ESTABILIDADE FENOTÍPICA DE CULTIVARES DE AMENDOIM AVALIADAS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Transcrição

1 ESTABILIDADE FENOTÍPICA DE CULTIVARES DE AMENDOIM AVALIADAS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL RESUMO - A estimação dos parâmetros de estabilidade e adaptabilidade das cultivares é uma forma bastante utilizada pelos melhoristas para capitalizar a interação genótipo x ambiente, visando à identificação de genótipos superiores. Foram estimados os parâmetros de estabilidade de 10 genótipos de amendoim (Arachis hypogaea L.), a partir dos dados de produtividade (kg/ha) do ensaio regional conduzido em dez ambientes ROSEANE CAVALCANTI DOS SANTOS 1 FRANCISCO JOSÉ CORREIA FARIAS 1 GISELDA MAIA RÊGO 2 ASTROGILDO PEIXOTO GOMES DA SILVA 3 JOSÉ RAIMUNDO FERREIRA FILHO 3 OSÓRIO LIMA VASCONCELOS 3 JOÃO LUIZ BARBOSA COUTINHO 4 dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Bahia, no período de 1990 a O delineamento utilizado foi de blocos ao acaso, com seis repetições. Empregouse a metodologia de Eberhart e Russell (1966). Verificou-se que a maioria dos genótipos testados apresentou adaptabilidade ampla, sendo que apenas as cultivares BR 1 e IAC Tupã foram as mais adaptadas e estáveis para as condições ambientais testadas. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Adaptabilidade, cultivo de sequeiro, rendimento, Arachis hypogaea PHENOTIPIC STABILITY OF PEANUT CULTIVARS EVALUATED IN NORTHEAST OF BRAZIL ABSTRACT - Stability and adaptability parameter estimates of cultivars is a useful tool by breeders aiming identify high genotypes regarding genotype x environment interation. In this paper, it was estimated stability parameters of 10 peanut (Arachis hypogaea L.) genotypes considering their pods yield evaluated in experiments carried out at 10 places of the Paraíba, Pernambuco, INDEX TERMS: Adaptability, dry season, yield, Arachis hypogaea Sergipe and Bahia states (Brazil) during 5 years (1990 to 1995). The experimental design was randomed blocks with six replications. Eberhart e Russell (1966) method was utilized. It was observed that the marjority of the genotypes showed wide adaptability; among them, BR 1 and IAC Tupã were the most adapted and stable to the enviromental conditions evaluated. INTRODUÇÃO O amendoim (Arachis hypogaea L.) é cultivado em diversas regiões do mundo, sob as mais diferentes condições edafoclimáticas. No Brasil, em especial na região Nordeste, esta oleaginosa é cultivada principalmente em condições de sequeiro, na qual ocorrem variações significativas no regime pluvial. Nessa situação, espera-se a ocorrência de uma forte interação genótipo x ambiente, que dificulta a seleção de genótipos potencialmente estáveis. Para amenizar tal situação, o melhorista procura conduzir seus experimentos em um maior número de locais e anos possíveis, visando a estimar a magnitude desta interação e sobretudo avaliar a sua importância na recomendação de cultivares e no programa de melhoramento genético. Nesse contexto, os experimentos regionais são de grande valia, pois devem identificar com eficiência os materiais capazes de substituir aqueles em cultivo e, conseqüentemente, contribuir para o aumento de produtividade (Farias, Santos e Moreira, 1996). 1. Pesquisador, EMBRAPA Algodão, Caixa Postal 174, , Campina Grande, PB 2. Pesquisador, EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, Caixa Postal 44, , Aracaju, SE 3. Persquisador, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário, EBDA, Avenida Dorival Caymmi, , , Itapuã, Salvador-BA 4. Pesquisador, Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, IPA, Avenida Gal. San Martin, 1371, Bongi, , Recife-PE

2 809 A estimação dos parâmetros de estabilidade em ensaios de avaliação de cultivares antes da sua recomendação aos agricultores tem sido uma estratégia bastante utilizada em várias espécies cultivadas, tais como: soja, feijão, milho, arroz, algodão, entre outras. Com a cultura do amendoim no Nordeste, alguns estudos foram desenvolvidos por Moreira et al., 1994, Santos et al., 1994; Coutinho et al., 1996 e Farias, Santos e Moreira, Dando continuidade a essa linha de pesquisa, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a estabilidade e adaptabilidade de dez cultivares de amendoim cultivados em regime de sequeiro no Nordeste brasileiro, estimando-se os respectivos parâmetros, de acordo com metodologia proposta por Eberhart e Russel (1966). MATERIAL E MÉTODOS As cultivares pertencentes ao ensaio regional foram conduzidas no período de l990 a l995, pela Embrapa Algodão (PB), pela Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário (EBDA) e pela Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), em 10 ambientes da região Nordeste. As coordenadas geográficas, altitudes e a média anual da precipitação pluvial dos locais estudados encontram-se na Tabela 1. A metodologia de execução de campo foi idêntica para todos os locais. Dez cultivares foram avaliadas em condições de sequeiro, em delineamento de blocos casualizados, com 6 repetições. O plantio foi procedido em leirões, no espaçamento de 0,70 m x 0,20 m, com uma densidade de 10 plantas/metro linear. A parcela foi constituída por três fileiras de 5 m de comprimento, tomando-se a central como área útil (3,5m 2 ). Uma síntese das características agronômicas das cultivares estudadas encontram-se na Tabela 2. A variável utilizada para o presente estudo foi rendimento em vagens (kg/ha), cujos dados foram inicialmente submetidos à uma análise conjunta e, a partir dos dados médios dessa análise, foram estimados os parâmetros de estabilidade, segundo a metodologia proposta por Eberhart e Russell (l966), com o seguinte modelo estatístico: Y ij = m + βii j + δ ij +ε ij em que: Y ij : observação da cultivar i no ambiente j; m = média geral; β i = coeficiente de regressão I j = índice ambiental obtido pela diferença entre média de cada ambiente e a média geral dessa forma: n l j = 0 j-1 δ ij : desvio da regressão da cultivar i no ambiente j; ε ij : efeito do erro experimental médio. TABELA 1 - Coordenadas geográficas, altitude e precipitação pluviométrica média anual dos locais do ensaio regional de cultivares de amendoim. Local Coordenada Geográfica Latitude Longitude Altitude (m) Precipitação Média anual (mm) Campina Grande, PB 7 o 13, S 35 o 53, W Cruz das Almas, BA 12 o 40, S 39 o 06, W Conceição do Almeida, BA 12 o 48, S 39 o 15, W Itabaiana, PB 7 o 19, S 35 o 19, W Araripina, PE 7 o 32, S 40 o 34, W Surubim, PE 7 o 50, S 34 o 43, W Canindé do São Francisco, SE Parnamirim, PE Lagarto, SE Caetité, BA 9 o 42, S 8 o 15, S 10 o 55, S 14 o 04, S 37 o 49, W 39 o 07, W 37 o 40, W 42 o 29, W

3 810 TABELA 2 - Características agronômicas das cultivares do ensaio regional de amendoim Cultivar Origem TB AHP (cm) P100V (g) Semente P100S (g) Cor Tamanho Forma Óleo (%) Vg/pl (n o ) IAC Poitara SP Va V G Al CNPA 96 AM PB Va V M Ar CNPA 95 AM PB Va V M Ar CNPA 68 AM PE Va V M Ar CNPA Havana SP Va B M Ar Senegal África S B P Ar IAC Oirã SP Va B G Al IAC Tupã SP Va V G Al Tatu SP Va V M Ar BR 1 PB Va V M Ar Legenda: TB- tipo botânico: Va- Valência, S- Spanish; AHP- altura média da haste principal; P100V- peso de 100 vagens; P100S- peso de 100 sementes; Cor: V- vermelha, B- bege; Tamanho: P- pequena, M- média, G- grande; Forma: Al- alongada, Ar- arredondada; Vg/pl- vagem/planta. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resumo da análise de variância conjunta encontra-se na Tabela 3, na qual observa-se que a interação genótipo x ambiente foi altamente significativa, indicando que houve diferença na estabilidade dos materiais. A estimativa dos parâmetros de estabilidade, segundo a metodologia proposta por Eberhart e Russel (l966), é apresentada na Tabela 4. Verifica-se que a maioria das cultivares avaliadas apresentou adaptabilidade ampla, com a estimativa de B 1 = 1,0, sendo que apenas as cultivares IAC Poitara (B 1 = 0,39**) e CNPA 68AM (B 1 = 1,30**) apresentaram adaptabilidade específica a ambientes desfavoráveis e favoráveis, respectivamente. A adaptabilidade também pode ser avaliada pelo desempenho médio do genótipo (Mariotti, l976). Neste aspecto, as cultivares mais adaptadas foram CNPA Havana (l.965 kg/ha), Tatu (l.952 kg/ha), BR 1 (1.833kg/ha) e IAC OIRÃ (1.801kg/ha) (Tabela 4). Com relação à estabilidade dos materiais avaliados pelo desvio de regressão (S 2 di), verifica-se que 70% das cultivares avaliadas foram consideradas instáveis com a estimativa de S 2 di diferente de zero, sendo que BR 1, IAC Poitara e IAC Tupã, foram estáveis com S 2 di = 0 (Tabela 4). De acordo com Pinthus (l973), a estabilidade também pode ser medida pelo coeficiente de determinação (R 2 ), sendo que o ideal é valor de R 2 próximo de l00%. Nesse aspecto, os materiais mais estáveis foram BR 1, IAC Tupã e CNPA 68 AM ; esse último, contudo, apesar de seu alto R 2, apresentou S 2 di diferente de zero (Tabela 4). Assim, em termos de recomendação de cultivares para a região, levando-se em conta os resultados obtidos nesse estudo e as exigências da agroindústria, a cultivar BR 1 é a mais indicada por ser a mais precoce entre as demais estudadas (ciclo de 89 dias após a emergência) e mais tolerante às cercosporioses Pinta-preta (Cercosporidium personatum (Berk. & Curt.) Deighton) e Manchaparda (Cercospora arachidicola (Hori), que são as doenças de maior importância econômica da cultura em nível nacional (Santos, 1995 e Soares et al., 1997). Por outro lado, embora a cultivar seja recomendada para cultivo em regiões semi-áridas, seu padrão de vagens e sementes atendem completamente às exigências do mercado nacional para consumo in natura. Ao ser sintetizada pela Embrapa Algodão, em 1994, a BR 1 teve como características adicionais a precocidade, a tolerância ao estresse hídrico e principalmente, a melhoria qualitativa de suas sementes, considerando-se a precária situação alimentar e nutricional da população localizada na região nordeste do Brasil. Em vários testes realizados por Freire (1997) e Farias

4 811 (1997) sobre a composição lipo-protéica de várias cultivares nacionais e internacionais de amendoim, os autores confirmaram a riqueza nutricional das sementes da BR 1, constatada pela qualidade dos ácidos graxos contidos no óleo e pelo valor biológico da proteína encontrada em suas sementes. Os autores enfatizaram que esse material é bastante promissor, recomendando-o para aproveitamento direto ou suplementação na dieta alimentar, baseados no balanço de aminoácidos essenciais, especialmente o triptofano, bastante requerido na dieta para crescimento pelo organismo humano. TABELA 3 - Resumo da análise de variância conjunta para produtividade (kg/ha) de amendoim obtida do ensaio regional no período de l990 a l995 FV GL QM Ambientes ,179** Genótipos ,823** G x A ,437** Resíduo ,260 CV: 19,06 % ** Significativo pelo teste F ao nível de l% de probabilidade TABELA 4- Parâmetros de estabilidade segundo o método proposto por Eberhart e Russel (l966), para rendimento em vagens (kg/ha), em cultivares de amendoim do ensaio regional conduzido na região Nordeste, l990 a l995. Genótipo Média % B 1 S 2 di R 2 (%) Tatu l952ab 111 1,17 ns ,46** 68,22 BR ab 104 0,87 ns ,91 ns 95,51 IAC Poitara 1586 e 90 0,39** 10718,99 ns 53,72 CNPA 96AM 1730 cde 98 1,09 ns ,69** 68,58 CNPA 95AM 1691 cde 96 1,10 ns 90330,17** 72,24 CNPA 68AM 1604 de 91 1,30** 35419,50** 87,68 IAC Tupã 1752 bcde 100 1,04 ns 14256,39 ns 87,81 CNPA Havana 1965a 112 1,15 ns 69378,10** 77,86 Senegal cde 94 1,05 ns ,50** 61,28 IAC Oirã 1801ab 102 0,79 ns 69968,02** 62,30 Média 1757 ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t (B 1 ) e F (S 2 di); * Significativo a 5% pelo teste de Tukey (Médias).

5 812 CONCLUSÕES As cultivares BR 1 e IAC Tupã apresentam alta previsibilidade de comportamento, sendo as mais adaptadas e estáveis para as condições da região Nordeste. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COUTINHO, J.L.B.; TAVARES, J.A.; SANTOS, V.F. dos.; NETO, A.C.; SILVA, J.G. da. Seleção de cultivares de amendoim (Arachis hypogaea L.) para a chapada do Araripe - PE. Recife: IPA, l996. 7p. (IPA - Pesquisa em andamento, l4). EBERHART, S.A.; RUSSEL, W.A. Stability parameters for comparing varieties. Crop Science, Madison, v.6, n.1, p , jan./fev FARIAS, F. J. C; SANTOS, R.C. dos; MOREIRA, J. de A.N. Estabilidade fenotípica de genótipos de Amendoim. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GE- NÉTICA, 44., 1996, Caxambu. Resumos..., p FARIAS, S.R. DE. Estudo de ácidos graxos em diversos genótipos de amendoim (Arachis hypogaea L.). João Pessoa: UFPB, p. (Dissertação de Mestrado). FREIRE, R.M.M. Estudo de aminoácidos em genótipos de amendoim (Arachis hypogaea L.). João Pessoa: UFPB, p. (Dissertação de Mestrado). MARIOTTI, J. A.; OYARLABAL, E. S.; OSA, J. M.; BULACIO, A.M.R.; ALMADA, G.H. Analisis de estabilidade y adaptabilidade de genótipos de canã de azucar e enteracciones dentro de una localidade experimental. Revista Agronomica del Noroeste Argentino, Tucuman, v.13, n.1/4, p.l05-127, l976. MOREIRA, J. de A.N.; SANTOS, R.C. dos; CARVALHO, L.P. de; SANTOS, J.W. dos. Interação genótipo x localidades em linhagens F 5 de amendoim. In: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Relatório técnico anual, Campina Grande, p PINTHUS, M.J. Estimate of genotipic value: a proposed method. Euphytica. Wageningen, v. 22, n.1, p , mar SANTOS, R.C. dos; MOREIRA, J. de A.N.; Estimação dos parâmetors genéticos em populações F 5 de amendoim. In: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Relatório técnico anual Campina Grande, p SANTOS, R. C. dos. Brazilian growers have a new groundnut cultivar. International Arachis Newsletter, v. 15, p.12-13, SOARES, J.J.; ALMEIDA, R. P. de; SANTOS, R. C. dos; SANTOS, J. W. dos; SILVA, C. A. D. da; Avaliação do nível de resistência de genótipos de amendoim à mancha angular causada por Cercosporidium personatum. Campina Grande: EMBRAPA, p. (Pesquisa em Andamento, 24).