Projetos de intervenção urbanística no Centro Velho de São Paulo: estudo sobre seus impactos nos movimentos sociais por moradia.
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1 Projetos de intervenção urbanística no Centro Velho de São Paulo: estudo sobre seus impactos nos movimentos sociais por moradia. Leianne Theresa Guedes Miranda Orientadora: Arlete Moysés Rodrigues Mestrado Introdução e Justificativa A forma de ser da sociabilidade humana na produção da cidade é marcada por uma relação complexa entre as esferas da materialidade e da subjetividade dos sujeitos históricos atuantes nesse espaço urbano. Dentro da citada relação complexa, manifestam-se fortes contradições, impulsionadas pela dinâmica do capital imobiliárioconstrutor e sua forma de atuação através das parcerias público-privada, articuladas de dentro do Estado. Certamente, toda essa dinâmica cria significativos impactos aos trabalhadores presentes ali no Centro Velho de São Paulo, fato que impõe um desafio à presente pesquisa. Sinteticamente, é precisamente as mudanças no dia-a-dia desses trabalhadores que justificam a necessidade deste estudo 1. De acordo com Maricato (2000), as cidades passam a ser desmontadas mediante a reestruturação produtiva vigente no neoliberalismo, cujos padrões de (...) uso e ocupação do solo, apoiado na centralização e na racionalidade do aparelho de Estado, foi aplicado a apenas uma parte das nossas grandes cidades: na chamada cidade formal ou legal. (...) (MARICATO, 2000, 123). Além dessa constatação, é preciso registrar que, dentro do sistema capitalista de produção, o processo de urbanização necessariamente representa uma produção social do espaço marcada por relações sociais classistas. De acordo com Fix (2011), dentro do processo de desenvolvimento das cidades, estão presentes (...) disputas que remetem à contradição básica da terra urbana nas cidades capitalistas, ao mesmo tempo valor de uso e valor de troca, lugar da reprodução da força de trabalho e da urbanização do capital. Disputas que tendem a se acirrar quando a produção do meio ambiente construído se cristaliza em um circuito imobiliário configurando diversas frações de capital (FIX, 2011, 78). Tais papéis, dentro do processo de produção das cidades, são desempenhados 1 Ao falar de Centro Velho de São Paulo nos referimos aos bairros Luz, Sé, República, Santa Efigênia, Bom Retiro, Pari, Brás, Mooca, Belém, Cambuci, Liberdade, Bela Vista, entre outros, cuja centralidade fora deslocada para outros pontos da cidade.
2 por meio de certos mecanismos característicos, quais sejam, o mercado residencial restrito, conversão do espaço público em privado ou semi-privado, investimentos regressivos das gestões urbanas, manipulação do orçamento público para fins de acumulação privados, parcerias público-privada, reserva de mercado imobiliário, concessões de gestão desse espaço e especulação fundiária. Todos esses mecanismos são colocados em prática pelas subprefeituras, prefeituras e governos estaduais, bem como são regidos por ( ) legislação ambígua ou aplicação arbitrária da lei (MARICATO, 2000, 160). Na cidade de São Paulo, esta pesquisa pode notar que tais mecanismos ( ) situam-se na área de expansão do capital imobiliário, a fim de constituir ou consolidar polos de negócios, as chamadas novas centralidades; ou, ainda, em regiões consideradas deterioradas, como o centro histórico, integrando um projeto de recuperação ou revitalização. Assim, o mecanismo tem sido utilizado em tentativas de abertura de novas frentes de expansão, bem como de retorno do capital ao Centro. (FIX, 2012: 5). Neste quadro de contradições e conflitos, há de se considerar a presença do planejamento estratégico urbano, o qual vem se realizando a partir de uma racionalidade empresarial. De acordo com Vainer (2000), ( ) a cidade é uma mercadoria a ser vendida, num mercado extremamente competitivo, em que outras cidades estão à venda (VAINER, 2000, 78). É aí que surge a parceria público-privada (PPP) entre os setores, cada vez mais intensa e enrijecida pela especulação imobiliária que é (...) uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos (...); [portanto] caracteriza-se pela distribuição coletiva dos custos de melhoria das localizações, ao mesmo tempo em que há uma apropriação privada dos lucros [e dos espaços] provenientes dessas melhorias (SABOYA, 2013: 48). Os estágios de produção da cidade sob as modelagens dos mais variados projetos de revitalização/reurbanização retratam o anúncio de um verdadeiro conjunto de espetáculos mercadológicos. Em outras palavras, os espaços objetos das propostas de intervenção urbana testemunham a supressão da questão habitacional e a criação de uma política de image-making, ou seja, a cidade acaba por tornar-se um produto vendido por aquilo que atrai aos olhos (ARANTES, 2000). Nesse processo, Estado e capitalistas tornam-se parceiros da exclusão [e] descartam o restante da população para criar uma cidade própria (FIX, 2012: 11).
3 Objetivos A presente pesquisa estudará as propostas de intervenção urbana no Centro Velho de São Paulo, realizadas entre os anos de 2005 a 2013, a fim de perceber como essa reformulação, por intermédio da especulação imobiliária apoiada na parceria público-privada (PPP), impacta as formas de reprodução dos trabalhadores mais empobrecidos daquela região. Para realizar esse objetivo geral é preciso considerar alguns objetivos específicos, quais sejam: 1) apreender a estrutura e o processo de realização de tais propostas de intervenção, a exemplo do Projeto Nova Luz e outros projetos de intervenção, no quadro da atual conjuntura do Município de São Paulo, como o Projeto PPP- Habitacional Casa Paulista; 2) apreender as possíveis alterações em relação à ocupação e ao uso do solo do perímetro urbano delimitado nas propostas; 3) estudar a lógica especulativa do sistema imobiliário-construtor frente à parceria público-privada (PPP s) e à dinâmica da produção e reprodução do capital nesse espaço; 4) identificar e selecionar os movimentos sociais com os quais esta pesquisa trabalhará e 5) identificar, por meio dos relatos dos trabalhadores presentes nos referidos movimentos sociais, como tais projetos alteraram suas vidas e suas estratégias de reprodução. Material e métodos Por se tratar de uma pesquisa teórica, partiremos de uma análise bibliográfica e documental para compreender os fenômenos políticos, sobretudo, econômicos e sociais, que marcam as contradições existentes entre as classes sociais daquela região, no período estabelecido. Para tal, dados descritivos, quantitativos e qualitativos serão acompanhados pelo levantamento de notas oficiais divulgadas pelo governo municipal nos mais diversos meios de veiculação do assunto e, somando-se a isso, uma análise dos fenômenos observados na pesquisa de campo e material será pontuada, considerando aí as bibliografias já consultadas e leituras futuras, lançando mão dos acervos de bibliotecas da UNICAMP, USP e UNESP; bem como, de dados ofertados pelo IBGE, IHGSP, IPEA, Ministério das Cidades e pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Além desses expedientes, como método de identificação das formas de reprodução da sociabilidade material e subjetiva dos sujeitos atingidos por tal reformulação urbana, será utilizado o expediente de entrevistas com os participantes e lideranças dos movimentos sociais.
4 Forma de análise dos resultados Tem-se como hipótese que o processo em resposta às necessidades das novas relações estabelecidas entre governo municipal em conjunto com os mais diversos tipos de ação empresarial para a produção da cidade, não se restringe apenas a uma atração especulativa, política e econômica da relação de interesse entre essas representações; nem mesmo, a um simples deslocamento marcado pela segregação socioespacial e pelo processo de periferização aos quais está submetida a parcela empobrecida da população da região central, mas, também, à imposição de uma reestruturação profunda da sociabilidade que envolve desde as práticas cotidianas de produção de suas condições de existência até as marcas mais entranhadas da sua conformação subjetiva. Confirmada essa hipótese, o entendimento da realidade existente passará ao questionamento das características de supressão que a atual gestão política de planejamento urbano imprime sobre aquela população por meio da produção da cidade, ou seja, como a dissociabilidade exercida sobre os trabalhadores empobrecidos revela novas e distintas formas de organização popular, a exemplo dos movimentos sociais de luta por moradia, e novas formas de participação social e política desses sujeitos. Referências Bibliográficas ARANTES, O. Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões urbanas. In: ARANTES, O. MARICATO, E. VAINER, C (Orgs). Cidade do pensamento único: Desmanchando consensos. Petrópolis: Editora Vozes, p , FIX, M. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. Tese de Doutorado. Instituto de Economia. Unicamp, A fórmula mágica da parceria público privada: Operações urbanas em São Paulo. Disponível em: < pdf>. Acesso em 04 de março de MARICATO, E. As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias: Planejamento urbano no Brasil. In: ARANTES, O. MARICATO, E. VAINER, C (Orgs). Cidade do pensamento único: Desmanchando consensos. Petrópolis: Editora Vozes, p , SABOYA, R. O que é especulação imobiliária. In: Urbanidades: Urbanismo,
5 planejamento urbano e planos diretores. Disponível em: Acesso em janeiro de VAINER, C. B. Pátria, empresa e mercadoria: Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In: ARANTES, O. MARICATO, E. VAINER, C (Orgs). Cidade do pensamento único: Desmanchando consensos. Petrópolis: Editora Vozes, p , 2000.
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