CLUBE DE MATEMÁTICA: UMA MATEMÁTICA, VÁRIAS FACES. Luiz Henrique Ferraz Pereira Universidade de Passo Fundo
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1 1 CLUBE DE MATEMÁTICA: UMA MATEMÁTICA, VÁRIAS FACES. Luiz Henrique Ferraz Pereira Universidade de Passo Fundo Rosa Maria Tagliari Rico Universidade de Passo Fundo Resumo: O Clube da Matemática (CM) é um projeto que integra as ações desenvolvidas por alunos, com orientação de um professor, pensado e executado junto ao Ensino Médio da Escola Tiradentes da Brigada Militar, na cidade de Passo Fundo no estado do Rio Grande do Sul. A ideia que se articula é propor aos alunos uma opção de se trabalhar e se envolver com a matemática por um viés diferente daquele trabalhado na disciplina enquanto componente curricular. No CM se objetiva uma ampliação da estreita visão que se tem de matemática como algo difícil, enfadonho e, por muitas vezes, como sendo permitido somente para alguns, bem como romper com ações que, de forma geral, propõe o ensino da matemática vinculado a uma sequência prevista de conteúdos a serem desenvolvidos com os alunos em conformidade com a série onde estão inseridos. As atividades do CM são bastante diversificadas e segue o princípio de oferecer atividades que despertem a percepção, a compreensão, a atenção, o raciocínio, a argumentação e principalmente um olhar menos duro para a matemática. Com esta intenção são oferecidos aos alunos jogos lógicos, quebra-cabeças, questões de olimpíadas de matemática, cálculos mentais, atividades no computador, exercícios de memória, cruzadas numéricas e outros correlatos. No trabalho desenvolvido já é possível perceber um maior envolvimento dos participantes no que diz respeito a novas posturas e um olhar diferenciado para a matemática. Também os envolvidos com o CM começam a se destacar nas atividades em sala de aula por já estarem desenvolvendo habilidades, como a argumentação e o pensar com logicidade, o que já os diferencia em sua ações em relação aos demais alunos. Palavras chaves: matemática, clube da matemática, atividades. Sobre a matemática De forma geral, o ensino da matemática se baseia no ministério de conteúdos que compõe a grade curricular das escolas, com variação na quantidade dos períodos semanais, mas sempre presente no âmbito escolar. Esta presença é compreensível partindo-se do pressuposto da importância que tem a matemática como capaz de desenvolver ou oferecer elementos para a compreensão de inúmeros fenômenos que cerca os seres humanos em nossa vida diária. Também é pela matemática que o aluno recebe elementos de uma ciência milenar e que, nascendo com e das necessidades do homem evoluiu tanto a ponto de ser objeto de estudo e avaliação e referencial de quanto uma nação é evoluída ou não. Tais preocupações se conectam no que se costuma chamar de educação matemática, além disso, a expressão educação matemática pode ser ainda entendida no plano da 01336
2 2 prática pedagógica, conduzia pelos desafios do cotidiano escolar. (PAIS, 2001, p.10) Por outro lado também é ela objeto de avaliações como, por exemplo, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que a cada resultado e, no caso do Brasil, com colocação nos últimos lugares, desperta o pronunciamento de professores, ministros, autoridades e comunidade em geral sobre os problemas e limitações que seu ensino enfrenta e conseqüentemente, o porquê de resultados tão tímidos Também aqui podemos comentar sobre intervenções mais direcionadas, que buscam influenciar de forma positiva no ensino da matemática no país, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e também o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) também presente na escola em outras disciplinas. São ações de cunho político, pois tem o aval e patrocínio do Governo Federal, através do IMPA, no caso da OBMEP e da Capes em se tratando do PIBID. São programas interessantes e, como não é objetivo neste trabalho discutir suas ações, também eles possuem um limite de intervenção e mudança na concepção que se tem de matemática na escola, já que, de forma geral, ela é vista como complicada, difícil, distante da realidade em que vive os alunos. É responsável por grande número de reprovações e constantemente é acusada de não desenvolver o senso crítico e nem mesmo de auxiliar os alunos a pensarem sem o uso de calculadoras. Talvez um pouco desta visão seja compreensível quando nós, professores de matemática, não buscamos formas alternativas de oferecer elementos vinculados à matemática além do conteúdo previsto para sala de aula, pois esquecemos o que já afirma Caraça: (...) ela é impregnada de condição humana, com suas forças e as suas fraquezas e subordinadas às grandes necessidades do homem. (1989, p.13). A matemática possui muitas faces e na escola, muitas vezes, somente uma, considerada enfadonha pelos alunos, é apresentada. É evidente que em matemática há elementos de relativo grau de complexidade e por tal pressuposto para a maioria das pessoas, não é de fácil entendimento; mas isso é apenas uma face dela. Como não comentar utilidades cotidianas, como o uso de gráficos para representar a inflação, a variação do dólar ou resultados de pesquisas eleitorais? 01337
3 3 Com tal compreensão, na Escola Tiradentes da Brigada Militar (CTBM) de Passo Fundo RS, entendemos ser necessário oferecer aos alunos um espaço onde a matemática fosse muito mais explorada do que é no trabalho em sala de aula. Este aspecto é importante, mas também queríamos que cada aluno, indiferente da série que estivesse, experimentasse ver uma matemática diluída em outras atividades e modalidades, ou situações de aprendizagem que (...) provocam, quando se age sobre elas, adaptações, regulações, mudanças de estratégias, e que, finalmente, permite fazer avançar a noção em construção. (ASTOLFI; DEVELAY, 2012, p.66) Desta forma foi criado o Clube da Matemática CM com atividade todas às sextas-feiras à tarde, com alunos do primeiro, segundo e terceiro anos do Ensino Médio da escola. Estes são assistidos por um professor de matemática que elabora e seleciona as atividades que o grupo irá trabalhar semanalmente. O dínamo da atividade é buscar atividades diversificadas a cada encontro, mesclando ações individuais e outras vezes em grupo; atividades que vão do lúdico à resolução de problemas ou atividades de raciocínio lógico. Também a cada encontro se faz o registro da atividade e, o que é principal, um feedback com os participantes para ouvir seus pontos de vista do trabalho desenvolvido com a intenção de nortear as futuras ações e também melhor direcionar o trabalho como um todo. Com esta perspectiva, o CM objetiva inicialmente oferecer atividades que possam contribuir para que os alunos participantes deslumbrem uma perspectiva de matemática que não conhecem; estruturar ações de reflexões que permitam aos integrantes do CM momentos de expor seus pontos de vista, discutir opiniões e reelaborar conjecturas que, por ventura, estejam equivocadas e criar um espaço de convivência desprovida da intencionalidade da ação da aprendizagem do conteúdo matemática, mas sim se prioriza fortalecer os alicerces do pensamento matemática, ou seja, o raciocínio lógico e estruturado. Desta forma, se fez necessário pensar e buscar atividades que pudessem dar conta dos objetivos propostos e, para tanto, se constituiu uma busca constante de mecanismos que satisfizessem este propósito. Constituídas as buscas e materiais a serem trabalhados estes foram organizados em grupos de atividades em conformidades com os objetivos ou potencialidades que sua aplicação pudesse despertar nos participantes
4 4 Sobre as atividades O trabalho desenvolvido tem quatro grandes eixos de atividades a nortear o trabalho e, sobre os mesmos, se buscam as atividades para os encontros semanais. Cada eixo busca orientar atividades e ações que possam levar o CM a alcançar seus objetivos. São eles: Eixo de interatividade é aquele que tem a intenção de levar ao aluno a investigar, testar hipóteses, conjecturar pensamentos e expectativas sobre fenômenos matemáticos, sobre eventos de cálculo, sem a preocupação inicial de sua interação estar correta ou não. Justamente a partir da interatividade entre alunos alunos e alunos professor se fazem possíveis diálogos a estimular a curiosidade para que, se por ventura, uma intervenção, feita por um aluno, não for a mais correta ao que se propõe, ele possa compreender esta limitação e reelaborar seu pensamento. Eixo de fundamentação compreende a preocupação em assessorar todas as atividades desenvolvidas com elementos que dão sustentação ao pensamento matemático, ou seja, a logicidade e a racionalidade de sua argumentação. Norteia ações e intervenções por parte do professor, a ser um provocador junto aos alunos de reelaborarem seus conceitos matemáticos, algoritmos de resolução de natureza matemática e também fundamentar suas opiniões em bases matemáticas consistentes. Eixo de socialização aqui se inserem todas as proposições que busquem o trabalho em conjunto, o ouvir e argumentar ideias em grupo e também, em grupo, chegar a soluções mais convenientes as questões propostas. Estimula a parceria para elucidar problemas propostos, testar hipóteses e validá-las, sendo o grupo o próprio referencial para estimular a discussão, argumentação, organização de ideias e a oratória. Eixo da criatividade insere-se neste eixo o que é fundamental e talvez historicamente, trouxe os grandes avanços em matemática, a capacidade de buscar inovações no pensamento, sair do senso comum, experimentar hipóteses, as mais diversas a fim de abrir a percepção do pensamento a questionar, perguntar o porquê das coisas e principalmente, indagar se não há outras formas de se fazer ações comumente feitas sempre de um mesmo jeito
5 5 Assim são propostas atividades lúdicas, jogos de estratégias, de pensamento lógico, quebra-cabeças, questões da OBMEP, cruzadas de números, charadas, enigmas, passatempos numéricos, problemas algébricos, geométricos e aritméticos, atividades com o computador, jogos virtuais, atividades de percepção e desenvolvimento da observação, atividades de completar termos e procedimentos de cálculos, desenho livre e orientado, trabalhos com régua, compasso e lápis de cor, entre outra possíveis ações. Também os alunos são incentivados a trazerem atividades que julgarem importantes e relevantes ao grupo para serem partilhadas quando dos encontros. Resultados percebidos e considerações finais Ao longo da caminhada desenvolvida pelo CM, é possível perceber um amadurecimento do pensamento lógico-formal dos alunos de forma gradativa. A cada proposta oferecida nos encontros é visível o envolvimento dos participantes, a curiosidade sobre o que se propõe e principalmente um pensar crítico e questionador sobre o que se apresenta. Podemos notar uma sensível melhora nas formas de expressarem seus pensamentos, suas argumentações e o que nos incentiva a buscar continuar na atividade do CM é o relato, tanto de alunos, como dos demais professores de matemática do quanto tais alunos melhoram seu desempenho em sala de aula, ganharam melhores habilidades de argumentação e intervenção, bem como se tornaram mais reflexivos sobre o conteúdo desenvolvido nas aulas de matemática. Acreditamos ser possível construir outro olhar sobre a matemática escolar e as atividades desenvolvidas no CM, cada vez mais, nos dão a certeza desta possibilidade, ao mesmo tempo em que se mostra um desafio ao estimular, não só nos alunos, mas também nos professores, uma postura diferente frente a esta disciplina. Referências PAIS, Luiz Carlos. Didática da matemática. Uma análise da influência francesa. Belo Horizonte: Autêntica, ASTOLFI, Jean-Pierre; DEVELAY, Michel. A didática nas ciências. Campinas: Papirus, CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos fundamentais da matemática. Lisboa: Livraria Sá da Costa editora,
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