PRODUÇÃO DE SÁLVIA CULTIVADA EM SISTEMA HIDROPÔNICO PAVIO COM A UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS SALOBRAS

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1 PRODUÇÃO DE SÁLVIA CULTIVADA EM SISTEMA HIDROPÔNICO PAVIO COM A UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS SALOBRAS F. T. O. de Freitas 1, T. M. Soares 2, M. R. S. Rafael 3, D. M. de Melo 4, A. M. W. Cova 5, P. C. Viana 5 RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi avaliar a produção e a qualidade da sálvia cultivada em sistema hidropônico Pavio (com fluxo de água e nutrientes por capilaridade) em substrato, com a utilização de águas salobras. Foram estudados cinco níveis de salinidade da água (0,264; 1,6; 2,28; 4,71 e 6,38 ds m -1 ), obtidos a partir da adição de NaCl à água de abastecimento local (CEa= 0,264 ds m -1 ). O experimento foi dividido em cinco blocos aleatorizados, totalizando 25 parcelas. As plantas não submetidas à salinidade apresentaram em média 48,2 e 8,24 g de massa de matéria fresca e seca da parte aérea, respectivamente. As mesmas foram reduzidas em 11,24 e 11,25 %, respectivamente, para cada aumento unitário da salinidade da água (ds m -1 ). O efeito da salinidade foi significativo sobre as variáveis de produção. Observou-se que não houve danos deletérios que afetasse na comercialização do produto, mesmo quando submetidas ao nível de maior salinidade (CEa= 6,38 ds m -1 ). PALAVRAS CHAVE: Salvia officinalis L., salinidade, capilaridade. PRODUCTION OF SAGE GROWN IN HYDROPONIC SYSTEM "WICK" WITH THE UTILIZATION OF WATERS BRACKISH SUMMARY: The objective of this work was to evaluate the production and quality of salvia cultivated hydroponically "wick" (with flowing water and nutrients by capillarity) in substrate, with the use of brackish water. Were studied five water salinity levels (0.264, 1.6, 2.28, 4.71 and 6.38 ds m -1 ), obtained from the addition of NaCl the water of 1 Graduando em Engenharia Agronômica e Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica- PIBIC, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB, Cruz das Almas, Bahia, CEP: Fone: E mail: oibaf.freitas@hotmail.com. 2 Prof. Doutor, UFRB/NEAS, Cruz das Almas, Bahia. 3 Graduando em Engenharia Agronômica, UFRB, Cruz das Almas, Bahia. 4 Mestrando em Engenharia Agrícola, UFRB, Cruz das Almas, BA. 5 Doutoranda em Engenharia Agrícola, UFRB, Cruz das Almas, BA. 86

2 local supply (CEa= ds m -1 ). The experiment was divided into five randomized blocks, totaling 25 installments. Plants not submitted to salinity presented in average 48.2 and 8.24 g mass of materia fresh and shoot dry respectively. The same were reduced by and 11.25%, respectively, for each unit increase of salinity water (ds m -1 ). The effect of salinity was significant on production variables. It was observed that there was no deleterious damage that affected on commercialization of the product, even when submitted the higher salinity level (CEa = 6.38 ds m -1 ). KEYWORDS: Salvia officinalis L., salinity, capillarity. 1. INTRODUÇÃO A Salvia officinalis L., pertencente à família Lamiaceae, é uma planta originária do Mediterrâneo e aclimatada na Região Sul do Brasil (POVH et al., 2008). Conhecida popularmente como sálvia, é usada, principalmente, para fins medicinais e alimentícios. Nos últimos anos, um dos temas que vem cada vez mais sendo debatido é a escassez de água, quanto à sua qualidade e quantidade em algumas regiões. Tratando-se da Região Semiárida o tema é ainda mais preocupante, devido aos baixos índices pluviométricos, limitando dessa forma o cultivo agrícola. Uma das alternativas seriam as reservas hídricas subterrâneas, que poderiam melhorar a relação de convívio com as estiagens prolongadas, porém, segundo SANTOS et al., (2009) muitos dos poços perfurados possuem baixas vazões e altos teores de sais dissolvidos, restrições que em parte explicam o abandono de inúmeros poços públicos e privados. Os efeitos imediatos da salinidade sobre os vegetais são efeito osmótico, proveniente da diminuição do potencial osmótico, desbalanceamento nutricional devido à elevada concentração iônica, especialmente o sódio, inibindo a absorção de outros nutrientes e efeito tóxico de íons, particularmente o cloreto e o sódio (PAULUS et al., 2012). E para o aproveitamento dessas águas na agricultura, umas das alternativas seria o uso do sistema hidropônico por capilaridade, no qual SILVA et al. (2005) e FERRAREZI et al. (2012), obtiveram êxitos em suas pesquisas. O sistema Pavio ou capilaridade trata-se de um sistema estático, em que a solução nutritiva permanece estática junta ou próxima as raízes (SILVA et al., 2005). E uma das vantagens desse sistema é a independência da eletricidade. 87

3 No entanto, é um sistema que não é muito usado, pois segundo FERRAREZI et al. (2012) não existem avaliações hidráulicas nem informações técnicas sobre o funcionamento desse equipamento de irrigação, o que dificulta seu dimensionamento e a recomendação de sua aplicação em escala comercial. Existem outros sistemas hidropônicos muitos usuais, como por exemplo, o Floating, porém, a cultura da sálvia apresenta alguns sintomas de clorose e necrose, quando submetidas a determinado tempo à salinidade (TAARIT et al., 2010). Diante do exposto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a produtividade e a qualidade da sálvia em sistema hidropônico Pavio, com o uso de águas salobras. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido no período de 28 de dezembro de 2013 a 14 de março de 2014, em casa de vegetação no Núcleo de Engenharia de Água e Solo/NEAS, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB, localizada no município de Cruz das Almas, Bahia. A estrutura da casa de vegetação é de aço galvanizado e as paredes laterais e frontais confeccionadas com tela clara. A cobertura é em arco tipo túnel, medindo 20,0 m de comprimento, 7,0 m de largura e 4 m de pé direito. Foram utilizadas 25 parcelas experimentais, sendo que cada parcela representava um sistema hidropônico Pavio independente. Cada parcela era composta por uma tubulação de PVC de 0,05 m, ligada a um balde com capacidade para 6 L, onde ficava armazenada a solução nutritiva. O sistema continha um reservatório de reabastecimento, que foi construído com uma tubulação de PVC de seção continua de 0,2 m, com capacidade para 20 L. O depósito de abastecimento foi dotado de uma régua graduada, fixada a uma mangueira transparente. Esse tipo de sistema permitiu a saída automática de água para o reservatório de solução nutritiva, por uma torneira-boia. Na tubulação de PVC de 0,05 m, fez-se orifícios com diâmetro de 0,02 m, com uma distância de um para o outro de 0,3 m. Ao lado de cada orifício da tubulação de PVC, foi colocado um balde plástico com capacidade de 6 L. Dentro desse balde plástico havia outro recipiente de cultivo de tamanho inferior perfurado no fundo, preenchido com substrato de fibra de coco. Esse substrato foi colocado sobre brita, sendo separada desta por uma manta geotêxtil. Para a transferência da solução nutritiva para o substrato via capilaridade, cortou-se uma manta geotêxtil com largura de 0,03 m e comprimento de 0,25 m aproximadamente. Esse tecido foi umedecido e inserido em uma mangueira plástica de 88

4 0,1 m. A extremidade do tecido (0,05 m) foi inserida na tubulação para absorver a solução nutritiva. A outra extremidade foi inserida verticalmente no substrato (0,1 m). A solução nutritiva empregada no cultivo foi baseada na recomendação de Furlani (1998). As águas salobras foram obtidas a partir da adição de cloreto de sódio (NaCl) à uma água de abastecimento local (CEa= 0,264 ds m -1 ). No dia 28 de dezembro de 2013 foi feita a semeadura de sálvia em copos de 50 ml preenchidos com substrato de fibra de coco. Após a germinação (seis dias), essas plantas foram irrigadas com solução nutritiva a 50 %. Aos 30 dias após a semeadura quando essas plantas apresentavam de 6 a 8 folhas definitivas, foram transplantadas para as parcelas experimentais do sistema hidropônico Pavio, cultivando-se em cada parcela três plantas. O delineamento experimental foi em blocos aleatorizados, com cinco repetições. Foram estudados os efeitos de cinco níveis de condutividade elétrica da água (0,264; 1,6; 2,28; 4,71 e 6,38 ds m -1 ), ocupando-se 25 unidades experimentais. A colheita foi realizada aos 77 dias após a semeadura. Foram colhidas todas as plantas. Para a avaliação de crescimento da sálvia, foram analisadas as seguintes variáveis: massas de matéria fresca e seca das folhas (MFF; MSF); massa fresca e seca da parte aérea (MFPA; MSPA). A qualidade das plantas de cada tratamento foi avaliada mediante análise visual de sintomas. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão (SISVAR), selecionando-se os modelos de ajuste dos dados com base na significância de seus termos, no valor do coeficiente de determinação e no significado biológico. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Registrou-se redução linear nas variáveis analisadas (MFF, MSF, MFPA, MSPA) em função do aumento da salinidade da água (Figura 1). Efeito também reportado por SANTOS (2009) e SILVA (2012) ao analisarem cultivares de alface e rúcula, respectivamente, em sistema hidropônico NFT. O efeito da salinidade sobre o crescimento pode estar relacionado com a redução da área foliar, a qual afeta a assimilação de carbono pela planta que, por sua vez, conduz uma menor taxa fotossintética (MUNNS, 1993 citado PAULUS et al. 2012). 89

5 Figura 1. Massa de matéria fresca (MFF) (A) e seca (MSF) (C) das folhas, massa de matéria fresca (MFPA) (C) e seca (MSPA) (D) da sálvia em função da condutividade elétrica da água. O tratamento que teve o maiorr valor médio de MFPAA e MSPA foi a testemunha (CEa= 0,264 ds m -1 ), com uma produção média de 48,21 e 8,24 g. A água salobra que teve a menor produção média de MFPA e MSPA foi a dee maior nível de salinidade (CEa= 6,38 ds m -1 ), com uma produção média de 13,86 e 2,35 g, o quee representa uma redução de 28,74% para a MFPA e de 28,51% para a MSPA. Em relação à MSPA, verificou-se um decréscimo linear de 11,25% para cada aumento unitário da salinidade da água (ds m -1 ). Taarit et al. (2009) e Taarit et al. (2010) ao avaliarem a Sálvia officinalis em sistema hidropônico com vasos preenchidos com solução nutritiva, n ambos na Tunisia, obtiveram uma maior produtividade de MSPA no tratamento testemunha (0 mm de NaCl), com 1,2 g e 1,9 g por plantaa aos 75 e 60 dias após o preparo das estaquia, respectivamente. Verificaram um decréscimo de 34 e 25% na MSPA em relação à testemunha ao utilizarem água salobra de 50 mm (CEa= 5 ds m -1 ). Esses mesmos autores tambémm relatam que tiveram que fazer a colheita aos 30 dias após a aplicação dos tratamentos com águas salobras, pois as plantas começaram a apresenta sintomas comoo clorose e necrose. 90

6 Notou-se que com o aumento da salinidade a tonalidade do verde foliar se alterou com o aumento da salinidade, saindo de verde claro para verde escuro, no nível de salinidade mais alto. Além da coloração observou-se que as plantas não apresentaram sintomas ou injurias que afetassem na comercialização do produto. 4. CONCLUSÕES O sistema hidropônico pavio mostrou-se eficiente na produção da Salvia officinalis, visto que não provocou sintomas deletérios à cultura, que pudessem ser atribuídos a salinidade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERRAREZI, R. S.; SANTOS, L. N. S.; SOUSA, A. C. M.; PEREIRA, F. F. S.; ELAIUY, M. L. C.; TORREL, U.; MATSURA, E. E. Altura da lâmina, tempo e volume de enchimento de um equipamento de irrigação por pavio e determinação da uniformidade de distribuição de água em substratos. Bragantia, Campinas, v. 71, n. 2, p , PAULUS, D.; DOURADO NETO, D.; PAULUS, E. Análise sensorial, teores de nitrato e de nutrientes de alface cultivada em hidroponia sob águas salinas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 30, n. 1, 2012 POVH, J. A.; ONO, E.O. Crescimento de plantas de Salvia officinalis sob ação de reguladores de crescimento vegetal. Ciência Rural, v. 38, n. 8, p , SANTOS, A. N.; SOARES, T. M.; SILVA, E. F. F.; SILVA, D. J. R. Cultivo hidropônico de duas variedades de alface utilizando águas salobras de cinco diferentes poços. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 18, 2009, Campo Grande - MS, SILVA, J. O.; SOUZA, P. A.; JUNIOR, J. G.; PEREIRA, P. R. G.; ROCHA, F. A. Crescimento e composição mineral da alface no sistema hidropônico por capilaridade. Irriga, v. 10, n. 2, TAARIT, M. B.; MSAADA, K.; HOSNI, K.; MARZOUK, B. Changes in fatty acid and essential oil composition of sage (Salvia officinalis L.) leaves under NaCl stress. Food Chemistry, n. 119, p , TAARIT, M. B.; MSAADA, K.; HOSNI, K.; MARZOUK, B. Physiological changes and essential oil composition of clary sage (Salvia sclarea L.) rosette leaves as affected by salinity. Acta Physiol Plant, v. 33, p ,