não procede o pedido de limitação quanto aos dias efetivamente laborados no porto da cidade do Rio de Janeiro, pois o vale-transporte é devido quando há deslocamento residência-trabalho, independentemente do prestação de serviço ocorrer em outro porto onde atua o reclamado. A participação do trabalhador no custeio do vale-transporte, tal como estabelecido em lei, foi determinada na decisão que apreciou os embargos de declaração, não merecendo reforma no particular. Quanto ao termo final para a concessão do benefício, registre-se que esse não se dá em relação à aposentadoria, pois o reclamante poderá continuar laborando mesmo após a obtenção do benefício previdenciário. Todavia, no que diz respeito à idade, assiste razão ao reclamado, que deverá conceder ao trabalhador o vale-transporte para seu deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa até o mesmo atingir a idade em que esteja isento de pagamento de tarifa de transportes coletivos, por força do estatuto do idoso. krtm/fhmt
8 Acolho o pedido do recorrente e revogo a tutela antecipada deferida, por não configurado nos autos fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou propósito protelatório da defesa que autorize a antecipação pretendida pelo autor, nos termos do artigo 273 do CPC. Da Justiça Gratuita NEGO PROVIMENTO. Examinando os autos, verifico que o autor requereu na sua peça de ingresso a concessão dos benefícios da justiça gratuita, afirmando, por intermédio de sua advogada, legalmente constituída, e por declaração apresentada nos autos (fl. 06), que não dispunha de meios econômicos para arcar com os custos da demanda sem prejuízo próprio e de sua família. A gratuidade de justiça é um direito previsto no Texto Constitucional e regulamentado pela legislação infraconstitucional - Lei nº 1.060/50. Ao conferir ao requerente o direito ao benefício, a lei não fez menção à obrigatoriedade de este encontrar-se assistido por sindicato, bastando, para tanto, estejam atendidos os requisitos previstos em seu artigo 4º, no artigo 790, parágrafo 3º, da CLT, e no artigo 1º da Lei nº 7.115/83, não se confundindo a hipótese com a assistência judiciária gratuita prevista na Lei nº 5.584/70, que é o patrocínio gratuito prestado pela entidade sindical. A contratação de advogado particular é uma prerrogativa de qualquer cidadão e a lei não afasta o direito à gratuidade judiciária em virtude dessa contratação. Preenchidos os pressupostos legais, presume-se a hipossuficiência econômica do reclamante, até que se comprove o contrário (artigo 4º da Lei nº 1.060/50). Dos Honorários Advocatícios DOU PROVIMENTO. krtm/fhmt
9 Na Justiça do Trabalho, os honorários advocatícios somente são devidos quando se encontram preenchidos cumulativamente os pressupostos mencionados no artigo 14 da Lei nº 5.584/70: assistência pelo sindicato de classe do trabalhador e a hipossuficiência financeira. Vejam-se, a propósito, as Súmulas nº 219 e 329 do Colendo TST, bem como a Orientação Jurisprudencial nº 305 da SDI- 1/TST. No caso em exame, o reclamante, embora faça jus ao benefício da justiça gratuita, não comprovou que se encontra assistido pelo Sindicato profissional a que pertence. Inexistente a assistência judiciária prevista na lei, são indevidos os honorários advocatícios postulados, que deverão ser excluídos da condenação. Pelo exposto, conheço do recurso, rejeito as preliminares arguidas e, no mérito, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO APELO para revogar a tutela antecipada deferida, por não configurados os requisitos legais, para limitar a concessão do vale-transporte até o reclamante atingir a idade em que esteja isento de pagamento de tarifa de transportes coletivos, por força do estatuto do idoso, e para excluir da condenação os honorários advocatícios. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer do recurso, rejeitar as preliminares arguidas e, no mérito, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO APELO para revogar a tutela antecipada deferida, por não configurados os requisitos legais, para limitar a concessão do vale-transporte até o reclamante atingir a idade em que esteja isento de pagamento de tarifa de transportes coletivos, por força do estatuto do idoso, e para excluir da condenação os honorários advocatícios. Tudo nos termos do voto do Excelentíssimo Desembargador Relator./// Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2010 Desembargador Federal do Trabalho Flávio Ernesto Rodrigues Silva Relator krtm/fhmt
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