Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 37 ICTIOFAUNA DO RIO PARDINHO, RS, BRASIL.

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1 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 37 ICTIOFAUNA DO RIO PARDINHO, RS, BRASIL. Márcio Friedrich Ribeiro¹ Andreas Köhler² RESUMO O presente estudo foi realizado no Rio Pardinho, que pertence a bacia do Pardo, Sistema Hidrográfico da Laguna dos Patos. Este rio apresenta uma extensão de 105 km desde sua nascente até a foz, e sofre ao longo deste percurso um desnível de quase 700 m. Foram realizadas amostragens sazonais entre os meses de setembro de 2004 e agosto de 2005 em três pontos fixos; além de coletas em diversos outros locais dentro da sub-bacia do Pardinho. No total foram encontradas 51 espécies que foram distribuídas em 7 ordens, 17 famílias e 36 gêneros. Palavras-chave: Peixes, inventário, comunidade, lista de espécies. ICHTHYOFAUNA OF PARDINHO RIVER, IN RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL ABSTRACT The present study was realized in the Pardinho River on the Pardo basin, Laguna dos Patos Hidrografic Sistem. This river represents a extension of 105 km and suffers a unevenness of 700 m. Fishes were collected sazonally since Setember 2004 until August 2005 in three permanent collecting points. Futhermore, collectings were made in other localities in the Pardinho sub-basin. 51 species were collected, distributed in 7 orders, 17 families and 36 genera. Keywords: Fishes, inventary, comunity, species list. ¹ Av. Independência, 2293, Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul UNISC, , RS, Brasil, friedrichmr@yahoo.com.br ² Av. Independência, 2293, Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul UNISC, , RS, Brasil, andreas@unisc.br

2 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 38 INTRODUÇÃO Os estudos ictiológicos no estado do Rio Grande do Sul, segundo Malabarba (1989), tiveram seu início a mais de 140 anos com os trabalhos do naturalista alemão Reinhold Friedrich Hensel, o qual se dedicou ao Sistema da Laguna dos Patos. Seguido após por trabalhos de diversos outros pesquisadores, que tivera sua importância na caracterização de grande parte da ictiofauna do estado. Os estudos realizados posteriormente deram grande atenção aos ambientes lênticos como a Estação Ecológica do Taim (GROSSER, et. al, 1994), Lagoa Negra (GROSSER & HAHN, 1981), Praia de Itapuã (LUCENA, et al. 1994), Lagoas Litorâneas (SCHIFINO, 2004) e grandes rios como o Rio Uruguai (BORTOLETTI, 1985), Rio Santa Maria (BOSSEMEYER, 1985). Estes levantamentos foram de grande valia para o conhecimento de um número considerável de espécies que chega a aproximadamente 270 (GROSSER, com. pess) e recentes descrições de novas espécies (LUCENA E SILVA, 1991; MALABARBA & BERTACO, 1999; BERTACO & CARDOSO, 2004; SILVA, 2004; entre outros). Contudo, dentro dos sistemas aquáticos do Rio Grande do Sul, muitos rios e inclusive micro-bacias, sequer foram estudados, visto que estes locais provavelmente ainda abrigam novas espécies e informações importantes e interessantes de ponto de vista científico. A importância dos ecossistemas lóticos, como os arroios e riachos, é destacada por diversos autores (Querol et al., 2005; Azevedo et al., 2003), os quais ressaltam que são nesses locais onde ocorre a reprodução de parte das espécies que habitam leitos maiores de rios e seu importante papel trófico funcionando como transferidores de energia. Os inventários desempenham um papel de grande importância com relação à avaliação de impactos ambientais, visto que algumas espécies servem como valiosos bioindicadores de águas poluídas (Schulz & Martinz-Junior, 2001), além de serem imprescindíveis a estudos ecológicos. O presente trabalho teve como objetivo identificar a composição da comunidade de peixes do Rio Pardinho, dada à escassez dessas informações para o local em questão. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo: A sub-bacia do Pardinho é um componente da bacia do Pardo, Sistema Hidrográfico a Laguna dos Patos; possui uma área superficial de drenagem de 1.075,25 km², seu principal curso d água, o Rio Pardinho nasce no município de Gramado Xavier e percorre aproximadamente 105 km até sua foz na localidade de Entre Rios no município de Vera Cruz. Segundo (Perez 1996), ao longo desse percurso o rio sofre um desnível de mais de 700 m, o que o coloca dentro de dois grandes conjuntos geomorfológicos do Rio Grande do Sul, o Planalto Basáltico e a depressão Periférica Gaúcha, produzindo ao longo de seu curso, diferentes características tipológicas e morfológicas. De acordo com Perez (1996), a

3 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 39 região apresenta clima tropical úmido com uma precipitação anual de mm e com temperaturas médias variando entre 13,8 e 24,9ºC ao longo do ano. Os pontos fixos de coleta foram escolhidos conforme sua geomorfologia, sendo o Ponto I composto quase exclusivamente por seixos e com presença de alguns matacões; nesse local foram observadas algumas corredeiras e conseqüentemente uma maior velocidade do fluxo da água se comparado aos demais locais; o Ponto II composto por seixos e sedimento arenoso com um fluxo da água mais lento; e o Ponto III se apresentou composto quase exclusivamente por sedimento arenoso e com fluxo de água mais lento e sem corredeiras. Coleta de dados: Para a coleta foram feitas amostragens sazonais em três pontos fixos ao longo do curso do Rio Pardinho durante um período de doze meses, de setembro de 2004 e agosto de Nas capturas foram utilizados: redes de espera nas malhas 15, 25, 30, 35, 40, 50 e 120 mm de distância de entrenós, e que permaneceram durante 24 horas na água sendo revisadas a intervalos de 4 a 6 horas. Também foram utilizadas redes de arrasto malha 5 mm, tarrafas de malha 15 mm, puçás com malha 5 mm além de pesca com linha e anzóis de diversos tamanhos iscados com diferentes iscas. Em decorrência das grandes diferenças ecomorfológicas existentes o esforço de coleta foi padronizado para cada ponto de coleta, sendo igual nas diferentes estações do ano. Conforme Malabarba & Reis (1987) para se realizar um levantamento da ictiofauna de uma área, deve-se optar pelo maior número possível de métodos descritos, o que permitirá a captura do maior número de espécies. Além disso, foram realizadas coletas em outros dez locais dentro desta sub-bacia, as quais tiveram como finalidade, abranger uma maior diversidade de ambientes e conseqüentemente de espécies a serem encontradas. Para avaliação da distribuição das espécies o material coletado nestes pontos foi adicionado ao ponto fixo mais perto. Os exemplares coletados foram imediatamente fixados em solução de formol 10% e posteriormente, triados, medidos e transferidos para álcool 70% no Laboratório de Zoologia da Universidade de Santa Cruz do Sul de acordo com Malabarba & Reis (1987). Os dados referentes às coletas foram catalogados em programa Microsoft Access para a criação de um banco de dados digital. Todo o material coletado foi tombado na Coleção Ictiológica do Laboratório de Zoologia da Universidade de Santa Cruz do Sul. RESULTADOS No total foram coletados exemplares, pertencentes a 7 ordens, 17 famílias, 36 gêneros e 51 espécies (Tabela I).

4 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 40 Lista I: Relação das espécies encontradas no Rio Pardinho e sua distribuição conforme pontos fixos de coleta (I, II e III). CLASSE OSTEICHTHYES Nome popular I II III Ordem ATHERINIFORMES Familia ATHERINOPSIDAE Odontesthes humensis De Buen, 1953 Peixe-rei x Ordem CHARACIFORMES Familia CHARACIDAE Subfamília ACESTRORHYNCHINAE Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) Tambica x Oligosarcus robustus Menezes, 1969 Tambica x x x Subfamília CHARACINAE Charax stenopterus (Cope, 1894) Lambari-transparente x Subfamília CHEIRODONTINAE Heterocheirodon jacuiensis Malabarba & Bertaco, Lambari x 1999 Subfamília GLANDULOCAUDINAE Diapoma speculiferum Cope, 1894 Lambari x x Pseudocorynopoma doriae Perugia, 1891 Lambari x x x Cyanocharax alburnus (Hensel, 1870) Lambari x x x Subfamília TETRAGONOPTERINAE Astyanax eigenmanniorum (Cope, 1894) Lambari x x Astyanax fasciatus (Curvier, 1819) Lambari-do-rabovermelho x x x Astyanax jacuhiensis Cope, 1894 Lambari-do-rabo- x x x amarelo Astyanax sp. 1 Lambari x x Astyanax sp. 2 Lambari x Astyanax sp. 3 Lambari x x Bryconemericus ecai Silva, 2004 Lambari x Bryconamericus iherigii (Boulenger, 1887) Lambari x x Hyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911 Lambari x x x Hyphessobrycon boulengeri (Eigenmann, 1907) Lambari x Hyphessobrycon luetkenii (Boulenger, 1887) Lambari x x Familia CRENUCHIDAE Subfamília CHARACIDIINAE Characidium pterostictum Gomes, 1947 Canivete x x Familia CURIMATIDAE Cyphocharax voga (Hensel, 1870) Biru x x x Steindachnerina biornata (Braga & Azpelicueta, 1987) Biru x x x continua

5 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 41 Familia ERYTHRINIDAE Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra x x x Ordem GYMNOTIFORMES Familia HYPOPOMIDAE Brachyhypopomus sp. Tuvira x Ordem PERCIFORMES Familia CICHLIDAE Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842) Acará x Crenicichla lepidota Heckel, 1840 Joana x x Crenicichla punctata Hensel, 1870 Joana x x x Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Cará x x x Gymnogeophagus gymnogenys (Hensel, 1870) Cará x x x Gymnogeophagus labiatus (Hensel, 1870) Cará x x x Gymnogeophagus rhabdotus (Hensel, 1870) Cará x x x Ordem CYPRINODONTIFORMES Familia POECILIIDAE Phalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868) Barrigudinho x x Ordem SILURIFORMES Familia ASPREDINIDAE Bunocephalus iheringii Boulenger, 1891 Guitarreiro x Familia AUCHENIPTERIDAE Trachelyopterus lucenai Bortoletti, da Silva, & Pereira, 1995 Porrudo x x Familia CALLICHTHYDAE Corydoras paleatus (Jenyns, 1842) Limpa-fundo x x Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Tamboatá x Familia HEPTAPTERIDAE Heptapterus mustelinus (Valenciennes, 1835) Jundiá-cobra x x Rhamdella eriarcha (Eigenmann & Eigenmann, 1888) Mandi x x Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Jundiá x x x Familia LORICARIIDAE Subfamília LORICARIINAE Loricariichthys anus (Valenciennes, 1836) Viola x x x Rineloricaria cadeae (Hensel, 1868) Viola x x x Rineloricaria strigilata (Hensel, 1868) Viola x x x Subfamília HYPOPTOMATINAE Hisonotus nigricauda (Boulenger, 1891) Limpa-vidros x Subfamília HYPOSTOMINAE Hypostomus aspilogaster (Cope, 1894) Cascudo x x continua

6 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 42 Hypostomus commersoni Valenciennes, 1836 Cascudo x x Subfamília ANCISTRINAE Ancistrus brevipinnis (Regan, 1904) Cascudo x x Hemiancistrus punctulatus Cardoso & Malabarba, 1999 Cascudo x x Familia PIMELODIDAE Pimelodus maculatus La Cepède, 1803 Pintado x x Familia PSEUDOPIMELODIDAE Microglanis cottoides (Boulenger, 1891) - x Familia TRICHOMYCTERIDAE Homodiaetus anisitsi Eigenmann & Ward, 1907 Bagre-parasita x Ordem SYNBRANCHIFORMES Familia SYNBRANCHIDAE Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 Muçum x x x O resultado obtido neste curso d água pode ser comparado ao encontrado por outros pesquisadores em levantamentos realizados em rios do Sistema Hidrográfico da Laguna dos Patos, Petry & Schulz, (2001); Lucena, et al. (1994); Grosser, et al. (1994); Grosser & Hahn, (1981); Behr, (1992); mostrando que apesar do Rio Pardinho ser um curso de água de proporções relativamente pequenas, apresenta uma alta diversidade ictiofaunística. Tabela I: Comparação dos dados obtidos em outros levantamentos realizados no Sistema da Laguna dos Patos, RS. Autor Local Espécimes Espécies Espécies presentes no Rio Pardinho Petry & Schulz, (2001) Rio dos Sinos Lucena, et al. (1994) Praia de Itapuã Grosser, et al. (1994) E. E. Taim Grosser & Hahn, (1981) Lagoa Negra Behr, E.R. (1992) Rio Vacacaí Mirim Somente entre 40 e 60% das espécies do Rio Pardinho não foram contemplados nos levantamentos citados acima, mostrando a importância que os estudos de inventário ainda representam para o conhecimento da diversidade ictiológica. No estado do Rio Grande do Sul o número de espécies da ictiofauna já ultrapassa as 270 espécies, e segundo Sabino & Prado (2003) essa região apresenta uma ictiofauna bem estudada, porém com muitos ambientes ainda sub-amostrados, como cabeceiras, riachos e corredeiras. Com relação à distribuição das espécies nos três pontos de amostragem, Oligosarcus jenynsii, Heterocheirodon jacuiensis, Astyanax sp. 1 e Bryconamericus ecai foram restritas ao ponto 1; Odontesthes humensis, Hisonotus nigricauda,

7 Caderno de Pesquisa, série Biologia Volume 19 (2) 43 Brachyhypopomus sp., Homodiaetus anisitsi e Charax stenopterus ao Ponto 2; enquanto Microglanis cottoides e Bunocephalus iheringii ficaram restritas ao ponto 3; mostrando assim a uma preferência para este tipo de ambiente geomorfológico. Ao contrario, algumas espécies que foram encontradas em todos os três pontos, como Oligossarcus robustus, Astyanax jacuhiensis, Pseudocorynopoma doriae, Cyphocharax voga, Steindachnerina biornata, Hoplias malabaricus, Crenicichla punctata, Geophagus brasiliensis, Gymnogeophagus gymnogenys, Rhamdia quelen e Symbranchus marmoratus, possuem características para amplas condições geomorfologicos, sendo citados na maioria de trabalhos ictiológicos no estado. Ainda, análises biométricas mostraram, que mais de 50 % dos indivíduos foram menores que 15 cm de comprimento, como também observado por Castro (1999), para riachos da América do Sul, onde os peixes de pequeno porte (menos de 15 cm) representam no mínimo 50 % do total das espécies, sendo típico para este padrão ecomorfológico do rio. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Dione Krise, Pablo Gressler, Marcelo Sulzbacher e todos os demais que auxiliaram na realização das coletas; e pela ajuda na identificação nosso agradecimento vai para Fernando Gertum Becker, Karin Martha Grosser, Luiz Roberto Malabarba e Everton Rodolfo Behr, bem como especialmente para Adriana Düpont pelo apoio na realização do projeto. Agradecemos ainda ao apoio financeiro da Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA); a Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), aos materiais doados pela Patrulha Ambiental da Brigada Militar de Rio Pardo (PATRAM) e ao IBAMA pela autorização de coleta. REFERÊNCIAS AZEVEDO, C. et al Diversidade específica, densidade e biomassa da ictiofauna da nascente do Arroio Felizardo, Bacia do Uruguai Médio, Uruguaiana, RS, Brasil. Biodiversidade Pampeana. Uruguaiana. 1(1): p BEHR, E. R Levantamento da Ictiofauna do rio Vacacaí Mirim, RS p. Monografia de Especialização. Santa Maria, RS Brasil. BERTACO, V. A.; CARDOSO, A.R Ocorrência de Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) (Gymnotiformes: Sternopygidae) na bacia do rio Uruguai, Rio Grande do Sul, Brasil. Comunicações do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS. Série zoologia, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p BERTOLETTI, J. J Aspectos Sistemáticos e Biológicos da Ictiofauna do Rio Uruguai. Veritas, Porto Alegre, v.30, n.117, p

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