Lutas e Resistências: o processo de conquista da terra do Assentamento Nova Canaã, Tracunhaém, PE.

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1 Lutas e Resistências: o processo de conquista da terra do Assentamento Nova Canaã, Tracunhaém, PE. Emely Christine Sulino de Melo Graduanda em Geografia, UFPE, emelychristinegeo@gmail.com Monica Cox de Britto Pereira Professora Depto de Ciências Geográficas, UFPE, coxmonica@gmail.com Juliana Carneiro Pires Graduanda em Geografia, UFPE, juliana_ana_nana@hotmail.com Diego Felipe dos Santos Graduando em Geografia, UFPE, diego.felipeufpe@gmail.com INTRODUÇÃO A Região compreendida como Zona da Mata de Pernambuco possui uma área de km² e compreende 42 municípios. O local é historicamente marcado pelo agronegócio brasileiro, tendo a cultura da cana-de-açúcar como a principal alavanca de sua economia. A área é marcada pelo impressionante desenvolvimentismo e exploração, herdadas da fase colonial, visto que, foi nesse período que o produto se tornou o principal gerador de lucros para a economia do estado, com registro da utilização de mão de obra escrava e caratér de monocultivo para exportação. Porém, esse modelo colonial (ANDRADE, 2001), ainda permeia os dias atuais gerando mazelas como desempregos, problemas sociais, exploração, degradação ambiental e principalmente expulsões do campo.

2 Figura 1: Mapa de localização de Tracunhaém Fonte: SILVA, 2016 Não conformadas com esse sistema exploratório, algumas famílias da região, que foram expulsas do campo, e ao final de 1996 e ínicio de 1997 se organizaram junto ao MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), e se fortaleceram com expectativa de retorno às terras historicamente perdidas para a dominação do cultivo de cana. Em 1996 ocuparam o Engenho Prado e iniciaram o processo de luta e resistência para desapropriação dessas terras improdutivas. Com base no capítulo III da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária que afirma, no artigo 184, que cabe à união desapropriar por interesse social, com o intuito de reforma agrária, qualquer imóvel rural que não esteja cumprindo essa função social. Nesse sentido, Pinto Jr. e Farias (2005) afirmam que não basta somente ter a propriedade rural, ela deve ser produtiva, para que não seja passível de desapropriação. Pereira (2005) ressalta que no processo de constituição do assentamento rural está em jogo, não somente a função social, mas também a função ambiental da terra. De acordo com a CPT foram cerca de 174 conflitos diversos no país na década de 90 relacionados a posse de terra. Conflitos no campo gerados principalmente, por ameaças aos povos do campo. Em 2003 camponeses e camponesas conquistaram o antigo Engenho Penedinho que se tornou o assentamento Nova Canaã, envolvendo muitas estratégias, que somaram protestos, mobilizações, marchas, bloqueios de avenidas e diversas outras atividades que marcaram essa luta. Foi nesse momento que famílias passaram a produzir seu próprio alimento, utilizando a agroecologia como base para o fortalecimento do território conquistado e mudança na realidade econômica, social, ambiental e política, assim como garantindo a segurança alimentar do conjunto das famílias. Com base em Pereira (2005) a Agroecologia traz a possibilidade de enfrentamento do modelo convencional: A Agroecologia é um campo de conhecimento e uma estratégia para a sustentabilidade: planeja e entende produção e conservação como uma só unidade, portanto articula os aspectos agrários e agrícolas com os ecológicos, sob um olhar ambiental mais amplo,

3 ou socioambiental, para melhor traçar essa possibilidade (PEREIRA: 2005, p. 9). Figura 2: Perpetuando a agroecologia: represa de água atualmente sob controle e uso do Assentamento Nova Canaã. Fonte: SANTOS, Nesse sentido, a geografia permite a valorização dos diversos conceitos de território e territorialidade, principalmente, quando se fala em povos do campo.o Assentamento Nova Canaã nos fornece a possibilidade de um estudo aprofundado acerca das resistências que enfrentam, diariamente, partindo para o debate e construção da perspectiva agroecológica no Assentamento. A pesquisa contribuirá para compreender essas relações sociais a partir do campesinato e expandir as diversas denúncias a respeito do uso exploratório da terra a partir do pacote agroquímico da revolução verde e contribuir para que o assentamento se fortaleça garantindo a permanência na terra das famílias assentadas. OBJETIVOS O principal objetivo do trabalho é problematizar o processo de conquista da terra, evidenciando os impasses enfrentados pelas famílias para permanência na terra e

4 construção da vida sob a perspectiva da Agroecologia, em função de forte influencia da agricultura capitalista/mecanizada no território. Assim como, entender todo o histórico do assentamento, de forma a compreender o processo de resistência local, visto que ele os conflitos não se cessam em meio ao agronegócio do monocultivo de cana-de-açucar no entorno todo do local. METODOLOGIA A pesquisa refere-se às compreensões adquiridas por meio de observação in loco proporcionadas por visitas a campo que emolduraram todo o corpo da pesquisa, bem como, leva em consideração a importância da análise de referenciais teóricos como fator preponderante para o diálogo com o campo geográfico. A pesquisa tem como base dados empíricos a partir de entrevistas e conversas com assentados e assentadas de Nova Canaã. Essas ferramentas metodológicas tem a perspectiva de análise qualitativa já que visa a compreensão e percepção sobre a natureza em geral, sendo construída através da interação dos pesquisadores e pesquisadoras, comunidade e problemática. RESULTADOS PRELIMINARES Permanecem os desafios da questão agrária no Brasil, envolvem toda uma problemática que vai desde a má distribuição das terras até a estrutura fundiária que é muito concentrada. As dificuldades são historicamente marcadas pela expropriação da terra e exclusão das pessoas, e consequentemente de seus saberes. O conhecimento cientifíco cartesiano historicamente desprezou os valores sociais, culturais, religiosos desses trabalhadores e trabalhadoras rurais, camponeses e camponesas, como bem sinaliza Santos (2005): O conhecimento cartesiano levou a limites na construção do conhecimento que desprezou os conhecimentos de interação do ser humano com a natureza: O segundo grande tema de reflexão epistemológica versa mais sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre a sua forma. Sendo um conhecimento mínimo que fecha as portas a muitos outros saberes sobre o mundo, o conhecimento científico moderno é um conhecimento desencantado (SANTOS, 2005: p.12).

5 A agroecologia surge no assentamento como uma das formas de resistência e organização das famílias ao monocultivo de cana dominante na região, trazendo a perspectiva da interação e diversificação dos cultivos, assim como a organização em associações e sociabilidades várias entre as famílias, conforme ressalta Almeida (2004): Por seus desígnios peculiares, o acesso aos recursos naturais para o exercicio de atividades produtivas, se dá não apenas através das tradicionais estruturas intermediárias do grupo étnico, dos grupos de parentes, da família, do povoado ou da aldeia, mas também por um certo grau de coesão e solidariedade obtido face a antagonistas e em situações de extrema adversidade e conflito. (ALMEIDA, 2004) Pôde-se verificar que um dos assentados, Seu Expedito, possui no lote cerca de 55 plantas frutíferas e hortaliças e vem reconstruindo a relação com a terra a partir da diversidade da natureza. Foi perceptivel que a familia produz quase todos os bens que necessita, com culturas anuais, hortaliças, frutíferas, criação de animais e outros em área de aproximadamente 08 hectares por família, infinitamente inferior aos latifúndios da monocultura canavieira, porém percebe-se o quanto o seu quintal é diversificado de interações que além de proteger so solo, renova os ciclos de nutrientes, conservam a água, garante a soberania alimentar e principalmente garante uso da terra de forma sustentável.

6 Figura 3: A esquerda sementes crioulas do feijão japônes, a direita plantação de acerola. Fonte: PEREIRA, 2016 CONSIDERAÇÕES FINAIS A conquista da terra foi o passo inicial para a luta pelo direito de viver no campo e de possuir todo um conjunto de serviços e políticas públicas que envolvem o direito a educação, trabalho, saúde, dentre outros. Essa conquista é resultado da luta camponesa junto com os movimentos sociais a fim de recolocar a importância da agricultura camponesa e valorização dos diversos saberes e particularidades proporcionadas pelas comunidades camponesas e tradicionais, que retornam a terra tornando-se assentadas da reforma agrária. Ainda assim, são muitos os desafios e muito para se conquistar, porém, a pesquisa torna-se relevante para o registro e perpetuação da história da luta pela terra do Assentamento Nova Canaã. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, Alfredo Wagner. Terras tradicionalmente ocupadas: processos de territorialização e movimentos sociais. In: Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V.6, N.1, ANDRADE, M. C. Espaço e tempo na agroindústria canavieira de Pernambuco. Estudos Avançados. São Paulo, v.15, n.43, dez SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 3a. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

7 PEREIRA, Monica Cox de Britto. Reforma agrária e meio ambiente: interfaces da função social e ambiental da terra. Geographia, Niterói, PPGEO UFF, Ano VII, No 14, p , Dezembro CPT. Espinhoso caminho para a liberdade: conflitos no campo. Goiânia: Loyola, CPT. Prado : a re-volta dos camponeses e das camponesas : a luta e a conquista da terra dos trabalhadores e das trabalhadoras sem terra no engenho Prado [Comissão Pastoral da Terra]. Recife : Ed. Universitária da UFPE, 2013.